Depois de ler Oyèrónké Oyèwùmí (2021), difícil não situar a Seção Temática de Teias na sociologia do conhecimento ocidental e colonizado contra o qual nos debatemos.
O que é uma mulher? Um dado bio-lógico não seria ele também construído? A categoria mulher, afirma a autora, não é pré-cultural, “[...] fixada no tempo histórico e no espaço cultural em antítese a outra categoria fixada: ‘homem’” (OYÈWÙMÍ, 2021, p. 18). Com e contra o dado biológico criam-se modos de se comportar, de ver o mundo, de se expressar, constroem-se hierarquias, representações e distribuem-se os lugares facultados às pessoas. No Ocidente, o dimorfismo sexual essencializou as identidades a tal ponto que até o final do século XIX poucos eram os países que permitiam o voto de mulheres. No Brasil isso só foi possível em 1933, consolidado na Constituição de 1934.
Outras pessoas são colocadas ou retiradas da sacola da inépcia ao longo dos séculos. Ao lado das mulheres figuram crianças, analfabetos, idosos (mas também os jovens), deficientes, pessoas LGBTQIA+, negras e negros.
Cabe lembrar, com Federici (2017), que as bruxas e os calibãs são resultado da mesma sanha aniquiladora que retirou tudo o que se podia das mulheres e dos povos nativos: a terra, seu alimento e o controle sobre seus corpos. Compreender e nos aproximarmos àquelas que vieram antes de nós talvez possa nos ajudar a reorganizar nossas lutas, nossa coletividade como uma raça a mais que habita o planeta que devemos cuidar e cuidar para incluir, não para separar.