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Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade

Print version ISSN 0104-7043On-line version ISSN 2358-0194

Revista da FAEEBA: Educação e Contemporaneidade vol.32 no.72 Salvador  2023  Epub May 06, 2024

https://doi.org/10.21879/faeeba2358-0194.2023.v32.n72.p320-334 

Corpos, gêneros e sexualidades

EM DEFESA DA “EDUCAÇÃO SEXUAL”: SENTIDOS PRODUZIDOS EM VÍDEOS DO YOUTUBER FELIPE NETO

IN DEFENSE OF “SEX EDUCATION”: MEANINGS PRODUCED IN VIDEOS BY YOUTUBER FELIPE NETO

EN DEFENSA DE LA “EDUCACIÓN SEXUAL”: SENTIDOS PRODUCIDOS EN LOS VIDEOS DEL YOUTUBER FELIPE NETO

Michele Priscila Gonçalves dos Santos1  *
http://orcid.org/0000-0001-9699-9100

Roney Polato de Castro2  **
http://orcid.org/0000-0002-6385-9096

1Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais

2Universidade Federal de Juiz de Fora


RESUMO

O Corpos, gêneros e sexualidades tem como objetivo apresentar parte das análises de uma pesquisa de mestrado em educação, com foco nos discursos de gênero e sexualidade que circulam por vídeos do youtuber Felipe Neto em seu canal no YouTube. Nos vídeos, selecionados a partir de mecanismos próprios de busca da plataforma, o influenciador aciona enunciados que remetem a diversas questões envolvendo gênero e sexualidade. As perspectivas teórico-metodológicas que conduziram a investigação alinham-se à análise do discurso de inspiração foucaultiana e às teorizações pós-estruturalistas. O Corpos, gêneros e sexualidades mobiliza argumentos a partir dos vídeos em que o youtuber assume determinados posicionamentos acerca do que ele chama de “educação sexual”. Nossas análises nos conduzem a problematizar as relações entre os vídeos e o contexto conservador contemporâneo, promovendo disputas enunciativas em torno da ideia de informar jovens sobre questões de sexualidade.

Palavras-chave Discurso; Educação sexual; YouTube.

ABSTRACT

The article aims to present part of the analyzes of a master’s research in education, focusing on the discourses of gender and sexuality that circulate in videos by the youtuber Felipe Neto on his YouTube channel. Videos were selected, based on the platform’s own search mechanisms, in which the influencer triggers statements that refer to various issues involving gender and sexuality. The theoretical-methodological perspectives that led the investigation are aligned with the discourse analysis inspired by Foucault and post-structuralist theories. The article mobilizes arguments from the videos in which the youtuber assumes certain positions about what he calls “sex education”. Our analyzes lead us to problematize the relationship between the videos and the contemporary conservative context, promoting enunciative disputes around the idea of informing young people about sexuality issues.

Keywords Speech; Sex education; YouTube.

RESUMEN

El artículo tiene como objetivo presentar parte de los análisis de una investigación de maestría en educación, centrándose en los discursos de género y sexualidad que circulan en videos del youtuber Felipe Neto en su canal de YouTube. Se seleccionaron videos, con base en los mecanismos de búsqueda propios de la plataforma, en los que la influencer desencadena declaraciones que hacen referencia a diversos temas que involucran género y sexualidad. Las perspectivas teórico-metodológicas que orientaron la investigación están alineadas con el análisis del discurso inspirado en Foucault y las teorías postestructuralistas. El artículo moviliza argumentos a partir de los videos en los que el youtuber asume ciertas posiciones sobre lo que llama “educación sexual”. Nuestros análisis nos llevan a problematizar la relación entre los videos y el contexto conservador contemporáneo, promoviendo disputas enunciativas en torno a la idea de informar a los jóvenes sobre cuestiones de sexualidad.

Palabras clave Discurso; Educación sexual; YouTube.

Situando a discussão

Este Corpos, gêneros e sexualidades se organiza a partir de algumas preocupações com o tempo presente. Primeiramente, filiando-nos ao campo da educação, nosso olhar se volta para os embates que colocam em questão, e sob suspeita, políticas e práticas educativas vividas por diferentes grupos sociais. Segundo, no âmbito dessas políticas e práticas, voltamo-nos para um debate candente: as relações de gênero e as sexualidades como processos educativos. Inserimo-nos nele a partir das perspectivas dos estudos pós -estruturalistas e dos estudos foucaultianos, que concebem educação como construção de sujeitos e subjetividades, como modo de incorporação de saberes socioculturais às experiências cotidianas, conduzindo condutas, modos de agir, de pensar, de sentir, de desejar. Tais processos se dão em contextos de assimetrias de poder, constituindo jogos de forças que operam na normatização das experiências dos sujeitos, ao passo que possibilitam resistências múltiplas. Na atualidade, tais assimetrias têm forjado ofensivas antigênero1, retrocessos nos direitos de mulheres e pessoas LGBTQIA+, desvalorização da ciência e perseguições às escolas e universidades quando ousam compor currículos com a vida dos/as estudantes. Uma terceira preocupação que orienta a escrita deste Corpos, gêneros e sexualidades são os processos educativos vividos com as mídias e artefatos culturais, as quais, no contemporâneo, vêm colocando em funcionamento estratégias pedagógicas que ensinam saberes, valores, comportamentos, reiterando normas ou contribuindo para a invenção de resistências que promovem rupturas nos modos hegemônicos de existência.

As preocupações centrais aqui destacadas conduziram a uma pesquisa de mestrado em educação (SANTOS, 2021), com foco nas potencialidades pedagógicas culturais dos vídeos do YouTube. A pesquisa nasceu a partir da relação de uma das autoras com sua prática pedagógica em uma escola pública da rede estadual de Minas Gerais. A professora percebeu o interesse, e por vezes fascínio, das crianças por personalidades da internet que denominamos youtubers, ou seja, pessoas que produzem e postam vídeos, periodicamente, no site YouTube, concentrando-se em temáticas específicas ou não. Esses/as youtubers podem se tornar personalidades com ampla visibilidade, passando, inclusive, a ocupar outros espaços midiáticos, lançando livros, aparecendo nas capas de revistas e em outros produtos culturais, expandindo seu conteúdo para as redes sociais de expressivo alcance, como Instagram, Twitter e TikTok. A partir das preocupações mencionadas no parágrafo anterior, direcionamo-nos para os processos constitutivos de sujeitos, atravessados pelas relações de gênero e sexualidades, operando com a noção de pedagogias culturais. De acordo com Wortmann, Costa e Silveira (2015, p. 37), com essa noção, ampliam-se os modos de compreender a educação, acionando uma “multiplicidade de processos educativos em curso, para além daqueles que têm lugar em instituições historicamente vinculadas a ações de educar”. Em especial, tomamos como foco os processos educativos que se produzem por meio de variados artefatos capazes de ensinar modos de ser, pensar e agir.

Apostamos nas pedagogias das mídias e artefatos culturais como produtoras de subjetividades, colocando em circulação saberes que investem sobre diferentes domínios da vida cotidiana, implicando nos modos como nos colocamos no mundo (ANDRADE, 2017). Assim, vídeos, livros, peças teatrais, novelas, músicas, revistas, propagandas, filmes, séries, programas de televisão, redes sociais e sites, entre tantos outros produtos culturais, atuam, sutil e insistentemente, na produção e difusão de representações e ideias, na parametrização e hierarquização das nossas condutas, de modo que somos, a todo momento, instigados/as a construir olhares sobre o mundo, constituindo o que chamamos de realidade, e, por sua vez, constituindo-nos.

Ao definirmos o foco da pesquisa, foi necessário refiná-lo e construir um percurso metodológico que proporcionasse aproximações e ‘estranhamentos’ para com os vídeos do YouTube. Em um primeiro momento, foram consultadas crianças de 6 a 11 anos de idade, da escola referida anteriormente, na qual uma das autoras atua como docente. A conversa com as crianças tomou como centralidade os possíveis canais do YouTube que elas mais acompanhavam. A partir dessa interação com as crianças, chegamos ao canal do youtuber Felipe Neto. Novas consultas à internet foram realizadas no intuito de circunscrever o alcance dos vídeos desse canal. À época da realização da pesquisa, em 2020, o youtuber, influenciador digital e empresário, era dono do terceiro canal brasileiro com maior número de pessoas inscritas. Em maio de 2023, o canal possuía 45 milhões de inscritos/as2. O canal é voltado ao público infanto-juvenil, apresentando vídeos orientados à diversão, com assuntos variados, incluindo desafios e curiosidades em geral. O interesse das crianças nos despertou para o alcance e a visibilidade não apenas do canal, mas do próprio youtuber. Ao usar linguagem informal, tendo como recurso a descontração e o humor, Felipe Neto veio se tornando um dos brasileiros mais influentes nas redes e fora delas. A visibilidade do youtuber o coloca sob a atenção de muitos olhares; os enunciados que circulam pelos seus vídeos podem, com isso, constituir sentidos de verdade às palavras proferidas, contribuindo para formar opiniões, para disseminar valores, para educar o público que o acompanha, interpelando os sujeitos a participar de negociações de sentidos culturais sobre questões as mais diversas.

O percurso metodológico perpassou a busca de vídeos que pudessem, de algum modo, acionar pedagogias de gênero e sexualidade. Foram utilizados os mecanismos de busca do YouTube para selecionar vídeos do canal Felipe Neto e outros que estivessem relacionados às questões de gênero e sexualidade com a participação do influenciador. Os vídeos foram arquivados, assistidos, transcritos e, posteriormente, analisados nos seus enunciados sobre masculinidades e feminilidades, sobre sentidos de ser homem e mulher, paternidade e maternidade, experiências das sexualidades relacionadas aos comportamentos valorizados socialmente, à prevenção de doenças, à relevância da “educação sexual”3 para a construção de sujeitos mais seguros e responsáveis, às homossexualidades, entre outras questões.

O conteúdo dos vídeos foi analisado a partir da inspiração em Michel Foucault e suas proposições sobre discurso. Em seus estudos, Foucault (2008) concebe o sujeito como produção histórica e discursiva, resultado de processos de subjetivação. O discurso é definido pelo filósofo como tendo regras próprias de aparecimento e funcionamento, além de condições específicas de apropriação e utilização, perpassado, portanto, por relações de poder, tornando-se objeto de lutas. Assim, mais que um ato de fala ou um fenômeno de expressão, isolado e atribuído a uma manifestação de indivíduo que pensa, o discurso é um campo de regularidades e rupturas em processos de significação, um campo de dispersão e descontinuidade do sujeito, imerso em redes discursivas.

Analisar os vídeos do youtuber Felipe Neto sob tais perspectivas é localizá-los no âmbito de uma sociedade discursiva, da qual somos produto e disseminadores/as de enunciados que ensinam modos de viver, pensar, agir, sentir, desejar. Na relação com esses enunciados, estabelecemos sentidos de pertencimento ou dissonância, assujeitamo-nos ou resistimos às suas estratégias de enquadramento. É, pois, a partir de redes discursivas - discursos médicos, pedagógicos, políticos, religiosos, jurídicos, científicos, entre outros -, que se estabelecem os regimes de verdade de cada época e contexto social. O discurso é constituído por enunciados que se apoiam em uma mesma formação histórica e cultural, enunciados que se relacionam entre si a partir de determinadas regras.

É com tais perspectivas que nos debruçamos sobre os vídeos do YouTube, os quais dizem de uma conjuntura atual em que o acesso, a velocidade e a diversidade de circulação dos discursos são cada vez maiores. Por isso, ao analisar o material selecionado, buscamos observar os enunciados sobre gênero e sexualidade presentes nos vídeos, tentando problematizar como podem contribuir com nossos processos de subjetivação e entendendo que, mais do que dizer algo, os discursos são “práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam” e que “certamente os discursos são feitos de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse ‘mais’ que é preciso fazer aparecer e que é preciso descrever” (FOUCAULT, 2008, p. 55).

Como destacamos anteriormente, nossa trajetória de estudos e pesquisas nos conduziu a problematizar discursos de gênero e sexualidade que circulam pelos vídeos do youtuber Felipe Neto. Sob inspiração dos referenciais pós-estruturalistas e foucaultianos, gênero e sexualidade são elementos constitutivos da cultura e das relações sociais de determinado momento histórico. Como saberes que instituem modos de ser, de sentir, de pensar e de agir, modos de ocupar posições de sujeito no interior de tensas redes de poder, gênero e sexualidade vêm sendo discursivamente produzidos por meio de diversas instâncias da cultura - as instituições científicas e jurídicas, as igrejas, as escolas, os movimentos sociais e, conforme temos destacado, as variadas mídias que funcionam através de dispositivos tecnológicos cada vez mais presentes em nosso cotidiano.

Os vídeos são mídias contemporâneas por meio das quais processos educativos se instalam. As pedagogias em ação nesses artefatos ensinam sobre como devemos nos ocupar de nossos corpos, de nossos desejos e amores, a partir da reiteração discursiva de padrões heteronormativos de beleza, saúde, juventude, masculinidade, feminilidade. Disseminados com a popularização de dispositivos tecnológicos ao alcance das mãos, os vídeos nos dizem que corpos são belos, desejáveis e saudáveis. Eles nos dizem sobre o que comer, o que vestir, quais atividades físicas praticar, como nos maquiar, que cortes de cabelo usar, como lidar com os pelos etc. Para tudo isso, há tutoriais no YouTube. Os vídeos se ligam a outras mídias, como novelas, filmes e propagandas, para anunciar certa ideia de felicidade ligada ao amor romântico, reforçam padrões de masculinidades e feminidades e, algumas vezes, marginalizam identidades desviantes (SANTOS, 2021).

Neste Corpos, gêneros e sexualidades, nosso foco se estabelece nos vídeos do youtuber Felipe Neto nos quais ele articula enunciados sobre a importância e a necessidade de informação para os/as jovens, algo associado à “educação sexual”, como meio de construir mecanismos de prevenção e mudanças de comportamento. Em meio a um contexto de conservadorismo moral e político, o influenciador se insere no debate público, articulando discursos científicos, associados a certas estratégias de linguagem e humor, produzindo identificações com seu público jovem, para se contrapor às concepções contrárias à divulgação de informações sobre sexualidade para jovens. Os vídeos, nesse sentido, são tomados como educativos, na medida em que acionam pedagogias culturais de gênero e sexualidade, conduzindo o público a partir de um percurso argumentativo crítico, promovendo disputas nos modos de pensar as relações entre sexualidade, saúde, mídias e educação.

“Eles são jovens. E, se eles não tiverem informação, eles vão fazer as coisas erradas!”: a “educação sexual” como preocupação do youtuber Felipe Neto

Ao analisarmos os vídeos do Canal Felipe Neto, percebemos que o youtuber adota uma postura de defesa ativa da circulação de informações relacionadas às questões de sexualidade para jovens. Considerando sua influência sobre esse público, as enunciações de seus vídeos podem ter repercussão nesse debate, tornando-o uma referência (SANTOS, 2021). Nesse sentido, em 2020, o youtuber foi convidado pela plataforma de streaming Netflix para fazer um vídeo anunciando a série britânica Sex Education, que aborda a centralidade das experiências de gênero e sexualidade entre jovens de uma tradicional escola. Na produção do vídeo, Felipe Neto aparece andando pelos corredores da escola Moordale enquanto lê uma revista com o título “Isso é falta de Sex Education”. Enquanto isso, ele escuta conversas de estudantes como:

  • - Você viu o cara que bateu tanta punheta que não consegue transar?

  • - É o mesmo que está espalhando clamídia por aí? Af! Mas, não era uma menina?

Nas cenas seguintes, ele demonstra incômodo com as falas e se encaminha para o escritório da direção da escola, de onde fala em um microfone que permite a transmissão para os alto-falantes espalhados em toda a instituição, fazendo o seguinte comunicado:

Fala galera de Moordale! Olha, eu sei que vocês estão cheios de paranoia. É um que não consegue bater umazinha... Tem até gente até achando que pegou clamídia porque respirou o mesmo ar na escola. Eu nunca vi tanto adolescente falando merda junto. Vocês estão parecendo eu em 2010, fazendo vídeo burro e achando que estava arrasando. O mundo tá cheio de fiscal de bumbum agora e todo mundo passa informação adiante sem conferir, sem checar, sem fazer a menor ideia se está passando uma verdade ou uma mentira e acontece isso. Exatamente isso que está acontecendo aqui em Moordale nesse momento. Fica todo mundo acreditando em um monte de mentira, que pega DST4 pelo ar... Às vezes tudo o que falta na nossa vida é um pouco de ‘Sex Education’. Nem tudo tá perdido. Vindo para cá, eu encontrei uma HQ, que, olha só, ela é brasileira, inspirada na série e fala de tudo aqui, gente! Fala de pansexualidade, fala de punheta, tem aqui onde é que fica o clitóris, por sinal, algo que todo mundo deveria saber. Quando eu vi isso, eu sabia que eu devia comprar o lote inteiro e trazer para dar de graça para vocês. E foi exatamente isso que eu fiz. Eu acho que a diretoria não vai gostar muito dessa ideia, mas digamos que eu tenha um pouquinho de experiência em afrontar autoridade para distribuir livro proibido. Quem quiser, clica no link e vem pegar comigo!

[estudantes abandonam as salas de aula correndo para buscar as HQs, enquanto isso um diretor e uma diretora entram na sala e ela pergunta:]

- O que exatamente está acontecendo aqui?

- Educação sexual, diretores! (FELIPE NETO, 2020).

Enquanto o youtuber vai falando, ao longo do comunicado, são exibidas as reações de espanto de estudantes, docentes e do diretor, mostrando que esse assunto não é esperado para um ambiente escolar. Ao finalizar o vídeo, o diretor ameaça: “Eu vou chamar a polícia, se você não sair”. O artefato aciona os sentidos de uma rede discursiva que compõe o debate sobre educação para a sexualidade nas escolas, em especial enunciados que colocam em confronto perspectivas de inadequação de abordagens e discussões sobre questões de gênero e sexualidade e as experiências e as singularidades que estudantes trazem consigo para a escola. Tanto o vídeo de Felipe Neto quanto a série a qual o youtuber anuncia passam a compor esse debate candente.

Embora a produção não esteja no canal Felipe Neto5, ela se encontra presente no YouTube6. Isso nos chama a atenção para aspectos relevantes: quando o influenciador é convidado a fazer uma propaganda, isso nos parece ser uma aposta na sua capacidade de convencer pessoas a consumirem o que ele oferece. Para que isso aconteça, os enunciados discursivos produzidos por ele têm que ser condizentes com o produto. É improvável que alguém que fosse declaradamente contra as discussões de sexualidade entre os/as jovens fosse convidado/a para atuar nessa publicidade. O fato de o público alvo da série se aproximar ao do canal é relevante para tal escolha, mas a forma como o youtuber se comunica com essa audiência e a confiança que desperta nela parecem ser estratégicas (SANTOS, 2021). A participação dele nessa produção diz de sua trajetória. A linguagem que apresenta em seus vídeos, as ideias que defende e até uma ação de grande repercussão realizada por ele (distribuição de livros na Bienal do Livro do Rio de Janeiro) foram exploradas no material publicitário. O próprio youtuber faz menção a essa ação no vídeo gravado para a Netflix: “Eu acho que a diretoria não vai gostar muito dessa ideia, mas digamos que eu tenho um pouquinho de experiência em afrontar autoridade”. Isso nos indica que o fato de defender o acesso a discussões sobre sexualidade para jovens passou a fazer parte do que compõe a sua imagem pública, extrapolando o seu canal. Desse modo, Felipe Neto contribui para a construção de resistências em tempos de ataques conservadores aos debates entre sexualidade e escolas.

A propaganda em questão mostra Felipe Neto defendendo o que ele chama de educação sexual, algo que ele faz em alguns de seus vídeos, como em “A cura da Aids foi descoberta? [+13]” (2019), no qual argumenta a favor da divulgação de materiais educativos voltados para a faixa etária de 10 a 19 anos, dizendo: “Jovens precisam de informação! Eles são crus, eles são jovens. E, se eles não tiverem informação, eles vão fazer as coisas erradas!”. A aposta do influenciador não é em qualquer “educação sexual”, mas naquela que se pauta nas informações científicas como possibilidade de provocar atitudes mais “conscientes” diante das experiências vividas no campo das sexualidades. No entanto, o youtuber deixa em aberto a possibilidade de discutirmos sobre essa “informação” por ele exaltada: o que significa “ter informação”? A informação se coloca do mesmo modo em diferentes instâncias e por diferentes meios? A relação estabelecida com jovens a partir de um vídeo do Ministério da Saúde, construído por profissionais no campo da saúde, é a mesma a partir de um vídeo de Felipe Neto, considerando aspectos como a linguagem, as estratégias de humor, as experiências compartilhadas? A informação é suficiente para que jovens não façam “as coisas erradas” mencionadas por ele?

Fazendo jus ao título, no vídeo, Felipe Neto começa apresentando dois casos de pessoas que foram curadas da Aids, explica alguns aspectos sobre a questão, fala um pouco acerca da epidemia dessa doença nos anos 1990 e sobre os avanços no tratamento até então. Logo após, anuncia um dado alarmante:

Embora as pesquisas apontassem uma diminuição em 16% de novos casos de Aids no Brasil, eles descobriram um outro número, que é extremamente preocupante! Em jovens entre 15 e 24 anos, entre 2007 e 2017, o número de novos casos da Aids não diminuiu. Ele aumentou 700%!

E o grande motivo desse vídeo é porque isso aconteceu enquanto, ainda que pouca, existia alguma informação. Ainda existiam cartilhas, ainda existiam pedidos... campanhas usando dinheiro da saúde, né? Dinheiro público. Pra conseguir conscientizar, pelo menos um pouco, os jovens. E, mesmo assim, foi tão mal feito que nós tivemos um aumento de 700% dos casos de AIDS entre jovens de 15 a 24 anos! Então, o que vai acontecer nos próximos anos? (FELIPE NETO, 2019).

O youtuber declara sua preocupação com os dados apresentados, principalmente pensando que eles podem aumentar no futuro, devido ao crescimento da circulação de discursos contrários à “educação sexual”. Sobre isso, ele diz: “Há todo um movimento do ultraconservadorismo. De impedir que jovens tenham acesso à educação sexual. E isso é muito perigoso! Muito, mas muuuito perigoso! A educação sexual é o que salva os nossos jovens, gente!”. Na época da postagem, o presidente Jair Bolsonaro havia dito em uma live que recolheria uma cartilha educativa destinada a adolescentes, distribuída pelo Ministério da Saúde, alegando que o material continha imagens de órgãos sexuais e, por isso, era impróprio - as imagens estavam presentes na parte designada a ensinar o modo de usar o preservativo masculino. Disse, ainda, que faria uma nova cartilha sem as imagens e estimulou as famílias a rasgarem o material, caso achassem inadequado para seus/suas filhos/as7. Felipe Neto declarou-se contrário à atitude de Jair Bolsonaro e afirmou que a necessidade de informar aos/às jovens sobre questões sexuais é “o grande assunto desse vídeo”. Para defender seu posicionamento, apresenta citações de pessoas que considera serem autoridades para falar do assunto:

Alguns depoimentos que eu separei aqui, pra vocês entenderem e não acreditarem só nas palavras desse idiota que faz vídeo pro YouTube, tá?

Os Ministros falam sobre a necessidade de se respeitar a família brasileira e deixar o debate sobre educação sexual para os pais. É a receita para o desastre. Nos anos 1990 e 2000, havia grandes mobilizações, investimentos e programas nacionais constantes. Hoje nega-se o debate público (Richard Parker - Diretor-Presidente da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids).

Estamos em um mundo onde há muitos problemas relacionados à gravidez na adolescência e doenças sexualmente transmissíveis e isso seria de fácil prevenção, caso houvesse o uso de preservativos. É difícil explicar esse processo, sem ter uma figura. Não podemos desprezar um conteúdo tão importante devido a questões moralistas sobre órgãos sexuais (Georges Fassolas - especialista em reprodução humana).

No momento em que se retira da cartilha um material que fala sobre a educação sexual, infringem-se princípios básicos de saúde! (Thomaz Gollop - ginecologista e professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, além de membro da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

O adolescente precisa ter referências embasadas, didáticas, que usem uma abordagem direta, mas que não sejam vulgares. Tirar de circulação um conteúdo bem feito como o disponibilizado pela caderneta é uma atitude desnecessária” (Kenis Xaxito - Mestre em Psicologia Comportamental). (FELIPE NETO, 2019).

Todas as falas apresentadas defendem posicionamentos embasados cientificamente e contrários à atitude anunciada pelo presidente. O influenciador lança mão de comentários que julga darem credibilidade à sua fala, indicando que não se trata de uma opinião isolada. Esses recursos discursivos não são escolhidos aleatoriamente, pois foram ditos por pessoas que ocupam lugares autorizados a dizerem sobre o assunto. Isso mostra o “modo como o saber é aplicado em uma sociedade, como é valorizado, distribuído, repartido e de certo modo atribuído” (FOUCAULT, 1996, p. 17). Na ordem discursiva da qual fazemos parte, existe uma “vontade de verdade” que, “apoiada sobre um suporte e uma distribuição institucional, tende a exercer sobre os outros discursos [...] uma espécie de pressão e como que um poder de coerção” (FOUCAULT, 1996, p. 18). Dessa forma, alguns discursos são mais valorizados do que outros e, ao serem acionados, trazem um tom de verdade, pois são amparados por instituições consagradas culturalmente, como é o caso da Medicina, por exemplo. Como os discursos sobre sexualidade perpassam pela área da saúde, as palavras de especialistas desse campo tornam-se argumentos valorizados nessa situação. Logo, sua citação na produção fortalece a tese do youtuber, que tenta passar para o público os motivos de sua preocupação dizendo:

700%, foi o aumento na quantidade de jovens contaminados pelo HIV. Entre 2007 e 2017, quando ainda se tinham cartilhas, quando ainda se tinha campanha, mesmo que pouca. O que vai acontecer nos próximos 10 anos? Excluindo a educação sexual. Tratando como um tabu absurdo! Vendo um escândalo em uma criança de 13 anos ter uma aula sexual sobre como usar um preservativo. O que vai acontecer? Pra onde vão essas crianças? Qual é o tipo de educação que a gente quer que elas tenham? Ou vocês acham mesmo que não falar sobre sexo com um jovem faz com que ele não pratique sexo? (A CURA, 2019).

A apreensão de Felipe Neto se dá não só diante dos dados apresentados sobre o aumento do número de casos de Aids, mas também pelas projeções que faz no futuro diante das posturas do governo Bolsonaro. Embora a fala do presidente tenha sido o gatilho para a realização do vídeo, não se trata de um fato isolado. Na última década, observamos um aumento na mobilização de grupos conservadores para propagarem suas ideias e conquistarem mais adeptos/as. Eles fazem pressão política para que preceitos morais e religiosos estejam presentes nas decisões do Estado, buscam alinhar os currículos escolares às suas crenças e tentam desmantelar produtos midiáticos que vão de encontro a elas. A administração de Jair Bolsonaro foi condizente com essa corrente de pensamento, tendo seus princípios sido usados como compromissos da sua campanha eleitoral.

O contexto político-social na atualidade e a perseguição à educação para a sexualidade

No contexto apresentado até aqui, o qual motivou a produção da campanha e de vídeos pelo influenciador Felipe Neto, a sexualidade atualizou-se como um campo de batalha das relações de saber e poder. Temos visto diversas manifestações contrárias à educação para a sexualidade, vindas de pessoas alinhadas com o ultraconservadorismo, lideradas por autoridades políticas e religiosas. São projetos de lei, postagens em redes sociais, sites, vídeos, materiais impressos, passeatas, pregações, censuras, entre outras que espalham discursos conservadores. Elas atacam qualquer instância ou material que proporcionam informações relacionadas a sexo, identidades sexuais e de gênero em uma perspectiva mais progressista. Todavia, seu principal alvo é a escola.

Uma dessas iniciativas é o movimento “Escola Sem Partido” (ESP), que se apresenta como “uma iniciativa conjunta de estudantes e pais preocupados com o grau de contaminação político-ideológica das escolas brasileiras, em todos os níveis: do ensino básico ao superior”8. Apesar de ter sido criado em 2004 (preocupado com questões político-partidárias, espalhando o medo de uma “doutrinação marxista”), o movimento só ganhou visibilidade a partir de 2014, quando se uniu a grupos religiosos contrários ao que chamam de ideologia de gênero. Luis Felipe Miguel (2016) faz uma gênese da ideologia de gênero mostrando que ela surge para fazer referência aos estudos de gênero inaugurados pelos movimentos feministas. Porém, afasta-se completamente do que esse campo do conhecimento estuda, pois se “trata de uma invenção polêmica dos meios conservadores católicos que visa caricaturizar e, assim, deslegitimar um campo de estudos” (GARBAGNOLI apud MIGUEL, 2016, p. 598). Com o argumento de que a ideologia de gênero visa destruir a família tradicional, ensinar crianças a serem homossexuais e estimular a “mudança de sexo”, organizam-se ações que visam combater as discussões de gênero e sexualidade na escola. Para Gabriela Sevilla e Fernando Seffner (2017, p. 7),

a “ideologia de gênero” era o combustível necessário para criar a ideia de pânico moral e a necessidade de controle social em relação à escola e a seus professores (o que está sendo ensinado e como?) quando aparecem os termos sexo, sexualidade, gênero e identidade isso logo se transforma em justificativa para intervir na escola, pois esses grupos afirmam que a família, seus valores morais e religiosos estão sendo atacados. É o medo da degeneração sexual atuando. Está dado o terreno para o crescimento do ESP. É claro, num contexto social, político, econômico e cultural mais favorável à oposição, já que é em 2014 que começa a se intensificar a polarização política com a eleição muito disputada para a presidência e em 2015 estoura a crise econômica e política, que leva ao golpe de 2016. Todo este contexto possibilita a emergência do ESP e da discussão sobre a “ideologia de gênero”.

Entre as ações do ESP, estão a divulgação de conteúdo ultraconservador; a tentativa de implementar leis alinhadas aos seus valores9; a pressão política para retirar conteúdos relacionados a questões de gênero e sexualidade dos documentos que regem o sistema educacional brasileiro10, além da busca pela criminalização de professores/as que abordarem os assuntos indesejados pelo grupo. Luis Felipe Miguel (2016, p. 614) cita alguns dos projetos de leis motivados por essa corrente e conclui que tais propostas “impedem que a atividade profissional dos docentes seja exercida de modo pleno” e, ainda, atacam os direitos de estudantes, visto que

impedem a educação sexual e o combate ao preconceito, à intolerância e à violência nas escolas, sob o argumento de preservar a soberania da família na formação “moral” dos mais novos. Com isso, retiram das instituições de ensino a possibilidade de contribuir para disseminar os valores de igualdade e de respeito à diferença, que são cruciais para uma sociedade democrática. E retiram dos jovens o direito de ter acesso a informações que são necessárias para que eles possam refletir sobre sua própria posição nesse mundo e avançar de maneira segura para a vida adulta (MIGUEL, 2016, p. 605-606).

É nesse contexto de pressão e negação que é necessário pensar sobre a importância das discussões de gênero e sexualidade na escola. Em função disso, diversas pesquisas no campo dos Estudos de gênero, sexualidade e educação apontam a relevância da presença dessas discussões no âmbito escolar (BRITZMAN, 1996; LOURO, 2003, 2018; MIGUEL, 2016), visto que é uma instância formalmente legitimada como lugar de aprender e onde é possível encontrar e conviver com a diversidade de identidades e personalidades.

Guacira Louro (2018) fala sobre as pedagogias da sexualidade que trabalham para moldar os sujeitos investindo em mecanismos para ensinar modos desejáveis de vivenciar as identidades sexuais e de gênero. Para a autora, apesar de essas pedagogias estarem presentes em muitos locais, quando ocorridas na escola, elas deixam marcas na vida e nos corpos dos indivíduos, pois, quando se trata dessa instituição “suas proposições, suas imposições e proibições fazem sentido, têm ‘efeitos de verdade’, constituem parte significativa das histórias pessoais” (LOURO, 2018, p. 25). Isso porque, seja discutindo as situações referentes à sexualidade ou se omitindo diante delas, a escola educa. O modo de lidar com a sexualidade na instituição é um ensinamento, pois pode reforçar ou questionar preconceitos, estimular ou quebrar silêncios, perpetuar ou descontinuar violências.

O conservadorismo parece ver a criança e o/a jovem como sujeitos à parte das questões de sexualidade, como se o acesso a elas acontecesse apenas em momentos formais e intencionais. Entretanto, a sexualidade está presente no cotidiano de alguma forma: está na televisão, na internet, nas revistas, nos livros, nas conversas, nos corpos, nas relações com o/a outro/a e em vários lugares pelos quais circulam enunciados que subjetivam. Ela faz parte de cada um/a e não há como ignorá-la na escola, pois “não é algo que possa ser desligado ou algo do qual alguém possa se ‘despir’” (LOURO, 2003, p. 81). Por isso, ainda que essas questões não sejam contempladas nos currículos oficiais, elas estão na escola.

Elas fazem parte das conversas dos/as estudantes, elas estão nos grafites dos banheiros, nas piadas e brincadeiras, nas aproximações afetivas, nos namoros; e não apenas aí, elas estão também de fato nas salas de aula - assumidamente ou não - nas falas e atitudes das professoras, dos professores e estudantes. (LOURO, 2003, p. 131).

Assim, cada um/a leva para a escola suas concepções, suas formas de ser, pensar e agir. Atualmente, com as pessoas recebendo conteúdo pela internet, muitas vezes manipulado por algoritmos que rastreiam suas preferências, há um risco de que elas tenham acesso somente ao ponto de vista ultraconservador. A possibilidade de escolher o que vai ler e assistir na internet, juntamente com as sugestões de materiais selecionados por mecanismos especializados, pode levar os indivíduos a só assistirem a conteúdos que mostram o que querem ver, que reforçam suas concepções. Nesse contexto, a escola é essencial para conviver com sujeitos diversos, conhecer diferentes perspectivas, aprender a problematizar as informações recebidas por outros meios e a refletir sobre a forma como se pensa e age (SANTOS, 2021).

Acerca da sexualidade na escola, voltamos ao vídeo de Felipe Neto, no qual ele chama a atenção para outra questão importante:

A educação sexual, muitas das vezes, até em idade pré-escolar, é o que faz uma criança saber que tá sendo abusada, dentro de casa! Porque muitas crianças não sabem! Estão sendo e não sabem! Porque elas nem sabem o que que é um abuso sexual! E tirar isso, descartar a educação sexual do currículo disciplinar das crianças é simplesmente abrir portas pra pedófilos abusadores. Abrir portas pra doenças sexualmente transmissíveis e abrir portas pra gravidez precoce. E até mesmo pro início precoce de atividade sexual. Porque já é mais do que documentado que, quanto mais você informa jovens sobre a educação sexual, maior é o período que ela leva pra iniciar a vida sexual. Tentando impedir que jovens tenham acesso a imagens de pintos esses ultraconservadores estão jogando as crianças no pior cenário que poderiam jogar! (A CURA, 2019).

O papel da escola em casos de violências sexuais contra crianças e adolescentes é fundamental desde a conscientização e a prevenção, até a identificação e as intervenções necessárias. Envolve informar, estimular atitudes de autoproteção, escutar, acolher as vítimas e promover diálogos, mas também denúncias ao Conselho Tutelar em caso de suspeita (BRASIL, 1990). Constantina Xavier Filha (2012) apresenta ações e omissões de instituições escolares diante de situações de agressões sexual mostrando o quanto a atuação nesse espaço faz diferença para as vítimas. Ela destaca alguns elementos para orientar a prática pedagógica em casos de suspeita, pois, muitas vezes, os casos são relatados na escola quando essa instituição se coloca como um espaço aberto e acolhedor. Pode ser em situações pedagógicas que levam as vítimas a refletirem sobre suas vivências e, assim, perceberem que se trata de violências sexuais ou ainda quando um/uma profissional da escola tem um olhar sensível para essa questão e percebe que algo está incomodando a criança ou o/a adolescente. Por isso, Xavier Filha (2012, p. 164) ressalta a importância desse assunto no ambiente escolar, “nos currículos e também numa agenda coletiva”.

Sabe-se que informações sobre IST, sistemas sexuais e métodos contraceptivos fazem parte da chamada “educação sexual” curricular. Entretanto, Segundo Juliana Lapa Rizza (2013, p. 4),

o termo educação sexual foi sofrendo alguns desgastes conceituais, por estar vinculado diretamente à práticas com enfoque biológico, higienista, moralista e até mesmo dessexualizado, ao utilizar uma linguagem didática que visava explicar as doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, entre outros cuidados com o corpo que algumas vezes apresentavam-se como essencialistas e universalizantes.

Por isso, a autora propõe que tenhamos uma educação para a sexualidade que

visa a problematizar os discursos naturalizados no âmbito da cultura, questionando as certezas, permitindo, assim, outras possibilidades de pensar a sexualidade e de compreender como nos constituímos através de relações de saber e poder. Articula questões que envolvem a materialidade biológica dos sujeitos a aspectos sociais, históricos e culturais como, por exemplo, desejo, prazer, curiosidade, respeito, conhecimento de si e do outro, relações de gênero, entre outros. (RIZZA, 2013, p. 5).

A educação para a autoproteção é de extrema importância, aprender como evitar uma gravidez não planejada, prevenir doenças, higienizar o corpo, reconhecer uma violência sexual para se defender, entre outras atitudes que levam os sujeitos a olharem para seus corpos e preservá-los. Todavia, a educação para a sexualidade é algo mais amplo, que concebe a sexualidade como um dispositivo a serviço das relações de saber e poder, que age disseminando saberes e governando nossos corpos. Educar para sexualidade, nesse sentido, é falar de sexo, corpo, orientação sexual, gênero, compreendendo que os/as estudantes vivenciam essas questões desde o seu nascimento, que são envolvidos/as por discursos ao longo de suas vidas e, principalmente, que possuem experiências diversas. Nessa perspectiva, as discussões na escola devem proporcionar a problematização de pensamentos e comportamentos relacionados a si mesmo e ao outro, visando principalmente ao cuidado de si e ao respeito às diferenças.

Todavia, isso não é um consenso. Questionar os discursos hegemônicos pode desagradar muita gente. Seja na escola ou na mídia, escolher falar sobre sexualidade para jovens é assumir um posicionamento diante das batalhas discursivas e políticas, pois, infelizmente, com a polarização que o país enfrenta, em que direita e esquerda não significam somente formas de conduzir a política, as discussões educacionais, muitas vezes, detêm-se a um dos dois lados. Parece que grupos ligados à esquerda vêm demonstrando uma tendência mais progressista, observando a diversidade de sujeitos, aproximando-se de algumas pautas dos movimentos sociais como Negros, Feministas, LGBTQIA+. Em contrapartida, pessoas que se dizem de direita têm defendido condutas mais conservadoras, alinhadas com preceitos religiosos, que reforçam práticas discursivas hegemônicas. Embora essas características não sejam absolutas, seguidas de forma irrestrita, demonstram que assuntos como gênero e sexualidade vêm sendo atrelados a convicções políticas, gerando situações em que algumas pessoas tendem a não analisar o conteúdo das discussões, mas quem está dizendo, alinhando suas opiniões com as dos/das políticos, líderes religiosos e outros sujeitos que admiram. Por esse motivo, Felipe Neto reforça seu posicionamento com relação ao tema, independentemente de suas escolhas eleitorais:

Eu não trago política pra dentro do canal! Vocês sabem disso! Eu não tô aqui pra bater em político, eu não tô aqui pra falar de partido. Eu não tô aqui pra defender posicionamento político nenhum! Mas o que está acontecendo nesse exato momento sendo conduzido pelo Ministro da Saúde e apoiado pelo Presidente da República vai desgraçar uma geração de jovens inteira!

Vocês estão entendendo que ninguém tá falando de esquerda? Ninguém tá falando de direita. Ninguém tá falando sobre posicionamento político. Ninguém tá falando pra você botar uma camisinha e votar no Lula! Você entende isso? Você entende que ninguém tá falando que quem usa camisinha é comunista? Você consegue entender que o uso da camisinha e ensinar jovens sobre sexo é uma questão de saúde pública? Dá pra entender? Dá pra abrir um pouco a cabeça e entender? (A CURA, 2019).

Os/As jovens que compõem o público-alvo do vídeo de Felipe Neto são exatamente aqueles/as que estão no centro da discussão envolvida na produção. Quando o youtuber fala que diminuir o acesso às informações sobre sexualidade pode “desgraçar uma geração de jovens inteira”, ele está falando com essa geração. Ao dizer ao/à jovem que ele/a precisa ser informado/a sobre esse assunto e que existe um movimento para que isso não aconteça, suas palavras podem fazer com que esses/as espectadores/as reflitam sobre a maneira como essas questões estão colocadas na sociedade e como isso pode afetar a sua vida. O youtuber tenta chamar a atenção de quem assiste para a importância de desvincular as discussões sobre sexualidade dos embates políticos, visto que a politização do assunto poderia prejudicar a saúde de quem não recebe orientações. Quando faz isso, ele está ensinando sobre as duas coisas, pois estimula a pensar sobre a situação política de polarização que estamos vivendo e sobre como a educação para a sexualidade vem sendo tratada (SANTOS, 2021).

O apelo do youtuber para que as questões de sexualidade não sejam vistas somente pelo viés político é também um desafio da educação atual. O clima de rivalidade entre as correntes políticas vem afetando a autonomia de campos que, até então, eram respeitados pela construção de pesquisas realizadas por estudiosos/as de cada área, como a saúde e a educação, por exemplo. Vemos hoje uma descrença na ciência, no estudo, na pesquisa e nos dados científicos em detrimento da afirmação de posicionamentos pessoais, políticos e religiosos. Há uma vontade de negação absoluta que se recusa a ouvir argumentos embasados. Na era do é minha opinião, todo mundo acha alguma coisa sobre tudo, mas nem todos/as estão dispostos/ as a fundamentarem suas afirmativas e muito menos a escutarem questionamentos de quem apresenta outra perspectiva. Nessa conjuntura, a autonomia da escola vem sendo ameaçada. Convicções políticas, religiosas e econômicas disputam não só espaço nos currículos escolares, mas a hegemonia de seus discursos nos diversos espaços educativos, desvalorizando a importância da contraposição de ideias e da argumentação, fundamentais para a construção de sujeitos críticos e independentes.

Baseado em Foucault, Roberto Machado (1998, p. 21) diz que “saber e poder se implicam mutuamente: não há relação de poder sem constituição de um campo de saber, como também, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder”. Logo, saber é poder e “todo saber é político”. Discutir determinados assuntos nas escolas e nas mídias pode colocar sob suspeita a hegemonia dos discursos normalizadores e aumentar as relações de força e resistência. Então, a quem interessa esconder informações, restringir o conhecimento, limitar saberes? E por quê?

Considerações finais

Após acompanhar os vídeos do youtuber Felipe Neto, constatamos a relevância que as falas e os posicionamentos de influencers digitais, celebridades e outros sujeitos que ocupam posições de extensa visibilidade e/ou prestígio social vêm assumindo no contexto contemporâneo. Em especial, aqueles/as que ocupam a internet e se utilizam de suas estratégias informacionais contribuem, sobremaneira, para que se instaurem processos educativos com os quais opiniões passam a circulam e visões de mundo encontram adeptos/as, por vezes, fervorosos/as.

O debate sobre a relação entre escola e sexualidade encontra centralidade nesse contexto. Rogério Junqueira (2018, p. 181) argumenta que esse cenário se pauta em uma agenda moralmente regressiva como parte de um projeto de poder de cunho reacionário, “orientado a conter ou anular avanços e transformações em relação a gênero, sexo e sexualidade [...]”. Trata-se, portanto, de um projeto voltado para a reafirmação de valores tradicionalistas e concepções ultraconservadoras. O sintagma ideologia de gênero evidencia-se nesse contexto, impactando sobremaneira os debates sobre políticas públicas e práticas educacionais. Exemplo disso foi a disputa em torno dos planos nacional, estaduais e municipais de educação, a fim de expurgar quaisquer menções aos termos gênero, sexualidade e correlatos.

Considerando a velocidade com que as informações circulam, a construção da retórica antigênero ganha adeptos e alimenta o pânico moral que mobiliza sujeitos a estarem atentos e vigilantes contra qualquer possibilidade de se estabelecerem políticas que avancem nos debates acerca de direitos fundamentais e políticas de justiça social, voltadas, especialmente, para mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+. Como nos lembra Junqueira (2018, p. 185), a escola está no centro desse debate, visando “deslegitimar a liberdade docente e a desestabilizar o caráter público e laico da instituição escolar como espaço de formação crítica para a vida, aí compreendida a socialização para o convívio social, plural, cidadão e democrático”.

Enquanto figura pública, com grande alcance de público, atraindo a atenção de jovens, bem como pessoas de variadas idades, o youtuber Felipe Neto se posiciona contrário ao contexto conservador, argumentando a favor da disseminação de informações que extrapolam o contexto familiar:

O que a gente tem é que informar! O que a gente tem é que passar conhecimento! É distribuir o máximo de informação possível! E, se você me falar que a família tá preparada pra essa função, você tá de sacanagem com a minha cara! Você tá brincando comigo, de dizer uma coisa dessa! Só o que eu peço é que vocês coloquem a mão na consciência. E pensem sobre a importância da educação sexual pra jovens. Parem de achar que isso é coisa de comunista! Parem de achar que isso é coisa de... esquerda! Isso é coisa de vivência humana! Isso é coisa de saúde! (A CURA, 2019).

A premissa de Felipe Neto encontra reações junto à retórica antigênero, a qual apregoa ser de controle exclusivo da família ‘natural’ a formação moral e sexual dos/as filhos/as. O controle inclui a restrição do acesso a informações sobre sexualidade e a interdição aos debates escolares sobre questões relacionadas. Nesse sentido é que o influencer digital aciona o que denomina de “educação sexual”, em alusão ao contexto educativo produzido pela escola e pelas mídias digitais, como seus próprios vídeos. Trata-se, portanto, de um contexto disputado, no qual as pedagogias dos artefatos culturais ganham notoriedade, produzindo subjetividades entre assujeitamentos e liberdades. Somos instigados/as, assim, a negociar processos de significação e a construir saberes e modos de estar no mundo.

Os movimentos antigênero, materializados nos posicionamentos de agentes e grupos sociais conservadores, violam direitos e garantias constitucionais, bem como as premissas fundamentais ligadas aos direitos humanos. São, portanto, movimentos antidemocráticos, que promovem um cenário político-discursivo de desinformação e pânico, visando impor visões de mundo “a partir de marcos morais, tradicionalistas e intransigentes” (JUNQUEIRA, 2018, p. 200). Assim, ocupar espaços de visibilidade para promover ideias ligadas ao pluralismo, ao reconhecimento da diversidade e enfrentamento às políticas e práticas sociais de desigualdade torna-se medida necessária e urgente.

1Segundo Junqueira (2018), o termo antigênero faz referência a uma tomada de posição contrária à adoção da perspectiva de gênero e à promoção do reconhecimento da diversidade sexual e de gênero nas políticas sociais e na vida cotidiana.

2Dados referentes a 2020 são da reportagem intitulada “Os 10 maiores canais do YouTube no mundo e no Brasil”, divulgada pelo site https://www.oficinadanet.com.br/post/13911-os-10-maiores-canais-do-youtube. Acesso em: 16 dez. 2020. Dados referentes a 2023 foram obtidos diretamente do canal do youtuber: https://www.youtube. com/@felipeneto/videos Acesso em: 04 mai. 2023.

3O uso do termo “educação sexual” é atribuído ao youtuber Felipe Neto. Guardamos algumas problematizações a esse termo, as quais compõem a segunda seção deste Corpos, gêneros e sexualidades.

4Desde novembro de 2016, o Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais passou a usar a nomenclatura IST no lugar de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porque a palavra ‘doença’ sugere sintomas e as infecções podem acontecer mesmo sem sinais visíveis no corpo.

5No vídeo “Respostas de provas mais engraçadas (primeiro de 2020) [+10]”, postado no canal dia 27 de janeiro de 2020, Felipe Neto faz propaganda da série e do material de cuja produção ele participou e deixa o link que leva até a propaganda e até a HQ (atualmente não está disponível).

6Disponível no Canal da Netflix Brasil no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=IuJl1W0uC8U. Acesso em: 01 dez. 2022.

8Definição retirada do site do Escola Sem Partido. Disponível em: http://www.escolasempartido.org/quemsomos/. Acesso em: 11 nov. 2020.

9A página “Professores contra o Escola Sem Partido” faz um monitoramento desses projetos. Disponível em: https://profscontraoesp.org/vigiando-os-projetos-delei/. Acesso em: 11 nov. 2020.

10Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional; Base Nacional Comum Curricular; Planos Municipais, Estaduais e Nacional de Educação.

REFERÊNCIAS

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Recebido: 30 de Agosto de 2023; Aceito: 09 de Outubro de 2023

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Doutoranda em Educação (PPGE/UFJF). Professora da rede estadual de educação de Minas Gerais. Juiz de Fora-MG. E-mail: michele_pgs@hotmail.com

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Doutor em Educação. Professor do Programa de Pós-graduação e da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora-MG. E-mail: roneypolato@gmail.com

Corpos, gêneros e sexualidades revisado por Mariangela Tostes Innocencio

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