INTRODUÇÃO
O ensino das funções trigonométricas seno e cosseno tem sido objeto de investigações nacionais e internacionais. No âmbito nacional, temos alguns exemplos de dissertações de mestrado envolvendo esta temática: Costa (1997) realizou uma sequência didática envolvendo o uso do computador para investigar a aprendizagem de trigonometria e obteve conclusões que apontam para uma contribuição positiva ao aluno com relação ao entendimento e a construção do conhecimento matemático. Oliveira (2010) investigou uma abordagem para o ensino de trigonometria desde os conceitos envolvidos no triângulo retângulo até o ciclo trigonométrico e funções trigonométricas, construiu uma sequência de aplicativos que usam o software GeoGebra, fundamentando o ciclo e funções trigonométricas além da utilização das tecnologias não digitais (transferidor, régua e compasso). Rosenbaum (2010) faz uso de resultados de pesquisas para o trabalho com funções trigonométricas por meio de atividades que envolvem resolução de problemas por meio de construções de tecnologias não digitais como régua e compasso e do uso de tecnologias digitais como calculadora científica e o software GeoGebra. Concluiu-se que o uso de pesquisas contribuiu para a organização do ensino de funções trigonométricas. Ribeiro (2011) investiga os conhecimentos prévios dos alunos de funções trigonométricas e trigonometria em utilizar o caderno do aluno da rede pública do estado de São Paulo, e aponta que a dificuldade encontrada pelos alunos está relacionada aos conteúdos de procedimentos e de atitudes. Porém, ao utilizar as tecnologias não digitais como lápis, papel, transferidor, régua e compasso houve a construção do conhecimento matemático pelos alunos. Tavares (2013) realizou um estudo das relações entre os coeficientes e representações gráficas entre as funções seno e cosseno por meio do software Winplot, propondo um novo estudo em relação às funções trigonométricas. Os autores fizeram abordagens em suas pesquisas envolvendo o uso das tecnologias não digitais e tecnologias digitais para o ensino e a aprendizagem de funções trigonométricas.
As constatações providas por meio das investigações já mencionadas por estes pesquisa-dores inspiraram uma proposta em relação a este trabalho que procura empregar uma visão com a utilização das tecnologias digitais na educação matemática, tendo como público alvo alunos do curso de licenciatura em matemática.
Uma sequência didática foi elaborada envolvendo a utilização do software GeoGebra. Este estudo envolve uma aplicação com tecnologias digitais (modelo digital) e tecnologias não digitais (lápis e papel), para verificação de períodos e imagens das funções seno e cosseno, as simulações realizadas no software são um recurso de mediação junto com a sequência didática para com os alunos.
Neste artigo está descrito o uso do applet, que tem por base as representações dos períodos e imagens das funções seno e cosseno, na forma geométrica, que buscam favorecer um ambiente de construção e assimilação do conhecimento matemático, os alunos poderão fazer uso dos controles deslizantes, utilizar comandos como caixa de entrada do próprio software, além de utilizar o zoom para mais verificações quanto as oscilações das funções.
OBJETO MATEMÁTICO
Os objetos matemáticos utilizados nesta pesquisa são os períodos e imagens das funções seno e cosseno, os autores a seguir definem as funções seno e cosseno como:
As funções cos: ℝ → ℝ e sen : ℝ → ℝ, chamadas função cosseno e função seno respectivamente, são definidas pondo-se, para cada t € ℝ:
E(t) = (cos t, sen t)
Noutras palavras, x = cos t e y = sen t são respectivamente a abcissa e a ordenada do ponto E(t) da circunferência unitária.
Segue-se imediatamente desta definição que vale, para todo t € ℝ, a relação fundamental
cos 2t + sen2t = 1
Uma função f:ℝ→ℝ chama-se periódica quando existe um número T ≠ 0 tal que f(t + T) = f(t) para todo t € ℝ. Se isto ocorre, então f(t + T) = f(t) para todo t € ℝ e todo k € Z. O menor número T > 0 tal que f(t + T) = f(t) para todo t € ℝ chama-se o período da função f. As funções seno e cosseno são periódicas, de período 2π. (LIMA et al., 2012, p.257)
Os autores referem-se a x = cos t como abcissa e y = sen t é a ordenada do ponto E(t) da circunferência unitária. Escrevem que as funções cosseno e seno são periódicas, com período 2π.
Os cálculos dos períodos e imagens das funções seno e cosseno podem ser realizados por meio das tecnologias não digitais (lápis e papel) e sua verificação pode ser obtida por meio das tecnologias digitais (modelo digital), onde mais adiante sua explicação estará explícita.
A seguir é possível fazer a verificação quanto aos períodos e imagens das funções seno e cosseno. Em relação à função
Em relação à função
Por meio das tecnologias não digitais tem-se a verificação quanto ao período e imagem das funções seno e cosseno. Assim como por meio das tecnologias digitais que será visitada mais adiante. Para isto os pressupostos metodológicos que compõem esta pesquisa vêm a seguir.
FUNDAMENTAÇÃO E METODOLOGIA
Fundamenta-se este trabalho na teoria das situações didáticas de Guy Brousseau, com o intuito de modelar o processo de ensino e de aprendizagem no que se refere aos conceitos matemáticos.
Uma “situação” é um modelo de interação de um sujeito com um meio determinado. O recurso de que esse sujeito dispõe para alcançar ou conservar um estado favorável nesse meio é um leque de decisões que dependem do emprego de um conhecimento preciso. Consideramos o meio como subsistema autônomo, antagônico ao sujeito. Assim, ao tomarmos como objeto de estudo as circunstâncias que regem a difusão e a aquisição dos conhecimentos, vamos nos interessar pelas situações. (BROUSSEAU, 2008, p.21).
A teoria das situações didáticas é estabelecida por momentos sendo estes momentos: adidática quando envolve (o saber e o aluno), didática quando envolve (o professor, saber e o aluno), de devolução (caracteriza-se quando o aluno toma para si a responsabilidade de resolver o problema), de institucionalização (identifica-se um novo saber construído pelos alunos, em que há a intervenção do professor).
Se em determinada situação o professor entrega o problema ao aluno e este por sua vez recorre ao professor para que ele lhe ofereça subsídios para solução. Neste momento gera-se um milieu sendo este um fator de desequilíbrio que envolve o aluno e o saber, onde o aluno busca estratégias para solucionar o problema proposto. Nesse momento tem-se a devolução, pois o aluno toma para si a responsabilidade, buscando estratégias para solução do problema proposto.
A teoria das situações didáticas envolve as seguintes dialéticas: ação (o aluno está para agir frente à situação proposta), formulação (momento de troca de informações do aluno com uma ou várias pessoas), validação (o aluno através do modelo por ele criado mostra validade) e institucionalização (é fixado o estatuto cognitivo do saber pelo professor).
Articulando neste enfoque a teoria das situações didáticas a esta pesquisa, no primeiro momento de ação, no quadro 1 mais adiante, mostra a atividade a ser proposta ao sujeito, o aluno precisará buscar conceitos, informações com base em seus conhecimentos prévios e começar a agir frente a situação proposta, neste momento o sujeito está a selecionar os conceitos a serem utilizados para possível solução das questões.
No segundo momento de formulação, o sujeito busca formular as possíveis soluções, começando a conjecturar. Neste momento está a testar seus conceitos, e buscar soluções para resolver a questão, dispõe-se de estratégias, podendo começar, errar e retornar, e buscar uma solução ótima para tal questão.
No terceiro momento o sujeito busca validar suas hipóteses, seus conceitos, que utilizou a fim de resolver a questão, após os momentos de ação e formulação, ele busca validar suas hipóteses por meio de verificações, neste momento de validação o aluno poderá utilizar o quadro 2, isto é, a utilização do software GeoGebra, fazer uso da movimentação do controle deslizante, e em seguida observar e confrontar os resultados obtidos por meio de suas soluções no quadro 1.
O quarto momento é o de institucionalização, onde o professor/educador, fixa o estatuto cognitivo do saber, é o momento que um novo saber será fixado com o saber antigo do educando, o aluno poderá reformular seu pensamento quanto à solução da questão, ou ainda, poderá acrescentar uma nova solução que ainda não possuía em seus saber antigo. A seguir têm-se as descrições no que se refere às interfaces computacionais.
Como recurso de verificação incluso na teoria das situações didáticas, o aluno deve mostrar validade do modelo por ele criado pela dialética da validação. Esta validação pode ser realizada por meio das tecnologias não digitais (lápis e papel) e tecnologias digitais (envolve modelo digital). Assim tem-se a seguinte descrição pelo autor:
Um modelo digital não é lido ou interpretado como um texto clássico, ele geralmente é explorado de forma interativa. Contrariamente a maioria das descrições funcionais sobre papel ou dos modelos reduzidos analógicos, o modelo informático é essencialmente plástico, dinâmico, dotado de uma certa autonomia de ação e reação. Como Jean-Louis Weissberg observou tão bem, o termo simulação conota hoje esta dimensão interativa, tanto quanto a imitação ou a farsa. (LÉVY, 1993, p.121)
Lévy (1993) escreve em sua obra que um modelo digital não é lido ou interpretado do modo de um texto clássico, mas é explorado geralmente de forma interativa. Um modelo digital gera um conhecimento por simulação, sobre o conhecimento por simulação tem-se a seguinte observação do autor:
O conhecimento por simulação, menos absoluto que o conhecimento teórico, mais operatório, mais ligado as circunstâncias particulares de seu uso, junta-se assim ao ritmo sociotécnico específico das redes informatizadas: o tempo real. A simulação por computador permite que uma pessoa explore modelos mais complexos e em maior número do que se estivesse reduzido aos recursos de sua imagística mental e de sua memória de curto prazo, mesmo se reforçadas por este auxiliar por demais estático que é o papel. (LÉVY, 1993, p.125-126).
O modelo digital pode ser chamado de applet, que é um software que executa uma atividade específica dentro de outro software, este por sua vez depende do programa Java para ser executado.
O conhecimento por simulação permite que o aluno explore modelos mais complexos e em maior número, o dinamismo exposto nos softwares por meio do modelo digital (applets), proporciona ao aluno um conhecimento em curto prazo, uma vez que as simulações no software permitem a execução de comandos com rapidez. A investigação aqui descrita é de caráter qualitativo, e envolve como sujeitos, alunos do curso de licenciatura em matemática, a participação do estudo ocorre de forma voluntária. A aplicação da sequência didática ocorrerá em duas sessões, composta por dois blocos de duas horas cada.
O material utilizado nesta pesquisa é composto pela sequência didática exposta no quadro 1 e pelo modelo digital (applet) na figura 1. Este modelo digital permite a verificação da imagem e período das funções seno e cosseno por meio da execução de comandos no software GeoGebra. O aluno ao movimentar o controle deslizante formará graficamente os períodos das funções seno e cosseno e a imagem.
As atividades no quadro 1 foram utilizadas a fim de mediar este estudo. Na atividade 1 solicita-se para que o aluno encontre as soluções dos períodos e imagens das funções com o uso das tecnologias não digitais (lápis e papel), com base em seus conhecimentos prévios sobre trigonometria e funções trigonométricas. Na atividade 2 solicita-se para que os alunos façam a verificação quanto as imagens e períodos das funções trigonométricas utilizando as tecnologias digitais (modelo digital) e transcrevam os valores obtidos após a verificação.
Atividade 1 Resolva o período e imagem das funções a seguir: Atividade 2 Por meio do software GeoGebra faça a verificação quanto aos períodos e imagens das funções seno e cosseno e transcreva os valores obtidos. |
Fonte: os autores
A análise das respostas dos alunos poderá permitir reflexões quanto ao conceito de períodos e imagens das funções seno e cosseno pelos alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quanto à finalização deste artigo, os alunos já estavam selecionados, e as sessões agendadas na instituição. Esta é uma proposta que aborda a utilização do software GeoGebra a fim de favorecer a construção do conhecimento matemático. Uma vez observada as análises pode-se prosseguir com este estudo e observar quais as concepções dos sujeitos quanto a utilização do software GeoGebra para a representação de período e imagem das funções seno e cosseno. Este artigo ainda permite a ampliação desta aplicação para outros tipos de funções que poderão ser abordadas para alunos do curso de licenciatura em matemática.