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Regae: Revista de Gestão e Avaliação Educacional

versión On-line ISSN 2318-1338

Regae: Rev. Gest. Aval. Educ. vol.12 no.21 Santa Maria  2023  Epub 27-Mar-2024

https://doi.org/10.5902/2318133873605 

Artigo

O IMPACTO DA COVID-19 NA PRODUTIVIDADE DOCENTE FEMININA NA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS,HUMANAS NA UFS (2019-2021)2

THE IMPACT OF COVID-19 ON FEMALE FACULTY PRODUCTIVITY IN POSTGRADUATE SCIENCE HUMANITIES AT UFS (2019-2021)

Janaina Cardoso de Mello¹ 
http://orcid.org/0000-0002-5060-0691

¹Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, Brasil. E-mail: janainamello.ufs@gmail.com.


Resumo

A pandemia da Covid-19 atingiu vários setores da sociedade laboral, principalmente a educação e a atividade docente. As dificuldades com a produtividade científica feminina na universidade, que enfrentava a sobrecarga do trabalho doméstico e familiar, se acentuaram no modelo home office. O objetivo geral deste trabalho consistiu em compreender como a pandemia do Coronavírus - Covid-19 -, impactou a produtividade das professoras nos programas de pós-graduação das áreas de Ciências Humanas na UFS. Adotou-se a metodologia quali-quantitativa na interpretação das informações quantitativas e dos dados qualitativos via observação, interação participativa e análise do discurso dos sujeitos. Foi estudada a produtividade de 72 professoras, de dez programas de mestrado e doutorado, com vínculos nas licenciaturas no período de 2019 a 2021. Foram coletados dados no portal institucional da UFS e nos Currículos Lattes do CNPq. Identificou-se que apenas um programa teve a produção feminina duramente impactada pelos efeitos da pandemia, configurando 10% da amostra, enquanto 40% das docentes conseguiram manter uma constância com índices mais baixos. Aproximadamente 20% retomaram o crescimento após uma queda brusca e 15% já demonstravam baixa produtividade antes da pandemia. O destaque ocorreu com 15% de docentes que elevaram muito seus níveis. O resultado reporta a sobrecarga de trabalho em casa, o adoecimento, a perda de sentido, o isolamento e a visão de produção como terapia de desligamento da realidade de medo e morte experimentada no mundo. Diante da baixa representatividade quantitativa das mulheres em alguns departamentos e programas de pós-graduação, faz-se necessária a adoção de políticas públicas institucionais para o fortalecimento da presença feminina na docência, de sua pesquisa e produtividade científicas no ensino superior, bem como o acompanhamento na mudança dos comportamentos de exclusão por homens que ocupam o status quo na universidade.

Palavras-chave: docência universitária; produtividade científica feminina; políticas públicas; gênero

Abstract

The Covid-19 pandemic has hit various sectors of working society, mainly education and teaching. The difficulties with women's scientific productivity at the university, which faced the overload of domestic and family work, were accentuated in the home office model. The general objective of the work was to understand how the Coronavirus pandemic - Covid-19 -, impacted the productivity of teachers in graduate programs in the areas of Human Sciences at UFS. The qualitative-quantitative methodology was adopted in the interpretation of quantitative information and qualitative data through observation, participatory interaction, and analysis of the subjects' discourse. We studied the productivity of 72 professors, from ten master's and doctoral programs, with ties to undergraduate degrees in the period from 2019 to 2021. Data were collected in the institutional portal of UFS and in the Lattes Curriculum of CNPq. It was identified that only one program had female production severely impacted by the effects of the pandemic, constituting 10% of the sample, while 40% of the professors managed to maintain a constancy with lower rates. Approximately 20% have resumed growth after a sharp drop and 15% were already showing low productivity before the pandemic. The highlight occurred with 15% of teachers who raised their levels a lot. The result reports the overload of work at home, illness, loss of meaning, isolation, and the vision of production as therapy of disconnection from the reality of fear and death experienced in the world. Given the low quantitative representation of women in some departments and graduate programs, it is necessary to adopt institutional public policies to strengthen the presence of women in teaching, their research and scientific productivity in higher education, as well as monitoring the change of exclusionary behaviors by men who occupy the status quo in the university.

Key-words: university teaching; female scientific productivity; public policies; gender

Introdução

A emergência da pandemia da Covid-19 forçou o fechamento de escolas, universidades, espaços culturais, esportivos e de trabalho. Até mesmo o livre acesso aos parques ao ar livre foi suspenso, dado o impacto da intensidade do contágio e mortandade causados pela doença. Em seu contexto inicial e depois com etapas de prolongamento ou arrefecimento, houve “proibições de viagens, contratação e uso de instalações estão forçando muitos pesquisadores a abandonar toda a temporada de campo, perdendo um ano inteiro de dados insubstituíveis e oportunidades de treinamento em pesquisa” (Inouye et al., 2020).

As pesquisas de Megan Frederickson, ecologista da Universidade de Toronto/Canadá, ao investigar as bases de dados de publicações científicas no período da pandemia de Covid-19, indicaram que em todas as disciplinas a taxa de publicação de mulheres caiu em relação à de homens. Cassidy Sugimoto, cientista da informação da Indiana University Bloomington, em seus estudos sobre as disparidades de gênero na pesquisa em nove servidores de pré-impressão populares, encontrou resultados convergentes ao de Frederickson. De forma semelhante a outros pesquisadores, a ocorrência dessa redução na produtividade feminina nos meios acadêmicos indica não apenas um problema momentâneo, mas um impacto profundo na diversidade e divulgação das pesquisas, além do prejuízo para a formação das futuras gerações de pesquisadores (Viglione, 2020).

A abrangência desta pesquisa compreende como grupos de amostragem os dados advindos de mestrados e doutorados relacionados aos cursos de licenciatura ofertados na Universidade Federal de Sergipe (UFS): História, mestrados acadêmico e profissional; Letras, mestrado/doutorado acadêmico e mestrado profissional; Geografia, mestrado/doutorado acadêmico; Sociologia, mestrado/doutorado acadêmico; Filosofia, mestrado/doutorado acadêmico; Ciência da Religião, mestrado acadêmico; Pedagogia, mestrado/doutorado acadêmico, e Educação Física, mestrado acadêmico. Sob esse aspecto, contabilizam-se oito programas strictu sensu, dez mestrados, oito acadêmicos e dois profissionais, com cinco doutorados.

Como objetivo geral, buscou-se compreender como a pandemia Covid-19 impactou a produtividade das professoras-pesquisadoras nos programas de pós-graduação das áreas de Ciências Humanas na UFS.

O corte cronológico da pesquisa compreende o período de 2019 a 2021, por configurar o ano anterior à pandemia e os dois anos consecutivos de trabalhos em home office por parte das professoras-pesquisadoras. Justifica-se, para efeitos comparativos, a curva de crescimento e declínio dos impactos pandêmicos na produtividade acadêmica feminina. Para nortear a pesquisa proposta, partiu-se do seguinte questionamento: de que forma a pandemia do coronavírus impactou a produtividade das professoras-pesquisadoras nos Programas de Pós-Graduação das áreas de Ciências Humanas na UFS?"

A modalidade de pesquisa adotada nesse projeto foi a quali-quantitativa. Foi realizada a partir de dados secundários das seguintes bases de informações públicas: Plataforma Lattes (CNPq); Plataforma do Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (Sigaa/UFS)3 e sites dos programas de pós-graduação relacionados. Ainda fez uso da Plataforma OrCid e Publons/Web of Science, como ferramentas adicionais de captação de dados e identificação de métricas.

A pesquisa inspirou-se nos dados levantados por Rossana Soletti, professora-pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ao relatar que “editores de revistas científicas de vários países começaram a afirmar que nunca tinham visto uma queda tão brusca na submissão de artigos por mulheres, como está acontecendo agora na pandemia” (Barradas, 2020). Os resultados da pesquisa realizada por ela demonstraram que as mães acadêmicas brancas e acadêmicas negras, independentemente da maternidade, foram os grupos mais atingidos no que diz respeito à produção de artigos e cumprimento de prazos acadêmicos (Stanisçuaski et al. 2020).

Em entrevista para o Centro de Desenvolvimento Tecnológico de Saúde -CDTS/Fiocruz -, Carmen Penido afirmou que, embora o papel social das mulheres esteja sendo amplamente discutido e transformado, é inegável que elas ainda assumem uma parcela maior dos afazeres domésticos do que os homens (Fonseca; Vargas, 2021). De acordo com o Relatório Especial Covid/19 - A autonomia econômica das mulheres na recuperação sustentável e com igualdade, divulgado em 2021, pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, “a pandemia da Covid-19 gerou um retrocesso de mais de uma década nos níveis de participação no mercado de trabalho das mulheres na região” (Cepal, 2021, p. 15).

As taxas de participação das mulheres na força de trabalho na região, mesmo não tendo crescido constantemente ao longo de 2019, demonstram significativa desigualdade em relação aos dados laborais dos homens e, devido aos números de desemprego e informalidade mais altos, ainda existem lacunas evidentes na qualidade dos insumos de trabalho entre os gêneros. Formalmente, menor remuneração e poucas chances de conseguir subir na hierarquia de postos para realizar as mesmas tarefas (Cepal, 2021, p.147).

Conforme Moraes de Castro (2021, p. 16), “a emergência da Covid 19 parece reforçar a estrutura de mais longa duração da história brasileira: a desigualdade social marcada pelos privilégios de classe, raça e gênero”, isto posto que no cenário pandêmico, articulando as dimensões doméstica, científica e maternal, o trabalho feminino mais penalizado foi a produção acadêmica.

Tal situação gera outras consequências danosas à equidade de gênero nas instituições científicas e na própria sociedade, pois, com a redução da produtividade feminina, os programas de pós-graduação aos quais se vinculam podem receber notas menores em suas avaliações quadrienais, fazendo com que as professoras-pesquisadoras corram maior risco de descredenciamento, além de reduzir as chances de manter ou mesmo obter as demandadas e escassas bolsas de produtividade em pesquisa.

Distintamente da pesquisa inspiradora do grupo Parent in Science, por esta proposta possuir um cronograma mais curto, seis meses, não serão evidenciadas as questões de raça e parentalidade, apenas de gênero e curvas de produtividade, para que munidas de dados quantitativos oriundos do levantamento realizado na UFS, se possa mais tarde aprofundar e diversificar as indagações, realizando proposições efetivas para o fortalecimento da pesquisa feita por docentes mulheres na UFS.

Ao buscar quantificar as curvas de produtividade feminina nas pós-graduações em Ciências Humanas da UFS, identificando suas fragilidades dentro de um contexto histórico que pensa o presente e se atêm ao futuro, os dados obtidos devem auxiliar na criação de políticas públicas na UFS para reverter os quadros mais graves e impulsionar a recuperação da produtividade feminina, fortalecendo ainda suas demandas por uma melhor qualidade de saúde mental no espaço de trabalho.

Caracterização dos cursos de pós-graduação em Ciências Humanas da UFS

Em 28 de fevereiro de 1967 foi instituída a Fundação Universidade Federal de Sergipe, conforme o decreto-lei n° 269, e instalada em 15 de maio de 1968. Contando atualmente com quatro centros acadêmicos que coordenam 26 departamentos, 103 cursos e, aproximadamente, 1.150 docentes para atender a 26.898 alunos, a experiência dos cursos de pós-graduação na UFS data de meados dos anos de 1980, quando foi criado um Mestrado em Geografia. Com a chegada da década de 1990, novos projetos foram tomando forma gradativamente, como os Mestrados em Educação (1994) e Desenvolvimento e Meio Ambiente (1995). Em 2006, a Universidade Federal de Sergipe contava com oito programas de pós-graduação (UFS, 2016, p. 5). Atualmente, a instituição gerencia 63 programas de pós-graduação em diversos campos de conhecimento.

O mais antigo na instituição data de 1985, o Programa de Pós-Graduação em Geografia, conceito 4 na Capes, em 2015 alterou sua área de concentração para “Produção do Espaço Agrário e Dinâmicas Territoriais”, com as seguintes linhas de pesquisa: Produção do espaço agrário, Dinâmicas territoriais e desenvolvimento e Dinâmica ambiental. O curso assume como missão a formação de recursos humanos com excelência de qualidade para o mercado de trabalho da docência e técnico nas instituições e empresas que demandam o conhecimento do profissional da Geografia.

Dentre os cursos mais antigos da instituição está a Pós-Graduação em Sociologia, criada como Mestrado em Ciências Sociais em 1987, sendo reformulada em 2002. A boa avaliação do desempenho do curso tornou possível a criação do Doutorado em Sociologia em 2008. Atualmente, o curso é conceito 5 na avaliação da Capes e possui cinco linhas de pesquisas: Cidades, patrimônio e turismo; Sociologia da economia, do desenvolvimento e da técnica: Itinerários intelectuais, profissão e mercado de trabalho, instituições, Movimentos sociais e políticas públicas, Minorias sociais: diferenças, desigualdades e conflitos sociais.

O Programa de Pós-Graduação em Educação, conceito 5 na Capes, está no rol das qualificações strictu sensu mais antigas da UFS. Ofertando os cursos de Mestrado e Doutorado em Educação, disponibiliza possibilidade de pesquisas em cinco linhas: Educação, cultura e diversidade; Formação e prática docente; Sociedade, subjetividades e pensamento educacional; Tecnologias, linguagens e educação e História da Educação.

O Programa de Pós-Graduação em Letras, conceito 4 na Capes, com Mestrado criado em 2008 e doutorado posterior, busca formar e qualificar profissionais para o desenvolvimento de práticas de pesquisa investigativa e reflexiva no campo das ciências da linguagem, em abordagens inovadoras e com impacto na realidade local, nacional e internacional nos campos dos estudos linguísticos e literários. Possui duas áreas de concentração com suas respectivas linhas de pesquisa: Estudos Linguísticos: Linguagem, usos e tecnologias, Linguística Aplicada, Estudos do discurso, identidades e relações de poder; e Estudos Literários: Criação e processos literários; Literatura comparada.

O Programa de Pós-Graduação em História, aprovado durante a 132ª Reunião do Conselho Técnico Consultivo de Educação Superior da Capes, em dezembro de 2011, tendo sua primeira turma de Mestrado acadêmico iniciada no ano de 2012, obteve conceito 4 da Capes na avaliação quadrienal de 2022. Possui área de concentração em “Cultura e Sociedade”, com linhas de pesquisa em Cultura, memória e identidade e Relações sociais e poder.

Criado em 2012, o Programa de Pós-Graduação em Educação Física tem por objetivos de seu Mestrado: desenvolver conhecimento na Educação Física relacionado às especificidades associadas a atividade física, saúde e o esporte; desenvolver estudos que associem a qualidade de vida, a educação em saúde, a formação esportiva e o rendimento nos diversos espaços de atuação da área; contribuir na produção de conhecimentos acadêmico-científicos relacionados à Educação Física mediante desenvolvimento de pesquisas e estudos que contribuam para a evolução do conhecimento na área de educação física. Avaliado com conceito 4 na Capes, em 2022, tem como área de concentração “Atividade Física, Saúde e Esporte”, inclui três linhas de pesquisa: Linha A - Atividade física relacionada à saúde e qualidade de vida; Linha B - Fatores determinantes da prática e do rendimento esportivo e Linha C - Adaptações morfofuncionais do exercício físico.

Também criado como Mestrado em 2012, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia, conceito 4 na Capes, já possui um Doutorado e disponibiliza como área de concentração “História da Filosofia Moderna e Contemporânea” e as linhas de pesquisa em Filosofia da História e Modernidade e Conhecimento e Linguagem. O perfil do Mestre e o do Doutor em filosofia reúnem habilidades de investigação em sua área de especificidade, mas também compreensão do papel de sua pesquisa no amplo e multifacetado universo da filosofia. Esse profissional deve estar preparado também para exercer atividades de ensino em instituições de ensino superior, tendo como padrão a clareza, o rigor e a excelência dos saberes ensinados.

O Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião é uma associação de pesquisa e formação especializada em Ciências da Religião, institucionalizada no âmbito da Capes e da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação em Ciências da Religião - ANPTECRE -, envolvendo pesquisadores com o intuito de promover ensino, pesquisa e extensão científica em seu contexto e em diálogo com a comunidade científica nacional e internacional. Criado em 2014, oferta o Mestrado com conceito 3 na Capes. Mantêm como área de concentração “Ciências da Religião”, subdividida em duas linhas de pesquisa: Campo Religioso Brasileiro, em processo de reformulação para Ciências Empíricas e Aplicadas da Religião, e Fundamentos e Crítica das Ideias Religiosas, em processo de reformulação para Religião, Conhecimento e Linguagens.

O ProfLetras é um programa de Mestrado Profissional em Letras em rede, financiado pela Capes, constituído atualmente por 49 unidades acadêmicas em instituições associadas, cuja coordenação nacional está a cargo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Conceito 4 na Capes, o Núcleo do ProfLetras da UFS foi instituído em 2013 e desde então oferta como área de concentração “Linguagens e Letramento” e suas quatro linhas de pesquisa: Estudos da Linguagem e Práticas Sociais; Estudos Literários; Leitura e Produção Textual: Diversidade Social e Práticas Docentes; Teorias da Linguagem e Ensino.

O ProfHistória é um curso presencial, com oferta nacional, conduzindo ao título de mestre em Ensino de História, coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e integrado por comissões acadêmicas locais vinculadas a uma ou mais instituições de ensino superior. Na UFS, o ProfHistória abriu sua primeira turma em 2016 e desde então tem como área de concentração Ensino de História e três linhas de pesquisa: Saberes históricos no espaço escolar; Linguagens e narrativas históricas: produção e difusão e Saberes históricos em diferentes espaços de memória. Obteve conceito 5 na avaliação quadrienal da Capes em 2022 e tem como objetivo proporcionar uma formação continuada que contribua para a melhoria da qualidade do exercício da docência em História na Educação Básica.

Em setembro de 2020, o World University Rankings 2021 divulgou a classificação da UFS entre as 8 melhores universidades do Brasil, sendo considerada a melhor da região Nordeste. Antes, em julho do mesmo ano, o Latin America University Rankings 2020 já havia relacionado a UFS como a 1ª do Brasil e 9ª geral no quesito citações, estando nos demais critérios na 62ª posição, à frente ou perto de outras grandes universidades da região, como a Universidade Autônoma do Chile (61º), a Universidade Federal do Pará (64º), a Universidade Autônoma do Estado do México (67º) e a Universidade Federal de Juiz de Fora (70º) (UFS, 2020).

A produção científica geral da UFS vem sendo apresentada à comunidade pela divulgação públicas de relatórios anuais de desempenho postados no site da instituição.

Fonte: UFS (2021)

Figura 1 Quantitativo de produtividade geral da UFS (2020). 

A figura 1 deixa evidente uma propensão muito maior da UFS na produção bibliográfica caracterizada por artigos, trabalhos completos, resumos e similares em eventos. Há um destaque nessa parte de socialização dos resultados das pesquisas junto à comunidade acadêmica que reverbera no aumento dos índices de citações dos pesquisadores. Os papers que comunicam grande parte das pesquisas são resultado do desenvolvimento de projetos de Iniciação Científica e Tecnológica, mas fundamentalmente, das experiências formativas associadas aos laboratórios e programas de pós-graduação.

Os dados divulgados pela UFS em 2021 sobre os programas de pós-graduação, com base em seu relatório informativo demonstram a procura da comunidade por sua qualificação refletido no montante de alunos matriculados, embora a oferta de bolsas Capes ainda seja proporcionalmente pequena.

Tabela 1 Quantitativo de alunos matriculados e bolsistas Capes (2021). 

Programa de pós-graduação Alunos matriculados Bolsistas Capes
PROHIS 52 M 6 M
PROFHIST 39 M 12 M
PPGL 54 M/ 78 D 12 M/ 6 D
PROFLET 35 M 10 M
PPGEO 42 M/ 57 D 14 M/ 17 D
PPGS 25 M/ 62 D 14 M/ 20 D
PPGF 38 M / 50 D 7 M/ 6 D
PPGEF 50 M 8 M
PPGED 40 M/ 100 D 15 M/ 18 D
PPGCR 27 M 6 M

Fonte: adaptado de UFS (2021). (M = Mestrado/ D = Doutorado)

Em termos globais, a UFS tem se destacado na região Nordeste e no plano nacional e internacional nos últimos anos, seguindo como a primeira do Nordeste no ranking 2023 no World Ranking University, da Times Higher Education, apresentando melhora em três dos cinco critérios avaliados - ensino, pesquisa, transferência de conhecimento para a indústria e perspectiva internacional -, e figurando como sexta do Brasil.

Fonte: https://encurtador.com.br/ktGPY, acesso em: 15/12/2022

Figura 2 Indicadores Times High Education. 

Para estar entre as citações de referência é preciso que pesquisadores encontrem tempo, infraestrutura e financiamento de pesquisas, bem como um ambiente propício de trabalho coletivo, uma vez que a competitividade, normalmente, deve ocorrer entre instituições distintas e não entre membros da mesma instituição, departamento e programa strictu sensu, pois isso seria predatório para a mesma e enfraqueceria o potencial institucional que deve ter sua base na coletividade que a congrega. Uma instituição que apoia igualmente todos os seus programas de pós-graduação e pesquisadores que neles atuam, sem distinguir áreas prioritárias, gera maior identificação de todos com seu ofício.

Publicações em língua estrangeira, principalmente em inglês, têm a capacidade de circular por mais pesquisadores e instituições internacionais e com isso se tornarem um conhecimento de referência científica. Mas para isso é necessário um suporte financeiro no custeio de traduções e pagamento de taxas de edição de revistas internacionais.

Na área das Ciências Humanas há uma discrepância significativa em relação à produtividade de artigos em revistas científicas, sendo os internacionais - poucos em relação ao quantitativo de publicações nas áreas das Biociências e Exatas -, muito mais uma busca individualizada e custeada na maioria das vezes com recursos pessoais dos pesquisadores. Isso justifica-se pela escassez de editais de fomento internos e externos para as áreas das Humanidades. Mesmo os financiamentos de entidades privadas como empresas e comércio, com raras exceções, não demonstram interesse em pesquisas que emanem de bacharelados e licenciaturas nas áreas das ciências puras das Humanidades.

Todavia, o foco da questão do quantitativo por gênero na pós-graduação e seus respectivos departamentos de origem pode descortinar caminhos de enfrentamento de uma realidade forçosamente excludente das mulheres na docência superior. Sob esse aspecto, a parte referente a representatividade de mulheres nos programas segue disposta na tabela abaixo:

Tabela 2 Quantitativo de docentes mulheres e homens nos programas de pós-graduação/UFS. 

Programas de Pós-Graduação Mulheres Homens Total
História (PROHIS) 05 13 18
Ensino de História (PROFHISTÓRIA) 04 08 12
Letras (PPGL) 14 17 31
Letras (PROFLETRAS) 08 02 10
Geografia (PPGEO) 11 05 16
Sociologia (PPGS) 05 10 15
Filosofia (PPGF) 02 22 24
Ciência da Religião (PPGCR) 02 10 12
Educação (PPGED) 20 17 37
Educação Física (PPGEF) 01 16 17

Fonte: adaptada de dados do Sigaa/UFS (2022).

Somente os programas de Ensino de História (ProfHistória) e de Sociologia (PPGS) apresentam um quantitativo equilibrado de 50% de docentes mulheres e homens. Já Letras (PPGL) e ProfLetras, Geografia (PPGEO) e Educação (PPGED) subvertem a lógica, apresentando números muito superiores de integração feminina. Por outro lado, os programas de História (PROHIS), Filosofia (PPGF), Ciência da Religião (PPGCR) e Educação Física (PPGEF) possuem menor inserção feminina em seus quadros e no caso de História, o número reduz para 2 se considerarmos apenas as professoras do quadro permanente.

Quando comparamos esses dados do quantitativo de mulheres e homens nas referidas pós-graduações da UFS com os dados das graduações vinculadas a esses programas, torna-se mais compreensível o entendimento da participação feminina em maior ou menor grau na instituição.

Tabela 3 Quantitativo de docentes mulheres e homens nos Departamentos/UFS. 

Graduação/Departamento Mulheres Homens Total
DHI 5 16 21
DLEV 15 9 24
DGE 15 10 25
DCS 9 13 22
DFL 01 18 19
NCR1 00 04 04
DED 22 10 32
DEF 03 24 27

Fonte: adaptada de dados no Sigaa/UFS (2022).

A tabela 4 revela a desigualdade de gênero entre mulheres e homens na docência dos departamentos de História, Filosofia e Educação Física, sendo este último o que apresenta maior desproporção. O Núcleo de Ciências da Religião só possui quatro professores efetivos, devido a ausência de destinação de códigos de vagas ao curso para completar dez docentes e se tornar um departamento, por isso, a complementação do quadro de professores é feita de forma voluntária por docentes de outros departamentos - Museologia, Filosofia, Ciências Sociais, Biblioteconomia etc. -, em sua maioria homens, mas não registrados no Sigaa da instituição. Os departamentos com maior equilíbrio entre docentes mulheres e homens é o de Ciências Sociais. Os departamentos com maioria de docentes mulheres são: Letras Vernáculas, Geografia e Educação.

Deve-se salientar ainda que no caso das pós-graduações acadêmica e profissional em Letras, estas recebem ainda professores dos departamentos de Línguas Estrangeiras - Línguas Inglesa, Espanhola e Francesa. Já o Mestrado Profissional em Ensino de História conta com professores lotados nos departamentos de Educação (5), História (3), Relações Internacionais (1), área multidisciplinar no campus Sertão (1) e Colégio de Aplicação - CODAP/UFS (2), todos graduados em História. A pós-graduação em Ciências da Religião também recebe professores de distintos departamentos: Ciências Sociais, Filosofia, Educação, além de professores substitutos para o NCR.

Apesar de alguns dos departamentos listados na tabela manterem cursos de bacharelado, todos realizam a oferta de licenciaturas, pois a depender do campo de conhecimento, há um mercado de trabalho mais amplo de concursos e contratos para o magistério na Educação Básica, nas redes pública e privada, do que para o exercício da pesquisa ou trabalho técnico em outras instituições públicas ou privadas.

De todo modo, a baixa representatividade de mulheres docentes em História, Filosofia e Educação Física é preocupante, pois os quantitativos de matrículas, aprovações em pós-graduações e conclusões de cursos evidenciam um volume maior de mulheres estudantes. Nos concursos públicos há um espelhamento dessa realidade nas inscrições, porém, a academia continua sendo um espaço que forma, mas não emprega suas egressas de forma equânime.

Em 2015 os relatórios estatísticos do MEC indicavam que havia 175.419 mulheres matriculadas e tituladas em cursos de mestrado e doutorado, enquanto os homens somavam 150.236, uma diferença de aproximadamente 15% (Brasil, 2017).

Quatro anos depois, números semelhantes foram identificados na planilha de fomento à pesquisa destinado pelo MEC aos estudantes, informando que “as brasileiras representam 60% do total de beneficiários das bolsas pagas atualmente pela Capes na pós-graduação e nos programas de formação de professores” (Brasil, 2019).

Ao não incorporar um equilíbrio de gêneros nas docências das graduações, normalmente a porta de entrada para a docência nos mestrados e doutorados, a universidade mantém as desigualdades também nas formações de alta qualificação. Mais alunas e menos professoras nos programas strictu sensu, apresentando uma equação excludente e pouco motivadora para a continuidade na carreira acadêmica.

A correlação entre a presença de mulheres nos departamentos e pós-graduações da UFS pode ser observada na figura 4:

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 3  Gráfico correlação entre docentes mulheres nos departamentos e pós-graduações da UFS. 

Segundo Marques (2015) “a busca de igualdade de gênero no ambiente acadêmico, além de sua relevância no contexto dos direitos civis, é importante para dinamizar a universidade”. É necessário que a UFS dialogue mais com sua comunidade acadêmica feminina para entender o impacto de seu alcance reduzido à sala de aula como professoras efetivas, mesmo possuindo altas qualificações e produtividade, para que um ambiente de equidade e democracia sejam mais do que palavras de retórica.

A curva da produtividade feminina das docentes dos programas de pós-graduação da UFS durante a pandemia de Covid-19

No corpus da amostra foram pesquisadas as produções de 72 docentes, com idade entre 32 e 60 anos, em sua maioria brancas e oriundas do Sudeste ou Sul do país. Metade apresenta quadro familiar com filhos pequenos e outra metade se divide entre solteiras, divorciadas e viúvas sem filhos ou com filhos já adultos. Grande parte tem experiência internacional, com pós-graduação completa ou pesquisa sanduíche no exterior.

A partir das informações levantadas nos portais das pós-graduações acondicionados no Sigaa/UFS e do levantamento dos dados de produtividade nos respectivos Currículos Lattes e OrCid, pode-se fazer alguns apontamentos técnicos preocupantes: 1) falta de atualização e inserção dos links de direcionamento ao Lattes de vários professores; 2) links de Lattes dos professores defeituosos que conduzem a páginas de erro; 3) ausência de informação dos professores colaboradores estrangeiros incorporados ao corpo docente e na ausência de Lattes, um link para outro portal de cadastro de produções daqueles - caso referente a uma professora de uma universidade portuguesa em um dos programas; 4) layout das áreas dos programas pouco atrativo na homepage institucional, com perfil burocrático e sem informações que conduzam as produções acadêmicas mais relevantes de docentes e discentes orientados por aqueles.

Com relação a produtividade das docentes durante o período pré e pandêmico da Covid-19, foram identificadas as seguintes situações na coleta de dados feita junto ao Currículo Lattes: 1) uma parte considerável possui baixa produtividade no geral e algumas não apresentam nenhuma produção durante o período estudado. Nesses casos, ao verificar períodos anteriores, há ausência de produção em algumas desde 2012 ou 2014; 2) algumas não atualizam seu Currículo Lattes e há um caso específico de uma professora que não o faz desde 2021 e outras que atualizaram pela última vez entre maio e julho de 2022; 3) há preenchimentos errados em alguns dos currículos como trabalhos duplicados, o que induz à maior quantidade de produção, bem como trabalhos inseridos em categorias erradas; 4) muitas produções bibliográficas - artigos, livros, capítulos de livros, trabalhos e resumos de eventos - de algumas docentes apresentam endogenia, ou seja, são produções locais sem alcance externo, principalmente em revistas e com publicações sucessivas; 5) há, de modo geral, um desequilíbrio na produtividade ao longo dos três anos de algumas docentes, com excessiva produção, queda acentuada e novamente produção excessiva; 6) há um número grande de docentes sem nenhuma produção bibliográfica que não sejam poucos resumos ao longo dos três anos; 7) a quantidade de docentes com publicações internacionais é muito reduzida. Algumas não possuem nenhum grau de internacionalização; 8) há um quantitativo reduzido de produções técnicas, valoradas como requisito pela Capes de 30% para programas acadêmicos e 50% em programas profissionais; 9) há várias docentes que atuam em programas com Mestrado e Doutorado sem nenhuma orientação de Pibic nos três anos estudados. Outras sequer tiveram orientações de Pibic, Pibiti ou Pibix; 10) o número de registros de propriedade intelectual - patentes, softwares, marcas, direitos autorais - é ínfimo; 11) há docentes sem orientações de dissertação ou teses concluídas nos três anos; 12) de modo geral, há um número baixo de projetos de extensão coordenados pelas docentes; 13) há casos em que docentes colaboradoras apresentam maior produção que as permanentes e outros em que uma docente visitante não tem quase nenhuma produção ao longo dos três anos.

O programa acadêmico em História já possuía baixa produtividade feminina em 2019, mas conseguiu aumentá-la nos dois anos seguintes, mesmo que em 2021 tenha tido queda. Contudo, esse desempenho de retomada coube a apenas uma professora, cuja produtividade maior em 2020 elevou o quantitativo geral. Já o programa profissional em Ensino de História apresentou subida elevada de produção, com destaque para duas professoras com maior produção, mas com certo equilíbrio das demais. O quadro comparativo entre a produtividade bibliográfica das docentes mulheres dos dois programas em História no cruzamento de dados apresenta a seguinte quantificação.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 5 Gráfico comparativo dos programas de pós-graduação em História/UFS. 

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 6 Gráfico comparativo dos programas de pós-graduação em Letras/UFS. 

Os dados mostram uma discrepância na produção dos dois programas, salientando-se que no ProfLetras há duas professoras que elevam a produtividade com seus índices pessoais, assim como outras duas que participam de ambos os programas e possuem produção quase nula promovem o decréscimo dos programas. Mesmo assim, houve um processo de elevação constante no profissional em Letras e uma queda no acadêmico, que ainda assim manteve altos índices de produtividade feminina centrada em menos da metade do quantitativo. O quadro comparativo entre a produtividade bibliográfica das docentes mulheres dos oito programas acadêmicos no cruzamento de dados apresenta a seguinte quantificação.

Fonte: dados da pesquisa (2022)

Figura 7 Gráfico comparativo dos programas de pós-graduação Acadêmicos/UFS 

O programa de Educação demonstra o melhor desempenho, apesar de uma queda acentuada em 2020, mas sua curva de produtividade volta a subir em 2021. Já o programa de Letras, embora no cômputo geral possua um desempenho na produtividade feminina que o coloque em 2º lugar, há uma elevação em 2020 e uma queda em 2021. Já a produção das docentes mulheres do Mestrado/Doutorado em Geografia, embora inicie com bons índices, demonstra decréscimo em 2020 e 2021. Os demais programas estão em um patamar semelhante, com baixa produtividade e certa estabilidade, com destaque para Sociologia e Educação Física que iniciam um percurso de crescimento, mesmo com baixos níveis de produção comparados aos demais. Os índices comparativos entre a produtividade bibliográfica feminina dos dois programas profissionais no cruzamento de dados apresenta a seguinte quantificação.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 8 Gráfico comparativo das pós-graduações profissionais/UFS. 

Dos dois mestrados profissionais, embora o Mestrado em Letras se inicie com maior produtividade em 2019, é ultrapassado pelo Mestrado em Ensino de História, que se mantêm em crescimento em 2021. Letras também permanece em crescimento em 2021, mas com menor repercussão, porém superando seus próprios índices de 2019 e 2020.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 9 Gráfico compativo das produções docentes femininas dos programas acadêmicos e profissionais/UFS 

No geral, é possível identificar produções discrepantes dos números 1 a 31, de 4 a 24, que representam a quantidade de artigos, livros ou capítulos de livros, trabalhos completos e resumos em eventos. Há um maior número de níves de produtividade entre 4 e 6. Sobressaem-se aquelas que chegam nos dois dígitos, entre 11 e 31.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 10  Gráfico comparativo com maior produtividade feminina anual. 

O ano de 2019 foi o melhor ano para os níveis de produtividade individual feminino no programa em Educação, ampliando essa margem em 2021. Só foram superados pela produção de 2020 pertencente a docentes femininas do programa profissional em Ensino de História.

Num percurso destoante do Mestrado profissional em Ensino de História, o Mestrado acadêmico em História, mesmo crescendo em 2020, apresenta índices muito baixos de produção feminina, só conseguindo se sobrepor ao programa acadêmico em Letras, cujo desempenho consegue desaparecer em 2021. O programa profissional em Letras mantém um desempenho baixo, mas acima da curva de queda dos outros dois. Vale ressaltar que o programa acadêmico de Letras possui duas das mais altas produções individuais, bem como duas das mais baixas, o que leva a essa inconstância.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 11 Gráfico comparativo com menor produtividade feminina anual. 

Sobre um possível impacto da pandemia de Covid-19 na produtividade das docentes mulheres nos Programas, os dados demonstram que a produção feminina nos programas ProfHistória, ProfLetras, PPGS, PPGEF e PPGED manteve crescimento ao longo dos três anos pesquisados em razão de docentes individuais que subiram a média geral.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 12 Gráfico comparativo de crescimento na produtividade feminina/UFS. 

O programa de Mestrado e Doutorado em Geografia, mesmo no quantitativo da produção feminina geral, foi o único programa que apesar de iniciar 2019 com uma alta produção, apresentou queda significativa nos dois anos seguintes.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 13  Gráfico de decréscimo da produtividade anual/PPGEO. 

Os programas acadêmicos em História e Ciências da Religião, apesar da baixa produtividade feminina, demonstraram crescimento em 2020, com uma pequena queda em 2021, mantendo constância. Já o programa de Mestrado/Doutorado em Letras, com alta produtividade feminina, elevou seus índices em 2020 e caiu em 2021, mas ainda se mantendo um ponto acima de seu número inicial em 2019.

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 14 Gráfico comparativo de subida e queda da produtividade feminina. 

Fonte: dados da pesquisa (2022

Figura 15  Gráfico de queda e estabilização da produtividade feminina anual. 

O programa de Mestrado/Doutorado em Filosofia inciou com uma produtividade feminina baixa em 2019, caindo um ponto em 2020 e se mantendo estável em 2021.

Os dados levantados demonstram que somente um programa realmente teve a produção feminina duramente impactada pelos efeitos da pandemia - PPGEO -, enquanto uma parte conseguiu administrar a queda e manter uma constância em razão da produtividade individual de algumas docentes responsáveis por segurar os índices. A maioria, entretanto, manteve o crescimento, mesmo que reduzido, com destaque para aquelas que subiram seus níveis de modo excepcional.

Na busca por um melhor entendimento desses resultados quantitativos, houve algumas conversas informais com as docentes e os relatos de maior sofrimento durante a pandemia e o período de isolamento social foi uma constante. O medo da morte, a distância da família (a maioria em outros estados), o adoecimento, a perda de familiares, a falta de horizontes claros, a ausência de sentido em continuar produzindo, o aumento do trabalho doméstico com a dispensa de auxiliares, a responsabilidade do cuidado dos filhos pequenos sem o turno escolar, a divisão desigual dos trabalhos com a casa e os filhos entre as mulheres e seus conjuges, são relatos presentes em quase todas as falas.

Por outro lado, outras se isolaram em casa e investiram na elaboração de artigos, capítulos de livros e livros, participaram de eventos online e realizaram lives em redes sociais. Mas também é evidente a sobrecarga de produtividade acadêmica sobre algumas docentes, enquanto outras produzem apenas o mínimo ou nem alcançam essa meta. Sob esse aspecto, nas conversas informais com as docentes foi possível levantar ‘frustrações’, ‘desejo de mudar de instituição’, ‘sonho de deixar o país e ir para uma universidade internacional’, ‘vontade de parar de produzir’, ‘aumento de rivalidades com professoras menos produtivas’, ‘falta de infraestrutura institucional para concorrência à bolsa de produtividade do CNPq’, ‘sentimento de solidão’ e ‘angústia por estarem deixando de viver socialmente em troca de uma produção científica compromissada’.

Pedrosa (2018), destacou que a questão de gênero recebe cada vez mais importância em termos globais, sendo inclusa em todos os itens da agenda da ONU para o desenvolvimento sustentável. De acordo com ele,

a questão de gênero hoje se tornou muito mais complexa do que a declaração de sexo, que ainda vigora institucionalmente, e temos visto a sua gradativa inclusão como critério qualificador de políticas nas ciências, inclusive por agências de fomento. Nos conselhos nacionais europeus, a participação de gênero já aparece na análise de projetos de pesquisa - e muitas vezes se pede explicações em caso de não participação feminina. (Pedrosa apudSugimoto, 2018)

É necessário assumir a maior representatividade feminina na docência universitária como um projeto de ação e mudança, instituindo políticas contra a segregação feminina e o maior valor subjetivo dado aos candidatos homens, em bancas de concurso majoritariamente compostas por homens. Deve-se conscientizar de que “a sub-representatividade feminina, principalmente em áreas de grande prestígio, não pode ser considerada uma seleção natural que ocorre entre homens e mulheres” (Barros; Mourão, 2018, p. 6).

Considerações finais

O que se percebeu na análise dos currículos é a existência de uma tendência das docentes mulheres com alta produtividade a se manterem na constância de suas atividades. Por outro lado, há muitas docentes cuja baixa produtividade é também uma constante, independente dos efeitos da pandemia. Por fim, existem aquelas que tem elevado sua produção, ainda que em rítimo mais lento.

Seria importante aos programas e a instituição, em seus setores responsáveis pela pós-graduação e pesquisa, realizar reuniões com esse coletivo feminino, buscando entender suas expectativas em relação aos programas, a razão da baixa contribuição, principalmente aquelas que possuiam esse perfil desde antes da pandemia, ouvindo suas demandas sobre ações de suporte a elevação de sua produtividade.

É fundamental discernir se a presença na pós-graduação, por parte de algumas docentes menos produtivas, se mantêm apenas para uma redução de carga horária na graduação, mas afetando negativamente o programa, uma vez que nos casos de ausência completa de produtividade ou produção muito baixa não se agrega valor ao programa, não exerce a prática da pesquisa e sua divulgação para a sociedade extramuros. Para esses casos, se houver resistência à mudança, talvez a sugestão de uma migração dessas docentes para cursos de especialização seja mais adequada.

Por isso, a necessidade de sessões de orientação para correção dos currículos na Plataforma Lattes e supervisão para atualizações bimestrais ou semestrais. Uma maior cobrança, acompanhada de infraestrutura - financiamento, laboratórios, bolsas -, para o desenvolvimento de mais pesquisas/tecnologias com Pibic e Pibiti pode resultar no aumento da produtividade docente feminina. Muitas migraram para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e Residência Pedagógica (RP) por receberem bolsas individuais para a supervisão dos alunos bolsistas nas escolas, o que não ocorre nas iniciações científicas e tecnológicas. Nesse caso, a oferta de mais editais com linhas de financiamento das pesquisas - cobrindo custos com traduções e taxas em revistas internacionais ou aquisição de materiais - pode motivar as docentes em questão.

A instituição poderia ainda fazer parcerias com outras instituições, ou programas semelhantes, para compartilhar permuta de dossiês nas revistas, reduzindo os números da endogenia e reforçando intercâmbios interinstitucionais entre as docentes e suas pesquisas. Fortalecendo também o compartilhamento de experiências e reduzindo a solidão acadêmica muito salientada.

Um maior reconhecimento público das docentes com alta produtividade, com a concessão de honrarias ou premiações com viagens internacionais para visitas-técnicas em outras instituições de pequisa, matérias de divulgação de seus trabalhos na homepage institucional, enfim, ações que valorizem e deem visibilidade ao compromisso assumido por estas pesquisadoras para retê-las na instituição.

Temos um quadro de docentes mulheres que formam profissionais e pesquisadores nas licenciaturas, por isso ao estimular e fortalecer as docentes, consequentemente pode-se ampliar o potencial de novas pesquisadoras e seu retorno à academia como docentes. Para isso, é necessário equilibrar o quantitativo de homens e mulheres nos departamentos, e, consequentemente, nas pós-graduações.

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1 O NCR é um Núcleo, porque não possui ainda 10 professores efetivos.

2Agradecimentos à bolsista Pibic Leticia dos Santos Souza - DLES/UFS - e à Coordenação de Pesquisa-Copes/Posgrap-UFS. O trabalho foi realizado no âmbito do edital temático n. 09/2022 Copes/Posgrap/UFS (01/07/2022 a 31/12/2022).

3O Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas - Sigaa -, foi criado pela Superintendência de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Norte com base numa plataforma web, com a finalidade de interligar todos os sistemas institucionais até então isolados e distintos da universidade. Começou a ser utilizado por diversas universidades federais brasileiras desde 2009, como exemplo a Universidade Federal do Sergipe, Universidade Federal do Maranhão e Universidade Federal do Piauí e atualmente também é usado por institutos federais de educação no país (Mallmann, 2019, p. 2).

Recebido: 20 de Dezembro de 2022; Aceito: 14 de Abril de 2023

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