Introdução
Este artigo traz para discussão o campo do conhecimento da Psicologia da Educação para a analisar as pesquisas apresentadas no eixo Psicologia da Educação da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação Regional Sul (ANPEd Sul), entre os anos 2016 e 2022. Esta investigação se justifica pela necessidade de compreender a produção do eixo 15 (Psicologia da Educação), especialmente enquanto espaço de divulgação do conhecimento científico, porque o eixo na região Sul foi considerado com baixa procura no evento de 2018.
O trabalho aqui apresentado é realizado por meio de um resgate histórico das reuniões científicas bianuais da ANPEd Sul, ocorridas entre os anos de 2016 e 2022, mais especificamente em relação aos trabalhos depositados no eixo temático 15 — Psicologia da Educação.
No recorte temporal adotado, ocorreram quatro reuniões, com participações do eixo 15 em três delas: em 2016, a 11ᵃ reunião, com sede junto à Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba/PR; em 2018, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre/RS, com discussões para o 12° encontro. No ano de 2020, contudo, quando deveria ocorrer a 13ᵃ Regional, o mundo foi surpreendido pela pandemia da covid-19, tornando imperativa a suspensão do evento, que acabou acontecendo em conjunto com a ANPEd Nacional, em 2021. A ANPEd Sul de 2021, então, transcorreu no formato online, sendo conduzida pela Universidade de Blumenau (FURB), em Blumenau/SC. A reunião de 2022 também ocorreu de forma online e foi organizada pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), em Cascavel/PR. O eixo Psicologia da Educação não esteve incluído no encontro realizado sob coordenação da FURB. De acordo com a explicação obtida, ao final da reunião de 2018, no Fórum de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Educação (FORPREd) Sul, ficou decidido que esse eixo seria excluído da regional Sul. A justificativa para tal decisão foi de que houve baixo número de trabalhos apresentados no 12° encontro da ANPEd Sul.
Diante de tais delineamentos, este artigo está organizado da seguinte maneira: após os aspectos introdutórios, serão explicitados os procedimentos metodológicos; posteriormente, os resultados e a discussão, os quais incluem um panorama a respeito das produções do eixo Psicologia da Educação nas reuniões citadas, dos temas, tendências e objetos de produção, dos enfoques metodológicos e, ainda, das abordagens teóricas predominantes. Finalmente, algumas considerações finais e referências citadas.
Método
Esta investigação teve como centralidade a pesquisa da pesquisa em educação, a qual objetiva “refletir sobre a prática da pesquisa educativa” (Gamboa, 2007, p. 26). De acordo com o autor, esse tipo de estudo busca examinar “que tipo de pesquisa se realiza, que tipos de conteúdos se desenvolvem, sua qualidade, sua utilidade etc.” (Gamboa, 2007, p. 60). Preconiza, também, ser imperativo a todo investigador, uma leitura diversificada (leitura epistemológica) de outras investigações, por ser uma forma de imergir na produção científica, partindo da leitura criteriosa de outras pesquisas, relatórios de investigação ou teses (Gamboa, 2007).
Desse modo, a pesquisa configura-se também como um estado do conhecimento (Morosini & Fernandes, 2014), com vistas a analisar as pesquisas desenvolvidas no eixo Psicologia da Educação da ANPEd Sul, entre os anos 2016 a 2022, optando-se por uma abordagem qualiquantitativa (Marconi & Lakatos, 2009)5. De acordo com Morosini (2015), o estado do conhecimento “constitui-se numa importante fonte para a produção, não só por acompanhar todo o processo monográfico, mas prioritariamente, por contribuir para a ruptura com os pré-conceitos que o pesquisador porta ao iniciar o seu estudo” (pp. 102–103).
A pesquisa ora em tela teve como materialidade os resumos e seus atinentes textos, nas modalidades trabalhos completos e resumos expandidos. A partir da leitura flutuante dos trabalhos/resumos, organizou-se uma tabela introdutória, visando guiar a coleta dos seguintes dados: número de trabalhos, título do trabalho, autores do trabalho, instituição de ensino, palavras-chave, questões e objetivos de pesquisa, metodologia e resumo do trabalho. Com base na tabulação desses dados, compilou-se novamente os trabalhos/resumos com os seguintes parâmetros: instituições de ensino de origem e suas naturezas (público, privada, comunitária), objetos de estudo/tendências, abordagens metodológicas e técnicas/instrumentos utilizados. O método de tratamento dos dados seguiu as orientações da análise de conteúdo de Bardin (1977).
A escolha pelas reuniões científicas regionais da ANPEd Sul, como fonte desta investigação, justifica-se pela qualidade de suas pesquisas na área de pós-graduação em Educação no país, tendo como constante a socialização e a divulgação da produção científica realizada pelas Instituições de Ensino Superior (IES) da região Sul do Brasil e por disponibilizar esses produtos acadêmicos no formato online.
Produções do eixo Psicologia da Educação nas reuniões regionais entre os anos 2016 e 2022
No decorrer das três diferentes reuniões citadas, o número total de publicações do eixo 15 foi de N=27 trabalhos (100%). O gráfico, na sequência (Figura 1), mostra a divisão do total de publicações nos três anos analisados: 2016, 2018 e 2022.
Nota-se que o maior número de publicações ocorreu no ano de 2022, correspondendo a 52% (N=14), seguido do ano de 2016, com um total de 33% (N=9) e o ano em houve menor número de publicações, 2018, com 15% (N=4) do total de publicações do triênio. Um aspecto a se observar é que, dos três encontros analisados, aquele no qual houve o maior número de trabalhos aprovados foi o ano de 2022, subsequente à decisão de retirada do eixo 15 da regional Sul (com a justificativa de baixo número de trabalhos), compreendendo-se que a decisão tomada em 2018 pelo FORPREd Sul foi precipitada. Há algumas informações, provenientes do evento de 2022, que reforçam essa consideração: dos 22 eixos que participaram do evento em 2022, o eixo 15 ficou em 7° lugar com maior número de pareceristas para avaliação de trabalhos, em igualdade com outros três eixos (apenas oito eixos tiveram maior número de pareceristas, com empates); 10 eixos ficaram com menor número de pareceristas do que o Psicologia da Educação; o eixo 15 teve um número total de 19 trabalhos submetidos (não houve a divulgação do número de trabalhos submetidos por eixo). Esses dados reforçam a ideia de que o eixo de Psicologia da Educação, da ANPEd, está consolidado na região Sul.
A Figura 2 ilustra o número de publicações por IES em cada ano analisado.
A IES que mais aprovou publicações (analisando somente as publicações individuais por IES) foi a Universidade da Região de Joinville (Univille), sendo dois no ano de 2016 e dois no ano de 2022, totalizando quatro. É importante salientar que não é possível estabelecer uma relação entre as publicações por IES e o número de submissões provenientes de cada uma: significa dizer que os pesquisadores e/ou estudantes de uma IES podem ter submetido trabalhos para o eixo 15 de alguma das regiões (ou IES), mas não terem tido seus trabalhos aprovados.
Na sequência, a Figura 3 representa o número de publicações por natureza da IES (pública, privada ou comunitária), considerando uma única vez cada instituição, nos três anos analisados:
No período temporal delimitado, foram arrolados 27 trabalhos nas modalidades texto completo e resumos expandidos. Desses, 13 são trabalhos completos e 14 são resumos expandidos. Em relação à natureza das IES, 59% (N=16) provêm de instituições públicas, 33% (N=09) eram oriundos de instituições privadas e 8% (N=02) resultavam de uma parceria entre uma instituição pública e uma IES privada. Na sequência, a Figura 4 demonstra o número de publicações por natureza da IES.
No que se refere às IES públicas, 12 produções eram provenientes de instituições federais, quatro de universidades estaduais, nove de instituições privadas e duas comunitárias. Ao longo de seis anos, as produções foram tendo como protagonistas diferentes IES, cabendo destaque à presença, pela primeira vez em seis anos de reuniões regionais, das IES estaduais (nesta última reunião), em que tiveram o mesmo número de trabalhos apresentados pelas IES privadas e pouca diferença em relação às IES federais. Os dados indicam que há um número maior de publicações oriundas de PPG de instituições públicas, embora esse predomínio seja baixo (conforme se observa na Figura 5).
Temas, tendências, objetos da produção
O levantamento dos temas das produções do eixo de Psicologia da Educação da ANPEd Sul passou pelas seguintes etapas: inicialmente, foram verificadas todas as palavras-chave registradas junto aos resumos, as quais totalizaram 83 registros. Posteriormente, foram realizadas as leituras dos resumos (e também dos textos) para verificar se era necessário adicionar alguma outra palavra que caracterizaria o tema daquela produção, chegando-se, dessa forma, a 93 registros.
A tabulação inicial destacou uma variedade de palavras referentes aos temas abordados nos trabalhos. Quase todas as palavras tiveram somente uma incidência nos resumos;os termos “adolescência”, “aprendizagem”, “desenvolvimento psíquico”, “educação”, “formação”, “formação de professores”6, “psicologia”, “psicologia educacional” e “trabalho docente” tiveram entre duas e quatro incidências.
A diversidade de palavras-chave encontrada provoca a colocação de alguns questionamentos: as palavras-chave, descritas nos trabalhos do eixo, são úteis para a identificação temática do trabalho? Não seria o momento de o eixo adotar ou criar um dicionário de palavras-chave que fosse oportuno para o eixo 15? Não se tem a intenção de responder a esses questionamentos, porém, devido ao alto número de palavras-chave, optou-se por agrupá-las, após leitura atenta dos textos completos (o que representou um trabalho exaustivo), em algumas categorias, sempre relacionando os termos com os trabalhos em que foram encontrados. Dessa forma, foram elaboradas categorias com os temas mais recorrentes nos trabalhos. Essas categorias estão apresentadas na Figura 6:
O tema mais recorrente nos trabalhos apresentados relaciona-se às questões do “desenvolvimento e aprendizagem”, com 34 recorrências. Em seguida, aparece o tema “metodologia de pesquisa e aportes teóricos” (13 recorrências), seguido por “psicologia e educação” (12), “trabalho e formação docente” (11), “educação e subjetividade” (11), “educação inclusiva e inclusão” (4), outros (8). Os temas de pesquisa estão relacionados com a proposição do grupo de trabalho, o qual, segundo Carvalho, Facci & Barroco (2010, n.p.), tem sua existência pautada
[…] por essa possibilidade fecunda de olharmos para a prática educacional, instrumentalizados pela teorização acerca da aprendizagem e do desenvolvimento humanos, das relações sociais e suas imbricações com a constituição da identidade de alunos, professores e demais envolvidos com o processo de escolarização, dentre outros aspectos.
O que se observa é que as temáticas de pesquisa têm se centrado na relação dos campos da Psicologia e da Educação, mas efetivamente há uma intencionalidade de construção de pesquisas que tenham como base este campo de conhecimento que é a Psicologia da Educação. Para este campo de conhecimento e pesquisa,
[…] o olhar é, pois, sobre a transformação e a transmutação que se processa nas pessoas, crianças, jovens, adultos, idosos, pelas interações de caráter educativo […]. A ótica a privilegiar é multidimensional, transformadora, uma ótica de alternativas, de flutuações, ou seja, ao lado dos processos construtivos e auto-organizativos deve-se considerar a mudança e a incerteza presentes nesses processos (Gatti, 2010, n.p.).
Entende-se que a produção no âmbito do eixo analisado tem poucos (ou nenhum) de alguns dos temas, os quais também são considerados importantes de serem pesquisados e/ou debatidos no evento, dentre os quais: a questão das políticas públicas para educação e suas relações com a aprendizagem em contextos educacionais; a temática da educação sexual; a educação para a saúde; a educação para morte; discussão sobre autores em teorias de aprendizagem e desenvolvimento, diferentes daqueles considerados clássicos; as tecnologias e mídias nas instituições de ensino e nos processos de ensino; a desigualdade social e as questões de gênero; antecedentes históricos dos principais autores da Psicologia da Educação; as relações entre religiões e Psicologia da Educação; o ambiente social que permeou a construção de teorias de aprendizagem por diferentes autores; a resolução de conflitos/violência no âmbito escolar; o corpo na escola; mal-estar e bem-estar na docência (apenas para citar alguns).
Enfoques metodológicos, tipificação das pesquisas, técnicas e instrumentos
Os trabalhos analisados evidenciaram uma diversidade metodológica, o que parece corroborar com as diferentes temáticas que vêm sendo abordadas de forma investigativa no eixo. Observa-se que essa variedade traduz as afinidades e perspectivas teóricas dos pesquisadores, os quais realizam pesquisas de caráter reflexivo, de revisão, bem como de natureza propositiva e pragmática.
Pode-se afirmar que há um número igualitário entre as pesquisas com enfoque qualitativo, as de caráter bibliográfico e aquelas em que os pesquisadores não mencionam a abordagem metodológica, seguido pelas investigações documentais, encontrando-se uma quantitativa e uma qualiquantitativa. Foram categorizadas como bibliográfica, bibliográfica e documental, bibliográfica-conceitual, materialismo histórico, pesquisa-intervenção, histórias de vida, fenomenologia da percepção, paradigma indiciário e descritiva exploratória. Alguns autores não definiram a abordagem metodológica e outros utilizaram simultaneamente dois procedimentos metodológicos, como é o caso da associação entre o paradigma indiciário (Ginzburg, 1989) e a análise documental, bem como da correlação entre o materialismo histórico e a análise de conteúdo.
Considerando essa primeira análise, partiu-se para delimitar quais as técnicas de análise de dados mais utilizadas nas pesquisas do GT 22. Constatou-se que há predominância da técnica de Análise de Conteúdo, seguida da técnica da Análise Textual Discursiva. Novamente, destaca-se o fato de 13 trabalhos não mencionarem as técnicas utilizadas, o que quase coincide com os seis que também não informaram qual o en- foque metodológico empregado. Essa “quase” coincidência deveu-se a: um dos trabalhos não fazer alusão à abordagem metodológica, mas informar haver considerado como técnica de análise a autoscopia7; cinco deles não anunciaram a abordagem metodológica ou qualquer outro elemento aqui analisado; sete deles indicaram a perspectiva metodológica, mas não sinalizaram a técnica implementada para análise. Além disso, um dos trabalhos fez uso de duas técnicas simultaneamente: a técnica projetiva e a técnica de grupos focais.
Com vistas a refinar ainda mais a análise, a Figura 9 apresenta os instrumentos mais recor- rentes nas pesquisas apresentadas nas reuniões do eixo 15.
Pode-se observar quenos trabalhos, majoritariamente, não há menção sobre qual ou quais instrumentos são considerados para a recolha dos dados e que, em maior número, mas ainda com pouca visibilidade, aparecem as entrevistas narrativas, seguidas das demais variedades instrumentais que têm a mesma frequência, mas que apresentam uma diversidade deveras interessante, que corroboram os múltiplos temas e tendências de pesquisas do eixo. Entretanto, cabem algumas reflexões, indagações que perpassam toda apreciação deste tópico do texto: por que há trabalhos em que não se delimita metodologia, método, técnica de análise ou instrumentos? Parece haver uma imprecisão entre metodologia, método, técnica de análise e instrumentos. Essa ambiguidade leva à outra questão: por que o processo metodológico é definido pelas técnicas de análise e/ou pelos instrumentos de pesquisa? E, por fim, encontrou-se diversos textos de revisão em que nenhum desses aspectos estavam evidenciados. Essas indagações permitem considerar que há um certo distanciamento entre os elementos destacados como critérios para submissão e possível aceitação ou não de um texto no eixo e o que efetivamente compõe o rol de produções apresentadas nas reuniões, posto que o critério “método” é condição para submissão, conforme explicitado no site do evento de 2022: “deverá ter problemática anunciada e desenvolvida contendo introdução, método, discussão e resultados, e conclusões” (ANPEd Sul, 2022, n. p.). Além disso, pode-se inferir que, durante as reuniões, no momento das apresentações, esses aspectos parecem não ser denotados, devido às suas recorrentes reincidências ao longo do período analisado.
Essas indagações também encontram guarida em pesquisa realizada por Damiani, Pires & Castro (2010) que, ao analisarem se existiam lacunas nas informações sobre objetivos explícitos, número de sujeitos, caracterização e critérios de seleção dos sujeitos, descrição dos instrumentos de coleta e de análise de dados e menção a livros de metodologia de pesquisa e, especificamente, sobre os procedimentos metodológicos das pesquisas apresentadas em determinado evento científico na área da Educação, constataram que “em 71,6 % dos relatos de pesquisas empíricas não foram nomeados os instrumentos de análise de dados, e em 36,8% não houve qualquer menção ao processo de análise realizado” (Damiani, Pires & Castro, 2010, p. 239). Acrescentam, ainda, que não havia informação sobre os instrumentos usados em 22% dos trabalhos e 57,9% destes não faziam qualquer menção a bibliografia sobre metodologia. Portanto, após 13 anos da publicação acima mencionada, os dados encontrados nas reuniões do eixo estudado permitem afirmar que ainda é necessário trabalhar no fortalecimento da densidade das pesquisas apresentadas. Segundo Dalbosco & Mühl (2021),
[…] a densidade está ancorada no seguinte tripé: a) no procedimento teórico do pesquisador, que se relaciona com o domínio consistente da literatura especializada e com o manuseio coerente dos conceitos relacionados ao problema de investigação; b) no procedimento metodológico consistente, que permite ao pesquisador observar, coletar e registrar os dados necessários, tratando-os conceitualmente em estreita relação com o problema de investigação; c) por fim, os procedimentos teórico e metodológico, referidos ao problema de investigação, consolidam a experiência do investigador na lida da pesquisa, tornando-o criativo no momento da exposição, pois lhe permite inovar no uso dos argumentos (pp. 255–256).
De acordo com Gatti (2012), a questão da densidade afeta o campo das pesquisas educacionais como um todo, e deve ser um ponto de investimento de pesquisadores que busquem dar ainda mais credibilidade ao campo.
As pesquisas e suas abordagens teóricas
Para a análise das abordagens teóricas adotadas, foi necessária uma investigação do tipo arqueológica, no sentido de buscarmos diferentes vestígios ao longo dos trabalhos apresentados. Em 80% (N=21) dos textos, a opção epistemológica não foi explicitada nos resumos, e 46% (N= 12) não abordaram a questão também no texto; residindo neste dado a constatação de um sinal, assim como em relação aos aspectos metodológicos, para a necessidade do adensamento das produções, neste caso, no eixo teórico.
Dos 54% (N=20) dos trabalhos que identificavam suas abordagens teóricas, 65% (N=13) adotam a abordagem histórico-cultural como aporte teórico primário; 15% (N=3) o materialismo histórico-dialético; 10% (N=2) a psicanálise, assim como foram tomadas a interface entre a psicanálise e a filosofia e a fenomenologia (5%/N=1 em cada uma das abordagens).
Apesar disso, analisamos que o uso da teoria histórico-cultural no campo por si pressupõe lançar o pensamento para além de perspectivas hegemônicas e, assim, o estudo dos fundamentos dessa teoria no eixo torna-se relevante na medida em que amplia a visibilidade sobre o humano como um ser social e a cultura como sua produção histórica (Cordeiro & Selau, 2023). Ainda, no cruzamento deste com o referencial histórico-dialético, privilegia que a sociedade se encontra em permanente movimento, pressupondo uma constante transformação. Significa que, nas pesquisas que vêm sendo produzidas na região Sul do Brasil, nas quais observou-se a imperativa preocupação frente aos fatos e fenômenos sociais emergentes e urgentes que ampliam as vulnerabilidades da e na escola.
Por outro lado, considerando que foram questões disparadoras das pesquisas principalmente aquelas relacionadas aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem e que, portanto, constituem-se como contribuições do eixo da Psicologia da Educação do Sul ao campo da Psicologia e da Educação, optamos por tomarmos alguns pontos para reflexão referente ao identificado na seara das já referidas produções. Desta forma, apresentam-se três questões, quais sejam: a) as bases epistemológicas dos trabalhos apresentados nos encontros das regionais analisadas encontram-se articulados com fatos e fenômenos sociais emergentes e urgentes nas escolas, como inclusão, fracasso escolar e vulnerabilidades sociais; b) os sujeitos, os sentidos subjetivos e as produções de subjetividade decorrentes da experiência escolar formaram uma guia entre os constructos apresentados e c) o desenvolvimento psíquico — com ênfase em sentimentos, emoções e habilidades socioemocionais, assim como a preocupação com o sofrimento psíquico, além da aprendizagem, estas com destaque às práticas pedagógicas e à importância da formação docente foram chave nos estudos.
Sob outra ótica, ou dito de outra forma, o que observamos é que o eixo Psicologia da Educação, na Região Sul, vem produzindo conhecimentos convergentes sobre os diferentes processos de aprendizagem, os diferentes sujeitos aprendentes, assim como pela validação do sentido da educação no desenvolvimento e na formação humana.
Considerações finais
Este trabalho objetivou compreender possíveis e distintas perspectivas teóricas, verificar as principais temáticas e enfoques metodológicos que vêm sendo produzidos entre as pesquisas da região Sul do Brasil. Os resultados apontam que o eixo 15 constitui-se como espaço importante de divulgação do conhecimento científico referente à Psicologia da Educação, contando com 27 trabalhos publicados (aprovados) em apenas três edições do evento na região Sul, ou seja, é um espaço de divulgação científica consolidado.
Encontrou-se diversidade nas abordagens teóricas, embora considerou-se que há espaço para a pesquisa, publicação e debate que envolva outros temas (citados no decorrer do texto). No início desta investigação, havia a compreensão inicial de que seriam encontrados muitos trabalhos embasados pela Psicologia Histórico-Cultural, tal como constatou Schlindwein, Souza, Silva, Asbahr & Nadaleto (2006), o que de fato ocorreu. Contudo o materialismo histórico-dialético, a psicanálise, sua interface com a filosofia e a fenomenologia, mostraram-se como perspectivas de ampliação, ou (novos) diálogos, e o que, de fato, é preocupante, é a ausência da opção teórica em quase a metade dos trabalhos apresentados, ficando uma indagação em relação à necessidade de sustentarmos outros referenciais teóricos no eixo.
Um aspecto que não se analisou, mas que pode se constituir em estudo futuro, refere-se à relação entre ciência e relações interpessoais. Freire (1997, p. 2) chamava a atenção para o fato de que “não há um sem os outros, mas ambos em permanente integração”. Compreende-se que o espaço de participação do eixo 15 — Psicologia da Educação — da ANPEd Sul, como ouvinte ou apresentador de trabalho, pode se constituir em ambiente de produção científica e, também, espaço para o encontro entre pesquisadores, experientes e em formação, para o estabelecimento de boas relações interpessoais entre os participantes.