A obra Educação, Linguagens e Inclusão reúne capítulos que versam acerca dos letramentos, da acessibilidade, da saúde pública e dos sentidos discursivos para alunos surdos; e, por fim, das práticas decoloniais na Educação. Ademais, trazem reflexões de nove professores pesquisadores brasileiros, que estão envolvidos com pesquisas e ensino de linguagens de forma crítica, transformadora e inclusiva.
O prefácio da obra, escrito por Vicente Parreira, suscita uma pesquisa com significativas ponderações do processo de desenvolvimento da escrita na escola primária e secundária de estudantes de Belo Horizonte. A pesquisa acompanhou um grupo de alunos socialmente divididos entre favorecidos e desfavorecidos durante oito anos e chega ao entendimento de que os estudantes poderiam estar no mesmo ritmo de estudo caso fossem consideradas suas experiências comunicativas de argumentação e interlocução. No entanto, a realidade de repetência é predominante no grupo socialmente desfavorecido sob a alegação das escolhas lexicais em textos escritos. Nesse sentido, o autor reflete sobre a estigmatização que a escola produz ao classificar alunos como capazes e incapazes, legitimando discursos hegemônicos opressores que perpetuam a esfera social.
No primeiro capítulo, Pereira faz um percurso histórico dos quatro estágios de "aceitação" da pessoa com deficiência, denominados exclusão, segregação, tentativa de normalização e acessibilidade. O estudo teve como objetivo compreender os sentidos de acessibilidade para os surdos, a partir da percepção dos profissionais da saúde no município de Sinop (MT).
No segundo capítulo, Almeida apresenta, de maneira bastante interessante, as legislações que designam as funções do intérprete e as responsabilidades do professor. A autora conclui seu texto motivando os profissionais da educação a compreender o cotidiano da escola e, a partir daí, propor melhorias, principalmente para o aluno surdo.
No terceiro capítulo, Dona aborda a definição de letramento e alfabetização. Do ponto de vista educacional, a autora constata diversos desafios relacionados à cultura de povos indígenas, dos quais a escola urbana ainda precisa se apropriar, bem como das experiências tribais que devem ser consideradas no processo de escolarização e letramento.
No quarto capítulo, Donatti discute acerca de sua construção identitária como professor de língua inglesa na Educação de Jovens e Adultos, a aplicação dessa modalidade no estado do Mato Grosso, por meio da Portaria nº 393/2007/SEDUC/MT, e a criação dos Centros de Educação de Jovens e Adultos, que foram implementadas em vinte e quatro escolas. Essa modalidade trouxe novidades às práticas docentes, o que o levou a ancorar-se nas práxis decoloniais, em Freire (2016), Oliveira (2016), Reis e Andrade (2018). Ele menciona: “Senti-me desafiado a investigar sobre essa temática para observar se minhas inquietações também faziam parte do cotidiano e das práticas de outros docentes de LI [...]” (Donatti, 2020, p. 94).
No quinto capítulo, Moraes (2020, p. 126) realiza uma análise do discurso do professor de um aluno de cinco anos que é diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista - TEA, analisando o “[...] momento antecedente ao laudo diagnóstico e no momento após o laudo diagnóstico, em busca de observar, na materialidade do laudo diagnóstico, a transformação que ocorre no sujeito e na imagem do aprendiz [...]” (2020, p. 126), pois, caso alguma criança tenha o TEA, ela deve ser incluída na escola com as adaptações para o seu desenvolvimento (Brasil, 2012). No texto, há várias reflexões, dentre elas, acerca da terminologia “autismo” que não deve mais ser utilizada (Orrú, 2016); características que a pessoa com TEA pode ter, ajudando os leitores a identificar uma pessoa com o Transtorno do Espectro Autista, facilitando o processo de inclusão em ambientes escolares.
No sexto capítulo, Souza discute que alguns fenômenos da globalização levaram a reflexões sobre cidadania, justiça social e igualdade de acesso à educação, em especial, em 1990, com a ideia de educação inclusiva. Em seguida, a Declaração de Salamanca, em 1994, serviu como estopim para discussões sobre as diretrizes básicas para uma educação inclusiva e provocou reformas nas políticas e nos sistemas educacionais. O autor afirma que tudo isso traz incertezas na educação da pós-modernidade, porque a globalização não foi capaz de reduzir as desigualdades ainda existentes, principalmente no que tange às pessoas com deficiência que encaram a discriminação que se perpetua, inclusive, na escola (Mantoan, 2003). O autor finaliza afirmando que o letramento crítico é uma forma de incluir os alunos, já que os leva a realizar reflexões sobre os diversos temas da sociedade.
No sétimo capítulo, Roque-Faria, Nunes e Silva discutem sobre a violência histórica direcionada às pessoas negras no Brasil, que resultam nas desigualdades sociais atuais. Os autores discutem como a Linguística Aplicada Crítica (LAC) contribui para uma educação transligue e antirracista. O ensino da língua portuguesa, ancorado nas ideologias da branquitude, é histórico, mas se verifica que o ensino antirracista pode contribuir para melhor acolher as diferenças e similitudes humanas dentro da escola.