Introdução
A avaliação tem sido uma ferramenta recorrente para a gestão educacional na implementação de políticas públicas. No âmbito das Instituições de Ensino Superior (IES), a avaliação tende a incidir em mudanças nos currículos, nas metodologias de ensino, nos conceitos e práticas de formação, no planejamento, gestão institucional e, consequentemente, nas prioridades do ensino, da pesquisa, da extensão e nas noções de responsabilidade social (DIAS SOBRINHO, 2010).
Assim sendo, as IES devem passar por processos de avaliação e, também, instituir mecanismos avaliativos internos que visem examinar como as atividades estão sendo desenvolvidas e quais os impactos produzidos em seu entorno social. Nessa perspectiva, os processos avaliativos podem estabelecer uma rede de comunicação efetiva com o seu público externo e interno. Quando se fala de públicos externos, têm-se nos antigos alunos, os chamados egressos, um público-alvo que poderá fomentar a mensuração dos indicadores de qualidade (FERRAZ; FERNANDES; SCHÖN, 2009).
Os antigos alunos, segundo Ferraz, Fernandes e Schön (2009), também podem ser denominados como Alumni (do latim “alumnus” - aluno, pupilo, educando), pois o termo designa-se, comumente, às pessoas que se formaram numa instituição de ensino superior. Os referidos autores esclarecem que o Alummi, a partir do século XVIII, passa a ser referencia como um perfil a ser avaliado como ferramenta de gestão aplicada no mercado dos Estados Unidos. Esse cenário faz com que as Universidades norte-americanas assumissem um pioneirismo no âmbito do continente americano no tocante a incorporar a avaliação dos egressos.
O marco desse movimento, conforme os autores, é representado pela constituição do primeiro cargo de um Alumni como um secretário na Universidade de Yale em New Haven, no ano de 1792. O objetivo desse cargo era procurar um termo técnico para atribuir aos seus alunos já formados com a finalidade de recuperar os contatos e fidelizar os mesmos, garantindo, assim, uma base sólida de aliados que ajudassem, entre outras ações, a financiar o funcionamento das próprias instituições, promovendo-as e contribuindo para a divulgação de sua marca na sociedade.
Para Paul (2015, p. 310), as experiências norte-americanas de avaliação ao longo do século XX e nas primeiras décadas do século XXI dos seus antigos alunos estão inseridas, sobretudo, no contexto de transformação organizacional do próprio ensino superior, que está intimamente relacionado com as mudanças advindas do desenvolvimento do mercado de trabalho naquele país. O autor esclarece que as Universidades nos Estados Unidos têm pautado as suas práticas no foco em resultados. Assim, a avaliação tem sido cada vez mais presente enquanto ferramenta para a gestão no ensino superior. Logo, um indicador priorizado por essas instituições é o monitoramento dos egressos a partir de sua inserção no mercado laboral.
Paul (2015) aponta que a sistematização dos processos avaliativos de antigos alunos nos Estados Unidos pode ser um referencial para outros países, dentre eles, o Brasil que, para o autor, ainda apresenta poucos instrumentos avaliativos de egressos e com insuficiências metodológicas. Essa constatação pode ser justificada pela falta de observação das experiências internacionais.
Considerando a necessidade de compreender processos avaliativos das IES que enfatizam a participação da comunidade externa, em especial, o egresso entre as dimensões de indicadores a ser explorado pela gestão objetiva-se, nesse trabalho, analisar as características das políticas institucionais de avaliação de egressos em Instituições de Ensino Superior nos Estados Unidos via as associações de ex-alunos.
Para alcançar o referido objetivo recorreu, metodologicamente, a abordagem qualitativa e ao desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica e documental. Adotou-se como critério de seleção das IES a avaliação da Consultoria britânica especializada em análise do ensino superior Quacquarelli Symonds (QS)4 do ano de 2021 nos Estados Unidos. Dentre as 10 universidades melhores classificadas no Ranking da QS, foram selecionadas, via amostra simples, as universidades de Yale, Harvard e Princeton. Considerou-se, para tanto, a facilidade do acesso as informações disponíveis nos portais dessas instituições no período de 2018 à 2020. As referidas IES apresentam estruturas de portais digitais bem similares, o que contribuiu para a análise empreendida.
Para sistematizar as informações coletadas, foi necessário elaborar quadros com os principais dados obtidos dos sítios eletrônicos das universidades, apresentando um panorama geral de como estas instituições apresentam ao público geral as informações e desenvolvem as ações voltadas para a avaliação dos egressos, sobretudo, via associação de antigos alunos.
A avaliação dos egressos para as Instituições de Ensino Superior nos Estados Unidos
A análise das políticas e gestão para a educação superior deve considerar possíveis elementos comuns na agenda mundial, ao mesmo tempo em que se deve identificar o percurso histórico das políticas nacionais e os processos de articulação demarcados socialmente (DOURADO, 2010).
Neste sentido, a globalização e os avanços da tecnologia da informação e comunicação transformaram os modelos de negócios tradicionais em redes de relações. Para promover o contato estendido em meios educacionais, uma preocupação comum é manter o aluno formado ligado à sua instituição de ensino (TEIXEIRA; MACCARI, 2014). Nesse sentido, destaca-se, globalmente, o pioneirismo dos Estados Unidos com relação a avaliação dos egressos. “Os Estados Unidos ocupam um lugar especial, pois realizam, há muitos anos, pesquisas em grande escala e em vários lugares sobre o futuro dos estudantes” (PAUL, 2015, p. 312).
Considerada a experiência de instituições internacionais, principalmente, nos Estados Unidos, verifica-se que os sistemas existentes são geralmente desenvolvidos para facilitar o networking entre os egressos e as respectivas IES. Dessa maneira, torna-se relevante apontar algumas breves explicações quanto ao sistema educacional norteamericano, que apresenta políticas consolidadas de relacionamento das instituições de ensino superior com os seus egressos (TEIXEIRA; MACCARI, 2014; QUEIROZ, 2014).
Existe uma distinção muito clara entre universidades públicas e universidades privadas norte-americanas quanto ao tipo de financiamento, pois há instituições privadas que recebem verbas públicas e há universidades públicas que conseguem verbas privadas. Queiroz (2014) enfatiza que como as universidades norte-americanas, mesmo as públicas, não são gratuitas, ocorre a necessidade de se alcançar novos estudantes para a manutenção das atividades institucionais.
Desta forma, o modelo descrito traz por si só a particularidade no envolvimento do aluno com a IES, pois existe um grande potencial em captar recursos a partir do egresso, além disso, há uma grande capacidade para construir uma rede de conhecimentos e relacionamentos que possa ser compartilhada e que proporcione uma aprendizagem ao longo da vida (TEIXEIRA; MACCARI, 2014).
No entender de Demétrio (2021), as doações de ex-alunos são uma fonte significativa de receita para IES nos Estados Unidos. O fundo arrecadado por esse processo via doações de egressos torna-se, cada vez mais, uma importante fonte de receita das universidades.
Diaz Vidal e Pittz (2018) compreendem esse movimento de avaliação dos egressos pelas IES fazendo analogia com as próprias empresas que precisam ouvir e se adaptar as demandas dos seus clientes para permanecerem competitividades. Assim, as universidades devem envolver ativamente seus ex-alunos na vida institucional. Esse processo traz um retorno sobre o investimento e a publicidade de mercado, o que beneficia toda a instituição.
Assim sendo, tornou-se essencial para essas instituições de ensino superior consolidarem uma política que contemple um bom relacionamento com o seu egresso, pois este aluno contribuirá na divulgação da IES e, consequentemente, no alcance de futuros estudantes (QUEIROZ, 2014).
Lousada e Martins (2005) destacam que os egressos representam uma parcela da comunidade universitária que tem papel significativo com o desenvolvimento da instituição. Ao saírem das IES passam a dispor de informações estratégicas decorrentes da inserção no ambiente externo da sociedade.
Pesquisa sobre o senso de pertencimento do aluno à IES remonta às Associações de ex-alunos que nos Estados Unidos e na Europa são tradicionais, visto que essas Universidades incentivam a criação e a manutenção de Associações de alunos egressos. O objetivo do vínculo das IES com as Associações de egressos visa mantê-las próximas aos programas universitários a fim de conseguirem obter retorno que identifiquem oportunidades de melhora.
Nos Estados Unidos é muito forte a cultura de manter uma ligação entre alunos formados e instituições de ensino. Esse vínculo é consolidado por uma longa e frutífera história de programas de ex-alunos que são bem conhecidos, aceitos e valorizados. As atividades de ex-alunos dos EUA incluem uma ampla gama de maneiras pelas quais os egressos se conectam com sua universidade a partir do trabalho voluntário (EBERT; AXELSSON; HARBOR, 2015).
Os ex-alunos também costumam colaborar com uma angariação de fundos significativa, componente que se encaixa com a tradição do fomento da filantropia individual naquele país. Assim, os egressos representam uma fonte de recursos importante, mas, muitas vezes, subutilizada para as universidades em países que não têm uma longa tradição de desenvolvimento e manutenção de relações com ex-alunos. Em partes do mundo onde as universidades têm sido tradicionalmente, financiadas quase inteiramente pelo governo e não existe uma tradição estabelecida ou difundida de voluntariado e filantropia individual focada em universidades, muitos programas de exalunos ainda não existem ou são incipientes (PAUL, 2015).
Além do foco no financiamento, as IES norte-americanas utilizam a avaliação dos egressos como estratégia publicitária relacionada, intimamente, com a qualidade da formação ofertada pela instituição. A criação de um mecanismo efetivo de coleta de dados dos egressos é fundamental para que os benefícios sejam solidificados na direção da qualidade dos processos formativos, de modo a fazer parte da cultura da instituição. [...] “O processo avaliativo leva à reflexão e, consequentemente, à possibilidade de mudança com foco no resultado das atividades educacionais realizadas dentro das instituições” (DESIDERIO e FERREIRA, 2022, p. 2).
Uma das formas de consolidar a processo de avaliação institucional consiste no estreitamento da relação entre alumni e as IES mediante a disponibilização de um portal virtual interativo e com informações úteis aos egressos para que possam estender o contato para além do período de realização do curso, independentemente da sua localização geográfica ou do tempo (TEIXEIRA; MACCARI, 2014).
A Universidade de Yale em New Haven, nos Estados Unidos, possui uma página que atua como papel colaborativo e de responsabilidade social, sendo geradora de relacionamento entre a instituição e os antigos alunos, de modo a proporcionar sinergia benéfica entre os egressos e até o mercado de trabalho (DESIDERIO e FERREIRA, 2022, p. 2).
Esse canal de comunicação direto com os antigos alunos é bastante recorrente nas universidades norte-americanas, sobretudo, via interlocução com as Associações de exalunos, conforme veremos a seguir.
Associações de ex-alunos nas universidades norte-americanas
A avaliação dos egressos, conforme Teixeira et al (2015, p. 160) tem representado uma significativo ferramenta dos processos de avaliação das IES norte-americanas, pois propiciam o “acompanhamento da trajetória profissional do aluno graduado, das competências adquiridas durante a Graduação e do panorama de atuação no mercado de trabalho, sendo também, principalmente, uma ferramenta para a melhoria da própria instituição”.
Com o intuito de identificar as principais características das associações de egressos nas 3 universidades norte-americanas selecionadas para o presente estudo, apresenta-se os Quadros 1, 2 e 3 das Universidades de Yale, Harvard e Princeton, respectivamente. Foi realizada a análise das associações de ex-alunos destas universidades para o levantamento de aspectos gerais e específicos das instituições que possam elucidar a natureza da conexão, consolidada nas principais ações desenvolvidas com os seus antigos alunos.
Voluntariado | Associação de ex-alunos procura honrar e reconhecer aqueles indivíduos e grupos de ex-alunos cujo serviço se destaca, com homenagens; |
Dia de Serviço na comunidade local; | |
Programas de estágio patrocinados por ex-alunos que sejam sustentados pela comunidade local; | |
Força-tarefa de diversidade e inclusão de ex-alunos; | |
Fórum aberto para representantes de voluntários da Yale para pensar no papel de Yale em uma variedade de questões; | |
Avanço da educação através do engajamento e liderança de ex-alunos com cursos e educação continuada. | |
Carreiras e networking | Consultor de carreira para desenvolver plano individual na busca por emprego; |
Empregadores podem postar oportunidades de emprego; | |
Gabinete de estratégia de carreira fornece apoio aos graduados; | |
Ferramentas de carreira e amostras para escrever um currículo atraente, ampliar rede de contatos, conduzir a si mesmo em uma entrevista, alinhar referências e avaliar ou negociar uma oferta de emprego; | |
Oficinas e workshopson-line; | |
Kit de ferramentas de carreira; | |
Repositório útil de recursos de carreira on-line, incluindo um banco de dados pesquisáveis com links externos | |
Coleção de vídeos e tutoriais; | |
Ferramentas de autoavaliação; | |
Bancos de dados de empregos e empregadores; | |
Banco de dados de ex-alunos interessados em trabalhar em rede com ex-alunos e alunos atuais. | |
Serviços | Viagens personalizadas, projetadas por professores, proporcionam jornadas acadêmicas (Discussões esclarecedoras conduzidas por professores da Yale, com engajamento significativo de ex-alunos e destinos de viagem atrativos); |
Programa educacional aberto a todos os ex-alunos de Yale e suas famílias e amigos (este programa fornece uma maneira para os ex-alunos se reconectarem com Yale de uma maneira mais profunda e significativa); | |
Cartão de crédito Yale (Maneira fácil de apoiar a Yale e ganhar recompensas); | |
Yale Medal (Cinco ex-alunos distintos juntaram-se à lista de beneficiários do prêmio em 2018, pelo serviço individual prestado à universidade, é a mais alta honraria apresentada pela Associação dos ex-alunos de Yale); | |
Reuniões (Mais de 4.500 ex-alunos e visitantes retornaram ao campus em 2018); | |
Biblioteca da Universidade de Yale estende privilégios aos ex-alunos. | |
Informações Covid-19 | Traz entrevistas com ex-alunos que estão diretamente ligados a ONGs que coletam, interpretam e compartilham dados para melhorar a qualidade de vida e divulgam uma estimativa de quantas vidas podem ser salvas ao longo da pandemia se adotadas as medidas de prevenção preconizadas pelos serviços de saúde; |
Apresenta uma série de discussões virtuais sobre a crise do COVID-19 e seu impacto de longo alcance em todo o mundo, tratando de assuntos globais, geopolítica e estratégias; | |
Criou-se um ambiente virtual de discussão, perguntas e respostas com equipe de ex-alunos que se formaram durante a crise econômica de 2008 e 2009, para que tragam lições que aprenderam ao longo do caminho. Ao convidar os alunos e exalunos para o evento, a Alumni destaca as expectativas em ouvir histórias e conselhos que possam ajudar os alunos a desenvolverem suas próprias estratégias para enfrentar esse desafio que a situação do COVID-trouxe e que vi alterar alguns elementos do trabalho atual; | |
Estabeleceu-se um espaço para que colegas e amigos possam se apoiar e aprender um com o outro durante o período de distanciamento físico e social. Foram selecionados tópicos de interesse mútuo para discussão em pequenos grupos relacionados à situação atual, justiça social, clima, o novo normal. | |
Doações | Lista de prioridades para doações; |
Doações de capital para Yale (Garantem um forte endowment permanente, ajudam a construir e restaurar as instalações do campus, e sustentam uma gama abrangente de programas acadêmicos); | |
Parcerias estratégicas com corporações para criar relacionamentos mutuamente benéficos entre a indústria e a Universidade de Yale; | |
Doadores do Fundo Alumni que doam US $ 10.000 ou mais têm a oportunidade de nomear uma bolsa de graduação de um ano ou bolsa de pós-graduação; | |
Assinatura para a Revista Yale Alumni; | |
Outras doações incluem dinheiro, cheques, pagamentos com cartão de crédito, presentes de valores negociáveis e outros ativos; | |
Relatório anual de doações; | |
Arrecadação de fundos adicionais para incentivar estudantes talentosos a assumir o risco de suas carreiras nas artes sem incorrer em endividamento excessivo; | |
Doações de coleções de arte de extraordinária qualidade e abrangência; | |
Doações para reitores, cargos júnior de docentes, cátedras visitantes, curadorias e cargos de pessoal-chave; | |
Doações para preencher lacunas no financiamento de pesquisadores estabelecidos e ajudar os membros do corpo docente e os estudantes de pós-graduação a explorar suas próprias ideias originais e métodos de pesquisa. |
Fonte: Elaborado pelas autoras com base em consulta ao sítio eletrônico da instituição (2020)
Voluntariado | Confecção de presentes para crianças doentes; |
Arrecadação de alimentos; | |
Incentivo às pessoas com deficiência para aderirem ao voluntariado; | |
Colheita de alimentos em fazenda orgânica; | |
Servir alimentos a desabrigados; | |
Aulas práticas de gastronomia em laboratórios. | |
Carreiras e networking | Seminários on-line; |
Ferramentas e serviços para buscar emprego; | |
Eventos da área específica de atuação, viagens e curadoria; | |
Grupos de interesse profissionais compartilhados; | |
Tutoriais para entrevista de emprego, elaboração de currículos; | |
Workshops para tomada de decisão e gestão. | |
Serviços | Diretório de pesquisa; |
Postar uma mensagem para colegas ex-alunos sobre tópicos de interesse; | |
Biblioteca de Harvard com uma seleção de recursos on-line; | |
Harvard Alumni World MasterCard (Cartão projetado exclusivamente para exalunos de Harvard); | |
Revista Harvard; | |
Acesso às instalações de esportes de Harvard. | |
Informações Covid-19 | Depoimentos sobre ex-alunos médicos que estão nas salas de emergência dos hospitais e detalham o combate à pandemia em locais distintos; |
O portal Alumni traz entrevistas com médicos que relatam as experiências na linha de frente da crise e trazem lições que a pandemia pode ensinar; | |
Traz os eventos que foram cancelados devido ao contexto da pandemia; | |
Atualiza o leitor quanto às doações concedidas a projetos de combate ao Covid-19, fazem referências detalhadas aos estudos e projetos que estão sendo desenvolvidos nos quais especialistas em epidemiologia, doenças infecciosas, economia, política e outras disciplinas de Harvard abordam as principais prioridades das pesquisas: desenvolvimento de vacinas, novas terapias, ferramentas de diagnóstico, gerenciamento clínico, epidemiologia e compreensão de como o vírus afeta o corpo. | |
Doações | Doações on-line; |
Doações de ações e títulos; | |
Legado: Os legados são feitos principalmente por meio de presentes em dinheiro, valores mobiliários, imóveis e bens pessoais tangíveis; | |
Aumento da isenção de imposto; | |
Plano de aposentadoria; | |
Doação confidencial. |
Fonte: Elaborado pelas autoras com base em consulta ao sítio eletrônico da instituição (2020)
Voluntariado | Doação para retribuir à Universidade; |
Comitê que trabalha identificando ações que incentivem o respeito às relações raciais; | |
Entrevista de possíveis alunos para Princeton; | |
Entrega de prêmios para organizações de ex-alunos, sejam elas por classes, regiões, grupos afiliados ou comitês. | |
Comunidades de exalunos | Oportunidades de socialização; |
Grupos multiculturais e afiliados a LGBT ajudam a manter os laços de exalunos na Universidade; | |
Jantares locais; | |
Serviços à comunidade; | |
Trabalho em rede; | |
Compartilhamento de informações pessoais. | |
Viagens | Oportunidades de viagens educacionais para ex-alunos; |
Retornar ao campus; | |
Viagens por região; | |
Viagens por Temporada; | |
Viagens da Família. | |
Informações Covid-19 | Realização de webinar com alunos e ex-alunos sobre diversos temas com possibilidade de pré-inscrição ou acesso posterior pelo arquivo disponível no portal; |
Ex-alunos expandiram suas atividades durante a pandemia do COVID-19, fornecendo alimentos saudáveis para as pessoas que mais precisam, especialmente os idosos, moradores de rua e pessoas de bairros chamados “desertos alimentares”, locais com dificuldades para se encontrar alimentos frescos. | |
Retorno ao campus | Caminhadas com amigos e familiares; |
Palestras educacionais; | |
Dia dos ex-alunos; | |
Conferências de ex-alunos; | |
Fins de semana com práticas de esporte; | |
Plano de aposentadoria; | |
Doação confidencial; | |
Projetos de serviço comunitário; | |
Piqueniques, festas, shows, dança. |
Fonte: Elaborado pelas autoras com base em consulta ao sítio eletrônico da instituição (2020)
O Quadro 1 detalha as funcionalidades da Universidade de Yale e remete à cultura do envolvimento no voluntariado em causas que julgam importantes. Pode-se destacar, nessa vertente, a doação de dinheiro para pesquisa e construção do conhecimento, bem como, o reconhecimento ao entregar prêmios e medalhas na cultura do engajamento social. Denota-se uma comunicação efetiva, até mesmo, no contexto de enfrentamento à 5pandemia da Covid-19.
Teixeira e Maccari (2014, grifo nosso) exemplificam que os canais digitais de comunicação entre os egressos e a Instituição de Ensino podem contemplar: “Aplicativos” para e-mails e outros benefícios; “Comunidade Virtual” para discussões sobre temas de interesse comum; “Pesquisas em Desenvolvimento” para cadastro ou consulta de áreas de interesse; “Acompanhamento do Egresso” para que a Universidade acompanhe a trajetória profissional e acadêmica dos egressos; “Biblioteca Virtual” para acesso às bases de dados; “Consulta de Perfil” localizável a partir de turma, cursos ou área de interesse; “Perfil” importado de rede social profissional com a opção para edição e, por fim, espaço referente a “Oportunidades Profissionais” no intuito de cadastramento e consulta de vagas.
Segundo os referidos autores, incentiva-se por meio do portal a conexão com grupos de alunos novos e antigos por meio de redes de relacionamento profissional e de ações voluntárias em equipe; estimula o aprendizado contínuo para que aconteça um retorno à comunidade local e que outras oportunidades profissionais sejam exploradas; estimula o egresso para que ajude a melhorar a reputação da universidade onde mora ou enquanto viaja ou promove viagens.
Segundo Ferraz, Fernandes e Schön (2009), neste novo cenário, as universidades têm de oscilar entre uma cultura tradicional acadêmica e uma cultura de publicidade no sentido de aprender a recorrer adequadamente às ferramentas e às teorias que o marketing lhes oferece. Essa cultura publicitária objetiva o alcance de um melhor posicionamento face aos seus concorrentes no mercado do ensino superior e, assim, adquiram uma capacidade de resposta mais adequada às mudanças dos hábitos dos seus clientes habituais, os alunos.
No site da Universidade de Yale observa-se essa estratégica de manutenção de vínculo entre o aluno e a instituição na mensagem de destaque para os alunos: “Você pode estar deixando Yale, mas a Yale nunca deixa você. Você é e sempre será parte da comunidade de Yale e há muitas maneiras de você se envolver com a universidade depois da formatura”.
Para Ferraz, Fernandes e Schön (2009), as universidades precisam fortalecer o contato com seus egressos já diplomados visando reter e fidelizar os seus atuais alunos para que consigam desenvolver laços duradouros com os mesmos via parcerias estratégicas no futuro. Quanto a Universidade de Harvard, o Quadro 2 apresenta as suas principais características de ações voltadas para a relação institucional com a associação de egressos.
No Quadro 2 estão expressas as principais funcionalidades da associação da Universidade de Harvard, as ferramentas e serviços mais relevantes. Deste modo, reforçase também nessa instituição a cultura de engajamento e de doações.
McDearmon (2012) afirma que o desejo do apoio de ex-alunos ainda é uma prioridade entre a maioria das faculdades e universidades, pois o início do envolvimento deve começar pelas instituições. Por isso, a necessidade de apoio na faculdade ou universidade é especialmente predominante em relação à angariação de fundos institucionais. No caso da Universidade de Harvard, ao trazer à expressão “legado” em seu site, constata-se o convite expresso e enfático à natureza da conexão do aluno com a instituição.
Assim, a cultura de preservação do elo acadêmico-instituição, mesmo após a conclusão do grau ou estudo proposto, aparece com clareza na apresentação da associação de egressos de Harvard: “A Harvard Alumni Association6 é a sua comunidade e, como aluno de Harvard, você já é membro vitalício. Junte-se a seus colegas ex-alunos e participe de um evento ou programa, explorando oportunidades de voluntariado em Harvard, conectando-se nas redes sociais e muito mais”.
O Quadro 3 apresenta as principais funcionalidades da associação da Universidade de Princeton. Destaca-se ações voltadas ao voluntariado nas oportunidades de socialização e formação de comunidades. Como particularidade contrastando com as demais, observa-se o incentivo ao retorno à Universidade para atividades de lazer, de palestras, participação em festas e em shows.
Como identifica-se no quadro 3, são várias as possibilidades de o egresso conectarse à instituição formadora. A intenção institucional é a formação de um ciclo que não se encerra na conclusão do curso. Por isso, o papel da associação é fundamental para dar continuidade a relação aluno/universidades mediante o desenvolvimento de programas, projetos e demais atividades.
Para McDearmon (2012), alguns desses ex-alunos formarão relacionamentos duradouros com as instituições, o que trará uma vida inteira de envolvimento na pósgraduação. Todavia, outros vão receber o diploma, deixar a instituição e nunca olhar para trás. Neste sentido, o autor destaca que, independentemente, do nível de envolvimento que cada indivíduo decida empreender, todos eles compartilharão a mesma identidade de formado, pois a visão que se tem de determinadas universidades já está consolidada na sociedade.
Simon (2017) argumenta que as gestões universitárias e as políticas voltadas para o Ensino Superior devem priorizar o acompanhamento de egressos, pois o distanciamento dos formandos dificulta a localização desse público para a realização de estudos e obtenção de informações estratégicas acerta das suas percepções sobre a IES e de seu desempenho profissional. Logo, as plataformas digitais das universidades norteamericanas mostram que esses mecanismos são fundamentais para as atualizações de dados atinentes aos antigos alunos, o que traz desdobramentos para a gestão universitária no reposicionamento de novos rumos frente à concorrência.
Diante do exposto, é possível mensurar que as associações de egressos das três universidades investigadas desenvolvem inúmeras ações com o intuito de solidificar o vínculo dos antigos alunos com as respectivas IES. Trata-se de uma cultura já estabelecida no âmbito dessas universidades e que prioriza, principalmente, o financiamento das atividades acadêmicas. Por isso, a doação via egressos é uma característica priorizada nas 3 associações, especialmente, para a obtenção de fundos para as pesquisas.
Essas características, segundo Turchi (2014) conferem o papel de destaque das universidades norte-americanas na produção e difusão do conhecimento, bem como, o caráter privado do financiamento dessas atividades, sobretudo, em prol de benefícios da interação universidades e setores produtivos, no qual os egressos são elos de mediação.
Para o referido autor, os pesquisadores das IES são estimulados a promover parcerias com outras instituições e empresas de modo a “estabelecer redes de pesquisa multidisciplinares e captar recursos para pesquisas. O trânsito entre o público e o privado não só é estimulado, mas regulamentado de forma a facilitar a criação de redes e a utilização de recursos captados”, dentre elas, as redes com as associações de egressos. Assim, a avaliação dessas instituições tendo, cada vez mais, o foco nos ex-alunos reforçam essa priorização (TURCHI, 2014, p. 57).
Essa realidade está intimamente associada ao caráter privatista das IES norteamericanas, mesmo nas universidades públicas há, por exemplo, a cobrança de taxas. Paul (2015) evidencia que ao assumir um caráter cada vez mais empresarial, o sistema de educação superior dos Estados Unidos faz com que as instituições estejam mais sujeitas à concorrência. Por isso, a tendência crescente de focar a avaliação de seus formandos se mostra mais sensível às condições de retornos, sobretudo, de financiamento pela inserção dos ex-alunos.
Considerações Finais
Acompanhar o egresso, principalmente, no mercado de trabalho é um tema presente na cultura de avaliação institucional das IES norte-americanas. Com o estudo, foi possível verificar que existem contextos similares nas instituições pesquisadas, pois possuem funcionalidades que visam atrair o ex-aluno para uma ligação permanente que agregue benefícios à instituição e ao egresso. Para tanto, o papel das associações de antigos alunos é fundamental como um elo para o estabelecimento de redes de relacionamento que assegurem parcerias profissionais, investimentos financeiros e formação continuada.
As associações de antigos alunos, nesse caso, é um instrumento de comunicação permanente entre as IES com a sociedade representada, especificamente, pelos egressos.
Nas universidades pesquisadas trata-se de um forte apelo à cultura de pertencimento e a valorização da instituição no período da formação acadêmica para que seja assegurado o vínculo contínuo, mesmo após a saída do aluno. O acadêmico convive, desde a sua inserção, em um ambiente que propicia uma visão de investimento à pesquisa. A partir desta premissa, se sentirá responsável por continuar os projetos e outras atividades da universidade e dar relevância à instituição, ou seja, é uma relação de ganho para todos.
Assim sendo, a avaliação da instituição pelos egressos apresenta um indicador de qualidade extremamente priorizado por essas IES, tanto para angariar financiamento, quanto para a publicidade voltada para assegurar prestígio social e o ingresso de futuros alunos. É possível aferir, portanto, que essas instituições focam em um processo contínuo de formação para que o estudante egresso tenha consciência de que o seu vínculo com a IES não se encerra na conclusão do curso, mas ele passa a ser contínuo.
A presente pesquisa demonstra as características da avaliação dos egressos enquanto ferramenta estratégica utilizada pela gestão das IES norte-americanas e a necessidade de incorporação das associações de antigos alunos como protagonistas nos processos de autoavaliação. Trata-se, pois, de uma perspectiva que pode sinalizar referenciais para avaliação institucional para outras realidades, resguardadas, obviamente, as particularidades dos processos formativos e da natureza das IES de cada país.