INTRODUÇÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)1,
Cuidados paliativos (CP) consistem na assistência promovida por uma equipe multidisciplinar, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do paciente e de seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida. Isso deve ser feito por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, da avaliação impecável e do tratamento da dor e dos demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
De acordo com a OMS, 40 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos (CP) por ano, mas apenas 14% recebem os cuidados até o final da vida. Além disso, a necessidade de CP torna-se cada vez mais frequente em razão do envelhecimento populacional e do aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis2.
Segundo a Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), mais da metade dos serviços de CP iniciaram as atividades na década de 2010, constatando o quanto a inserção dos CP no país é recente, de modo que ratifica um dos motivos das inúmeras falhas na sua aplicabilidade3.
Ainda, a falta de preparo para enfrentar a finitude da vida gera problemas na comunicação e no suporte aos pacientes, o que implica prejuízo na relação médico-paciente. Com o passar do tempo, o profissional se sente fracassado, pois não consegue dar o amparo necessário à pessoa, além da possibilidade de iatrogenia, em que o profissional prejudica o paciente com o excesso de cuidado4.
Levando em consideração essas dificuldades, é importante iniciar o processo de ensino-aprendizagem acerca do tema ainda no período de graduação em Medicina2. Como exemplificação, um estudo realizado com estudantes de Medicina e Enfermagem abordou a dificuldade que eles enfrentam em relação ao tema, uma vez que as escolas médicas brasileiras (EMB) apresentam deficiência em conteúdos sobre o paliativismo4.
Tendo em vista a recente promoção da medicina paliativa como especialidade no Brasil e sabendo que as habilidades em CP são mais bem desempenhadas por discentes que adquirem treinamentos teóricos e práticos, é necessário conhecer os desafios envolvidos5. Além disso, sabe-se que a educação em paliativismo não ocorre continuadamente, já que a maior abordagem está inserida em disciplinas ligadas aos seguintes temas: morte, dor e tratamento oncológico. Assim, ainda carece de um direcionamento específico da especialidade por tratar-se de um tema novo6.
Em razão da necessidade de haver médicos aptos a cuidar de pessoas com doenças crônicas ou terminais de maneira adequada, a presente pesquisa teve por objetivo verificar o conhecimento dos formandos de Medicina de 2020 de uma instituição de ensino superior do interior de Goiás acerca dos CP.
MÉTODO
Tipo e local de estudo
Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de natureza quantitativa, desenvolvido com os formandos de Medicina de 2020 de uma instituição de ensino superior do interior de Goiás.
População e amostra
Com base no quadro geral de formandos de Medicina de 2020 da instituição pesquisada, o universo amostral foi constituído de 74 participantes. Deve-se destacar que se tratou de uma amostra por conveniência. Enviou-se o questionário a todos os formandos do ano de 2020 (n = 104), dos quais 74 responderam a ele de forma completa.
Critérios de inclusão e exclusão
Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: indivíduos de ambos os sexos deveriam ter concluído, em 2020, a graduação em Medicina na instituição analisada, aceitar por livre e espontânea vontade responder ao questionário e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Excluíram-se os questionários com informações incompletas.
Coleta de dados
Realizou-se a coleta de dados a partir de um questionário on-line enviado para os e-mails de todos os formandos de Medicina de 2020. Para a pesquisa, os e-mails foram fornecidos pela própria instituição, e efetuou-se a coleta no período de outubro de 2020 a fevereiro de 2021. Ao clicar no link enviado, o participante teve acesso à página do Google Forms que continha o TCLE e o título “Questionário Geral sobre Cuidados Paliativos - QGCP’’7 referente ao instrumento modificado para a presente pesquisa. A primeira parte refere-se aos dados pessoais do participante e às dez questões de múltipla escolha que abordam o contato do médico com os CP. A segunda parte continha 30 perguntas objetivas, nas quais os participantes deveriam assinalar verdadeiro ou falso sobre o tema.
RESULTADOS
Participaram deste estudo 74 médicos formados pela instituição pesquisada: 50% (n = 37) do sexo feminino e 50% (n = 37) do sexo masculino, com idades variando entre 22 e 30 anos, com média de 25 anos.
Os dados referentes à formação em CP durante a graduação estão organizados na Tabela 1. Assim, 55,4% (n = 41) dos alunos informaram que receberam formação sobre CP durante a graduação, entretanto apenas 14,9% (n = 11) realizaram trabalho na área. Dentre estes, alguns dos trabalhos realizados foram cuidados destinados a pacientes oncológicos e idosos, além de estágios em medicina de família e comunidade (MFC). Ademais, ainda que a maioria tenha recebido formação em CP, 86,5% (n = 64) não consideram a informação recebida suficiente.
Itens avaliados | n | % |
---|---|---|
No curso de licenciatura em Medicina, recebeu formação sobre cuidados paliativos. | 41 | 55,4 |
No curso de licenciatura em Medicina, realizou algum trabalho na área dos cuidados paliativos. | 11 | 14,9 |
Considera que, durante o curso, recebeu informação suficiente sobre cuidados destinados a doentes em situação terminal. | 10 | 13,5 |
Frequentou formação extracurricular na área de cuidados paliativos. | 24 | 32,4 |
Em relação aos participantes que receberam formação extracurricular sobre CP, 32,4% (n = 24) afirmaram ter participado de conferências, ação de formação, workshops, jornadas e cursos breves. Já 67,6% (n = 50) negaram ter tido formação extracurricular na área dos CP, sendo o principal motivo a pouca oferta formativa na área, além de ausência de conhecimento sobre formações na área, falta de tempo e falta de interesse.
A Tabela 2 retrata a visão do participante em relação à inclusão de CP na graduação médica. Dessa maneira, as tabelas 1 e 2, a partir das frequências absoluta e relativa, expressam que a maioria informou ter recebido formação sobre CP na graduação, dos quais 71,6 % (n = 53) consideram muito importante a inclusão de conteúdos sobre CP no bacharelado de Medicina.
Itens avaliados | n | % |
---|---|---|
Nada importante | 0 | 0,0 |
Pouco importante | 1 | 1,4 |
Indiferente | 0 | 0,0 |
Importante | 20 | 27,0 |
Muito importante | 53 | 71,6 |
O Gráfico 1 representa a classificação do conhecimento que os formandos possuem em relação aos CP. Dessa forma, levando em conta aqueles que receberam formação sobre CP na graduação (55,4%, n = 41), a maioria classificou o próprio conhecimento como “razoável” (65,8%, n = 27), ao passo que 19,5% (n = 8) consideraram como “pouco apropriado”. No que tange àqueles que não receberam formação na graduação (44,5%, n = 33), a maioria classificou como “pouco apropriado” (48,4%, n = 16), enquanto 36,3% (n = 12) consideraram como “razoável”.
O Gráfico 2 ilustra a importância da existência do médico em CP, evidenciando que a maioria considera esse tópico “muito importante”, ao passo que nenhum participante considerou “nada importante” ou “pouco importante”. Entretanto, de acordo com o questionário respondido, apenas 25 participantes (35,1%) gostariam de receber formação específica na área, dos quais 18 (69,2%) têm interesse em pós-graduação, enquanto sete (26,9%) se interessam pela especialidade. Dessa forma, a maioria (64,9%, n = 48) informa não ter interesse em atuar nessa área.
A Tabela 3 demonstra a distribuição de erros e acertos para cada uma das 30 perguntas de alternativas de verdadeiro ou falso que identificam os conhecimentos específicos sobre CP. Nota-se que as questões 29 e 30 foram as com maior número de erros, ao passo que as questões 2, 3, 15, 24, 25 e 26 apresentaram 100% de acerto.
Itens avaliados | Resposta correta | n | % | |
---|---|---|---|---|
1) Os cuidados paliativos são reconhecidos como um elemento essencial dos cuidados de saúde. | V | Erros | 5 | 6,8 |
Acertos | 69 | 93,2 | ||
2) Os cuidados paliativos constituem uma resposta organizada à necessidade cuidar dos doentes e apoiá-los na fase final da vida. | V | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
3) Os cuidados paliativos destinam-se apenas a doentes agônicos. | F | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
4) O apoio espiritual não é importante em cuidados paliativos. | F | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
5) Os princípios éticos (autonomia, justiça, beneficência e não maleficência) não se aplicam em cuidados paliativos. | F | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
6) A filosofia dos cuidados paliativos se assenta em quatro pilares: comunicação, trabalho em equipe, apoio à família e distanásia. | F | Erros | 26 | 35,1 |
Acertos | 48 | 64,9 | ||
7) Quando se determina que a possibilidade de cura não existe, não há mais nada a fazer pelo doente. | F | Erros | 2 | 2,7 |
Acertos | 72 | 97,3 | ||
8) Os cuidados paliativos preconizam a eutanásia e a distanásia. | F | Erros | 3 | 4,1 |
Acertos | 71 | 95,9 | ||
9) Por ação paliativa entende-se qualquer medida com intuito curativo que visa minorar as repercussões negativas da doença sobre o bem-estar global do doente. | F | Erros | 28 | 37,8 |
Acertos | 46 | 62,2 | ||
10) O principal objetivo dos cuidados paliativos é promover, tanto quanto possível e até ao fim, o bem-estar e a qualidade de vida do doente. | V | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
11) Os cuidados paliativos não antecipam nem atrasam a morte. | V | Erros | 2 | 2,7 |
Acertos | 72 | 97,3 | ||
12) Os cuidados paliativos destinam-se apenas a doentes com idade superior a 65 anos. | F | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
13) Os cuidados paliativos podem ser prestados em contexto domiciliário. | V | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
14) Doentes com Aids em estádio terminal podem ser admitidos em unidades de cuidados paliativos. | V | Erros | 3 | 4,1 |
Acertos | 71 | 95,9 | ||
15) Os cuidados paliativos destinam-se apenas a pessoas com doença oncológica. | F | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
16) Doente terminal é aquele que apresenta doença avançada, incurável e progressiva e que, em média, tem uma sobrevida esperada de três a seis meses. | V | Erros | 23 | 31,1 |
Acertos | 51 | 68,9 | ||
17) Ações paliativas e ações curativas devem coexistir intensificando-se as paliativas à medida que a doença vai respondendo menos às curativas. | V | Erros | 4 | 5,4 |
Acertos | 70 | 94,6 | ||
18) O controle de sintomas não é um dos critérios de admissão em unidades de cuidados paliativos. | F | Erros | 5 | 6,8 |
Acertos | 69 | 93,2 | ||
19) Náuseas, vômitos e dispneia não são sintomas frequentes em cuidados paliativos. | F | Erros | 7 | 9,5 |
Acertos | 67 | 90,5 | ||
20) Considera-se como dor apenas a manifestação física dela. | F | Erros | 1 | 1,4 |
Acertos | 73 | 98,6 | ||
21) Em cuidados paliativos, o tratamento farmacológico da dor não deve seguir a escada analgésica estabelecida pela OMS. | F | Erros | 9 | 12,2 |
Acertos | 65 | 87,8 | ||
22) Em cuidados paliativos, o objetivo principal é a obtenção da cura, relegando para segundo plano os sintomas predominantes. | F | Erros | 2 | 2,7 |
Acertos | 72 | 97,3 | ||
23) Na escada analgésica da dor estabelecida pela OMS para a dor moderada (grau 2), são utilizados apenas analgésicos não opioides, como o paracetamol. | F | Erros | 13 | 17,6 |
Acertos | 61 | 82,4 | ||
24) Dor total compreende aspetos multidimensionais (físicos, psicológicos, sociais e espirituais). | V | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
25) Atualmente, não existem instrumentos para avaliação da dor em cuidados paliativos. | F | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
26) Para alívio da dor em cuidados paliativos, o médico deve recorrer apenas a medidas farmacológicas | F | Erros | 0 | 0 |
Acertos | 74 | 100 | ||
27) Antidepressivos, anticonvulsivantes e neurolépticos são exemplos de coanalgésicos adjuvantes. | V | Erros | 2 | 2,7 |
Acertos | 72 | 97,3 | ||
28) Os efeitos secundários mais comuns dos opioides são obstipação, náuseas/vômitos, sedação e confusão. | V | Erros | 2 | 2,7 |
Acertos | 72 | 97,3 | ||
29) A Escala de Edmonton é específica dos cuidados paliativos e avalia os principais sintomas. | F | Erros | 50 | 67,6 |
Acertos | 24 | 32,4 | ||
30) Em cuidados paliativos, a via de eleição para a administração de terapêutica é a via oral. | V | Erros | 30 | 40,5 |
Acertos | 44 | 59,5 |
DISCUSSÃO
O presente estudo avaliou o conhecimento teórico dos recém-formados do curso de Medicina da instituição pesquisada sobre CP. Os resultados evidenciaram que a maior parte dos recém-graduados tem formação em CP durante a graduação em Medicina, porém eles não consideram seu conhecimento apropriado para o exercício médico na área. Além disso, os recém-formados acreditam que a informação oferecida sobre o tema não foi suficiente e que seja muito importante a inclusão de conteúdo sobre CP no curso de Medicina.
De acordo com Malta et al.5, das EMB que disponibilizam algum tipo de ensino em CP, 35,1% oferecem os CP como disciplina eletiva, e, em apenas 33,9%, o ensino é obrigatório para a conclusão da graduação. Ainda assim, a grande maioria refere-se a temas relacionados à morte, à dor ou à área de oncologia, que, apesar de serem relacionados aos CP, não o abordam em sua totalidade. Para a OMS8, a limitação do ensino e treinamento em CP, como observada nas escolas brasileiras, é o principal empecilho para que o acesso aos CP seja ampliado. Ademais, vale ressaltar que, conforme descrito na Carta de Praga, os CP são direito dos pacientes, sendo dever do governo estimular a capacitação dos profissionais, para que os pacientes tenham acesso a uma atenção qualificada.
Assim, observa-se que a realidade dos formandos de 2020 em relação ao conhecimento recebido durante a graduação está em consonância com as demais escolas do Brasil, evidenciando que a maioria em algum momento teve contato com conteúdo sobre CP. Em relação à instituição de ensino superior analisada, os estudantes têm contato com o tema de maneira pontual em alguns módulos. Porém, assim como avaliado no estudo de Oliveira et al.9, esse conhecimento oferecido é pouco sistematizado e não ocorre como uma disciplina específica ou por meio de um ensino longitudinal, como forma de ensino de longo prazo.
Observou-se ainda que 86,5% (n = 64) dos avaliados não consideraram seu conhecimento acerca de CP como “apropriado” ou “muito apropriado”. Assim, esses dados corroboram o estudo de Alves Jr. et al.10 que abordou estudantes de Medicina em relação à capacidade de prestar CP, e somente a minoria (42,7%) afirmou estar apta a oferecê-los. Dessa forma, a sensação do médico de ser apto a atender um paciente que necessita de CP é algo de extrema importância social e de saúde pública, pois são pacientes fora de possibilidades terapêuticas, que já se sentem despersonalizados e sofrem ainda mais com a falta de preparo no sistema de saúde.
De acordo com Caldas et al.11, conteúdos sobre CP devem ser implementados na base curricular como uma matéria única ou inseridos em diversos componentes do curso. Sendo assim, pode ser feito em um curto espaço de tempo ou por meio de um ensino longitudinal9. O estudo de Aranha12 defende a criação de uma disciplina específica sobre CP, já que é um tema muito atual e com aplicações em todas as áreas da medicina. Além disso, essa incorporação permite aprimorar qualidades nos futuros médicos como humanização e comunicação, áreas que são, infelizmente, pouco exploradas durante a graduação.
Na atual pesquisa, percebe-se que, mesmo tendo contato com CP durante a graduação médica, a grande parte dos recém-formados (71,6%, n = 53) considera muito importante a inclusão de conteúdos sobre CP no bacharelado de Medicina. Entretanto, a maioria (64,9%, n = 48) afirma não ter interesse em atuar nessa área. De acordo com Orth et al.13, essa relação ocorre porque, apesar de os participantes reconhecerem a importância do tema em suas carreiras, muitos não têm interesse na área, provavelmente porque percebem o quão complexo é dar assistência necessária a um paciente que necessita de CP e à sua família.
Quanto às respostas referentes ao questionário de verdadeiro ou falso aplicado na pesquisa, de forma geral a maioria das questões teve mais acertos do que erros, o que indica que o contato com o tema durante a graduação deu aos médicos recém-formados uma boa noção sobre algumas práticas em CP. Ademais, apesar de duas questões apresentarem grande número de erros, apenas uma questão teve mais respostas erradas do que certas.
A questão 29 - “A escala de Edmonton é específica dos cuidados paliativos e avalia os principais sintomas” - é um exemplo de equívoco dos participantes. Isso ocorre porque, de acordo com Nascimento14, essa escala é um instrumento de avaliação de sintomas psicológicos e físicos associados aos pacientes oncológicos. Por fim, a questão 30 - “Em cuidados paliativos, a via de eleição para a administração de terapêutica é a via oral” - também apresentou grande número de erros (40,5%, n = 3). Segundo as diretrizes da OMS para os manejos farmacológico e radioterápico da dor oncológica em adultos e adolescentes15, a administração oral é preferível sempre que possível, a fim de evitar custos elevados, intercorrências e desconfortos
Esses resultados demonstram que os temas discutidos durante a faculdade estão pouco voltados para aspectos práticos como anamnese e terapêutica. Outros estudos também demonstram resultado semelhante, como o de Malta et al.5, em que se observaram que os médicos consideraram a formação em CP recebida durante o curso de Medicina como insuficiente e muito focada em temas bioéticos, deixando de lado outros aspectos importantes, como a multidisciplinaridade e a farmacologia.
Dalpai et al.16 chegaram à conclusão parecida em estudo no qual 89,4% dos entrevistados afirmaram ter recebido informações insuficientes sobre o atendimento de pacientes em situação terminal. Quanto aos sintomas mais comuns, como dispneia, vômito, caquexia e constipação, 80,9% mencionaram que não receberam explicações suficientes sobre eles e que, por conta disso, não tinham conhecimento teórico. Assim, percebe-se que os dados encontrados no presente estudo corroboram os achados da literatura, uma vez que a minoria dos participantes (13,5%, n = 10) respondeu que as informações sobre o cuidado com doentes terminais recebidas durante a graduação foram suficientes para a atuação médica.
Esses resultados demonstram a necessidade de uma melhor sistematização do currículo médico no que se refere ao tema dos CP, entendendo que um profissional recém-formado deve estar apto a prestar cuidados ao paciente nos diversos aspectos, como controle da dor, promoção de conforto e independência, manutenção de atividades importantes para o cotidiano do paciente, além de saber refletir sobre a terminalidade da vida, algo comum durante o acompanhamento. Além disso, a atitude médica positiva ou negativa reflete diretamente no doente e em sua família10.
Esta pesquisa teve como limitação a adesão dos participantes por conta da dificuldade imposta pela coleta eletrônica. Apesar disso, acredita-se que este trabalho possa contribuir para significativas reflexões acerca do ensino em CP e melhorias na formação médica, como a ampliação de propostas para a implementação da disciplina específica de CP, em curto prazo, ou de forma sistematizada e longitudinal.
Logo, este estudo tem sua importância, pois, muito além de abordar os temas de CP, poderá ter uma contribuição na construção de novos conhecimentos e um possível avanço na qualidade da graduação médica.
CONCLUSÕES
Diante dos dados obtidos referentes ao questionário aplicado, ratifica-se que o espaço curricular para a abordagem dos CP permanece com grandes carências. Os resultados revelam que, embora os acadêmicos reconheçam a importância dos CP, a falta de informação acerca da sua filosofia e de seus princípios e a insegurança quanto às condutas a serem prescritas destacam a demanda de uma educação continuada sobre o assunto.
Ademais, esses achados corroboram estudos nacionais e internacionais que afirmam a necessidade da disseminação do conhecimento sobre a ideologia dos CP, de modo que é um processo que precisa perpassar pela formação médica, a fim de se estender à sua prática. Acrescentar o ensino de CP permanente é um pressuposto importante para efetivar boas práticas, de modo a favorecer atitudes e decisões assertivas e humanizadas.
Em síntese, a partir do presente estudo, vislumbra-se na educação a possibilidade de formar médicos não apenas especialistas em CP, mas também profissionais aptos para prestar assistência a pacientes que necessitam de CP, oferecendo conforto e melhoria da qualidade de vida num cenário crescente de doenças crônicas no Brasil.