1 Introdução
O surgimento da pesquisa em educação no Brasil remonta aos primórdios do século XX, tendo seu início marcado no final da década de 30, a partir de iniciativas de órgãos ligados ao aparelho do estado que possibilitaram a criação do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP) e seus Centros Regionais de Pesquisa. Esses centros contribuíram para uma certa institucionalização da pesquisa em educação, na qual foi criado todo o aparato burocrático-administrativo para o seu funcionamento (órgãos técnicos) sob controle direto do Estado.
Nesse sentido, a pesquisa em educação no Brasil não nasceu de um movimento das próprias universidades, mas foi induzida pelos órgãos governamentais com um claro sentido utilitário e prático: dar subsídios às ações governamentais. No entanto, a evolução ou o desenvolvimento da pesquisa ocorreu somente no final da década de 60, sendo produto dos cursos de pós-graduação (mestrados e doutorados), dentre outras iniciativas posteriores que possibilitaram a ampliação do número de pesquisas nesta área (GATTI, 2001; COSTA; SALVIANO, 2018).
Vale ressaltar que a expansão das pesquisas em educação no Brasil passou por visíveis convergências temáticas e metodológicas, as quais acompanharam tendências históricas de cada época. Dentre os principais enfoques destacam-se o psicopedagógico (GOUVEIA, 1971; 1976), condições culturais e tendências de desenvolvimento da sociedade brasileira na década de 50, durante o ciclo ditatorial (GATTI; SILVA; ESPÓSITO, 1990). Também foram realizados estudos de natureza econômica durante a década de 60, no período do governo militar. Na década de 70, com a expansão do ensino superior, observou-se uma ampliação do leque de temas e enfoques, resultando em diferentes problemáticas e aprimoramento metodológico (GATTI, 2001). Todos esses enfoques foram influenciados pelo contexto político social, sendo marcados por interesses e ideologias, o que trouxe problemas de diferentes ordens para a pesquisa em educação como apontou Gatti (2001); André (2006); André e Gattti (2008); Bittar (2009).
No sentido de entender a situação atual da pesquisa em educação, André (2006) afirmou que é preciso recompor sua trajetória, a fim de situar seus avanços e desafios contemporâneos. No contexto da Amazônia Oriental (Região Norte), por exemplo, apesar dos avanços conquistados pelas instituições de educação superior públicas, ainda há carência na produção historiográfica da educação se comparada a outras áreas, sendo a história da educação no Pará um campo fértil e promissor. (DAMASCENO; PANTOJA; DOURADO, 2023). Além disso, a Pós-graduação e a pesquisa educacional na Amazônia são aspectos que requerem reflexão, a fim de pensar a região e suas singularidades (LIMA; COLARES, 2021). Dessa forma, torna-se evidente a necessidade de compreensão da dinâmica e evolução das pesquisas ao longo dos anos nesta região.
Assim, esta pesquisa objetivou investigar o surgimento e trajetória da produção científica em Educação na região Norte do Brasil, bem como as tendências temáticas de três (3) programas de pós-graduação stricto sensu do estado do Pará no período de 2005 a 2021.
2 Método
Esta pesquisa foi desenvolvida com base na abordagem mista (TAHERDOOST, 2022), tendo como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica, que consiste em buscar obras já estudadas para solucionar a problemática por meio do estudo do tema (SOUSA; OLIVEIRA; ALVES, 2021). Além disso, foi realizada pesquisa documental, que envolve fontes que ainda não receberam tratamento analítico (LIMA JÚNIOR et al., 2021).
A pesquisa ocorreu de janeiro a novembro de 2022, dividida em dois momentos. O primeiro momento abordou o surgimento da pesquisa em educação na Região Norte, com a coleta de dados realizada em periódicos científicos, Scielo, Google Acadêmico e sites institucionais. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave: pesquisa em educação no Brasil/Região Norte/Amazônia/estado do Pará/pós-graduação, história da educação, entre outras relacionadas ao surgimento no âmbito da região Norte. Foram selecionadas um total de oito (08) produções científicas correspondentes aos objetivos definidos.
No segundo momento, foi realizada a pesquisa documental com a coleta de dados nos sites oficiais de três (03) programas de pós-graduação stricto sensu em Educação das universidades públicas federais e estaduais do Pará, Brasil (Quadro 1). Esses programas foram escolhidos devido à sua trajetória histórica de implantação, sendo os dois primeiros pioneiros no estado, com dezesseis anos de atuação, e o mais recente iniciado em 2015.
PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTU-SENSU | TÍTULAÇÃO | NÚCELO/CAMPI | ANO DE IMPLEMENTAÇÃO |
---|---|---|---|
Educação – PPGED | Mestrado e Doutorado | Instituto de Ciências da Educação – ICED, UFPA, Belém, Pará | 2003 |
Educação – PPGED | Mestrado e Doutorado | Centro de Ciências Sociais e Educação – CCSE-UEPA, Belém, Pará | 2005 |
Currículo e Gestão da Escola Básica (PPEB) | Mestrado | Núcleo de Educação Básica – NEB, UFPA, Belém, Pará | 2015 |
Fonte: Os autores.
Foram consultados também a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, uma plataforma de reconhecida relevância científica nacional. Os critérios de inclusão foram dissertações consolidadas e disponíveis desde o início de implementação dos programas de pós-graduação em Educação no estado do Pará, especificamente as produções com lócus de pesquisa no âmbito do referido estado. A escolha por dissertações se justifica pela trajetória dos programas, que desde sua implantação oferecem vagas para a titulação de Mestrado.
Após o levantamento das produções científicas, os dados foram analisados com base na análise temática, conforme proposto por Souza (2019, p. 56). Esta análise corresponde a seis (06) fases:
1) Familiarização com dados: transcrever os dados e revisá-los; ler e reler o banco; anotar ideias iniciais durante o processo; 2) Gerando códigos iniciais: codificar aspectos interessantes dos dados de modo sistemático em todo o banco; reunir extratos relevantes a cada código; 3) Buscando temas: reunir os códigos em temas potenciais; unir todos os dados pertinentes a cada tema em potencial; 4) Revisando os temas: checar se os temas funcionam em relação aos extratos e ao banco de dados como um todo; gerar mapa temático da análise; 5) Definindo e nomeando os temas: refinar os detalhes de cada tema e a história que a análise conta; gerar definições e nomes claros a cada tema; 6) Produzindo o relatório: fornecer exemplos vívidos; última análise dos extratos escolhidos na relação com pergunta de pesquisa e literatura; relato científico da análise.
Utilizou-se como suporte as planilhas eletrônicas do Microsoft Excel para o agrupamento e categorização do conjunto de temas com base no título das obras. Posteriormente, foram analisadas as frequências absolutas, que correspondem à quantidade de vezes que os valores aparecem na amostra total. Neste estudo, considerou-se os padrões repetidos, com o total de dissertações sendo analisado em conjunto, bem como separadamente por períodos distintos: (2005-2010), (2011-2016) e (2017-2021), para ambos os programas.
3 Resultados e discussões
3.1 O Surgimento da Pesquisa em Educação na Região Norte do Brasil
A pesquisa em Educação na Região Norte do Brasil iniciou após um longo percurso que envolveu diversos fatores, atores, instituições e o próprio processo de ocupação ocorrido na Amazônia. Esse processo incluiu o desenvolvimento e o incentivo à qualificação profissional, que posteriormente culminou em uma tomada de consciência dos sujeitos formados e na militância no campo da pesquisa.
Um episódio marcante na história amazônica foi o chamado "Ciclo da Borracha", durante o qual os seringais foram estabelecidos em áreas com maior quantidade de hevea brasiliensis para a extração do látex. Por meio de técnicas específicas, como a vulcanização, o látex se tornou um produto comercializável nacional e internacionalmente (ALVES, 2017). Como consequência desse processo, Silva; Monteiro e Dantas (2021) enfatizam um grande desenvolvimento econômico, cultural e científico na região, com destaque para o estado do Amazonas.
De acordo com os referidos autores, a demanda por mão de obra qualificada tornou-se urgente nesse período, o que levou à criação de espaços e instituições que priorizavam o conhecimento, o desenvolvimento intelectual e garantiam a formação técnica e profissional. Um exemplo disso foi a criação do Clube da Guarda Nacional em 1906, que deu origem à Escola Militar Prática do Amazonas dois anos depois, em 1908. No ano seguinte, essa instituição se transformou na Escola Universitária Livre de Manáos. Segundo Ramalho e Madeira (2005), essa iniciativa visava suprir a demanda por professores qualificados para o ensino de terceiro grau na região.
Nesse contexto, entre as instituições criadas, deu-se a implantação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), fundada em 17 de janeiro de 1909. A UFAM foi pioneira em um cenário mais amplo de pesquisa e ciência na região Norte do Brasil, originando-se da extinta Escola Universitária Livre de Manáos, desmembrada da Faculdade de Direito. É amplamente considerada como a primeira instituição de ensino superior do Brasil, de acordo com Silva; Monteiro e Dantas (2021), seu elo histórico o caracteriza como a mais antiga do país.
Inicialmente, ofereciam-se apenas os cursos de Direito, Medicina e Engenharia nos anos 1910. Posteriormente, no final dos anos 1926, as faculdades de Odontologia e Agronomia passaram a funcionar em unidades isoladas de ensino superior, mas foram extintas, restando apenas a Faculdade de Direito, que formou os primeiros bacharéis em 1914. Essa faculdade foi incorporada pela UFAM nos anos 1969, após sua nova denominação, consolidação e ampliação estrutural, tendo o funcionamento das faculdades: de Direito do Amazonas, Estudos Sociais; Filosofia, Ciências e Letras; Engenharia; Medicina; Farmácia e Odontologia. Atualmente, a UFAM é composta por seis campi, e a área do campus universitário, localizada no bairro Coroado, na Zona Leste de Manaus, tem 6,7 milhões de metros quadrados, tornando-se o terceiro maior fragmento verde em área urbana do mundo e o primeiro do país (ARAÚJO et al., 2007).
Além disso, surgiram instituições privadas e outras instituições públicas estaduais e federais de nível superior que posteriormente foram implantadas nos demais estados da região. Entre elas, pode-se destacar a Universidade Federal do Pará (UFPA-1957), que se expandiu com o processo de interiorização; a Universidade Federal do Acre (UFAC-1974); a Universidade Federal de Rondônia (UNIR-1982); a Universidade Federal de Roraima (UFRR-1989); a Universidade Federal do Amapá (UNIFAP-1990); e a Universidade Federal do Tocantins (UFT-2002), entre outras.
Assim, com a implantação das instituições públicas de nível superior na Região Norte, pouco a pouco, ocorreu o desenvolvimento dos mestrados, e a pesquisa em Educação foi se fortalecendo. Na região Norte, o Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE), estabelecido na UFAM em 1986, foi pioneiro na formação de profissionais. “E, transcorridos mais de trinta anos, este programa consolidou-se na oferta de mestrado e doutorado, os quais até os meados de 2018 formaram cerca de 426 mestres e 30 doutores, segundo consta no próprio site da instituição” (GARCIA; YASUDA; BENE, 2020, p. 38).
No entanto, vale ressaltar que, embora a pesquisa em Educação na Região Norte e, de modo geral, no Brasil, esteja estreitamente ligada às atividades da pós-graduação, como vários teóricos abordam, sua origem histórica não pode ser associada apenas a essa esfera acadêmica (HAYASHI, 2007).
Os estudos desenvolvidos por Corrêa (2013) comprovaram que a pesquisa em Educação começou a se desenvolver de forma mais efetiva a partir do surgimento dos grupos de pesquisa. Muitos desses grupos foram criados após a titulação de doutorado de seus líderes, a maioria dos quais concluiu suas pós-graduações entre as décadas de 1990 e 2000. No entanto, em dois casos, esses líderes ingressaram nos grupos ainda durante o segundo ano de seus programas de pós-graduação. As estatísticas confirmam que, entre os quatorze (14) líderes de grupos de pesquisa da época, apenas sete (07) estavam oficialmente vinculados ao ensino de graduação ou pós-graduação, enquanto os demais dedicavam-se principalmente à atividade científica. Essa atividade exigiu um longo investimento intelectual, desde a graduação até a pós-graduação, e um consequente engajamento com a pesquisa no campo da educação na região. Isso permite concluir que o fazer científico-acadêmico ocorreu mais precisamente a partir da militância intelectual desses líderes.
Houve um processo de tomada de consciência dos intelectuais no referido contexto:
cresceu a consciência acadêmica da integração indissociável entre a pesquisa e o ensino, cada vez mais visto como construção coletiva a partir da relação teoria e prática. Assim começou-se a desenvolver as linhas de pesquisa como trilhos sobre os quais corre o processo da pós-graduação, numa nova dinâmica que vem demandando a sua própria reestruturação curricular e metodológica. [...]. Em outros termos, cresce a consciência de que não se tem a esperar que venham de outras regiões as soluções educacionais de que carecem as regiões Norte e Nordeste (RAMALHO; MADEIRA, 2005, p. 79-78).
Assim, começaram a surgir grandes temas de pesquisa, os quais foram objetos de teses e dissertações produzidas no âmbito dos programas de pós-graduação da Região Norte (COSTA; MORAES, 2018). As dissertações e teses constituíram produtos da fase de formação e consolidação dos líderes para o exercício da docência na educação superior, o aprimoramento na prática científica, bem como na produção de conhecimento (CORRÊA, 2013).
É importante ressaltar que pesquisadores de dentro e fora da Região Norte do Brasil têm contribuído com a Pesquisa em Educação nesta região. Estudos recentes desenvolvidos por Costa e Moraes (2018) constataram que muitas pesquisas em Educação na Região Norte têm sido desenvolvidas em programas de pós-graduações de outras partes do país, inclusive em centros de referência nesse campo, o que, aliás, não é um fenômeno recente. Um exemplo são as produções em História da Educação na Região Norte que se pautam em abordagens predominantes em outras regiões, notadamente o Sudeste.
Diante disso, os referidos autores enfatizam a necessidade de construir plataformas heterogêneas que abarquem a diversidade de produção do conhecimento na área, reconhecendo as potencialidades e limites das demais tradições, e isso pode ser ainda mais possível a partir dos próprios intelectuais que vivenciam a realidade da região estudada. De acordo com Lima e Colares (2021):
O pesquisador em educação na Amazônia precisa ter o compromisso com a valorização sóciocultural dos povos amazônicos e compreensão contextualizada da região para assim pensar possibilidades de combinar as concepções discutidas com os dados quantitativos e concretizar ações de resistência. Os estudos devem trazer informações significativas que contribuam para maior e melhor compreensão da realidade levando a conhecimento significativos principalmente aos que vivem à margem e assim refletir com estudos que caracterizam a Amazônia. Esse debate só reforça a importância da formação de pesquisadores e da necessidade de maior e melhor sistematização de informações. É preciso ter dados confiáveis e mais completos para a compreensão dos problemas, a análise e a interação com vistas a modificação qualitativa (LIMA; COLARES, 2021, p. 11-12).
Para isso, faz-se necessário também revisitar as obras já produzidas ao longo do tempo pelos intelectuais no campo da Pesquisa em Educação, no sentido de compreender a evolução e o desenvolvimento ao longo dos anos da pesquisa na Região, especialmente no âmbito do estado do Pará, que já possui programas de pós-graduação stricto sensu institucionalizados desde o ano de 2003.
3.2 Tendências temáticas na pós-graduação stricto sensu em Educação no estado do Pará.
Os levantamentos das produções científicas a nível de mestrado de três programas de pós-graduação, de acordo com os critérios de seleção estabelecidos, contabilizaram trezentas e noventa e três (393) dissertações do PPGED-UFPA, seguido pelo programa PPGED-UEPA com trezentas e dezessete (317) e PPEB-UFPA com cento e dez (110), totalizando oitocentas e vinte (820) produções analisadas nesta pesquisa (Figura 1):
Constatou-se que os programas avançaram ao longo dos anos nos quantitativos de produções, inclusive com um aumento expressivo entre os anos de 2016 e 2019. No entanto, houve uma diminuição drástica entre os anos de 2020 e 2021 nos programas PPGED-UFPA e UEPA em comparação aos anos anteriores, coincidindo com o início da pandemia da Covid-19. Essa diminuição pode ter sido influenciada pelo distanciamento físico e pelas alterações nos calendários das atividades acadêmicas, conforme destacado por Niskier, Xavier e Diniz (2020). Além disso, a redução no financiamento das pesquisas, incluindo cortes de bolsas e recursos, pode ter afetado as atividades de pesquisa em geral. Por outro lado, o programa PPEB-UFPA, iniciado em 2017, manteve um quantitativo elevado de produções até 2020, mas também registrou certa redução em 2021, assim como os demais programas.
Entre as produções analisadas, destacam-se as tendências temáticas de cada um dos programas, que foram categorizadas com base nos títulos das produções científicas e agrupadas em planilhas do Microsoft Excel.
3.2.1 Programa de Pós-Graduação em Educação PPGED – UFPA (2005-2021)
De acordo com os dados disponíveis no site oficial do programa PPGED-UFPA, o programa consolidou-se em três linhas de pesquisa: a) políticas públicas educacionais; b) educação, cultura e sociedade; c) formação de professores, trabalho docente, teorias e práticas educacionais. O programa conta com um total de vinte e seis (26) docentes titulados em diversas instituições no Brasil e na França, como UNIFAP, UFMG, UFU, UFRJ, UNESP, Gama Filho, USP, UFRGS, UFPA, UFSCar, UFRN, PUC-SP, UNIMEP e Université des Sciences et Technologies-Lille (França).
Com as análises temáticas das dissertações, constatou-se um total de cinquenta e cinco (55) categorias, o que evidencia uma diversidade elevada de temas de pesquisa. Entre os sete (07) temas mais frequentes, em ordem decrescente, estão: formação de professores, políticas públicas, carreira e remuneração do magistério/PCCR, formação/educação continuada de professores, educação profissional, currículo e educação ambiental.
Este programa se destaca também por abordar diversas questões sociais e de cunho denunciativo como a violação de direitos e diversos tipos de violências, como as de gênero (crime contra mulheres), exploração e violência sexual contra crianças e adolescentes, bullying e adoecimento de professores. Esses temas têm significado coletivo e social, o que nos leva a refletir sobre a relevância da titulação na pós-graduação. Segundo Freitas e Souza (2018) não deveria se restringir apenas a garantia da empregabilidade, devido aos investimentos de alta qualidade feitos para esse tipo de formação, mas espera-se que haja retorno para a sociedade, através de melhores professores nos cursos de graduação, melhores especialistas e investigadores que contribuam para a continuidade e aprimoramento do conhecimento científico com significado coletivo e social. Quadro 2.
Categorias temáticas PPGED - UFPA 2005-2021 | Frequência |
---|---|
Formação de professores (de matemática; Parfor; Educação Física; Português; na província do Grão-Pará; Tecnologia na Educação; Educação Inclusiva; Ensino religioso; História; da Pós-Graduação; Alfabetizadores; da Educação Básica; Profletras; Tecnologia da informação) | 29 |
Políticas Públicas (Assistência Estudantil; Formação de professores; Remuneração de professores; Curriculares; Pronera-Saúde; Juventude; Educação Tecnológica; Formação Profissional; Inclusão Social; Municipalização; Alfabetização) | 23 |
Carreira e remuneração do magistério/Pccr | 13 |
Formação continuada de professores | 13 |
Educação profissional | 12 |
Currículo | 11 |
Educação Ambiental | 11 |
Educação Inclusiva | 9 |
Gestão Escolar/Educação | 9 |
Relações Raciais | 9 |
Programas Educacionais (Escola Ativa; Mais Educação; Ensino Médio Inovador; Programa Dinheiro Direto Na Escola (Pdde); "Amigos da Escola"; Programa Universidade para Todos (Prouni) | 9 |
Financiamento da Educação (superior privado-mercantil; Superior pública; Salário Educação) | 8 |
Gênero (docência; crime contra mulheres; sexualidade) | 8 |
Representações sociais (Bullyng; Educação do Campo; Adolescentes; Movimento Estudantil; Exploração Sexual Juvenil; Jovens do Campo; Adolescentes grávidas) | 8 |
Trabalho docente (no Tribunal de Justiça; na Saúde; Educação Superior; Pós-Graduação; Parfor) | 8 |
Educação Infantil | 7 |
Ensino Médio (integrado/ integral) | 7 |
Plano de Ações Articuladas (PAR) | 7 |
Educação Especial | 6 |
Exploração e Violência Sexual e Intrafamiliar de Crianças e Adolescentes | 6 |
Juventude (Quilombola, do Campo; Movimentos Sociais) | 6 |
Práticas Pedagógicas | 6 |
Sistema de Ensino (Municipal; Escolar; Modular de Ensino (Some); | 6 |
Avaliação Educacional | 5 |
Adoecimento de professores | 5 |
Educação de Jovens e Adultos (EJA) | 5 |
Educação do Campo (na Amazônia; e Saúde) | 5 |
Identidade (quilombola, pescadora, docente, pedagogo) | 5 |
História da Educação | 4 |
Literatura | 4 |
Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor) | 4 |
Autoregulação da aprendizagem/emocional | 3 |
Conselhos | 3 |
Criança (abandonadas; indígena; fotografia) | 3 |
Educação Integral | 3 |
Educação Religiosa (Cristã e Afro-brasileira) | 3 |
Filosofia da Educação/com crianças | 3 |
Letramento | 3 |
Produtivismo acadêmico | 3 |
Público e o privado na Educação | 3 |
Valorização do Magistério Docente | 3 |
Cartografias/cartografemas | 2 |
Concepções sobre o corpo/corporeidades | 2 |
Concepção de qualidade social na Educação | 2 |
Coordenação pedagógica | 2 |
Educação à Distância | 2 |
Educação Física | 2 |
Ensino e Pesquisa | 2 |
Língua Brasileira de Sinais (Libras) | 2 |
Pescadores/pesca | 2 |
Prática de Ensino | 2 |
Prática Cultural | 2 |
Programa de Assistência Estudantil | 2 |
Saberes Culturais (Ribeirinhos; Carpintaria Naval Artesanal) | 2 |
Trabalho Pedagógico de Educação Física | 2 |
Outros | 67 |
Total | 393 |
Fonte: Dados da pesquisa.
Conforme observado por Gatti (2012), nos últimos anos houve o surgimento de novas abordagens problematizadoras no campo da educação, ampliando o leque de temas para investigação. No entanto, a diversidade de enfoques exige um diálogo mais intenso entre grupos de pesquisadores, a fim de esclarecer as interfaces e contradições entre as diferentes perspectivas. Isso representa um novo passo, não para a construção de um consenso hegemônico, mas para estabelecer os limites dos conhecimentos elaborados e suas intersecções.
Ao correlacionar as categorias temáticas dos três períodos históricos distintos (2005-2010), (2011-2016) e (2017-2021), que foram analisados separadamente para melhor compreensão das tendências de enfoques temáticos do programa, identificouse um total de quarenta e quatro (44) categorias. Isso significa uma redução de onze (11) categorias em relação ao conjunto total analisado, devido à diversidade de temas que muitas vezes não se repetem de um período para outro. Ao analisar os períodos isoladamente, verificou-se um aumento para sessenta e nove (69) categorias. Quadro 3:
Períodos | Total de Dissertações | Total de Categorias temáticas | Temática de maior frequência | Outros (não categorizados) |
---|---|---|---|---|
2005-2010 | 106 | 17 | Políticas Públicas (13) | 28 |
2011-2016 | 162 | 30 | Formação de professores (12) | 35 |
2017-2021 | 125 | 22 | Carreira e remuneração de professores/PCCR (9) | 47 |
Fonte: Dados da pesquisa.
Entre os três períodos isolados, foram identificadas apenas quatro (04) categorias comuns: Formação de Professores, Formação Continuada de Professores, Gestão Escolar/Educação e políticas públicas. No período de 2005-2010 a 2011-2016, foram identificadas oito categorias: avaliação, currículo, Educação/formação profissional, gênero, programas educacionais, relações raciais, representações sociais, Sistema Municipal de Ensino e SOME. Já no período de 2011-2016 a 2017-2021, destacam-se também oito (08) categorias: Carreira e remuneração de professores/PCRR, Exploração e Violência Sexual e Intrafamiliar de Crianças e Adolescentes, Educação Inclusiva, Educação Especial, Educação Ambiental, Juventude, Plano de Ações Articuladas (PAR) e Práticas Pedagógicas. Por fim, nos períodos inicial de 2005-2010 e final de 2017-2021, prevaleceu apenas a temática sobre a Educação Infantil. Figura 2:
Esses dados revelam que as pesquisas em Educação do programa de pós-graduação PPGED-UFPA, embora tenham suas linhas de concentração de pesquisas, suas temáticas são fortemente influenciadas pelo contexto em que foram produzidas. Isso está de acordo com as autoras Gatti (2001); André (2006); André e Gatti (2008); Bittar (2009); Serafim (2019) ao afirmarem que a pesquisa em Educação no Brasil segue uma tendência histórica de cada época, recebendo influências de diferentes ordens, como políticas, ideológicas, econômicas, entre outros.
Um fator relevante a ser destacado nesta pesquisa diz respeito ao contexto político em que as produções foram realizadas. Por exemplo, no período de 2005 a 2010, o Brasil estava sob um governo que tinha como meta a redução da pobreza e das desigualdades sociais. Isso se refletiu na predominância dos temas de pesquisa em "políticas públicas", incluindo políticas de inclusão social como o Bolsa Família, gestão financeira, tecnológica, formação docente e profissional, e salário dos professores, como constatado neste estudo, entre outros. Foi um momento em que o Brasil recebeu estímulos na área educacional como incentivos a valorização da carreira e formação docente, contando com a implantação de diversos programas como o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID-diversidade) e o Programa Universidade Para Todos (PROUNI).
Entende-se que foi um período de grandes transformações na área educacional e social, na qual o contexto político, em alguma medida, veio influenciando a agenda temática das pesquisas, além de fatores institucionais (internos e externos ao programa), políticos e da própria dinâmica da pesquisa em educação no Brasil envolvidos.
Já nos anos de 2017 a 2021, ocorreu uma mudança na lógica do governo, somada ao contexto marcado pela pandemia do Covid-19, iniciada em 2020. Isso resultou em grandes desafios na área educacional, em que os profissionais enfrentaram várias dificuldades. Essa situação impulsionou a reivindicação de direitos, especialmente a temática da "carreira e remuneração do magistério/PCRR", que apresentou um número expressivo e praticamente exclusivo nesse período, conforme observado nas dissertações do programa estudado.
3.2.2 Programa de Pós-Graduação em Educação PPGED – UEPA (2007-2021)
O programa PPGED-UFPA, de acordo com seu site oficial, contempla duas linhas de pesquisa: a) formação de professores e práticas pedagógicas; e b) saberes culturais e Educação na Amazônia. Seu corpo docente é composto por vinte (20) professores, todos com titulação em programas reconhecidos e consolidados no Brasil por sua produção científica, provenientes de diversas universidades como PUC/SP, UNICAMP, UNESP, UFRN, USP, UFC, UFPA, UFRJ, UGF, UNB, UFCG e UFSCAR. Além disso, o programa conta com 11 pós-doutores que realizaram estágios pós-doutorais em universidades renomadas, como as de Coimbra, Lisboa, PUC-Rio e PUC-RS.
Ao analisar as dissertações disponíveis do programa, que totalizam 317 produções, foram identificadas trinta e sete (37) temáticas de pesquisa com base em sua frequência. Entre os seis (06) temas mais predominantes, em ordem decrescente, destacam-se: Ensino de Matemática, Saberes Culturais, Formação em Educação Física, Formação continuada de professores, Representações sociais e Educação Inclusiva.
Este programa se destaca também pela discussão de diversos temas, com uma tendência um pouco mais regionalizada, incorporando muitos elementos do contexto Amazônico com um olhar mais antropológico, abordando sobre a cultura e saberes (Indígenas, Quilombolas e Ribeirinhos), além do ensino e dos direitos das pessoas com deficiência. Quadro 4:
Categorias temáticas do PPGED - UEPA 2007-2021 | Frequência |
---|---|
Ensino de Matemática (educação infantil; educação especial; contagem; frações; funções por atividades; geometria analítica; matriz; potenciação; probabilidade; razão e proporção; radicais por atividades; relações trigonométricas; aritmética; fatoração álgebra; funções afim e quadrática; funções exponencial e Logarítmica; geometria plana; números inteiros; Primeiro Grau; volume por sólidos) | 27 |
Saberes e práticas culturais (comida de santo; mestres do carimbó; afro-brasileiros; pesca artesanal; candomblé; jovens e adultos; círio de Nazaré, Amazônicos; Marajoara; agricultores familiares; docente) | 25 |
Formação em Educação Física | 17 |
Formação continuada de professores | 16 |
Representações sociais (crianças; surdo-quilombolas; jovens dançarinos; inclusão escolar; PPP; sujeitos escolares; pessoa surda; ACS; Creche e escola; Idosos Amazônidas; Atendimento Educacional Especializado; saúde da criança) | 15 |
Educação Inclusiva | 14 |
Cartografias (de saberes; de migrantes; linguística; MST; artístico-culturais; mulheres; roça de mandioca; saberes quilombolas e pescaria artesanal | 12 |
Formação de professores | 11 |
Educação de Jovens e Adultos (EJA) | 10 |
Educação Especial | 9 |
Identidade (cultural, docente, negra-quilombola, surda) | 9 |
Memória (idosos; velhos; ilha; Amazônia) | 9 |
Cultura popular | 8 |
Educação Infantil | 6 |
Poéticas Amazônicas | 6 |
Brincadeiras de crianças/brinquedoteca | 5 |
Educação feminina | 5 |
Educação do Campo | 5 |
Educação Popular | 5 |
Gênero | 5 |
Letramento (musical, matemático e literário) | 5 |
Literatura (na Amazônia, Brasileira e infantil) | 5 |
Prática pedagógica de professores | 5 |
Saberes e práticas educativas (política; curadora; rezadora; movimentos ribeirinhos) | 5 |
Práticas educativas na Amazônia | 4 |
Adoecimento de professores | 3 |
Educação Religiosa (letramento; ladainha; mulheres) | 3 |
Ensino (filosofia, física e leitura) | 3 |
Sociedades indígenas (Tembé e Tenetehara; Assurini Trocará; Crianças) | 3 |
Tecnologia educacional | 3 |
Avaliação educacional | 2 |
Afetividade de professores | 2 |
Educação Hospitalar | 2 |
Educação-não formal (carnaval; açaí) | 2 |
Juventude e Ensino Médio | 2 |
Língua Brasileira de Sinais (Libras) | 2 |
Religião Afro-brasileira e discriminação | 2 |
Outros | 45 |
Total | 317 |
Fonte: Dados da pesquisa.
Ao correlacionar as categorias temáticas dos três períodos históricos analisados, constatou-se um total de trinta e quatro (34) categorias, apenas três (03) a menos do que o conjunto total analisado. No entanto, ao analisar os períodos isoladamente, obteve-se um total de cinquenta e oito (58) categorias, superior ao total do conjunto analisado anteriormente. Isso ocorre devido às tendências históricas de cada época que influenciam a pesquisa em Educação. Quadro 5:
Períodos | Total de Dissertações | Total de Categorias temáticas | Temática de maior frequência | Outros (não categorizados) |
---|---|---|---|---|
2007-2010 | 54 | 12 | Educação/formação continuada de professores (7) | 15 |
2011-2016 | 145 | 22 | Ensino de Matemática (12) | 31 |
2017-2021 | 118 | 24 |
Ensino de Matemática (12) Saberes e Práticas Culturais (12) |
21 |
Fonte: Dados da pesquisa.
Entre as categorias temáticas em comum nos três períodos isolados, obteve-se oito (08), sendo elas: Cartografia de saberes; Educação/alfabetização de Jovens e Adultos; Educação/formação continuada de professores; Ensino de Matemática; Formação em Educação Física; Identidade; Representações sociais; Saberes e Práticas Culturais. Essa quantidade é maior em comparação ao programa anteriormente analisado, que obteve apenas quatro (4) categorias em comum.
Nos períodos de (2007-2010) a (2011-2016), as temáticas em comum foram: Prática Pedagógica de Professores. Já no período de (2011-2016) a (2017-2021), foram: Educação do Campo; Educação Especial; Educação Inclusiva; Formação de Professores; Gênero; Literatura. Entre os períodos de (2007-2010) e (2017-2021), a única temática em comum foi Práticas Educativas na Amazônia. Figura 3:
Constatou-se, durante as análises do programa PPGED- UEPA, que embora haja uma tendência de discussão atravessando os diversos períodos históricos, ainda assim apresenta-se com uma elevada diversidade de temas de pesquisa, sendo quarenta e cinco (45). No entanto, não foi possível categorizá-los, diferentemente das sessenta e sete (67) do programa anterior analisado, pois as palavras-chave geradas na categorização não se repetiam.
É importante ressaltar que, apesar das particularidades de cada programa analisado, foram identificadas vinte e três (23) temáticas de pesquisa em comum entre ambos, totalizando cento e quarenta e oito (148) dissertações do PPGED-UFPA e duzentas e treze (213) da UEPA, com frequências iguais ou muito discrepantes ao longo dos anos. Figura 4:
3.2.3 Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica PPEB – UFPA (2017-2021)
Os dados oficiais do programa mais recente, na implantação PPEB-UFPA, apontam a concentração de três (3) linhas de pesquisa: a) Currículo da Educação Básica; b) Gestão e Organização do Trabalho Pedagógico na Escola Básica; c) História da Educação Básica. Seu corpo docente é constituído de trinte três (33) permanentes com titulação nas seguintes instituições: PUC/SP, UFPA, UNEB, UFRN, UNICAMP, UFPE, USP, UERJ, UNIMEP, UNESP, UFMG – Brasil e Universidade Nova de Lisboa (UNL) – Portugal.
Ao analisar as dissertações consolidadas e disponíveis do referido programa, foi possível identificar um total de vinte e duas (22) categorias. As seis (6) categorias mais frequentes até o ano de 2021, em ordem decrescente, foram: Currículo, Ensino Médio, Avaliação Educacional, Programas Educacionais, Políticas Públicas e Educação de Tempo Integral. Quadro 6:
Categorias temáticas do PPEB - UFPA 2017-2021 | Frequência |
---|---|
Currículo (artífice; como política cultural; da Educação Física; Do Ensino Médio-BNCC; Educação Inclusiva/TEA; Relações étnico raciais; Nômade; Interdisciplinaridade; Gênero na cena cultural; Geo) | 14 |
Ensino Médio (parceria público-privado; projeto MUNDIAR; em tempo integral; integrado ao mundo do trabalho; jovens, Sistema Modular (SOME); Reforma) | 10 |
Avaliação educacional | 7 |
Programas Educacionais (Ensino Médio Inovador; Novo Mais Educação; PDDE; PDE escola; Saúde na escola) | 7 |
Políticas Públicas (valorização do magistério; estadual de tempo integral; nucleação das escolas do campo; educação profissional de nível médio; para o Ensino Médio e a Juventude; Ambientais da gestão municipal) | 6 |
Educação de Tempo integral | 5 |
História da Educação | 4 |
Conselho (escolar; alimentação escolar; municipal de Educação) | 3 |
Educação Especial/deficiência intelectual | 3 |
Educação Inclusiva /TEA | 3 |
Gestão escolar | 3 |
Violência sexual de crianças e adolescentes e rede de enfrentamento | 3 |
Administração Educacional/Escolar | 2 |
BNCC | 2 |
Educação Infantil | 2 |
Educação profissional/PRONATEC | 2 |
Educação prisional | 2 |
Financiamento da Educação básica/infantil | 2 |
Formação de professores | 2 |
Gênero | 2 |
Movimentos sociais/LGBT | 2 |
Plano de Educação/municipal e estadual (meta 3 e 5) | 2 |
Outros | 21 |
Total | 109 |
Fonte: dados da pesquisa.
Constatou-se que no referido programa houve um enfoque maior para temas relacionados às reformas na área educacional, como o currículo/BNCC e o modelo de Educação de tempo Integral. Esses temas vislumbram mudanças substanciais no sistema educacional, especialmente no Ensino Médio, o que tem gerado inúmeras inquietações e indagações a respeito desse novo modelo de educação, sendo este um cenário já previsto por Goergen et. al. (2019), os quais consideraram que:
As questões da educação estão sendo tratadas com base no gerencialismo e orientadas pela lógica mercantilista que faz da educação mera mercadoria. Trata-se da implantação de um modelo de desenvolvimento político, econômico e humano pautado nos princípios do capital humano, por sua vez referenciado no modo de produção/acumulação capitalista [...] Nesses termos, as reformas educacionais que foram e vêm sendo implantadas mostram que o modelo educacional brasileiro está sendo ajustado aos interesses e às exigências de um mercado global, em prejuízo tanto da realidade nacional, com suas prerrogativas econômico-sociais, quanto dos ideais pedagógicos de formação humana (GOERGEN, et al., 2019, p.1-2).
Neste contexto, o tema de políticas públicas tornou-se palco de discussões, assim como os programas educacionais em vigor atualmente, que estimulam questionamentos sobre suas execuções e efetividades diante das grandes mudanças e desigualdades enfrentadas no Brasil. Essas questões são intensificadas pela crise em diversos setores, especialmente na Educação, Saúde e Economia, e influenciam a pesquisa em Educação, conforme revelam os dados desta pesquisa.
Esses dados corroboram com os estudos desenvolvidos por Araújo; Oliveira e Cêa (2015) sobre as temáticas de pesquisa na região Norte e Nordeste entre os anos de 2003 e 2012. Esses estudos também apontaram as pesquisas sobre políticas educacionais, especialmente as políticas do Ensino Médio, como temas muito presentes nessas regiões.
No contexto atual, questiona-se: como será o cenário da Educação Superior em 2030? Para conhecer o cenário da educação superior, precisamos prospectar como será o contexto no qual ela se insere, no que se refere ao contexto social, tecnológico, econômico, político e de meio ambiente (SERAFIM, 2019).
Os estudos desenvolvidos por Amorim; Silva e Spers (2020) sobre o futuro da Educação Superior no Brasil em 2030 indicaram tendências associadas à internacionalização, ao uso de tecnologias na educação superior, o foco em produções científicas de melhor qualidade e a necessidade de mais investimento governamental.
Assim, é possível vislumbrar novos cenários no âmbito educacional do país. No que se refere ao contexto político, iniciado no ano de 2023, sob um governo que tem como plano um programa de reconstrução e transformação do Brasil, já se constata propostas e retomadas dos investimentos na educação superior. Um exemplo foi o reajuste das bolsas para o incentivo científico na graduação e pós-graduação aprovado pela PL nº 238/23, além de mais investimentos na educação básica. Esses incentivos são de fundamental relevância e cruciais para impulsionar as pesquisas em Educação.
Conclusão
Ao longo desta pesquisa, foi possível desvendar diversos aspectos em relação à pesquisa em Educação na Região Norte. Nas análises históricas sobre seu surgimento, constatou-se que houve um longo percurso para a sua efetivação, contando com o envolvimento de diversos fatores, atores e instituições. Essa pesquisa foi influenciada pelo próprio processo de ocupação ocorrido na Amazônia, seu consequente desenvolvimento econômico e o fomento à qualificação profissional, que posteriormente culminou em uma tomada de consciência dos sujeitos formados e na militância no campo da pesquisa. O fazer científico-acadêmico ocorreu principalmente a partir da militância intelectual dos líderes de grupos de pesquisa, que impulsionaram as produções.
Os dados das produções científicas em nível de mestrado dos três programas de pós-graduação do estado do Pará analisados foram cruciais para compreender a dinâmica de evolução das pesquisas ao longo dos anos, levando em consideração o quantitativo e os enfoques temáticos. Esses dados revelaram que, embora os programas sigam uma linha de concentração de pesquisa, há uma elevada diversidade de temas. Em muitos casos, esses temas receberam influência direta do contexto histórico, sociopolítico e econômico, bem como da militância dos pesquisadores ao vivenciarem as situações presentes no contexto e as questões enfrentadas pela sociedade. Esses temas são fundamentais para outros possíveis estudos e reflexões, pois sinalizam que determinados aspectos carecem de atenção especial na região, enquanto outros podem estar sendo negligenciados.
Portanto, espera-se que este estudo impulsione as pesquisas em Educação na região, beneficiando a sociedade por meio dos pesquisadores, programas, coordenadores, corpo docente, CAPES e outros envolvidos, contribuindo para a superação das lacunas ainda existentes e vislumbrando novos olhares e perspectivas na educação. É fundamental direcionar as pesquisas e fortalecer sua atuação.