INTRODUÇÃO
A semiologia médica é o alicerce da prática clínica, e, apesar de todos os avanços da tecnologia, o tripé formado pela relação médico-paciente, história e avaliação clínica perdurará como a essência da medicina1. Por isso, o ensino da semiologia faz parte das primeiras aprendizagens do estudante de Medicina rumo à sua prática futura2),(3.
A palavra semiologia deriva das palavras gregas semeîon (sinal) e logos (palavra, discurso, tratado)4. Na área da saúde, “sinal” refere-se a algo objetivo, constatável e explícito, enquanto “sintoma” tem caráter mais subjetivo e depende do processo de adoecimento e da expressão da doença na pessoa, que influenciam como ela se sente e interpreta o próprio sofrimento5. Semiologia, portanto, compreende a avaliação das doenças nas pessoas, por meio de seus sinais e sintomas4. A palavra semiogênese é definida como o conhecimento das formas de apresentação dos sinais e sintomas da doença, enquanto o termo semiotécnica refere-se à avaliação física do paciente que, associada à investigação dos sinais e sintomas, permite formular um diagnóstico sindrômico1. A palavra propedêutica deriva do termo grego propaideutikós, em que pro significa antes, e paidein, ensinar, ou seja, estudo preparatório6.
Segundo Devine et al.7, as múltiplas denominações da semiologia e sua integração nos currículos tornam desafiadora a avaliação de sua carga horária curricular. Porém, encontramos alguns estudos internacionais abrangentes sobre a semiologia nas escolas médicas. Um estudo cubano comparou os diversos componentes do currículo no ano acadêmico de 1985 - 1986 com os do ano 2010 - 20118, após mudança no “plano de estudos” de Cuba em 2010. Na Colômbia, um estudo revisou as informações sobre semiologia no currículo de cinco das seis escolas da cidade de Cali9. Nos Estados Unidos, a Association of American Medical Colleges fornece dados sobre as disciplinas do curso de Medicina por ano acadêmico10, e há um estudo sobre o ensino do exame físico antes do internato em 106 escolas médicas das 141 (75%) acreditadas pela Comissão de Educação Médica (Liaison Committee on Medical Education) no ano acadêmico de 2015-201611. Na Europa, há dois estudos que analisaram o currículos das escolas médicas. Um deles pesquisou 32 escolas médicas de 18 países europeus no período de 2001 e maio de 200212, e o outro pesquisou 16 escolas médicas de seis países do sudeste europeu no período de março a julho de 200313. Devine et al.7 fizeram um estudo sobre o ensino em 25 das 35 escolas médicas do Reino Unido no ano acadêmico de 2014 - 2015. Entretanto, como os autores aglutinaram os conteúdos de semiologia e exame físico com a medicina interna e prática geral, não foi possível identificar dados específicos sobre a semiologia.
No Brasil, encontramos um estudo sobre o ensino da semiologia em 14 escolas médicas do Rio de Janeiro, no ano de 2006. Na época, o Brasil tinha o total de 119 escolas médicas, 57 delas localizadas na Região Sudeste, das quais 15 se localizavam no estado do Rio de Janeiro1. Também encontramos um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que descreveu os dois módulos de semiologia que a instituição ofertava e analisou a percepção de 157 alunos do terceiro ano de graduação em Medicina que haviam finalizado a aprendizagem sobre semiologia3. O estudo constatou que 56,1% dos alunos consideravam a carga horária deficitária, 54,1% consideravam que sabiam coletar a história do paciente e 65% achavam que, apesar de conseguirem fazer o exame físico do paciente, não dominavam as habilidades necessárias para um exame físico mais amplo3.
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de graduação em Medicina do Brasil abordam a semiologia na ação-chave de “identificação de necessidade de saúde” de sua subseção I (“Da atenção às necessidades individuais de saúde”) e estabelecem que, ao realizar a história clínica, o estudante deve ter uma relação ética, favorecer a construção do vínculo com o paciente, considerar os aspectos biopsicossociais e culturais relacionados ao processo saúde-doença, e organizar e orientar a anamnese com uso do “raciocínio clínico-epidemiológico e da técnica semiológica”; e, que, ao realizar o exame físico, o discente deve cuidar “da segurança, privacidade e conforto” do paciente e manter “postura ética e destreza técnica”, devendo considerar a “história clínica, a singularidade étnico-racial, gênero, orientação sexual e linguístico-cultural e identidade de gênero”14. Todos esses aspectos devem ser permeados por uma comunicação apropriada e por outros componentes do profissionalismo, entre eles os humanísticos, como a empatia7. As DCN também definem o limite mínimo da carga horária do curso de Medicina em 7.200 horas, das quais 35% devem ser destinadas ao internato14. Porém, não definem limites ou porcentagens da carga horária específica dos conteúdos ministrados antes do internato, nem sugerem quando cada conteúdo deve ser inserido no currículo. Se, por um lado, a não definição de limites propicia maior autonomia no planejamento curricular, por outro, como este é permeado pelas discussões entre docentes e gestores e é influenciado pelo poder de cada área de ensino, há risco de maior carga horária de conteúdos não tão essenciais e de menor carga de outros que são essenciais15, entre eles a semiologia.
Levando em conta a importância da semiologia para a prática médica, a não definição de limites de carga horária e da época de inserção de conteúdos curriculares do curso de Medicina antes do internato, bem como a não identificação de um estudo no Brasil com abrangência nacional que abordasse esses aspectos sobre a semiologia do adulto nos currículos das escolas médicas, o objetivo de nosso estudo foi analisar a distribuição de semiologia do adulto nas escolas médicas brasileiras.
MÉTODO
Delineamento e preceitos éticos
Este estudo teve delineamento transversal e descritivo. O projeto de pesquisa não foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos porque os dados estavam disponíveis na internet e eram de domínio público.
Universo e amostra
O universo foi composto por 335 escolas médicas existentes no Brasil em 31 dezembro de 2020, segundo o website do Ministério de Educação (e-MEC)16. Segundo o e-MEC, 24 escolas estavam extintas ou em processo de extinção e, por isso, não foram consideradas.
Os critérios de inclusão das escolas foram: disponibilizar na internet o Projeto Político do Curso ou Projeto Pedagógico do Curso (PPC), a matriz ou grade curricular, as ementas ou os planos de ensino com informações do(s) semestre(s) ou ano(s) em que a semiologia do adulto era ensinada. O critério de exclusão foi não ter iniciado as atividades acadêmicas até 31 dezembro de 2020.
Coleta de dados
Coletamos os dados entre setembro e dezembro de 2020. Inicialmente, pesquisamos a data de criação das escolas e do início de curso no website do e-MEC16 e no das escolas médicas17. Posteriormente, usamos as seguintes chaves de busca no Google para localizar a escola, seu projeto pedagógico ou matriz curricular: ((“nome da escola”) AND (“Projeto Político do Curso” OR “Projeto Pedagógico do Curso” OR “matriz curricular” OR “grade curricular” OR “ementa” OR “currículo” OR “plano de ensino”)). Utilizamos os documentos mais recentes que encontramos.
Nas ementas, buscamos os seguintes termos para a semiologia do adulto: semiologia, anamnese, história clínica, estudo de sinais e sintomas, exame físico, entrevista médica, semiótica e propedêutica.
Coletamos as seguintes variáveis: data de início do curso, região geográfica e vínculo administrativo da escola, tipo de currículo do curso, carga horária total do curso, do internato médico e de semiologia do adulto total, teórica e prática, nome da disciplina, do módulo ou eixo que continha a semiologia e semestre(s) e ano(s) em que a semiologia do adulto era ensinada.
Para o cálculo da carga horária, consideramos apenas as disciplinas, os módulos ou os eixos que fornecessem a carga específica de semiologia do adulto, incluindo sinais, sintomas e exame por aparelhos e sistemas, bem como raciocínio clínico, quando este era parte de seu conteúdo. Não incluímos as cargas horárias relativas à semiologia pediátrica, ginecologia e obstetrícia, oncologia e saúde do idoso, por sua especificidade quanto à faixa etária e/ou a contextos que iam além do escopo da semiologia geral do adulto e mereceriam estudo próprio. Entretanto, quando esses eram ofertados em módulos e eixos que continham a semiologia do adulto, eles foram citados, mas sem a carga horária.
Padronizamos a carga horária em hora relógio, convertendo as horas fornecidas em 45 e em 50 minutos e os créditos de 12 ou 15 horas para a hora de 60 minutos. Consideramos como teóricas as cargas intituladas como hora padrão e como práticas as intituladas como hora de laboratório.
Análise de dados
Inserimos e analisamos os dados no software Microsoft Excel 2013.
Usamos a estatística descritiva para analisar as frequências absoluta e relativa de variáveis categóricas e medidas de tendência central de variáveis contínuas. Analisamos a normalidade da distribuição das variáveis contínuas com o teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S). Nos resultados, fornecemos a média e o desvio padrão (DP), o intervalo de confiança de 95% (IC95%), a mediana e os percentis 25 e 75 (P25 - 75) para propiciar comparações com outros estudos, mas assinalamos se a distribuição era normal ou não.
Aglutinamos a administração das escolas em gratuita para as federais e estaduais e não gratuita para as escolas municipais/comunitárias e privadas.
Analisamos a associação de dois grupos com o teste t de Student para amostras independentes e entre mais de dois grupos com a análise de variância (One-Way Analysis of Variance - ANOVA), quando as variáveis eram contínuas e com distribuição normal. Analisamos a associação de dois grupos com o teste U de Mann-Whitney e entre mais de dois grupos com o teste de Kruskal-Wallis, quando as variáveis eram contínuas e não paramétricas. Usamos o teste do qui-quadrado de Pearson (qui2) para analisar a associação em variáveis categóricas e o teste de Wilcoxon para duas amostras relacionadas para analisar a associação entre a mediana da carga horária teórica e a da prática.
Como alguns estudos encontrados apresentavam apenas os valores da carga horária de cada escola pesquisada1,12,13, com base nas cargas fornecidas, calculamos as médias e as medianas, dependendo da normalidade de sua distribuição, visando comparar com os achados de nosso estudo.
Admitimos o nível de significância de p < 0,05.
RESULTADOS
Incluímos em nosso estudo 226 das 335 escolas médicas ativas no Brasil em dezembro de 2020 (67,5%), representando 103 escolas das 113 federais ou estaduais (91,1%) e 123 escolas das 222 municipais ou privadas (55,4%).
A proporção de escolas incluídas foi similar por região geográfica, qui2(4) = 4,30, p = 0,367. Porém, o Brasil tinha mais escolas privadas no ano de 2020 do que federais e estaduais, qui2(3) = 20,60, p < 0,01, e, consequentemente, de escolas não gratuitas, qui2(1) = 14,13, p < 0,01.
O tempo de existência do curso de Medicina entre as escolas incluídas foi o seguinte:
até três anos em 27 (11,9%);
entre quatro e seis anos em 41 (18,1%);
entre sete e 19 anos em 72 (31,9%);
entre 20 e 40 anos em 20 (8,8%);
entre 41 e 60 em 42 (18,6%);
entre 61 e 100 anos em 16 (7,1%);
entre 101 e 200 anos em seis (2,7%);
mais de 200 anos em duas (0,9%).
Quanto ao desenho curricular, 84 das 226 escolas tinham currículo tradicional, que concentra as ciências básicas nos dois primeiros anos do curso (37,2%), e 142 escolas integravam os conteúdos curriculares (62,8%) por módulos ou eixos e denominavam assim o currículo:
aprendizagem baseada em problemas (problem-based learning - PBL);
PBL e problematização;
PBL e aprendizagem baseada em equipes (team-based learning - TBL);
TBL, PBL e problematização;
PBL, aprendizagem baseada em projetos (project-based learning - PjBL) e problematização;
PBL, TBL e PjBL;
aprendizagem por pares e problematização;
PBL, TBL e aprendizagem baseada em casos (case-based learning - CBL);
TBL, problematização e CBL;
PBL, TBL e PjBL;
metodologias ativas (sem outra especificação).
A distribuição da época de inserção da semiologia no currículo das 226 escolas é exibida na Figura 1. Como pode ser observado, ela é mais frequentemente inserida apenas no quarto semestre do curso. Também pode ser notado que, enquanto algumas escolas ensinam semiologia em apenas um ou dois semestres, outras a ensinam ao longo dos quatro primeiros anos do curso.
A Tabela 1 exibe a distribuição dos conteúdos de semiologia nas 226 escolas analisadas. Pode-se observar que, em algumas escolas, a semiologia geral e o raciocínio clínico são ofertados no primeiro semestre. Nesse sentido, relembramos aos leitores que o raciocínio só foi incluído como conteúdo quando a escola o inseria dentro da disciplina de semiologia. Em escolas que o ofertavam como uma disciplina separada, ele não foi incluído dentro da semiologia. Por isso, ele aparece tanto na semiologia quanto nos conteúdos integrados nos eixos e módulos.
Período do curso | ||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Conteúdos de semiologiaa | 1ºs n | 2ºs n | 1ºab n | 3ºs n | 4ºs n | 2ºab n | 5ºs n | 6ºs n | 3ºab n | 7ºs n | 8ºs n | 4ºab n |
Semiologia geral | 47 | 46 | 10 | 48 | 84 | 21 | 40 | 16 | 10 | 4 | 2 | 2 |
Anamnese e relação médico-paciente | 35 | 30 | 9 | 23 | 36 | 16 | 15 | 7 | 6 | 3 | - | 2 |
Tegumento pele e fâneros | 4 | 5 | - | 1 | 10 | - | 2 | 1 | - | - | - | - |
Cabeça e pescoço | - | 2 | - | 5 | 9 | 1 | 4 | 1 | 1 | - | - | - |
Linfonodos | 1 | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - | - |
Abdome | - | 5 | - | - | 27 | - | - | - | - | - | - | 1 |
Sinais e sintomas | 2 | 1 | - | - | 2 | 1 | 2 | 1 | - | - | - | - |
Sistema hemolinfopoiético | 1 | - | - | - | - | - | 2 | 6 | - | - | - | - |
Semiologia hematológica | - | 5 | - | - | 3 | - | - | - | - | 3 | - | - |
Sistema cardiovascular | 2 | 14 | - | 19 | 24 | 4 | 17 | 4 | 2 | 3 | 1 | 5 |
Sistema locomotor c | 3 | 7 | - | 11 | 19 | 2 | 9 | 5 | 1 | 5 | 2 | 5 |
Semiologia reumatológica | - | - | - | 1 | - | - | 3 | - | - | - | - | |
Sistema digestivo | 2 | 4 | - | 17 | - | 5 | 18 | 8 | 4 | - | - | - |
Semiologia neurológica | 4 | 3 | - | 17 | 29 | 2 | 8 | 8 | 2 | 5 | 2 | 2 |
Sistema respiratório | 1 | 18 | - | 19 | 20 | 5 | 16 | 4 | - | 7 | 2 | 6 |
Sistema endócrino | 1 | - | - | 4 | 11 | - | 6 | 5 | - | 1 | - | 2 |
Sistema renal d | - | 7 | - | 5 | 13 | 4 | 11 | 5 | 2 | 3 | - | 1 |
Sistema reprodutor | - | - | - | 5 | - | - | - | - | - | - | - | - |
Semiologia genital | - | - | - | - | 8 | - | - | - | - | - | - | - |
Semiologia otorrinolaringológica | - | - | - | - | 3 | - | - | 2 | - | - | - | - |
Semiologia oftalmológica | - | - | - | - | 2 | - | 1 | 4 | 1 | - | - | |
Semiologia dermatológica | - | - | - | - | - | - | 1 | 1 | - | - | 1 | |
Raciocínio clínico | 4 | 1 | 2 | 13 | 17 | 8 | 9 | 4 | 4 | 2 | 1 | 4 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Abreviaturas - s: semestre; a: ano; n: frequência absoluta.
a. Ofertados em disciplinas, módulos ou eixos.
b. Escolas com ingresso anual.
c. Também denominado de semiologia osteoarticular, ortopédica, osteomuscular e musculoesquelética.
d. Também denominado de sistema urinário e semiologia nefrológica.
Só foi possível identificar a carga horária de 117 escolas médicas das 226 (51,8%), e, entre elas, 44 eram gratuitas (37,6) e 73 não gratuitas (62,5%).
A Tabela 2 exibe a média e a mediana da carga horária do curso, do internato e de semiologia. Nela, pode ser visto que a carga horária de aulas práticas de semiologia foi maior do que a teórica. A Tabela 3 exibe a distribuição da carga horária de semiologia por região, administração, gratuidade e tempo de existência da escola. Como pode ser observado, não houve diferença estatística em nenhuma dessas variáveis.
Horas | |||
---|---|---|---|
Carga horária (em horas)a | Média (DP) | IC 95% mín. - máx. | Mediana (P25 - 75) |
Total de semiologia no primeiro ano (n = 23) b | 120,3 (11,7) | 96,1 - 144,5 | 102,0 (75,0 - 160,0) |
Teórica de semiologia no primeiro ano (n = 6) b | 37,2 (7,7) | 17,4 - 57,1 | 33,3 (26,2 - 48,0) |
Prática de semiologia no primeiro ano (n = 6) c | 76,7 (27,0) | 7,2 - 146,2 | 55,0 (45,0 - 97,5) |
Sem discriminar teoria e prática de semiologia no primeiro ano (n = 16) b | 117,7 (14,8) | 86,3 - 149,1 | 110,0 (60,0 - 175,0) |
Total de semiologia no segundo ano (n = 96) c | 185,7 (10,1) | 165,7 - 205,7 | 180,0 (111,0 - 232,7) |
Teórica de semiologia no segundo ano (n = 36) c | 85,3 (12,0) | 60,8 - 109,8 | 73,5 (40,0 - 80,0) |
Prática de semiologia no segundo ano (n = 36) c | 113,6 (12,1) | 88,9 - 138,2 | 85,0 (61,5 - 157,5) |
Sem discriminar teoria e prática de semiologia no segundo ano (n = 57) c | 182,6 (12,9) | 156,9 - 208,4 | 180,0 (120,0 - 222,5) |
Total de semiologia no terceiro ano (n = 48) c | 210,3 (22,0) | 166,2 - 254,6 | 162,5 (120,0 - 281,5) |
Teórica de semiologia no terceiro ano (n = 18) b | 75,8 (11,2) | 52,3 - 99,4 | 75,0 (38,3 - 100,0) |
Prática de semiologia no terceiro ano (n = 18) b | 118,5 (18,4) | 79,8 - 157,3 | 90,0 (47,9 - 180,0) |
Sem discriminar teoria e prática de semiologia no terceiro ano (29) c | 220,0 (32,9) | 152,6 - 287,5 | 166,7 (120,0 - 255,0) |
Total de semiologia no quarto ano (n = 3) d | 66,7 (18,6) | -13,2 - 146,5 | 80,0 (55,0 - 85,0) |
Teórica total de semiologia (n = 50) c , e | 98,9 (10,3) | 78,2 - 119,7 | 77,5 (51,7 - 123,5) |
Prática total de semiologia (n = 50) c , e | 141,4 (13,6) | 114,1 - 168,8 | 147,0 (64,5 - 180,0) |
Total de semiologia sem discriminar teórica e prática (n = 68) c | 277,6 (21,5) | 234,7 - 320,4 | 240,0 (161,7 - 355,5) |
Total de semiologia (n = 117) c | 266,3 (14,4) | 237,9 - 294,8 | 240,0 (165,4 - 338,2) |
Total do curso c | 8.365,8 (80,9) | 8.205,5 - 8.526,1 | 8.223,0 (7.451,2 - 8.817,5) |
Total do internato c | 3.466,8 (75,3) | 3.317,7 - 3.615,8 | 3.398,0 (3.016,2 - 3.750,0) |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Abreviaturas: DP = desvio padrão; IC95% = intervalo de confiança de 95%; mín.-máx. = mínimo e máximo; P25-75 = percentis 25 e 75.
a. A carga horária total de cada ano inclui a carga horária dos semestres em escolas com ingresso semestral e do ano naquelas com ingresso anual.
b. Distribuição normal.
c. Distribuição não é normal.
d. No quarto ano, foram apenas encontradas escolas que não discriminavam a carga horária teórica da carga horária prática.
e. Teste de Wilcoxon comparando carga horária total de semiologia teórica com a prática: Z = -3,99, p < 0,01.
Carga horária total de semiologia | |||
---|---|---|---|
Variável | Mediana (P25 - 75) | Teste estatístico e resultado | p |
Região | |||
Norte | 200,0 (180,0 - 340,0) | K-W, qui2(4) = 5,08 | 0,279 |
Nordeste | 222,5 (145,5 - 300,0) | ||
Centro-Oeste | 315,0 (208,7 - 409,5) | ||
Sudeste | 284,2 (168,7 - 375,0) | ||
Sul | 240,0 (160,0 - 300,0) | ||
Administração | |||
Federal | 210,0 (150,0 - 300,0) | K-W, qui2(3) = 2,69 | 0,442 |
Estadual | 292,5 (180,0 - 366,5) | ||
Municipal ou comunitária | 283,3 (177,5 - 380,0) | ||
Privada | 240,0 (160,0 - 360,0) | ||
Gratuidade | |||
Sim | 240,0 (167,5 - 300,0) | Mann-Whitney U = 1672,5 | 0,614 |
Não | 240,0 (161,7 - 360,0) | ||
Tempo de existência | |||
Até 3 anos | 160,0 (83,3 - 264,0) | K-W, qui2(7) = 10,8 | 0,148 |
De 4 a 6 anos | 230,0 (160,0 - 400,0) | ||
De 7 a 19 anos | 200,0 (160,0 - 340,0) | ||
De 20 a 40 anos | 270,0 (137,4 - 385,0) | ||
De 41 a 60 anos | 291,7 (240,0 - 360,0) | ||
De 61 a 100 anos | 240,0 (175,0 - 300,0) | ||
De 101 a 200 anos | 325,0 (192,5 - 1.050,0) | ||
Mais de 200 anosa | 204,0 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Abreviaturas - P25-75: percentis 25 e 75; p: nível de significância; K-W: Kruskal-Wallis; qui2: qui-quadrado.
a. Apenas uma escola incluída tinha mais de 200 anos de existência.
A porcentagem da carga de semiologia em relação à carga total do curso teve distribuição não paramétrica, com mediana de 2,9%, (P25 - 75 = 2,0 - 4,0) e média de 3,2% (DP = 0,2; IC95% = 2,8 - 3,5).
No Quadro 1, apresentamos os nomes das disciplinas, os módulos e os eixos que contêm semiologia, e os conteúdos integrados a ela em 142 escolas das 226 analisadas, por semestre ou ano de inserção no curso, conforme a forma ingresso semestral ou anual da escola. No Quadro 1, pode-se observar que diversos conteúdos oportunizam o aprendizado da semiologia, como anatomia, atendimento pré-hospitalar e fraturas integrados à semiologia osteoarticular.
Nomes das disciplinas, dos módulos e dos eixos que contêm semiologia Abordagem do paciente e bases fisiopatológicas e terapêuticas dos principais sinais e sintomas; Bases: do diagnóstico e da terapêutica I, II, / do diagnóstico humano ou fisiopatológicas e propedêuticas da maturidade e do envelhecimento I a III; Clínica médica: I e II / e estágio; Diagnóstico e terapêutica I, II; Processo Saúde-Doença-Cuidado II (1ª e 2ª parte) / Doença II; Elementos da propedêutica geral; Estudo da medicina I, II; Fisiologia e semiologia aplicada I, II; Fisiopatologia e propedêutica; Fundamentos da: clínica I, II / prática e da assistência médica I a IV / prática médica I, II e IV / semiologia e propedêutica médica; Grandes síndromes clínicas sinais e sintomas; Desenvolvimento de habilidades e atitudes médicas I a III; Habilidades: I a IV / médicas / médicas I a VIII / clínicas / clínicas I, II e IV / clínicas e atitudes I a III ou I a V / clínicas e atitudes em medicina I a III ou I a IV / clínicas, atitudes e bioética / de comunicação, técnicas e humanísticas I a IV / e humanidades I a VI / específicas II a IV / e comunidade, médicas e atitudes I, II, médicas e de comunicação I, II / e práticas I, II / profissionais I a VII / profissionais clínicas I, II / semiológicas I a VI; Introdução: à clínica I, III / à clínica Médica / à prática médica / à propedêutica médica / ao estudo da medicina / ao exame clínico e relação médico-paciente / à semiologia / à semiologia médica / à semiologia médica I, II; Iniciação: ao exame clínico / à semiologia; Laboratório de Habilidades II a V; Medicina Integrada I, III, IV e V; Método clínico I a IV; Módulos clínicos: circulação e a troca gasosa (I e II), Equilíbrio vital (III), O adoecer (IV), Relacionamento médico-paciente (V), Cuidados elementares em saúde e doenças prevalentes (VI), Doenças prevalentes e queixas comuns (VII); O método do exame clínico; O paciente e as bases da medicina: semiologia, anatomofisiopatologia e farmacologia clínica; O ser humano e seus agressores: introdução à semiologia e propedêutica médica; Percepção, consciência e Emoção (eixo Habilidades e Comunidade); Prática: integrativa II / interdisciplinar de ensino, serviço e comunidade II / médica, profissional e trabalho em saúde I a III; Práticas: ampliadas III/ de integralidade ao método clínico I, III e IV / médicas I a V / de saúde na comunidade / Interdisciplinares; Propedêutica: básica / médica / médica I a III / clínica / clínica I a III / geral / da atenção e cuidados básicos em saúde / dos problemas de saúde na idade adulta / e imagenologia I e II / e semiologia / médica avançada / por ciclo(s) de vida I / segmentar I, II, III / anamnese / síndromes clínicas / semiotécnica; Raciocínio clínico e epidemiológico: semiologia normal I, II / alterada I a III; Saúde do Adulto I e II; Semiologia: A e B / geral, do Adulto / do Adulto I e II / médica / médica I a VII /médica geral / dos sistemas, e procedimentos técnicos / e propedêutica/ e propedêutica I a II/ e propedêutica do adulto/ médica I, II / e relação médico-paciente I, II) / e semiotécnica/ e semiotécnica I a III / em clínica médica I a IV / especial / especializada / das especialidades / alterada II / e ambulatório geral / integrada / integrada I, II / de adultos e idosos I e II / anamnese e propedêutica dos sistemas e aparelhos, do sistema cardiovascular, digestório, endócrino, hemolinfopoiético, locomotor, nervoso / neurológica, reprodutor; respiratório ou urinário; Semiotécnica da observação clínica; Sinais e Sintomas I, II; Unidade Curricular Simulação da Prática Profissional I a IV; e,- Vigilância em saúde e Semiologia Integrada. |
Conteúdos ensinados nos módulos ou eixos que integram a semiologia 1º semestre História da medicina; antropologia e sociologia em saúde; educação médica no Brasil e no mundo; constituição da sociedade; razão, ciência e fé; profissionalismo médico; educação em direitos humanos, meio ambiente e sistema de saúde; bioética e ética médica; aspectos psicológicos, sociais e ambientais nas situações de saúde; estudo da família; vigilância em saúde, biossegurança; habilidades de comunicação e relacionamento com o paciente; medicina baseada em narrativas (MBN); medicina centrada na pessoa (MCP); relação entre corpo humano saudável na comunidade e na sociedade; cuidado e cuidador na área médica; medicina baseada em evidências (MBE); Sistema Único de Saúde (SUS), atenção primária em saúde (APS); clínicas e atividades na APS; prevenção e promoção da saúde nas comunidades; equipe multiprofissional nos cuidados ao paciente; doença, diagnóstico, terapêutica, prognóstico; fármacos; laboratório; procedimentos básicos à prática médica; raciocínio clínico; suporte básico de vida; primeiros socorros; técnica de remoção de pacientes politraumatizados; fratura; técnica cirúrgica e habilidades cirúrgicas; relações dos diversos sistemas orgânicos, mentais e relacionais; integração dos conhecimentos de anatomia e fisiologia; microscopia e citologia; morfofisiologia do sistema digestório e glândulas anexas; crescimento e desenvolvimento; nutrição; risco para doenças cardiovasculares (CV); exames de imagem; habilidades iniciação científica (IC); informática, telemedicina; sistemas de apoio à decisão médica e de informação geográfica; prontuário eletrônico do paciente e prescrição médica, Picture Archiving and Communication System - PACS (Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens). |
Conteúdos ensinados nos módulos ou eixos que integram a semiologia 1º semestre História da medicina; antropologia e sociologia em saúde; educação médica no Brasil e no mundo; constituição da sociedade; razão, ciência e fé; profissionalismo médico; educação em direitos humanos, meio ambiente e sistema de saúde; bioética e ética médica; aspectos psicológicos, sociais e ambientais nas situações de saúde; estudo da família; vigilância em saúde, biossegurança; habilidades de comunicação e relacionamento com o paciente; medicina baseada em narrativas (MBN); medicina centrada na pessoa (MCP); relação entre corpo humano saudável na comunidade e na sociedade; cuidado e cuidador na área médica; medicina baseada em evidências (MBE); Sistema Único de Saúde (SUS), atenção primária em saúde (APS); clínicas e atividades na APS; prevenção e promoção da saúde nas comunidades; equipe multiprofissional nos cuidados ao paciente; doença, diagnóstico, terapêutica, prognóstico; fármacos; laboratório; procedimentos básicos à prática médica; raciocínio clínico; suporte básico de vida; primeiros socorros; técnica de remoção de pacientes politraumatizados; fratura; técnica cirúrgica e habilidades cirúrgicas; relações dos diversos sistemas orgânicos, mentais e relacionais; integração dos conhecimentos de anatomia e fisiologia; microscopia e citologia; morfofisiologia do sistema digestório e glândulas anexas; crescimento e desenvolvimento; nutrição; risco para doenças cardiovasculares (CV); exames de imagem; habilidades iniciação científica (IC); informática, telemedicina; sistemas de apoio à decisão médica e de informação geográfica; prontuário eletrônico do paciente e prescrição médica, Picture Archiving and Communication System - PACS (Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens). |
2º semestre Sociologia da saúde e principais etapas do ciclo vital; etnias; formação médica; cuidado e cuidador na área médica; bioética e ética acadêmica e médica na atenção em saúde da família e comunidade; educação ambiental e em saúde; princípios da política de saúde e de gestão do SUS; controle social na gestão dos serviços de saúde; a comunidade e as unidades básicas de saúde (UBS); APS II; fatores sociais, ambientais, comportamentais e psicossomáticos das síndromes; prontuário médico; compreender o paciente no seu contexto social, cultural e familiar e nos seus aspectos étnico-raciais; comunicação em saúde; entender, informar e educar os pacientes, familiares e comunidades quanto à promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação das doenças; ações preventivas básicas em pediatria; doenças infecciosas regionais; biossegurança; vias de administração de medicamentos; velocidade de infusão; coleta e armazenamento de materiais biológicos para laboratório; técnicas cirúrgicas básicas; primeiros socorros em vítimas de afogamento, queimaduras e acidentes com animais peçonhentos; abordagem pré-hospitalar do trauma; suporte básico de vida; organização dos serviços de saúde de urgência e emergência; comissão e serviço de controle de infecções hospitalares; semiologia do idoso; declaração e atestado de óbito e legislação relacionada; morfofisiologia e fisiopatologia relacionada à semiologia; raciocínio clínico; iniciação científica; habilidades de informática; tecnologia da informação aplicada à saúde; MBE. |
3º semestre História da medicina; valores éticos, humanísticos, sociais e psicológicos; espiritualidade e religião; ética e bioética; profissionalismo médico e comunicação com pacientes; Programa Nacional de Segurança do Paciente; prontuário, registro e direitos do paciente e do médico; Classificação Internacional de Doenças (CID); saúde e trabalho; medicina centrada na pessoa; aspectos psicossociais da prática médica; envelhecimento; luto e estágios de aceitação da morte; raciocínio clínico; semiologia da criança e do adolescente; semiologia do idoso; linguagem técnica em medicina e linguagem de sinais; abordagem ao paciente e seus familiares; sistema e atenção à saúde de média e alta complexidade; programas e políticas de APS aos pacientes de doenças mentais; biossegurança; vigilância nutricional, ambiental, sanitária e epidemiológica; epidemiologia clínica; farmacologia/farmacologia; medicalização e saúde; enfermagem; anestesiologia; procedimentos médicos, imunização; princípios e procedimentos da assepsia e antissepsia; histologia, fisiologia, patologia geral, fisiopatologia do aparelho circulatório, locomotor, nervoso, respiratório, renal e reprodutor masculino; exames laboratoriais e de imagem do sistema urinário e do aparelho digestivo; psicologia médica na relação médico-paciente (RMP); aspectos culturais, psicológicos, de gênero e afetivos relacionados à dor e escalas de dor; fisiopatologia dos principais sinais e sintomas; fatores sociais, ambientais, comportamentais e psicossomáticos das síndromes relacionadas aos sistemas digestivo, endócrino e reprodutor; integração entre anatomia, histologia, fisiologia, patologia geral, psicologia, parasitologia, microbiologia, imunologia, semiologia, saúde, família e sociedade e imagenologia; diagnóstico e exames laboratoriais de doenças infecciosas regionais; medicina de família e comunidade; práticas em ambulatório e enfermaria, atividades nas UBS e centros comunitários de saúde; pesquisas e trabalhos acadêmicos; uso da internet/habilidades de informática. |
4º semestre Humanidades; meio ambiente e sustentabilidade; psicologia da saúde; bioética e ética médica; direitos do paciente; comportamento do estudante; interdisciplinaridade e práticas multiprofissionais; saúde, família e sociedade; cuidados na APS nas comunidades; políticas públicas e programas de saúde voltados para populações específicas LGBT e rural; promoção da saúde e prevenção quaternária; vigilância ambiental, epidemiológica e em saúde; sistema de informação e indicadores em saúde; treinamento de habilidades de comunicação e de informática; diferenças culturais, pacientes com difícil interação, comunicação de má notícia em situações sensíveis; raciocínio clínico; semiologia obstétrica e pediátrica; semiologia do idoso; saúde mental; técnicas básicas/prática de enfermagem; princípios da assepsia e antissepsia; microbiologia, parasitologia, virologia e imunologia; doenças infecciosas e parasitárias; ferramentas de registro médico e prescrição de medicamentos (receituários); atestado médico, licenças médicas, perícia; farmacologia/ fármacos; diagnóstico e conduta nas doenças prevalentes; SUS; exames laboratoriais; exame parasitológico de fezes; raios X (RX), ultrassonografia (USG), tomografia computadorizada (TC), arteriografia, endoscopia, colonoscopia, manometria, pHmetria, colangiopancreatografia, colangiorressonância e exames laboratoriais relacionados; estudo de peças anatômicas de patologias dos principais sistemas do organismo humano; estudo de autópsias; semiologia, tanatologia e responsabilidade médica; o paciente terminal e o processo de morrer; integrações horizontais; correlação anatomopropedêutica utilizando conhecimentos de histologia, fisiologia, patologia geral, fisiopatologia e semiologia; pesquisas e trabalhos acadêmicos. |
2º ano Ética; processo de cuidado e educacional; trabalho em equipe; educação em saúde; habilidades de comunicação, liderança e gestão; relatórios; língua estrangeira; ética; procedimentos médicos; MBE; semiologia pediátrica; monitorização; punção venosa; equipamentos básicos em laboratório; exame físico ginecológicos e obstétrico; semiologia do idoso; semiologia oncológica; laboratório; ECG; diagnóstico por imagem de artrose, osteoporose, doença pulmonar obstrutiva crônica; calcificações em placas ateromatosas, atrofia cerebral; ECG nas sobrecargas e nos bloqueios; técnicas cirúrgicas; pré-projeto de trabalho científico (TCC). |
5º semestre Educação em direitos humanos; psicologia médica; desenvolvimento do pensamento reflexivo; comunicação em saúde; biossegurança; interdisciplinaridade e práticas multiprofissionais; técnica de sondagem nasogástrica; obstruções do aparelho digestório e urinário e tomada de medidas sanitárias; doenças infecciosas e parasitárias; punção lombar; gestação e parto, período neonatal, infância, adolescência; semiologia do idoso; instrumentos diagnósticos laboratoriais de uretrite e cervicite; exames laboratoriais e de imagem; prescrição médica; patogênese e fisiopatologia de principais sinais e sintomas clínicos; anatomia patológica e patologia clínica; raciocínio clínico; conduta diagnóstica e terapêutica das afecções mais frequentes no adulto; fisiopatologia, manifestações clínicas, exames complementares, radiologia e abordagem clínica e cirúrgica das principais doenças dos aparelhos respiratório, CV e digestivo; interpretação do ECG. |
6º semestre Medicina e humanidades; educação ambiental; psicologia médica; comunicação em saúde; saúde e sociedade; interdisciplinaridade e práticas multiprofissionais; atuação do médico no SUS; práticas em clínica médica; método clínico centrado na pessoa; elaboração do diagnóstico médico ampliado; uso racional de medicamentos; integrações horizontais; estudo clínico e fisiopatológico das doenças prevalentes da região; anatomia patológica e patologia clínica das doenças prevalentes da região; introdução à terapêutica medicamentosa; atividades teórico-práticas de semiologia e propedêutica pediátrica e ginecológica/saúde da criança e do adolescente; semiologia do idoso; semiologia oncológica; semiologia médica especial e técnicas cirúrgicas; técnicas de exame físico em situações anormais com ênfase nos pacientes com história de trauma e perdas crônicas e agudas de sangue e com distúrbios mentais e do comportamento; habilidades de solicitação racional de realização e interpretação de exames complementares; estudo dos instrumentos diagnósticos laboratoriais de uretrite, cervicite; cateterização da bexiga; obstruções do aparelho digestório e urinário e tomada de medidas sanitárias; pressupostos da terapia substitutiva renal; transplante de órgãos; método. |
3º ano Ética médica e bioética; MBE; processo de cuidado e educacional; medicina psicossomática; habilidades de liderança, gestão e de comunicação frente aos diversos padrões de comportamento dos pacientes; língua estrangeira; papel do médico na equipe interdisciplinar; clínica ampliada; fenômenos biológicos, sociais, psicológicos; problemas de pessoas, família e comunidade, relacionadas à vida adulta, reprodução, sexualidade, envelhecimento; semiologia da criança, do adolescente e da mulher; semiologia do idoso; anamnese psiquiátrica; métodos complementares; correlação clínica de casos mais simples; raciocínio clínico; manuseio e conhecimento do instrumental cirúrgico básico; técnicas/coleta de material biológico para exames; contenção; tamponamento anterior (otorrinolaringologia); drenagem de abscessos; suporte avançado de vida; manejo na urgência. |
7º semestre Medicina e humanidades; saúde e sociedade; habilidades médicas; integrações horizontais; anatomia, histologia e patologia, aplicados ao estudo da propedêutica; fisiopatologia das enfermidades e sua relação com os sinais e sintomas; raciocínio clínico; prescrição médica; solicitação racional e interpretação de exames complementares; realização e interpretação de exames complementares; técnicas cirúrgicas básicas; método; atestado de óbito. |
8º semestre SUS; método clínico centrado na pessoa; semiologia psiquiátrica; integrações horizontais; anatomia, histologia e patologia, aplicados na propedêutica adulta; raciocínio clínico; urgências e emergências; suporte avançado de vida na criança e no adulto; método. |
4º ano Processo de cuidado e educacional; fenômenos biológicos, sociais, psicológicos; problemas de pessoas, família e comunidade; clínica ampliada; habilidades de comunicação, liderança e gestão; manejo de pacientes e famílias em situações difíceis; consentimento informado; cuidados paliativos; tanatologia; MBE; técnicas de coleta de material biológico para exames laboratoriais; procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade; obstetrícia; correlação clínica com casos clínicos mais complexos; atendimento nas especialidades médicas em patologias prevalentes e/ou com risco de vida; suporte avançado de vida na criança e no adulto; diagnóstico de artrite e artrose, fraturas e luxação, artrose piogênica, acidente vascular isquêmico e hemorrágico, cardiomegalia, pneumotórax e derrame pleural; diagnóstico das alterações eletrocardiográficas da isquemia miocárdica e de algumas arritmias. |
Fonte: Elaborado pelos autores.
DISCUSSÃO
Em nosso estudo, as escolas médicas gratuitas disponibilizavam seus currículos na internet com maior frequência do que as não gratuitas. Talvez esse fato tenha decorrido do aumento mais recente de escolas privadas, que ainda não haviam inserido seus currículos em suas páginas virtuais. Ainda, como algumas dessas escolas já existiam e foram incorporadas a grupos empresariais, geralmente, seus nomes haviam mudado, e, quando não encontrávamos os dados de uma escola pertencente a grupo empresarial, isso também ocorria com todas as suas outras escolas.
Encontramos oito nomes referentes à semiologia, sem considerar o nome de módulos ou eixos que a integravam ou sua qualificação e associação com outros termos. Esses foram: semiotécnica, propedêutica, semiologia, semiologia e propedêutica, sinais e sintomas, iniciação ao exame clínico, introdução à clínica médica e introdução à prática médica. Os módulos e eixos que a integravam tinham lógicas específicas nos conteúdos integrados em cada escola e uma certa criatividade nas denominações.
No estudo brasileiro realizado nas escolas médicas do Rio de Janeiro1, constatou-se que algumas delas diferenciavam a semiologia da propedêutica, sendo a primeira relacionada à anamnese e, muitas vezes, ao exame físico, enquanto a segunda era mais específica para o exame físico. A expressão “introdução à clínica médica” foi referida em um estudo europeu13, e encontrou-se o termo “propedêutica” no estudo cubano8, em um europeu12 e no colombiano9. Neste último, também foram encontrados as expressões “introdução à prática médica” e “conduta humana” para denominar o ensino de semiologia.
Verificamos em nosso estudo que a semiologia era mais frequentemente inserida apenas no quarto semestre do curso, diferentemente do estudo realizado no Rio de Janeiro1, no qual ela era inserida mais frequentemente no quinto e sexto semestres, do estudo colombiano9, no qual ela era inserida mais frequentemente em dois semestres ou do quarto ao sétimo semestre, e do estudo cubano, em que a semiologia era inserida no terceiro ano do curso sob o nome de propedêutica clínica e fisiopatologia, no ano acadêmico de 1985-1986, e propedêutica clínica e laboratório clínico e imagem, no ano acadêmico 2010 - 20118.
O raciocínio clínico foi o único conteúdo incluído em todos os semestres do curso antes do internato entre algumas escolas médicas brasileiras de nosso estudo. Na pesquisa norte-americana, seu ensino iniciava-se nos dois primeiros semestres da graduação médica e associava-se com o do exame físico em 84 de 116 escolas analisadas (79%), apesar de 60% do tempo ser destinado ao exame físico11.
Algumas escolas incluídas em nosso estudo integravam a semiologia com outras áreas de saber, como antropologia e sociologia, e com outros conteúdos, entre eles biossegurança, ética e bioética, medicina baseada em narrativas, conceitos e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), comunicação, primeiros socorros, aplicação de medicamentos, anatomia, fisiologia, histologia, imagenologia, coleta e análise de exames laboratoriais, entre outros, em conformidade com o artigo 29 das DCN14.
No estudo colombiano, a semiologia era integrada às disciplinas básicas biomédicas e clínicas9, e, no estudo norte-americano, 92 escolas associavam o ensino do exame físico com a história clínica do paciente (87%), 59 com o raciocínio clínico (56%), 64 com a anatomia (60%) e 56 com a fisiologia ou fisiopatologia (53%), sendo esses conteúdos ensinados de forma associada em 48 dessas escolas (45%)11. Nem no estudo da Colômbia9, nem no dos Estados Unidos11, foi mencionada a integração da semiologia ou do exame físico a conteúdos das ciências humanas e sociais, além da comunicação e da ética.
Consideramos que o estudante deve ser visto como profissional em formação desde o primeiro dia do curso, e, como a semiologia é o alicerce da prática clínica, seu ensino deveria ser iniciado já no primeiro semestre do curso, de forma integrada a conteúdos clínicos e das ciências básicas, ciências sociais e humanas, entre eles a comunicação, a ética e os demais componentes do profissionalismo. Essa inserção deveria ser continuada ao longo de todo o curso, com complexidade crescente, para que o futuro médico estabeleça uma boa relação médico-paciente, faça uma anamnese considerando os aspectos biopsicossociais, culturais e espirituais relativos ao processo saúde-doença, realize um exame físico de qualidade e tenha um raciocínio clínico abrangente.
Ao compararmos a carga horária total do curso que encontramos com a de outros estudos, observamos que ela é menor do que a que consta no plano de estudos cubano, que é acima de 9.000 horas nos seis anos de curso8, e similar à carga do estudo realizado no Rio de Janeiro, que foi de 8.426,9 horas (DP = 272,1; IC95% = 7.839,0 - 9.104,7)1. Contudo, ela é bem maior do que a média da carga de 21 das 32 escolas europeias, que foi de 4.497,8 horas (DP = 270,2; IC95% = 3.934,2 - 5.061,4)12, e de 16 escolas médicas do sudeste europeu, que foi de 4.990,8 horas (DP = 113,6; IC95% = 4.748,2 - 5.233,4)13.
Em relação à Europa, a duração do curso de Medicina em muitos de seus países é de cinco anos12, e a menor carga horária do curso é, provavelmente, resultado do movimento de reforma na educação superior que resultou no Processo de Bolonha18. Na educação médica, em 1998, esse movimento gerou a declaração da World Federation for Medical Education, que ressaltava a necessidade de mudar a estrutura e o processo da educação médica para que os médicos fossem preparados para atender às necessidades e expectativas da sociedade, lidar com o aumento do conhecimento científico e dos avanças tecnológicos, desenvolver a capacidade de aprendizagem por toda a vida e se adaptar às mudanças do contexto e do sistema de saúde. Uma de suas recomendações foi a elaboração de um currículo nuclear com conteúdos essenciais para a formação médica (core curriculum), visando evitar uma sobrecarga de conteúdos, o qual deveria ser suplementado por disciplinas opcionais19. Esses aspectos também foram ressaltados na Declaração de Bolonha18.
Quanto à mediana da carga horária de semiologia entre as 117 escolas médicas brasileiras de nosso estudo, observamos que ela tende a ser menor do que a das 14 escolas do estudo realizado no Rio de Janeiro, que foi de 368,7 horas (DP = 42,7; IC95% = 276,4 - 461,0), equivalendo a 4,6% (DP = 0,6; IC95% = 3,1 - 6,0) da carga do curso1. Entretanto, essa tendência pode ter ocorrido porque o estudo do Rio de Janeiro incluiu apenas 11,8% das escolas brasileiras existentes em 2006.
Em relação aos estudos na Europa, a mediana da carga horária de semiologia obtida em nosso estudo é bem acima da encontrada nas escolas médicas de 18 países europeus, que foi de 135,0 horas (P25-75 = 94,0 - 220,5)12, e nas 16 escolas médicas do sudeste europeu, que foi de 105,0 horas (P25-75 = 22,5 - 135,0)13. Entretanto, a porcentagem de semiologia em relação ao curso no estudo com 18 países europeus foi de 4,2% (DP = 3,5; IC 95% = 2,6 - 5,8)12, similar à de nosso estudo, enquanto a do estudo no sudeste europeu foi de 2,0% (DP = 1,3; IC 95% = 1,2 - 2,7)13, abaixo da encontrada em nosso estudo.
Não foi possível fazer comparações com alguns estudos. O estudo colombiano forneceu dados que propiciaram calcular apenas a carga horária de semiologia em uma escola, que foi de 240,0 horas, pois, nas outras quatro escolas, esta foi fornecida em créditos, sem esclarecer a quantas horas equivaliam esses créditos9. No estudo cubano, a carga horária de semiologia foi de 495 horas no ano acadêmico 1985 - 1986 e de 686 horas no ano acadêmico 2010 - 2011, porém incluía outros conteúdos aos quais ela era integrada, entre eles fisiopatologia, laboratório e imagem8. O estudo dos Estados Unidos analisou apenas a carga horária do conteúdo de exame físico, cuja média foi de 82,0 horas (DP = 71,0), com valor mínimo de dez horas e máximo de 360,0 horas. Além de o exame físico ser apenas uma parte do ensino de semiologia, ele era integrado a outros conteúdos em algumas dessas escolas11. Na página virtual da Association of American Medical Colleges, entre seus dados até 2013 - 2014, constava que o ensino da “introdução ao diagnóstico físico” tinha a média de 30,8 semanas, sem informar seus conteúdos ou qual era a carga horária semanal10.
Não encontramos diferença na mediana da carga horária total de semiologia por região, gratuidade, administração e tempo de existência da escola nas 117 escolas que a especificaram. Esse achado talvez indique que, apesar de termos incluído apenas 34,9% do total das 335 escolas brasileiras, os valores possam representar o restante das escolas, mas não podemos afirmar isso com certeza.
Constatamos em nosso estudo que a carga horária de prática de semiologia foi maior do que a teórica. Esse achado foi similar ao do estudo do Rio de Janeiro, cujas escolas tiveram a média da carga horária teórica de 105,5 horas (DP = 15,9; IC95% = 71,3 - 140,1) e de prática de 241,7 horas (DP = 24,5; IC95% = 167,2 - 316,2)1. Entretanto, apesar de a carga teórica ser similar à de nosso estudo, a carga horária prática tende a ser maior. Porém, ressaltamos que, nele, houve baixa representatividade das escolas médicas brasileiras1.
As limitações de nosso estudo abrangeram a coleta de dados disponibilizados na internet, que resultou na inclusão de apenas 67,5% das escolas médicas brasileiras, com predomínio das escolas gratuitas. A não inclusão de muitas escolas não gratuitas decorreu do fato de muitas escolas privadas terem sido incoporadas aos mesmos grupos empresarias que não disponibilizavam detalhamento da matriz curricular de suas escolas na internet. Algumas dessas escolas, inclusive, mudaram seus nomes, causando maior dificuldade para encontrá-las. Adicionalmente, apenas 117 escolas (51,8% das 226 incluídas e 34,9% do total das escolas existentes) disponibilizam dados de sua carga horária de semiologia. Essas limitações representam um risco de viés, e os resultados relativos a essa carga devem ser interpretados com cautela. Entretanto, como ela foi similar por região, administração e gratuidade da escola, acreditamos que, talvez, os resultados possam ter alguma validade. Ao buscarmos estudos nacionais e internacionais abrangentes, que incluíssem a carga horária de semiologia, encontramos poucos que propiciassem comparações com nosso estudo e pudemos perceber a dificuldade em se obter um número representativo de escolas, especialmente quando seu número no país é muito grande.
O ponto forte de nosso estudo foi possibilitar a identificação da época em que a semiologia tem sido inserida no curso e dos conteúdos que podem ser integrados em seu ensino, bem como propiciar comparação nacional e internacional com a carga horária de 117 escolas médicas brasileiras.
Para os próximos estudos, sugerimos a obtenção dos projetos pedagógico e programas de aprendizagem diretamente com cada escola, para que, além de abrangerem mais escolas, seja possível avaliar a visão da escola quanto ao currículo, a abordagem pedagógica, incluindo ensino e avaliação, e os cenários de prática usados no ensino da semiologia. Adicionalmente, sugerimos incorporar entrevistas com gestores, docentes e discentes, para melhor compreensão de sua perceção sobre esse ensino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram estudadas 226 das 335 escolas médicas brasileiras ativas em dezembro de 2020.
Mais da metade integra a semiologia a módulos ou eixos, e a maioria oferta a semiologia apenas no quarto semestre. Porém, algumas escolas a ofertam no primeiro semestre do curso, e, entre elas, há aquelas que a ofertam do primeiro ao oitavo semestre do curso.
Entre as 117 escolas que disponibilizam a carga horária de semiologia na internet, a carga horária total de semiologia é de 240,0 horas (P25-75 = 165,4 - 338,2), sem diferença por região geográfica, gratuidade, administração e tempo de existência da escola, e a mediana de sua porcentagem no curso é de 2,9% (P25-75 = 2,0 - 4,0).