1 Introdução
O conceito de turismo acessível diz respeito ao processo colaborativo estabelecido entre os mais diversos atores do sistema turístico, com o objetivo de promover a adaptação da oferta turística a todos os turistas, de acordo com as suas necessidades de acesso, permanentes ou temporárias, visíveis ou invisíveis, mais ou menos severas, de forma a que possam dela usufruir em autonomia, igualdade e dignidade, sem barreiras físicas ou relacionadas aos serviços, produtos e ambientes (World Tourism Organization [UNWTO], 2013). Grande parte dos trabalhos de investigação científica, nessa área, centram o seu foco nas acessibilidades físicas. Um número limitado de estudos analisa as relações interpessoais entre as pessoas com deficiência (PcD) e os profissionais da indústria turística, mais propriamente as atitudes destes últimos em relação às PcD (Shaw & Coles, 2004). Sendo este um terreno em que a produção científica na área do turismo é escassa, faz todo o sentido investigar o que se faz em outras áreas científicas e setores de atividade, cujos serviços envolvem o contato permanente com PcD.
A deficiência é descrita como um fenómeno multidimensional que resulta da interação entre as pessoas e o ambiente físico e social. Assim, a incapacidade e a funcionalidade são influenciadas pela interação entre as condições de saúde e os fatores contextuais, os quais podem ser humanos ou ambientais (Organização Mundial da Saúde [OMS], 2004). As atitudes em relação às PcD resultam da interação entre elas e outras pessoas, com ou sem deficiência, que se encontram no mesmo meio ambiente social. De acordo com Fazio e Olson (2003), essas atitudes advêm da ação isolada, ou por combinação de três componentes: (i) a componente afetiva (envolve a parte sentimental da pessoa); (ii) a componente cognitiva (envolve as crenças e os conhecimentos pessoais); e (iii) a componente comportamental (a forma como a atitude influencia a ação ou o comportamento).
As atitudes relativas a um determinado estímulo (objeto ou grupo social) assumem sempre um caráter avaliativo que pode ser positivo ou negativo (Allport, 1935), de maior ou menor intensidade (Fishbein & Ajzen, 1975), servindo determinadas funções que auxiliam a resposta da pessoa, e a sua adaptação, ao ambiente social que a rodeia (Katz, 1960).
As atitudes negativas, em relação às PcD, representam uma das maiores barreiras à sua participação em atividades sociais, como, por exemplo, o acesso aos serviços públicos de saúde, educação, lazer, recreio e desporto, contribuindo ainda mais para os efeitos incapacitantes da deficiência (Duckworth, 1988), reduzindo as oportunidades de integração social e promovendo o aprofundamento da sua condição (Paris, 1993). Já a presença de atitudes positivas contribui, de forma inequívoca, para a integração e participação das PcD nas atividades sociais anteriormente referidas, melhora a qualidade dos serviços prestados e diminui o estigma das PcD, sendo, atualmente, uma das principais preocupações que a sociedade procura enfrentar e resolver (Fitzsimmons & Barr, 1997).
Em 1928, Thurstone concluiu que “as atitudes podem ser medidas” (1928, p. 529), o que, inevitavelmente, “abriu portas a um dos mais importantes construtos da psicologia social” (Gawronski, 2007, p. 573). Desde então, foram inúmeras as tentativas de desenhar um modelo de medição das atitudes em relação às PcD, todos elas baseadas nas mais diversas teorias. Contudo, a grande maioria desses instrumentos apresentam alguns problemas relacionados à sua fiabilidade (consistência nas medições), flexibilidade de uso (poderem ser utilizados em distintos momentos de recolha de dados) ou confiança na sua utilização (frequência de utilização em estudos) (Lam et al., 2010).
De acordo com Findler, Vilchinsky e Werner (2007), existem dois grupos de técnicas de medição: as diretas, autodescritivas ou explícitas, nas quais se pergunta diretamente à pessoa qual a sua atitude face a determinado objeto, e as indiretas ou implícitas, em que a atitude é aferida a partir de outro indicador que não a resposta (o que implica a ausência de controlo na resposta, ausência de intencionalidade, ausência de consciência e eficiência do processamento cognitivo que permite a sua ocorrência com baixos recursos cognitivos).
De forma a aumentar o conhecimento sobre as metodologias utilizadas para medir as atitudes face às PcD, este estudo de revisão sistemática da literatura pretende efetuar uma recolha dos principais instrumentos, e das metodologias utilizadas em diversas áreas científicas, para medir as atitudes em relação às PcD, bem como identificar as principais variáveis que as explicam. Por meio do mapeamento das descobertas já alcançadas pelas investigações desenvolvidas, sobretudo em outras áreas do conhecimento, e em outras atividades econômicas, pretende-se, com esta revisão sistemática, identificar lacunas e oportunidades em termos de investigação científica sobre as barreiras atitudinais no âmbito do turismo acessível.
2 Desenvolvimento
Nesta seção, abordar-se-á a metodologia utilizada nesta pesquisa, que envolveu duas etapas descritas na sequência.
2.1 Metodologia
Esta revisão sistemática da literatura tem como objetivo analisar os estudos que vêm sendo publicados na literatura científica relacionados às atitudes de estudantes ou profissionais de vários setores em relação às PcD, no sentido de identificar as áreas científicas em que eles têm sido realizados, as metodologias que têm sido utilizadas, bem como os fatores que influenciam as atitudes de estudantes e profissionais face às PcD.
A metodologia utilizada integra duas etapas: (i) identificação dos estudos a analisar e
(ii) descrição do processo a utilizar para analisar o conteúdo dos estudos identificados.
2.1.1 Primeira etapa - identificação dos estudos A analisar
Nesta revisão sistemática da literatura, privilegiou-se a base de dados Scopus, uma das maiores do mundo, que aloja artigos previamente revistos por outros investigadores (Elsevier, 2019), tendo-se utilizado, como protocolo de pesquisa, o processo descrito no Quadro 1.
Termos da pesquisa | ( TITLE-ABS-KEY ( "attitudes" ) AND TITLE-ABS-KEY ( "disabled people" ) OR TITLE-ABS-KEY ( "people with disabilit*" ) OR TITLE-ABS-KEY ( "people with special needs" ) AND TITLE-ABS-KEY ( "training" ) OR TITLE-ABSKEY ( "education" ) | |
Base de dados | Scopus | |
Campos de pesquisa | Artigo e revisão de artigos | |
Resultados | 492 | |
Horizonte temporal | 1973-2019 | |
Data da pesquisa | 09/05/2019 | |
Critério | Filtro | Resultado |
Idioma | Inglês, francês, espanhol e português | 492 |
Tipo de documento | Artigos e revisões | 492 |
Temática analisada | Título e resumo | 148 |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Conforme se pode observar no Quadro 1, a recolha dos dados foi efetuada em 9 de maio de 2019. Os resultados obtidos permitem observar que o primeiro documento identificado foi publicado em 1973. Por forma a captar todos os tipos de documentos relacionados com a temática em estudo, foram utilizadas, na pesquisa, as seguintes palavras: “attitudes”, “disabled people”, “people with disabilit*”, “people with special needs” associadas a “education”, “training” e “undergraduate*” e “graduate*”. A investigação inclui todas as áreas, uma vez que, como exposto anteriormente, a produção científica com enfoque nesse tema é relativamente escassa.
Posteriormente, e tal como exposto no Quadro 1, definiram-se os critérios de inclusão ou exclusão dos documentos. Assim, como filtro, restringiu-se a pesquisa aos documentos cujo idioma era o inglês, francês, espanhol ou português. Seguidamente, efetuou-se uma análise de conteúdo com base no título e resumo de cada documento, eliminando-se todos aqueles que não correspondessem ao tema principal desta investigação.
Como exemplo de motivos de exclusão de artigos, há de destacarem-se aqueles que abordam temas que não se enquadram nos objetivos da presente revisão, tais como artigos cujo foco de análise se centra na medição dos impactos das políticas públicas de inclusão (Fisher & Purcal, 2017), de avaliação da satisfação e qualidade dos cuidados prestados, de identificação de barreiras ou dos seus impactos na comunidade. Foram, também, excluídos todos aqueles cujos objetos de estudo eram diferentes do estabelecido para esta revisão.
Conforme se pode observar na Figura 1, dos 148 artigos previamente selecionados, conseguiram-se obter 114 com texto completo, dos quais foram excluídos 18, por apresentarem temas que não se enquadravam com o objetivo da presente revisão: avaliação de políticas inclusivas, temas associados à religião ou com outra abordagem temática pouco relevante para o presente estudo. Assim, para esta revisão sistemática da literatura, foram selecionados 96 registos.
2.1.2 Segunda etapa - análise de conteúdo
Foi efetuada uma analise qualitativa do conteudo dos 96 artigos cientificos selecionados de acordo com o procedimento descrito na primeira etapa. A informacao extraida de cada um foi catalogada em tabelas de resumo tendo em consideracao os principais conceitos, variáveis, escalas e metodologias utilizadas em termos de recolha e análise de dados.
3 Resultados e discussão
Nesta seção, apresentam-se as áreas de estudo da produção científica analisada, as revistas científicas em que os artigos foram publicados, a distribuição geográfica das amostras, as temáticas dos artigos analisados, as tipologias de deficiência abordadas, a metodologia utilizada para recolha de dados, os instrumentos de medição de atitudes face às PcD e, por fim, os fatores que influenciam as atitudes.
3.1 Áreas de estudo
Como se pode observar no Tabela 1, as publicações de artigos científicos relacionadas às atitudes de estudantes e profissionais em relação às PcD estão, na sua maioria, ligadas às áreas da Saúde e da Educação, concentrando a sua produção nas últimas duas décadas.
Área Científica | N estudos | 1973-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 |
---|---|---|---|---|---|---|
Saúde | 51 | 1 | 2 | 7 | 19 | 22 |
Educação | 31 | - | 1 | 3 | 7 | 20 |
Engenharia | 4 | - | - | - | 1 | 3 |
Turismo | 2 | - | - | - | - | 2 |
Economia e Gestão | 1 | - | - | - | - | 1 |
Outras | 7 | - | - | - | 2 | 5 |
Total | 96 | 1 | 3 | 10 | 29 | 53 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
As áreas ligadas à saúde têm visto aumentar a sua produção científica acerca do tema em apreço, sobretudo nas últimas duas décadas. Por um lado, esse interesse pode estar associado ao novo paradigma que surgiu com a abordagem biopsicossocial da deficiência na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), em detrimento do modelo médico da deficiência predominante nas sociedades ocidentais (Daruwalla & Darcy, 2005). Por outro lado, parece indicar uma maior sensibilização para inclusão das PcD na sociedade por meio da identificação e da resposta às suas necessidades específicas (WORLD HEALT ORGAZIZATION [WHO], 2011).
Relativamente à Educação, o principal motivo associado a esse aumento considerável de produção científica parece residir na maior sensibilização para o tema da inclusão de PcD no sistema educativo, e na preocupação que se verifica acerca da preparação dos professores e aceitação dos outros estudantes, como destacam Cortés e Campos (2016) ao referirem a preocupação do sistema educativo espanhol com essa matéria.
Também na área ligada à engenharia e à arquitetura, foram identificados três estudos, cujo principal objetivo ambiciona avaliar a predisposição dos seus estudantes, e profissionais, para a utilização dos princípios do Desenho Universal nos seus trabalhos.
Em relação à área do turismo, identificaram-se apenas dois artigos, os quais abordam o potencial da educação como agente de alteração das atitudes em relação às PcD, o que, obviamente, indica uma clara lacuna nessa área.
3.2 Revistas
A Tabela 2 exibe as principais revistas científicas, bem como a quantidade de artigos publicados em cada uma delas acerca do tema em apreço. Note-se que estas revistas científicas parecem considerar que as investigações das atitudes em relação às PcD e as ações de formação, ou alterações aos programas curriculares, são um tema com elevado interesse académico.
Revista | N estudos | % por revista |
---|---|---|
Medical Education | 5 | 5,2 |
Nurse Education Today | 4 | 4,2 |
Disability and Health Journal; Disability and Rehabilitation; European Journal of Dental Education; European Journal of Special Needs Education; International Journal of Rehabilitation Research; |
3 | 3,1 |
Health and Social Care in the community; Journal of Applied Social Psychology; Rehabilitation Psychology; Revista Complutense de Educación; Medical Teacher; Rehabilitation Couselling Bulletin |
2 | 2,1 |
Other | 60 | 62,5 |
Total | 96 | 100,0 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Conforme se depreende da Tabela 2, as revistas científicas identificadas estão, na sua maioria, ligadas à educação, mais especificamente à área da saúde, ou apresentam objetivos intimamente ligados à deficiência, à reabilitação ou à ação social.
3.3 Distribuição geográfica
A Tabela 3 resume a distribuição geográfica das amostras utilizadas nos estudos reportados relativas aos artigos em análise. Os países ocidentais mais desenvolvidos, como os Estados Unidos da América, Reino Unido, Austrália e Espanha, foram aqueles onde se realizaram mais estudos sobre a temática. Do total dos estudos analisados, 50% foram realizados nesses países.
País | N estudos por país | % por país |
---|---|---|
EUA | 19 | 19,8 |
Reino Unido | 14 | 14,6 |
Austrália | 10 | 10,4 |
Espanha | 6 | 6,3 |
Israel; Nova Zelândia | 5 | 5,2 |
Turquía; Irlanda | 4 | 4,2 |
Hong Kong; Canadá | 3 | 3,1 |
Outros | 23 | 23,9 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Esses resultados sugerem que existe uma consciencialização crescente da importância que essa matéria representa, no sentido de melhor conhecer a realidade acerca das atitudes dos estudantes e profissionais de cada área científica em relação às PcD nos países mais desenvolvidos, bem como das metodologias mais eficazes tradicionalmente utilizadas, quer para a sua mediação, quer para a sua alteração.
3.4 Temáticas analisadas
No que diz respeito à abordagem temática da investigação (Tabela 4), nesta revisão, constatou-se que os estudos podem ser categorizados em três grupos: (i) estudos que analisam apenas as atitudes em relação às PcD; (ii) estudos que analisam questões relacionadas à formação dos estudantes e profissionais; e (iii) estudos que analisam questões relacionadas às atitudes e à formação. Do primeiro grupo, fazem parte estudos que analisam apenas as atitudes (de profissionais ou estudantes) relativamente às PcD. Desse grupo, fazem parte 41 dos artigos analisados, produzidos essencialmente nos últimos 20 anos. Esses estudos estão relacionados, principalmente, ao desenvolvimento ou à avaliação de instrumentos para medir as atitudes face às PcD (Faulks et al., 2018; González, Martínez, Alonso, Avi, & Río, 2016; Holler & Werner, 2018; Lam et al., 2010; Smith & McCulloch, 1978) e com a análise dos fatores que as poderão influenciar.
Abordagem temática | Período | Total | |||||
---|---|---|---|---|---|---|---|
1973-1980 | 1981-1990 | 1991-2000 | 2001-2010 | 2011-2020 | N | % | |
Atitudes | 1 | - | 3 | 12 | 25 | 41 | 42,7 |
Formação | - | - | 6 | 13 | 19 | 38 | 39,6 |
Atitudes e Formação | - | 3 | 1 | 4 | 9 | 17 | 17,7 |
Total | 1 | 3 | 10 | 29 | 53 | 96 | 100,0 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Do segundo grupo de estudos, fazem parte 38 dos artigos analisados, datados entre 1991 e 2020, cujo foco principal é a formação. Esses estudos analisam principalmente os impactos de programas de intervenção, curriculares, ou outras ações de formação e sensibilização, sobre as atitudes dos estudantes e profissionais em relação às PcD. Por fim, o terceiro grupo de estudos aborda, em simultâneo, questões relacionadas às atitudes face à PcD e à formação de profissionais, ou futuros profissionais (estudantes), que contactam com pessoas com essas características (Tabela 4).
3.5 Tipologias de deficiência abordadas
Na Tabela 5, encontram-se resumidas as tipologias de deficiências focadas nas investigações. Nos 96 estudos de investigação selecionados, a grande maioria (74,0%) não especifica qual o tipo de deficiência que está a ser objeto de análise. Dos estudos que especificam claramente qual o tipo de deficiência que está a ser objeto de análise, os segmentos que têm merecido mais atenção incluem as PcD cognitiva/intelectual/de aprendizagem (15,6% dos estudos) e as PcD motoras (13,5%).
3.6 Metodologia de recolha de dados
A Tabela 6 ilustra os métodos utilizados nos estudos que são objeto de análise neste artigo de revisão. Conforme se pode observar, a metodologia quantitativa, com recolha de dados por meio de questionários, é a que tem sido mais utilizada neste tipo de estudos (68,8% dos que foram analisados).
Método e abordagem | N estudos | % |
---|---|---|
Quantitativa | 68 | 70,8 |
Questionário | 66 | 68,8 |
Análise de dados secundários | 1 | 1,0 |
Experimental | 1 | 1,0 |
Qualitativa | 11 | 11,4 |
Entrevista | 5 | 5,2 |
Métodos mistos qualitativos | 1 | 1,0 |
Estudos de caso | 4 | 4,2 |
Análise de narrativas | 1 | 1,0 |
Mista | 11 | 11,5 |
Revisão | 6 | 6,3 |
Total | 96 | 100,0 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
As metodologias qualitativas foram utilizadas em apenas 11,4% dos trabalhos analisados, sendo a entrevista (5,2%) e o estudo de casos (4,2%) as técnicas de recolha de dados mais utilizadas. Por outro lado, 11,5% dos estudos analisados utilizam métodos mistos, e apenas 6,3%, são estudos teóricos, maioritariamente estudos de revisão da literatura.
3.7 Instrumentos de medição de atitudes face à PcD
De acordo com Fisher e Purcal (2017), as atitudes pessoais e o comportamento estão correlacionados, mas não são sempre idênticos: uma pessoa pode pensar e sentir de uma determinada forma, mas agir de outra forma, por vezes completamente oposta. Nos estudos analisados neste artigo de revisão, foram identificados vários instrumentos para medir as atitudes face à PcD (Tabela 7).
Instrumento | N | Freq. | % |
---|---|---|---|
Attitudes Toward Disabled Persons - ATDP | 1 | 24 | 34,8 |
Teacher Efficacy for Inclusive Practices Scale - TEIP | 1 | 5 | 7,3 |
Scale of Attitudes Toward disabled Persons (SADP); Multidimensional Attitude Scale (MAS) | 2 | 4 | 5,8 |
Sentiments, Attitudes and Concerns about Inclusive Education Revised Scale (SACIE-R) | 1 | 3 | 4,4 |
Attitudes to Disability Scale (ADS); Interaction with Disabled people (IDP); Modified Issues in Disabiliy Scale (MIDS); (Disability Attitudes in Health Care (DAHC) | 4 | 2 | 2,9 |
Attitudes towards Inclusion of Students with Disabilities in Physical Education (AISDPE); Actitudes hacia las Personas com Discapacidad (APD); Attitudes Toward Educational Inclusion (ATEI); Attitudes Toward Teaching Individuals with Disabilities in Physical education (ATIPDPE); Chedoke-McMaster Attitudes Towards Children with Handicaps (CATCH); Escala de Atctitudes hacia las Personas com Discapacidad (EAPD); Exercise Barriers Scale (EBS); Filtering Unconsciousness Matching of Implicit Emotions (FUMIE); Mental Retardation Attitude Inventory-Revised (MRAI-R); Physical Educators' Attitudes Toward Teaching the Handicapped (PEATTH); Perceived Physical Abilitty (PPA); Physical Self Presentation Confidence (PSPC); Rosenbers' Self-esteem Scale (RSES); Attitude Towards Inclusive Education Scale (ATIES); Contact with Disabled Persons (CDP); Community Living Attitudes Scale Mental Retardation (CLAS-MR); Disability Social Relationship Scale (DSRS); Implicit Association Test (IAT); Mindful Attention Awareness Scale (MAAS); Schwartz Value Survey (SVS); Community Living Attitudes Scale- Intellectual Disability (CLAS-ID) | 21 | 1 | 1,5 |
Total | 30 | 69 | 100,0 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Os principais instrumentos utilizados para medir as atitudes são, maioritariamente, escalas de concordância ou discordância, em relação a determinadas situações ou opiniões. A Tabela 7 resume os 30 instrumentos de medição de atitudes que foram identificados nos estudos analisados. Desses instrumentos, a escala Attitudes Toward Disabled Persons (ATDP) (nos seus 3 formulários - O, A e B), desenvolvida por Yuker na década de 1960, reúne a preferência de cerca de 34,8% dos autores, como instrumento principal de medição das atitudes, enquanto que outros preferem desenvolver instrumentos adaptados à situação específica que pretendem investigar.
Ainda como instrumento complementar (secundário), ou de validação de resultados obtidos com o instrumento principal, alguns autores privilegiaram o Teacher Efficacy for Inclusive Practices Scale (TEIP) (específico para medir a eficácia das práticas inclusivas dos professores), ou de medição das atitudes em relação a tipologias de PcD específicas como, por exemplo, o Community Living Attitudes Scale Mental Retardation (CLAS-MR), que mede as atitudes em relação às pessoas com problemas cognitivos ou de desenvolvimento intelectual.
Acresce referir que, entre os artigos analisados, seis tinham como objetivo testar e validar escalas desenvolvidas especificamente para medir as atitudes de populações distintas em relação às PcD, ou de testar a adaptação de escalas já desenvolvidas e validadas a outros populações residentes, em outros pontos geográficos.
3.8 Fatores que influenciam as atitudes
Na literatura que analisa as atitudes face à PcD, são identificados vários fatores que as poderão influenciar. Os fatores mais referidos estão relacionados ao conhecimento que os profissionais e os estudantes possuem das necessidades desse grupo da população, o contato/interação que já tiveram com PcD, nomeadamente a sua experiência anterior, o seu perfil sociodemográfico e o fato de já terem frequentado ações de formação sobre o tema (Tabela 8).
Categorias de fatores/variáveis | Existe associação | Não existe associação | N | % | ||
---|---|---|---|---|---|---|
N | % | N | % | |||
Contato/interação | 50 | 90,9 | 5 | 9,1 | 55 | 100,0 |
Experiência anterior | 9 | 90,0 | 1 | 10,0 | 10 | 18,2 |
Contato (qualidade e frequência) | 41 | 91,1 | 4 | 8,9 | 45 | 81,8 |
Conhecimento | 45 | 100,0 | - | - | 45 | 100,0 |
Conhecimento acerca da deficiência | 45 | 100,0 | - | - | 45 | 100,0 |
Perfil sociodemográfico | 29 | 69,0 | 13 | 31,0 | 42 | 100,0 |
Idade | 8 | 66,7 | 4 | 33,3 | 12 | 28,6 |
Género | 11 | 61,1 | 7 | 38,9 | 18 | 42,8 |
Habilitações Académicas | 10 | 83,3 | 2 | 16,7 | 12 | 28,6 |
Ações de formação | 21 | 100,0 | - | - | 21 | 100,0 |
Simulação/Recriação | 12 | 100,0 | - | - | 12 | 57,1 |
Vídeo/Narrativas | 6 | 100,0 | - | - | 6 | 28,6 |
Outras | 3 | 100,0 | - | - | 3 | 14,3 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
A Tabela 8 detalha também os estudos que abordam essas associações. Relativamente aos estudos que analisaram a associação entre as experiências anteriores com PcD e as atitudes face a elas, grande parte desses estudos (90,0%) conclui que as experiências anteriores podem exercer uma influência positiva nas atitudes, como referem Wagner e Stewart (2001) e Seccombe (2007a, 2007b). Contudo, de acordo com Richard et al. (2005), essa associação não é estatisticamente significativa.
Dos estudos analisados, 41 sugerem que a qualidade e a frequência de contato com PcD possui uma associação com as atitudes em relação às elas. De acordo com Au e Man (2006), a frequência e a intensidade do contato promovem as atitudes positivas em relação às PcD. No entanto, outros consideram que essa associação não é estatisticamente significativa (Duckworth, 1988; Kurita & Kusumi, 2010; Sánchez & Puerta, 2018).
Em relação ao conhecimento acerca da deficiência, a totalidade dos estudos analisados (45) apontam no sentido de que a informação é essencial para promover atitudes mais positivas em relação às PcD. Foram, no entanto, identificados sete estudos cujos resultados não corroboram a conclusão anterior.
No que diz respeito à idade, é de salientar que 8 dos 12 estudos que abordam esse assunto sugerem que a idade tem uma associação com as atitudes; assim, à medida que a idade aumenta as atitudes em relação às PcD tornam-se mais positivas. Contudo, Parasuram (2006) alerta que tanto os jovens professores com menos anos de serviço como os mais idosos apresentam atitudes mais positivas do que o grupo de professores com idades intermédias. Entretanto, em quatro dos estudos analisados, a associação entre idade e atitudes não é confirmada.
De acordo com os resultados apurados, em 10 dos estudos analisados, observa-se que as pessoas que possuem habilitações literárias superiores possuem atitudes mais positivas. Existem, porém, dois estudos que afirmam que essa variável não influencia as atitudes em relação às PcD.
Em relação às ações de formação, identificaram-se aquelas com diferentes tipos de abordagem, as quais, em comum, partilham o objetivo de sensibilizar os estudantes ou profissionais e, consequentemente, promover alterações atitudinais. Entre elas, destacam-se as simulações, sobretudo baseadas em sessões com uma duração temporal variável e pré-determinada. Estas, quando bem desenhadas, podem promover o aumento do conhecimento acerca das necessidades das PcD, melhorar as atitudes dos formandos, bem como a aceitação de PcD (Lindsay & Edwards, 2013). Todavia, French (1992) considera que o foco excessivo nos problemas, nas dificuldades e nos exercícios de simulação podem providenciar informação errada e enganosa e incutir atitudes negativas em relação às PcD em vez de positivas.
Na Tabela 8, pode-se observar que todas as intervenções identificadas possuem uma associação positiva com as atitudes face às PcD. Relativamente aos recursos utilizados nas ações de formação, nesta revisão, identificaram-se a “simulação ou a recriação”, “vídeos e narrativas” e “outras”. As primeiras foram referidas como tendo uma associação positiva com as atitudes por 12 estudos, e envolvem situações em que os participantes assumem o papel de uma pessoa com deficiência, enfrentando, eles próprios, os problemas a que estes últimos estão expostos diariamente. A segunda diz respeito a vídeos, filmes e narrativas dos problemas experienciados por PcD, tendo sido analisados seis estudos que mostram que esses tipos de formações são eficazes na alteração das atitudes em relação às PcD. Por fim, existem outras ações de formação (3), baseadas nos pressupostos das teorias da “Self-image” (Cohen, Roth, York, & Neikrug, 2012) ou “Selfefficacy” (Forlin, Cedillo, Romero-Contreras, Fletcher, & Rodriguez Hernández, 2010; Loreman, Sharma, & Forlin, 2013; Oswald & Swart, 2011; Van Boxtel, Napholz, & Gnewikow, 1995; Velonaki et al., 2015), utilizadas sobretudo em estudos relacionados à educação inclusiva, os quais revelaram uma associação positiva em relação às atitudes de inclusão de PcD.
4 Conclusão
O principal objetivo desta revisão sistemática da literatura era mapear as principais tendências nas abordagens metodológicas nas áreas científicas que mais têm vindo a estudar o tema, os fatores que podem estar associados a atitudes (positivas ou negativas) face às PcD e os instrumentos usados para a sua medição. A literatura científica, com foco nas atitudes dos estudantes do Ensino Superior e profissionais na área do turismo relativamente às PcD é parca, pelo que houve a necessidade de pesquisar informação relevante em outras áreas científicas, cujos setores de atividade, pela sua natureza, implicam o contato com PcD.
Ficou claro que o tema em apreço é relevante, de forma transversal, à maioria das áreas científicas que ambicionam promover atitudes positivas de estudantes e profissionais em relação às PcD e, consequentemente, melhorar a qualidade dos serviços prestados, bem como fomentar a inclusão social dessas pessoas. Este é um elemento importante, uma vez que a presença de atitudes positivas em relação às PcD é percecionada como um elemento crucial na integração social dessas pessoas, aumentando as oportunidades desse grupo da população, contribuindo para a sua valorização (Fitzsimmons & Barr, 1997).
Esta revisão permitiu concluir que a grande maioria dos estudos acerca das atitudes em relação às PcD são das áreas científicas ligadas à saúde, sobretudo nas áreas da enfermagem e medicina, e ainda da educação. Os estudos da área da saúde apontam como objetivo a melhoria da qualidade do serviço prestado e a promoção da integração das PcD na sociedade. Na área da educação, pretende-se, sobretudo, promover a inclusão de alunos com deficiência. Os estudos têm especial incidência temporal nas últimas duas décadas.
Relativamente à distribuição geográfica das amostras incluídas nos estudos analisados, verifica-se que elas se concentram sobretudo nos países mais desenvolvidos, encabeçado pelos EUA, Reino Unido, Austrália e Espanha, mas têm também expressão a nível global, o que pode indiciar que este campo de investigação se está a tornar uma nova tendência de interesse para os académicos.
No que diz respeito ao método de abordagem, ficou claro que a grande maioria faz uso de métodos quantitativos, utilizando tendencialmente um ou mais questionários para a recolha de dados. Por outro lado, a abordagem temática das investigações cobre tanto a avaliação das atitudes em relação às PcD, como a formação de estudantes e profissionais para lidarem com as PcD, ou mesmo em ambos os temas.
Grande parte dos artigos científicos analisados concluem que o conhecimento acerca do tema, bem como a qualidade e a frequência de contato com PcD, influenciam as atitudes em relação a estas últimas, no sentido de que, quanto maior for a exposição a estes fatores, mais positivas são as atitudes.
Tal como os autores Findler, Vilchinsky e Werner (2007) haviam sugerido, esta revisão evidenciou que existem dois grupos de técnicas de medição das atitudes face à PcD: as diretas, autodescritivas ou explícitas e as indiretas ou implícitas. Entretanto, esta revisão permitiu identificar três dezenas de instrumentos de medição de atitudes, sendo que a grande maioria dos estudos evidenciam preferência pela utilização da ATDP. Contudo, a maior parte dos estudos não especifica uma tipologia de deficiência, pelo que se assume que estas são avaliadas de forma geral. Esta revisão serve ainda de alerta para o setor do turismo ao trazer ao debate a importância do estudo das atitudes em relação às PcD, por parte dos estudantes do Ensino Superior (futuros profissionais do setor), que tanto tem sido negligenciado.
Esta revisão sistemática da literatura enfrentou algumas limitações que podem interferir nas conclusões. Desde logo, a começar pela incapacidade de obter todos os artigos identificados na fase da primeira seleção, os quais poderiam acrescentar dados pertinentes. Todavia, as diferenças existentes entre as populações em estudo podem enviesar os resultados quando da aplicação a estudos similares no setor do turismo, uma vez que, apesar do contato entre profissionais de cada ramo e as PcD ser um ponto em comum dos seus serviços, a natureza deles pode variar em razão da necessidade individual de cada pessoa.