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Educação & Formação

versión On-line ISSN 2448-3583

Educ. Form. vol.8  Fortaleza  2023  Epub 06-Abr-2024

https://doi.org/10.25053/redufor.v8.e11239 

Artigos

Escrevivências em conexão com a Educação Básica: memórias, saberes e fazeres sociológicos

Escrevivencias en torno a la Educación Básica: memorias, saberes y prácticas sociológicas

Lígia Wilhelms Eras

Pós-Doutora em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (PPGSOC/UEL, 2022). Doutora em Sociologia pelo Programa de Pós- -Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR, 2014). Docente de Sociologia do IFSC/Campus Xanxerê. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Metodologias e Práticas Pedagógicas.

, Responsável pela conceituação, coleta e análise dos dados, redação.1 
http://orcid.org/0000-0001-5345-5293; lattes: 5690735560510431

Ângela Maria de Sousa Lima

Pós-Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Docente da Graduação em Ciências Sociais do Mestrado Profissional de Sociologia (ProfSocio) da UEL e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGSOC) da UEL.

, Revisão textual e orientação da pesquisa.2 
http://orcid.org/0000-0003-3933-4086; lattes: 8915783215325357

1Instituto Federal de Santa Catarina, Xanxerê, SC, Brasil

2Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil


Resumo

A contribuição deste artigo centra-se na análise das conexões temáticas do perfil de participantes e suas escrevivências em atividade extensionista, em uma das ações desenvolvidas do estágio de pós-doutorado do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina. O mote do curso de extensão e experimento interligou três momentos formativos: a) estudo de livros coletâneas sobre Ensino de Ciências Sociais/Sociologia na Educação Básica; b) oficinas de produção de escrita em formato de escrevivências; c) diálogo com as vivências de extensionistas como ferramenta reflexiva e de análise sociológica na visibilidade dessa escrita e práticas de formação/ensino em realidades plurais. Os dados foram coletados com o uso de formulário on-line, produzidos a partir do Google Forms e aplicados durante os encontros síncronos e assíncronos do curso, cujas análises quantitativa e qualitativa dos dados foram elaboradas a partir das categorias/conexões temáticas com a Educação Básica, Sociologia escolar e a divulgação científica.

Palavras-chave escrevivências; memórias; saberes sociológicos; divulgação científica.

Resumen

La contribución de este artículo es el análisis de las conexiones temáticas del perfil de los participantes y sus escrevivencias en las actividades de extensión, una de las acciones desarrolladas durante la pasantía posdoctoral del Programa de Posgrado en Sociología en la Universidad Estadual de Londrina. La temática del curso de extensión y experimentación vinculó tres momentos formativos: a) estudio de los libros de las colecciones sobre Enseñanza de las Ciencias Sociales/Sociología en la Educación Básica; b) talleres de producción de escritura creativa en formato escrito; c) utilización de las experiencias de los extensionistas como herramienta de análisis reflexivo y sociológico en la visibilización de esta escritura y prácticas formativas/docentes en realidades plurales. Los datos fueron recolectados a través de un formulario en línea producido a partir de Google Forms y aplicado durante los encuentros sincrónicos y asincrónicos del curso, cuyo análisis cuantitativo y cualitativo de los datos fueron elaborados de las categorías temáticas/conexiones con la Educación Básica, Sociología escolar y divulgación científica.

Palabras clave escrevivencias; memorias; conocimiento sociológico; divulgación científica.

Abstract

The contribution of this article is the analysis of thematic connections of the participants' profile and their writings [writing-living] in extension activities, one of the actions developed during the postdoctoral internship of the Postgraduate Program in Sociology at the State University of Londrina. The theme of the extension course and experiment linked three formative moments: a) study of the collections books on Teaching Social Sciences/Sociology in Basic Education; b) creative writing production workshops in writing experiences of life format; c) use of the extension workers' experiences as a reflective and sociological analysis tool in the visibility of this writing and training/teaching practices in plural realities. Data were collected using an online form produced from Google Forms and applied during the synchronous and asynchronous meetings of the course, whose quantitative and qualitative analysis of the data were elaborated from the thematic categories/connections with basic education, Sociology School and scientific dissemination.

Keywords: writings; memories; sociological knowledge; scientific dissemination.

1 Introdução e contextualização

A problemática deste artigo reside na importância dos sentidos manifestos através da escrita como ferramenta reflexiva sobre as experiências/escrevivências de atuação docente e a formação de licenciandos/as em Ensino de Sociologia. A atividade que permitiu o desenvolvimento desta pesquisa foi o experimento realizado a partir do curso de extensão on-line “Produzindo coletâneas sobre Ensino de Sociologia: escrevivências com profissionais da educação”, como uma das ações elaboradas durante o estágio de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no período de maio de 2021 a abril de 2022.

O experimento foi envolto em inúmeras circunstâncias, novas e diferenciadas: a) as atividades não presenciais, devido ao momento pandêmico e ao uso da mediação de tecnologias digitais e informacionais de comunicação - o Google Meet, o Classroom e o WhatsApp; b) um perfil pluralizado de participantes provenientes de diferentes instituições, titulações, formações de todas as regiões do país; c) a construção de uma escrita grupal-colaborativa de artigos e/ou relatos de experiências; d) as escrevivências como metodologia de abordagem das experiências em uma perspectiva sociológica decolonial e interseccional.

O curso teve diferentes momentos de encontros, síncronos e assíncronos, num formato “quatro em um” de trabalho: I) a formação de livros coletâneas sobre Ensino de Sociologia (Eras, 2014); II) um laboratório de escrita no formato de escrevivências; III) a orientação e assessoria na produção dos textos em grupos; IV) a produção final de capítulos para um e-book coletânea por participantes extensionistas, ou seja, o curso iniciou-se e finalizou-se com a ideia de compreender, dialogar e constituir livro coletânea. O trabalho com obras coletâneas se justificou pela diversidade de potenciais em sua utilização, tanto para a criação de práticas de ensino quanto para o desenvolvimento de novas perspectivas de pesquisas ligadas ao subcampo do Ensino de Sociologia, especialmente na Educação Básica e na formação docente em Sociologia. Na prática extensionista em destaque, o estudo e a divulgação desses materiais permitiram um contato mais próximo com essa dinâmica de produção, que, desde 2004 até o contexto atual, conta com cerca de 75 obras produzidas, como prolongamento de debates de eventos acadêmicos e de laboratórios de ensino e de pesquisas, dentro dessa área específica do conhecimento.

Os livros coletâneas são a combinação do artefato ‘livro’, como veículo objeto de divulgação, espaço de divulgação, circulação e recepção de ideias de cunho material, físico (impresso) ou virtual (on-line) cultural e histórico. E somada a isso, a expressão ‘coletânea’ como um conjunto de capítulos e diversidade de autorias que configuram, de modo expressivo, o sentido da coletividade na sua composição no formato de obra/livro enquanto agência pública de debate (Eras, 2020, p. 205).

Podemos destacar ainda que o contato com os livros coletâneas também abriu um leque de possibilidades quanto ao exercício de apropriação da escrita como uma ferramenta de registro coletivo e reflexivo de experiências sociopessoais, profissionais e de formação, proporcionando um aprendizado ativo, que evidenciou as ações e atuações reflexivas de lugares comuns e lógicas periféricas que envolveu o cotidiano do público participante.

[...] no atual debate ignoram o papel que os professores desempenham na preparação dos aprendizes para serem cidadãos ativos e críticos, ou então sugerem reformas que ignoram a inteligência, julgamento e experiência que os professores poderiam oferecer em tal debate [...]. Existe uma necessidade de defender as escolas como instituições essenciais para a manutenção e desenvolvimento de uma democracia crítica, e também para a defesa dos professores como intelectuais transformadores que combinam a reflexão e prática [...] a serviço da educação dos estudantes para que sejam cidadãos reflexivos e ativos (Giroux, 1997, p. 157-158).

A propriedade de se trabalhar com essa tipologia de escrita está localizada em vivências que se transformaram em uma coletânea de escrevivências. A inspiração para o desenvolvimento deste trabalho tem origem no campo literário de Conceição Evaristo (Santana; Zaparoli, 2020), na forma de escreviver sobre os processos de invisibilidade das mulheres negras e de pessoas em situações de vulnerabilidade social, demonstrando novas facetas e problemáticas do país. Pensamos que esse exercício enriqueceria a ilustração de escrevivências subalternizadas e invisibilizadas, associadas a uma análise sociológica dos problemas comuns apresentados por participantes do curso, mostrando como poderiam ser transpostas para o espaço da sala de aula e para o Ensino de Sociologia.

[...] uma escrita em que o sujeito se coloca no seu espaço de pertença, no seu espaço de nascença, no espaço de vivência - porque o deslocamento cria elos afetivos, com o lugar que ele passa a habitar, além da memória do espaço e de onde ele veio. Normalmente, o texto acaba muito fincado nesses espaços, que eu chamo também de geografia afetiva. O sujeito vai narrar fatos muito próximos de sua vida ou da sua coletividade, e isso é uma forma, uma produção, sem sombra de dúvida, de uma escrevivência (Evaristo apudSantana; Zaparoli, 2020, p. 2).

Para possibilitar que esses diferentes autores e autoras se expressassem livremente por meio da escrita, estabeleceram-se alguns princípios na construção do curso e oficinas de escrevivências: a) não hierarquia de contribuições entre artigos e relatos de experiências; b) defesa das pluralidades, diversidades, pertencimentos e direitos humanos; c) valorização de estudos e pesquisas concluídas e em andamento; relações voltadas à Educação Básica e às licenciaturas; d) valorização das experiências na área do ensino (estágio; atuação docente na escola; formação do/a professor/a pesquisador/a); e) relações temáticas entre Educação e Ensino/Pesquisa em Ciência Sociais/Sociologia, pois este era o foco central do curso e do trabalho coletivo em e-book.

As oficinas de escrita foram delineadas por diálogos orientados para a produção criativa de textos e pela identificação de temas em narrativas cotidianas, em uma proposta de transposição das escrevivências para uma análise reflexiva e sociológica, com momentos de orientações individuais e coletivas, agendadas e mediadas pelo Google Meet.

Ao término do curso, os/as participantes entregaram como atividade final um artigo ou relato de experiência construídos individualmente ou em grupos de até três pessoas, com destaque para suas escrevivências sociológicas. O e-book que materializou a conclusão do curso foi constituído de 50 contribuições de autores/as, com textos distribuídos em 30 capítulos.

2 Metodologia

Os dados foram coletados com o uso de formulário on-line, produzido a partir do Google Forms e aplicado durante os encontros síncronos e assíncronos do curso, cuja análise quantitativa e qualitativa bem como a problematização dos contextos de suas formações e atuações estão em conexões temáticas com a Educação Básica, os conhecimentos sociológicos escolares e a educação científica.

3 Resultados e discussões

3.1 Conexões entre escrevivências e Educação Básica

Na seção de análises e resultados deste artigo, buscou-se ilustrar as principais conexões que permearam os processos de produção e escrevivências de participantes do curso de extensão on-line. O convite de participação e a exposição dos objetivos acerca da elaboração desta pesquisa foram realizados em um dos encontros síncronos. Já a coleta de dados foi mediada pelo uso do formulário Google Forms, que esteve disponível na Plataforma do Classroom, o que permitiu ser acessado também durante as atividades assíncronas. Os 18 eixos temáticos agregados a esse artigo foram: a) região; b) formação; c) linhas de pesquisas; d) acesso aos livros coletâneas sobre ensino de Ciências Sociais/Sociologia; e) usos socioprofissionais dos livros coletâneas; f) papel do/a docente no processo de divulgação científica a partir do Ensino de Sociologia; g) habilidades científicas desenvolvidas a partir das aulas de Ciências Sociais/Sociologia; h) participação em eventos científicos ligados ao Ensino de Ciências Sociais/Sociologia; i) uso das mídias digitais e/ou redes sociais para compartilhamento de materiais de ensino; j) produção científica em periódicos ou eventos científicos; k) uso de recursos didáticos e o Ensino de Sociologia; l) acompanhamento das novidades produzidas na área do Ensino de Ciências Sociais/Sociologia; m) iniciativas de divulgação científicas e didáticas de participantes do curso; n) (auto)percepção de professores/as como intelectuais no processo de produção de conhecimento; o) percepções de práticas inovadoras e Ensino de Ciências Sociais/Sociologia; p) memórias docentes e discentes que marcaram suas atuações e formações; e q) contribuições do curso de extensão on-line; e r) escrita de escrevivências.

Os dados desta pesquisa se referem às múltiplas contribuições de 50 concluintes do curso de extensão on-line, provenientes de diferentes regiões do país, de instituições escolares e de Ensino Superior. Conforme é possível visualizar nos dados do Gráfico 1, os maiores índices de participação concentraram-se na região Sul do país, ou seja, 38%. Tivemos 28% de participação de profissionais do Sudeste e 26% do Nordeste. Dois fatores podem ser responsáveis por essa configuração: a divulgação do curso nas redes sociais dos Mestrados Profissionais em rede do ProfSociologia (ProfSocio) e o convite elaborado entre as comunidades acadêmicas pelos/entre os/as graduandos/as e pós-graduandos/as das instituições de Ensino Superior.

O contexto pandêmico e as atividades no formato remoto, em prevenção à Covid-19, também foram fatores determinantes que ampliaram o interesse de participação em um curso de extensão nesta configuração didática, permitindo que o público estendesse as fronteiras acadêmicas/locais. Contudo, o mesmo formato remoto do curso, em que residia um facilitador de acesso, também gerou uma contradição quanto à intensidade e ao acúmulo de trabalho pelas jornadas escolares e acadêmicas no período de sua realização (agosto a novembro de 2021), associados ainda a um contexto de adaptação gradual de retorno às atividades presenciais ou híbridas nas instituições escolares e acadêmicas, materializando-se em um dos principais fatores de evasão na continuidade do curso.

3.1.1 Conexão temática: região do/a extensionista

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

Gráfico 1 Extensionistas e regiões do país 

Com relação à formação, percebeu-se uma concentração de participação de três grupos: a) 34% graduados/as e licenciados/as em Ciências Sociais/Sociologia e com especialização; b) 20% graduados/as licenciados/as em Ciências Sociais/Sociologia; e c) 12% de graduandos/as licenciados/as em Ciências Sociais/Sociologia. Ou seja, conexões diretamente interligadas com a realidade da Educação Básica - docentes em atuação e licenciandos/as em formação para o ensino.

Os dados do Gráfico 2 apontam que houve a participação de 10% de mestrandos/as, 8% de bacharéis em Ciências Sociais; 6% de doutores/as em Ciências Sociais/Sociologia ou Educação; 2% de pessoas com bacharelado interdisciplinar em Ciências Humanas; e 2% de profissionais com pós-doutorado em Sociologia.

Apesar da concentração formativa orbitada nas Ciências Sociais, notou-se que houve um diálogo que perpassou por participantes de diferentes instituições de Ensino Superior e de diferentes gerações de cientistas sociais e professores/as do país, cuja faixa etária variou entre 20 e 45 anos, o que ampliou ainda mais a riqueza e a diversificação temática de escrevivências - escritas-vivências - com relação às suas percepções de formação e de atuação profissional e acadêmicas.

Destaca-se o caráter nacional do referido curso de extensão, característica esta que se reproduziu posteriormente na livro coletânea construído a partir das contribuições dessa atividade formativa. A amplitude desse alcance também contou com o fato de muitos/as participantes serem do curso de especialização em Ensino de Sociologia da UEL, que pela primeira vez constituiu-se integralmente no formato remoto-síncrono, dadas as adversidades do contexto pandêmico. Tal turma do curso lato sensu, aberta em 2021, continha profissionais de quase todas as regiões do Brasil.

3.1.2 Conexão temática: formação do/a extensionista

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

Gráfico 2 Formação dos/as extensionistas 

Além disso, durante a pesquisa, buscou-se mensurar a quais linhas de pesquisa os/as participantes estavam vinculados/as e envolvidos/as. Adiante, no Quadro 1, constam todas as linhas de pesquisas que foram mencionadas na coleta de dados. Destaca-se que três linhas foram as mais citadas: a) 20% em Ensino de Sociologia; b) 12% em Sociologia da Comunicação; e c) 8% em Sociologia da Saúde.

Quanto à primeira linha - o Ensino de Ciências Sociais/Sociologia -, havia várias interfaces quanto ao locus de realização dessas pesquisas (Educação Básica e formação de professores/as), às metodologias e práticas de ensino, além de um diálogo estreito com a Sociologia da Educação, das Juventudes e da Sociologia do Conhecimento, o que justifica o perfil e o interesse do público com o foco central do curso de extensão on-line. Já com relação à segunda linha - a Sociologia da Comunicação -, havia a interface com os canais de comunicação, mídias digitais, problematizações relacionadas à sociedade do consumo e à indústria cultural; a linha de pesquisa de Sociologia da Saúde esteve relacionada à saúde da mulher e à gestão da pandemia como política pública. No total, sete linhas de pesquisas compuseram o perfil de interesse e de pesquisa de extensionistas.

Quadro 1 Linhas de pesquisa 

Sociologia do meio ambiente
Movimentos sociais
Sociologia da saúde
Gênero e sexualidade
Ensino de Sociologia
Sociologia da comunicação
Relações étnico-raciais
Sociologia da religião

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

3.1.3 Conexão temática e usos socioprofissionais dos livros coletâneas sobre Ensino de Ciências Sociais na Educação Básica

Uma das discussões-chave do curso, intercalada com o Ensino de Ciências Sociais/Sociologia, compreendeu as relações de produção dos livros coletâneas em três perspectivas: a) o livro coletânea como ferramenta para sugestões e produções didáticas; b) o livro coletânea como indicador do estado da arte e do desdobramento de produção de novas pesquisas; e c) o livro coletânea como produção de escrevivências dos extensionistas. Durante o curso, problematizou-se sobre as condições de circulação de ideias e conhecimento sociológico escolar em diferentes períodos e condições de produção dos livros coletâneas, em um diálogo com a Sociologia e História do Livro (Chartier, 2017; Horellou-Lafarge; Segré, 2010; Mckenzie, 2018) e o estado da arte do subcampo1 do Ensino de Sociologia (Bodart; Souza, 2017; Carvalho; Handfas, 2019; Oliveira; Melchioretto, 2020), que teve um período promissor entre os anos de 2008 e 2013. Apesar do contexto atual de retração do currículo escolar, a partir dos debates e embates sobre o novo Ensino Médio, hoje há cerca de 75 livros coletâneas produzidos no Brasil, indícios de resistência na constância de produções de coletâneas do subcampo em questão.

A contradição apontada nos dados é quanto à permanência de um escasso acesso às obras, que, em sua maioria, têm um formato impresso e um limite de 300 exemplares por edição, que paulatinamente vêm sendo substituídas por produções em formatos digitais/on-line. Perguntou-se a quais livros coletâneas os/as participantes do curso já tiveram acesso. Neste caso, os livros mais citados foram: a) os livros da Editora Café com Sociologia (sem especificar os títulos); b) o Dicionário do Ensino de Sociologia (Bruneta; Bodart; Cigales, 2020); c) Coleção Explorando o Ensino de Sociologia (Moraes, 2010); d) Sugestões Didáticas de Ensino de Sociologia (Lima et al., 2014); e) os livros coletâneas da UEL disponíveis na página do Laboratório de Ensino de Sociologia (Lenpes) - sem especificar os títulos; e f) Sociologia e ensino em debate (Carvalho, 2004).

O que podemos interpretar a partir dos dados destacados acima é que há dois núcleos referenciais de produção de livros coletâneas no contexto atual e um diálogo sócio-histórico entre eles. Um dos núcleos observados são os livros produzidos pela Editora Café com Sociologia, localizada em Maceió, Alagoas, que representam 20 obras coletâneas que estão em articulação e diálogo com outros projetos de divulgação científica dos conhecimentos sociológicos escolares, como o Blog Café com Sociologia, organizados por Cristiano Bodart (Universidade Federal de Alagoas - UFAL) e Roniel Sampaio (Instituto Federal do Piauí - IFPI).

Outro núcleo citado diz respeito aos livros produzidos a partir dos projetos de ensino, pesquisa e extensão no Ensino Superior (graduação e pós-graduação) associados aos projetos de ensino da comunidade escolar de Londrina e região, viabilizados a partir da UEL, que, ao longo do tempo, foi reconhecida como espaço pioneiro desses estudos relacionados ao Ensino de Sociologia na Educação Básica.

Hoje esse grupo de profissionais do Ensino de Sociologia, reunidos/as sobretudo no Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de Sociologia (Lenpes) e no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) de Ciências Sociais da UEL, possuem 20 obras coletâneas, sendo duas delas produzidas pela Editora da UEL. Algumas obras foram disponibilizadas em formato impresso, outras já no formato de e-books, mas todas disponíveis em formato “pdf” na página do Lenpes, sendo significativamente utilizados nas pesquisas e na formação de professores/as, especialmente nas ações pedagógicas dos estágios curriculares de Sociologia organizados pelas licenciaturas dessa área. Todas essas obras podem ser acessadas por meio do endereço eletrônico: http://www.uel.br/revistas/lenpes-pibid/.

O Dicionário de Ensino de Sociologia é uma produção mais recente, que reuniu cerca de 82 pesquisadores/as e 85 verbetes em sua composição, o qual já prevê uma nova edição e atualização desse empreendimento. O livro está disponível no formato impresso e digital, acessível pelo Blog Café com Sociologia e pela plataforma on-line da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs).

Sugestões didáticas em Ensino de Sociologia é uma coletânea impressa de 42 capítulos, reconhecida por ter sido uma das primeiras obras em parceria com o coletivo de professores/as de Londrina e região, cujo caráter de novidade reside no acesso e visibilidade dessas experiências didáticas e seus planos de aula sobre Ensino de Sociologia. A referida obra foi organizada por duas professoras de Sociologia, que, na época de sua publicação (2012), atuavam como docentes no Ensino Médio nas escolas públicas da rede estadual do Paraná e como supervisoras de campo de estágio curricular obrigatório de Sociologia, juntamente com duas docentes da Área de Metodologia e Prática de Ensino de Sociologia da licenciatura de Ciências Sociais, do Departamento de Ciências Sociais, do Centro de Letras e Ciências Humanas da UEL. O material é composto por 43 diferentes textos que primam pela disseminação das práticas pedagógicas de ensino de Sociologia mais utilizadas por cada um/a dos/as professores/as de Sociologia que atuavam no Ensino Médio, sendo todos/as eles/as egressos/as do curso de graduação em Ciências Sociais (licenciatura e bacharelado) da UEL.

A Coleção Explorando o Ensino de Sociologia (2010) é uma das primeiras coletâneas em formato on-line, com mais de 300 páginas, produzida em parceria com a Secretaria da Educação Básica e Ministério da Educação (MEC), como subsídio de apoio e sugestões teórico-metodológicas, logo após a obrigatoriedade do Ensino de Sociologia na Educação Básica a partir da Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008.

Sociologia e ensino em debate: experiência e discussão de Sociologia no Ensino Médio (2004) foi uma das primeiras coletâneas produzidas, considerada um marco temporal de construção do subcampo do Ensino de Sociologia na Educação Básica, cujo destaque é a materialidade da obra e a campanha de retorno da obrigatoriedade do ensino de Sociologia aos currículos escolares. Trata-se de um empreendimento militante deste projeto encampado por diferentes movimentos sociais do período.

Contudo, notamos que ainda há um severo ruído de comunicação e divulgação de inúmeras dessas obras que têm sido produzidas recentemente e/ou que foram veiculadas durante muitos eventos científicos do Ensino de Sociologia na Educação Básica quanto ao seu efetivo acesso e familiaridade junto ao público aqui pesquisado.

Outro conjunto de conexões de ensino, pesquisa e de escrevivências que estão interligadas aos livros coletâneas perpassa pelos usos socioprofissionais dos livros coletâneas em Ensino de Sociologia, utilizados pelo público extensionista.

Quadro 2 Usos dos livros coletâneas 

Na produção de ementas2 da Unidade Curricular de Sociologia no Ensino Médio
Base de diálogo e debates com alunos/as do Ensino Médio e Ensino Superior
Como indicação de leitura complementar
Uso na licenciatura em Ciências Sociais em preparação para os estágios
Na produção de artigos
No auxílio nas regências em atividades de estágio/Pibid
Em pesquisas de iniciação científica
Em revisões bibliográficas
Em cursinhos populares
Em grupos de estudos
Em planos de aula no estágio obrigatório
Uso das sugestões didáticas das coletâneas (livros, filmes, documentários, atividades)
Em seminários
Em atividades de pesquisa

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

Notou-se no Quadro 2 um conjunto de 14 conexões (ementas, debates, leitura complementar, estágios, regências Pibid/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes, iniciação científica, revisões bibliográficas, grupo de estudos, planos de aulas dos estágios, sugestões didáticas para as aulas no Ensino Médio, seminários, pesquisas) interligadas a um processo de circulação de ideias localizadas na instância das práticas de ensino vivenciadas na Educação Básica e/ou no Ensino Superior em diferentes dinâmicas de docentes em sala de aula e nos processos de formação de professores/as em que o debate sobre o Ensino de Sociologia é retroalimentado constantemente.

Apesar de uma ampla variação dos usos sociodidáticos dos livros coletâneas, o mote da contradição entre produção e utilização, assim como entre acesso e estranhamento, ainda reside em uma alta incidência de percepções na desigualdade de acesso aos livros coletâneas. Já em nossos estudos no doutorado (2010-2014) e agora em um novo mergulho de pesquisa sobre a temática no pós-doutorado (2021-2022), velhos problemas transitam em contextos novos, acusando que, apesar do avanço de pesquisas, aumento da bibliografia do subcampo e, de modo especial, da produção de livros coletâneas, ainda que pela novidade de seus formatos digitais, ainda assim, o processo de democratização do conjunto dessas reflexões não se completou.

Segundo as percepções manifestadas por participantes destacadas no formulário on-line, há um conjunto de variantes que incidem na manutenção deste processo de desigualdades (no plural) quanto ao acesso aos livros coletâneas sobre o Ensino de Sociologia: a) sobrecarga da jornada de trabalho docente; b) excesso de atividades docentes atribuídas em tarefas burocráticas; c) ausência de políticas de formação continuada para professores/as nas redes estaduais de ensino; d) salários docentes incompatíveis para aquisição ou coparticipação em produções/publicações; e) docência e falta de tempo para dedicação a produções científicas; f) disparidades no processo de formação docente e discentes para produção científica; g) falta de projetos editoriais de acompanhamento e assessoria na produção de textos e produções científicas; e h) desvinculação entre universidade e egressos/as após o seu processo formativo.

Me parece que é um tipo de produção que se mantém nas relações de professores próximos à universidade e a impressão que tenho é que muitos rompem o contato com a instituição depois de formados, o que deve limitar as oportunidades de participação em projetos/eventos, etc. (Extensionista A)3.

3.1.4 Conexão temática: docência e processo de divulgação científica da Sociologia Escolar

Se os livros coletâneas são uma das possibilidades de se produzir e fazer circular os conhecimentos sobre Ensino de Sociologia, qual é o papel do/a docente no processo de divulgação e popularização da Sociologia como Ciência? Pode-se destacar que duas interpretações estão presentes na configuração das (auto)percepções do público pesquisado sobre esse tema:

I) A docência em/como um processo ativo de divulgação científica:

Quando ele expande seu conhecimento para além da universidade, estendendo especialmente às camadas populares, sim, amplia acesso. A Sociologia estuda a sociedade, mas a sociedade ainda não estuda Sociologia. Logo, Sociologia não é tão popularizada como deveria (Extensionista B).

A vivência nas Ciências Sociais está para além da sala de aula. A partir do momento em que o/a professor/a de Sociologia ocupa e atua em qualquer espaço, carrega a base do pensamento sociológico e, mesmo implicitamente, trabalha com a Sociologia como Ciência. Apesar de ser uma área que não é valorizada (muitas vezes nem pelos estudantes), quando mostramos a prática sociológica [Mezzaroba; Carriquiriborde, 2020], na perspectiva científica, no dia a dia os olhares se modificam (Extensionista C).

II) A docência como um processo de mediação/transmissão de divulgação científica

A própria demarcação da disciplina no currículo do Ensino Médio já faz parte dessa divulgação, pois ainda é necessária uma desnaturalização de hierarquias entre as disciplinas ‘úteis’ para a formação de jovens, onde confundem-se ‘pesos’ de conteúdos nas competências exigidas por vestibulares/Enem [Exame Nacional do Ensino Médio] com o peso de ‘saber ler, escrever e somar’ para o mercado de trabalho (Extensionista A).

Nota-se que há um aspecto de imprecisão quanto ao sentido de participação ativa ou não ativa atribuído ao processo de divulgação científica (Vogt, 2006). Contudo, houve apontamentos com relação aos problemas que podem ser gerados nessa interação e não precisão do sentido de divulgação científica e Sociologia escolar e, mais do que isso, ao efeito das formações e atuações descontextualizadas de seus campos de saberes referência.

Há a divulgação científica em termos. Como muitos professores de Sociologia não são formados na área, terminam propagando uma visão estereotipada e problemática do ensino de Sociologia, muitas vezes nada científica e muito dogmática (Extensionista E).

No conjunto de variações e conexões da docência com o processo de divulgação científica, destacados por extensionistas, apontaram-se: a) contato formativo com as juventudes e/ou as novas gerações pela via do conhecimento científico; b) Ensino de Sociologia como recepção de ideias e conhecimentos científico- -sociológicos; c) docência interligada à participação em eventos e produções científicas; d) docência como mediação de conhecimento específico, apesar de pouco aprofundamento em sala de aula; e) docência e problematizações entre a Sociologia, a ciência e o cotidiano; f) docência como foco de resistência de pensamento crítico na escola; g) escola no processo de popularização do conhecimento científico sistematizado; h) amplo alcance da Sociologia como Ciência através da Sociologia Escolar; i) Sociologia Escolar na diversificação da divulgação e linguagem científica em novas formas de circulação de conteúdo; j) apresentação dos métodos de estudos que apontam aos/às estudantes como se dão as Ciências Sociais na prática; e k) aproximação do pensamento, da imaginação sociológica e dos exercícios do fazer sociológico em sala de aula (leitura, interpretação e projetos de pesquisa).

3.1.5 Conexão temática: relação entre as habilidades científicas e as aulas de Ciências Sociais/Sociologia

Outro eixo temático destacado nas falas por extensionistas, a partir do formulário de coleta de dados on-line, traça conexões com as habilidades científicas desenvolvidas a partir das aulas de Ciências Sociais/Sociologia.

Quadro 3 Habilidades científicas e as aulas de Ciências Sociais/Sociologia 

Exercício de cidadania
Atitude de alteridade
Exercício de relativismo cultural
Alfabetização e questionamento político
Capacidade de pesquisa
Capacidade de relacionar e interpretar dados e fatos
Planejamento, comparação, análise
Imaginação sociológica
Desnaturalização, estranhamento, desvelamento, desreificação,
descolonização da realidade
Observação, questionamento e busca de soluções para os problemas
Reflexividade das vivências pela perspectiva sociológica e pelos processos de socialização e suas interpretações em nossas concepções de mundo
Leitura, escrita, reflexão
Gênese histórica dos fenômenos sociais
Busca de informações e dados científicos
Desenvolvimento do olhar crítico

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

Sabemos que leitura e compreensão de texto (e de mundo!) não são exclusividade das Ciências Sociais, mas, em tempos de negacionismo exacerbado, fake news, ensiná-los a articular conceitos, realizar uma leitura meticulosa, romper com o senso comum, já pode ser considerado desenvolver habilidades científicas, se, a partir disso, conseguirmos realizar trabalho de campo, desenvolver artigo de opinião, juntos, elaborar documentários (outrora, já os inscrevi em concursos estaduais; alguns já puderam viajar a São Paulo e Curitiba através de suas produções), juntos também ganhamos prêmios; a escola pública tem muito potencial, mas agora, com uma única hora-aula, inúmeras turmas/escolas para atendermos, tudo isso ficará no campo do lendário (Extensionista E).

Entre as habilidades científicas desenvolvidas nas aulas de Ciências Sociais/ Sociologia, segundo os/as participantes do curso de extensão, destacamos o exercício da pesquisa descrito com diferentes terminologias; a imaginação sociológica como já sinalizada por Wright Mills (1959); a criticidade; e os pilares descritos nas Orientações Curriculares de Sociologia (OCNs), mais especificamente os exercícios da desnaturalização e do estranhamento dos fenômenos sociais. Tais exercícios de problematização sociológica, evidenciados nos pressupostos metodológicos dos conhecimentos de Sociologia, dentro da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, no documento “Orientações Curriculares para o Ensino Médio” (Brasil, 2006), continuam bastante atuais para pensar as contribuições da Sociologia/Ciências Sociais na formação das juventudes na Educação Básica.

3.1.6 Conexão temática: participação em eventos científicos e Ensino de Ciências Sociais/Sociologia

Outro dado que concretiza as conexões entre as escrevivências e a Educação Básica está relacionado com a participação em eventos científicos ligados ao Ensino de Sociologia e Ciências Sociais/Sociologia. Os eventos científicos mencionados durante a pesquisa estão listados no Quadro 4. Mais uma vez, localiza-se aqui uma contradição nessa conexão, uma vez que citam a participação em alguns eventos da área, momentos que são relevantes na recepção e circulação de novas ideias, inclusive onde muitos dos livros coletâneas da área são divulgados, lançados e/ou distribuídos. O evento mais citado por 60% dos/as participantes foi o Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica (Eneseb) - o mais popularizado entre extensionistas. Como houve a possibilidade de citar mais de um evento, há uma variação de destaques nesse eixo temático.

Uma grande parcela dos/as participantes mencionou que busca participar de eventos da área, contudo há muita dificuldade em conciliá-los com a carga horária de trabalho. Todavia, o contexto pandêmico possibilitou uma maior facilidade e oportunidade de participação em eventos científicos via remoto. O modelo não presencial coaduna gastos mais reduzidos (apesar de algumas taxas de inscrições ainda inviáveis), o não distanciamento de seu local de trabalho e/ou compromissos pessoais/ familiares. É um dado interessante, uma vez que a participação permite um prolongamento da formação continuada. Porém, há que se considerar uma margem de imprecisão quanto ao grau de medida desta participação e da efetividade dos laços estabelecidos na comunicação entre os pares nesses momentos de interlocução, durante e/ou após o evento. Ainda assim, é um momento ímpar, cujas ideias são recebidas como caráter de novidade, conciliando as conexões locais e nacionais.

Quadro 4 Participação em eventos científicos sobre Ensino de Sociologia e eventos citados 

Curso Emancipa sobre Paulo Freire
Encontro alagoano de Ensino de Sociologia/Ciências Sociais (Enales)
Encontro Anual de Iniciação Científica (Eaic)
Encontro de Pesquisa Educação em Pernambuco (EpePE)
Encontro Estadual de Ensino de Sociologia (Ensoc)
Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica (Eneseb)
Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais (Enecs)
Eventos Cátedras de Educação Básica - Universidade de São Paulo (USP)
Eventos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs)
Eventos da Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs)
Eventos da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS)
Eventos ligados à licenciatura, Pibid, Residência Pedagógica
Eventos ligados à UEL
Eventos em Universidades do Norte do Brasil
Quartas Sociológicas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
Semanas Acadêmicas de Ciências Sociais das Universidades

Fonte: Síntese de dados coletados via formulário Google Forms (2022).

Em relação ao uso das mídias digitais e/ou redes sociais para compartilhamento de materiais de ensino, houve um maior consenso/convergência nos dados, com 90% das respostas negativas, revelando uma não rotinização desse hábito, com destaque para a não familiaridade com as ferramentas digitais, a insegurança, a falta de tempo no gerenciamento destes trabalhos digitais. Apesar de serem usuários/as das redes sociais, os/as participantes apontaram que não as utilizam como veículo de produção ou compartilhamento de materiais didáticos. Apenas 10% de extensionistas manifestaram a utilização do Facebook, Instagram e sites institucionais de trabalho como canais de compartilhamento de materiais didáticos e informativos, ou ainda o uso do WhatsApp para receber e trocar informes mediados por um canal digital.

Já no quesito sobre o acompanhamento das novidades produzidas na área do Ensino de Ciências Sociais/Sociologia, os extensionistas responderam: a) redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter); b) sites das universidades; c) blogs e páginas de professores/as de Sociologia no Instagram ou YouTube; d) troca de e-mails entre professores/as; e) sala de aula; f) grupos de estudos da universidade; g) sites da área de Ciências Sociais; h) Blog Café com Sociologia; i) livros; j) contato com professores/as; e k) publicações da Abecs.

4 Considerações finais

O curso de extensão on-line foi uma atividade com inúmeras possibilidades integrativas vinculadas às relações de ensino, com a proposta de pensar sobre a produção de livros coletâneas e as escrevivências sociológicas. Dentre muitas dessas possibilidades agregadoras, destaca-se a criação do “Laboratório de Escrevivências Socioantropológicas e Educacionais (Lab-Escrevivências) - 1ª Etapa: Revista Pró-docência, Coletâneas e Metodologias de Ensino/Pesquisa”, que surge almejando produzir e analisar pesquisas na perspectiva das escrevivências socioantropológicas e educacionais, com foco na organização do estado da arte sobre o tema, na atualização da Revista Pró-docência da UEL, na produção de Coletâneas, na orientação decolonial de Trabalhos de Conclusão de Cursos (graduação e pós-graduação) e na análise/escrita de textos voltados mais criativos e mais conectados com as memórias, trajetórias e vivências dos/as estudantes e dos/as professores/as que atuam no Ensino Médio, com foco na indissociabilidade entre as metodologias de ensino e as metodologias de pesquisa, fundamentados, sobretudo, nos diálogos entre Sociologia da Educação, Antropologia da Educação, Sociologia das Juventudes, Antropologia das Juventudes, Ciências Sociais e Educação.

Com ênfase no aprimoramento individual e coletivo do ato de escrever, estabelecendo parcerias colaborativas entre licenciatura e Educação Básica, planeja-se valorizar e disseminar saberes/fazeres desses/as sujeitos/as socioculturais, contribuindo especialmente com a concretização de novos diálogos teórico-metodológicos e didáticos que culminem, inclusive, na organização e publicação de Coletâneas de Escrevivências, com foco na formação e na atuação de profissionais da Educação, no campo das Ciências Sociais/Sociologia.

Nessa perspectiva de ensino, os encontros com as pluralidades de contribuições que o formato da extensão remoto proporcionou, no sentido lato do termo, permitiu uma grande abrangência regional, de formações e atuações. Além disso, o encontro possibilitou a observação das conexões temáticas que compunham os perfis de participantes extensionistas e suas relações temáticas com a Educação Básica. Instigando-se a redigir sobre suas representatividades, ao falar do/a outro/a, pensou-se sobre suas próprias práticas de ensino e de pesquisa.

Podemos dizer que o perfil de extensionistas se concentrou em dois grupos, diretamente ligados à interlocução com a educação pública: licenciandos/as em Ciências Sociais e docentes de Sociologia na Educação Pública. Também se destacou o modo ativo pelo qual os/as extensionistas participaram e conheceram alguns espaços de debates científicos da Sociologia Escolar. Ainda que com alguns impasses na interpretação de docentes e/ou discentes ou ainda da escola, nesse empreendimento reflexivo, colocaram-se como produtores/as ou mediadores/as de conhecimento. Porém, ainda se percebeu a permanência de uma certa imprecisão quanto ao conhecimento e usos dos livros coletâneas em suas práticas cotidianas de ensino, bem como algumas dúvidas na maneira como visualizam o sentido de uma inovação ou de uma prática didática incomum.

Ainda na percepção dos/as extensionistas, a escrita de vivências ou de escrevivências sociológicas permitiu essa observação e apropriação autoral de suas realidades - periféricas ou não -, problematizando e valorizando suas experiências e memórias. Primeiro, pela relação de estranhamento com as suas próprias experiências. A priori, não as visualizavam como um potencial reflexivo, de pesquisa e de produção de conhecimentos, no sentido de contribuir com o descentralizamento dos saberes numa lógica de valorização do local/regional.

Tais reflexões nos permitem mostrar a compreensão da escrita como uma ferramenta reflexiva, associada à análise sociológica, permitindo repensar o lugar do registro das experiências na apropriação do saber cotidiano. Afinal, persiste a necessidade, ainda bastante pertinente, de reconstrução desse lugar como objeto de reflexão, ensinando como as próprias Ciências Sociais possibilitam ou limitam a sua utilização, cuja matéria-prima de excelência parte dessa voz, que é habilitada pelo plano da(s) experiência(s), que ainda tem muito a nos dizer.

Como citar este artigo (ABNT)ERAS, Lígia Wilhelms; LIMA, Ângela Maria de Sousa. Escrevivências em conexão com a Educação Básica: memórias, saberes e fazeres sociológicos. Educação & Formação, Fortaleza, v. 8, e11239, 2023. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/redufor/article/view/e11239

1 A reflexão sobre a ideia de subcampo é referenciada a partir da teoria dos campos elaborada por Pierre Bourdieu.

2Os destaques no Quadro 2 são nossos.

3 Nossa escolha metodológica foi a de manter o anonimato das identidades de participantes e suas contribuições nas questões abertas do formulário on-line aplicado aos/às participantes do curso de extensão, mencionando-os/as por Extensionista A, Extensionista B, etc.

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Recebido: 08 de Agosto de 2023; Aceito: 02 de Novembro de 2023; Publicado: 31 de Dezembro de 2023

Editora responsável: Lia Machado Fiuza Fialho

Pareceristas ad hoc: Sérgio Luiz Lopes e José Oto Konzen

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