INTRODUÇÃO
A prática do esporte e o contexto de competição exigem do atleta capacidades que transpassam suas habilidades motoras, no que diz respeito ao seu desempenho individual e coletivo (ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014), remetendo o atleta a necessidades psicológicas que sejam capazes de auxiliá-lo nesse contexto (MACHADO, 2006), as quais são objeto de estudo a Psicologia do Esporte. No que tange a Psicologia do Esporte, inúmeros fatores são investigados como ansiedade, coesão de grupo e estado de humor (WEINBERG; GOULD, 2017), pois a literatura aponta que esses fatores influenciam o desempenho dos atletas (TERTULIANO; MACHADO, 2019). Nessa perspectiva, visando o controle do estado emocional, mais especificamente, o estado de humor, que é citado como um dos fatores que influenciam o desempenho esportivo (ALVES, 2017; LIRA et al., 2017; OLIVEIRA; FOGAGNOLI; VIEIRA, 2015), conduziu-se o presente estudo.
O estado de humor pode refletir estados emocionais, corporais e comportamentais do indivíduo, tanto como seus sentimentos, pensamentos e nível de motivação ao realizar uma determinada tarefa (WEINBERG; GOULD, 2017). Diante disso, o estado de humor é apontado como um fator que influencia o rendimento esportivo, podendo ser, essa influência, positiva ou negativa ao desempenho do atleta (BRANDT et al., 2010). A literatura aponta que o estado de humor possui diferentes variações de intensidades e de duração, variando entre algumas horas e alguns dias (TERRY, 1995). De acordo com Lane e Terry (2000), o estado de humor é composto por seis fatores, sendo cinco deles classificados como negativos (tensão, depressão, fadiga, raiva e confusão) e um positivo (vigor). Os mesmos autores defendem que comumente o humor envolve mais de um fator ao mesmo tempo, o que vai de encontro a literatura (BARRETO, 2017; WEINBERG; GOULD, 2017).
No contexto esportivo, o estado de humor é considerado como fator relevante, pois, como já citado, influencia o desempenho dos atletas, sobretudo em uma competição. Estudos indicam que atletas com estado de humor considerado positivo, no qual apresentam um nível elevado de vigor e níveis baixos de fadiga, confusão, raiva, tensão e depressão, tendem a demonstrar um rendimento mais positivo (BRANDT et al., 2010, 2014b, 2014a; NEVES et al., 2016; NUNES et al., 2014; ROHLFS et al., 2008; ROTTA, 2016). Esse perfil é caracterizado pela literatura como perfil iceberg (MORGAN, 1980) e que é apontado como o melhor perfil para o rendimento esportivo (BRANDT et al., 2014b; ROTTA, 2016).
Somado ao exposto, a literatura aponta que o estado de humor têm natureza transitória e temporária (MORGAN et al., 1988), ou seja, se altera durante uma competição, por exemplo, e, dessa forma, é relevante a compreensão dessa mudança para entender os seus efeitos no rendimento do atleta, justificando o presente estudo. A mudança de estado de humor pode ser atribuída a diversos fatores, tanto de forma mais individual e subjetiva, quanto relacionadas a questões externas, como por exemplo a pressão de um ambiente ou de uma competição, overtraining, altas exigências demandadas pela prática do esporte, curtos intervalos para recuperação, entre outros fatores que possam alterar o estado de humor do atleta (BRANDT et al., 2014b).
Assim, com o intuito de compreender a variação no estado de humor e, com isso preparar uma intervenção eficaz, a literatura apresenta alguns instrumentos que permitem avalia-lo (MCNAIR; LORR; DROPPLEMAN, 1971; TERRY, 1995; TERRY et al., 1999). Desses, a Escala de humor de Brunel (BRUMS) (TERRY et al., 1999) é mais utilizada no Brasil, pois apresenta uma versão traduzida e validada (ROHLFS et al., 2008).
A BRUMS foi utilizada em alguns estudos com atletas brasileiros (BARRETO, 2017; BRANDT et al., 2014a, 2014b; ESCOBAR; LACERDA, 2010; FORTES et al., 2017; LIRA et al., 2017; NEVES et al., 2016; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018; WERNECK et al., 2015). Todavia, de todos esses estudos, apenas três trabalhos (FORTES et al., 2017; LIRA et al., 2017; NUNES et al., 2014) foram conduzidos com atletas de Basquetebol, demonstrando a necessidade de mais estudos para compreender o estado de humor no Basquetebol. Além disso, os estudos apresentam conclusões que se divergem, ou seja, o estado de humor, no Basquetebol, apresenta-se inconclusivo, justificando o presente estudo.
Além de resultados inconclusivos, os estudos supracitados foram conduzidos em um único momento, ou seja, a característica transitória do estado de humor não foi avaliada, justificando novamente o presente estudo. Assim, a presente pesquisa teve o objetivo de investigar o estado de humor de atletas de Basquetebol das categorias de base de um Clube de São Paulo, comparando o estado de humor no início (abril de 2018) e no final (novembro de 2018) da temporada.
MÉTODO
Participantes
A amostra foi composta por 26 atletas das categorias de base de um clube da cidade de São Paulo. Todos os atletas eram do sexo masculino, federados, com idades entre 13 e 15 anos (M=14,19, DP=0,63), atletas de Basquetebol e participaram voluntariamente da pesquisa. Todos os atletas foram comandados, na temporada avaliada, pela mesma equipe técnica, e pertenciam a duas categorias do Basquetebol: sub-13 (12 participantes); sub-15 (14 participantes).
Em relação as posições dos jogadores, seis atletas atuaram como Ala, sete como Ala/Pivô, cinco como Amador, um como Lateral e sete como Pivô. Todos os participantes preencheram e assinaram o termo de assentimento e seus responsáveis o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
Instrumento
Foram utilizados dois instrumentos: a) Questionário de Caracterização Sociodemográfico; b) Escala de Humor de Brunel (BRUMS). O questionário de caracterização foi elaborado especificamente para o estudo, com questões relacionadas aos dados pessoais do atleta e posição que atuava. Para avaliação do estado de humor foi utilizada a BRUMS (TERRY et al., 1999), versão traduzida e validada para o Brasil (ROHLFS et al., 2008).
A BRUMS é composta por 24 itens que indicam a percepção do avaliado acerca dos itens. Essa percepção refere-se a sensações como as de insatisfação, disposição, raiva e nervosismo. A BRUMS possui uma escala do tipo Likert de 5 pontos (sendo 0 = nada a 4 = extremamente) para cada item. Nessa escala os itens são agrupados em seis subescalas, sendo cinco subescalas relacionadas ao estado de humor negativo: raiva (itens 7,11, 19, 22), confusão mental (itens 3, 9, 17, 24), depressão (itens 5, 6, 12,16), fadiga (itens 4, 8, 10, 21), tensão (itens 1, 13, 14, 18), e uma subescala relacionada ao estado de humo positivo: vigor (itens 2, 15, 20, 23). Com a soma das respostas de cada subescala obtém-se um escore, que pode variar de 0 a 16 pontos.
Procedimento
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Centro Universitário Adventista de São Paulo, sob o número de parecer: 2.597.647. Por se tratar de um estudo com seres humanos, respeitou-se os princípios legais que envolvem coletas de dados com seres humanos. Assim, todos os padrões éticos e metodológicos de pesquisas com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde (CNS), resolução 466/12, foram respeitados.
Após a devida autorização do Comitê de Ética de Pesquisa, realizou-se contato prévio com os responsáveis do clube, com o intuito de apresentar o objetivo da pesquisa, solicitando-se, assim, a permissão para a coleta. Com a devida permissão dos técnicos, realizou-se o contato com os atletas e seus responsáveis para informar os propósitos da pesquisa, informando-os sobre os objetivos do estudo. Os atletas que aceitaram participar da pesquisa, de forma voluntária, receberam o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e o termo de assentimento. Como os participantes eram menores de 18 anos, assinaram o termo de assentimento e seus responsáveis assinaram o TCLE.
O Questionário de Caracterização Sociodemográfico foi respondido apenas uma vez, sendo esse preenchimento realizado no início da temporada de 2018. A BRUMS foi respondida em dois momentos: no início da temporada de 2018 (abril), no dia da primeira partida do torneio e no final da temporada de 2018 (novembro), no dia do jogo final das equipes, o que coincidiu com as finais do torneio para as duas categorias (sub-13 e sub-15).
Para garantir a confiabilidade das informações coletadas, os questionários foram respondidos individualmente na presença de ao menos um dos pesquisadores. Assim, não houve troca de informações entre os atletas durante a aplicação dos instrumentos de coleta. Os atletas responderam aos questionários, em média, dentro de 15 minutos. Todas as informações foram transferidas para uma planilha eletrônica da Microsoft® (Excel, versão 2016), o que auxiliou na análise dos resultados.
Análise Estatística
Como o número de participantes era pequeno, houve a necessidade de testar a normalidade e a homogeneidade de variância dos dados. Tais análises foram realizadas por meio dos testes Kolmogorov-Smirnov (K-S) para normalidade e do teste de Levene para homogeneidade de variância. Esses procedimentos foram adotados nos questionários respondidos no início e no final de temporada de forma separada. As análises inferenciais assumiram o valor de p ≤ 0,05 para níveis de significância.
Como os dados apresentaram distribuição normal (p<0,05) para o questionário aplicado no início da temporada, mas não apresentaram distribuição normal (p>0,05) para o final da temporada, bem como não apresentaram homogeneidade de variância (p>0,05) para ambos os momentos de coleta, foram utilizados testes não paramétricos e a caracterização dos resultados foi apresentada com o uso de Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3).
Com o intuito de avaliar a confiabilidade das subescalas do instrumento, ou seja, avaliar a consistência interna das subescalas da BRUMS em cada momento de coleta, utilizou-se do alfa de Cronbach (α de Cronbach). Foram assumidos valores entre 0,7 e 0,8 como aceitáveis para o α (FIELD, 2009), referente a cada subescala e momento de coleta de forma isolada. Para avaliação da fidedignidade teste-reteste foi utilizado o coeficiente de correlação intraclasses entre os itens e as subescalas do instrumento. Os valores de correlação assumidos foram os propostos por Hopkins (2002), em que <0,10 (trivial), 0,10 a 0,30 (baixa), 0,31 a 0,50 (moderada), 0,51 a 0,70 (alta), 0,71 a 0,90 (muito alta), 0,91 a 0,99 (quase perfeita) e 1 (perfeita).
Como sequência das análises, avaliou-se as diferenças entre as subescalas para cada momento de coleta, utilizando-se do teste de Friedman. Concernente a localização das diferenças, utilizou-se o post hoc de Wilcoxon. Para controle do erro tipo 1, foi utilizado o procedimento sequencial Holm de Bonferroni (GREEN; SALKIND; AKEY, 2000). Por fim, para as análises entre os momentos de coleta (início da temporada versus final da temporada), utilizou-se o teste de Wilcoxon. Todas as análises foram realizadas com o auxílio do IBM SPSS Statistics®, versão 22.
RESULTADOS
Em relação a confiabilidade das subescalas, o alpha de Cronbach revelou bons índices de confiabilidade no início (α > 0,496) e no final da temporada (α > 0,525), ou seja, o índice de consistência interna geral do instrumento foi satisfatório nos dois momentos de coleta. Porém, como o instrumento é multidimensional, houve a necessidade de calcular a confiabilidade de cada fator isoladamente, o que foi realizado para cada momento de coleta.
Os valores de confiabilidade para cada subescala no início da temporada variaram entre 0,496 e 0,821 (Tabela 1), tendo a correlação item-subescala variado entre 0,313 e 0,738. Esses resultados indicam correlação entre moderada e muito alta entre os itens e a subescala a qual ele pertence.
Subescala | Item número | α | Correlação item-subescala |
---|---|---|---|
Raiva | 7, 11, 19, 22 | 0,774 | 0,738/0,518/0,594/0,483 |
Confusão Mental | 3, 9, 17, 24 | 0,607 | 0,579/0,621/0,448/0,464 |
Depressão | 5, 6, 12, 16 | 0,496 | 0,405/0,478/0,378/0,313 |
Fadiga | 4, 8, 10, 21 | 0,733 | 0,597/0,453/0,476/0,568 |
Tensão | 1, 13, 14, 18 | 0,582 | 0,322/0,582/0,318/0,471 |
Vigor | 2, 15, 20, 23 | 0,821 | 0,722/0,657/0,699/0,462 |
Fonte: os autores
Referente às análises do final da temporada, os valores de confiabilidade, para cada subescala, variaram entre 0,525 e 0,906, tendo a correlação item-subescala variado entre 0,365 e 0,865 (Tabela 2). Esses resultados indicam correlação entre moderada e muito alta entre os itens e a subescala a qual ele pertence. Tais informações foram similares as encontradas nas análises do início da temporada.
Subescala | Item número | α | Correlação item-subescala |
---|---|---|---|
Raiva | 7, 11, 19, 22 | 0,906 | 0,790/0,772/0,803/0,765 |
Confusão Mental | 3, 9, 17, 24 | 0,525 | 0,516/0,365/0,478/0,591 |
Depressão | 5, 6, 12, 16 | 0,651 | 0,659/0,491/0,413/0,519 |
Fadiga | 4, 8, 10, 21 | 0,647 | 0,436/0,481/0,583/0,728 |
Tensão | 1, 13, 14, 18 | 0,565 | 0,651/0,401/0,391/0,513 |
Vigor | 2, 15, 20, 23 | 0,858 | 0,691/0,865/0,615/0,588 |
Fonte: os autores
Tratando-se agora da análise do início da temporada, observa-se que a subescala com maior escore foi a subescala Vigor (Md=11,00), seguida da subescala Tensão (Md=3,50) (Tabela 3). Tais informações foram confirmadas pelas análises inferenciais, pois o teste de Friedman apresentou diferença significante entre as subescalas [x2 (5) = 76,959; p < 0,0001].
Concernente a localização, o teste de Wilcoxon demonstrou que a subescala Vigor apresentou escores superiores as demais (p<0,003, valor ajustado) e que a subescala Tensão, dentre os fatores negativos do humor, apresentou escores superiores as subescalas: Depressão, Raiva, e Confusão Mental (p<0,003, valor ajustado). Esses resultados demonstram que no início da temporada os atletas apresentavam estado de humor positivo, pois a subescala Vigor foi significativamente superior as demais subescalas.
Subescalas | Itens |
---|---|
Raiva | 1,00 (0,00; 3,25) |
Confusão Mental | 1,00 (0,00; 2,25) |
Depressão | 1,00 (0,00; 1,25) |
Fadiga | 2,00 (1,75; 3,00) |
Tensão | 3,50 (1,00; 5,00) |
Vigor | 11,00 (7,00; 12,25) |
Fonte: os autores
Tratando-se dos resultados acerca do final da temporada, pode-se observar que a subescala Vigor obteve os maiores escores (Md=13,50), seguida da subescala Tensão (Md=5,00) (Tabela 4), demonstrando similaridade os resultados do início da temporada. Tais informações foram suportadas pela análise inferencial, pois o teste de Friedman apresentou diferença significante entre as subescalas [x2 (5) = 91,194; p < 0,0001].
Concernente a localização, o post hoc demonstrou que a subescala Vigor apresentou escores superiores as demais (p<0,003, valor ajustado) e que a subescala Tensão apresentou escores superiores as demais subescalas que representam o humor negativo (p<0,003, valor ajustado). Esses resultados demonstram que no final da temporada os atletas apresentaram elevados escores para subescala Vigor, o que é caracterizado como estado de humor positivo.
Subescalas | Itens |
---|---|
Raiva | 0,00 (0,00; 1,25) |
Confusão Mental | 1,00 (0,00; 2,00) |
Depressão | 0,00 (0,00; 1,00) |
Fadiga | 0,00 (0,00; 2,00) |
Tensão | 5,00 (3,00;65,00) |
Vigor | 13,50 (9,75; 15,25) |
Fonte: os autores
Comparando-se agora os resultados dos dois momentos da coleta (início da temporada versus final da temporada), pode-se observar diferenças entre o início e o final da temporada para cinco subescalas (Raiva, Depressão, Fadiga, Tensão e Vigor) (Tabela 5). Tais observações foram parcialmente confirmadas pelas análises inferenciais, pois o teste de Wilcoxon apresentou diferença significante apenas para três subescalas: Fadiga (p=0,001); Tensão (p=0,015); Vigor (p=0,017). Tais resultados demonstram que as subescalas Vigor e Tensão aumentaram os escores do início para o final da temporada e a subescala Fadiga diminuiu.
Subescalas | Início da Temporada | Final da Temporada | Z | P |
---|---|---|---|---|
Md (Q1; Q3) | Md (Q1; Q3) | |||
Raiva | 1,00 (0,00; 3,25) | 0,00 (0,00; 1,25) | -0,982 | 0,326 |
Confusão Mental | 1,00 (0,00; 2,25) | 1,00 (0,00; 2,00) | -0,721 | 0,471 |
Depressão | 1,00 (0,00; 1,25) | 0,00 (0,00; 1,00) | -1,430 | 0,153 |
Fadiga | 2,00 (1,75; 3,00) | 0,00 (0,00; 2,00) | -3,199 | 0,001* |
Tensão | 3,50 (1,00; 5,00) | 5,00 (3,00;65,00) | -2,439 | 0,015* |
Vigor | 11,00 (7,00; 12,25) | 13,50 (9,75; 15,25) | -2,390 | 0,017* |
* Diferença significativa: p < 0,05
Fonte: os autores
Em síntese, os resultados do presente estudo demonstraram que a BRUMS apresentou bons índices de confiabilidade e que os atletas apresentaram um estado de humor positivo, pois tanto no início, quanto no final da temporada, a subescala Vigor obteve os maiores escores. Em relação as comparações entre o início e o final da temporada, os atletas aumentaram os escores das subescalas Vigor e Tensão, além de diminuírem os escores da subescala Fadiga.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo, investigar o estado de humor de atletas de Basquetebol das categorias de base de um Clube de São Paulo, comparando o estado de humor no início e no final da temporada. Para isso, utilizou-se da Escala de Humor de Brunel (BRUMS), traduzida e validada para o Brasil (ROHLFS et al., 2008). A versão traduzida e validada para o Brasil demonstrou, em outros estudos, bons resultados de validade e fidedignidade (BRANDÃO et al., 2015; LIRA et al., 2017; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018; TERTULIANO et al., 2020). Dessa forma, os resultados do presente estudo corroboram os resultados dos estudos supracitados, no que se refere a fidedignidade do instrumento utilizado.
Em relação aos resultados do presente estudo, a subescala Vigor foi a subescala com os maiores escores no início e no final da temporada. Além disso, no início da temporada e no final da temporada a subescala Tensão foi a subescala do estado de humor negativo que apresentou os maiores escores, porém significativamente menores que a subescala Vigor. Tais resultados corroboram a literatura (BRANDÃO et al., 2015; LIRA et al., 2017; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018), demonstrando que os atletas apresentaram um estado de humor positivo no início e no final da temporada, o que é caracterizado pela literatura de perfil iceberg (MORGAN, 1980), perfil considerado como o ideal para o rendimento esportivo (MORGAN et al., 1988; SILVA et al., 2018; TERTULIANO et al., 2020).
Todavia, deve-se apontar que entre as subescalas negativas do humor, a subescala Tensão foi a que apresentou os maiores escores nos dois momentos da temporada. A tensão é um estado de preocupação (TERRY, 1995), o que pode ter relação com o estresse, com a expectativa de bons resultados e com o medo de não render o esperado (NUNES et al., 2014; TREVISAN et al., 2017; WEINBERG; GOULD, 2017). Diante disso, a subescala Tensão ter apresentado escores superiores as demais subescalas que representam o humor negativo, parece aceitável, pois os testes foram aplicados horas antes dos jogos (tanto no início quanto no final da temporada).
De acordo com a literatura, os atletas tendem a apresentar sinais de ansiedade pré-competitiva horas antes dos jogos (PONS et al., 2018), o que pode ter influenciado os níveis de Tensão (GULLIVER et al., 2012; PELUSO; ANDRADE, 2005; WEINBERG; GOULD, 2017). Morgan (1980) aponta que existe correlação entre elevados níveis de ansiedade e estado de humor negativo, o também é apontado por outros autores (BRAND et al., 2010; BRANDT et al., 2014a). Entretanto, essa relação não foi objeto de estudo no presente manuscrito, e tais apontamentos são possíveis explicações para os resultados encontrados. Além disso, independentemente dessa diferença entre as subescalas de humor negativo, a subescala Vigor apresentou os maiores escores nos dois momentos da coleta, ou seja, o humor positivo foi estatisticamente superior ao humor negativo, em ambos os momentos.
Retornando aos resultados do presente estudo, os atletas demonstraram pouca variação entre o início e o final da temporada, no que se refere ao estado de humor. Entre as variações, observou-se que as subescalas Vigor e Tensão apresentaram maiores escores no final da temporada e que a subescala Fadiga diminui o escore no final da temporada. Observou-se também, aumento dos escores da subescala Vigor. Esses resultados demonstraram que os atletas, quando comparados entre o início e o final da temporada, demonstraram, em termos gerais, melhorias do estado de humor positivo, pois a subescala Vigor aumentou o escore entre o início e o final da temporada.
A elevação dos escores da subescala Vigor pode estar relacionada a dois fatores: conquistas da equipe no decorrer da competição e aumento da coesão de grupo no decorrer da competição. Enquanto conquistas, a literatura aponta que os atletas que acumulam vitórias tendem a sentir-se mais confiantes e motivados (GOUVÊA, 2009; SAMULSKI, 2009; SILVA et al., 2016). Diante disso, como os atletas foram avaliados no jogo final da competição, é possível supor que eles acumularam muitas vitórias no decorrer da competição, o que contribui com a motivação dos mesmos na competição e, consequentemente, com o aumento dos escores da subescala Vigor.
Somado a isso, a literatura aponta relação positiva entre coesão de grupo e estado de humor positivo (BRANDT et al., 2010; ROHLFS et al., 2004). Vieira et al. (2008) sugerem que o estado de humor positivo está associado a elevados níveis de coesão de grupo, corroborando os apontamentos de outros estudos (BRANDT et al., 2010; ROHLFS et al., 2004). Brandt et al. (2010) investigaram o estado de humor de velejadores após regatas do Pré-Panamericano de Vela. Para isso, os autores utilizaram 18 atletas de classes individuais ou de dupla. Os resultados demonstraram que os atletas de classes individuais apresentaram maiores escores para os fatores que caracterizam o perfil de humor negativo, comparados aos atletas de classes com dois tripulantes. Os autores associaram o melhor perfil de humor dos atletas de classes com dois tripulantes à coesão de grupo.
No presente estudo, como o estado de humor positivo aumentou entre o início e o final da temporada, pode-se supor que no decorrer da competição a equipe ficou mais próxima, atuou em prol do mesmo objetivo e, assim, melhorou a coesão de grupo, o que contribuiu com os melhores resultados da subescala Vigor. Para Apple (1993), quando existe coesão de grupo, os atletas rendem mais e se unem em prol de um objetivo comum, o que reflete positivamente na saúde emocional do atleta. Diante disso, pode-se dizer que a coesão de grupo pode ter influenciado positivamente nos melhores resultados da subescala Vigor. Todavia, essa hipótese explicativa não foi testada, sendo apresentada como uma possível explicação dos resultados e demonstrando uma limitação do estudo, ou melhor, uma perspectiva futura de estudos.
No que se refere a subescala Tensão, os resultados demonstraram elevação de escore no final da temporada, mas como já citado, isso pode ter relação com a preocupação dos atletas frente a final do campeonato, pois os dados do segundo momento foram coletados no jogo final do campeonato. A literatura aponta que os atletas tendem a se preocupar com o possível resultado de um jogo momentos antes do mesmo (BOAS et al., 2012), mas que isso é potencializado quando o jogo é a final do campeonato (NASCIMENTO JUNIOR et al., 2016).
A incerteza do resultado final do jogo, bem como a pressão que é exercida sobre o atleta pelos torcedores, patrocinadores e comissão técnica, podem influenciar os níveis de ansiedade pré-competitiva (FERNANDES; VASCONCELOS-RAPOSO; FERNANDES, 2012) e, assim, fazer com que os escores da subescala Tensão se elevem, como ocorreu quando se comparou o início e o final da temporada no presente estudo. Todavia, como já citado, essa relação não foi objeto de estudo e tais apontamentos são hipóteses explicativas para os resultados encontrados, demonstrando perspectivas futuras de estudo.
Enquanto rendimento, a literatura aponta que o perfil de humor positivo, caracterizado por elevadores escores da subescala Vigor e baixos escores das subescalas tensão, raiva, depressão, confusão mental e fadiga é considerado o ideal para o rendimento atlético (ALVES, 2017; BARRETO, 2017; BORSOI et al., 2019; BRANDT et al., 2014a; FORTES et al., 2017; KEATING et al., 2018; LIRA et al., 2017; ROHLFS et al., 2008; TERTULIANO et al., 2020). Este perfil é denominado de perfil iceberg (MORGAN, 1980). Assim, os resultados do presente estudo, independentemente do momento da temporada, corroboram a literatura (BRANDT et al., 2014a; ESCOBAR; LACERDA, 2010; LIRA et al., 2017; MORGAN et al., 1988; ROHLFS et al., 2008; ROTTA, 2016; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018; TERTULIANO et al., 2020; WERNECK et al., 2015), demonstrando que os atletas de esportes coletivos tendem a apresentar um perfil positivo de humor.
Rotta (2016) avaliou o perfil de humor de atletas masculinos de Voleibol e Tênis, todos de alto-rendimento. Os resultados demonstraram que os atletas de Voleibol apresentaram maiores escores para subescala Vigor, enquanto que os atletas de Tênis apresentaram maiores escores para subescalas: Tensão e Fadiga. Diante de tais resultados, os autores concluíram que a modalidade esportiva influencia o estado de humor, ou seja, os atletas de esportes coletivos apresentam um perfil de humor positivo, assim como o encontrado no presente estudo.
Resultados parecidos foram encontrados por Rotta, Rohlfs e Oliveira (2014), quando avaliaram atletas de alto rendimento de Voleibol. Os resultados desse estudo demonstraram que a subescala Vigor obteve os maiores escores, o que levou os autores a concluírem que os atletas de Voleibol investigados apresentaram um perfil de humor positivo. Uma das explicações para os resultados de maiores escores para subescala Vigor junto a atletas de esportes coletivos, caracterizando-os com um perfil de humor mais positivo que os atletas de esportes individuais (BRANDT et al., 2014b; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014), pode ter relação com a coesão de grupo da equipe, assunto já discutido acima.
Além da coesão de grupo, outro fator que pode ter influenciado os resultados do presente estudo, diz respeito ao perfil de liderança da comissão técnica. De acordo com Rohlfs et al. (2008), o técnico influencia o estado de humor dos atletas, pois ele é responsável por manipular as cargas e a intensidade de treino, o que são apontados pela literatura, como variáveis que influenciam o estado de humor (VIEIRA et al., 2013).
Para Vieira et al. (2013) o treinador deve utilizar-se de sua influência junto ao atleta para criar estratégias que influenciem o desenvolvimento psicológico do atleta, como por exemplo a melhoria do estado de humor. Tal informação demonstra a importância do técnico no contexto em que o atleta está inserido, uma vez que sua influência pode ser determinante para que o grupo se sinta satisfeito com o que lhe é cobrado e com a equipe que é pertencente (GOMES; MACHADO, 2010; MESQUITA et al., 2009; RIBEIRO, 2016). Entretanto, como já apontado, essa associação de variáveis não foi investigada no presente estudo, e tais informações são possíveis explicações para os resultados encontrados.
No que se refere as comparações entre o início e o final da temporada, observou-se diminuição nos escores da subescala Fadiga. Tal diminuição pode ter relação com os elevados valores da subescala Vigor, pois, de acordo com a teoria de Morgan (1980), quando a atleta apresente elevados escores de estado de humor positivo, ele também apresenta menores escores de estado de humor negativo. Como no presente estudo a subescala Vigor aumentou os escores no final da temporada, era esperado que os fatores que caracterizam o estado de humor negativo diminuíssem, o que ocorreu no presente estudo apenas para subescala Fadiga.
Todavia, tais resultados reforçam os resultados apresentados pela literatura, no que se refere a relação entre elevados níveis de estado de humor positivo e os baixos níveis de estado de humor negativo (ROTTA, 2016; TERTULIANO et al., 2020; VIEIRA et al., 2008). Por fim, os resultados do presente estudo demonstraram que os atletas do presente estudo apresentaram o perfil de humor caracterizado com perfil iceberg, o qual é caracterizado como estado de humor positivo e ideal para o rendimento esportivo.
CONCLUSÃO
Com base nos resultados do presente estudo, pode-se concluir que os atletas investigados apresentaram, no início da temporada, um perfil positivo do estado de humor, o que foi mantido no final da temporada. Esse perfil é denominado pela literatura como perfil iceberg (MORGAN, 1980; MORGAN et al., 1988), sendo considerado, pela literatura, como o perfil ideal para o rendimento esportivo (BRANDT et al., 2014a, 2014b; ESCOBAR; LACERDA, 2010; LIRA et al., 2017; NEVES et al., 2016; NUNES et al., 2014; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018; TERTULIANO et al., 2020; WERNECK et al., 2015).
Tratando-se das limitações do estudo, o mesmo apresenta algumas que são apresentadas a seguir. Uma das limitações do estudo diz respeito ao uso de atletas de apenas um clube e de uma única modalidade esportiva, o Basquetebol. Além disso, destaca-se como limitação a participação somente de atletas masculinos e a não relação dos resultados obtidos com outras variáveis como a ansiedade e a coesão de grupo.
Diante disso, recomenda-se que estudos futuros sejam conduzidos buscando sanar as limitações do presente estudo, ou seja, que novos estudos, considerando uma população de ambos os sexos, de outras modalidades esportivas, de outros clubes, que comparem os resultados com as variáveis ansiedade e/ou coesão de grupo, sejam conduzidos, para que possam auxiliar os técnicos e psicólogos do esporte nas possíveis estratégias adotadas para melhoria do estado de humor positivo junto aos atletas.