REMADA1: INICIANDO O EQUILÍBRIO SOBRE RODAS
O presente projeto de pesquisa emerge do interesse pelas políticaspráticas3 (OLIVEIRA, 2013) dos grupos de ciclismo no município de Volta Redonda-RJ, visto que, diante das aproximações investigativas realizadas ficou evidenciado que o modo como essas personas4 pensamfazem a sua intervenção no mundo não separa a prática de andar sobre rodas de sua ação política de intervenção no mundo. Portanto, sabendo que Oliveira (2013) propõe a discussão das ações educativas que compõem o currículo escolar, adotamos aqui tal pensamento para evidenciar que tal tessitura - políticaspráticas -, apesar de estar fora do âmbito escolar, no cotidiano da cidade também é revestido de processos de aprendizagemensino.
Assim, o referido estudo dialoga com a temática fundada nos grupos dos(as) ciclistas e em seus processos de socialidade, bem como nas produções constituídas pela referida comunidade. Cabe frisar que, neste trabalho, optamos por denominar tais associações como tribos urbanas (MAFFESOLI, 1998). Para o autor, tribos urbanas é a partilha de um gosto: “[…] tribo sexual, tribo musical, tribo esportiva, tribo cultural, tribo religiosa etc. Partilha de um gosto no sentido simples da palavra gosto” (MAFFESOLI, 2011, p. 528-529).
Ao nos aproximarmos de tal temática (ciclismo), nos deparamos com a limitada produção de estudos, cujo objeto dialogasse com as produções socioculturais urbanas, pois em sua maioria priorizavam o alto rendimento do ciclismo (NETO et al., 2001; PEREIRA, 2019), a mobilidade urbana (MAGAGNIN, 2011; CARLI, 2012), e a saúde (DIEFENTHAELER; VAZ, 2008; CARITA; GRECO; PESSOA FILHO, 2013; TAVARES, 2018).
Outra evidência que nos permite perceber a ausência de trabalhos científicos, contemplando a temática de ciclismo e tribos urbanas, emergiu de uma pesquisa sistematizada a partir da ótica bibliográfica, no intuito buscar informações sobre o assunto. Na investigação, utilizamos os seguintes descritores: tribos urbanas e cotidiano; tribos urbanas e ciclismo; e, ciclismo e cotidiano. Cabe frisar que o operador boleano AND5 foi usado para formar os conjuntos de descritores facilitando a busca e a obtenção mais objetiva das informações de pesquisa (TEIXEIRA; FIGUEIRÓ; NASCIMENTO; PARAISO ALVES, 2019).
Assim, a justificativa do presente estudo emerge de duas questões centrais: primeiro, as lacunas existentes em relação à temática investigada devido ao baixo número de publicações a respeito. E, segundo, ao significativo impacto social no município de Volta Redonda-RJ desenvolvido pelas tribos urbanas de ciclismo e, em decorrência, a potência desse movimento enquanto coletivo que se mobiliza para conquistar as suas demandas sociais, políticas, esportivas, de lazer, de saúde, dentre outras, conforme preconiza a Constituição brasileira.
Na direção da segunda questão supramencionada, consideramos que o impacto social promovido pelas tribos urbanas nos remete à discussão de Arroyo (2003) que, ao questionar as pedagogias que estão em movimento, oriundas dos movimentos sociais, nos faz pensar em que dimensões e em que aspectos tais movimentos contribuem para as teorias pedagógicas e, em decorrência, para o pensarfazer educativo tanto das propostas desenvolvidas no cotidiano escolar, quanto as que são produzidas para além dos muros da escola: “O aprendizado dos direitos pode ser destacado como uma dimensão educativa. Os movimentos sociais colocam a luta pela escola no campo dos direitos” (ARROYO, 2003, p. 30).
Dessa forma, o estudo pretende refletir sobre algumas questões: Como se desenvolve o processo de socialidade das tribos urbanas vinculadas ao ciclismo no município de Volta Redonda? Será que os grupos de ciclismo produzem práticas educativas no cotidiano do município de Volta Redonda?
Assim, cabe frisar que o objetivo da pesquisa foi mergulhar nas políticaspráticas das tribos urbanas de ciclismo no município de Volta Redonda-RJ visibilizando possíveis formas de socialidade.
PERCURSO METODOLÓGICO: RETIRANDO OS PÉS DO CHÃO E EXPERIENCIANDO O MUNDO SOBRE RODAS
Sujeitos e local da Pesquisa
Volta Redonda é um município que se encontra no eixo Rio-São Paulo, estando localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, região sudeste do país e, mais especificamente, no Sul Fluminense do referido estado. O município também é reconhecido nacionalmente pela denominação de Cidade do Aço, por alojar a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), atualmente a maior siderurgia da América Latina.
O município é cortado pelo Rio Paraíba do Sul, sendo a principal fonte de fornecimento de água do município, assim como responsável pelo seu nome, devido a uma das curvas do rio. Com relação ao impacto na referida região, a cidade possui uma população estimada em 273.012 habitantes e uma área de 182,105 km2, tornando-a a maior cidade do Sul Fluminense e a terceira maior do interior do estado (IBGE, 2019).
Assim, os sujeitos que compõem o contexto do estudo são os grupos dos(as) ciclistas do município de Volta Redonda, subdivididos em três comunidades: Clube Bike Adventure, Voltaço MTB e o Bike Anjo de Volta Redonda.
PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOSEPISTEMOLÓGICOS E INSTRUMENTOS DA PESQUISA
Na intenção de atingir os objetivos propostos optamos pela aproximação aos estudos nos/dos/com o cotidiano, que privilegiam o mergulho nas práticas socioculturais de grupos sociais. Portanto, o cotidiano, neste estudo, é entendido como uma possibilidade metodológica de decifração do social (PAIS, 2003). Para Pais, Lacerda e Oliveira (2017, p. 307), tal metodologia propicia a convocação de “[…] um olhar seletivo e sensibilizado [...]. Com uma dupla preocupação: a ver a sociedade a nível dos indivíduos e, ao mesmo tempo, a de ver como o social se traduz na vida deles”.
Nesta linha de pensamento, ao mergulhar no cotidiano da comunidade de ciclismo Bike Anjo, optamos pela Sociologia Compreensiva (MAFFESOLI, 1988), que privilegia o cotidiano e as maneiras singulares de cada persona sem desprezar o coletivo: “Existe, efetivamente, um ‘conhecimento’ empírico quotidiano que não pode ser dispensado” (MAFFESOLI, 1988, p. 195).
Tal perspectiva sociológica rompe com a imagem especular preconizada pela razão moderna que relega à empiria uma condição subalterna, pois, ao contrário, defende o equilíbrio entre a erudição (crítica, razão) e a paixão (sentimento, imaginação), de modo a permitir uma compreensão da vida lábil. Assim, ao contrapor o racionalismo estático, concede e privilegia uma racionalidade fluída, que apela para a paixão, para o instinto, denominada de razão sensível (MAFFESOLI, 1988). Considerando tal proposição, buscamos acompanhar as práticas das personas que compõem a comunidade investigada intencionando compreender o que os mobiliza e o que os identifica enquanto coletividade emocional.
Desse modo, a sensibilidade relativista, um dos pressupostos da sociologia compreensiva, acentua a socialidade, visto que possui um procedimento que forma por “[…] aproximações concêntricas, por sedimentações sucessivas, tudo maneiras que são respeitadoras das incompletudes e das lacunas que, por um lado, são observáveis e que, por outro lado, são estruturalmente necessárias à existência [...]” (MAFFESOLI, 1988, p. 22). Portanto, o que buscamos ressaltar é o privilégio concedido à heterogeneidade do social, pois, ao contrário da razão moderna, a sociologia compreensiva procura operar a partir de uma perspectiva eteroscópica (MAFFESOLI, 1988). Tal ótica se coloca em contraposição à visão monocular ao contemplar a pluralidade: “Para cada objeto de análise referenciamos diversos ângulos de ataque, o que se aproxima mais do contraditório que está em acto na socialidade” (MAFFESOLI, 1988, p. 22).
Assim, é importante explicitar que não estamos aqui em busca de um comportamento homogêneo entre seus membros ou comprovar que caminham em uma única direção, mas entender como o coletivo investigado constrói múltiplas ações de socialidade em torno do ciclismo, que pode ser esse o lugar comum.
Desse modo, emerge outro pressuposto da sociologia compreensiva, a prioridade à complexidade do social. Se, de um lado, há uma perspectiva que procura transitar a partir de um paradigma determinista, por outro lado, há os que buscam uma ação interacionista, visto que essa perspectiva sociológica - compreensiva - ao contrário de projetar um sentido, busca introjetar, pois descreve a experiência (NAJMANOVICH, 2001) e seu processo de enação, não se contentando em trabalhar a partir de uma imagem especular, abstrata e universal, mas acompanha os trajetos realizados pelos atores sociais, conforme nos chama atenção Maffesoli (2008, p. 6): “O fundamento da sociologia compreensiva é esse trajeto; o retorno à perversidade polimorfa; ao sagrado do sincretismo; ao politeísmo. [...] Esta terra. Este mundo. É isso a compreensão”.
Nessa direção, não há uma dicotomia entre o pesquisador e seu fenômeno de investigação, muito menos se abstrai dele assumindo uma condição de neutralidade, pois “[…] ele faz parte daquilo que descreve, ele está no interior” (MAFFESOLI, 1988, p. 16), não há separação, o investigador não coloca de lado sua subjetividade, visto ser esse o protótipo do cientificismo.
Daí que esse modo de compreensão nos remete a outro pressuposto: o formismo: “Não sou eu que crio o que nomino, mas ressalto o que é destacado. Primeiro a existência e, depois, a formação. Formismo é interação” (MAFFESOLI, 2008, p. 8). Ao trazer à tona essa questão - forma -, que nos aparenta ser uma posição de equilíbrio entre a razão e o cotidiano - a vida comum -, o autor ressalta que a sociologia estuda as formas da vida social, portanto, devendo descrever os contornos, na sua interioridade, suas necessidades e representações.
Outrossim, cabe ainda ressaltar que a sociologia compreensiva se articula à pesquisa estilística que sugere “[...] não recorrer às formas estruturantes e facilitadoras, que organizam o discurso e o método, mas se valer de uma gramática adequada e capaz de não encarcerar o saber [...]” (TEJERA; HAUSSEN, 2009, p. 360), pois mais vale o percurso do que o ponto de chegada.
Para Paiva (2004), a sociologia compreensiva realiza uma oposição frente ao mero cientificismo, pois prescinde das categorias e conceitos fechados em si mesmos para ceder espaço às imagens, metáforas e conceitos provisórios no intuito de compreender os acontecimentos: “Para isso, recorre à tradição, não àquela fixada nos anais, museus e cartórios, mas à tradição da cultura popular que fora oculta pela lógica dominante da modernidade racionalista” (PAIVA, 2004, p. 31).
Desse modo, salientamos que nos esforçaremos para entrelaçar a discussão teórica à socialidade dos(as) ciclistas que forjam cotidianamente os gestos, as palavras, as ações educativas da comunidade emocional investigada, pois procuramos conceder à pesquisa um caráter estilístico “[…] mais aberto, polifônico, e que ao mesmo tempo reflecte sobre si mesma” (MAFFESOLI, 1988, p. 24).
Seguindo a lógica supramencionada - da sociologia compreensiva -, os instrumentos e a produção de dados se desenvolveram articuladamente aos processos investigativos, desse modo, considerando as primeiras aproximações optamos pelo uso das imagens oriundas de reportagens nos jornais locais, reportagens em sites, as conversas iniciais realizadas pelo aplicativo WhatsApp como os grupos Clube Bike Adventure, Voltaço MTB e Bike Anjo e o site oficial do grupo Bike Anjo por ser essa comunidade diferenciada dos outros dois ajuntamentos, visto que, o Bike Anjo possui uma organização nacional e internacional, estando presentes em 37 países.
Outro aspecto importante a ser considerado no desenvolvimento da investigação foi o contexto social no qual nos encontramos imersos (COVID-19), pois com a declaração da OMS caracterizando a pandemia da SARS-CoV-2 em março de 2020 (DÍAZ-CASTRILLÍON et al, 2020), o que prevíamos como um contato inicial, via WhatsApp, tornou-se o principal ator (LATOUR, 1994) na rede de produção de dados do estudo.
Cabe frisar que os instrumentos de pesquisa utilizados foram escolhidos por permitir o acesso e o mergulho no espaço da socialidade dos grupos investigados, conforme nos incita Maffesoli (1984): “É nesse sentido que podemos falar de encarnação da socialidade que necessita de um solo para se enraizar. Do mesmo modo que a casa da infância permanece o paradigma de todas as raízes [...]”, o espaço local é a gênese do estar-junto, é a origem da comunidade. Portanto, no intuito de compreender o modo como é formada - formismo7 - as práticas educativas, em seus detalhes, nas minúcias, utilizamos também o caderno de campo, pois esse instrumento permitiu, no acontecimento imediato, anotar as ocorrências do cotidiano. A esse respeito, Maffesoli (1984, p. 57) nos chama a atenção para o fato de que a “[…] espacialidade é o tempo em retardo, é o tempo que tentamos frear e daí a importância da ritualização na vida do dia a dia que, pela repetição, representa e mimetiza o imutável”.
Outrossim, por ser esse um estudo que envolve seres humanos, o trabalho foi submetido ao Comitê de Ética do UniFOA e aprovado sob o número do CAAE: 26570719.4.0000.5237.
TRIBOS SOCIAIS E O CICLISMO DE VOLTA REDONDA: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES, PRIMEIRAS PEDALADAS...
Na direção proposta por Maffesoli (2002), Magnani (2010) nos revela que as tribos sociais se caracterizam como um tipo de comunidade emocional e, portanto, singularizada pela fluidez, pelos ajuntamentos e pela dispersão.
Nesta linha de pensamento, podemos notar que as diversas manifestações, que demonstram a consonância e a harmonia dos grupos dos(as) ciclistas, são como outras tantas manifestações - shows, eventos esportivos, expressões culturais - que as cidades atuais oferecem para que os sujeitos possam exprimir-se numa sucessão de ambientes, de sentimentos, de emoções. É interessante notar que a atmosfera serve para descrever as relações que prevalecem no interior desses microgrupos sociais, no caso deste estudo, os grupos dos(as) ciclistas do município de Volta Redonda. A esse respeito Maffesoli (1984, p. 58) reitera que o “[…] afeto que instala a ligação ao território é uma maneira de viver no presente”.
No que pese a aproximação ao campo de estudo, este procedeu inicialmente articulado às redes sociais, uma vez que tais plataformas proporcionam a conexão das pessoas e o compartilhamento de informações, tanto de caráter pessoal, quanto profissional, comercial e emocional.
Assim, em decorrência da entrada no campo, iniciamos o acompanhamento da forma social seguindo a proposição da sociologia compreensiva (MAFFESOLI, 1984), dito de outro modo, buscamos no cotidiano das comunidades investigadas aquilo que os singulariza, as questões e as demandas que particulariza o ciclismo no município de Volta Redonda: os gestos, as paixões, os discursos.
Desse modo, no primeiro momento, tornou-se necessário compreender as especificidades dos grupos Clube Bike Adventure, Voltaço MTB e Bike Anjo, três grupos de ciclismo do município de Volta Redonda. Portanto, o registro das características dos locais, as personas, suas motivações e as experiências de vida fluíam determinando os motivos para a escolha e a permanência nos grupos supramencionados.
Entretanto, as observações iniciais realizadas nas redes sociais, apesar de significativas, se apresentavam limitadas quanto ao acesso às questões peculiares que buscávamos investigar, o que nos remeteu à necessidade de acessar os(as) ciclistas quanto à percepção destes(as) em relação às experiências nas referidas tribos urbanas.
Assim, inicialmente, os responsáveis pelos grupos dos(as) ciclistas intermediaram a entrada no campo; o primeiro foi o membro fundador e responsável, aos quinze dias do mês de junho de 2019. O contato com ML, um dos fundadores e administradores do Clube Bike Adventure, que foi fundado em 23 de novembro de 2003, é membro do Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade Urbana (COMUTRAN) de Volta Redonda, representando a classe dos(as) ciclistas no município.
Desse modo, o contato inicial foi realizado a partir do WhatsApp8, visto que essa rede social também já é utilizada para a comunicação dos membros dos grupos Bike Adventure e Voltaço MTB. Tal rede social serve para expor as ideias comuns a cada pequeno grupo de identificação, pois o referido aplicativo permite enviar e receber mensagens, fotos, vídeos, documentos e mensagens de voz, o que contamina e forma o cimento social dentro dos grupos supramencionados. Participar das conversas do grupo investigado, via aplicativo, revela-se, de certo modo, significativamente relevante para a pesquisa, pois “[...] o que constitui a base da existência cotidiana é a comunidade ou a solidariedade local. [...] “o que está em jogo é a partilha diária de afetos, da palavra, e muitas vezes também dos bens” (MAFFESOLI, 1984, p. 62). O autor ainda complementa afirmando que esse comportamento pós-moderno, a partir das “[…] tribos urbanas sinalizam que vivenciamos uma mutação social que apela para o retorno de características que a modernidade julgava ultrapassada, havendo uma sinergia entre o arcaico e o desenvolvimento tecnológico” (NOBREGA, 2013, p. 202).
Nessa direção, Henriques (2010, p. 125) complementa mencionando que essas “[…] tecnologias nômades (laptops, palms e celulares) vêm proporcionando que os indivíduos interajam e expandam seus contatos através destas redes telemáticas”.
Desse modo, cabe destacar que, especificamente o grupo Bike Anjo, apesar de também ter sido contactado pelo WhatsApp, não utiliza tal rede como articulação dos membros, mas outras redes sociais, como o Facebook e o Instagram.
Considerando a aproximação aos grupos, conforme supramencionado, gostaríamos de reafirmar a relevância do pensamento de Maffesoli (2011, p. 16) para tal estudo, pois o autor nos chama a atenção para o estar junto. Para Maffesoli (2011) a tecnologia se constitui como um dos aspectos na transfiguração no vínculo social na atualidade, o que o autor denomina de socialidade9. Outrossim, as conversas e os diálogos estabelecidos, por meio de múltiplas linguagens em tais aplicativos, nos servem como dados empíricos nos permitindo compreendê-la como potência10.
Assim, é importante frisar que, após o contato inicial realizado pelas redes sociais, foi possível conhecer superficialmente o funcionamento dos grupos e suas características, conforme explicitaremos no item a seguir: Primeiro, o grupo Clube Bike Adventure, posteriormente, o grupo Voltaço MTB11 e, por fim, o Bike Anjo.
CLUBE BIKE ADVENTURE, VOLTAÇO MTB E BIKE ANJO
O primeiro contato com o grupo se deu por intermédio de um dos membros fundadores (M) que, na condição de responsável, após a exposição sobre os objetivos da pesquisa nos autorizou a inserção no grupo de WhatsApp.
Diante dos diálogos estabelecidos com M, fomos tendo acesso à forma social, à composição da rotina e dos modos de comportamento do grupo Bike Adventure: “[…] a socialidade que nos ocupa é, antes de tudo, determinada por aquilo a que Pareto chamava os resíduos, dando naturalmente a este termo as suas diversas acepções” (MAFFESOLI, 1989, p. 153).
Desse modo, fomos compreendendo que o referido grupo se subdivide em quatro subgrupos: Adventure 1 (com 222 ciclistas), Adventure 2 (com 201 ciclistas), Adventure 3 (com 223 ciclistas) e Pedal do Galo (grupo criado para os(as) ciclistas que estavam sem tempo ou não conseguiam pedalar nos horários determinados, nesse caso os pedais do galo acontecem de 6h até 7h30min da manhã, por isso, a escolha do nome). Tendo em vista que os grupos atualmente são administrados por 6 participantes que se espalham nos grupos para repassar as informações a todos(as).
Vale ressaltar, também, o nível de condicionamento dos(as) ciclistas, uma vez que não é preciso necessariamente estar em forma e em dia com a musculação ou outros exercícios como acontece em outros esportes, e a presença de alguma limitação clínica ou física não os impede de se manterem na atividade.
Contudo, quando se começa a pedalar, independente do condicionamento físico da pessoa, é preciso conquistar uma maior habilidade específica no ciclismo. Um dos requisitos importantes é ter uma bicicleta indicada para o uso pretendido, ter um bom equipamento, regulado e com condições, pois, caso não se tenha o equipamento adequado, em vez de obter os contornos do caráter lúdico ou a prática prazerosa do esporte, pode se transformar em transtorno.
Outro fator que pode ser mencionado, e influenciar na divisão desses grupos, é a faixa etária que, segundo um dos integrantes, vai depender da distância e quilometragem do pedal, ou seja, se é um pedal longo ou curto:
Agora no caso da faixa etária, tem muito ciclistas com a faixa etária muito avançada, aqui em Volta Redonda, por exemplo, existem uns senhorzinhos aí que dão muita coça na garotada, eles pedalam muito. Em minha opinião, quanto mais tempo de pedal tiver o ciclista mais resistência ele tem, não em um pedal de explosão, mais em longa quilometragem... Minha opinião (Conversa com JJ, integrante do grupo Adventure, realizada pelo WhatsApp, no dia 14 de março de 2020).
O Bike Adventure possui cerca de mil ciclistas espalhados pelos subgrupos já mencionados e oriundos de várias cidades da região Sul Fluminense. Essa tribo social apresenta algumas especificidades, conforme explicitado por um de seus líderes:
Amigo(a) Ciclista, seja bem-vindo ao grupo do Clube Adventure. Aqui você faz boas amizades e fica por dentro dos pedais, contudo fique atento às regras do grupo. Os grupos Adventure 1, 2, 3 e Pedal do Galo foram feitos com a finalidade de marcar passeios de bike ou trekking. Serão bem-vindos somente vídeos, fotos, divulgação, vendas de peças ou materiais relacionados a estes assuntos. Não enviem piadas, pornografia, política e futebol (Conversa com M, realizada pelo WhatsApp, no dia 15 de junho de 2019).
A narrativa supramencionada nos remete ao aspecto ético do grupo, visto que, para Maffesoli (2011, p. 26), é o que serve de “[…] cimento e que, por sua vez, é particular, limitada a determinado grupo”. Para o autor, esse caráter ético, que emerge no referido ajuntamento (ciclismo), serve como momento anômico12 que consolida organicamente o sentimento de filiação da comunidade em questão.
Outro grupo investigado foi o Voltaço MTB, que nos foi apresentado por alguns integrantes do Bike Adventure. Amparados por inúmeros aparatos tecnológicos, as pessoas se conhecem mais facilmente e em maior número. Para De Almeida e Weymar (2013, p. 1), as tecnologias facilitam esse processo de identificação: “O compartilhamento de ideais, gostos, modos de ser e agir - que vai muito além do share próprio da rede - acaba por ser influenciador das relações das pessoas entre si e da relação entre sujeito e comunidade”.
Dessa forma, logo após as apresentações dos responsáveis, procuramos descobrir os aspectos que singularizaram a origem do grupo, que adveio do uso do aplicativo Strava no intuito de monitorar os passeios de Bike em longas distâncias e os passeios do grupo. Na medida em que esse aplicativo era frequentado por outras personas, foi aumentando significativamente o interesse pela interação com o MTB, permitindo a criação do nome e da logo, conforme podemos ver na figura 3.
Em conversa com seus criadores, nos foi narrado que a escolha do nome - Voltaço MTB - foi uma maneira de o grupo homenagear a cidade e o time de futebol do município, com o uso da denominação simbólica da CSN (aço) que já é reconhecida em vários estados (Voltaço) e em algumas competições em que participam.
Então antes da logo ser criada eu sempre estava fazendo grandes voltas e sempre colocava no título do passeio, como faço até hoje - VOLTAÇO - daí resolvemos criar o grupo com este nome incluindo o MTB. Fazíamos pedais e não tínhamos um grupo definido e foi sugerido a do Voltaço - MTB. Sim, pois somos de Volta Redonda, já temos o Voltaço Futebol, agora além de homenagear a cidade e o time temos o nosso próprio símbolo que já é conhecido em vários estados e competições (Conversa com Administradores do grupo Voltaço MTB, realizada pelo WhatsApp, no dia 24 de abril de 2020).
Já a figura expressa na logo representa o símbolo da cidade (PMVR), que emerge da representação imaginária da curva do Rio Paraíba do Sul que foi a razão de denominar a cidade como Volta Redonda no período de sua construção.
Como nos chama a atenção Pais (2003), ao citar Antônio Machado - “Caminante no hay camino, se hace camino al andar” -, optamos por mergulhar nos processos de pesquisa nos inserindo no grupo oficialmente. Inicialmente, passeamos por um cadastro de reserva, criado pelos administradores, como um procedimento de organização interna. Posteriormente - dia 9 de agosto de 2019 -, fomos adicionados ao grupo de reserva, especificamente a uma lista com mais seis integrantes. No dia 19 de agosto de 2019, fomos removidos do grupo de reserva e adicionados ao grupo Voltaço MTB. No mesmo dia, fomos informados sobre as regras do grupo, conforme narrativa a seguir:
Seja bem-vindo ao grupo de ciclistas VOLTAÇO MTB. Nosso grupo de amigos e família. Amigo(a) Ciclista, seja bem-vindo ao grupo do VOLTAÇO MTB. Aqui você faz boas amizades e fica por dentro dos pedais, contudo fique atento às regras do grupo. O grupo foi criado com a finalidade de marcar passeios de bicicletas ou trekking. Serão bem-vindos somente vídeos, fotos, divulgação, vendas de peças ou materiais relacionados a estes assuntos. Não enviem piadas, pornografia, polícia, futebol e correntes religiosas ou qualquer assunto que não diga respeito aos passeios acima o integrante do clube será avisado no privado para a remoção do “POST”, porém, caso não o faça estará descumprindo as regras citadas poderá causar suspensão por 24 horas e a reincidência terá a suspensão definitiva. Peço colaboração de todos os participantes (Conversa com administradores do grupo Voltaço MTB, realizada pelo WhatsApp, no dia 19 de agosto de 2019).
Ao adentrarmos no grupo e nos depararmos com a postagem - notificação supramencionada -, de imediato nos recordamos de Maffesoli (2011, p. 47) e a diferença entre a noção de social e socialidade. Para o autor, o social é apenas o estar junto de maneira racional, a socialidade “[…] é a expressão natural desse social baseado na racionalidade [...]”, portanto, a socialidade seria a expressão desse societal, essa perspectiva nos permite perceber a retomada da inteireza, “[…] possibilidade de integrar, na vida comum, os elementos essenciais que haviam sido deixados de lado” (p. 47). Desse modo, buscamos frisar que os administradores, ao estabelecerem os limites, explicitam evidências, princípios de ação dentro do aplicativo - grupo -, maneiras de viver da referida tribo urbana, conforme nos esclarece Maffesoli (2005, p. 23):
Prevalece uma espécie de acaso. Mas o valor, a admiração, o hobby e o gosto partilhados tornam-se cimento, vetores de ética. Para ser mais preciso, denomino ética uma moral “sem obrigação nem sanção”, sem qualquer outra obrigação que não seja a de fazer parte do corpo coletivo; sem qualquer sanção que não seja a de ser excluído do grupo em caso de perda de interesse (inter-esse). A ética da estética faz do sentir algo junto com outros um fator de socialização.
Nesse sentido, ocorre um deslizamento característico da cultura do sentimento, dos ajuntamentos, visto que as personas parecem migrar de uma lógica identitária para uma lógica da identificação. Para Maffesoli (2005, p. 22), a “[…] primeira é essencialmente individualista: a última, muito mais coletiva”.
Prosseguindo a aproximação aos grupos de ciclismo, no dia 3 de outubro de 2019, realizamos o contato com L pelo WhatsApp, procurando compreender o funcionamento do grupo: Voltaço MTB. Seguindo a lógica do farejador social, conforme descrito por Maffesoli (1984, p. 14), ao discutir a sociologia compreensiva, retomamos o contato com o Voltaço MTB, pois esse movimento de vai-vem busca o instituinte, procura entender o “[…] subterrâneo, e o taxinómico que classifica as formas ou as situações instituídas e oficiais”.
Assim, na retomada das conversas com L, fui informado de que o grupo tem aproximadamente 256 integrantes (aqueles que são adeptos de Speed e MTB, conhecida como bicicleta de estrada utilizada para velocidade e por amantes da natureza).
Outro aspecto relevante a ser mencionado é que o propósito do grupo é fazer passeios com a família, sempre que possível. Os passeios acontecem diariamente, pedais de segunda à sexta, de 6h às 8h em um circuito de 7 km por volta.
Percebe-se que a maior parte dos grupos se concentra nas áreas de lazer e esporte, remetendo ao imaginário contemporâneo, o qual valoriza formas as relações sociais mais abertas. Os grupos proporcionam interações e aglomerações sociais, além de trocas de informações e/ou mensagens necessárias para dinamizar a sociedade e agregar valor ao vínculo social.
Dessa forma, mostra ser necessário mudar os nossos modos de avaliar os reagrupamentos sociais. Deste ponto de vista, podemos utilizar a análise sócio-histórica da comunidade emocional, como caracteriza Maffesoli (2002), que afirma que as pessoas se unem por uma emoção coletiva, e confiram-se em laços sociais, comunidades, sendo estas passageiras (no aspecto pouco duradouro), versáteis (a formação do ambiente), e estruturadas pelo cotidiano (organização). Ou seja, trata-se de uma categoria, algo que nunca existiu de verdade, mas que pode servir como indicador de situações presentes.
Assim como nas duas comunidades anteriores, a aproximação com o grupo Bike Anjo, também realizada por WhatsApp, se deu a partir da interação estabelecida com os grupos de ciclistas anteriormente mencionados. De imediato, percebemos que essa tribo urbana (MAFFESOLI, 2002) demonstrava uma intencionalidade de intervenção social, conforme pudemos constatar em seu site oficial (ver figura 4). Nesse sentido, Arroyo (2004) destaca os processos educativos que atravessam os movimentos sociais, as lutas e as vivências do cotidiano.
Cabe destacar, ainda, que o grupo de Volta Redonda surgiu por intermédio de um ciclista (V.S.) que conheceu o projeto Escola Bike Anjo (EBA) em São Paulo e, posteriormente, iniciou o processo de articulação para trazer o movimento para o município de Volta Redonda.
Em decorrência desse contato inicial, um dos voluntários do projeto EBA-RJ, se propôs a desenvolver o primeiro treinamento no município de Volta Redonda, entretanto, para que isso ocorresse seria necessário que V.S. conseguisse pessoas dispostas a dar prosseguimento ao projeto. Foi nesse momento que M e mais três outros voluntários passaram a compor a equipe EBA-VR.
Talvez esse momento se caracterize como sendo o da emoção coletiva, a “[…] alavanca metodológica que nos introduz no cerne da organicidade característica das cidades contemporâneas” (MAFFESOLI, 2002, p. 21). Para Maffesoli (2002, p. 21), essa se constituiria como a estética do sentimento, porque não se trata de uma experiência individual, pelo contrário, “[...] representa o destino comum. É o que permite estabelecer um laço estreito entre a matriz ou aura estética e a experiência ética”.
Assim, é importante ressaltar que a tribo urbana Bike Anjo é uma associação, uma rede nacional de ciclistas, que nasceu em 2010, com objetivo de promover a bicicleta como processo de transformação sistêmica das cidades e da vida das pessoas, portanto, se consideram uma rede orgânica, espontânea, colaborativa e voluntária, difusores dos benefícios da bicicleta, estando presentes em 37 países e 791 cidades13. Na medida em que buscamos proximidade com aqueles que nos identificamos, procuramos companhia form[…] daqueles que pensam e sentem como nós” (MAFFESOLI, 2002, p. 18).
Bike Anjo é uma rede de ciclistas apaixonad@s pela bicicleta que promove, mobiliza e ajuda pessoas a começarem a utilizar esse veículo nas cidades. Acreditamos que a bicicleta é uma ferramenta de transformação social e quanto mais gente, melhor serão nossas cidades (SITE OFICIAL BIKE ANJO).
Cabe frisar que a referida comunidade se diferencia dos grupos de ciclistas anteriores, pois a preocupação central não é apenas com o uso da bicicleta para desfrutar de espaços físicos, passeios ou prática de atividade e exercício físico, mas a intenção de ensinar as pessoas a andar de bicicleta, educação para o trânsito, proposição de projetos que interferem na mobilidade urbana, dentre outros. Os projetos desenvolvidos pela comunidade refletem esse processo de transformação social: De Bike ao Trabalho; Bike Anjo no dia Mundial sem carro; Não vou de Bicicleta, mas respeito quem pedala; Bike na Periferia; Bike na Escola; Bicicleta nos Planos; Escola Bike Anjo.
As Escolas Bike Anjo (EBAs) são oficinas gratuitas organizadas por grupos de anjos de uma determinada cidade. Elas têm data, hora e local para acontecer (SITE OFICIAL BIKE ANJO).
No caso de Volta Redonda, os voluntários da equipe do EBA utilizavam formas de divulgações nos grupos de ciclismo, de pessoas conhecidas, Facebook e até as próprias personas que solicitam apoio. As aulas, até pouco tempo, ocorriam no último domingo de cada mês. A partir de janeiro de 2020, o grupo mudou para o segundo domingo de cada mês, sendo necessária a inscrição dos interessados em aprender a andar de bike. A faixa etária atendida pela EBA é a partir de 3/4 anos de idade, sendo necessária a utilização de calça e tênis, além de ser exigida a pontualidade no horário.
Nesse contexto, trazemos as ideias de Arroyo (2003) com relação ao fato de que podemos aprender com os movimentos sociais, desde que não nos orientemos no sentido de transferir a eles o que quer que saibamos, pois, é necessário viver com eles a experiência de uma formação coletiva, voltada para a transformação de todos os sujeitos envolvidos.
No município de Volta Redonda, as ações da referida tribo urbana se particularizam por meio de um projeto desenvolvido com pessoas portadoras de necessidades especiais, especificamente com deficiência visual. O projeto é conhecido como ODKV, que significa: ODKV e o di lá não vê, pedal para cegos (ver figura 5). O ensino desse projeto é diferente do EBA e acontece por meio de passeios e apoios voluntários: utilização de uma bike unida à outra, conduzida por um anjo (anjo, nome do aluno que se prontifica a ser voluntário) e um cego, ora um conduz, ora o outro conduz. O próprio cego pedalando, conduzindo e sendo orientado pela voz do anjo que enxerga.
As bicicletas utilizadas no projeto supramencionado precisam ter a medida e o ângulo certos para esse público, pois elas precisam ter quadros diferenciados, que necessitam de ajustes para serem articulados. Sendo assim, a narrativa a seguir explicita o que estamos a enfatizar:
[...] ideia da bicicleta adaptada para pessoas com mobilidade reduzida ou alguma limitação, no caso, a bike ODKV (o de cá, vê) [...]. As bicicletas gêmeas são consideradas uma ferramenta de inclusão, acessibilidade e liberdade dando oportunidade ao deficiente visual de guiar, em uma experiência incrível, diz André Vaz, articulador do Bike Anjo - Volta Redonda (FOCO REGIONAL, 12 dez. 2018).
Convém salientar que os projetos EBA e ODKV, são projetos diferentes, mas desenvolvidos pelas mesmas personas, pois a sua distinção se procede pelo público-alvo. Os projetos não se desenvolvem simultaneamente, em detrimento da necessidade da atenção e dedicação total às pessoas com necessidades especiais.
À GUISA DE CONSIDERAÇÕES: UMA BREVE PAUSA PARA DESCANSO.... ANTES DE NOVOS PASSEIOS E OUTRAS REFLEXÕES!
A visibilização das tribos urbanas, que utilizam o ciclismo como modos de fazerpensar o mundo e as respectivas políticaspráticas presentes neste trabalho, não possuem a pretensão ou a perspectiva de se caracterizar como uma maneira única de se desenvolver a experiência sobre rodas, mas exercício de compreender e refletir sobre o modo como essas personas se utilizam da bike para experienciar o mundo.
O ciclismo se configura a partir de diversas formas de expressão que estabelecem interfaces com os processos de identificação, com a escolha pessoal e coletiva do grupo social a que está vinculado: competição profissional e alto rendimento, prática de exercício físico e saúde, deslocamento para o trabalho e mobilidade urbana, lazer e passeio com a família e amigos, dentre outros inúmeros interesses.
Percebemos que há um lugar comum entre as tribos urbanas investigadas: a prática do ciclismo, da ação corporal sobre rodas. Porém, esta políticaprática de socialidade emerge entrelaçada a uma experiência ética que tem como cimento social múltiplas origens: os sentimentos, as relações com a realidade social entremeadas de emoções, alegrias dos passeios, na socialidade com as pessoas que buscam o aprendizado da prática corporal sobre duas rodas, mas também no trágico de um acidente, na paixão, no conflito, no sofrimento, no lazer, ou seja, na complexidade do embate que emerge da vida lábil.
Perceptível também foi o resgate que as experiências/memórias subjacentes ao subterrâneo nos promoveram, pois priorizamos aquilo que a razão moderna não privilegia porque exclusivamente valoriza o conhecimento cognitivo, descredibilizando as criações oriundas das emoções e dos sentimentos.
Para finalizar, gostaríamos de ressaltar aquilo que Arroyo (2003) nos chama a atenção com relação aos processos educativos enredados aos movimentos sociais, ou seja, a possibilidade de compreender a educação que se dá para além dos muros da escola, em espaços e formas diversas de aprenderensinar que são invisibilizados pelo pensamento colonizador moderno que concebe a escola como o único espaço de construção de conhecimento credível. O que estamos a problematizar fundados nas discussões de Arroyo (2003), é a possibilidade de produzir como existente (SANTOS, 2010) outras práticas educativas - saberes que não são reconhecidos como conhecimentos - desenvolvidas no cotidiano dos grupos investigados em forma de projetos - ODKV - que também contribui com a formação do humano.