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Educação e Pesquisa

Print version ISSN 1517-9702On-line version ISSN 1678-4634

Educ. Pesqui. vol.47  São Paulo  2021  Epub May 11, 2021

https://doi.org/10.1590/s1517-97022021470100301 

Seção: Traduções

Apresentação da tradução do artigo: O transnacional na história da educação 1

Alexandre Ribeiro e Silva2 
http://orcid.org/0000-0001-5898-9059

Ana Carolina de  Carvalho Guimarães3
http://orcid.org/0000-0002-2366-389X

Diana Gonçalves Vidal3
http://orcid.org/0000-0002-7592-0448

2- Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil. Contatos: alexandrerib@usp.br; ana.carolina.guimaraes@usp.br; dvidal@usp.br .


Apresentação

O nascimento da era do nacionalismo, no século XVIII, foi resultado, segundo Benedict Anderson (2008 , p. 69), de três condições culturais: “a indissociabilidade entre uma determinada língua e a verdade; a crença na graça cosmológica (divina) dos governantes; e a associação entre cosmologia e história”. Na produção de “uma nova maneira de unir significativamente a fraternidade, o poder e o tempo” ( ANDERSON, 2008 , p. 70), reescrever o passado e projetar o futuro emergiram como problemas de primeira ordem, visando a assegurar legitimidade aos governos e constituir identidade ao povo. Não por acaso, despontaram neste cenário, como investimentos necessários do Estado, tanto a história, como disciplina acadêmica, em parte associada aos Institutos Histórico-Geográficos, quanto a escola elementar obrigatória. Constituídas a partir deste lugar, as duas instituições por muitos anos foram tributárias de uma narrativa tramada pelo que denominou Martin Lawn (2014 , p. 132) de “nacionalismo metodológico”. Nos dois casos, permitiu o surgimento das categorias “História Nacional” e “Escola Nacional” que, no dizer de Eugenia Roldán Vera (2013) , tenderam a naturalizar o Estado-Nação, encapsulando as análises e obstaculizando a percepção de conexões, contatos, trânsitos entre e através das fronteiras.

Escapar a este quadro de referência tem sido o investimento realizado por pesquisadoras e pesquisadores do campo da história e da história da educação, há pelo menos duas décadas, por meio do que se nomeou por história transnacional e, mais recentemente, história transnacional da educação. A despeito do foco claro na superação do nacionalismo metodológico, ainda é escasso o consenso sobre suas abordagens teóricas, afirma Eckhardt Fuchs (2014 , p. 15). O termo recobre iniciativas distintas como a comparação histórica, transferência cultural, circulação, conexões, sendo ao mesmo tempo uma forma moderna de história internacional, segundo Bernhard Struck, Kate Ferris e Jacques Revel (2011, p. 573). Os mesmos autores esclarecem, entretanto, que “todas estas ferramentas ou perspectivas demonstram a importância da interação e circulação de ideias, pessoas, instituições e tecnologias através do Estado ou das fronteiras nacionais e assim a conexão e influência mútua dos Estados, sociedades e culturas” (REVEL, 2011 p. 574).

Este é o arcabouço teórico que sustenta o Projeto Temático Saberes e Práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-...), liderado por Diana Vidal e Carlota Boto, na Faculdade de Educação e no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). No âmbito de suas atividades, encontram-se a oferta da disciplina IEB 5046 – História Transnacional da Escola: Circulação de Sujeitos, Saberes e Artefatos (séculos XIX-XX), no primeiro semestre de 2020, sob responsabilidade de Diana Vidal; e a tradução do texto “The Transnational in the History of Education”, de autoria de Eugênia Roldán Vera e Eckhardt Fuchs, por Alexandre Ribeiro e Silva e Ana Carolina de Carvalho Guimarães, que se segue a esta Apresentação.

O artigo, alvo de discussão na disciplina, foi escrito como capítulo introdutório a livro, com o mesmo título, organizado por Fuchs e Roldán Vera (2019, p. 1), com o objetivo de “criar um espaço de crítica e reflexão sobre as concepções e as categorias associadas à descrição do domínio transnacional e seus usos na história da educação: como esses conceitos e categorias emergiram e se desenvolveram historicamente, como eles influenciam e direcionam o modo como pesquisa e como podemos ter uma noção melhor de seus contornos teóricos e metodológicos para obtermos pleno benefício de pesquisas que vão além de uma localidade específica ou Estado-Nação como unidade de análise”.

Para que o texto pudesse ser lido autonomamente em relação à publicação original, algumas alterações foram efetuadas com a anuência dos autores. A última seção, em que apresentavam os demais capítulos constitutivos do livro, foi substituída pelas considerações finais. Acrescentaram-se notas dos tradutores e referências bibliográficas de modo a melhor situar o leitor ou leitora com respeito às discussões propostas e às remissões ao conjunto da obra. Foi também necessário ajustar a bibliografia e as notas de rodapé ao requerido pela Educação e Pesquisa , o que demandou um trabalho considerável por parte dos tradutores, e negociar com a Palgrave/MacMillan a cessão dos direitos autorais.

O esforço, no entanto, valeu a pena, como será possível verificar na leitura. O artigo oferece uma contribuição relevante para os historiadores e historiadoras da educação no Brasil, mas, também, para quem se interessa pela história e educação comparadas, campos que podem ser considerados fundamentais para o estudo da realidade educacional brasileira. Ao repertoriar as distintas maneiras como as interpretações são constituídas nas pesquisas associadas à perspectiva analítica, Roldán Vera e Fuchs nos brindam com uma larga bibliografia de referência, gestando novos diálogos e guiando pesquisadores e pesquisadoras na travessia desse mar denso dos estudos em e sobre a história transnacional da educação. Arriscam-se, por certo, ao categorizar os trabalhos. No entanto, são generosos ao partilhar estes arranjos com a comunidade e ao suscitar a salutar crítica acadêmica, ao mesmo tempo em que reconhecem os limites de um texto dessa natureza.

Estamos seguros de que, tal como ocorreu durante a oferta da disciplina no Programa de Pós-Graduação do IEB, o texto irá fomentar o debate, estimulando a reflexão e ampliando as possibilidades de investigação sobre a história e a educação!

Referências da apresentação

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas . São Paulo: Cia. das Letras, 2008. [ Links ]

FUCHS, Eckhardt. “History of education beyond the Nation? Trends in Historical and Educational Scholarship”, In: BAGCHI, Barnita, FUCHS, Eckhardt and ROUSMANIERE, Kate (ed). Connecting histories of education . Transnational and cross-cultural exchances in (post) colonial education. New York/Oxford, Berghahn Books, 2014. [ Links ]

LAWN, Martin. Um conhecimento complexo: o historiador da educação e as circulações transfronteiriças. Revista Brasileira de História da Educação , v. 14, n. 1, p. 127-144, 2014. [ Links ]

ROLDÁN VERA, Eugenia. Para “desnacionalizar” la Historia de la Educación: reflexiones en torno a la difusión mundial de la escuela lancasteriana en el primer tercio del siglo XIX. Revista Mexicana de Historia de la Educación , v. 1, n. 2, 2013, p. 171-198. [ Links ]

ROLDÁN VERA, E.; FUCHS, E. The Transnational in the History of Education. In: FUCHS, E.; ROLDÁN VERA, E. (eds.). The Transnational in the History of Education: Concepts and Perspectives. London: Palgrave Macmillan, 2019. p.1-47. [ Links ]

STRUCK, Bernhard; FERRIS, Kate & REVEL, Jacques. Introduction: Space and Scale. Transnational History, The International History Review , v. 33, n. 4, 2011,p. 573-584. [ Links ]

1- A proposta de tradução decorreu da oferta da disciplina IEB 5046 – História transnacional da escola: circulação de sujeitos, saberes e artefatos (séculos XIX-XX), no primeiro semestre de 2020, no Programa de Pós-Graduação do Instituto de Estudos Brasileiros (USP), e integra as atividades do Projeto Temático Saberes e Práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-...), processo FAPESP 2018/26699-4.

Proposta, organização e revisão técnica da tradução:

Diana Gonçalves Vidal é professora titular em História da Educação na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (Feusp), diretora do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB-USP). É pesquisadora 1B do CNPq, membro do Comitê Executivo e Tesoureira da ISCHE, coordenadora do NIEPHE e do Projeto Temático FAPESP Saberes e práticas em fronteiras: por uma história transnacional da educação (1810-...) (processo 2018/26699-4).

Alexandre Ribeiro e Silva possui graduação em pedagogia pela Universidade Federal do Maranhão (2013) e mestrado em Educação pela Feusp (2018), junto à linha de pesquisa História da Educação e Historiografia. Atualmente é doutorando na mesma instituição e integra o NIEPHE e o GEFHIPE.

Ana Carolina Carvalho Guimarães possui graduação em Pedagogia pela Feusp (2014) e mestrado em História da Educação também pela Feusp (2019), onde atualmente faz doutorado. É integrante do NIEPHE.

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