Introdução
O Educere - Congresso Nacional de Educação é um evento acadêmico-científico organizado pelo curso de Pedagogia e pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Sediado na cidade de Curitiba (Paraná-Brasil), desde 2001, o Educere tem proporcionado aos pesquisadores - acadêmicos da graduação, da pós-graduação e dos profissionais da área da educação - socializar os resultados das pesquisas. Historicamente, o congresso tem possibilitado a aproximação de docentes, de alunos da Educação Superior e dos professores da Educação Básica e com essa integração propicia aprimorar a formação inicial e continuada dos profissionais da Educação. O congresso tem periodicidade bienal, apesar de que entre os anos de 2001 e 2008 ocorreu anualmente.
De acordo com Stephanou e Bastos (2014), os estudos acerca da História da Educação tornaram-se cada vez mais expressivos nos cursos de pós-graduação no Brasil nos anos finais do século XX. No Educere, os estudos voltados à História da Educação passaram a compor um eixo específico apenas na edição do evento do ano de 2008, o que não significa que antes dessa data não existam trabalhos dedicados ao tema, mas, sim, que essas pesquisas não estavam contempladas sob uma denominação específica. Nos anais do evento, é possível perceber o desenvolvimento do eixo da História da Educação, já que entre os anos de 2008 e 2017 foram 367 artigos aprovados para comunicação que se valeram da perspectiva histórica na pesquisa sobre educação. Desses artigos, 27 foram aprovados no ano de 2008; 50 artigos no ano de 2009; 68 artigos no ano de 2011; 91 artigos no ano de 2013; 76 artigos no ano de 2015 e 55 artigos no ano de 2017.
De acordo com Nóvoa (2014, p. 9), “Não há História da Educação sem a mobilização rigorosa dos instrumentos teóricos e metodológicos da investigação histórica. Mas também não há História da Educação sem um pensamento e um olhar específicos sobre a realidade educativa e pedagógica”. Dessa forma, esse estudo voltou seu olhar à produção do conhecimento a respeito da História da Educação contida nos trabalhos aprovados para comunicação do Educere entre os anos de 2008 e 2017. Procurou responder à indagação: O que apresentaram os trabalhos que foram aprovados para a comunicação no Educere de 2008 a 2017 dentro do eixo temático da História da Educação? O presente trabalho objetivou analisar os trabalhos aprovados para comunicação que compuseram o eixo temático denominado História da Educação, que integrou o Educere entre os anos de 2008 e 2017. O artigo buscou contemplar os seguintes objetivos específicos: selecionar, dentre os artigos aprovados para a comunicação, aqueles que compuseram o eixo História da Educação; sistematizar os artigos selecionados; e examinar os enfoques priorizados nos artigos. Para a coleta e a sistematização dos dados, foi utilizada a metodologia denominada ‘estado do conhecimento’.
Os eventos científicos que ocorrem objetivam divulgar a produção do conhecimento nas distintas áreas. Por meio dos estudos do tipo ‘estado do conhecimento’, de acordo com Romanowski e Ens (2006), é possível ter uma visão geral do que vem sendo produzido na área, além disso, a sistematização e a ordenação desse conhecimento possibilitam aos interessados ter um panorama do incremento das pesquisas desenvolvidas no campo, conhecer suas características, perspectivas e identificar lacunas existentes. Ferreira (2002) reitera que as pesquisas do tipo ‘estado da arte’ ou ‘estado do conhecimento’ adotam uma metodologia de caráter descritivo e inventariante da produção acadêmica e científica a respeito do tema que se investiga, valendo-se da perspectiva de categorias que emergem dos trabalhos individuais e do aglomerado da produção, sob as quais o fenômeno é analisado. Assim, para a coleta e a sistematização dos trabalhos aprovados no Educere, no eixo História da Educação, entre os anos de 2008 e 2017, optou-se pela metodologia do tipo ‘estado do conhecimento’, uma vez que por meio de suas técnicas é possível examinar as ênfases das pesquisas, bem como identificar os referenciais teóricos que subsidiaram as investigações, harmonizando-se com os objetivos desse estudo.
É necessário salientar que o eixo temático História da Educação no Educere foi tema de estudo para Mendes e Maier (2015), Rosa, Vargas, e Camargo (2017), Grybosi, Stropa, Ryndack, e Vieira (2017) e Paiva, Ribeiro, Küster. e Vieira (2017). O artigo de Mendes e Maier (2015) e o pôster de Paiva et al. (2017) apresentaram as análises dos trabalhos aprovados no Educere entre os anos de 2008 e 2015, no eixo temático História da Educação, dedicados a estudar a História das Disciplinas. A análise dos trabalhos aprovados no Educere entre os anos de 2008 e 2015, no eixo temático História da Educação, que versaram a respeito da Formação de Professores, foi o trabalho apresentado na modalidade pôster, por Rosa et al. (2017). Seguindo a mesma linha de pesquisa, o pôster apresentado por Grybosi et al. (2017), analisou os trabalhos aprovados que trataram da História das Instituições, que integraram o eixo temático da História da Educação do Educere entre os anos de 2008 e 2015.
Por mais que as pesquisas de Mendes e Maier (2015), Rosa et al. (2017), Grybosi et al. (2017) e Paiva et al. (2017) tenham voltado o olhar ao Educere e mais especificamente ao eixo História da Educação, nenhum dos estudos abrangeu todas as edições, bem como não objetivaram apresentar um panorama geral da produção do conhecimento acerca do eixo temático História da Educação, que compôs as edições do Educere entre os anos de 2008 e 2017. Dessa forma, justifica-se esse estudo uma vez que é relevante organizar e discutir sobre o que se tem produzido nas diversas áreas da educação, sobretudo a respeito da História da Educação, assim como subsidiar e direcionar novos estudos.
O estado do conhecimento
Para a coleta e análise dos dados, a metodologia denominada ‘estado do conhecimento’ foi utilizada, uma vez que esse tipo de estudo pode significar uma contribuição importante à constituição do campo teórico de uma dada área do conhecimento. Cabe aqui salientar a distinção entre 'estado da arte' e 'estado do conhecimento', uma vez que cada modalidade metodológica possui suas especificidades e amplitudes. Romanowski e Ens (2006) explicam as diferenças entre uma denominação e outra: os estudos sobre ‘estado da arte’ recebem essa denominação quando abrangem toda uma área do conhecimento, nos diferentes aspectos que geraram produções - periódicos, variados congressos, bancos de repertórios de pesquisas; já os estudos que se dedicam à pesquisa de apenas um setor são denominados ‘estado do conhecimento’. Por essa perspectiva, os estudos que investigam apenas uma parte dos agentes que possibilitam socializar o conhecimento produzido em uma área devem ser denominados 'estado do conhecimento', apesar de valerem-se da metodologia proposta pelo 'estado da arte'.
As pesquisas do tipo ‘estado da arte’ procuram:
[...] identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática pedagógica, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada (Romanowski & Ens, 2006, p. 39).
Ferreira (2002, p. 258) reitera que as pesquisas do tipo ‘estado do conhecimento’ ou ‘estado da arte’ apresentam o:
[...] comum desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos e comunicações em anais de congressos e de seminários.
Foi importante compreender a metodologia proposta pelo 'estado da arte' para que se pudesse analisar o que se tem produzido acerca da História da Educação e o que foi aprovado para a comunicação do Educere (2017). Deve-se aqui enfatizar que esse estudo se dedicou a analisar os trabalhos aprovados no Educere (2017) e dessa forma a metodologia utilizada deve ser denominada como 'estado do conhecimento'.
Contando com as orientações metodológicas do 'estado do conhecimento', realizou-se um levantamento de dados a respeito de trabalhos sobre a História da Educação, os quais foram aprovados para comunicação no Educere - Congresso Nacional de Educação, nas edições que ocorreram nos anos de 2008, 2009, 2011, 2013, 2015 e 2017. Foi necessário consultar os anais do evento disponíveis em Educere (2017), o que possibilitou acessar os 367 resumos dos trabalhos que foram aprovados para comunicação no eixo História da Educação.
História da Educação na edição do Educere do ano de 2017
Aconteceu na PUCPR, entre os dias 28 e 31 de agosto do ano de 2017, a décima terceira edição do Educere - XIII Congresso Nacional de Educação, com o tema ‘Formação de professores: contextos sentidos e práticas na Educação’ (Educere, 2017). De acordo com o Educere (2017), a décima terceira edição do evento objetivou promover reflexões sobre a formação, a prática e a pesquisa educacionais em um contexto globalizado, diversificado e de forte demanda social. Inscreveram-se, para esse evento de 2017, 5.283 participantes, dentre estudantes de graduação e de pós-graduação, professores da educação básica à superior e profissionais ligados à educação do Brasil e de países como Portugal, França, Inglaterra, Chile, Argentina, Uruguai e Moçambique.
Os eixos temáticos utilizados para a organização do evento emergiram da constatação de interesses dos participantes. De acordo com Educere (2017), a 13ª edição do evento contou com 22 eixos temáticos, que abrigaram trabalhos acerca de Alfabetização, Leitura e Escrita; Cultura, Currículo e Saberes; Didática; Educação Ambiental; Educação, Arte e Movimento; Educação da Infância; Educação de Jovens, Adultos e Profissionalizante; Educação e Direitos Humanos; Educação e Saúde; Educação Indígena, Quilombola e do Campo; Educação, Tecnologia e Comunicação; Ensino e Práticas nas Licenciaturas; Filosofia e Educação; Formação de Professores; História da Educação; Música e Educação; Políticas Públicas e Gestão da Educação; Psicologia da Educação; Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão; Representações Sociais e Educação; e Sociologia da Educação.
Ao consultar os anais, foi possível identificar os 1.187 artigos aprovados e que foram dedicados a cada eixo temático proposto no Educere (2017). Com base nessa consulta, foi possível elaborar a Tabela 1.
Por meio da análise da tabela, pode-se perceber que o eixo da História da Educação ocupa a sétima posição quando elencados os enfoques priorizados nas pesquisas em educação. Nesse sentido, no Educere (2017), os trabalhos aprovados priorizaram, em primeiro lugar, o estudo da formação de professores, o que totalizou quase 20% dos artigos aprovados. Posteriormente, percebe-se que os estudos a respeito de políticas públicas e gestão da educação somam aproximadamente 10% dos artigos aprovados para comunicação no Educere (2017). Os eixos de Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão; Educação, Tecnologia e Comunicação; e Didática tiveram praticamente a mesma proporção de trabalhos que versaram sobre essas temáticas, o que totalizou aproximadamente 5,5% cada eixo. Pode-se perceber também o interesse dos pesquisadores nos eixos Educação da Infância; Ensino e Prática nas Licenciaturas; História da Educação; Cultura, Currículo e Saberes; e Avaliação da Educação. Dessa forma, compreende-se que dentro das possibilidades de pesquisas com enfoque na educação, os estudos que visam produzir conhecimentos ligados à História da Educação tiveram seu espaço representado no Educere (2017).
Ano do evento | Número de comunicações |
Formação de Professores | 236 |
Políticas Públicas e Gestão da Educação | 122 |
Psicopedagogia, Educação Especial e Inclusão | 86 |
Educação, Tecnologia e Comunicação | 77 |
Didática | 75 |
Educação da Infância | 60 |
Ensino e Prática nas Licenciaturas | 55 |
História da Educação | 55 |
Cultura, Currículo e Saberes | 53 |
Avaliação da Educação | 51 |
Alfabetização, Leitura e Escrita | 35 |
Psicologia da Educação | 35 |
Educação e Direitos Humanos | 34 |
Educação Indígena, Quilombola e do Campo | 34 |
Representações Sociais | 33 |
Sociologia da Educação | 30 |
Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissionalizante | 27 |
Educação Ambiental | 25 |
Educação e Saúde | 25 |
Educação Arte-Movimento | 20 |
Filosofia da Educação | 14 |
Música e Educação | 05 |
Total | 1187 |
Fonte: as autoras, com base nos anais do evento, 2017.
Educere (2008-2017): eixo temático História da Educação
Compreende-se, nesse estudo, como explica Nóvoa (2014), que a reflexão acerca da História da Educação proporciona o olhar para um patrimônio de ideias, de projetos e de experiências. Em consonância com esse pensamento foram as orientações dadas pela coordenadora do eixo, Dr.ª Maria Elisabeth Blanck Miguel, aos participantes quanto às especificidades dos trabalhos que iriam compor o eixo História da Educação, no Educere (2017):
O Eixo História da Educação enquanto parte integrante do Educere tem como tema central História da Educação e tempo presente. Objetiva criar um espaço de discussão para questões referentes à História da Educação brasileira e de outros países. Privilegia trabalhos que procedam de pesquisas referentes aos seguintes temas: Políticas e História da Educação; Os intelectuais e ideário pedagógico; Arquivos e patrimônios escolares; Educação e gênero na educação; Movimentos sociais e História da Educação; Impressos pedagógicos e imprensa periódica educacional; Fontes, Arquivos e patrimônios escolares; Educação e gênero na História da Educação; Relações étnico-raciais e movimentos sociais na educação; Instituições e práticas educativas.
Por meio da análise da ementa proposta para o eixo da História da Educação do Educere (2017), é possível perceber a multiplicidade de enfoques que podem ser priorizados nas pesquisas que pretendem produzir conhecimento histórico acerca de um dado tema. Sob essa ementa proposta, foram aprovados para comunicação 55 trabalhos, os quais compuseram o eixo temático denominado História da Educação, integrante do Educere 2017.
Considerando as orientações da ementa proposta para o eixo História da Educação do Educere (2017) e os trabalhos que foram aprovados entre os anos de 2008 e 2017, que totalizaram 367, procurou-se distribuir os artigos conforme as diretrizes. Dessa forma, os temas propostos na ementa puderam ser elencados como categorias de classificação dos artigos aprovados. Assim, buscou-se categorizar os artigos aprovados para comunicação do Educere (2008; 2009; 2011; 2013; 2015; 2017) que compuseram o eixo História da Educação nas categorias: ‘Políticas e História da Educação’; ‘Os intelectuais e ideário pedagógico’; ‘Fontes, arquivos e patrimônios escolares’; ‘Educação e gênero na educação’; ‘Impressos pedagógicos e imprensa periódica educacional’; ‘Educação e gênero na História da Educação’; ‘Relações étnico-raciais e movimentos sociais na educação’; ‘Instituições e práticas educativas’; e ‘Formação de professores: perspectiva histórica’.
Para a distribuição dos artigos nas categorias propostas na ementa do eixo História da Educação, foi necessário analisar os títulos e em alguns casos a leitura do resumo propiciou maior compreensão do tema abordado. Após a análise e a distribuição dos artigos nas categorias correspondentes, foi possível elaborar a Tabela 2, que demonstra o número de artigos que puderam ser considerados como pertencentes a cada categoria.
No eixo História da Educação (Educere, 2008; 2009; 2011; 2013; 2015; 2017), foi possível identificar 10 trabalhos que discorreram acerca da educação e do gênero na História da Educação.
A temática relações étnico-raciais e movimentos sociais na História da Educação foi discutida em sete artigos. No Educere, deve-se considerar que a temática compõe um eixo próprio, o que pode ter levado os participantes a submeterem os trabalhos no eixo específico.
Categoria | Número de comunicações |
‘Educação e gênero na História da Educação’ | 10 |
‘Relações étnico-raciais e movimentos sociais na educação’ | 07 |
‘Instituições e práticas educativas’ | 135 |
‘Fontes, arquivos e patrimônios escolares’ | 18 |
‘Formação de professores: perspectiva histórica’ | 36 |
‘Impressos pedagógicos e imprensa periódica educacional’ | 17 |
‘Os intelectuais e ideário pedagógico’ | 30 |
‘Políticas e História da Educação’ | 114 |
total | 367 |
Fonte: as autoras, com base nos anais do evento, 2008, 2009, 2011, 2013, 2015 e 2017.
‘Instituições e práticas escolares’
A Tabela 2 demonstra que aproximadamente 37% dos artigos aprovados para comunicação do eixo História da Educação discutiram questões ligadas às Instituições e às práticas escolares. O estudo das instituições e práticas escolares, de acordo com Frago (1995), tornou-se uma pesquisa viável no campo da História da Educação por meio da pluralidade de possibilidades teóricas e metodológicas proporcionadas pela História Cultural.
Os estudos acerca das instituições escolares apresentaram recortes espaciais delimitados, como o trabalho de Costa e Silveira (2017), que procurou identificar a trajetória histórica da Escola Major Terêncio Lima, localizada em Rorainópolis, cidade criada dentro do Projeto de Assentamento Dirigido Anauá (PAD/Anauá), no início da década de 1980, na Amazônia Roraimense; e o estudo sobre o Instituto de Antropologia Câmara Cascudo, elaborado por Pereira, Silva, Maia, e Santos (2011), que pesquisaram sobre a memória acerca da instituição.
Com recorte temporal e espacial delimitado, os artigos também trataram de questões ligadas à relação entre a imigração e as instituições escolares, como, por exemplo, o artigo de Storti (2011), que discorre a respeito da educação árabe na década de 1970, na cidade de Curitiba; e o artigo de Lopes (2017), que discursa sobre a Escola do Padre Auling, nos anos de 1896 a 1903, instituição destinada a alemães católicos. Dentro da pluralidade de objetos de estudo, o artigo de Vaz (2017) procurou estudar o curso de artes e a formação do professor de desenho e delimitou o recorte espacial na instituição da UFPR.
‘Fontes, arquivos e patrimônios escolares’
A ideia de identificar as maneiras como em diferentes espaços e tempos uma realidade social é forjada, raciocinada e exposta para ser lida, como sugere Chartier (1988), pode conectar-se com os estudos voltados para a ‘caixa preta da escola’ de Julia (2001). De acordo com Julia (2001), para entender a cultura escolar como objeto histórico, que busca compreender o que ocorre no espaço particular da escola e as práticas cotidianas dessa instituição, podem-se analisar os cadernos de preparação dos educadores, os diários de classe, os cadernos escolares, as normas, os programas oficiais ou as revistas pedagógicas, as autobiografias e as práticas de escrita. Dessa forma, as mais variadas fontes podem ajudar o pesquisador no espaço escolar.
Seguindo essa perspectiva é que 18 artigos aprovados para comunicação no eixo História da Educação foram selecionados para compor a categoria de ‘Fontes, arquivos e patrimônios escolares’. Dois artigos trataram das possibilidades do estudo das fontes, dos arquivos e do patrimônio escolar para a produção do conhecimento histórico. O artigo de Felisberto (2017) procurou refletir em que medida o ensino de Matemática, disposto nos cadernos escolares de alunos da escola primária, relacionava-se às discussões promovidas no campo da Educação nas décadas de 1940 e 1950.
‘Formação de professores: perspectiva histórica’
No que tange à categoria ‘Formação de professores: perspectiva histórica’, consideraram-se as palavras de Stephanou e Bastos (2014, p. 16), que salientam “[...] a importância da História da Educação, como uma das ciências da educação [... o que ...] inclui-se, certamente, nesse âmbito dos fundamentos à formação de professores em qualquer área e disciplina”. Nesse sentido, torna-se fundamental a reflexão sobre a produção histórica para a formação de professores, uma vez que proporciona ao docente o contato com conceitos, conhecimentos, experiências e projetos elaborados e colocados em prática.
Quanto aos estudos sobre a Formação de Professores, Diniz-Pereira (2014) explica que, no Brasil, os debates fomentaram-se nas décadas finais do século XX e que os interesses dos pesquisadores variaram historicamente. Alicerçado por estudos do tipo ‘estado da arte’, que sistematizaram e analisaram as pesquisas sobre formação de professores, Diniz-Pereira (2014) elenca historicamente uma periodização e suas respectivas ênfases sobre as produções dos pesquisadores acerca da formação de professores no Brasil: "[...] nos anos de 1970: treinamento do técnico em educação; nos anos de 1980: a formação do educador; nos anos de 1990: a formação do professor-pesquisador [... e a partir dos anos 2000 ...] observa-se uma nítida preocupação com o tema da construção das identidades múltiplas dos docentes" (Diniz-Pereira, 2014, p. 105).
Por esse ângulo, além de poder perceber que os interesses variaram no decorrer dos anos, é possível auferir as múltiplas perspectivas de pesquisa no âmbito da formação de professores.
Foram categorizados 36 trabalhos aprovados no eixo História da Educação, do Educere (2008; 2009; 2011; 2013; 2015; 2017), que versaram sobre a ‘Formação de professores: perspectiva histórica’. Os números de trabalhos encontrados foram distribuídos conforme a data do evento, como demonstra a Tabela 3.
Ano do evento | Número de trabalhos |
2008 | 6 |
2009 | 3 |
2011 | 6 |
2013 | 7 |
2015 | 8 |
2017 | 6 |
Total | 36 |
Fonte: as autoras, com base nos Anais do evento, 2008, 2009, 2011, 2013, 2015 e 2017.
A princípio, foi possível perceber que aproximadamente 10% (dez por cento) dos trabalhos aprovados no eixo História da Educação tiveram como objeto de estudos a formação de professores, porém era necessário examinar os enfoques priorizados nos estudos. Não foi localizado nenhum trabalho que tenha analisado métodos e treinamentos de professores desvinculados do seu contexto político, econômico e social. Diniz-Pereira (2014) explica que na metade da década de 1970, a ênfase dada ao técnico e ao funcional na formação de professores passou a ser rejeitada e negada na produção acadêmica. Nesse sentido, é possível explicar a ausência de trabalhos que priorizaram apenas a instrumentalização técnica do professor.
Não foi encontrado nenhum trabalho que tenha dado ênfase à perspectiva histórica da formação do professor pesquisador. O estudo de Souza e Borba (2013) indica as transformações das primeiras décadas do século XX, no Brasil, que influenciaram a organização do contexto social e que colaboraram para a institucionalização da prática da pesquisa em educação. De acordo com Diniz-Pereira (2014), somente nos anos de 1990 passou a existir uma conformidade acerca da valorização da construção de saberes dentro da prática cotidiana. Apesar de alguns trabalhos estarem em conformidade com a formação do profissional reflexivo, “[...] aquele que pensa-na-ação, cuja atividade profissional se alia à atividade de pesquisa [...]” (Diniz-Pereira, 2014, p. 105), nenhum o colocou como o objeto central do estudo.
Dos trabalhos analisados na categoria ‘Formação de professores: perspectiva histórica’, 15 colocaram os professores no centro da pesquisa e discutiram a construção das identidades múltiplas dos docentes. De acordo com Diniz-Pereira (2014), a partir dos anos de 1980, houve aumento quantitativo na produção acadêmica sobre a formação de professores, assim como uma mudança de enfoque das pesquisas, que passaram a interessar-se por questões subjetivas e da identidade na formação de professores. O processo histórico de construção da identidade do pedagogo foi priorizado no trabalho de Silva (2008).
Para Diniz-Pereira (2014), as possibilidades teóricas e metodológicas para estudar as subjetividades docentes são múltiplas e sugerem uma articulação entre os pesquisadores e certa fluidez no campo de pesquisa. Os estudos de Nóvoa (1992) e Goodson (1992) norteiam as possibilidades de ouvir as experiências docentes e colocá-las como objeto de investigação na educação. Dos 15 que tiveram os professores no centro da pesquisa e discutiram a construção das identidades múltiplas dos docentes, sete pautaram-se nas entrevistas como técnica para a coleta de dados. Os trabalhos de Vieira (2011), Pauletti, Quadros, Garcia, e Lemos (2015), Macêdo (2015), Ribeiro e Vieira (2015), Garcia, Quadros, e Lemos (2015) utilizaram a técnica da entrevista como forma de coleta de dados, já os trabalhos de Corrêa e Guiraud (2008); e Corrêa e Trevisan (2008) buscaram analisar os limites e as possibilidades no uso das técnicas voltadas aos depoimentos de professores como forma de estudar a formação docente.
Diniz-Pereira (2014) salienta que os trabalhos que se dedicaram ao debate acerca do caráter político da prática pedagógica iniciaram-se na década de 1980 como uma reação “[...] à forma neutra, isolada e desvinculada de aspectos político-sociais, pela qual as licenciaturas foram fundamentalmente tratadas até a década anterior” (Diniz-Pereira, 2014, p. 104). Dos 36 trabalhos que compuseram a categoria ‘Formação de professores: perspectiva histórica’, 21 deles analisaram a formação de professores de forma mais ampla, sem olhar para as subjetividades dos docentes, mas vinculando o desenvolvimento e a instrumentalização da profissão a aspectos políticos, econômicos e sociais do período estudado.
Nesse sentido, destacam-se três trabalhos: Arosa (2008), que analisou a formação dos profissionais da educação; Mesquida, Kozelski, e Manasses (2009), que analisaram o Ratio Studiorum, como um compêndio de regras de como ensinar, como aprender, como administrar uma instituição de ensino e a influência da Companhia de Jesus na conformação da sociedade à cultura luso-europeia; Vieira e Gomide (2008), que analisaram os componentes de ordem econômica, política e filosófica que definiram os direcionamentos da formação docente no Brasil, pesquisas estas que tratam de aspectos políticos na formação dos docentes.
Na categoria ‘Formação de professores: perspectiva histórica’, também houve trabalhos que tiveram como objeto de estudo os manuais dedicados à instrumentalização docente, analisados junto ao seu contexto de produção. Nesse sentido, destaca-se o estudo de Schaffrath e Miguel (2011), que demonstraram e analisaram os livros utilizados na Escola Normal e apresentaram elementos históricos e teóricos visando o entendimento das concepções pedagógicas que nortearam as políticas de formação de professores para as escolas brasileiras e os saberes pedagógicos necessários à atuação no magistério público do ensino elementar, a partir do século XIX.
Foram também analisados os autores referenciados na categoria ‘Formação de professores: perspectiva histórica’. Para se chegar aos autores que foram mais referenciados nos trabalhos que se voltaram à formação de professores no eixo História da Educação e que foram aprovados no Educere (2008; 2009; 2011; 2013; 2015; 2017), foi necessário analisar as referências dos 36 trabalhos, chegando-se ao seguinte resultado: Chartier (1988), Le Goff (2013) e Guinzburg (1989) fundamentaram os trabalhos que seguiram a análise por meio da História Cultural. Os trabalhos que analisaram os depoimentos de professores alicerçaram-se nos estudos de Alberti (2004), Demartini (1992), Ferreira et al. (1998), Goodson (1992), Huberman (1992), Nóvoa (1992) e Thompson (2002). Como subsídio ao contexto histórico, evidenciaram-se os estudos clássicos de Azevedo (2010) e Saviani (2013) sobre a História da Educação no Brasil. Nomes que conceituam o termo ‘formação de professores’ foram pouco citados, como é o caso de Gatti (2008), e tal constatação demonstra, por um lado, a contemporaneidade do termo e, por outro, a pouca importância dada às definições claras dos termos utilizados.
‘Impressos pedagógicos e imprensa periódica educacional’
Devido aos múltiplos diferenciados enfoques, a possibilidade de uso de diversificados tipos de fontes, somado ao trabalho interdisciplinar da história com o auxílio de outras áreas do conhecimento e a ampliação do campo de estudo, a História Cultural permite ao historiador uma análise ampliada do objeto de estudo. Nesse sentido, Viñao Frago (1995) salienta que a História Cultural abrange o estudo da cultura material e do mundo das emoções, dos sentimentos e das imaginações, das representações e imagens mentais, a cultura de grandes pensadores e a cultura popular, assim como estuda os sistemas compartilhados de significados e ressignificações.
Variados objetos de estudos puderam ser observados nos artigos que compuseram as categorias ‘Impressos pedagógicos e imprensa educacional’; ‘Fontes, arquivos e patrimônios escolares’; e ‘Educação e gênero na História da Educação’. Somando os artigos que foram distribuídos nessas categorias, pode-se perceber que aproximadamente 5% dos pesquisadores, que tiveram seus artigos aprovados no eixo História da Educação, lançaram seus olhares para fontes variadas.
Os impressos pedagógicos e a imprensa periódica foram objetos de estudos em 17 artigos. Com a possibilidade de vários caminhos e fontes, pode-se “[...] identificar o modo como em diferentes lugares e momentos de uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler” (Chartier, 1988, p. 17). Nesse sentido, as práticas culturais e as representações sociais podem ser compreendidas por meio da análise dos discursos presentes nos impressos analisados. Considera-se que:
[...] as representações do mundo social assim construídas, embora aspirem a universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas (Chartier, 1988, p. 17).
Por essa perspectiva, Schena (2017) analisou o ideário nacionalista expresso no livro ‘Nossa Pátria’, entre os anos de 1917 e 1949, e procurou compreender de que maneira esse suporte pedagógico contribuiu para a propagação de ideias e sentimentos de nação na escola primária. Após suas análises, em relação ao livro, Schena (2017) concluiu que o discurso expresso no suporte pedagógico contemplava as intenções de uma República que buscava consolidar-se por meio de uma ideia coletiva de nação.
‘Os intelectuais e o ideário pedagógico’
Os intelectuais e o ideário pedagógico foram tema de 30 artigos aprovados no Educere (2017), no eixo História da Educação. Cabe salientar que esse número representa, aproximadamente, 8% dos trabalhos admitidos. Na compreensão de Viñao Frago (1995), o estudo dos intelectuais e suas propostas pedagógicas no campo da educação podem ser seguidos por meio da proposta teórico-metodológica da História dos Intelectuais, uma vez que esse tipo de estudo irá considerar as ideias e as crenças, os valores e as atitudes, as maneiras de pensar e os estilos de vida, além dos papéis acadêmico-intelectual e social que determinadas pessoas realizaram. Gomes e Hansen (2016) complementam que no estudo dos intelectuais e de suas ideias pedagógicas ou educacionais, faz-se necessário considerar as “[...] condições de produção político-social das ideias [... as ...] tradições intelectuais, os paradigmas vigorantes em dado contexto cultural, bem como das linguagens e do vocabulário (científico e artístico) disponíveis, além das sensibilidades compartilhadas por indivíduos e grupos intelectuais” (Gomes e Hansen, 2016, p. 12). Valendo-se desse ponto de vista e com recortes temporais estabelecidos, os artigos analisados trataram de questões político-sociais, tradições intelectuais e paradigmas em voga, em dado momento histórico.
O conceito de intelectual pode ser compreendido de duas formas: “[...] uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e os mediadores culturais, a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento” (Sirinelli, 2003, p. 242). Na forma mais ampla, um intelectual pode ser um jornalista devido a sua produção literária, um professor erudito, uma parte dos estudantes, “[...] criadores ou mediadores em potencial e ainda outras categorias de receptores da cultura” (Sirinelli, 2003, p. 242). Qualquer estudo exaustivo do meio intelectual deve pautar-se em definições como esta.
Nos artigos que discutiram os intelectuais e suas ideias pedagógicas, que foram aprovados no Educere (2008; 2009; 2011; 2013; 2015; 2017), para comunicação no eixo História da Educação, foi possível observar os dois conceitos de intelectuais propostos por Sirinelli (2003). No que se refere à compreensão do conceito mais amplo de intelectual, pode-se exemplificar com o artigo de Araujo e Orlando (2017), que buscou apresentar Helena Kolody (1912-2004) como uma intelectual, dona de um projeto literário, que atuou politicamente nos meios sociais paranaenses. Para tanto, Araujo e Orlando (2017) analisaram os discursos proferidos pela poetisa em formaturas e respostas a entrevistas publicadas em revistas. Nesse sentido, a compreensão de intelectual pode ser interpretada pela atuação do sujeito no meio em que vive e no qual estabelece suas relações.
Valendo-se do conceito mais estreito de intelectual, o artigo de Schmitz (2017), denominado "O lugar dos intelectuais durante a Era Vargas: da ‘Torre de Marfim’ à ‘Arena Política'’’, discutiu a participação dos intelectuais na construção de uma determinada identidade nacional, durante o período de 1937 a 1945. Schmitz (2017), por meio da relação entre Educação e Nacionalismo, procurou apresentar as ideias constituídas pelos intelectuais Oliveira Viana, Francisco Campos e Azevedo Amaral, que deram subsídio ao projeto nacionalista de Getúlio Vargas. Por essa perspectiva, o intelectual é um agente atuante do cenário político e a compreensão do posicionamento dos intelectuais permite compreender parte do contexto no qual eles se inserem.
‘Políticas e História da Educação’
Foi possível selecionar 114 artigos para compor a categoria denominada ‘Políticas e História da Educação’. Em uma perspectiva histórica e política, compreende-se que a sociedade e as suas instituições sociais não são as mesmas. Com efeito, Santin (2017), em seu objeto de estudo sobre as ‘contribuições de Boaventura de Bagnoregio’, concluiu que a formação do mestre no século XIII tinha como principal objetivo a civilização humana na base cristã, pois acreditava que no tratado de preparação da missa, o religioso, em sua formação de mestre, poderia contribuir para o projeto de educação e sociedade em seu processo civilizatório.
Compreende-se que a ação do docente no contexto histórico e político “[...] define-se pelas necessidades sociais a que o sistema educativo deve dar resposta, as quais se encontram justificadas e mediatizadas pela linguagem técnica-pedagógica” (Sacristán, 1999, p. 67). O artigo de Tavares (2017) tratou como, no início do século XIX, a educação idealizada na Escola Doméstica de Natal, que “[...] foi idealizada a partir da necessidade, percebida por Castriciano, de oferecer à mulher uma educação digna, na perspectiva em que ele acreditava que reformas sociais importantes aconteceriam devido à influência da mulher nos lares” (Tavares, 2017, p. 5674). Essa percepção é compreendida a partir de valores que definiam a figura feminina na instituição família como protagonista na prática educativa e ativa no processo de transformação da sociedade. Essa educação, idealizada a partir do protagonismo feminino na instituição família, recebeu forte influência das diretrizes da política educacional global da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A educação foi estabelecida como prioridade para o desenvolvimento social e econômico de todos os países, interferindo, assim, em contextos locais.
O valor atribuído à educação dentro do projeto de sociedade que se estabeleceu trouxe consigo mudanças políticas e econômicas para o global, o regional, o nacional e o local. No artigo de França e Camara (2017), foram apresentadas as mudanças ocasionadas no século XIX, no contexto histórico e político, que marcaram a formação do professor com o Curso Normal. Para Nóvoa (1999, p. 18), “[...] a segunda metade do século XIX é um momento importante para compreensão da ambiguidade do estatuto dos professores”. Nesse período, o professor é clamado a assumir seu protagonismo na educação e para isso precisava do conjunto de estratégias para alcançar resultado no projeto de educação almejado. Tal “[...] projeto de sociedade é construído pelas forças sociais que tem poder de voz e de decisão e que, por isto, fazem chegar seus interesses até o Estado [...]” (Azevedo, 2004, p. 60), o que influencia na política educacional desde sua elaboração até a sua ação, de forma a atender o referencial global normativo para o estabelecimento do acesso ao conhecimento historicamente produzido pela humanidade2.
No que se refere à política educacional, observa-se a influência sob “[...] o movimento da globalização, no bojo das novas tendências de articulação da produção e dos mercados, bem como dos novos padrões de sociabilidade que passaram a se forjar” (Azevedo, 2004, p. 2). Para atender às exigências do mundo do trabalho, necessitava-se que as pessoas tivessem escolaridade básica, para que pudessem compreender e atender às novas situações geradas pelo avanço tecnológico. No artigo de Iwasse, Machado, e Oliveira (2017), foi compreendido que a educação não pode ser dissociada do trabalho, pois ambas influenciam os modelos educacionais “[...] a seguir direcionamentos emanados do mundo capitalista objetivando a manutenção da ordem” (Iwasse et al., 2017, p. 11484). A educação, perpassada pelos limites e possibilidades, é intrinsecamente articulada às questões econômicas, culturais, sociais e políticas da sociedade, em esfera global até a esfera local.
Assim, o plano de ação para as necessidades básicas de aprendizagem inseriu a ação docente frente ao desafio da alfabetização, determinando a ação formativa do docente. Seguindo essa linha de raciocínio, o artigo de Cavarsan (2017) buscou apresentar, com base no Plano de ação para as necessidades básicas de aprendizagem (NBA), a importância da alfabetização e a criança de seis anos no Ensino Fundamental de nove anos. Nesse contexto político, no qual se insere a criança, encontra-se também a diretriz para a formação docente, uma vez que para atender a essa política para a educação, o professor assume sua centralidade na efetivação da política para a educação no contexto histórico.
Considerações finais
Contando com o arcabouço metodológico proposto pelo estado do conhecimento, analisaram-se os trabalhos aprovados no Educere entre os anos de 2008 e 2017, no eixo de História da Educação. Por meio dessa análise e sistematização dos 367 artigos aprovados, constatou-se que os enfoques priorizados pelos pesquisadores foram os estudos das instituições e das práticas escolares; dos intelectuais e do ideário pedagógico e das políticas educacionais; e a formação de professores em uma perspectiva histórica.
Pode-se constatar que por meio da perspectiva da História Cultural, foram diversificados os objetos de estudo utilizados pelos pesquisadores, que se valeram de impressos pedagógicos, da imprensa, de arquivos e de patrimônios escolares para compreender as práticas pedagógicas, os agentes educacionais e o cotidiano de um dado período histórico. No que tange aos estudos que se voltaram aos intelectuais e aos ideários pedagógicos, os artigos vislumbraram o intelectual, valendo-se de um conceito mais fluído. Nesse sentido, como intelectual, refere-se a diversos profissionais que atuaram na sociedade e que promoveram mudanças em seu contexto. No que se refere aos estudos que versaram sobre a relação entre a educação e as políticas, pode-se observar que os artigos trataram de temas diversos entre a relação das políticas nacionais e a História da Educação, assim como discutiram acerca da influência global para as políticas educacionais na História da Educação.