Introdução
Esta pesquisa teve a proposta de apresentar a análise de artigos que abordam temas como: a geração Z (faixa etária dos estudantes que participaram desta investigação e iniciaram seu ingresso no mercado de trabalho em 2020); a disciplina de Logística no ambiente escolar; e as ferramentas de aprendizagem utilizadas por esses estudantes. Tais estudos deram suporte para a compreensão dessas diversas ferramentas usadas pelos alunos do curso técnico em Administração de um campus do Instituto Federal do Espírito Santo, focando a importância da disciplina de Logística e sua aplicação prática no mercado.
Os pesquisadores Toledo, Albuquerque e Magalhães (2012), Iorgulescu (2016), Mathur e Hameed (2016), Rodrigues e Zatz (2016), Martini, Sotille e Matins (2017) e Reis e Tomaél (2017), denominam a geração Z de “nativos digitais”, indivíduos que já nasceram com o uso disseminado da tecnologia e buscam novas formas de aprendizagem por meio de diferentes plataformas tecnológicas (Saboia; Vargas; Viva, 2013; Silva; Prates; Ribeiro, 2016; Ziede; Silva; Pegoraro, 2016; Reis; Tomaél, 2017; Afshar et al., 2019; Carvalho et al., 2019).
Mannhein (1952), um dos estudiosos precursores de temas geracionais, afirma que uma geração está intrinsecamente ligada às experiências de vida compartilhadas e ao contexto histórico no qual está inserida. Destarte, este estudo possui como uma das bases para classificar a geração Z o contexto tecnológico em que ela esteve presente desde o nascimento.
Dessa forma, o objetivo geral deste estudo foi analisar a percepção desses jovens, futuros ingressantes no mercado de trabalho e pertencentes à geração Z, sobre a disciplina de Logística e as ferramentas de aprendizagem utilizadas por eles, de maneira que se possa propor estratégias de aprendizagem teórico-práticas baseadas nas preferências e identidades desses discentes.
Com a premissa de analisar os anseios e as expectativas na aprendizagem desses alunos, este estudo propõe uma reflexão referente à temática da logística e à utilização de diferentes ferramentas de aprendizagem no âmbito acadêmico, conjecturando o impacto prático de tal disciplina no mercado de trabalho. Acredita-se que a contribuição desta investigação ultrapassa as fronteiras acadêmicas, pois pode proporcionar uma análise prévia das aspirações dos futuros profissionais (da geração Z) de logística em relações mercadológicas futuras. Outro fator importante a ser observado neste trabalho é que a pesquisa proporciona ao aluno apontamentos de algumas estratégias que podem facilitar seu próprio aprendizado, deixando, assim, o discente como agente ativo e transformador do seu processo de ensino-aprendizagem.
Ademais, este estudo buscou suprir algumas lacunas, como a necessidade de desenvolver competências profissionais nos estudantes por meio da disciplina de Logística (Georges; Seydell, 2008); identificar as ferramentas de aprendizagem (tecnológicas ou não) utilizadas em sala de aula por estudantes da geração Z (Moreira; Andrade; Silva, 2017); e buscar novas formas de aprendizagem adequadas aos profissionais da nova geração, para que cheguem mais preparados ao mercado de trabalho (Novaes et al., 2016).
Tendo em vista que essa é uma geração que iniciou seu ingresso no mercado de trabalho em meados de 2020, uma pesquisa que abranja esse lapso temporal pode ter impactos significativos na carreira desses estudantes, de maneira que possam ser identificados eventuais vieses na condução da disciplina teórica. Por conseguinte, espera-se que tal trabalho contribua com o processo de ensino-aprendizagem dos alunos dos cursos de Administração pertencentes à geração Z.
Referencial teórico
A geração Z, o mercado de trabalho e as ferramentas de aprendizagem
Green e MacCann (2021) acreditam que os estudantes da geração Z são “famintos” por informações rápidas e claras devido ao contato com a internet, os meios de comunicação e outros recursos tecnológicos desde a infância, fatores que explicariam o motivo pelo qual eles demonstram impaciência em relação às atividades do dia a dia que não envolvem a praticidade das tecnologias.
Pautando-se nisso, é possível conceber que essa geração tem peculiaridades e métodos de aprendizagem diferenciados, quando comparada às demais gerações (Silva; Prates; Ribeiro, 2016; Ziede; Silva; Pegoraro, 2016; Reis; Tomaél, 2017; Carvalho et al., 2019). Segundo Moreira e Araújo (2018), se comparadas a gerações anteriores, aquelas mais novas tendem a apresentar anseios e expectativas peculiares em relação ao trabalho, o que permite entender que tais fatores precisam ser considerados pelas instituições de ensino durante o processo de ensino e aprendizagem, no intuito de atender à nova configuração geracional que está sendo preparada para atuar no mercado e na sociedade de forma participativa e reflexiva.
Reis e Tomaél (2017) ressaltam uma questão preocupante quando analisado o aprendizado coletivo em sala de aula, pois os autores acreditam que os indivíduos da geração Z parecem não sentir necessidade da presença física, manifestando bastante interesse no entretenimento tecnológico digital. Os autores destacam que essa geração, pelo hábito constante de utilização da tecnologia e acesso fácil e rápido à informação, possui dificuldades quando colocada para realizar atividades que não estejam em plataformas tecnológicas, como os smartphones (Reis; Tomaél, 2017; Filipe; Nobre, 2019). Toledo, Albuquerque e Magalhães (2012) acreditam que os estudantes da geração Z necessitam de práticas pedagógicas que envolvam uma metodologia instigante, que utilizem tecnologias de forma motivadora e criativa.
Por meio de uma pesquisa realizada com gestores, Colet e Mozzato (2019) destacam o “imediatismo” como uma característica inerente aos jovens da geração Z. Tal imediatismo pode ser encontrado nos mais diversos aspectos dos anseios dessa geração, desde a ascensão rápida na carreira até o aumento salarial no cargo (Santos, 2019).
Ainda em relação ao mercado de trabalho, Berdu et al. (2015) elencaram outros fatores que esses jovens consideram importantes ao ingressarem em suas carreiras, como boa remuneração, plano de carreira e autorrealização. Esses são pontos que vão ao encontro da ascensão da carreira de logística no mercado, pois é uma área que vem se apresentando cada vez mais estratégica para as empresas, o que pode representar maiores salários e, consequentemente, melhores planos de carreira, além da possibilidade de esses jovens da geração Z se tornarem autorrealizados, pois trabalharão com diversas ferramentas tecnológicas de apoio à logística, tecnologias essas que acompanham essa geração desde o nascimento (Toledo; Albuq uerque; Magalhães, 2012; Iorgulescu, 2016; Mathur; Hameed, 2016; Rodrigues; Zatz, 2016; Martini, Sotille; Matins, 2017).
Porém, quando se pretende trabalhar com ferramentas tecnológicas, Valente (1997) ressalta que, ao selecionar um recurso digital, é de extrema importância conhecer o nível de envolvimento dos alunos com as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), de maneira que eles possam utilizar tais ferramentas como motivadoras em seu processo de ensino-aprendizagem, não as tornando causadoras de desmotivação, caso o discente as desconheça por completo. Por isso, o autor propõe que o docente faça uma intervenção, de modo a agregar valor com os recursos digitais utilizados, propiciando a interatividade e despertando o interesse para o aprendizado.
De forma a complementar tal assertiva, Silva (2005) ressalta a importância do professor em transformar esses jovens da geração Z em agentes ativos no processo de ensino-aprendizagem. Segundo o autor, os docentes podem tornar o processo de utilização de recursos digitais pelos alunos mais interessante e dinâmico, de maneira que os discentes fiquem mais motivados a compreender as disciplinas em sala de aula. Foi o que observaram Brochado e Hornink (2020) em seus estudos, quando os alunos assumiram papel de autores utilizando o software digital Scratch em seu processo de ensino-aprendizagem.
O processo de ensino-aprendizagem da geração Z e a disciplina de Logística
O ensino de disciplinas como a de Logística para o aprendizado de estudantes que não possuem interação com o mercado de trabalho pode se tornar complexo e abstrato em muitos casos. Como exposto por Fernandes (2015), alunos que estudam em tempo integral e não possuem contato com o mercado de trabalho necessitam de um “olhar” diferenciado para o aprendizado em Logística. O autor ainda expõe a aplicação de jogos como uma das estratégias para explorar ao máximo o potencial do discente. Por conseguinte, este estudo propõe conhecer um pouco mais o perfil do aluno da geração Z, em relação a seus interesses na disciplina de Logística, no intuito de estabelecer estratégias pedagógicas teórico-práticas de aprendizado.
Outra alternativa para melhor compreensão da disciplina citada seria a implementação de uma “metodologia ativa”, como propõem Vales e Santos (2018). Os pesquisadores afirmam que a instituição escolar deve buscar formar profissionais como sujeitos sociais, desenvolvendo competências técnicas e políticas, e potencializar o uso do raciocínio crítico e analítico perante o mercado de trabalho. Os autores ainda propuseram para seus alunos uma aprendizagem baseada em problemas, na qual os discentes buscavam um exemplo prático fora do ambiente escolar para resolver problemas logísticos. Em relação a esse ponto, a pesquisa visa contribuir para a reflexão sobre a relevância de práticas de aprendizagem significativas.
Georges e Seydell (2008) acreditam que a Logística abrange um conhecimento multidisciplinar, de várias ramificações da ciência da Administração, proporcionando aos estudantes uma visão ampla e profunda, de maneira a entenderem o caráter estratégico que a logística pode ter para uma empresa se manter competitiva no mercado. De acordo com os autores, o ensino da disciplina de Logística deve compreender muito bem o problema, que pode afetar a alavancagem de uma organização, por exemplo, se o profissional não souber utilizar a tecnologia de apoio à decisão adequada, talvez, o problema não será resolvido.
Ainda, há que se pensar nas expectativas da geração Z para a aprendizagem em plataformas educacionais diferentes daquelas consideradas “tradicionais” do ensino em sala de aula, conforme Schwieger e Ladwig (2018). Os autores ressaltam a importância de avaliar o processo de ensino-aprendizagem dessa geração em sala de aula aliado às tecnologias utilizadas.
Por isso, Carter (2018) acredita ser importante responder algumas questões relacionadas ao contexto escolar desses estudantes, como: o uso de dispositivos móveis está sendo dissipado no planejamento dos professores em sala de aula? Estes estão sendo preparados adequadamente para utilizarem um ambiente educacional com programas de aprendizagem computadorizados? Tais questionamentos fazem parte do dia a dia escolar e precisam ser adaptados aos anseios de uma geração que cresceu com o uso disseminado de tecnologia.
No intuito de aliar metodologias mais modernas ao processo de ensino-aprendizagem, Novais et al. (2020) realizaram um estudo em que avaliaram diversos jogos educacionais voltados à disciplina de Logística, demonstrando como tais jogos poderiam contribuir para o aprendizado prático com relação à tomada de decisões, à resolução de problemas, ao trabalho em equipe e à comunicação no ambiente escolar.
Assim como neste estudo, pretende-se suscitar os anseios e as expectativas dos jovens da geração Z quanto às ferramentas de aprendizagem que seriam mais efetivas para utilizarem na prática. Martins e Flink (2012) e Susilo et al. (2019) acreditam que, para liderar esses jovens no mercado de trabalho, também se faz necessário conhecer os diversos aspectos intrínsecos e extrínsecos dessa geração.
Metodologia
O contexto da pesquisa se deu em um dos campi do Instituto Federal do Espírito Santo, localizado na região serrana, com estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio, entre 14 e 19 anos. O local de pesquisa foi ao encontro das análises realizadas por Nascimento, Cavalcanti e Ostermann (2020), nas quais um instituto federal visa proporcionar aprendizado nas mais diversas áreas aos seus discentes, extrapolando a sala de aula e fornecendo subsídios para um conhecimento desde o ensino técnico-profissional até o acadêmico graduado.
Tais estudantes estavam matriculados no curso técnico integrado em Administração. A pesquisa foi feita no ano de 2018, durante todo o mês de outubro, nos turnos matutino e vespertino.
Foi realizada uma breve explicação sobre a temática e o objetivo geral no intuito de informar os estudantes do que se tratava o estudo. Após esse apontamento inicial, os alunos foram orientados a responder um questionário no laboratório de informática do campus.
A coleta de dados se deu com o auxílio de um professor ministrante da disciplina de Logística no laboratório de informática. O professor estava disponível para que os discentes pudessem pedir ajuda caso necessitassem de interpretação em alguma questão proposta no questionário. A intervenção pedagógica ocorreu para que os estudantes conhecessem a pesquisa e a forma de proceder para responder o questionário. Tal proposta dialoga com as ideias de Damiani (2012) e Damiani et al. (2013) e, ainda, com as pesquisas de Chiofi e Oliveira (2014) e Fonfoca, Schoninger e Costa (2018) relacionadas à utilização de ferramentas tecnológicas no processo de ensino-aprendizagem.
A pesquisa é exploratória e foi realizada coletando respostas dos 278 alunos do curso técnico integrado em Administração do campus.
Na etapa de coleta de dados, foi aplicado um questionário composto por perguntas abertas e fechadas (Creswell, 2021), utilizando a ferramenta Google Docs, com intuito de suscitar as aspirações de 278 jovens da geração Z (nascidos entre os anos de 1998 a 2003) e o uso de ferramentas de aprendizagem em seus estudos. A ferramenta Google Docs foi empregada por se apresentar como uma plataforma mais prática e conhecida pela maioria dos estudantes.
O questionário utilizado teve por base a escala Likert com mensuração de 1 a 5, sendo: 1 - discordo plenamente; 2 - discordo; 3 - não concordo nem discordo; 4 - concordo; 5 - concordo plenamente, acreditando-se que uma escala de mais fácil entendimento pelos estudantes é fundamental para alcançar o sucesso nas respostas.
A delimitação temporal deste estudo foi baseada no contexto histórico e nas experiências de vida que tais indivíduos compartilham (Manheinn, 1952), bem como no fato de esses jovens buscarem seu aprendizado por ferramentas tecnológicas que os acompanham desde o nascimento (Toledo; Albuquerque; Magalhães, 2012; Iorgulescu, 2016; Mathur; Hameed, 2016; Rodrigues; Zatz, 2016; Martini, Sotille; Matins, 2017).
O questionário aplicado visa refletir sobre a intervenção pedagógica no aprendizado de disciplinas práticas da Administração, que pode ser proposta para pesquisas futuras com alunos da disciplina de Logística de diversos cursos, e possui como um dos pilares a proposta defendida por Gil (2002) de que esse tipo de pesquisa deve conter aplicabilidade, contribuindo, dessa forma, para o aprendizado prático.
Resultados e discussões
Após a análise das respostas dos 278 estudantes entrevistados, a pesquisa se dividiu em três eixos: Perfil dos estudantes; Conhecimentos prévios da disciplina de Logística e ferramentas de aprendizagem; e Ensino-aprendizagem por meio de ferramentas diversas, no intuito de categorizar as análises das respostas por eixo.
Perfil dos estudantes
Foi possível analisar a faixa etária em que se encontravam os entrevistados. Entre os alunos, obteve-se um quantitativo de representatividade de: 10 alunos com 14 anos (3,6%); 99 alunos com 15 anos (35,6%); 98 alunos com 16 anos (35,2%); 56 alunos com 17 anos (20,1%); 10 alunos com 18 anos (3,6%); e 5 alunos com 19 anos (1,8%). No Gráfico 1, percebe-se que quase 76% desses jovens ainda estão em sua fase inicial de ensino técnico, cursando o primeiro e o segundo anos, o que reforça uma atenção especial na formação desses futuros profissionais quando se pensa no aprendizado teórico-prático da disciplina de Logística.
Em relação ao tempo médio de navegação em redes sociais ou de uso de outra ferramenta tecnológica com acesso à internet, foi possível identificar, por meio do Gráfico 2, que a maioria (73,7%) passa de 1 a 5 horas do dia jogando on-line, baixando músicas ou podcasts e assistindo a vídeos ou animações. Ainda, 20,1% desses jovens ficam mais de 5 horas diárias acessando tais conteúdos.
Tavares e Melo (2019), em uma pesquisa com jovens da mesma faixa etária, observaram também o tempo que os estudantes utilizavam as ferramentas tecnológicas. Os autores identificaram que o acesso diário e as interações virtuais dos discentes giram em torno de 10 horas por dia, com destaque para a conexão móvel dos celulares.
Após analisado o eixo “Perfil dos estudantes”, percebe-se que a maioria (quase 75% dos entrevistados) possui idade entre 14 e 16 anos, jovens que ainda estão iniciando seus estudos em um curso técnico e em processo de formação quanto aos seus anseios profissionais. Tais jovens podem ser conduzidos em seus estudos de diversas maneiras, por isso a importância de se pensar no processo formativo desses alunos, enquanto futuros profissionais atuantes no mercado. A utilização de algumas ferramentas tecnológicas (Chiofi; Oliveira, 2014; Berdu et al., 2015; Silva; Prates; Ribeiro, 2016; Reis; Tomaél, 2017) pode despertar um interesse ainda maior em compreender uma nova disciplina.
Ainda com relação aos jovens dessa geração, alguns autores (Toledo; Albuquerque; Magalhães, 2012; Iorgulescu, 2016; Mathur; Hameed, 2016; Rodrigues; Zatz, 2016; Martini; Sotille, Martins, 2017) acreditam que, por diversas características peculiares, como a utilização da tecnologia em seu dia a dia desde a infância, tais adolescentes podem ter seu processo de ensino-aprendizagem lapidado pelo uso de ferramentas tecnológicas que lhes propiciem formas diversificadas de estudo do conteúdo.
Conhecimentos prévios da disciplina de Logística e ferramentas de aprendizagem
Em relação ao questionamento quanto ao conhecimento da disciplina de Logística no curso técnico em Administração, mais de 65% dos alunos ainda não tinham ouvido falar sobre tal matéria. Esse dado pode ser analisado em conjunto com o número de repetições (55 vezes) em que a palavra-chave “não sei” aparece, quando questionados sobre o que a Logística estuda, conforme Tabela 1.
Palavras-chave | Número de repetições |
---|---|
Não sei | 55 |
Transporte | 54 |
Lógica/lógico | 32 |
Produto | 26 |
Recursos | 18 |
Lucro | 18 |
Mercado | 18 |
Estoque | 18 |
Administração | 16 |
Processo | 13 |
Pedido | 11 |
Processamento | 10 |
Economia | 9 |
Venda | 8 |
Loja | 8 |
Qualidade | 6 |
Materiais | 4 |
Marketing | 4 |
Fonte: Elaboração própria.
Vale ressaltar que, de acordo com o Gráfico 3, contrastando com os dados apresentados anteriormente, quase metade dos estudantes (49,6%) responderam corretamente quais atividades primárias mais se adéquam aos estudos da Logística.
Em relação às ferramentas de aprendizagem que os jovens estudantes da geração Z acreditam ser mais efetivas em seus estudos (lembrando que nessa pergunta o entrevistado poderia assinalar mais de uma alternativa), mais de 60% responderam que gostariam de utilizar jogos/games e vídeos em seu processo de ensino-aprendizagem. Recursos como apostilas e slides, que obtiveram aceitação de mais de 50% dos estudantes, permitem-nos inferir que, apesar de essa geração utilizar ferramentas tecnológicas de aprendizagem modernas, ainda acredita em meios tradicionais de ensino para complementar seus estudos. Essa foi uma das averiguações observadas neste estudo que buscava suprir os questionamentos de Moreira, Andrade e Silva (2017) em sua pesquisa.
Ademais, as análises desse eixo corroboram o que Costa e Oliveira (2009) levantaram em seus estudos. Segundo os autores, pesquisas sobre a percepção da disciplina de Logística devem ser expandidas e utilizadas sob diversas formas para descobrir os anseios e as expectativas dos estudantes. Ainda de acordo com os autores, uma investigação que envolva a participação de um docente, como retratada nesta pesquisa, pode contribuir para a formação do discente.
Ensino-aprendizagem por meio de ferramentas diversas
Domingues et al. (2016) acreditam que, dentre as inúmeras ferramentas que as TIC englobam, destacam-se: jogos ou games educativos, objetos de aprendizagem (OA), recursos midiáticos, audiovisuais, entre outras que podem ser utilizadas pelos estudantes para que sejam superadas as barreiras entre teoria e prática, de maneira que possibilite ao discente ter contato com experiências próximas à realidade.
Isso posto, em uma escala de 1 a 5, sendo: 1 - discordo plenamente, 2 - discordo, 3 - não concordo nem discordo, 4 - concordo e 5 - concordo plenamente, foram levantados alguns questionamentos em relação aos estudos dos alunos, conforme Gráficos 4, 5, 6 e 7.
No Gráfico 4, visualiza-se a grande importância que os estudantes conferem às visitas técnicas como parte de seu aprendizado (quase 80% dos respondentes demonstraram interesse), o que, em uma disciplina prática como a de Logística, seria essencial no processo de ensino-aprendizagem desses jovens.
Pode-se observar, a partir desse gráfico, uma inclinação pela busca do aprendizado prático, de maneira mais imediata, um dos anseios atrelados às características desse grupo geracional, como explanado nos estudos de Melo et al. (2019).
Como exposto pelo Gráfico 5, os discentes acreditam que somente o uso de métodos tradicionais de ensino, como quadro branco e slides, não é satisfatório em seu processo de aprendizagem na disciplina de Logística.
É interessante fazer um paralelo com os estudos de Tavares e Melo (2019), que explanaram, com base nas entrevistas que fizeram com estudantes do ensino médio, a importância que estes atribuem à presença física do professor complementando os conhecimentos dos alunos no ambiente escolar, mesmo utilizando plataformas tecnológicas de aprendizagem.
As preferências dos jovens da geração Z por plataformas tecnológicas como parte de sua aprendizagem também foram observadas quando analisadas as respostas dos estudantes, de acordo com os Gráficos 6 e 7.
Nos Gráficos 6 e 7, mais de 85% dos alunos entrevistados acreditam em vídeos e animações como facilitadores do processo de ensino-aprendizagem na disciplina de Logística e, ainda, quase 80% desses discentes conferem a jogos e games um tipo de metodologia que poderia servir de auxílio na compreensão da referida disciplina. Como exposto nesta pesquisa e observado na literatura sobre a geração Z, o acesso diário a redes sociais, vídeos, podcasts, jogos, animações e músicas deve ser aproveitado pelos docentes no processo de ensino-aprendizagem daqueles discentes.
Alencar et al. (2019) e Oliveira et al. (2018) abordaram a utilização de jogos mais tradicionais para o aprendizado de estudantes do ensino médio nas disciplinas de Química e Biologia. Já Silva et al. (2018) e Alves et al. (2019) empregaram os jogos eletrônicos no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes das disciplinas de Física e Matemática. A adaptação de ferramentas de aprendizagem, como jogos, ao universo dos nativos digitais é uma das inferências desse estudo, visto que os estudantes dessa geração nasceram na era digital.
Apontamentos deste estudo em relação à melhor condução da aprendizagem de estudantes da geração Z voltada aos conhecimentos tecnológicos que lhes são inerentes são complementados nos estudos de Novaes et al. (2016), que verificaram uma falta de “preparo” adequado nos profissionais que estão ingressando no mercado. Os autores ainda levantaram a hipótese de esses jovens não estarem sendo preparados efetivamente para o mercado de trabalho na educação básica, visto que existem oportunidades nas empresas mesmo para jovens sem experiência.
Desse modo, as análises apresentadas visam orientar e complementar o plano de ensino de professores que ministram a disciplina de Logística, pois as percepções dos estudantes são cruciais para um processo de ensino-aprendizagem mais efetivo e voltado às práticas mercadológicas. Por conseguinte, esta pesquisa vai ao encontro das expectativas dos estudos de Georges e Seydell (2008) de que se faz necessário identificar as dificuldades no ensino da Logística para que possam ser desenvolvidas competências profissionais no corpo discente, além de estimular os docentes a trabalharem o aspecto prático nessa área do conhecimento.
Considerações finais
Este estudo possibilitou analisar alguns anseios e expectativas dos jovens da geração Z quanto às ferramentas de aprendizagem em sala de aula e às características práticas da disciplina de Logística.
Em relação ao mercado de trabalho, percebe-se que, em um estudo cujo objetivo foi conhecer os principais anseios dos futuros profissionais, podem ser suscitadas metodologias diversas de aprendizagem em sala de aula voltadas para o aprendizado prático da disciplina de Logística, visto que o setor logístico de uma empresa tem se tornado fundamental, estrategicamente, para galgar novos mercados.
Esta pesquisa foi ao encontro das ideias de autores (Oliveira et al., 2018; Silva et al., 2018; Alencar et al., 2019; Alves et al., 2019) que observaram ferramentas de aprendizagem dinâmicas, como o caso da utilização de jogos - eletrônicos ou não - em sala de aula como facilitadores no processo educacional de gerações mais novas. Tal constatação da literatura também foi verificada neste estudo, indicando jogos, games, vídeos e animações como ferramentas mais efetivas do processo de ensino-aprendizagem, sob a perspectiva dos alunos.
Destarte, este estudo também foi ao encontro da pesquisa de Munck e Borges (2020) em promover caminhos que direcionem as estratégias educacionais confluindo a um aprendizado mais prático que trabalhe as habilidades e competências dos estudantes, proporcionando um conhecimento mais sólido e de maior aplicabilidade prática no dia a dia escolar.
Porém, há que se fazer uma delimitação ao grupo amostral deste estudo, dado que este foi feito tendo em vista uma realidade local de um campus específico de um Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Brasil. A pesquisa realizada não pode ser generalizada para toda uma geração, uma vez que eventos locais e/ou conjunturais, como exposto por Cappi e Araújo (2015), podem divergir nas inferências quanto ao estudo das gerações. Outro ponto importante está relacionado a questões socioculturais, que podem influenciar nas percepções dos estudantes, visto que este estudo provém de uma região onde predomina a cultura Pomerana.
Em estudos futuros cuja finalidade seja analisar o ingresso no mercado de trabalho pela geração Z e as plataformas de ensino adotadas em sala de aula por esses estudantes, podem ser realizadas pesquisas que comparem se há diferenças entre as ferramentas de aprendizagem utilizadas por diferentes gerações, bem como que envolvam estudantes da geração Z de diferentes regiões, para que sejam mais bem detalhadas as ferramentas de aprendizagem que são mais solicitadas por estudantes desse grupo geracional.