Introdução
Inseridas em um movimento mais amplo que compreende a educação como direito de todos, as classes hospitalares1 têm, como um de seus objetivos, dar continuidade ao processo de escolarização de crianças e de adolescentes de modo a manter o vínculo educacional sem desconsiderar as necessidades clínicas desses estudantes impedidos de frequentar a instituição escolar por questões relacionadas a sua saúde.
Sua trajetória, tanto no Brasil como em outros países, está imbricada com os movimentos em defesa do direito à educação, à saúde e à colocação em prática de políticas de inclusão. Atualmente, ainda que muito tenha se potencializado o atendimento educacional sistematizado em ambiente hospitalar, esse é um aspecto que continua secundário nas preocupações dos dirigentes, muito embora os inúmeros benefícios daqueles que dele fazem uso (Fonseca; Ceccim, 1999). Ainda que seja uma atividade docente em ambientes hospitalares, a qual favorece a possibilidade de vislumbrar diferentes patamares, em que profissionais de áreas distintas trabalhem em equipe, priorizando a vida em toda sua plenitude (Rodrigues, 2012).
Torna-se possível, por meio do trabalho das classes hospitalares, propiciar condições mais favoráveis para que o processo de internação seja atenuado de modo a existir menor prejuízo no desenvolvimento global da criança e do adolescente ao evitar o distanciamento ou a ruptura com os vínculos escolares.
Nesse sentido, a atividade das classes hospitalares precisa ser compreendida como um elemento somatório no trabalho de harmonizar as demandas de interface entre educação e saúde em contexto hospitalar (Zombini, 2011). Ainda que, conforme afirma Paula (2004, p. 27), por se tratar de crianças, muitas vezes, a realidade cotidiana não condiz com o descrito na lei, uma vez que,
[…] embora esteja previsto por lei que as crianças tenham acompanhamento pedagógico no hospital e que existem professores para realizá-lo, os hospitais, de modo geral, quer sejam públicos ou privados, têm feito muito pouco para possibilitarem à criança hospitalizada dar continuidade aos seus estudos; salvo raras exceções que têm se preocupado em atender as necessidades biopsicossociais dessa população.
Depreendemos que a existência de regulamentação que sustente “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família [...] “a qual inclui as classes hospitalares, conforme o Art. 205 da Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988) e o Art. 4o do Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), existem modos diversificados (quando existentes) de trabalho com classes hospitalares. Haja vista que cada hospital, de certa forma, gera suas necessidades, bem como deparamo-nos com informações desencontradas em relação a este tipo de atendimento, aspecto que indica um longo caminho a ser trilhado na medida em que: “[...] o direito à educação do estudante em tratamento de saúde está reconhecido legalmente e, por meio deste amparo, há a possiblidade de se lutar por sua efetivação” (Menezes; Trojan; Paula, 2020, p. 20).
Nesse cenário, o presente artigo tem, por objetivo, analisar as produções existentes na base de dados dos Anais do Congresso Nacional de Educação - EDUCERE (PUCPR) acerca da temática das classes hospitalares.
Percurso investigativo: aspectos teórico-metodológicos
Dado o objetivo proposto, este artigo caracteriza-se como um estudo de tipo revisão sistemática - considerada importante estratégia científica no mapeamento de pesquisas e/ou estudos já realizados sobre uma determinada temática e/ou problemática, permitindo a compreensão do movimento da área, sua configuração, propensões teóricas metodológicas, tendências, recorrências e lacunas (Vosgerau; Romanowski, 2014). De acordo com Sampaio e Mancini (2007, p.84),
[...] este tipo de investigação disponibiliza um resumo das evidências relacionadas a uma estratégia de intervenção específica, mediante a aplicação de métodos explícitos e sistematizados de busca, apreciação crítica e síntese da informação selecionada.
Assim, após a definição da problemática de pesquisa, selecionamos, como lócus de análise, os Anais do EDUCERE, evento científico de grande porte, reconhecido pela comunidade acadêmica e um dos primeiros a trazer a pedagogia hospitalar como um de seus eixos temáticos, além de ter uma base de dados de expressivo volume disponibilizada em formato online. Iniciado em 2000 de forma anual, o evento passou a ser bianual após 2009.
Na sequência, procedemos a uma exploração na base de dados do EDUCERE, no período de 2008 a 2019, recorte este que se deu pelo fato de estar integralmente disponibilizado no site, independente da modalidade do trabalho e do eixo temático e que tivessem em seu título, resumo e/ou palavra-chave os seguintes descritores: classe(s) hospitalar(es), docência hospitalar, educação hospitalar, escola no hospital, hospitalização escolarizada e professor hospitalar. Selecionamos um total de 56 trabalhos (Tabela 1) que atendiam as condições propostas e que foram distribuídos por eixo temático, modalidade de apresentação e ano de divulgação (Apêndice A).
Eixo Temático/Ano | Modalidades de apresentação | |||
---|---|---|---|---|
Comunicação | Mesa-redonda | Pôster | Relato de experiência | |
Teorias, Metodologias e Práticas/2008 | 1 | 0 | 0 | 0 |
Pedagogia Hospitalar/2009 | 2 | 0 | 0 | 1 |
Pedagogia Hospitalar/2011 | 2 | 2 | 0 | 1 |
Políticas Públicas, Avaliação e Gestão Escolar/2013 | 0 | 1 | 0 | 0 |
Pedagogia Hospitalar/2013 | 7 | 2 | 1 | 2 |
Educação da Infância/2015 | 0 | 1 | 0 | 0 |
Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar/2015 | 15 | 5 | 5 | 3 |
Educação e Saúde/2017 | 1 | 0 | 0 | 2 |
Educação e Saúde/2019 | 1 | 0 | 1 | 0 |
TOTAL | 29 | 11 | 7 | 9 |
Fonte: Autoras (2021).
Com base nos dados da tabela 1, é possível verificar que o Eixo “Pedagogia Hospitalar” foi sendo readequado passando a ser denominado “Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar” (2015) e, a partir da edição de 2017, “Educação e Saúde”. Como hipótese, a expressiva concentração de trabalhos em 2015 pode ser fruto da realização do IX Encontro Nacional sobre Atendimento Escolar Hospitalar - ENAEH no âmbito do EDUCERE.
Após realizarmos a leitura flutuante (Bardin, 2016) dos 56 resumos dos trabalhos selecionados, estes foram organizados no formato de um banco de dados textuais, a partir do qual preparamos o corpus que foi processado pelo programa de análise estatística textual Alceste (Analyse Lexical par Contexte d’um Ensemble de Segments de Text), conforme orientações de Reinert (1987) e Camargo (2005).
Esse corpus foi processado a partir de parâmetros definidos previamente pelo programa que realiza a “leitura” do material a ser analisado, estabelece um dicionário no qual se identifica o vocabulário de maior frequência. O aproveitamento do material analisado foi de 61%. Em uma segunda etapa, o programa procedeu ao cálculo das matrizes e a classificação de segmentos de textos (ST) compostos por sucessões de palavras principais e dimensionadas por ele próprio em função da semelhança de conteúdo dos enunciados por meio de uma Classificação Hierárquica Descendente (CHD) que considera o vocabulário com frequência igual ou superior à média, aspecto que nos permitiu a visualização das relações existentes entre as classes resultantes desse procedimento (Reinert, 1987). A partir dessa classificação, foi gerado um dendrograma com o número de classes, sua composição e forma de relação entre elas de modo a permitir a visualização da estrutura do material processado pelo Alceste.
Com base na Classificação Hierárquica Descendente (CHD), o corpus, organizado com os resumos dos 56 trabalhos selecionados (Apêndice A), foi dividido em dois subgrupos (A e B) que se agruparam em cinco classes (Figura 1). Para leitura das classes seguimos a sugestão de De Alba (2004) que esta seja realizada da direita para a esquerda. Portanto, o bloco A, formado pelas Classes 4 e 5 possui como objeto central as “classes hospitalares”, em uma dimensão nas perspectivas nacional e estadual respectivamente. O bloco B, formado pelas Classes 1, 2 e 3, possui, como objeto central, o “professor”: a Classe 1 é homogênea e descreve o professor e sua atuação dentro do espaço do hospital; as Classes 2 e 3 mantêm a centralidade na figura do docente, sob outro enfoque: o da profissionalização e dos aspectos metodológicos que possibilitaram os estudos realizados.
Análise dos dados
Pelo dendrograma obtido (Figura 1) o bloco A, aglutina os léxicos das Classes 4 (As classes hospitalares e os documentos em âmbito nacional) e da Classe 5 (As classes hospitalares e as ações em âmbito estadual) discutindo aspectos do trabalho dos professores das classes hospitalares em uma dimensão coletiva: de um lado privilegiam a perspectiva ampla ao abordar o aparato legal nacional e de outro, em um perspectiva coletiva, que se enquadra numa amplitude menor, cujo foco recai sobre ações de ordem estadual ou municipal. A abordagem dos sujeitos nesse bloco A remonta a dimensões convergentes com os estudos sobre as práticas pedagógicas em âmbito hospitalar, ao destacar as mobilizações em prol de melhorias, relacionando-as aos direitos assegurados pela lei, além das questões éticas e de cidadania (Matos, 2012; Santos; Souza, 2012).
Já no bloco B, a Classe 1, por apresentar um vocabulário mais homogêneo, tornou-se a maior em termos de tamanho e especificidade. Sua análise permite-nos nomeá-la como “O professor na sala de aula do hospital” por evidenciar trabalhos que focam na figura do professor e sua atuação no espaço hospitalar. Refere-se, sobretudo, aos trabalhos apresentados sob a modalidade “Comunicação” o que presume, via de regra, um movimento por parte de autores que estão iniciando na temática.
O conjunto de unidades de texto classificado e qui-quadrado (X2) relacionam as classes hospitalares às percepções acerca de práticas e processos de ensino-aprendizagem, como pode ser observado nos excertos a seguir:
[...] ou mesmo pelo tratamento de saúde dos estudantes em situação de hospitalização.
A classe hospitalar aliada a tecnologia assistiva proporciona um ensino-aprendizagem mais inclusivo e de maior qualidade, por se tratar de uma aprendizagem dinâmica (Melo, 2019, p.3566, grifos nossos).
[...] por desempenho individual três alunos obtiveram percentil acima de cinquenta para a frequência de uso de estratégias de aprendizagem durante o momento de estudo (grifos nossos) (ARISI, 2015, p. 11560, grifos nossos).
Depreendemos que, no dia a dia, os docentes suprem a demanda educacional, aqui considerado não só o conteúdo aprendido na escola de origem, como também as condições físicas e cognitivas do alunado (Fonseca, 1999). É uma posição congruente na literatura e enriquecida com os estudos de Rodrigues (2012) que sinalizam a importância da reinserção escolar pós-internação.
A literatura, ao convergir para questões ligadas diretamente ao professor, reforça temáticas que se relacionam com o ensinar e o aprender, com a inclusão e com a socialização no espaço hospitalar (Rodrigues, 2012). Pois, como destaca Melo (2019, p. 3565):
[...] trata-se de uma perspectiva humana, social e política que vem sendo fomentada na sociedade contemporânea afim de que haja uma expansão democrática no que se refere às singularidades e diferenças que são inerentes a todo ser humano (grifos nossos).
A disposição do trabalho realizado nas classes hospitalares é permeada, muitas vezes pelo desânimo e pela angústia, fruto dos percalços e entraves vivenciados pelos docentes de uma forma que abarca, simultaneamente, o tempo e o lugar:
[...] construções afetivas e de socialização. É imprescindível destacar que, sem a ação humana, sem os processos de mediação adequados para o ensino aprendizagem, os recursos e os equipamentos de tecnologia assistiva, por si só, não trarão contribuição [...] (Melo, 2019. p. 3566, grifos nossos).
Além da preocupação com as práticas e processos de ensino-aprendizagem, observamos também uma forte associação entre o uso da tecnologia e a figura do professor. Assim, os ambientes virtuais também estão inseridos nessa discussão, uma vez que são familiares a este público e imprimem certo fascínio frente a esta faixa etária - é possível utilizar tal recurso a fim de promover as aprendizagens e integrá-las a informações disponíveis sobre os mais variados contextos (Torres; Matos; Bortolozzi, 2012). Pode abarcar, também, outras dimensões, como intervenções no âmbito psicológico e psicopedagógico:
[...] ou mesmo pelo tratamento de saúde dos estudantes em situação de hospitalização. A classe hospitalar aliada a tecnologia assistiva proporciona um ensino-aprendizagem mais inclusivo e de maior qualidade, por se tratar de uma aprendizagem dinâmica (MELO, 2019, p. 3566, grifos nossos).
[...] neste ano de 2013 foi incluída a informática educativa no espaço acolher, com o objetivo de promover a inclusão digital e também desenvolver práticas pedagógicas associadas ao uso da tecnologia de comunicação e informação (Oliveira, 2013, p. 27765, grifos nossos).
Assim, o uso das tecnologias assistivas2 é visto a favor das classes hospitalares na medida em que podem auxiliar crianças e adolescentes internados visando a maior autonomia e independência com vistas direcionadas à aprendizagem (Jacob; Maia; Mitre, 2018).
Contudo, vale considerar que a condição de hospitalização dos internados rege o andamento do processo de aprendizagem. Assim, os professores, ao prepararem suas aulas levam em consideração as condições individuais de cada aluno e valem-se de recursos e metodologias que estão ao seu alcance naquele espaço e isto implica em afirmar que nem todos os professores são contemplados por equipamentos e metodologias disponibilizadas pela tecnologia assistiva assim como pela vasta gama de ferramentas que otimizam e/ou potencializam a performance.
Cabe ressaltar ainda que o movimento da aprendizagem formal/sistematizada não ocorre mais somente nas escolas, conforme preconiza Paula (2007) e em moldes convencionais e esses profissionais irão assegurar que os estudantes não se afastem das suas atividades escolares, o que pode resgatar, de certa forma, o vínculo com o mundo fora do hospital, bem como uma (re)aproximação com os vínculos da aprendizagem.
Observamos, ainda, nessa Classe, palavras com amplificada ausência, numa dimensão focada em perspectivas de “ausência” e “visibilidade”; além do termo “pedagogia”, que não apresentou relevância nesta classe, possivelmente, por ter sido uma questão tratada pela Classe 2 - nomeada como “O professor e sua formação acadêmica inicial e continuada” que evidencia trabalhos que tendem a focar na figura do professor a partir da questão da profissionalização.
Destacamos, nesta Classe, como significativos em termos de presença os trabalhos apresentados no eixo Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar da edição de 2015, que, como mencionamos, concentrou um número expressivo de trabalhos dada a realização do ENAEH em conjunto com o EDUCERE; ressaltamos as modalidades “Comunicação” e “Mesa Redonda” em que as classes hospitalares aparecem relacionadas às percepções fundantes em questões sobre a formação com ênfase na docência e destaque para as dimensões da formação inicial e continuada, conforme os trechos selecionados indicam:
[...] práticas de formação docente que atentem para essa especificidade na formação inicial e ou continuada de professores (Oliveira, 2015, p. 4529, grifos nossos).
O interesse é chamar a atenção para a necessidade de pesquisas nessa área que fundamentem políticas de formação docente que atentem para essa especificidade na formação inicial e ou continuada de professores (Passeggi, 2015, p. 27575, grifos nossos).
[...] refletir sobre novos espaços desse profissional, para além do espaço escolar e vemos as necessidades dos cursos de pedagogia formar educadores para ocupar esses espaços (Lima, 2015. p. 25097, grifos nossos).
Parece haver certa convergência nos trabalhos acerca da compreensão de que estes professores necessitam para esse tipo de exercício possuir uma formação inicial afim. Há ainda o foco em questões como o contato inicial entre professor e aluno (Bertolin; Maito, 2015), entendimentos sobre a otimização do tempo, a adequação do espaço físico, além da possiblidade da participação de outros elementos, como por exemplo, familiares.
São consideradas, também, ações no sentido de aprimorar a formação, uma vez que as produções acadêmicas indicam constantes mudanças na educação com fins de adequação às cobranças e demandas impostas pela sociedade. Com base nesse contexto e para que sua atividade seja exercida com assertividade, a literatura indica a necessidade para atuar em classes hospitalares de uma formação inicial (Rodrigues, 2012), assim como da continuada (Behrens, 2012; Maito, 2017). Esse movimento proporciona ao segmento mais e melhores oportunidades para validar uma imprescindível condição: ensinar.
Notamos a ênfase em verbos na forma indicativa do “presente” e do “passado”, o que pressupõe a possibilidade do estabelecimento do lugar e do tempo do contexto da Classe 2, isto é, as ações dos professores já aconteceram e que possuem o seu espaço, também, nos dias atuais, pressupondo uma preocupação constante em relação aos processos formativos desses profissionais.
A Classe 3, nomeada como “Os procedimentos para investigar o professor”, apresenta, sobretudo, as dimensões das investigações realizadas dentro e sobre as classes hospitalares, apresentando questões metodológicas no âmbito das pesquisas realizadas de onde foi possível aferir o predomínio da abordagem qualitativa e das entrevistas:
[...] deste estudo utilizou-se a pesquisa qualitativa, como instrumento de coleta dos dados uma entrevista semiestruturada [...] (Machado, 2015, p. 5594, grifos nossos).
[...] estratégia de pesquisa o estudo de caso, [...] os quais foram ouvidos por meio de entrevistas semiestruturadas (Lacerda, 2015, p 7963, grifos nossos).
Por apresentar os procedimentos metodológicos realizados, temos a ênfase em verbos na forma indicativa do “passado”.
Na Classe 4, nomeada como “As classes hospitalares e os documentos em âmbito nacional”, destacamos como significativos os trabalhos presentes no eixo Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar da edição de 2015; foi detectado um equilíbrio entre as modalidades de “Comunicação” e “Mesa Redonda”, o que presume, também, certa harmonia entre os movimentos de autores iniciantes e aqueles que já trabalham com a temática há mais tempo.
O conjunto de unidades de texto classificado e qui-quadrado relacionam as classes hospitalares às percepções fundantes em questões sobre o amparo a partir dos documentos oficiais nacionais, relacionando-os aos ambientes hospitalar e o de recuperação domiciliar. O primeiro se relaciona com o aparato legal, cabendo um olhar mais atento às publicações oficiais federais, conhecidas não só pelos docentes, mas pelos gestores das instituições hospitalares, que detêm a responsabilidade de implantar (ou não) e/ou dar continuidade a este serviço educacional em suas unidades (Rodacoski; Forte, 2012) e o segundo enfatiza, sobretudo, os espaços de recuperação pós ambiente hospitalar:
Pela lei dos direitos da criança e dos adolescentes hospitalizados e pelas políticas de educação especial definidas pelo ministério da educação e cultura, MEC e documento classe hospitalar e atendimento pedagógico hospitalar (Peters, 2015, p. 21052, grifos nossos).
Jovens e adultos hospitalizados e aqueles que precisam de atendimento pedagógico em ambiente domiciliar. A metodologia utilizada foi a revisão de literatura sobre esses projetos e leis voltados para as classes hospitalares e atendimento pedagógicos domiciliares (Paula, 2015, p. 32466, grifos nossos).
Cabe observar que o distanciamento das salas de aula ditas convencionais não se inicia ou se encerra necessariamente com a internação hospitalar: podem acontecer previamente em períodos de hospedagem em casas de apoio e/ou períodos de recuperação (pós-internação), caracterizados pelo atendimento domiciliar, conforme abordam Bertolin e Maito (2015) e descrito por meio de publicação oficial (Brasil, 2002), além de estudos mais detalhados realizados por Maito (2017).
Notamos a ênfase em verbos na forma indicativa do “presente”, o que pressupõe a possiblidade do estabelecimento do lugar e tempo do contexto da Classe 4, isto é, a relação dos professores da classe hospitalar com os documentos em âmbito federal exprime ações presentes.
A Classe 5, “As classes hospitalares e as ações em âmbito estadual”, evidencia trabalhos que tendem ao foco nas questões ligadas à implantação das classes hospitalares situada na interface entre as áreas de educação e saúde, tendo como questão central, o nível estadual.
Salientamos que todas as ações inseridas no contexto das classes hospitalares pressupõem suprir, principalmente, as demandas do ensino formal/sistematizado. Para que sejam reconhecidas, devem estar, obrigatoriamente, em consonância com as determinações que regem a classe de uma maneira geral, validadas em território nacional. Por certo, existem ações realizadas, ainda que nesses moldes, em uma dimensão menor, abraçando municípios ou estados. É o caso, por exemplo, da implantação de projetos que abarcam uma gama variada de propostas e programas pedagógicos (Torres; Matos; Botolozzi, 2012). Tais projetos podem contemplar uma unidade hospitalar, até um estado inteiro.
Assim, nessa Classe, destacamos como significativos, as participações dos trabalhos publicados em 2015 no eixo Educação, Saúde e Pedagogia Hospitalar. Constatamos que a modalidade “Relato de Experiência” se sobressai em relação às demais modalidades, possivelmente pelo fato das ações dessa Classe estarem ligadas a projetos específicos delimitados, sobretudo, pelos trabalhos dos professores das classes hospitalares associado à atuação das secretarias estaduais: [...] em geral, no estado de Mato Grosso do Sul esse atendimento é realizado, coordenado pela secretaria de estado de educação [...] (Granemann, 2015, p. 17846, grifos nossos).
Essa Classe trata, portanto, de ações que contemplam grupos mais específicos, sobretudo, projetos que são implantados em algumas unidades, em alguns municípios ou assumem caráter estadual - na maioria das vezes atendem a grupos regionais ou focado em determinada patologia.
Observamos ausência dos termos “aulas” e “jovens”, ainda que estes tenham os mesmos direitos que as crianças. É possível notar a ênfase em verbos que se encontram no “particípio”, o que indica uma ação finalizada, isto é, a relação dos professores da classe hospitalar com as ações em âmbito estadual exprime ações que já aconteceram e não existem menções a projetos ou iniciativas que estão por vir.
De certa forma, essa Classe faz referência às políticas públicas que ainda não são capazes de suportar as classes hospitalares em patamares de excelência ou mesmo de assegurar aos estudantes o acesso ou a permanência na educação formal/sistematizada em ambientes hospitalares, tão pouco seu retorno à dita escola convencional. Assim, parece haver certo consenso também em torno da necessidade de um aparato legal coeso que sirva como norteador para que gestores providenciem a implantação e/ou a continuidade dos serviços das classes hospitalares em suas unidades. Vale lembrar que em muitas situações e por diversos motivos há uma grande distância entre as determinações legais e a realidade que é vivenciada por crianças e jovens com questões de saúde prolongadas e seus professores.
Nessa direção, os trabalhos apontam que os documentos oficiais precisam ser renovados/atualizados no sentido de impulsionar gestores a aderirem à proposta ou a oferecer condições mais propícias para a realização deste trabalho. Movimento que pode ser reforçado pelas secretarias estaduais e municipais de educação que conhecem a realidade e as necessidades desses alunos de maneira mais específica, de forma que estas iniciativas possam não só suprir as necessidades deste grupo como também servir como estímulo e orientação às secretarias de saúde de outras localizações:
[...] acerca do atendimento em classe hospitalar dispensado às crianças e adolescentes em condição de hospitalização. Para tanto, foram tomadas como base teórica os documentos oficiais [...] (Souza, 2011, p. 10599, grifos nossos).
O referido programa tem como objetivo dar continuidade a escolaridade enquanto o paciente permanecer hospitalizado [...] (Silva, 2015, p. 29332, grifos nossos).
O presente texto apresenta uma reflexão acerca das lacunas existentes nas políticas públicas de educação para crianças, jovens e adultos em situação de internação hospitalar e atendimento pedagógico domiciliar (Arosa, 2015, p. 12914, grifos nossos).
Urge a necessidade de um olhar mais atento aos números que são identificados nas estatísticas de atendimento pedagógico (formal) nesses ambientes: elas são um diagnóstico que permite avaliar as condições atuais desses professores para trabalhar e situar os alunos nesse espaço/tempo educativo. Uma estrutura adequada garante acesso à direitos de alunos e professores ao pressupor, além da formação do professor, condições de trabalho e salários condizentes que cumprem com os valores de uma justiça de qualidade social nesse espaço educativo.
Considerações finais
As informações disponibilizadas pelo processamento realizado por meio do software Alceste a partir dos trabalhos sobre classes hospitalares e em conjunto com o conteúdo das publicações analisadas evidenciam: o enfoque na figura do professor e sua atuação em sala de aula do hospital (Classe 1); a identidade profissional (Classe 2) e as tensões da classe (Classe 3). Bem como questões relacionadas à colocação em prática de classes hospitalares na interface entre as áreas da educação e saúde em nível nacional (Classe 4) e em nível estadual (Classe 5) - situação essa que nos permitiu a compreensão de movimentos e tendências de docentes nesses espaços.
Ainda que se façam presentes tanto na literatura como neste estudo, pontos que reforçam o fato da necessidade da educação estar além dos muros das escolas ditas convencionais (Rodrigues, 2012) e da mobilização de segmentos da sociedade como grupos organizados por professores e/ou pais, organizações não governamentais e outras áreas afins no intuito de potencializar os conteúdos escolares com a realidade de uma internação (Behrens, 2012), o fato é que, embora as classes hospitalares despertem, cada vez mais, o interesse de pesquisadores, poucos ainda são os estudos desenvolvidos no âmbito dessa temática, tomando como referência os anais analisados de um dos principais eventos científicos no país se comparando a outras questões do contexto educacional. O arcabouço produzido contempla diferentes perspectivas, assim como abordam diferentes olhares, tornando-o, paulatinamente, enriquecido e robusto. O segmento necessita maior visibilidade, uma vez que é responsável pela educação formal/sistematizada de parte de nossos estudantes.
Não obstante seja notado esse movimento de ascensão, sabemos que um número considerável de crianças e adolescentes ainda não tem acesso à educação formal/sistematizada por estarem em condições de internação hospitalar. A publicação de trabalhos sobre a temática em todas as edições pesquisadas e em múltiplas abordagens contribui para a geração de novas pesquisas que satisfaçam ou incrementem questões que ficaram em aberto de modo a evidenciar a possiblidade de um movimento harmonioso entre as áreas da educação e saúde.