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Educação & Formação

versión On-line ISSN 2448-3583

Educ. Form. vol.8  Fortaleza  2023  Epub 23-Feb-2023

https://doi.org/10.25053/redufor.v8.e11635 

Artigos

Atuação das mulheres na extensão universitária na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

Desempeño de las mujeres en la extensión universitaria de la Universidad Federal de Mato Grosso (UFMT)

1Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil

2Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT, Brasil


Resumo

Nos primeiros anos de funcionamento, a Universidade Federal de Mato Grosso desempenhava um papel fundamental de interação com a sociedade por meio das atividades extensionistas. Este artigo tem o objetivo de analisar a participação das mulheres em ações extensionistas como processo de formação acadêmica, produção de conhecimento e diálogo com a comunidade. Para tal, foram utilizados documentos localizados nos acervos dos diferentes setores da Universidade. A análise fundamenta-se nos princípios teóricos da Nova História Cultural (Burke, 1992) e da História das Mulheres (Perrot, 2020; Scott, 2008). Os documentos investigados revelaram que as mulheres, embora em pequeno número, desempenharam papéis de destaque na atuação como coordenadoras de ações de extensão e tiveram impacto significativo no âmbito acadêmico e administrativo da universidade.

Palavras-chave extensão universitária; mulheres extensionistas; educação superior; história das mulheres.

Resumen

En los primeros años de funcionamiento, la Universidad Federal de Mato Grosso-UFMT jugó un papel fundamental en la interacción con la sociedad a través de actividades de extensión. Este artículo tiene como objetivo analizar la participación de las mujeres en acciones de extensión como un proceso de formación académica, producción de conocimientos y diálogo con la comunidad. Para ello se utilizaron documentos ubicados en las colecciones de diferentes sectores de la Universidad. El análisis se basa en los principios teóricos de la Nueva Historia Cultural (Burke, 1992) y la Historia de las Mujeres (Perrot, 2020; Scott, 2008). Los documentos investigados revelaron que las mujeres, aunque pocas en número, desempeñaron roles destacados al actuar como coordinadoras de acciones de extensión y tuvieron un impacto significativo en el ámbito académico y administrativo de la universidad.

Palabras clave extensión universitaria; mujeres de extensión; educación universitaria; historia de las mujeres.

Resumo

Nos primeiros anos de funcionamento, a Universidade Federal de Mato Grosso desempenhava um papel fundamental de interação com a sociedade por meio das atividades extensionistas. Este artigo tem o objetivo de analisar a participação das mulheres em ações extensionistas como processo de formação acadêmica, produção de conhecimento e diálogo com a comunidade. Para tal, foram utilizados documentos localizados nos acervos dos diferentes setores da Universidade. A análise fundamenta-se nos princípios teóricos da Nova História Cultural (Burke, 1992) e da História das Mulheres (Perrot, 2020; Scott, 2008). Os documentos investigados revelaram que as mulheres, embora em pequeno número, desempenharam papéis de destaque na atuação como coordenadoras de ações de extensão e tiveram impacto significativo no âmbito acadêmico e administrativo da universidade.

Palavras-chave extensão universitária; mulheres extensionistas; educação superior; história das mulheres.

1 Introdução

A Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT, criada por meio da Lei n.º 5.647, de 10 de dezembro de 1970, nasceu voltada para atender o desenvolvimento regional por estar localizada no Portal da Amazônia, objeto de interesse do governo e de ambientalistas (Sá; Monteiro, 2017).

Desde sua gênese, as ações extensionistas foram significativas, como o Projeto Cidade Laboratório em Aripuanã, a 800 km da capital, direcionado a perceber conhecimentos sobre a região amazônica e transformá-los em matérias de ensino para as salas de aula a fim de encontrar soluções para os “[...] problemas de agricultura, da saúde, da piscicultura, do manejo da floresta, etc. [...] Previa-se, portanto, uma retroalimentação contínua entre pesquisa, ensino e extensão” (Lima, 2005, p. 67).

Deste modo, a pesquisa dos projetos extensionistas da UFMT levou-nos a indagar: como foi a participação das mulheres na extensão universitária?

Assim, este artigo tem como objetivo analisar a participação das mulheres nos anos iniciais da extensão universitária na UFMT e, para tal, foram pesquisados ofícios, portarias e relatórios localizados em diferentes instâncias dessa Universidade.

A abordagem da pesquisa é de natureza qualitativa, na qual examinamos as fontes documentais sob a perspectiva problemática, questionando os elementos que surgem no percorrer da pesquisa. Isso indica que, como afirmam Bogdan e Biklen (1994, p. 49), “[...] nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo”.

A busca das fontes de caráter histórico e documental envolveu percorrer caminhos repletos de buscas dispersas e obscuras. Foi-se de um documento para outro para encontrar as experiências e os caminhos percorridos pelas mulheres na extensão universitária na UFMT (Perrot, 2011).

Ademais, a concepção da autora corrobora com a experiência vivenciada ao coletar as fontes documentais nos acervos institucionais. A dispersão das fontes documentais demandou uma busca criteriosa para localizá-las, isto porque os documentos que indicavam a presença das mulheres na extensão universitária muitas vezes estavam em meio a outros que abordavam uma diversidade de temas da instituição. Portanto, foi necessário examinar cuidadosamente cada documento para selecionar aqueles que fossem relevantes para o estudo em questão. Foi um trabalho minucioso e persistente. Conforme Michel de Certeau (2011, p. 69), em “[...] história, tudo começa com o gesto de separar, de reunir, de transformar em “documentos” certos objetos distribuídos de outra maneira”.

Adotamos, para a análise, pressupostos teórico-metodológicos da Nova História Cultural, os quais possibilitaram estabelecer conexões que ampliaram nosso entendimento em relação ao objeto de pesquisa, às abordagens e ao tratamento das fontes consultadas. Isto é, prevaleceu a compreensão de que o movimento humano possui história que pode e deve ser construída e ressignificada a partir de diferentes perceptivas, mediante a problematização da história em um contexto social e culturalmente constituído na sociedade (Burke, 1992).

Ao realizarmos esta investigação, buscamos trazer a lume eventos e informações relacionados à participação das mulheres em atividades acadêmicas e administrativas de organização e instituição da extensão universitária na UFMT, com o propósito de compor uma história das mulheres e valorizar o papel desempenhado por elas na universidade. O que importa, como afirmou Michelle Perrot (2020), é voltar a encontrar as mulheres atuantes e engajadas, capazes de impulsionar transformações. Quer dizer, essas mulheres tiveram a capacidade, por meio de seu engajamento, de alterar o curso da história, ainda que tenham sido historicamente silenciadas. Em ação, inovaram as suas “[...] práticas, mulheres dotadas de vida, e não absolutamente como autômatas, mas criando elas mesmas o movimento da história” (Perrot, 2020, p. 199).

Contudo, frisa-se que são poucos os registros históricos disponíveis. Portanto, esta pesquisa busca avançar no registro e na inclusão das mulheres nas narrativas da História da Educação e na História das Mulheres. Isso inclui aquelas que fizeram parte dessa importante função da educação superior, com o propósito de transpor diferenças e adversidades que cercearam e dificultaram a ascensão das mulheres nos espaços públicos, a considerar que as mulheres são “sujeitos históricos válidos” (Scott, 2008, p. 52), que influenciaram os acontecimentos e tomaram parte da vida pública como protagonistas das suas ações no percurso da história.

Deste modo, o texto foi organizado em duas partes. Inicialmente aborda-se o surgimento das primeiras ações extensionistas da UFMT e, a seguir, analisa-se a atuação das mulheres na extensão universitária na instituição em estudo.

2 A extensão universitária na UFMT

Conforme o Fórum dos Pró-reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras (Forproex, 2012, p. 15), a extensão universitária compreendia um “[...] processo educativo, cultural e científico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre a universidade e a sociedade”.

A partir das definições pactuadas no Forproex, a Constituição Federal de 1988 preceitua a “[...] indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão [...]” (Brasil, 1988, art. 207) e ainda estabelece que “[...] as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do poder público” (Brasil, 1988, art. 213, § 2).

Portanto, a Constituição Federal Brasileira (1988) sinaliza mudanças nas instituições de ensino superior para uma perspectiva mais democrática, por meio da participação dos grupos sociais relacionados aos direitos sociais e ao direito à educação.

A trajetória da institucionalização da Extensão na redemocratização indica que as definições tradicionais de universidade ganharam espaço. Ou seja, a política universitária foi redefinida com a maior participação da comunidade extensionista em processos de interação, deliberação e argumentação, conferindo à extensão universitária status na formulação, implementação e avaliação de políticas de ensino superior (Passarelli; Azevedo, 2017, p. 27).

A extensão universitária expressa uma posição na universidade colocando-a na dimensão de uma “[...] filosofia, ação vinculada, política, estratégia democratizante, metodologia [...]”, portanto, tem a função de “[...] produzir conhecimento, ciência, tecnologia e arte, tornando esse conhecimento acessível à população”. O ensino e pesquisa deveriam servir à transformação social, a extensão seria, portanto, trabalho social, na perspectiva de que “[...] é uma ação deliberada que se constitui a partir da realidade e sobre esta realidade objetiva, produzindo conhecimentos que visam à transformação social” (Tavares M., 2001, p. 78-79).

Para Leonídio (2017) e Nogueira (2005), a extensão universitária desempenha um papel fundamental na função social da universidade, sendo reconhecida como uma das três dimensões essenciais da educação superior no Brasil. Seu objetivo principal é estabelecer conexões entre a universidade e a comunidade, o que implica na atualização de conceitos, desenvolvimento de estratégias para a integração do ensino e da pesquisa e na abordagem de questões relacionadas à interdisciplinaridade e ao compromisso social com a sociedade.

Para além disso, a extensão universitária contribui também para a avaliação do conhecimento produzido pela universidade, confrontando-o com situações concretas e submetendo-o à apreciação da sociedade. Com a extensão universitária ainda é possível reconhecer e valorizar a diversidade e realizar diálogos entre os saberes tradicionais e o acadêmico, possibilitando a promoção da interculturalidade (Nogueira, 2005, 2019).

A UFMT, devido à sua localização, por ser Cuiabá considerada o Portal da Amazônia, era apelidada de Universidade da Selva, conforme justificado por seu reitor, Gabriel Novis Neves, no I Encontro de Reitores das Universidades Públicas ocorrido em Brasília (1972):

A presença de comunidades tribais nas imediações de antenas de microondas de 700m2, a necessidade de auxiliar o desenvolvimento das novas colônias, o garimpo intenso de conhecimentos diretores do desenvolvimento econômico regional, o envolvimento contínuo pelo meio-ambiente selvático, a condição de reflexo e de refletor da decisão nacional de integrar a Amazônia no painel de desenvolvimento brasileiroeis alguns traços essenciais de um novo tipo de Universidade pública: a Universidade da Selva [...] (Neves, 1972).

Nesse contexto, a Universidade tinha a função de ser “[...] fator decisivo de apoio ao incremento das riquezas e à elevação do padrão cultural do povo, pela criação de recursos humanos indispensáveis, em número e qualificação, ao progresso regional [...]” (Dorileo, 1984, p. 23), sendo, para tal, essenciais as ações extensionistas, reunindo o ensino e a pesquisa.

Em 1972, a extensão na UFMT foi organizada por meio da Resolução n.º 02, em 4 de janeiro, pelo Conselho Diretor. Essa normativa estabeleceu a criação da Divisão de Pesquisa e Extensão no Departamento de Ensino e Pesquisa (Depes), subordinada à Vice-reitoria Acadêmica, com a responsabilidade de operacionalizar as atividades de extensão na universidade. Posteriormente, em 1973, houve uma nova modificação administrativa por meio da publicação da Resolução n.º 04, de 10 de janeiro, que alterou a estrutura organizacional da extensão na UFMT separando em Divisões a Pesquisa e a Extensão, mantendo-as no Depes (UFMT, 1972, 1973).

Nos dois primeiros anos de funcionamento, a avaliação da produtividade da Universidade tinha como critérios a formação de profissionais e pesquisadores, bem como a quantidade e a qualidade de serviços prestados à comunidade (UFMT, Catálogo Geral, n. 01.1973). Assim, para atender às diversas necessidades locais e regionais, foram oferecidos cursos e serviços especiais em parceria com entidades públicas e empresas privadas. Seus profissionais colaboraram na implementação da reforma do ensino de 1º e 2º graus no estado e na elaboração de projetos de assistência médica a comunidades indígenas (UFMT, Catálogo Geral, n. 01.1973).

Segundo o médico e professor Gabriel Novis Neves, o primeiro a ocupar a função de reitor, para desenvolver a cultura regional integrando a cultura indígena e as demais, foram criados o Museu Rondon de Etnologia e Arqueologia (1972), a Biblioteca (1972), o Museu de Arte e Cultura Popular (1974), o Ateliê Livre (1974), o Núcleo de Documentação e Informação Histórico Regional (NDIHR, 1976), a Escola de Samba (1976), o Zoológico com a fauna do Pantanal mato-grossense (1977), a Orquestra Sinfônica (1979), assim como o projeto Aripuanã (1973), em que foi criada a Escola de Administração da Amazônia, visando capacitar indivíduos para solucionar os problemas da região (Tavares R., 2001).

Além de tais ações, eram oferecidos cursos de extensão, seminários, congressos, exposições, feiras, conferências, festivais e outras atividades, conforme planejamento estabelecido pelos Departamentos, coordenações de cursos, órgãos suplementares ou pela própria Divisão de Extensão. Essas propostas deveriam ser submetidas à Administração Superior por meio da Vice-reitoria para Assuntos Acadêmicos. A condução das atividades de extensão era supervisionada pela Divisão de Extensão no Depes.

Neste contexto, reconhece-se que a extensão universitária poderia representar uma opção estratégica para a captação de recursos. Ao estabelecer parcerias com entidades públicas ou privadas, a universidade buscava agregar recursos que viabilizassem a realização das atividades de extensão. Essa perspectiva evidencia a compreensão de que a extensão não era meramente encarada como um serviço oferecido pela Universidade, mas como uma oportunidade de colaboração e cooperação, na qual a universidade poderia se beneficiar de recursos externos para sustentar suas iniciativas de extensão, ao passo que a comunidade poderia ser enriquecida por meio do conhecimento gerado pela universidade.

No entanto, entre os entraves encontrados, as ações extensionistas dependiam “[...] em parte da organização do departamento, de sua força de trabalho e de seu dinamismo”. Isto porque alguns departamentos ainda não haviam se envolvido em programas de extensão (Depes/UFMT, 1974, p. 10), provocando, portanto, a sobrecarga de trabalho dos docentes envolvidos nos projetos, o que, por sua vez, prejudicava a interação da universidade com a comunidade.

Com a escassez de recursos humanos, verificou-se a importância da participação dos estudantes nas ações de extensão desenvolvidas pela Universidade. Com o objetivo de incentivar o engajamento dos estudantes nas atividades extensionistas, a Divisão de Extensão publicou a Portaria n.º 637, de 7 de agosto de 1975, contendo orientações sobre a participação do estudante e do docente na extensão universitária.

De acordo com essa portaria, os estudantes que participassem de atividades de extensão receberiam pontos que seriam convertidos em créditos para a disciplina Estudo de Problemas Brasileiros II que era oferecida nos cursos de graduação. Além disso, eles poderiam receber créditos para as disciplinas que envolvessem horas de ensino prático e que estivessem alinhadas com a área profissional do curso do estudante. Vale destacar que a participação em atividades de extensão seria reconhecida como serviço de relevância, com o registro correspondente em seu histórico escolar.

Ademais, estabeleceu-se que os docentes designados para participar de programas de extensão deveriam seguir a carga horária semanal conforme orientações dos departamentos. Eles deveriam ser incentivados pelos departamentos a se engajarem em programas de extensão e, como resultado, teriam o direito as todas as vantagens salariais inerentes às suas funções. Deste modo, a atividade de extensão foi reconhecida como atividade relevante, aplicável tanto a docentes quanto técnicos servidores administrativos da universidade, devendo ser registrada em sua ficha funcional.

Por fim, dentro deste contexto indaga-se: como se deu a participação das mulheres docentes nas atividades extensionistas?

3 Mulheres na extensão universitária na UFMT

Ao ser criada a Divisão de Extensão em 1973, a chefia foi atribuída ao professor e psicólogo Nelson Zanata Gomes e, no ano seguinte, o cargo foi ocupado pela professora Neuza Luiza Ferreira Machado, sendo Norly da Conceição Monteiro da Silva a chefe de seção e Maria de Lourdes da Silva a oficial de administração.

Nos primeiros movimentos de organização administrativa da extensão, constata-se a liderança da mulher na área que era considerada fundamental na Universidade. A professora Neuza Luiza Ferreira Machado atuava no curso de Serviço Social, sendo uma das fundadoras da Faculdade do Serviço Social e uma das primeiras professoras do curso. Ainda, foi coordenadora do Departamento do Serviço Social em 1972 e, em 1974, foi designada para a chefia da Divisão de Extensão. Na equipe, portanto, havia duas mulheres à frente da organização das atividades de extensão na UFMT.

De acordo o Catálogo de 1973, a extensão universitária ocorria por meio da oferta de cursos e serviços, os quais são apresentados no quadro a seguir com suas respectivas coordenações e unidade às quais estavam vinculadas.

Quadro 1 Primeiras ações de extensão universitária na UFMT- 1973 

Ano Ações de extensão Coordenação / Professoras/es Unidade
1973 Curso de Administração de Pessoal Prof. Jonas Nolasco de Souza Departamento de Economia
1973 Curso de Perfil Contemporâneo da Literatura Prof. Dr. Affonso Romano de Sant’Ana, Dr. Gilberto Mendonça, Dr. João Antônio Neto, Moacir Cirne, Sérgio Waldec de Carvalho, Álvaro Sá e Wlademir Dias Pino. Departamento de Ensino e Pesquisa (Depes)
1973 Curso de Informação e Comunicação Jornalística Wlademir Dias Pino Depes
1973 Curso de História da Pintura Aline Figueiredo Depes
1973 Curso de Hidrometeorologia Prof. Ricardo Serrano Ramires Departamento de Engenharia Civil
1973 Curso de Microcomputador - Programa Prof. Walter Cavalheiro Teixeira Departamento de Engenharia Civil
1973 Curso de Treinamento para Agente Administrativo Professores Leonardo Slhessarenko, Laury G. de Souza, Benedito Zacharias da Silva, Aristides da Silva, Altino da Cunha Rego, Lourival Nunes da Silva Departamento de Economia
1973 Curso de Histologia Prof. Paulo Cézar de Figueiredo Departamento de História Natural
1973 Curso de Treinamento em Técnicas Didáticas Prof. Célio Cunha, Profa. Sílvia V. A. Correa e Prof. João Antônio Cabral Monlevade Departamento de Educação
1974 Assistência e atendimento às vítimas de enchente do Rio Cuiabá Profa. Neuza Luiza Ferreira Machado Depes
1974 Curso de especialização: preparar recursos humanos qualificados para atender às necessidades do Departamento de Letras, convênio com Universidade Católica do Rio de Janeiro Profa. Eneida do Rêgo N. Bomfim Depes
1974 Curso de Complementação Pedagógica. Curso realizado em convênio com a UFMT, o CENAFOR, por solicitação do Colégio Industrial Profa. Silvia Vitorino Alves Correa, Professores Nelson Zanata Gomes, João Antônio Cabral, Atasiano Alves da Silva e Benedito Pinheiro de Campos Departamento de Educação
1974 Curso Atualização em Serviço Social de Comunidade patrocinado pela CAPES para preparar recursos humanos para atender às necessidades do Departamento do Serviço Social. Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro: Maria da Gloria Nun Ferreira, Danilo Lima, Oneida Enne de Araújo, Helena Angelina Lavander e Edite Bezerra de Oliveira Neuza Luiza Ferreira Machado Depes
1974 Curso convênio entre a UFMT e a OSB. Oferecer aos graduados e alunos de Direito conhecimentos sobre o novo Código de Processo Civil Professores Edgar Muniz de Aragão, Galeno Lacerda, Hamilton Barros e José C. B. Moreira Departamento de Direito
1974 Curso Taxidermia Elementar. Fornece informações sobre empalhamento e preparação de animais Professores da UFMT Departamento de História Natural
1974 Curso de Relações Humanas realizado em convênio com a Polícia Militar de Mato Grosso e a UFMT Professores da UFMT Depes
1974 Curso História Geral da Arte Aline Figueiredo Depes
1974 Curso de Paleografia. Convênio com a Secretaria de Educação de Mato Grosso e UFMT. Objetivo do curso é oferecer conhecimento elementos da Paleografia que possibilita um levantamento histórico das raízes históricas de Mato Grosso Professores da UFMT Divisão da Biblioteca Central

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras (2023).

O quadro permite perceber que as ações foram realizadas pelos departamentos da universidade e abrangeram uma variedade de temas, incluindo educação, cultura, recursos humanos e cidadania, tendo como foco especial a formação de profissionais qualificados para atender às necessidades da comunidade acadêmica e comunidade externa. Os cursos eram abertos à comunidade acadêmica, à comunidade externa e, também, para formação específica dos servidores da universidade.

É possível observar que dos 27 professores ministrantes em curso de extensão somente quatro eram mulheres, isto é, 15%. Verifica-se que as mulheres estiveram à frente de cursos nas áreas das Ciências Humanas, o que demonstra que as áreas Ciências Aplicadas ou Ciências Exatas eram espaços considerados masculinos. A baixa representatividade das mulheres pode ser reflexo da sociedade brasileira da época que, em plena ditadura militar, conferia aos homens os espaços de liderança e, entre eles, os espaços acadêmicos.

Além dos cursos, outras atividades foram realizadas pelos departamentos da Universidade, nas quais percebemos a atuação das mulheres. Entre elas, podemos destacar a professora Maria Manuela Renha Novis Neves, formada em Ciências Sociais, que assumiu a coordenação regional do Projeto Rondon, com atuação na região de Mato Grosso.

Foi ela a responsável pela elaboração do planejamento do Projeto e pela apresentação em reunião para prefeitos de 34 municípios do estado. Na programação, falou sobre o funcionamento do Projeto Rondon, seu histórico, filosofia, programas e ações integradas, como os planos de atuação, convênios, formação de equipes, planejamento e operações das atividades (UFMT, 1972).

O Projeto Rondon, criado em 11 de julho de 1967, era ligado ao Ministério do Interior e tinha como finalidade mobilizar os estudantes universitários para integrar a juventude brasileira no processo de desenvolvimento nacional, principalmente nos estados da região amazônica e do interior brasileiro para o desenvolvimento social e econômico de suas comunidades (Passarinho, 2007, p. 3).

O Projeto revela-se como um dos primeiros movimentos da universidade com ações de extensão com a comunidade, principalmente por desenvolver atividades em regiões consideradas pelo estado sem desenvolvimento.

No ano de 1975, Maria Manuela Neves foi designada pela reitoria para a tarefa de implantação da estrutura e organização do Centro Rural Universitário de Ação Comunitária (Crutac), envolvendo as regiões rurais de Mato Grosso (UFMT, 1975).

O Crutac foi criado em 1966 pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte e se difundiu para todo o estado brasileiro, com o “[...] objetivo de realizar o treinamento dos estudantes e assistência às comunidades rurais carentes”. Esse programa foi incorporado por várias universidades do país e disseminado pelo Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (Gatti, 2019, p. 82).

A Resolução n.º 09, de 15 de fevereiro de 1974, aprovada pelo Conselho Diretor da UFMT, criou o Crutac com o objetivo de envolver a universidade com as demandas da comunidade, “[...] de forma a torná-la produtiva a nível das comunidades [...]”, e proporcionar aos estudantes um espaço de integração da universidade e comunidade. O artigo 2º destaca que um dos objetivos do programa era organizar e sistematizar a extensão universitária, “[...] a nível de prestação de serviço à comunidade”, na perspectiva de assegurar ao estudante a possibilidade de se envolver em um processo “[...] contínuo de mudanças socioeconômicas e culturais da região em desenvolvimento” (UFMT, 1974, p. 1-2).

Outras mulheres também fizeram parte da equipe técnica do Crutac, exercendo as funções de oficiais administrativas atuando na administração executiva e operacional do projeto, de professoras colaborando na assistência técnica das atividades, na organização e ministração de cursos, assim como outras tantas que não foram identificadas pela falta de registro em documentos oficiais até agora consultados.

No quadro 2, retratamos a função ocupada por algumas mulheres que atuaram na organização das ações de extensão universitária na UFMT.

Quadro 2 Mulheres que participaram da organização da extensão universitária na UFMT (1972-75). 

Ano Nome Cargo
1972 Manuela Renha Novis Neves Coordenadora Regional do Projeto Rondon
1974 Neuza Luiza Ferreira Machado Chefe Divisão de Extensão
1974 Maria de Lourdes Bandeira De Lamônica Freire Assessoria Técnica do Crutac
1974 Janet Jacob Assessoria Técnica do Crutac
1974 Adnair Soares Souza Oficial em Administração - Crutac
1974 Miracy Macedo Noronha Oficial em Administração - Crutac
1974 Manuela Renha Novis Neves Coordenação Crutac
1975 Miramy Macedo Assessoria Técnica do Crutac
1975 Jurcelina Pereira Mendes Assessoria Técnica do Crutac

Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras (2023).

Apesar de ainda não terem grande representatividade, percebe-se a participação das mulheres nos projetos extensionistas da UFMT. Segundo Soihet (2013), para as mulheres se manterem nos espaços públicos, sejam eles políticos e/ou acadêmicos, tem sido uma busca constante, pois sempre foram consideradas inadequadas para as atividades públicas, “[...] afirmando que o lar era o local apropriado à sua inserção social e o cuidado com a família, sua ocupação prioritária” (Soihet, 2013, p. 219).

Ainda assim, a mulher brasileira buscou ao longo da história a equiparação de seus direitos aos dos homens, em especial no acesso à educação e ao trabalho remunerado. No entanto, poucas foram as que conseguiam entrar no ensino superior, uma vez que a maioria encaminhava-se para as escolas normais com a intenção de se prepararem para melhor cuidar de seu lar ou ainda ensinar a outras os afazeres da casa. Esta concepção ainda permeia os espaços públicos, delegando a elas atividades que historicamente são caracterizados como trabalho para mulheres (Soihet, 2013).

A conquista do espaço público, principalmente por meio da educação, oportunizou às mulheres adquirir formação específica para atuar, sobretudo, no processo educacional. Quer dizer, a inserção das mulheres como profissionais da educação proporcionou o direito de exercerem uma profissão para a liberdade e autonomia em suas vidas e lares, o que evidencia a ascensão feminina nos espaços públicos e educacionais, mesmo que estes sejam permeados por indiferenças (Perrot, 2020).

4 Considerações finais

A extensão universitária nos primeiros anos da UFMT foi organizada e estruturada com três funções específicas: promover cursos e eventos de extensão; articular e manter contato com a comunidade; e buscar junto aos departamentos e outros setores da instituição e da sociedade ações que pudessem atender à comunidade acadêmica e seu entorno, conforme as áreas de atuação da UFMT.

As fontes documentais analisadas permitiram compreender que a participação das mulheres nos programas e nos projetos de extensão possibilitou a ascensão feminina no espaço acadêmico. É possível observar que as mulheres, além do espaço acadêmico, se impregnaram nas diferentes localidades do estado de Mato Grosso na organização da extensão universitária por meio de cursos, eventos, prestação de serviços para o atendimento das necessidades da sociedade mato-grossense.

Portanto, embora em número pequeno, as mulheres ousaram e estiveram à frente das unidades administrativas de organização da extensão universitária nos anos iniciais da UFMT, na execução e no acompanhamento das atividades nos diferentes espaços do estado de Mato Grosso.

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UFMT. Portaria do Gabinete da Reitoria nº 001/A/1975, de 02 de janeiro de 1975. Tornar sem efeito as portarias de designação de pessoal, para quaisquer cargos junto ao Crutac e designar Maria Manuela Renha Novis Neves para responder pelo Crutac. Cuiabá: Reitoria, 1975. [ Links ]

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UFMT. Resolução nº 09/74, de 15 de fevereiro de 1974. Fica criado o Centro Rural Universitário de Ação Comunitária - Crutac - MT, nesta Universidade. Cuiabá: Conselho Diretor, 1974. [ Links ]

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Recebido: 26 de Agosto de 2023; Aceito: 17 de Novembro de 2023; Publicado: 04 de Dezembro de 2023

Sandra Jung de Mattos, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)

ihttps://orcid.org/0000-0002-0210-6656

Doutoranda e mestra em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFMT. Servidora pública federal - técnica administrativa em Educação - pedagoga da UFMT. Graduação em Pedagogia, Habilitação em Administração Escolar e Séries Iniciais pela Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro).

Contribuição de autoria: Redação-Rascunho original.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/7315605216598105

E-mail: sandrajmattos@gmail.com

Elizabeth Sá, Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto de Educação

iihttps://orcid.org/0000-0002-5861-7535

Pedagoga, mestra em Educação pela UFMT e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP). Participou do estágio de doutoramento na Universidade do Porto (UP).

Contribuição de autoria: Redação-Revisão e edição.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1975779880933099

E-mail: elizabethfsa1@gmail.com

Editora responsável: Lia Machado Fiuza Fialho

Pareceristas ad hoc: Cesar Castro e Manuelle Araújo da Silva

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