Resenha
A motivação dos estudantes é amplamente discutida na psicologia educacional, destacando-se a necessidade de promover o seu engajamento nas atividades escolares, o que está relacionado com o quanto este estudante está comprometido com a realização e participação ativa dos seus estudos, o que pode envolver desde aspectos comportamentais, emocionais, cognitivos e agente. Portanto, parte do pressuposto que o aprendiz tem um papel importante no seu processo de aprendizagem.
É evidente que o interesse dos estudantes é um elemento fundamental para o seu processo de aprendizagem, mas deve-se ficar atento com esta responsabilização, designando à eles, a exclusividade do sucesso ou fracasso escolar, esquecendo-se das outras variáveis que estão atreladas a este indicador.
Uma das variáveis que deve ser levada em consideração é o fato da maioria dos estudantes não possuírem as ferramentas cognitivas necessárias para desenvolver o aprendizado, em especial os processos de pensamento, mais precisamente aqueles que são responsáveis pela reflexibilidade do indivíduo.
Este livro lançado em 2019, contendo 200 páginas, é uma iniciativa do autor para divulgar parte da sua experiência como cientista cognitivo, especialista em expansibilidade da inteligência, pesquisador da área de educação e de seus trabalhos como consultor educativo em diferentes contextos.
A obra está dividida em 11 capítulos, no primeiro capítulo, Claxton conta sua experiência como aprendiz ao se deparar em sua vida acadêmica com professores que não ficavam supervisionando suas atividades, o que ele nomeia como uma espécie de “negligência benigna”. Dessa forma, ele discorre sobre a necessidade que teve de se tornar o único responsável pela sua aprendizagem. Isso despertou em Claxton um interesse especial em pensar como poderia aprender melhor, exercitando assim, o que ele relata em toda a sua obra como “os músculos da aprendizagem”.
Justamente nesse ponto, a respeito de pensar sobre sua aprendizagem é que Claxton (p. 17) problematiza a situação atual da maioria das escolas. O autor denuncia que a escola não investe numa formação que desenvolva o pensamento dos seus alunos, e acabam por formar, mesmo que involuntariamente, “jovens apáticos, passivos, extrinsecamente motivados, dependentes, dogmáticos, tímidos, frágeis e crédulos”.
Para Claxton, estas escolas, avaliadas pelo desempenho dos seus alunos, se veem obrigadas a valorizar apenas as notas. Em contrapartida ele enfatiza a necessidade de investir num tipo de formação, que seja capaz de desenvolver: a curiosidade; a proatividade em relação ao interesse em apender; a mobilização da motivação intrínseca, ou seja, ir além de estudar para ganhar conceitos e notas, mas buscar a satisfação em desenvolver o aprendizado por algo que o desafie; a mente independente, que busque aprender, que seja participativa do processo de aprendizagem; a criticidade e o ceticismo, que devem ter como objetivo, a não confiança em tudo que lhe é apresentado, principalmente aquilo que não pareça confiável.
Realmente Claxton levanta questões recorrentes e problemáticas que enfrentamos a muito tempo em nossas escolas, além de elencar características essenciais para a formação de alunos que estejam aptos a atender as demandas desta sociedade. Mas em relação a sua tese baseada na sua experiência enquanto aluno, em que a falta de orientação de seu professor, o levou a buscar alternativas para melhorar a sua aprendizagem, não parece ser uma solução dialógica e capaz de ser eficiente para boa parte dos estudantes brasileiros.
Um ponto muito acentuado é o conceito de aprendizagem, ele reserva o capítulo 2, o qual é iniciado com a definição de três temas que têm uma relação similar: conhecimento, aprendizagem e poder da aprendizagem. Conhecimento é aquilo que o aprendiz sabe ou sabe fazer, enquanto a aprendizagem é uma mudança daquilo que ele sabe ou no modo como se faz alguma coisa. O poder da aprendizagem é descrito como a mudança na maneira como o indivíduo aprende. Nesse sentido, fica claro que para entender o poder da aprendizagem e consequentemente o MPA é necessário compreender bem o que é aprendizagem. Para isto, ele cita ao longo da obra várias referências sobre este conceito:
A aprendizagem compõe-se de um conjunto de habilidades sofisticadas (p. 83) as quais devem estar bem orquestradas entre si (p. 165), podendo ser treinadas e aprendidas por meio de exercícios (p. 83), para que cada uma dessas capacidades e atitudes de aprendizagem fiquem mais fortes (p.165). Vale lembrar que a aprendizagem não depende apenas da questão de habilidade, mas também de disposição (p. 43).
A aprendizagem não é apenas uma simples capacidade de crença, mas algo que envolve paixão e sentimento. [...] ela é cheia de sentimento. Portanto existe uma série de vocabulários que podem expressar os sentimentos envolvidos na aprendizagem: frustrado, surpreso, determinado, satisfeito, intrigado, bloqueado, fascinado, confuso, espantado, absorto, decepcionado, chocado, orgulhoso etc. (p. 44). A aprendizagem sempre envolve surpresas, decepções e frustrações (p. 45).
Junto a esses sentimentos, a aprendizagem também promove alegria, pois é uma das formas de felicidade mais prontamente que existem (p. 78).
Aprendizagem é um estado confuso e incerto (p. 125).
Aprendizagem não deve ser confundida com resultados de educação, ou seja, não significa “obter notas melhores”. Aprendizagem é processo (p. 155).
Aprendizagem para a vida das pessoas (casa, trabalho e vida social) envolve atitudes básicas como: curiosidade, ousadia, determinação e colaboração (p. 62). Além disso, a maior parte da aprendizagem que vale a pena para esse mundo real demanda “tempo, esforço, tentativa e erro” (p. 49).
É possível melhorar a aprendizagem, estimulando uma cultura em sala de aula que se baseie na ideia de que é possível aprender a aprender. Promover o diálogo sobre as questões de aprendizagem é um instrumento benéfico para os alunos (p. 75).
No capítulo 3, o autor discorre sobre o objetivo do Método o Poder da Aprendizagem:
O objetivo do Método do Poder da Aprendizagem (MPA) é desenvolver todos os alunos de modo a serem aprendizes confiantes e capazes - prontos, dispostos e hábeis a escolher, criar, pesquisar, buscar, resolver e avaliar a aprendizagem por si mesmo, sozinhos e acompanhados, dentro e fora da escola (CLAXTON, 2019, p. 41).
Segundo o autor, o método se propõe a preparar os alunos para os desafios e incertezas da vida futura. Para a escola, o MPA serve como um “trampolim” para aprendizagem, pois pretende ajustar todas as ferramentas disponíveis na “caixa de ferramentas” da aprendizagem, e deixar de focar apenas nas duas que são mais usuais na maioria das escolas: memorizar e repetir (p. 29-30). A “caixa de ferramentas” da aprendizagem apresenta ainda: a observação, a leitura, a crítica, a experimentação, a imaginação, o raciocínio, a imitação, a discussão, as reflexões e a prática.
O capítulo 4 descreve como começar a usar o MPA e sobre alguns ganhos rápidos que este pode proporcionar. No capítulo 5 demonstra por que o poder da aprendizagem é importante, e cita 10 bons motivos para exercitar os “músculos da aprendizagem”. No capítulo 6, novamente percorre sobre a aprendizagem, mas agora por meio do “poder da aprendizagem”. O capítulo 7 aborda a ação do poder da aprendizagem (PA), trazendo algumas ilustrações da sua utilização em sala de aula.
No capítulo 8 são apresentados os princípios de criação da sala de aula MPA. Os relatos de algumas evidências do MPA são encontradas no capítulo 9, e neste capítulo, o autor deixa algumas pistas de como seria este método, pois na verdade não há uma definição clara em toda a obra. Através dos casos de sucesso do MPA, ele cita atividades desenvolvidas nas escolas parceiras, depoimento de alunos e professores, com isto, entende-se que o MPA é um ensino preocupado com o pensamento dos alunos. E uma vez que os alunos dominam as ferramentas cognitivas de aprendizado, eles colocam em prática durante as atividades dirigidas na sala de aula pelo professor. A preocupação central do MPA é o desenvolvimento do pensamento, e o conteúdo específico das disciplinas, será consequência do desenvolvimento deste. Para finalizar, no capítulo 10 estão as distinções e concepções erradas, enquanto no capítulo 11, o autor relata sobre a importância de integrar a cultura a aprendizagem dos estudantes.
É uma leitura fluída e compacta que traz de forma didática temas discutidos na atualidade como: hábitos da mente de Art Costa e Bena Kallick, o desenvolvimento da mentalidade de crescimento (conhecido no Brasil como “mindset” de crescimento) de Carol Dweck, pensamento visível de David Perkins e Ron Ritchhart, desafio da aprendizagem (“buraco da aprendizagem”) de James Nottingham, dimensões da aprendizagem de Robert Marzano, centelhas de gênios de Robert e Michèle Root-Bernstein, e ainda, autorregulação, pensamento crítico, pensamento criativo, metacognição entre outros. O que torna o livro um catálogo de referências de estudiosos da aprendizagem contemporânea.
Mas vale ressaltar que não se trata de um livro acadêmico ou que possa ser tomado como um modelo exclusivo a ser praticado pelo professor. Deve ser encarado como uma obra baseada em um relato de experiência, e que cada professor ou aprendiz que deseje fazer uso do método apresentado por Claxton, deve levar em consideração a realidade que o cerca, fazendo as adaptações necessárias. Pois afinal de contas, a aprendizagem é processo, e cada um vai desempenhar o seu, por isto, aprender a aprender é possível, mas reconhecendo-se como autor da aprendizagem, e para isto, métodos e dicas de aprendizagem são úteis como parâmetros e boas práticas, mas não como fórmulas mágicas.