INTRODUÇÃO
O Século XXI, especialmente a partir do ano de 2020, trouxe grandes desafios para as bases da educação escolar, nos modos de compreensão do conhecimento e das finalidades da escolarização, sobre os modos de atuação na docência e na aprendizagem dos estudantes, colocando tanto a equipe gestora, corpo docente, estudantes e famílias diante de grandes inseguranças.
As incertezas sobre o ensino, a aprendizagem e a organização do trabalho escolar requerem cuidadoso movimento de interpretação da realidade educacional. As soluções para os problemas da emergência educacional que o período pandêmico exigiu, não só a compreensão rigorosa, como também tomada de decisões de todos os atores da educação escolar, da gestão dos sistemas de ensino, da gestão do trabalho escolar e do processo efetivo de ensino e aprendizagem.
As demandas geradas da situação imposta pelo cenário mundial relativo à situação da pandemia da Covid 19 são fatores implicados nas incertezas da educação escolar que veio se acumulando em formato cascata nos âmbitos nacional e local, gerando decisões emergenciais, dentre elas a suspensão das atividades presenciais e, ao mesmo tempo, expôs as sérias dificuldades para a continuidade das atividades escolares, quer por consequências sanitárias em atendimento ao isolamento imposto em todo o mundo, quer por carecimento das famílias, seja por limitações dos próprios sistemas de ensino escolar na gestão de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação.
Entende-se que, fatores implicados nas incertezas da educação escolar dizem respeito a demandas relativas à situação posta pela tragédia local, nacional e mundial gerada pela pandemia da covid-19, nos anos de 2020 e 2021, a qual fez suspender as atividades presenciais, e, ao mesmo tempo, expôs as sérias dificuldades para a continuidade de atividades escolares, seja por carecimento das famílias, seja por limitações dos próprios sistemas de ensino.
A situação imposta às Redes de Ensino relacionadas à tragédia da Covid-19 evidenciou sérias limitações em face da intenção de retorno às atividades pedagógicas mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação, uma vez que a pandemia fez suspender as atividades presenciais. As fragilidades são de todas as ordens, desde as limitações de logística até a falta de conectividade, como acontece no Estado do Amazonas. As limitações dos familiares que não possuem equipamentos, das próprias escolas públicas e da formação dos Professores, habituados na ação docente presencial e com reduzida habilidade no manuseio das tecnologias digitais no campo pedagógico.
Segundo pesquisa da CETIC1 são evidentes os impactos das tecnologias de informação e comunicação na educação escolar, especialmente pelo fato de que cerca de 40% dos estudantes brasileiros não têm aparelhos de computador ou tablet, confirmando a grave situação de exclusão digital do contingente de estudantes das escolas públicas.
Neste estudo abordamos as referências e condições possíveis para a realização da docência e aprendizagem que foram possíveis no contexto pandêmico, envolvendo Professores e Alunos. Buscamos ter cuidado com muitas noções em moda, as quais podem confundir nossas intenções de uma aprendizagem de qualidade, visando a formação de sujeitos atuantes, reflexivos e propositivos, sobre o que leem e o que fazem com os objetos de sua leitura, na vivência e convivência engendrada na vida cotidiana. A este respeito, nos respaldamos nas indicações da BNCC, de que,
As experiências das crianças em seu contexto familiar, social e cultural, suas memórias, seu pertencimento a um grupo e sua interação com as mais diversas tecnologias de informação e comunicação são fontes que estimulam sua curiosidade e a formulação de perguntas. O estímulo ao pensamento criativo, lógico e crítico, por meio da construção e do fortalecimento da capacidade de fazer perguntas e de avaliar respostas, de argumentar, de interagir com diversas produções culturais, de fazer uso de tecnologias de informação e comunicação, possibilita aos alunos ampliar sua compreensão de si mesmos, do mundo natural e social, das relações dos seres humanos entre si e com a natureza (BNCC, 2017, p. 58).
Diante disso, precisamos caminhar e avançar, em face às necessidades educativas dos discentes. Dessa forma, busca-se com o presente estudo identificar de forma empírica os desafios no ensino remoto postos pela pandemia da COVID 19, no desenvolvimento da função da escola, bem como da continuidade e/ou descontinuidade dos processos pedagógicos por ela desenvolvidos, evidenciando como os sujeitos envolvidos desenvolveram estratégias pedagógicas que puderam de alguma forma alcançar os estudantes, tendo como pano de fundo a realidade das escolas da rede estadual do Amazonas.
A INCORPORAÇÃO DO ENSINO REMOTO NA PRÁTICA DOCENTE
O modelo de Ensino Remoto foi adotado emergencialmente nos anos de 2020 e 2021 pela rede Estadual de Educação do Amazonas, assim como pelas Secretarias Municipais de Educação do Estado, que atuaram em parceria com a Secretaria Estadual. O modelo pode ser definido como “[...]uma modalidade de ensino que pressupõe o distanciamento geográfico de professores e alunos e foi adotada de forma temporária nos diferentes níveis de ensino por instituições educacionais do mundo inteiro” (TUMBO, 2021, p. 146).
Nesse contexto, precisou-se considerar os espaços educativos e as possibilidades de otimização do modelo, uma vez que a medida emergencial previa um novo formato de atividade escolar tanto para o docente quanto para o estudante, uma vez que “[...]o ensino remoto tornouse a principal alternativa de instituições educacionais de todos os níveis de ensino, caracterizandose como uma mudança temporária em circunstâncias de crise” (RONDINI, 2020, p. 43). Contudo, para não haver contradições na forma de execução do modelo remoto, a orientação legal advinda dos órgãos responsáveis se fez necessária para o desenho e a articulação do modelo.
Em resposta a pressão das redes de ensino para direcionamentos acerca das medidas a serem adotadas no período de suspensão de atividades presenciais, o poder executivo nacional publicou a Medida Provisória Nº 934 de 1º de Abril de 2020 que estabeleceu normas excepcionais para o ano letivo da educação básica. Em seu Art. 1º expressa:
O estabelecimento de ensino de educação básica fica dispensado, em caráter excepcional, da obrigatoriedade de observância ao mínimo de dias de efetivo trabalho escolar, nos termos do disposto no inciso I do caput e no § 1º do art. 24 e no inciso II do caput do art. 31 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, desde que cumprida a carga horária mínima anual estabelecida nos referidos dispositivos, observadas as normas a serem editadas pelos respectivos sistemas de ensino.
Em sequência, o Conselho Nacional de Educação emitiu o parecer CNE/CP nº. 5 que recomendou:
Um esforço dos gestores educacionais no sentido de que sejam criadas ou reforçadas plataformas públicas de ensino on-line, na medida do possível, que sirvam de referência não apenas para o desenvolvimento dos objetivos de aprendizagem em períodos de normalidade quanto em momentos de emergência como este.
Antecipadamente, o Conselho Estadual de Educação do Amazonas acatou em 18 de março de 2020, por meio da Resolução nº. 30, a determinação governamental2 de suspensão de atividades presenciais e estabeleceu o Regime Especial de Aulas Não Presenciais no Sistema de Ensino do Estado do Amazonas. A Resolução em seu artigo 3° discorre que o regime especial se daria a contar de 17 de março de 2020, podendo ser prorrogado na existência de orientações das autoridades competentes, como de fato ocorreu.
A Secretaria de Educação e Desporto - SEDUC/AM em atendimento às orientações previstas na resolução, quanto às providências e recomendações para o ano letivo de 2020, instituiu o Regime Especial de Aulas Não Presenciais, conforme a Portaria n° GS 311/2020-SEDUC. O cenário apresentado para implementação do Regime diferenciado emerge das discussões voltadas para o Ensino Remoto, inúmeras dúvidas emanam nesse período.
As dúvidas em relação ao termo remoto tornaram-se emergentes nesse momento. Contudo, de acordo com Dos Santos Carvalho e Araújo (2020, p. 02):
O ensino remoto compreende um conjunto de atividades emergenciais que as escolas estão planejando e executando através de ferramentas virtuais ou outros meios disponíveis, visando minimizar os impactos da suspensão das aulas presenciais, em virtude dos planos de contingência do Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde para evitar a disseminação do Novo Coronavírus.
O fato é que para dar continuidades às atividades escolares instalou-se nas escolas do Estado o modelo de aulas remotas. Diante deste cenário, pode-se afirmar que inúmeras mudanças ocorreram na prática cotidiana dos professores, havendo a necessidade de adaptação para o novo modelo de educação que foi instalado. Com o Ensino Remoto, “[...]os professores são desafiados a aprender com uma forma de ensinar bem diferente do que antes, que exige criatividade, tempo, dedicação e, principalmente, domínio das tecnologias das informações e comunicações” (CABRAL; COSTA, 2020, p. 50).
É bem consensual que alunos e professores passaram a se adaptar ao novo modelo, enfrentando inúmeros desafios. Dos Santos Carvalho e Araújo (2020, p. 02) reitera que “[...]tevese que incorporar ao vocabulário, repentinamente, expressões como ensino remoto, sala de aula virtual, chat online, lives, videoaulas, plataformas online etc. e (re) aprender, também de modo repentino, outras práticas de trabalho docente”.
Assim, as gravações de vídeo aulas, o uso do WhatsApp, as mensagens de textos, as apostilas impressas, o livro didático assim como outros recursos didáticos foram colocados em evidência como mecanismos utilizados pelos professores, pais e alunos nesse período. Outros desafios foram postos na roda, levar o aluno a participar das aulas, sensibilizá-los para a importância da continuidade do processo educativo foi algo que levou professores e equipe gestora ao empenho de esforços, de forma que a escola cumprisse seu papel social.
Compreende-se que as atividades pedagógicas na direção das aulas remotas são conduzidas por situações de aprendizagens que levam o professor a expor sua criatividade, pois se consideram as especificidades da sua turma, fornecendo-lhes materiais didáticos que sejam acessíveis às condições individuais dos alunos. Esse aspecto tornou-se fundamental para oportunizar a aplicabilidade das aulas, levando aos estudantes materiais pedagógicos diversificados, pois se considera nesse contexto que “[...]as escolas estão sempre se adaptando às dificuldades, elaborando estratégias para manter o vínculo escolar dos estudantes” (ALFARO, CLESAR; GIRAFFA, 2020).
As reflexões acerca do modelo trabalhado consideram que os professores, os alunos e os pais adentraram no desafio de tornar as aulas remotas uma realidade em suas casas. Atividades como edição de vídeos, downloads de aulas, entenderem e explicar conteúdos de apostilas, tornar o ambiente familiar mais apropriado para as aulas e garantir o acesso a internet para os filhos foi desafiador para as famílias.
Esse novo contexto transformou o papel da família dentro do processo de ensino, levandoa para o centro da atividade escolar do estudante, pois sem o apoio dos pais e/ou responsáveis a continuidade do ensino e aprendizagem para os alunos tornava-se inviabilizada. Outra situação apresentada pelo “[...]trabalho remoto, [refere-se] às possibilidades de reunião para trocas presenciais são substituídas por um trabalho mais solitário realizado em uma nova rotina no cotidiano doméstico” (GONÇALVES, GUIMARÃES, 2020, p.782).
Aulas remotas nas escolas estaduais do Amazonas
Em 17 de março de 2020, por meio de decreto governamental as aulas nas escolas da Rede Estadual do Amazonas foram suspensas, fato ocasionado pela pandemia do COVID-19. Nesse período deu-se o início de uma série de especulações, tratados e acertos entre responsáveis dos departamentos pedagógicos da secretaria de educação - SEDUC, a fim de verificar de que forma poderiam dar continuidade às atividades pedagógicas nas escolas. Com o intuito de responder aos questionamentos, a Secretaria disponibilizou um documento orientador que versava sobre alguns pontos, inclusive acerca do período emergencial em que citava:
O Governo do Estado do Amazonas preocupado por conta da situação de emergência na saúde pública em função da pandemia ocasionada pelo Coronavírus (COVID-19) adotou umas das estratégias de enfrentamento inicial a suspensão das atividades escolares, por um período de 15 dias, conforme os Decretos n° 42.061, 42.063 e 42.087 de 16, 17 e 19 de março de 2020, respectivamente. Por sua vez, a Secretaria de Estado de Educação e Desporto, atendendo às recomendações de providências quanto à operacionalização do ano letivo de 2020, de acordo com a Resolução n° 30/2020 - CEE/AM instituiu o Regime Especial de Aulas Não Presenciais para os estudantes da rede pública estadual de ensino, conforme Portaria n° 311/2020 - GS/SEDUC (Documento orientador, disponível em http://www.educacao.am.gov.br/).
A decisão preliminar colocou os professores a frente de um novo cenário: gerenciar e organizar estratégias de ensino e aprendizagens que pudessem alcançar de alguma forma os alunos da rede. O Programa Aula em Casa foi a principal estratégia oferecida pela Secretaria de Educação para a continuidade do ano escolar. Por meio do Centro de Mídias de Educação do Amazonas - CEMEAM foram disponibilizadas aulas dos diversos componentes curriculares, inicialmente retiradas do acervo da Educação Mediada por Tecnologia, oferecida há 15 anos às comunidades de difícil acesso. Posteriormente, produziram-se outras aulas de forma a oferecer todos os objetos de conhecimento previstos no currículo re-priorizado, assim denominado após seleção de conteúdos de aprendizagem prioritários para a educação básica no período pandêmico. As aulas estiveram disponíveis em diversas plataformas, como Youtube e Plataforma Saber+ (Administradas pelo CEMEAM), assim como no canal televisivo TV Encontro das águas, e nos Aplicativos ‘Mano’ e ‘Aula em Casa’. A programação foi disponibilizada nas diversas plataformas da Secretaria de Educação, e-mail e redes sociais.
Em Manaus, o Projeto Aula em Casa alcançou cerca de 88% e 94% dos estudantes matriculados na rede estadual de ensino nos anos de 2020 e 2021, respectivamente, considerando as respostas ao link de formulário Google aplicado pela Secretaria de Educação e Desporto no período das atividades remotas. A mediação de todo atendimento foi realizada pela escola e ocorreu de forma diferenciada em ambos os anos. No ano de 2020, não havia a sistematização do atendimento ao aluno, logo cada escola desenvolveu sua metodologia conforme sua realidade e obedecendo aos critérios do documento orientador. O acervo das estratégias utilizadas para contabilizar a carga horária do ano letivo ficou também a cargo de cada escola. Os gestores escolares junto à comunidade escolar organizaram as atividades em suas próprias unidades de ensino.
No mesmo ano, a SEDUC/AM publicou a Instrução Normativa N°001/2020 que estabeleceu "[...]normas e procedimentos operacionais para o registro no Diário de Classe e SIGEAM, relativos ao período do Regime Especial de Aulas Não Presenciais nos níveis, etapas e modalidades da Educação Básica da rede estadual de ensino público do Estado do Amazonas". Em atenção à Instrução Normativa, os registros de frequência e avaliação no Diário de Classe (físico e digital) seriam realizados no retorno às aulas presenciais:
II - A frequência dos alunos será registrada no Diário de Classe (Físico e Digital), quando do retorno às aulas presenciais, de acordo com o Art. 4o, inciso IV da Resolução no 30/2020 do CEE/AM, evidenciadas em conformidade com o Item 6 das Diretrizes Pedagógicas para o Regime Especial de Aulas Não Presenciais da SEDUC/AM e seguindo as orientações do DEGESC, em norma posterior;
III - A realização do processo de avaliação dos conteúdos ministrados, bem como seus registros no Diário de Classe (Físico e Digital), deverão acontecer após o término do período do Regime Especial de Aulas Não Presenciais, conforme estabelecido no Art. 7o, inciso VIII da Portaria GS no 311/2020 da SEDUC/AM (Instrução Normativa disponível do Diário Oficial do Estado do Amazonas).
Desta forma, a partir do mês de agosto de 2020, quando houve o retorno às aulas presenciais, os docentes realizaram o recebimento das atividades ao mesmo tempo em que revisaram objetos de conhecimento com os estudantes.
Embora a SEDUC/AM tenha disponibilizado aulas teóricas nas diversas mídias, o reforço com os estudantes por meio da mediação on-line não foi eficaz em sua totalidade. A pandemia expôs a fragilidade da extensão do ensino da escola para casa, tanto devido ao não acompanhamento familiar quanto pela ausência de recursos e meios de acesso à informação. No período pré-pandemia, a dificuldade de acesso à informação era mascarada pelo movimento das redes sociais, como Facebook, Instagram e etc., pois o mesmo estudante engajado nas redes sociais demonstrava dificuldade em pesquisas nos sites de buscas e na curadoria de informações acadêmicas. E em alguns casos, o acesso a ferramentas midiáticas, como aparelhos celulares, computadores e televisão era inexistente, dificultando o acompanhamento das aulas pelos estudantes.
O desenvolvimento da competência digital não pode ser negligenciado pela escola, tendo a escola papel fundamental no processo de letramento digital. Silva e Ribeiro, 2020 destacam que "[...]é necessário que seja acompanhado de saberes e competências, para que se faça um uso confiável e crítico das TIC".
Nos demais municípios do Amazonas, o Projeto Aula em casa não atendeu de forma satisfatória a necessidade das escolas, pois na maioria destes municípios o acesso à internet acontece de forma precária, e quando existe rede de dados disponível, somente algumas famílias, com melhores condições financeiras, conseguem adquirir serviço de internet. Esse foi um desafio para professores, alunos e familiares de gerenciar, adquirir e disponibilizar as aulas nas suas realidades.
Tumbo (2021, p. 143) reforça o viés da falta de acesso de muitos sujeitos, afirmando que:
O ensino remoto tende a reforçar a desigualdade do acesso e qualidade da educação brasileira, o que evidencia a necessidade urgente de planejamento, formulação de políticas públicas e práticas de gestão de enfrentamento a situações adversas que auxiliem as escolas a se adaptarem a modelos de ensino não convencionais.
Do ponto de vista da cultura digital, Nonato, Sales e Cavalcante (2021, p. 4) corroboram do pensamento de que antes “[...]o ponto de tensão residia na necessidade de a escola assumir valores da cultura digital como modo de se inserir e se legitimar no contexto de seu público-alvo, não obstante o impacto que esse movimento teria da dinâmica da instituição escolar e no papel do professor”.
Vale dizer que o período foi marcado pela adoção da cultura digital, o que foi uma necessidade emergente, contudo houve a descontinuidade desse processo pós-pandemia. As ferramentas digitais que haviam sido utilizadas de forma determinante para o alcance e estímulo de aprendizagem ao estudante, com o retorno às aulas presenciais aparecem nas aulas de maneira esporádica, levando-nos a acreditar que o uso da tecnologia como forma de processo, meios de chegar aos estudantes foi adotada apenas como ferramenta emergencial do referido período.
As orientações trazidas pela SEDUC/AM enfatizavam a necessidade dos municípios com suas unidades escolares se organizarem, criando estratégias e forçando a todos a olharem suas realidades e singularidades e, a partir dela, elaborar instrumentos de aprendizagens destinados aos seus alunos, compreendendo que “[...]a escola continua a ser fundamental para a inserção dos sujeitos na sociedade e, como tal, é um instituição cultural importante que não pode renunciar aos movimentos culturais de nosso tempo” (NONATO, SALES, CAVALCANTE, 2021, p. 5), considera-se esse tempo o momento apresentado pela pandemia do COVID - 19.
A perspectiva adotada pela secretaria trouxe um viés de proporcionar às escolas o desenvolvimento da autonomia, no sentido de que os gestores com base nos seus contextos, poderiam implementar ações pedagógicas, dentro da cultura digital que pudesse atender aos alunos, compreendendo que cada realidade apresentava distintas especificidades. Sobre isso Nonato, Sales e Cavalcante (2021, p. 5) afirmam que:
Dentre os vários desdobramentos da inserção da cultura digital da vida escolar, a virtualidade é um dos mais significativos porque implica a reorganização do tempo e do espaço escolar, aspectos fundamentais da vida escolar, na medida em que, na cultura digital, espaço/tempo se reencontram em uma nova dimensão: a virtualidade.
A representatividade das estratégias utilizadas por esses municípios e suas respectivas escolas pôde ser observada nos resultados adquiridos em pesquisa realizada semanalmente, em que foi verificada a participação e o engajamento dos alunos durante o período remoto, pois compreendeu-se que o Regime de Aulas Não Presenciais se referia a alguma forma de desenvolver atividades pedagógicas que pudessem chegar a residência dos alunos. Sobre isso, Nonato, Sales e Cavalcante (2021, p. 3) afirmam que:
[...] o descompasso da escola em relação aos demais setores da sociedade na assimilação da cultura digital em suas práticas cobrou o seu preço e a migração das atividades educacionais dos ambientes presenciais físicos para os ambientes virtuais pôs às claras as dificuldades da escola em seu processo de inserção na cultura digital.
A escola passou a adaptar-se ao novo formato da educação escolar, no seu contexto de atividades. No mês de maio de 2020, a Secretaria de Educação e Desporto - SEDUC disponibilizou um link via formulário Google, encaminhada via WhatsApp, para estimar a participação dos alunos de cada escola da rede que foi adotado nos dois anos de atividade remota. O retorno de respostas ao formulário consolidado na plataforma Business Intelligence confirmou o alcance de 270.641 e 318.315 de estudantes da rede estadual, em 2020 e 2021 respectivamente. Este dado é relevante, pois evidenciou que 65,62% (2020) e 76,70% (2021) dos estudantes matriculados na rede estadual, nos levando a acreditar que estes estudantes se comunicavam semanalmente com a escola, e que possivelmente acompanhavam as atividades pedagógicas de forma remota com uso de tecnologias.
No ano de 2021, a SEDUC orientou que cada escola criasse grupos de WhatsApp para cada turma, de forma a estreitar a comunicação escola-família (Figuras 1 e 2). Cada grupo seguia seu horário de aula, com docentes repassando as atividades de seus componentes curriculares. Este acompanhamento passou a ser mais estruturado, no entanto criou uma rotina de contato diária com o docente e discente que por muitas vezes ultrapassou seu horário de trabalho.
Diante disso, pode-se considerar que dos recursos tecnológicos com intencionalidade pedagógica mais utilizados pelos professores e que conseguiram alcançar o maior quantitativo de estudantes foi o WhatsApp. Rocha (2020, p. 208) destaca que “[...]o uso de novas ferramentas educacionais requer, portanto, novas metodologias, assim como, novas estratégias de modo que todos esses recursos ganhem sentido em suas abordagens”.
Devido à dificuldade de acesso à internet e recursos tecnológicos por estudantes e professores das comunidades mais remotas dos municípios (exceto Manaus), outras estratégias pedagógicas foram utilizadas como apostilas impressas, com alcance de 13.962 alunos (2020) e 17.319 (2021), e o livro didático utilizado por 6.833 alunos em 2020. Considera-se ainda que 4.044 alunos realizassem planos de estudos, com atividades orientadas para resolução dos exercícios em um prazo pré-definido pelo professor. Nesses casos, as atividades foram entregues nas suas residências e/ou em algum ponto estratégico que pudessem atender a necessidade dos pais e/ou responsáveis dos alunos (Figuras 3 e 4).
Atividades estas que demonstraram as mudanças na rotina na vida de professores e alunos, uma nova dinâmica foi instaurada que conforme (ROCHA, 2020, p.208):
Neste cenário, professores se viram obrigados a (re) aprender e lidar com uma variedade de recursos, a gravação de vídeo-aulas, sistemas de videoconferência, como por exemplo, o zoom e o [meet], postagem de material didático adaptado para plataformas como Google Classroom [recursos esses muitas vezes] utilizados apenas em uma perspectiva instrumental, de forma limitada, que acaba reduzindo o ensino a uma prática meramente transmissiva e informativa.
Nesse pensamento, os professores em suas respectivas disciplinas, disponibilizavam conteúdos e materiais didáticos mais personalizados e ajustados pelos professores, de acordo com a necessidade, cronograma mais flexível e ajustado segundo o contexto atual, avaliações mais centradas nas aulas, mais atividades síncronas, carga horária centrada nas aulas, com objetivo de minimizar as dúvidas e dificuldades com relação aos conteúdos abordados.
Considera-se nesse contexto o ponto de vista apontado por Rondini (2020, p. 43) quando afirma que:
As mudanças no sistema educacional tiveram que ser realizadas rapidamente, de sorte que, de um dia para o outro, os professores precisaram transpor conteúdos e adaptar suas aulas presenciais para plataformas on-line com o emprego das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC), sem preparação para isso, ou com preparação superficial, também em caráter emergencial.
As aulas remotas trouxeram elementos que levaram professores e alunos a mudanças na cultura de organização das salas de aulas e a forma de oferecer o processo de ensino e aprendizagem dos estudantes.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Neste estudo foram considerados os movimentos realizados pelos professores e gestores escolares que indicassem caminhos percorridos, visando fornecer conteúdos pedagógicos para os alunos, estudantes da rede estadual de ensino do Amazonas, durante a pandemia da COVID-19, de forma que pudessem minimizar os impactos na aprendizagem dos alunos nesse período.
A intencionalidade desta investigação logrou êxito, tendo em vista que apresentou elementos que puderam identificar o trilhar dos sujeitos envolvidos no processo escolar no desenvolvimento de estratégias pedagógicas para disponibilizar acesso aos alunos, diante da necessidade de dar continuidade aos processos escolares, minimizando o avanço do analfabetismo funcional.
Este trabalho mostrou que houve situações de monitoramento da rede de ensino por meio do uso de formulários Google, envio de atividades via WhatsApp, aulas pelo Youtube, sendo que o uso da tecnologia foi um fator relevante e necessário para o período vigente, mas essa situação demonstrou a falta de acesso às tecnologias digitais por uns, isso afetou professores e alunos, podendo ser sanadas pelo uso dos livros didáticos, materiais impresso e atividades com plano de estudo, principalmente para as áreas geográficas mais remotas.
Considerou-se também o posicionamento da Secretaria de Educação e Desporto - SEDUC/AM no que tange às orientações pedagógicas e disponibilidades de plataformas educacionais que pudessem auxiliar as escolas na sua função social. As mudanças ocorridas exigiram esforços de ambos os lados, tanto os departamentos pedagógicos da SEDUC, quanto gestores, professores, pais e alunos precisaram fazer um movimento gigantesco, visando a apropriação de conhecimentos que favorecem o crescimento dos alunos.
Espera-se que os resultados obtidos possam contribuir com reflexões, com políticas educacionais que pautem melhorias para a educação no estado do Amazonas, principalmente no que se refere ao acesso à conectividade, a formação de professores e gestores escolares com foco no letramento digital, e ainda a disponibilidade de plataformas digitais para uso com baixa ou nenhuma conectividade, sendo esses fatores que implicaram de forma significativa para redução de melhores resultados para esse período.