INTRODUÇÃO
A ginástica sueca foi uma sistematização criada por Per-Henrik Ling (1776-1839) com o objetivo de formar um corpo harmonioso e saudável. O sistema de Ling foi baseado em pressupostos científicos e caracterizado por movimentos simétricos e precisos, constituindo um método prático e racional para a educação corporal. Ling organizou sua ginástica em: militar, médica, pedagógica e estética (Ling, 1840; Georgii, 1854; Pereira, [195?]; Ljunggren, 2011; Lundvall, 2015). O processo de criação desse modelo ginástico deu-se ao longo das primeiras décadas do século XIX. Em 1813, Ling, em parceria com a Coroa sueca, criou o Royal Gymnastics Central Institute (GCI) (Lundvall, 2015), local de formação de sujeitos aptos ao ensino da ginástica sueca (Moreno e Baía, 2019).
Após a morte de Ling, em 1839, seus continuadores dedicaram-se à ampliação de sua ginástica e, em conjunto com a Coroa sueca, empenharam-se em sua divulgação pelo mundo. Isso tornou o GCI uma referência para aqueles interessados, suecos ou estrangeiros, em conhecer ou estudar a ginástica de Ling (ibidem). Nesse processo de disseminação, o GCI enviou seus alunos para diferentes países,1 assim como recebeu e convidou estrangeiros interessados em conhecê-la.2 A ginástica sueca, então, circulou por diferentes partes do mundo por sujeitos mediadores e por intermédio de manuais, exibições de ginástica, criação de institutos/instituições, entre outros modos (Bloomfield, 2005; Sarremejane, 2006; Bazoge, Saint-Martin e Attali, 2011; Moreno, 2015; Baía, Bonifácio e Moreno, 2019).
Esse movimento de divulgação da ginástica foi, portanto, fruto de diferentes mediações e agentes mediadores. Entre os sujeitos envolvidos nesse processo, pode-se citar Ludvig Gideon Kumlien (1874-1934), sueco, natural de Eskilstuna, formado no GCI, que em 1895 se mudou para Paris, na França, e realizou diferentes movimentos de divulgação da ginástica sueca (Baía, Bonifácio e Moreno, 2019).
Oriundo de uma família que gozava de certo prestígio social e econômico, Kumlien provavelmente teve contato com a ginástica no ambiente escolar e nos espaços associativos em sua cidade natal, Eskilstuna, Suécia (Bonifácio, 2019). Não apenas Kumlien, mas também uma de suas irmãs tiveram a ginástica como exercício profissional. Para Bonifácio (2019), isso sinaliza certo envolvimento da família com essa prática. De todo modo, ao sair de Eskilstuna para Estocolmo, cidade sede do GCI, Kumlien realizou o seu primeiro itinerário. Ingressou no Instituto em 1893 e formou-se em 1895, mesmo ano em que se mudou para Paris (Bonifácio, 2019).
Mudar de Estocolmo para Paris não foi uma decisão casual e desinteressada. De acordo com Bonifácio (2019), diferentes elementos contribuíram para isso. Podem-se citar, por exemplo, o apoio da família de Kumlien3 e as ações do GCI que facilitavam e estimulavam o trânsito de seus alunos. Bolling e Yttergren (2015) afirmam que a formação em ginástica médica ofertada pelo GCI possibilitava uma atuação rentável tanto na Suécia quanto no exterior.
Outro fator contribuiu significativamente para essa mudança: a visita do francês Hugues Le Roux ao GCI. Robert Charles Henri Le Roux, conhecido pelo pseudônimo Hugues Le Roux, era escritor e jornalista. Le Roux foi enviado pelo Ministro de Negócios Estrangeiros e o Ministro de Instrução Pública da França que, tendo sido convidados pelo Rei da Suécia e Noruega, Oscar II, destinaram a ele (Le Roux) a missão de ir à Suécia conhecer a ginástica de Ling e atestar os resultados do método.4
Nessa viagem ao território sueco, no verão de 1893, Le Roux conheceu Kumlien e, convencido dos benefícios promovidos pela ginástica de Ling, identificou neste o “obreiro” da missão que o Rei Oscar II lhe dera no momento de sua partida: “É preciso que sua tarefa tenha um resultado prático [...]” (Roux, [1901], p. 5). Dois anos mais tarde, em 1895, Kumlien mudou-se para Paris. Nesse local, Kumlien e Hugues Le Roux promoveram diversas ações de divulgação da ginástica sueca em conjunto.
Essa divulgação deu-se por três movimentos: exibições de ginástica, atividades de ensino e a publicação de manuais. Destaca-se este último em função de sua circulação em diferentes territórios - Argentina, Brasil, Espanha, Itália, México e Portugal - e sua tradução do francês para três idiomas: o espanhol, o português e o italiano. Um dos fatores que exemplifica isso é a classificação feita por Xavier Torrebadella Flix e Javier Betrán (2012) de um dos manuais de Kumlien como uma das cem obras que ajudaram a legitimar e institucionalizar a Educação Física nos círculos acadêmicos, sociais e profissionais na Espanha.
Assim, o objetivo deste artigo é analisar as ações de divulgação da ginástica sueca realizadas por Ludvig Kumlien na França, principalmente em Paris, entre 1895 e 1921.5 Interessa entender as inserções sociais e o lugar ocupado por Kumlien no processo de circulação da ginástica sueca e, com isso, compreender a dinâmica das ideias que transitaram nesse ambiente.
Analisa-se Kumlien, com base na proposição de Ângela de Castro Gomes e Patrícia Santos Hansen (2016, p. 10), como sujeito “da produção de conhecimentos e comunicação de ideias, direta ou indiretamente vinculados à intervenção político-social”. Entendê-lo desse modo significa olhar para os diferentes movimentos de divulgação da ginástica empreendidos por ele e compreender que, ao mesmo tempo que comunicou essas ideias, também as produziu no contato com uma nova cultura e novos espaços (Gomes e Hansen, 2016); e, dado o alcance de suas intervenções, conquistou uma centralidade importante na circulação da ginástica sueca na França e em outros países.
Na trajetória de Kumlien a transmissão cultural é materializada por meio das aulas ministradas em seu instituto, dos manuais que escreveu e das exibições de ginástica promovidas. Todas essas ações possibilitaram que saberes sobre a ginástica sueca proposta por ele chegassem a outros lugares dentro e fora da França.
A periodização analisada tem início em 1895, ano em que Kumlien se mudou para Paris e realizou um expressivo investimento na divulgação da ginástica sueca em território francês. Finaliza-se temporalmente esta pesquisa em 1921, ano no qual os registros localizados sobre Kumlien em jornais franceses se tornaram menos frequentes.
Como fontes, utilizaram-se jornais, revistas e manuais, localizados em acervos físicos e digitais. Todas as fontes foram lidas e categorizadas com base nas ações realizadas por Kumlien: exibições, publicação de manuais e atividades de ensino da ginástica. Além disso, foram destacados os nomes dos sujeitos que realizaram as ações em conjunto e/ou foram espectadores, leitores e alunos.
NOTICIANDO SUA CHEGADA: AS EXIBIÇÕES DE GINÁSTICA
Neste tópico elencamos as exibições de ginástica sueca de que Kumlien participou, analisando como funcionaram no convencimento de espectadores sobre os benefícios promovidos pela prática da ginástica sueca, além de possibilitar parcerias ao professor sueco. Localizaram-se registros de que Kumlien promoveu e/ou participou de seis exibições de ginástica entre os anos de 1897 e 1904. Os vestígios de sua ocorrência foram encontrados nos jornais franceses e no prefácio da obra La Gymnastique Suédoise (1901) de Kumlien, escrito por Hugues Le Roux. Nesse texto, encontra-se o primeiro registro de apresentação, que foi realizada na Union chrétienne des jeunes gens, em 1897. A exibição seguinte, ainda narrada no prefácio, data de 1899 e teria acontecido já no instituto de ginástica fundado por Kumlien em Paris.6 Participaram dessa exibição o Coronel Dérué,7 Georges Demeny,8 Hugues Le Roux e o Doutor Michaux.9 Demeny e Le Roux foram responsáveis por esclarecer, com alguma teoria, as demonstrações práticas promovidas por Kumlien (Roux, [1901]).
Foi resultado do sucesso dessa exibição a participação no Concurso Nacional de Ginástica da França, em julho de 1899 - evento que, embora estritamente nacional, pela primeira vez permitiu a participação de uma sistematização gímnica estrangeira (Roux, [1901]). Sediado no Jardin des Tuileries,10 o evento contou com a presença de autoridades do governo francês e funcionou como uma espécie de revisão pública da ginástica praticada nas escolas francesas. Ao que parece, Kumlien e seu grupo também participaram de uma edição posterior desse evento, pois uma reportagem publicada em 1901 indica a participação exitosa do grupo no 14º Concurso de Ginástica Nacional (Le Concours, 1901).11
Em 1901, Kumlien realizou uma exibição na Exposition de l’enfance. Sobre essa exibição, as reportagens destacaram a presença de um membro do governo sueco, os ginastas vindos da Suécia e a desenvoltura deles na apresentação (Échos, 1901; Exposition, 1901; E. A, 1901; Milton, 1901). Ainda em 1901, localizou-se o registro de uma palestra do Dr. Michaux no instituto fundado por Kumlien sobre os efeitos do método de Ling. A notícia afirma que o evento teve como espectadores o Coronel Dérué, o senador Pauliat,12 além de médicos e estudantes de medicina (Conférence, 1901).
Além dessas exibições, destaca-se uma apresentação de ginástica de Kumlien no salão de festas do jornal Le Figaro no ano de 1904. Além de ter sido noticiada em longas e ilustradas publicações nos diferentes jornais parisienses, todos eles destacaram “a audiência de elite”.13 Entre os presentes, encontravam-se personalidades da sociedade parisiense - políticos, jornalistas -, representantes do governo sueco e “a reunião dos sujeitos mais importantes do exército, dos esportes e da medicina”.14 O evento foi aberto com uma fala do professor Poirier da Faculdade de Medicina de Paris.15
De forma geral, as exibições contavam com a apresentação dos ginastas de Kumlien e eram precedidas pela fala de médicos e/ou de Hugues Le Roux. Tinha-se, ainda, uma atenção especial para com os espectadores convidados, que eram jornalistas franceses e suecos, políticos, esportistas, médicos, autoridades da Suécia, editores, militares, professores, entre outros sujeitos envolvidos com os embates franceses acerca do método oficial.16
Acredita-se que, ao mesmo tempo que esses eventos tinham como objetivo convencer seus espectadores acerca dos benefícios promovidos pela prática da ginástica sueca, eles possibilitaram que Kumlien fosse estabelecendo parcerias que permitiram que outras ações de divulgação fossem realizadas. Um exemplo disso é o contato com o Dr. Michaux, um médico que conheceu Kumlien em um desses eventos e, posteriormente, passou a fazer a abertura de outras exibições, organizar conferências para os seus alunos nas quais Kumlien se apresentava, além de ter sido autor da introdução de um dos manuais publicado pelo sueco, o La Gymnastique Suédoise (1901).
Assim como Michaux, Raoul Fabens e Per Lamm17 foram parceiros que, possivelmente, Kumlien conheceu nesses eventos, eles mais tarde realizaram ações conjuntas. Fabens, também jornalista, foi coautor de um manual, e Per Lamm, o editor da única obra solo publicada por Kumlien. Émile André, por sua vez, provavelmente conheceu Kumlien por meio de Hugues Le Roux, pois ambos eram jornalistas no Le Figaro. Ao longo do tempo, além de ter publicado diferentes notícias e reportagens sobre o sueco, Émile André e Kumlien publicaram um manual em conjunto, o La Gymnastique Suédoise (1901).
Pode-se dizer que as exibições promovidas por Kumlien tinham o interesse de convencer os seus espectadores dos benefícios promovidos pela ginástica sueca e, para alcançar esse objetivo, estratégias foram traçadas. Promover exibições com ginastas suecos foi uma delas. Todos os jornais que noticiaram exibições com a presença deles os elogiaram por sua performance e condição física, o que é uma forma de demonstrar como eram admiráveis os sujeitos que praticavam essa ginástica. Nessa concepção, além dos ginastas, sujeitos foram levados para argumentar cientificamente a favor da prática exibida, para que, além da performance, mostrassem as bases científicas da prática ao público.
Contudo, não bastava promover exibições sem a plateia conveniente; para tanto, convidavam-se para as exibições diferentes autoridades vinculadas ao debate da educação física francesa: o exército, os médicos, professores, representantes da École de Joinville Le Pont 18 e os políticos.
A análise das exibições permite dizer ainda que Kumlien não tinha tanto acesso à composição dos espectadores nos eventos dos quais participava como convidado. Por outro lado, as apresentações promovidas por ele tinham um público definido, alinhado com o debate da educação física na França e com os seus interesses na divulgação do seu trabalho e da ginástica sueca. Ao se relacionar com esse público nessas duas configurações de apresentações, Kumlien foi estabelecendo e fortalecendo diferentes parcerias que contribuíram para a realização das demais ações: a publicação de manuais e as atividades de ensino.
OS MANUAIS: REGISTROS DE SUA GINÁSTICA
O objetivo deste tópico é apresentar as obras publicadas pelo autor, mostrando como serviram à divulgação da ginástica, e também expressar as alterações no modo como o método sueco foi sendo apresentado e concebido por ele. Em 1901, Kumlien publicou o seu primeiro manual, o La Gymnastique Suédoise. Manuel de gymnastique rationnelle. A la portée de tous et à tout âge (Figura 1).
Dispõe-se de duas versões do manual, que apresentam diferenças entre si, e em nenhuma delas temos informações sobre o ano de publicação. Ambas estão divididas em três partes: a primeira contempla a ginástica pedagógica; a segunda, a ginástica militar; e a terceira, a ginástica médica e ortopédica e a massagem. Os manuais são iniciados por um prefácio, uma introdução, uma descrição dos principais movimentos do método de Ling, observações, uma história resumida da ginástica e as principais divisões do método sueco.
Identificaram-se diferenças entre as duas edições. Na primeira, Kumlien e Émile André são tidos como autores. Na segunda, Émile André é o autor e a capa da obra contém a informação de que ela é escrita de acordo com o método de Kumlien.21 Essa mudança de autoria também foi percebida nos registros acerca desse manual nos jornais franceses a partir de 1904. O Le Journal, por exemplo, publicou o seguinte anúncio:22 “Uma nova edição ilustrada (oito mil) de La Gymnastique Suédoise (Método Kumlien), por Émile André, acaba de ser publicada pela Flammarion” (Échos, 1904, p. 1, tradução nossa).
De acordo com Bonifácio (2019), essa mudança de autoria pode estar relacionada com o intenso debate francês acerca do método oficial de Educação Física. Se em um primeiro momento a ginástica sueca foi celebrada, no momento da publicação da segunda edição do manual ela passava por diversas críticas por ser uma proposta estrangeira.
O anúncio ainda revela aspectos relacionados à circulação do manual, ao informar uma possível tiragem de oito mil exemplares. Além disso, na Imagem 1, à direita, nota-se um escrito na parte superior que indica deuxième mille, o que se acredita referir-se ao número de tiragens dessa edição da obra. O La Gymnastique Suédoise (1901) foi traduzido para o espanhol. Localizou-se a publicação dessas obras no México, em 1909; na Argentina, em 1957; e na Espanha - publicação sem data.23 A editora do manual, Flammarion, segundo Mollier (2008), desde fins do século XIX já realizava movimentos de exportação de suas obras. Assim, pode-se afirmar que esse manual circulou por diversos territórios e idiomas, o que sinaliza o alcance dos investimentos de divulgação da ginástica sueca realizados por Kumlien e seus parceiros.
O manual La Gymnastique Suédoise trazia elementos sobre a análise dos movimentos, a instalação de ginásios, a organização de turmas numerosas, as qualidades necessárias aos professores, os comandos na ginástica sueca, entre outros aspectos que permitiam ao leitor ter uma noção, mesmo que mínima, de como conduzir as sessões, sendo útil até mesmo para os institutos. Isso nos possibilita supor que teria sido um manual elaborado visando pessoas interessadas em ensinar a ginástica, o que se altera na publicação do seu segundo manual, o La Gymnastique pour tous.
Em 1906, Kumlien publica o La Gymnastique pour tous (Figura 2), editado por Per Lamm (1854-1908).24 Em relação ao primeiro manual, mudou não apenas o título, retirando-se o termo “sueca” e destacando-se o fundamento de uma prática destinada para todos, como também a organização. Ele foi dividido em duas partes: a primeira dedicada aos aspectos introdutórios e a segunda às séries de exercícios para crianças de ambos os sexos, para mulheres e para homens; diferente do primeiro, que era iniciado pelos exercícios e dividido entre ginástica pedagógica, ginástica militar e ginástica médica e ortopédica.
O La Gymnastique pour tous é direcionado ao público em geral que desejasse praticar a ginástica em diferentes espaços, inclusive em casa. Em um trecho da primeira parte do manual, por exemplo, Kumlien dirige-se especificamente a diferentes públicos: “os jovens”, “os professores”, “os pais de família”, “as mães”, “os amantes de esporte”, “as pessoas dos escritórios”, “os trabalhadores do campo”, entre outros; para cada um deles, aponta por que era necessária a prática da ginástica.
Nesse sentido, acredita-se que as ilustrações foram a maior aposta de Kumlien nesse novo manual. Lamm, o editor do manual e sueco assim como Kumlien, tinha como uma de suas especialidades a publicação de livros ilustrados (Bonifácio, 2019). Havia, no final da obra, uma espécie de encarte/apêndice com diversas ilustrações das séries de exercícios, que vinha dobrado por ser composto de folhas maiores que as do manual (Figura 3). Foram elaboradas três tabelas de exercícios: uma para crianças, outra para mulheres e uma para homens. Fazer referência a essas ilustrações foi um movimento realizado em quase todos os anúncios que foram localizados a respeito da citada obra.
Além do editor Per Lamm, também fizeram parte da produção do manual Émile André e o Dr. Michaux. Diferente do manual de 1901, o de 1906 é assinado somente por Kumlien. Émile André é citado como quem o ajudou na escrita da primeira parte, uma vez que tinha experiência com a escrita de obras esportivas. Coube a Dr. Michaux o texto de introdução da obra.
De modo geral, os anúncios sobre o La Gymnastique pour tous destacaram suas ilustrações, a participação de Émile André, as três séries de exercícios ali contidas e a possibilidade de o manual ser utilizado por famílias e por escolas. Dispõe-se de duas versões em francês da referida obra, e identificou-se somente uma diferença entre elas: na capa do manual da direita está escrito “obra adotada pelo Ministério da Instrução Pública” (Figura 2).
No mesmo ano em que o manual foi publicado (1906), localizaram-se notícias informando que Kumlien tinha recebido a rosette d’officier de l’instruction publique (Distinction, 1906; Divers, 1906). Receber essa condecoração acadêmica significava reconhecimento por parte do Ministério da Instrução Pública, no sentido de distinguir funções eminentes e recompensar os serviços prestados ao ensino. Dada a importância dessa premiação para o Ministério, era o próprio Ministro quem premiava aqueles que a recebessem. Essa premiação sofreu inúmeras alterações desde quando foi criada, em 1808, e continha diferentes títulos honoríficos.27 Ela parecia ser importante na sociedade francesa; a École des Roches (1924),28 escola que Kumlien atuou como professor de ginástica, ao listá-lo em seu jornal entre os professores da instituição, cita também a premiação recebida por ele.
Diferente das obras anteriores, o manual publicado em seguida não tinha a ginástica como tema central, apesar de ainda ser esta uma temática contemplada; mudou também o parceiro de escrita e o editor. Assim, Kumlien publicou, em 1909, o Cours complet d’éducation physique com Raoul Fabens, um jornalista esportivo, pela Librairie Armand Colin (Figura 4). Por outro lado, permaneceu a estratégia das ilustrações utilizada no manual de 1906; o Cours Complet contou com um apêndice ao final com diferentes séries de exercícios, no mesmo formato do livro anterior. Dispõe-se da obra publicada em 1909 e de uma nova edição publicada em 1921; ambas apresentam a mesma organização e o mesmo número de páginas. Não foram localizadas traduções e/ou publicação em outros países.
Segundo Mollier (2008), o editor do manual, Armand Colin, tinha ampla experiência com a publicação de manuais escolares, e acredita-se ter sido esse o formato dado a essa obra - a começar, por exemplo, pelo nome da obra, que se propõe a ser um curso completo de educação física. Também os locais de publicação dos anúncios foram indicativos nesse sentido, pois, além de ser divulgada nos jornais, a obra também foi divulgada em boletins de ensino, como mostraremos adiante. Ademais, no mesmo ano de sua publicação, o manual ganhou um concurso.
Prêmio Príncipe de Arenberg
A Académie des Sports organizou um concurso, por iniciativa da Princesa de Arenberg, para premiar a melhor memória para o ensino da ginástica nas escolas primárias e secundárias.
O primeiro prêmio de 1909 foi obtido pelos Srs. Fabens e Kumlien, por seu livro intitulado: Manuel d’éducation physique.30
A Académie des Sports, com o propósito de popularizar esportes, decidiu oferecer aos diretores de escolas normais e professores cópias deste livro (Prix, 1910, p. 5, tradução nossa).31
Se a obra pretendia ser um manual escolar, a participação no concurso apresenta-se como outro sintoma importante nesse sentido, e conquistá-lo foi uma forma de entrar nas instituições escolares. Nos jornais, essa tentativa aparece de forma mais explícita.
Diferentes tentativas foram feitas na França, desde 1870, para instaurar, no ensino, um sistema prático de educação física da juventude. O Cours d’Éducation Physique do Sr. Raoul Fabens e de L. G. Kumlien parece ter resolvido o problema (Coutil, 1909, p. 4, tradução nossa).
Nesse mesmo sentido, H. Kleynhoff32 assina uma publicação no L’Humanité em 1913, na qual argumenta sobre a importância de se terem aulas de educação física nas escolas, tanto para o desenvolvimento do cérebro quanto para a higiene corporal. Ao discorrer sobre como os cursos de educação física deveriam ser organizados, Kleynhoff (1913) indicou a obra de Kumlien e Fabens como resposta, teceu-lhe vários elogios e argumentou que os conteúdos contemplados são suficientes para garantir aos jovens uma educação física adequada.
Na análise dos registros foi possível perceber como Kumlien alterou suas publicações ao longo do tempo.33 Inicialmente, publicou uma obra que nomeia de ginástica sueca. Ao longo dos anos em que a anuncia, mudou a estratégia; indicou, em seguida, Émile André como autor, apesar de a obra permanecer com o mesmo nome, demonstrando que foi escrita de acordo com o método de Kumlien. Já em sua segunda publicação, a ginástica sueca não está mais destacada no nome; apresenta, em contraste, uma ginástica que pode ser praticada por todos. Kumlien assumiu sozinho a autoria do manual. Por fim, em sua última publicação, retirou a ginástica do título e propôs-se a escrever um curso de educação física, novamente estabelecendo uma parceria para a escrita.
Isso sugere que Kumlien alterou as estratégias traçadas em suas publicações para, de algum modo, driblar as resistências que encontrava e, em alguma medida, acompanhar os debates em voga acerca da educação física francesa naquele momento. O embate estava centrado na criação de um método francês34 ou na adoção de uma proposta estrangeira. Na primeira década do século XX, a ginástica sueca foi bem aceita por parte da comunidade francesa, ao passo que se configurou como o método oficial da École de Joinville Le Pont (Sarremejane, 2006). Aos poucos, essa aceitação foi perdendo força em função de uma maior adesão à criação de um método nacional francês (ibidem).
Ou seja, se, em dado momento, Paris aceitou a ginástica sueca, Kumlien publicou uma obra exatamente com o nome desse modelo de ginástica. Se, em outro momento, os franceses encontravam-se resistentes à adoção de uma proposta estrangeira, ele propôs uma ginástica para todos, não mais sueca. Se ainda não havia sido definido o método oficial, ele selecionou os modelos e conteúdos importantes que estavam em questão e contemplou-os em sua obra: higiene e fisiologia, ginástica e jogos e esportes.
O parceiro de escrita também se altera no mesmo sentido. Se antes era Émile André, com quem Kumlien estabeleceu outras parcerias em favor da ginástica sueca, posteriormente passou a ser Raoul Fabens, sujeito envolvido com o movimento olímpico esportivo francês. Tal movimento foi muito presente na França em função das ações de Pierre de Coubertin, um dos principais nomes dos jogos olímpicos da era moderna, e para quem Fabens trabalhou no comitê da primeira edição sediada em Atenas, Grécia, no ano de 1896, e que possibilitou que a segunda edição dos jogos, em 1900, tivesse Paris como sede (Bonifácio, 2019). O Dr. Michaux, por sua vez, escreveu a introdução do primeiro manual e o prefácio do segundo, o que demonstra um interesse na legitimidade do discurso médico. Enquanto isso, Le Roux, com imagem vinculada à ginástica sueca, escreveu somente o prefácio da primeira obra.
Assim, acredita-se que, conforme Kumlien estabelecia novas parcerias, entrava em contato com diferentes públicos e falava da sua ginástica de diferentes formas, ora exibindo-a, ora ensinando-a, ora escrevendo-a em um manual, buscando driblar as resistências, chegar aos diferentes públicos e disseminar a prática de sua ginástica. Percebe-se, com isso, como ele e seus companheiros apostaram nos impressos - jornais e manuais - de forma expressiva, embora não tenham ficado restrito a eles.
A publicação de manuais permitiu ainda verificar que as ações de divulgação da ginástica sueca realizadas por Kumlien em Paris não ficaram limitadas a esse lugar. Elas circularam por diferentes territórios no mundo e em diferentes idiomas. Além disso, conquistaram relativo destaque conforme ganharam prêmios, foram reeditadas e traduzidas. Acredita-se, ainda, que foram diversos os seus usos: guias para professores, manuais para praticantes comuns, referência de obras, entre outros (Vago, 2002; Baía, Bonifácio e Moreno, 2019; Bonifácio, 2019).
PONTO DE ENCONTRO: AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO
O presente tópico objetiva mostrar como as atividades de ensino em diferentes instituições concederam prestígio a Kumlien, tendo sido uma das ações mais importantes para a divulgação de seu trabalho. Ao tratar das exibições de ginástica sueca promovidas por Kumlien, mencionou-se a criação de seu instituto em 1899, quatro anos após a sua chegada em Paris, em 1895. Registros em jornais franceses permitiram confirmar essa informação; foram localizados indícios de atividade no instituto em uma reportagem publicada em 1899 e nos anúncios a partir de 1900 e 1901. Após esse período, novas menções aconteceram em 1907 e continuaram aparecendo até 1911 de forma espaçada e escassa. Entre os anos de 1914 e 1916, foram encontrados os maiores números de anúncios; estes são encontrados até 1925 com certa irregularidade.
De modo geral, os anúncios nomeavam o instituto como Gymnase Suédois Ling, indicavam Kumlien como diretor diplomado no Instituto de Estocolmo e informavam que as atividades ofertadas eram: ginástica ortopédica e pedagógica; massagens médicas e aulas de culture physique 35 (Établissements, 1901; Établissements, 1907; Massage, 1907). Com relação ao público, era possível que pessoas de diferentes idades e ambos os sexos fizessem aulas. Não era objetivo do instituto a formação de professores, e sim a oferta de aulas de ginástica e sessões de massagem.
Além dos frequentadores, o instituto de Kumlien recebeu a visita de sujeitos importantes envolvidos no debate da educação física na França. Um deles foi Georges Hébert (1875-1957), um francês, militar da marinha francesa, que se dedicou à sistematização do método natural de ginástica (Philippe-Meden, 2012; Jubé, 2017, 2020). Philippe-Meden (2012), ao dizer das diferentes inspirações que Georges Hébert teve para propor seu método, afirma que o instituto de Kumlien teria sido o local no qual Hébert teve contato com a ginástica sueca e que nela se inspirou para elaborar seu método.
Esse contato entre Kumlien e Hébert teria sido em função do Dr. Chaillou da École Saint-Geneviève, que, em outubro de 1902, decidiu enviar para Kumlien os candidatos à Saint-Cyr, uma escola militar francesa que formava oficiais do exército. Os bons resultados obtidos com o treinamento fizeram com que mais alunos fossem levados. Além disso, Philippe-Meden (2012) afirma que o instituto de Kumlien seria o único estabelecimento de Paris completamente de acordo com o método de Ling.
Além de Georges Hébert, o instituto recebeu a visita de G. de Lafreté, jornalista francês, que afirma que o seu primeiro contato com a ginástica sueca foi no instituto de Kumlien e que ficou surpreso com tamanha diferença entre ela e a ginástica francesa. Assim como ele, o Coronel Dérué, o Sr. Hugues Le Roux e o Dr. Philippe Tissié36 também se convenceram da eficiência da ginástica de Ling (Lafreté, 1899). Lafreté (1900) sublinha ainda a dinâmica das aulas ofertadas pelo instituto de Kumlien.
[...] parte pedagógica do método Ling, [que] também pode ser praticada por mulheres e crianças, porque é progressiva. Do resto, já são numerosas as parisienses que vão ao ginásio do Sr. Kumlien na Rua Londres, seja para se exercitar, seja para trazer seus filhos, meninos ou meninas. Às vezes os dois trabalham ao mesmo tempo, quase lado a lado, e esse show dá alguma esperança àqueles que sonham com nossa regeneração física para nossa raça. (Lafreté, 1900, p. 250, tradução nossa)
Além de atender homens, mulheres e crianças, Kumlien divulgou nos jornais a oferta de diferentes “serviços” em seu instituto, como sessões de masseurs e aulas de Gymnastique Suédoise e de culture physique. Acredita-se que essa oferta tenha sido uma estratégia traçada para conseguir atender os diferentes interesses vinculados à ginástica sueca, tendo em vista que esse modelo ginástico tinha diferentes vertentes, como a pedagógica e a médica, e ambas as atuações fizeram parte de seu percurso formativo no GCI.37
Ao que parece, Kumlien conquistou uma significativa clientela, tendo em vista o funcionamento de duas unidades do instituto desde 1900, ano seguinte à sua fundação. A primeira unidade, da Rue de Londres 58, estava localizada entre o oitavo e o nono arrondissements de Paris. A outra filial, ainda que tenha tido seu endereço alterado, manteve-se localizada na região central de Paris, bem próxima ao sexto e ao sétimo arrondissements.38 Assim, acredita-se que a oferta de diferentes atividades nas sedes do instituto, somada à localização destas em Paris, contribuiu para que o instituto fosse um importante espaço de divulgação da ginástica e de disseminação da prática.
O instituto criado por Kumlien não foi o único local no qual ele ministrou sessões de ginástica; ele também atuou como professor na École des Roches de 1913 até, aproximadamente, 1925. Como professor, inaugurou, em outubro de 1913, um ginásio de ginástica sueca nas instalações da École des Roches (Figura 5).
O evento de inauguração, noticiado no jornal da escola, contou com a exibição de ginástica sueca e com as falas de Hugues Le Roux e Kumlien. Entre outros aspectos, ambos destacaram os benefícios promovidos pela prática da ginástica sueca, indicando os esportes como apenas complemento, não sendo práticas suficientes para a formação de uma “cultura física racional”, e reforçaram que esse entendimento é compartilhado pela escola, uma vez que a prática da ginástica era obrigatória (Kumlien, 1913; Roux, 1913).
No discurso proferido por Hugues Le Roux ficou evidente que as disputas pelo método oficial francês ainda permaneciam em efervescência ao passo em que Kumlien iniciou a sua fala afirmando que existiam outras sistematizações de ginástica; todavia, a única ginástica racional, e que fora elaborada a partir do estudo científico do corpo, era a de Ling. Em seguida:
A ginástica sueca acaba de ganhar na França, no recente Congresso de Educação Física, um sucesso retumbante. O único método rival, o “método natural”, oposto ao sueco, não apenas não “rasgou a vitória” nas manifestações práticas feitas sob os olhos dos congressistas, mas saiu desses testes muito enfraquecido. Em geral, métodos chamados “naturais” são a própria negação de qualquer método; os alunos, por iniciativa própria, correm, pulam, escalam sem nenhuma preocupação com os órgãos e músculos colocados em ação. Eles exercitam seus corpos de acordo com seus caprichos, estimulados pela necessidade de escapar do clima, por sua satisfação pessoal ou até pelo desejo de surpreender a multidão. O resultado é uma desproporção completa, uma falta de harmonia no desenvolvimento do organismo: certos músculos ficam fortes demais; outros permanecem fracos por falta de exercícios. (Kumlien, 1913, p. 89, tradução nossa)
Kumlien faz referência ao Congresso Internacional de Educação Física, realizado em 1913 em Paris, onde diferentes autores indicaram a “vitória” do Método Natural elaborado por Georges Hébert em detrimento da ginástica sueca, contrariamente ao que afirma Kumlien (Sarremejane, 2006; Philippe-Meden, 2012; Scharagrodsky e Gleyse, 2013; Jubé, 2017). Em consequência do que se debateu no congresso, o sueco pareceu sentir-se ameaçado por essa proposta e construiu sua fala sobre os princípios científicos da ginástica sueca e sobre como eram formados os médicos-ginastas; além disso, levou dados indicativos de seus benefícios para a população da Suécia, como o aumento da expectativa de vida em nove anos, o aumento da média do tamanho da população em três centímetros e a redução de 14% no número de inaptos para o serviço militar (Kumlien, 1913).
De todo modo, Kumlien conquistou o reconhecimento de seus pares dentro da École des Roches:
No ano passado, não pude - e lamentei profundamente - parabenizar e agradecer ao Sr. Kumlien pelo admirável trabalho que está realizando aqui. O progresso alcançado por ele no desenvolvimento de todos os nossos alunos, e especialmente em todos aqueles - mais numerosos do que imaginamos - que tiveram pequenas deformações, é a melhor resposta para aqueles que nos acusam de não sermos do nosso tempo por manter a “Sueca”. [...] Todos os parisienses que conhecem o valor do ginásio da Rua Londres nos consideram particularmente felizes por termos conseguido sobre seu fundador para ensinar o método de Ling aqui. Todos os pais des Roches sabem que o Sr. Kumlien começou aqui, sozinho, com a ajuda de alguns alunos, a construir a maioria dos aparelhos de ginásio, sólidos, que se montam e desmontam com uma precisão e uma velocidade que nos maravilhamos. Mesmo agora, ele vai à carpintaria e à forja o tempo todo que não dedica à ginástica, dando-nos todo o exemplo de trabalho incansável e dedicação absoluta. (La Gymnastique, 1914, p. 11, tradução nossa)
Além da construção de aparelhos, Kumlien foi reconhecido também pela habilidade de promover eventos e festivais que evitavam a monotonia e despertavam a atenção. Conquistou tais reconhecimentos não apenas entre seus pares, mas também entre aqueles interessados na prática da ginástica sueca, uma vez que era também celebrada a possibilidade de tê-lo como professor por meio das atividades promovidas em seu instituto.
Apesar desse esforço de defender os benefícios da ginástica sueca, em 1928, três anos após a saída de Kumlien da École des Roches, Mary Butts (1928 apudDuval, 2006, p. 68), ao visitar as instalações da referida instituição, afirma que três tardes por semana eram dedicadas à “cultura física”, e os alunos eram divididos em três grupos: os mais “delicados” faziam ginástica sueca, os “normais” dedicavam-se ao método de Hébert, e os mais “robustos e esportivos” praticavam esportes.
Diante do exposto, pode-se observar que as atividades de ensino da ginástica sueca realizadas por Kumlien lhe renderam certo prestígio, ao passo que seu instituto conquistava cada vez mais alunos e abria uma nova filial, e a escola na qual ele atuava lhe permitia construir um ginásio destinado à ginástica sueca. Ao mesmo tempo, atuar com o ensino da ginástica sueca permitiu que esta prática fosse divulgada e praticada por diferentes pessoas. Nota-se ainda que, nas atividades de ensino, Kumlien permanecia conectado com o debate da educação física na França, fosse na recepção de sujeitos envolvidos nesse debate em seu instituto e na publicação desse ocorrido nos jornais, fosse atuando na École des Roches e comentando os debates ocorridos no Congresso Internacional de Educação Física de 1913.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo analisar as ações de divulgação da ginástica sueca realizadas por Kumlien na França, especialmente em Paris, entre 1895 e 1921. O fio de seus passos levou-nos a uma trama bastante reveladora acerca de um processo de transmissão cultural, isto é, de um processo de circulação da ginástica sueca pelo mundo. Analisar a trajetória de um sujeito significou compreender o papel desempenhado por ele, as estratégias traçadas, as relações estabelecidas, os locais ocupados e os modos de agir, que possibilitaram que suas ideias acerca da ginástica sueca circulassem nas exibições de ginástica, nas atividades de ensino e, sobretudo, na forma de manuais, em diferentes territórios e idiomas.
Kumlien traçou sua caminhada relativa à ginástica partindo de Eskilstuna, na Suécia; posteriormente se mudou para Estocolmo, onde se formou no GCI; e, por fim, mudou-se para Paris, na França. Ao chegar na França, Kumlien realizou três ações principais: exibições de ginástica, atividades de ensino e a publicação de manuais. Em todas essas ações, Kumlien teve a parceria de diferentes sujeitos: jornalistas, médicos, políticos, editores, envolvidos com o esporte, a ciência e/ou com a escola.
Tecer essa rede, com sujeitos pertencentes a diferentes grupos envolvidos no debate da educação física francesa, configurou-se como uma estratégia importante para a inserção de Kumlien em diferentes espaços. Outra estratégia traçada por esse grupo foi a publicação de reportagens, anúncios e notas de presença de Kumlien em jornais franceses destinados aos mais diferentes públicos e com significativa circulação em território francês.
Assim, no contato com uma nova cultura, com os diferentes sujeitos, mediante diversas resistências e comunicando sua ginástica de diferentes modos, Kumlien assumiu múltiplos papéis na divulgação da ginástica sueca. Atuou ora como professor nas escolas e em seu instituto, ora como divulgador nas exibições, na escrita de manuais e em publicações em jornais. Desse modo, fez sua ginástica circular impressa e traduzida em manuais; ensinada e praticada em suas aulas e exibições para os mais diferentes territórios.
Por fim, acredita-se que o percurso de outros sujeitos que se dedicaram à difusão da ginástica sueca - alunos ou não do GCI - precisa ser investigado, analisando as permanências, distanciamentos e transformações empreendidas por eles ao divulgar e ensinar a referida ginástica, bem como as práticas nas quais se inspiraram para promover essas alterações. Assim, haveria material empírico importante na compreensão da circulação desse objeto cultural que fez parte da conformação da educação física em diferentes territórios.