Introdução
A formação inicial de professores é um tema caro à educação brasileira, uma vez que há anos vem enfrentando críticas quanto a sua qualidade e seus fortes impactos na aprendizagem e desempenho acadêmico dos futuros professores. Exemplo disso são as pesquisas que evidenciaram baixos desempenhos dos estudantes de licenciaturas no Exame Nacional de Desempenho do Estudante - Enade - (Barros et al., 2020; Lopes; Sousa; Santos, 2020).
É importante respaldar que a literatura científica aponta diversos fatores que podem estar relacionados ao desempenho acadêmico, tais como a titulação dos professores a infraestrutura da instituição de ensino superior ou do curso, recursos didáticos disponíveis e fatores relacionados aos próprios estudantes, como nível socioeconômico e histórico escolar (Lacerda; Ferri, 2015; Medeiros Filho, 2020). Destarte, a formação inicial de professores aflora por diferentes impasses ao objetivarem formar profissionais qualificados para intervir na sociedade. Como podemos perceber pelos estudos supracitados, são múltiplos os fatores que podem interferir ao longo do processo formativo, sendo um deles, o próprio histórico escolar do estudante.
A educação brasileira passou por transformações sociais, políticas e econômicas, o que contribui no crescimento das matrículas na educação básica e, especialmente, no ensino superior. A partir da década de 1990, diferentes cursos de formação de professores foram criados, sobretudo na iniciativa privada, ocasionando o crescimento na taxa de matrícula nesses cursos (Borges; Ribeiro, 2019). Surgiram diferentes iniciativas governamentais implementadas para oportunizar o ingresso no ensino superior: Enem Prouni, Fies, Reuni.
O ingresso nesse nível de ensino ficou mais acessível e, consequentemente, os cursos passaram a receber estudantes que ainda não estão preparados para atender as demandas estudantis requeridas pelos cursos de nível superior. Esta realidade torna-se um desafio para o universo acadêmico, em especial, para os professores universitários que passaram a ensinar num contexto de sala heterogêneo no que concerne às habilidades acadêmicas, pois muitos estudantes não estão preparados para exercer a autonomia e senso de responsabilidade exigida pelas demandas educacionais.
Considerando que a meta de número doze do Plano Nacional de Educação (Brasil, 2014), refere-se à educação superior, a qual tem objetivo “elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% e a taxa líquida para 33% da população de 18 a 24 anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% das novas matrículas, no segmento público” (p. 15), reforçamos que além do ingresso, é preciso garantir condições mínimas para permanência e conclusão do curso, uma vez que as demandas são diversas, as quais vão desde a falta de moradia ao deslocar para outra cidade que oferta o curso, as condições de alimentação e as próprias despesas exigidas pelas atividades formativas do curso.
O presente estudo partiu da seguinte questão norteadora: quais os fatores de escolaridade dos estudantes de Pedagogia associados ao desempenho no Enade? Ao responder essa pergunta, poderemos contribuir no planejamento, reformulação e implantação de políticas públicas educacionais para amenizar os impactos na formação de professores dessa área de conhecimento e potencializar os elementos que demonstrarem contribuir de forma positiva no desempenho. Assim, identificar os fatores associados ao desempenho pode nos auxiliar na reflexão sobre o quão as universidades e os cursos de formação precisam se preparar para possibilitar a seus estudantes uma formação condizente com a realidade profissional e social.
A partir da questão norteadora de pesquisa, o estudo teve como objetivo identificar as experiências formativas relacionadas ao desempenho dos estudantes de Pedagogia no Enade de 2017. Dessa maneira, utilizaremos o resultado nacional e o específico por cada região do país, em cruzamento com diferentes variáveis referentes à escolarização, tanto no que tange ao passado - educação básica -, quanto ao presente - ensino superior.
Percurso metodológico
Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem mista, desenvolvido transversalmente (Sampieri; Collado; Lucio, 2013). Ao utilizarmos os microdados do Enade 2017, extrairmos as respostas de 111.338 - idade média 32,86 + 9,23 - estudantes do curso de Pedagogia que participaram do Enade 2017, sendo 6.996 (6,3%) do sexo masculino e 104.342 (93,7%) do sexo feminino.
Variáveis | % | ||
Sexo | Masculino | 6.996 | 6,3 |
Feminino | 104.342 | 93,7 | |
Categoria administrativa | Pública | 23.456 | 21,1 |
Privada | 87.882 | 78,9 | |
Organização acadêmica | Centro Universitário | 29.279 | 26,3 |
Faculdade | 24.949 | 22,4 | |
Instituto Federal | 167 | 0,1 | |
Universidade | 56.943 | 51,1 | |
Regiões geográficas | Norte | 7.859 | 7,1 |
Nordeste | 14.002 | 12,6 | |
Sudeste | 45.143 | 40,5 | |
Sul | 45.143 | 40,5 | |
Centro-Oeste | 9.039 | 8,1 |
Fonte: autores.
Ressaltamos que foram utilizados os microdados do Enade 2017, disponível no site1 do Inep. Especificamente, foi selecionado o desempenho em componente específico. Além dessas duas variáveis, foram selecionados os itens do questionário do estudante referentes à escolaridade dos estudantes. Destacamos que este questionário é de preenchimento obrigatório de todos os participantes, sendo composto por 68 questões relacionadas com organização didática pedagógica; infraestrutura e instalações físicas; oportunidade de ampliação acadêmica e profissional.
Para o presente estudo foram selecionados os itens 13, 14, 15, 17, 18, 22 e 23. As respostas são em escala do tipo Likert, em que vai de 1 - discordo totalmente - a 6 - concordo totalmente. Os dados foram analisados por meio do software SPSS versão 22,0, em que possibilitou realizar estatística descritiva, frequência absoluta e relativa.
Resultados e discussão
Como podemos observar no quadro 2, os estudantes de Pedagogia que tiveram maior desempenho foram os que realizaram intercâmbio não institucional e intercâmbio financiado pelo governo federal; que ingressaram no ensino superior por meio de ação afirmativa ou inclusão social, em especial por ter estudado em escola pública ou particular com bolsa de estudos, e por critério de natureza étnico racial; os que cursaram o ensino médio parte no Brasil e parte no exterior; todo em escolas privadas; na modalidade profissionalizante técnico; os alunos que durante o curso de graduação leram mais de oito livros; os estudantes que se dedicaram mais de doze horas por dia e que tiveram bolsa acadêmica.
Por outro lado, podemos mencionar que os estudantes com baixo desempenho foram aqueles que estudaram todo o ensino médio em escola pública; os que cursaram o ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos e supletivo; os que declararam não ter lido nenhum livro; e os que não reservaram algum período para os estudos fora do ambiente escolar. Esses e outros resultados podem ser consultados detalhadamente no quadro 2.
Geral | IES | Regiões geográficas | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Púb | Priv | N | ND | SD | S | CO | ||
14. Participação em programas ou atividades curriculares no exterior | ||||||||
Não participei. | 40,9 | 44,3 | 40 | 37,5 | 41,1 | 42,6 | 39,9 | 38,6 |
Sim, Programa Ciência sem Fronteiras. | 36,8 | 41,3 | 35,7 | 42,4 | 35 | 35,9 | 36,4 | 40,2 |
Sim, programa de intercâmbio financiado pelo Governo Federal | 42,9 | 51,4 | 37,6 | 32,8 | 54,9 | 49,5 | 36,1 | 31,9 |
Sim, programa de intercâmbio financiado pelo Governo Estadual. | 34,3 | 38,4 | 32,2 | 30,7 | 34,4 | 44,3 | 26,4 | 33,9 |
Sim, programa de intercâmbio da minha instituição. | 38,7 | 45,9 | 36,7 | 35 | 38 | 41,5 | 36,2 | 42,1 |
Sim, outro intercâmbio não institucional. | 45,0 | 48,6 | 43,4 | 32,6 | 40,4 | 47,8 | 45,8 | 40,3 |
15. Ingresso no curso de graduação se deu por meio de políticas de ação afirmativa ou inclusão social | ||||||||
Não. | 40,5 | 44,3 | 39,6 | 36,5 | 40,4 | 42,2 | 39,7 | 38,3 |
Sim, por critério étnico-racial. | 41,2 | 41,8 | 40,4 | 37,9 | 42,2 | 43,9 | 37,2 | 38,4 |
Sim, por critério de renda. | 39,4 | 43 | 38,9 | 37,1 | 39,9 | 41,2 | 37,3 | 38,3 |
Sim, por ter estudado em escola pública ou particular com bolsa de estudos. | 44,8 | 46,2 | 43,7 | 43,2 | 44,9 | 45,8 | 45,5 | 40,6 |
Sim, por sistema que combina dois ou mais critérios anteriores. | 48,7 | 49,2 | 48,4 | 46 | 48 | 50,5 | 48,6 | 43,4 |
Sim, por sistema diferente dos anteriores. | 39,1 | 38,8 | 39,3 | 35,1 | 37,5 | 41,9 | 39,7 | 38,2 |
17. Tipo de escola você cursou o ensino médio | ||||||||
Todo em escola pública. | 40,3 | 43,4 | 39,5 | 37,2 | 40,6 | 42,0 | 39,5 | 38,3 |
Todo em escola privada. | 47,4 | 50,6 | 46,2 | 43,4 | 46,4 | 49,2 | 46,2 | 44,4 |
Todo no exterior. | 42,7 | 37,3 | 43,3 | 33,7 | 37,5 | 42,5 | 39,8 | 54,6 |
A maior parte em escola pública. | 40,4 | 44,4 | 39,5 | 38,7 | 38,6 | 42,0 | 40,3 | 37,7 |
A maior parte em escola privada (particular). | 43,7 | 48,9 | 42,2 | 38,4 | 43,5 | 44,9 | 43,4 | 42,7 |
Parte no Brasil e parte no exterior. | 48,5 | 52,1 | 47,7 | 45,8 | 32,2 | 51,7 | 45,8 | 48,2 |
18. Modalidade de ensino médio você concluiu | ||||||||
Ensino médio tradicional. | 41,1 | 44,9 | 40 | 38,3 | 41,7 | 42,7 | 39,7 | 39,2 |
Profissionalizante técnico: eletrônica, contabilidade, agrícola, outros. | 44,9 | 47,7 | 44,1 | 41,4 | 43,6 | 46,7 | 43,9 | 41,5 |
Profissionalizante magistério: Curso Normal. | 41,6 | 42,6 | 41,3 | 35,8 | 38,5 | 44,4 | 41,9 | 39,6 |
Educação de Jovens e Adultos ou Supletivo. | 36,8 | 40,2 | 36,3 | 34,2 | 38,5 | 38 | 36,4 | 34,6 |
Outra modalidade. | 40,2 | 43,3 | 39,3 | 36,5 | 41,4 | 41,9 | 38,9 | 39,6 |
22. Quantos livros você leu neste ano, exceto os indicados na bibliografia do curso) | ||||||||
Nenhum. | 39,4 | 44,7 | 37,9 | 36,3 | 40,9 | 40,7 | 38,4 | 36 |
Um ou dois. | 40,1 | 43,9 | 39,1 | 37,2 | 40,2 | 41,5 | 39,6 | 37,2 |
De três a cinco | 41,4 | 44,2 | 40,7 | 37,8 | 41,4 | 43,2 | 40,5 | 39 |
De seis a oito. | 41 | 44,2 | 40,2 | 37,1 | 41,5 | 43,2 | 39,7 | 40,5 |
Mais de oito. | 41,7 | 45,4 | 40,9 | 38,1 | 42,2 | 44,6 | 40,2 | 40,5 |
23. Horas por semana dedicada aos estudos, exceto as horas de aula | ||||||||
Nenhuma, apenas assisto às aulas. | 36,2 | 40,1 | 35,3 | 33,6 | 36 | 38,3 | 34,4 | 33,4 |
De uma a três. | 39,5 | 42,8 | 38,7 | 37 | 39,7 | 41,3 | 38,1 | 37,6 |
De quatro a sete. | 42 | 45,3 | 41,1 | 37,6 | 42,4 | 42,7 | 41,2 | 39,7 |
De oito a doze. | 43,5 | 46,6 | 42,6 | 38,6 | 43,7 | 45,4 | 43 | 40,7 |
Mais de doze. | 44,1 | 47,8 | 43 | 39,8 | 43,9 | 46 | 43,4 | 41,3 |
13. Algum tipo de bolsa acadêmica | ||||||||
Nenhum. | 40,2 | 42,5 | 39,7 | 36,6 | 39,4 | 42,1 | 39,4 | 38 |
Bolsa de iniciação científica. | 50,1 | 50,7 | 49,1 | 47,8 | 49,3 | 51,6 | 50 | 48,3 |
Bolsa de extensão. | 48,3 | 49,4 | 45,4 | 46,8 | 47,8 | 50,6 | 47,7 | 44,5 |
Bolsa de monitoria/tutoria. | 48,8 | 49,6 | 47 | 44,8 | 49,4 | 50,6 | 48,5 | 44,2 |
Bolsa PET. | 50,4 | 52,7 | 43,7 | 40,0 | 52,1 | 49,8 | 53,7 | 48,3 |
Outro tipo de bolsa acadêmica. | 43,4 | 46,3 | 41,5 | 40,2 | 45,2 | 44,6 | 42,8 | 40,2 |
Fonte: autores.
Frente aos dados apresentados no quadro 2, ressaltamos a importância de iniciativas que as IES podem idealizar para potencializar o processo de ensino-aprendizagem dos estudantes. Exemplo disso é a participação em programas ou atividades curriculares exógenas, ou seja, para além do curso e instituição de ensino que se encontra matriculado. Dessa maneira, conhecer outras culturas, conviver com outros profissionais ou professores ainda em formação, pode contribuir na constituição da identidade profissional docente (Pimenta; Lima, 2017). De acordo com essas autoras, tal identidade nunca é constituída sozinha, sendo necessária a presença e contribuição do outrem, bem como de suas relações ou experiências que transbordam o ambiente acadêmico ou profissional.
Nesse sentido, buscar vivenciar outras realidades no decorrer da formação inicial, poderá contribuir no desenvolvimento das aprendizagens, consequentemente, na inserção no mercado de trabalho. Vale ressaltar que os maiores desempenhos foram por parte dos estudantes que tiveram outras experiências ao longo do curso de Pedagogia. O estudo realizado por Lopes, Sousa e Santos (2020), constatou que, fatores como renda familiar, bolsa acadêmica e atividades curriculares realizadas pelos estudantes no exterior, estão associadas de forma benéfica ao desempenho acadêmico. Em consonância, Medeiros Filho et al. (2020) também evidenciaram que os estudantes que realizaram atividades curriculares no exterior, especificamente o Programa Ciência sem Fronteiras, obtiveram maior desempenho no Enade. Já no presente estudo, o maior desempenho foi por parte dos estudantes que realizaram intercâmbio não institucional e intercâmbio financiado pelo governo federal.
Quanto ao desempenho de acordo com as políticas de ingresso nos cursos de graduação por meio de políticas de ação afirmativa ou inclusão social, identificamos que os alunos que ingressaram por critério de renda obtiveram um dos desempenhos mais baixos, assim como os estudantes que ingressaram por critério étnico-racial. É importante mencionar que além de oportunizar o ingresso, é necessário garantir condições mínimas para assegurar a permanência e conclusão desses alunos no curso. Corroborando, o estudo realizado por Costa (2016), ao comparar o desempenho acadêmico e o recebimento de auxílio estudantil, evidenciou que estes estudantes obtiveram um maior coeficiente de rendimento em comparação aos demais estudantes que não foram assistidos por uma das políticas públicas educacionais.
Quanto ao tipo de escola que cursou o ensino médio, destacamos que os estudantes que cursaram toda essa etapa de ensino no exterior, ou parte no Brasil e parte no exterior, obtiveram um maior desempenho, bem como os alunos que cursaram em escolas privadas. Estes resultados também foram constatados no estudo de Medeiros Filho (2019). É notório que a educação pública brasileira, básica e superior, ainda passa por múltiplos e complexos problemas que influi de forma negativa na formação. O debate sobre a melhoria da qualidade do ensino público é pauta há muitos anos nas principais reuniões educacionais, mas ainda é uma realidade que, embora tenha apresentado aspectos de melhorias nas últimas décadas, ainda se encontra em uma situação além do esperado.
Também evidenciamos um maior desempenho dos estudantes de cursaram o ensino médio na modalidade profissionalizante técnico: eletrônica, contabilidade, agrícola. Tais escolas vêm apresentando boa infraestrutura para realização das atividades, possibilitando aos alunos e professores diferentes vivências e, consequentemente, maiores aprendizagens. O estudo realizado por Haguette, Pessoa e Vidal (2016), ao comparar as cinco escolas estaduais de ensino médio de maior desempenho com as cinco de menor desempenho no Enem, constataram como umas das características das escolas de baixo desempenho a má qualidade da infraestrutura e pobreza das escolas.
Os autores destacam que os ambientes são inadequados: falta de luz, segurança e com baixa ventilação, o que torna as salas de aulas quentes e desconfortáveis. No que concerne à infraestrutura, a mesma é caracterizada como sem atrativos estéticos, isto é, sem paisagens ou imagens que chamem a atenção ou que despertem curiosidade dos escolares. Embora haja laboratórios básicos - informática e ciências - para garantir a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, estes apresentam acervo pequeno e de baixo investimento tecnológico, o que implica em situação de não aproveitamento integral pelos escolares (Haguette; Pessoa; Vidal, 2016, p. 628). Por outro lado, os autores constaram que as escolas de alto desempenho possuem características importantes como, maior tempo de aula, estágios, em que é uma das características das três escolas profissionalizantes analisadas nos estudos, professores tendem a trabalhar em apenas uma escola, cultura interna dessas escolas, infraestrutura considerada boa ou adequada.
Com base no contexto discutido anteriormente, é notória a importância da leitura para a formação inicial e continuada dos pedagogos. Oliveira (2019) relata que, embora a leitura seja considerada pelos estudantes e profissionais uma atividade importante e fundamental na constituição do profissional e social, muitos alunos, durante a sua trajetória escolar só têm contato com trechos de livros. Por conseguinte, ao ingressar no ensino superior, apresentam dificuldades de leitura, além do interesse.
Oliveira (2019), ao investigar o ato da leitura em docentes de uma IES, demonstrou que, embora os materiais de leituras estivessem disponíveis na biblioteca, os professores não os acessavam. Por fim, a autora ainda alerta que a diversidade de informações circulando em diferentes mídias, requer que os professores tenham o hábito da leitura e conheçam a biblioteca da instituição que lecionam, tanto ser um exemplo para os alunos, quanto para indicar leituras confiáveis e necessárias para a formação e atuação profissional.
O número de horas dedicadas aos estudos, para além das horas de aulas em sala, também é um fator importante para uma maior aprendizagem dos estudantes. Desse modo, ressaltamos que a busca por uma melhor formação requer dos estudantes um esforço além do exigido em sala de aula, como exemplo, a busca de leituras em bibliotecas, pesquisas, participação em projetos e em grupos de estudos e pesquisas, dentre outras atividades que extrapolam o horário obrigatório em sala de aula.
Em consonância, Lopes, Sousa e Santos (2020) evidenciaram associação significativa entre horas extras de estudos e o desempenho acadêmico. Outros estudos, que não são da área de formação de professores, constataram um maior desempenho por parte dos estudantes que declararam uma maior quantidade de estudos extra sala de aula. Como exemplo, podemos mencionar o estudo de Martins e Vieira (2019) na área de Administração e o estudo de Amaro e Beuren (2018) em Ciências Contábeis, em que estudantes com maior tempo destinado aos estudos obtiveram um maior rendimento acadêmico. Nessa perspectiva, as bolsas acadêmicas são importantes para oportunizar aos estudantes diversas experiências, além de auxiliá-lo financeiramente, influindo na permaneça, progressão e conclusão do curso.
Podemos citar, como exemplo, o Programa Residência Pedagógica e o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência. Estudos como o de Araújo, Andriola e Coelho (2018) mostram que os estudantes que foram bolsistas desse último programa obtiveram maior desempenho acadêmico em comparação aos estudantes não bolsistas. Vale mencionar que esses resultados corroboram os nossos resultados, uma vez que os alunos de Pedagogia que obtiveram maior desempenho foram aqueles que participaram de bolsa PET e bolsa de iniciação científica. Esses programas oportunizam aos estudantes vivências relevantes para constituição da identidade profissional no próprio ambiente de trabalho docente. Isto posto, o diálogo com professores que já estão atuando e com a realidade escolar, pode proporcionar aos estudantes reflexões sobre a práxis docente (Pimenta; Lima, 2017).
Diante do exposto, podemos perceber que a formação inicial requer dos estudantes responsabilidades e compromissos com a sua própria formação, o envolvimento em outras atividades acadêmicas que estão para além da sala de aula. Além disso, ressalta-se a importância das políticas no fomento de programas e projetos institucionais, assim como no investimento destinado para melhoria da educação básica e ensino superior, uma vez que os problemas educacionais se iniciam já no primeiro nível de ensino.
Considerações finais
Ao objetivarmos identificar as experiências formativas relacionadas ao desempenho dos estudantes de Pedagogia no Enade de 2017, evidenciamos que as experiências são múltiplas e perpassam, tanto a educação básica, quanto o ensino superior. Especificamente, podemos mencionar, por exemplo, os estudantes que realizaram intercâmbio não institucional e intercâmbio financiado pelo governo federal, os que cursaram o ensino médio parte no Brasil e parte no exterior, todo em escolas privadas, os que cursam na modalidade profissionalizante técnico, os que durante o curso de graduação leram mais de oito livros; e os estudantes que tiveram bolsa acadêmica.
Por outro lado, tivemos um menor desempenho por parte dos licenciandos que estudaram todo o ensino médio em escolas públicas, os que cursaram o ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos ou supletivo, os que declararam não ter lido nenhum livro e os que não reservaram nenhuma hora de estudo fora do ambiente de sala de aula. Como podemos perceber, tais fatores também estão associados ao desempenho dos estudantes de outros cursos de ensino superior.
Com estes resultados, esperamos contribuir para melhoria da formação inicial dos pedagogos, uma vez que destacamos os fatores que estão relacionados com o desempenho acadêmico e possibilitamos aos professores, gestores, estudantes e interessados uma reflexão sobre quais fatores interferem na aprendizagem e desempenho dos futuros professores dessa área. Ademais, sugerimos estudos futuros que objetivem analisar outros fatores relacionados ao desempenho acadêmico, como exemplo, os fatores socioeconômicos e das instituições de ensino: organização didático-pedagógica, infraestrutura e instalações físicas e ampliação da formação acadêmica e profissional. Somado a isso, sugerimos a utilização de testes estatísticos mais robustos, como análise de regressão multinível.