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Educação & Formação

versión On-line ISSN 2448-3583

Educ. Form. vol.8  Fortaleza  2023  Epub 23-Feb-2024

https://doi.org/10.25053/redufor.v8.e11577 

Artigos

Eluned Morgan e a educação escolar na Patagônia do século XIX1

Eluned Morgan y la educación escolar en la Patagonia del siglo XIX

Sônia Maria da Silva Araújo, Responsável pela conceituação, curadoria de dados e produção e análise de dados e redação - rascunho original1  i
http://orcid.org/0000-0001-8240-9704; lattes: 5826372225106245

Lucia Lionetti, Responsável pela curadoria dos dados e supervisão do manuscrito2  ii
http://orcid.org/0000-0003-4222-4515

1Universidade Federal do Pará, Belém, PA, Brasil

2Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina


Resumo

O artigo trata da educação na América Latina a partir da experiência de vida de Eluned Morgan (1870-1938), escritora, oriunda de uma família galesa, migrada para a Argentina, Patagônia, Vale de Chubut. O objetivo é entender como a educação na Patagônia se torna um projeto educacional de Eluned Morgan e refletir sobre as implicações deste projeto numa região que nasce sob o impacto do Estado Nacional com a chamada “Conquista do Deserto”. Como inspiração teórica, fundamenta-se na história cultural e na história dos intelectuais. Os resultados demonstram que Eluned Morgan assume um lugar de importância na região ao usar a pena de escritora para divulgar suas ideias educativas. Formada intelectualmente sob uma visão de mundo fronteiriça, permeada pela cultura galesa, cultura indígena da Patagônia e cultura hispano-americana, a escritora defendeu a educação como instrumento necessário para o desenvolvimento econômico, social e cultural do Sul argentino.

Palavras-chave Eluned Morgan; educação; Patagônia.

Resumen

El artículo aborda la educación en América Latina a partir de la experiencia de vida de Eluned Morgan (1870-1938), escritora, de familia galesa, migrada a Argentina, Patagonia, Valle del Chubut. El objetivo es comprender cómo la educación en la Patagonia se convierte en un proyecto educativo de Eluned Morgan y reflexionar sobre las implicaciones de este proyecto en una región que nació bajo el impacto del Estado Nacional con la llamada “Conquista del Desierto”. Como inspiración teórica, se basa en la historia cultural y la historia de los intelectuales. Los resultados demuestran que Eluned Morgan asume un lugar importante en la región al utilizar la pluma de escritora para difundir sus ideas educativas. Intelectualmente formada bajo una cosmovisión fronteriza, permeada por la cultura galesa, la cultura indígena patagónica y la cultura hispanoamericana, la escritora defendió la educación como un instrumento necesario para el desarrollo económico, social y cultural del Sur argentino.

Palabras clave Eluned Morgan; educación; Patagonia.

Abstract

Based on the life experience of Eluned Morgan (1870-1938), a writer from a Welsh family, who migrated to Argentina, Patagonia, Chubut Valley, the article deals with education in Latin America. The aim is to understand how education in Patagonia becomes an educational project by Eluned Morgan and reflect on the implications of this project in a region that was born under the impact of the National State with the “Conquest of the Desert”. Its theoretical inspiration is based on cultural history and the history of intellectuals. The results show that Eluned Morgan assumes an important place in the region by using the quill of a writer to disseminate her educational ideas. Intellectually formed from a border view of the world, permeated by Welsh culture, Patagonian indigenous culture, and Spanish-American culture, the writer defended education as a necessary instrument for the economic, social, and cultural development of southern Argentina.

Keywords Eluned Morgan; education; Patagonia.

1 Introdução

Este estudo sobre Eluned Morgan se articula a outros nos quais colocamos no centro da discussão a educação na América Latina, especialmente no século XIX, período das lutas de libertação e independência política das colônias espanholas na América e do Brasil. No contexto dessas lutas, a participação de mulheres, embora ocultada pela interpretação patriarcalista da história no continente, não pode deixar de ser destacada. Mas, para além de uma participação direta nas lutas de independência, como foi o caso da atuação de Manuela Sáenz Thorne (1797-1856), as mulheres realizaram um trabalho importante do ponto de vista das representações e do plano cultural. Suas publicações e atuações no campo da educação, além das contestações que faziam em relação à escravidão e ao patriarcado, demonstram que elas demandavam uma compreensão mais aprofundada da independência ao defenderem uma liberdade ampliada, para além da mudança política. Ao longo do século XIX, a educação tornou-se um instrumento de liberdade e, para aquelas mulheres que puderam contar com um capital cultural, um recurso necessário na participação do debate em torno da independência, da formação do Estado e da configuração da nação. Nesta direção, lançam um olhar mas intenso e extensivo sobre a ideia de liberdade.

Tão importante quanto o que enunciavam e faziam as mulheres do século XIX no campo da educação é a relação de seus ditos com suas histórias. Por caminhos adversos, que explicam a produção intelectual dessas mulheres em interseção com suas biografias, as construções, com suas contradições, são, em geral, material necessário para a compreensão do lugar que a educação assumiu nos Estados nacionais latino-americanos, principalmente se se consideram a circulação de ideias pedagógicas europeias na região e as condições particulares de grupos humanos originários e da diáspora negra.

Na Argentina, durante as últimas décadas do século XIX, assistiu-se, a um só tempo, ao processo de unificação nacional, configuração do Estado, modernização econômica baseada na agroexportação e diversificação social com a chegada de contingentes imigrantes. Como entendiam as elites dirigentes liberais, a estabilidade da República, a ordem e o progresso poderiam ser consolidados com a educação do cidadão. Era preciso impor o império da civilização, erradicando os sinais da barbárie, e buscar construir um país “branco e europeu”, sem vestígios de “índios”, mestiços, negros, gaúchos “mal nascidos” ou “outras raças degradadas” (Sarmiento, 1900).

Da mesma forma, nesta configuração da nação argentina, promoveu-se a educação da mulher como “guardiã da República” e “anjo do lar”, “esposa dos cidadãos e “mãe dos futuros cidadãos da República” (Lionetti, 2007). A invenção da nação foi impulsionada por uma concepção de política, sociedade e cultura ligada ao gênero (Masiello, 1997).

No contexto dessa realidade, nasce Eluned Morgan, no interior da embarcação fluvial Myfanwy, em alto-mar, durante viagem de seus pais entre País de Gales e Patagônia, em 20 de março de 1870. Seu pai construía, junto com outros imigrantes galeses, uma estrada de ferro em Chubut para escoar produtos comercializados da Argentina. Entre Chubut e País de Gales, Eluned Morgan torna-se a primeira escritora da Patagônia e da região da cidade Trelew (que significa “Vilarejo de Luis”, em homenagem a Lewis Jones, pai de Eluned Morgan), que passava por um processo de colonização tardia, incentivada pela Argentina livre, sob a governação de um projeto inspirado no modelo de barbárie europeia ao tentar extinguir da terra argentina os povos originários. É na fronteira do mundo ameríndio, representado pelos indígenas da Patagônia, e do mundo “civilizado” europeu que Eluned Morgan formará seu universo de representações e defenderá a educação como instrumento de formação para o esclarecimento entre os indígenas da Patagônia. Embora as escritoras e viajantes tivessem que lidar com uma estrutura discursiva e um sistema de representações dos quais eram objetos, e não sujeitos (Misereres, 2010), Morgan, solteira, alfabetizada e educadora, configura (conforme aparece em seus livros) uma imagem de escritora que se distancia do perfil de “anjo do lar” e de “guardiã da colônia” (Cimadevilla, 2020).

2 História cultural e história dos intelectuais: as bases teórico-metodológicas para a compreensão do lugar de Eluned Morgan na educação escolar da Patagônia

A pesquisa tem como fundamento teórico a história cultural e a história dos intelectuais, isso porque entendemos que o intelectual se produz no âmbito da cultura, sendo esta entendida, conforme Williams (1969), como um sistema de significados inter- -relacionados que dá sentido a práticas. É a partir desse sistema que estruturas de pensamento, utilizagens mentais, são constituídas, promovendo no sujeito sua capacidade intelectual. Por sua vez, inspiradas em Said (2005, p. 25), compreendemos ser o intelectual um indivíduo que assume um “papel público na sociedade”, dotado de “[...] uma vocação para representar, dar corpo e articular uma mensagem, um ponto de vista, uma atitude, filosofia ou opinião para (e também por) um público”, apresentando um desempenho social que lhe é único.

No caso particular de Eluned Morgan, para este artigo, trataremos das formas institucionalizadas e objetivadas que marcaram a maneira visível como se expõe no seu grupo, classe social e comunidade. Trata-se de abordar Eluned como mulher que, apesar de viver sob um regime patriarcal, deixou registros de seus pensamentos e rebeldia, desafiando os cânones do dever feminino da época. O acesso ao capital cultural da escrita permitiu-lhe deixar registrados seus “atos de fala” e sua marca intelectual dissidente de uma ordem social destacada pelos desígnios das elites masculinas brancas. Assim, ela deixou um registro distintivo com suas “histórias sobre a Patagônia”. Como alerta Misereres (2010, p. 38):

[...] aún cuando la escritura femenina ha sido partícipe del corpus textual dentro del relato de eviajes, ésta no ha conformado a lo largo de la historia una tradición y una serie continua con la que se pudo divisar entre los hombres en los diferentes períodos de exploraciones2.

Apesar de serem casos isolados que dificultam a constituição de um corpus, conforme explica Cimadevilla (2020), também houve mulheres que viajaram e escreveram sobre a Patagônia. Focando, então, numa espécie de inversão da tradição, situamos Eluned Morgan entre Floirence Dixie (a viajante inglesa que publicou Across Patagonia em 1981, Nova Iorque) e Ada María Elflein (a professora e jornalista nascida em 1880, cujas crônicas sobre a Patagônia foram impressas no La Prensa, entre março e maio de 1916). Mas, ainda assim, destaca Cimadevilla (2020, p. 104), Morgan se diferencia destas por ter crescido em terras patagônicas. Desse modo, “[...] su mirada no es la de una extrajnera extraordinaria3.

3 Do suposto deserto à ocupação galesa: a Patagônia de Eluned Morgan

A subjetividade que forma Eluned Morgan, como não poderia deixar de ser, encontra-se intrinsecamente ligada à realidade histórica das regiões entre as quais viveu sua infância, juventude e fase adulta: País de Gales e Patagônia. As experiências na Patagônia, considerada pela Europa Ocidental como um lugar de selvageria, habitada por povos bárbaros, os indígenas, em contraposição à realidade compartilhada em País de Gales, direcionarão suas reflexões, nas quais a educação receberá especial destaque.

Ao longo do século XIX, os diferentes grupos indígenas mantiveram trocas comerciais entre si, mas também travaram confrontos pelo controle das terras. Com a sociedade hispano-crioula, as relações oscilavam entre o comércio pacífico e o confronto numa “[...] frontera que devino en una construcción social, un antojadizo margen el cual se sucede como producto de un contacto, una disputa, un cruce, una mestización4 (Pérez, 2015, p. 11). Sem dúvida, um dos maiores riscos para os moradores próximos a essas fronteiras era sofrer um ataque de algum “bandido” indígena. Contudo, a fronteira, longe de ser um limite militar, era uma área de frequentes e constantes intercâmbios inter e intraétnicos. Os encontros pacíficos, baseados no intercâmbio comercial com algumas parcialidades, coexistiram com os confrontos e o avanço progressivo da militarização, especialmente na primeira grande campanha pelas terras indígenas promovida durante o chamado interregno rosista, em 1833, e o segundo governo de Juan Manuel de Rosas (1835-1852). O “encontro pacífico” com alguns dos grupos indígenas foi acompanhado por uma forte campanha de extermínio de povos considerados inimigos (Ratto, 1998).

Após a queda do regime rosista e a subsequente divisão entre a Confederação Argentina e o Governo de Buenos Aires, a unificação nacional ocorreu com a batalha de Pavón, em 1861, na qual o general Bartolomé Mitre se impôs ao general Justo José de Urquiza e, em decorrência, a prevalência do trabalho de promoção da construção da República. Durante as chamadas presidências liberais, entre 1862-1880 (com os sucessivos governos de Mitre, Sarmiento e Avellaneda), foi organizado o exército nacional, que reprimiu os últimos motins federais e, por sua vez, a expansão da fronteira para os planaltos patagônicos.

Depois dessas campanhas militares, com um claro objetivo econômico de incorporar as terras do Sul à produção de ovinocultura para liberar a região litoral- -pampeana para a produção de cereais e gado, foi hasteada a bandeira de um trabalho civilizatório sobre os “povos bárbaros”. Sob o pretexto de um Estado-nação em construção, recuperavam-se as ideias fundantes da “missão civilizadora” do europeu do Ocidente, que via os povos originários do “novo mundo” como seres sem alma, destinados à selvageria caso não fossem submetidos à conversão católica, aos valores e à moral das sociedades imperialistas da Europa, mas sob o manto do liberalismo, que, aliás, estava presente em San Marti e Bolivar, expoentes máximos das lutas de libertação política da América espanhola.

Isso resultou, a partir do segundo quartel do século XIX, na estratégia do governo argentino de dominar as terras consideradas insalubres e despovoadas da Patagônia em terras de conquista, estabelecendo um processo de enfrentamento contra os povos indígenas e de intensificação de uma luta a ser travada sob a ideia-chave de progresso contra o atraso. Durante as duas últimas décadas do século XIX e no início do século XX, depois daquele “[...] furacão que chamamos de progresso”, milhares de pessoas morreram e desapareceram (Pérez, 2015).

As expedições militares de conquista e ocupação ocorrerão na década de nascimento de Eluned Morgan, 1870, e intensificarão as relações conflituosas entre os indígenas e o governo da Argentina, que resultaram na redução populacional dos povos originários e no avanço de um capitalismo dependente, no qual a ocupação de terras por estrangeiros para a criação de ovelhas e bovinos, com vistas à exportação, expulsava os povos originários de suas terras ao serem cercados pela expansão do latifúndio e do fortalecimento de uma oligarquia agrária, concentrada na produção da pecuária. Os grupos indígenas testaram diversas estratégias para se adaptarem às novas regras do circuito econômico, com a venda ou troca de peles, penas e tecidos e com a criação de cavalos, oferecendo seus serviços como barqueiros dos viajantes e de agentes do estado (juízes do paz, policiais, inspetores, professores), ou como trabalhadores, rastreadores ou domadores na colônia galesa e em fazendas de treinamento.

Para o desenvolvimento desta economia, tentava a Argentina se integrar ao mercado internacional de exportação e, para tanto, investir na construção de uma infraestrutura mínima capaz de fazer escoar a produção. É no âmbito desse investimento que toda uma comunidade galesa se instala em Chubut, com a participação ativa da família de Eluned Morgan.

Os galeses começam, assim, a chegar à Patagônia em 1860 e a ocupar o que era considerado deserto pelo Estado nacional comandado a partir de Buenos Aires. Na década de 1870, parte de seu território já pertencia à Argentina, fruto da política de expansão, assim como o Pampa, resultante do enfrentamento com os indígenas. Formalizada com a Lei nº 1.530, que entra em vigor em 1884, a Patagônia foi inserida no sistema administrativo argentino como Território Nacional (Argentina, 1884). Nos anos seguintes, com as ocupações em franco estado de expansão, numa demonstração de que a “civilização" vencia a “selvageria” com a morte e captura de lideranças indígenas, sequestro de crianças e mulheres, a política fortalecida era de consolidação da ocupação via projeto ideológico de “ordem e progresso”, máximas do positivismo transportado, mais uma vez, da Europa.

Os Pampas e a região da Patagônia eram terras povoadas por diversos grupos indígenas, aos quais se somavam os povos Mapuche, vindos do outro lado da Cordilheira dos Andes. A “araucanização” ou “mapuchização” da Patagônia foi um processo que teve origens completamente pacíficas. No início do século XVIII, nas feiras de El Cayrú e Chapaleofú, situadas nas montanhas do pampa úmido, territórios atualmente ocupados pela República Argentina, havia uma importantíssima atividade comercial e troca de produtos entre os povos nativos das planícies pampeanas e as montanhas da atual província de Buenos Aires com os povos do Norte da Patagônia em ambos os lados da Cordilheira dos Andes. Nessas feiras, chamadas pelos jesuítas da época que os registraram de “Feiras dos Ponchos”, eram trocados vários tipos de mercadorias: gado, produtos agrícolas, sal, bebidas e roupas, como ponchos, botas e casacos. Desde o início do século XVIII, com vistas à troca e comercialização de produtos, já existia um princípio de intercâmbio cultural entre os diferentes povos que viviam desde os pampas úmidos, Cordilheira dos Andes e costa do Oceano Pacífico. Entretanto, depois desse cenário pacífico, confrontos ocorreram, o que resultou no desaparecimento dos grupos originalmente estabelecidos nos Pampas argentinos e na região da Patagônia. Embora o nome “Mapuche”, estritamente, pretenda identificar os povos de Arauco, genericamente é aplicado a todos os indígenas que falavam ou falam a língua Mapuche ou “Mapudungún”, incluindo também vários grupos surgidos da “mapuchização” dos povos originários do atual território argentino, entre os séculos XVII e XIX, deslocados em direção ao Leste da Cordilheira dos Andes. Esses povos Mapuche foram atraídos pelas pastagens e pela pecuária, conheceram o cavalo e rapidamente compreenderam as vantagens que esses animais poderiam lhes proporcionar na caça e na guerra, duas atividades que, desde tempos imemoriais, eram típicas de sua idiossincrasia. Seus costumes, sua rebeldia e sua vocação mais combativa se impuseram a outros povos (Mandrini; Ortelli, 1995; Nacuzzi, 2000; Ortelli, 1996).

De parte dos galeses, a industrialização inglesa exigiu novos recursos, como o ferro e o carvão, o que os levou a procurar esses minerais em terras estrangeiras. As terras do País de Gales sofreram fortes pressões decorrentes das exigências promovidas pela economia industrial, o que colocou em risco sua cultura, costumes e religião. Uma alternativa para muitos dos galeses foi imigrar para outros territórios. Os que idealizaram e comandaram a migração foram mobilizados pela necessidade de salvaguardar a sua cultura. Do lado dos imigrantes, a ideia era se deslocar para um país desabitado, que não estivesse sob nenhum governo próprio, para que pudessem formar e manter seus costumes nacionais e ser um elemento construtivo, e não ser assimilado pelo seu país adotivo. Do lado do governo argentino, a migração de galeses para a região era resultado de uma política de incentivo de ocupação de estrangeiros brancos para dar fim a um território considerado desértico no plano ideal, o que reforçava a intenção política de se dar continuidade ao processo de extinção dos povos originários e de construção de uma identidade nacional distante da cultura indígena e próxima da europeia. Para isso, o governo fez propaganda em países europeus das condições climáticas favoráveis da região e ofereceu terras em troca da produção agrícola e pecuária. Esclarece Pompeu (2012) que o governo fazia propaganda de oferta de terras e incentivos nos jornais de Gales. Na década de 1860, anos antes do nascimento de Eluned Morgan, a partir de uma comitiva galesa para conhecer os termos das ocupações, começa o processo de migração e os galeses se adaptam com facilidade ao lugar. Nas negociações, as terras foram concedidas com liberdade administrativa aos imigrantes, que podiam permanecer cultivando seus costumes, tradições e língua. Essas vantagens garantiram, inclusive, que se ministrasse, na escola criada por Eluned Morgan para meninas, em Chubut, o ensino em língua galesa. Essa liberdade foi sendo tolhida à medida que o governo provocava a necessidade do ensino do espanhol e da cultura nacional em construção no sentido de “argentinizar” a Patagônia.

Na qualidade de filha de colono, Eluned Morgan, que acompanhava o pai nas expedições por todo o Vale de Chubut, com vistas à localização de terras cultiváveis para a ocupação de seus conterrâneos, coloca-se em sua obra como nativa da Patagônia, ainda que sob um espírito galês.

Como apontou Pérez (2020), os povos indígenas cederam terras aos colonos galeses. A presença indígena foi permanente na colônia galesa, tanto para aguardar os envios de rações acordados com o governo nacional como para vender peles e penas de choique (emas), além de tapetes tecidos, através dos quais sustentavam o seu modo de vida e organizavam as suas relações sociais. Essa foi a história de um intercâmbio cultural e econômico fluido, de uma coexistência pacífica, como Gavirati (2017) muito bem analisou.

A essa reflexão sucedem considerações importantes que Eluned faz às ações militares do governo argentino contra as populações indígenas. Dando continuidade à sua narrativa de viagem pelos campos e montanhas dos Andes, ela então se reporta às tumbas dos povos originários saqueados e mortos em nome do projeto nacional argentino. Tais considerações são feitas em meio a uma história de jovens indígenas perseguidos pelas ações militares.

Identificando seu povo como diferente dos militares argentinos, Eluned passa então a construir uma interpretação positiva da relação dos galeses com os indígenas. Em meio a uma narrativa emocionada em relação ao sofrimento dos indígenas, ela destaca “Los galeses del Chubut y los indios de la Patagonia han convivido ya por espacio de cuarenta años en perfecta paz y armonía5.

Com sua experiência de percorrer o território “ocupado” pelos povos indígenas, Eluned usa sua pena para descrever e relatar o que vê dessa realidade social a partir de uma posição cuja percepção e sensibilidade transcende o binômio civilização-barbárie. Os povos indígenas não são apresentados por ela como “alteridade”, como expressão do perigo para a nação devido à sua condição de “selvagens”. Ela deixa sua marca, sua nuance no conjunto de histórias fundadoras da nação que apresentavam aquele mundo patagônico como o “deserto”, que devia ser conquistado e civilizado. Na sua concepção, havia ali povos com suas culturas e que poderiam ser “nossos amigos”.

4 Eluned Morgan: vida e obra na fronteira

Como descrito linhas atrás, Eluned Morgan nasceu em 1870, em alto-mar, durante a viagem de um grupo de galeses para a ocupação da Patagônia, e faleceu em 1938. Era a filha menor de Ellen Gryffydd e Lewis Jones. Seu pai foi um dos líderes da colonização galesa no Vale de Chubut, responsável pela primeira gráfica e fundador de dois jornais: Elin Breinad (Nossos Direitos), em 1879, e Y Drafod (O Mentor), em 1898. A filha destacou-se na vida cultural e literária da colônia e é considerada a primeira escritora patagônica. Esclarecida, vivia entre a colônia e o País de Gales e foi educada numa escola galesa na Argentina. Essa mulher de águas internacionais não usou por muito tempo o sobrenome do pai, tendo optado por ser chamada de Morgan, como a avó. As crônicas de Chubut contam que Eluned fumou cachimbo, atravessou a província a cavalo e viajou por diversas regiões do mundo, assumindo um modo de ser e viver bastante distante do modelo de feminino “sob o âmbito da domesticidade”, predominante no século XIX, conforme destacam Costa, Mota e Santana (2022). Na contramão de certos cânones genealógicos e de época, mas com o privilégio de acessar o capital cultural da escrita, redigiu ensaios e livros de literatura sobre a colônia de Chubut. Em uma de suas grandes obras, Hacia los Andes, narra a experiência que viveu em uma viagem pela Cordilheira dos Andes, depois da grande inundação ocorrida em 18996. Fundou o Colégio Camwy, de Gaiman, o primeiro colégio secundário da Patagônia. Publicou artigos no periódico Y Drafod (O Mentor), de propriedade de seu pai, um homem empreendedor, que construiu a ferrovia entre Puerto Madryn e o Valle do Rio Chubut.

Considerada uma mulher independente e avançada para o seu tempo, estudou nas melhores escolas da província de Buenos Aires e assumiu uma personalidade forte. Ainda muito jovem, começou a editar o periódico Y Drafod e a viajar para Gales. Sua família gozava de condição econômica privilegiada, o que lhe assegurou viagens culturais pela Europa. Diz Castillo (2013) que esse contato com a Europa ofereceu-lhe amplo conhecimento sobre os temas educativos, o que influiu decisivamente em seus posicionamentos. É com base nestes que Eluned Morgan assume, politicamente, o que segue:

Los galeses del Chubut no procuraron convertir ni civilizar a los indios, pero les extendieron su mano fraternal e intercedieron en su favor repetidas veces en el Congreso de la Capital cuando la persecución los abrumaba, amenazando con extinguirlos por completo. Los habitantes del desierto comprendieron que los recién llegados no habían arribado a sus tierras para despojarlos de las mismas ni tampoco para oprimirlos, sino para convivir con ellos pacíficamente. El indio enseñó al galés a ser un hábil cazador, lo cual salvó a la colonia del hambre muchas veces. Le enseñó la confección de todo tipo de aperos para caballos, utilizando el cuero de animales silvestres. Todo ello de mucho valor para el nuevo establecimiento al comienzo de su vida agrícola en una tierra extraña, lejos de todas las comodidades7 (Morgan, 2007, p. 56-58).

Em vista disto, torna-se compreensível a relação que Eluned teve com os indígenas da Patagônia, pois, influenciada por seu pai, passou a defender as conquistas e projetos para aqueles povos. A partir de uma visão colonizadora dos povos indígenas e do próprio processo de dominação daquele lugar, do qual sua família era protagonista, ela se colocou, contraditoriamente, ao lado dos indígenas e defendeu a necessidade de um processo educacional que lhes garantisse condições de existência em meio a um projeto de desenvolvimento que poderia eliminá-los.

Por ter estudado em escola de língua galesa, inglesa e espanhola, Eluned Morgan foi uma das poucas pessoas trilingues na colônia de Chubut. Diz-se que seu pai depositou todas as suas expectativas nela, pois demonstrava ser uma criança inteligente, de personalidade forte. De fato, foi educada para ficar à frente dos negócios de Lewis Jones, quando ele estivesse ausente, sempre sendo o seu braço direito.

Como já foi observado, Eluned Morgan fez várias viagens durante toda a sua vida, com isso obteve conhecimento de mundo; conheceu outras culturas, apreciou paisagens, teve contato com pessoas influentes no campo da literatura. Essas viagens lhe garantiram a publicação de suas obras, como o livro Hacia los Andes, fruto de uma excursão que fez pelos Andes.

Nessa obra, Eluned demonstra seu vínculo com a terra onde foi criada, sua relação com as pessoas que lá habitavam, mostrando-se perplexa com o tratamento inadequado proporcionado às populações originárias. Mesmo sendo tão pacíficas, estas populações eram, não raro, hostilizadas pelos colonos e pelo governo argentino. Ela diz:

Es inmensamente triste el pensar que a antiguas razas tan pacíficas, tan mansas, de fuertes facultades, sanos de cuerpo y alma, de tan antiguo origen, de tan encantadora historia, el hombre blanco con su cristianismo y su maldita bebida asola y destruye cual fuego arrasador por dondequiera que vaya. ¿Acaso es necesario que ello sea? Es la pregunta que ha atravesado mi corazón durante cien veces al meditar sobre la suerte de los nativos nómades de todo país: los Pieles Rojas de Norteamérica y los Maoríes llenos de encanto de Oceanía, y los antiguos amigos de mi niñez en Sudamérica8 (Morgan, 2007, p. 61).

Ela lembra também de seus amigos de infância, especialmente Kengel, filho de um cacique, que foi seu companheiro de escola, com quem realizou junto tarefas escolares. Destaca que os estudantes oriundos de famílias indígenas tinham uma caligrafia excepcional e uma singular paciência para aprender. Como explica Cimadevilla (2020), Morgan ousa em Hacia los Andes descrever uma Patagônia sem cativos e muito menos desértica. Ao contrário, fala de uma Patagônia densamente ocupada, desmontando estereótipos produzidos por viajantes. Valendo-se da condição privilegiada de mulher branca e alfabetizada, acrescenta uma visão perturbadora sobre aquele lugar pelo qual nutria grande afeto.

Eluned foi uma autora muito conceituada para a época. Demonstrava em suas obras sentimento. Descrevia suas experiências pessoais fazendo com que o leitor sentisse interesse pela leitura e curiosidade em visitar os lugares que descrevia em seus textos.

Mesmo vivendo em uma época na qual sua cultura de origem se pautava pela moral vitoriana, que dava destaque ao homem e destinava às mulheres os trabalhos domésticos, como bem descreve Morgan e Williams, em 1882, em Trethodau ar Drevnusrwydd Teuluaidd (Ensaio sobre a Organização Familiar), ela, como algumas outras poucas autoras, destaca-se na literatura do Reino Unido por produzir uma literatura engajada, de escrita permeada por experiências singulares, como bem destacou a prefaciadora e tradutora de Hacia los Andes.

Segundo Castillo (2013), ela era fascinada pelo espaço geográfico patagônico, pela mitologia e pelas histórias ancestrais dos povos originários. Para esta autora, a visão de mundo que Eluned sustentava era fortemente marcada pelas viagens que havia feito pelos Andes, pela Argentina de um modo geral e mesmo pelo País de Gales. Essa liberdade de viajar - conhecer outros lugares e culturas - foi determinante na sua formação intelectual, além de lhe proporcionar um vasto conhecimento educacional e grande abertura mental.

Depois de sua primeira viagem ao País de Gales, Eluned Morgan volta à colônia de Chubut com projetos educacionais que queria colocar em prática. Por volta de 1890, criou a primeira Escola Secundária da região e o Internato para as moças que trabalhavam para a sua família, na propriedade de seu pai.

Fonte: Gan L. J. e Plas Hedd (1898).

Imagem 1 Escuela Superior de Señoritas de Eluned Morgan - 1890-1892 

Sua escola funcionou por pelo menos dois anos e meio, tendo que fechar por falta de investimentos. Castillo explica o fechamento da escola de Eluned: “[…] aunque el proyecto educativo fue de avanzada, en 1892 el establecimiento cerró sus puertas. El gobierno nacional había creado escuelas públicas gratuitas que beneficiaron la enseñanza oficial en la Colonia9 (Castillo, 2013, p. 71).

Eluned fez grandes viagens, uma delas para Londres, ocasião em que participou de um grupo de jovens galeses que se encontrava em Chancery Lane, no departamento de Walter Davies. O primeiro-ministro inglês David Lloyd George frequentou as reuniões do grupo. Visitou o Norte e o Sul do País de Gales, dando palestras sobre questões de identidade galesa. Em 1902, mudou-se para Cardiff, para trabalhar na Biblioteca Popular da cidade, onde ajudou Ifano Jones na disseminação da cultura galesa.

O ano de 1909 foi muito produtivo para Eluned Morgan, pois publicou no País de Gales a obra Gwynon & Mor. Também ministrou palestras até 1910. Depois voltou à Patagônia. No ano de 1912, fez sua última viagem ao País de Gales, em companhia de sua sobrinha Mair Ap Iwan, que iniciaria seus estudos universitários. Com o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, permaneceu na Europa até 1918. Depois retornou à Patagônia, onde viveu até sua morte, em 1938. Ao longo do tempo que viveu no Vale do Rio Chubut, lutou pela criação de uma escola intermediária dedicada aos adolescentes da colônia. Em 1904, foi criada a Camwy Society of Intermediate Education, com o objetivo de oferecer o ensino em galês para jovens a partir dos 14 anos de idade. Eluned estava à frente desse projeto, administrando doações para a construção do prédio. Dois anos depois, foi construída a Camwy em um solar doado pelo município.

4 Considerações finais

Como bem define Quijano (2007), o poder pode ser pensado como uma rede de relações sociais que assume as formas de conflito, exploração e dominação em torno do controle dos espaços físicos e seus recursos, da sexualidade, das subjetividades, entre outros aspectos vitais, e que assegura, através de diversas formas de coerção, os novos padrões dessas relações. Nesse sentido, a Patagônia foi um grande laboratório de novas relações de poder no final do século XIX (Pérez, 2020). Como analisa Pérez (2020), a dinâmica dos acordos e negociações entre lideranças indígenas, colonos e autoridades fronteiriças, antes da conquista, foi drasticamente modificada pela traição do Estado aos pactos estabelecidos. Como consequência do avanço militar no final do século XIX, entraram em jogo tensões e disputas que formaram novas relações sociais, nas quais prevaleceram a submissão e diversas formas de violência colonial. Porém, o grau de resistência dos grupos indígenas que suportaram a investida não foi menor, tentando pactuar com o governo a preservação de suas famílias para continuar produzindo sua existência.

Uma mulher como Eluned Morgan deixou um registro do que era essa realidade, fazendo ecoar uma “voz civilizadora” dissidente, que expressou seu repúdio às formas de dominação do “colonialismo interno” perpetrado contra os indígenas.

O estudo da vida e obras de Eluned Morgan e de sua relação com a educação nos ajudou a constatar alguns pontos relevantes: 1) a importância histórica de sua família, assim como de todas as famílias galesas, na Patagônia; 2) como o contato com as populações indígenas colocaram a autora em confronto com a sua própria cultura, produzindo reflexões contra-hegemônicas; 3) a relação dos colonizadores com os nativos e como a autora os via, os concebia; 4) como a concepção que tinha dos indígenas faz a autora pensar em projetos educacionais para a região; 5) o “lugar” que suas viagens e experiências ocuparam na produção de suas obras educacionais e literárias; e 6) a audiência pública que conquistou e que lhe assegurou um posicionamento político na Argentina.

Do conjunto de dados obtidos sobre Eluned Morgan, percebem-se sensibilidade e força. Ela se sentia culturalmente transformada pelas experiências de infância e juventude na colônia de Chubut. Mesmo constituída por uma mentalidade colonizadora, marcada pela cultura vitoriana, acabou por nutrir um profundo respeito e admiração pelas populações indígenas dos Andes. Sua formação ideológica, pautada na defesa dos marcos civilizacionais da cultura ocidental, que admitia a colonização como estratégia de domínio e exploração da América, não a impediu de reconhecer os traços culturais importantes dos povos indígenas. Ou seja, mesmo formada por uma mentalidade colonizadora, foi capaz de colocar em questão os processos coloniais executados na América Latina.

Ao assumir um posicionamento político crítico, Eluned retoma a questão da civilização e diz que a conquista inglesa não foi menos cruel que a espanhola, já que “[...] ambos son culpables de buscar el exterminio de los nativos y de las pequeñas naciones10 (Morgan, 2007, p. 61). Na verdade, o seu povo galês também foi vítima dessa dominação ao ser mobilizado para imigrar para o Vale de Chubut. Ela reforça que a “civilização” pela colonização só destruiu os indígenas. Talvez aí resida a defesa de Eluned no campo da educação. Originária de uma cultura que colocou a educação como um valor universal, independentemente de suas intencionalidades, ela investe na ideia e em ações educacionais para beneficiar as populações indígenas originárias dos Andes e protegê-las do extermínio, o que está devidamente registrado na obra de Caviglia (2011), para quem Lewis Jones e Eluned Morgan foram defensores intransigentes dos indígenas perante o governo nacional e capazes de denunciar a campanha cívico-militar etnocida de Roca.

Os modos particulares de viver do País de Gales e as experiências de Chubut, em que se podia perceber os valores galeses permeados pela realidade colonizadora da Patagônia, fizeram de Eluned Morgan uma escritora híbrida, atravessada pela fronteira. Não por acaso, os críticos literários do País de Gales ressaltam que sua obra se destaca e se diferencia no conjunto da literatura galesa por esta experiência particular na América e que a fez assumir, na qualidade de intelectual, um papel público muito corajoso e polêmico, revelador das ambivalências de uma vida intelectual de luta ao colocar-se politicamente.

2 Tradução nossa: “[...] embora a escrita feminina tenha participado do corpus textual da história de viagem, ela não formou, ao longo da história, uma tradição e uma série contínua com a qual pudesse ser vista entre os homens em diferentes períodos de exploração”.

3 Tradução nossa: “[...] o seu olhar não é o de uma estrangeira incrédula, fascinada pelo estranho”.

4 Tradução nossa: “[...] fronteira que se tornou uma construção social, uma margem desejada que ocorre como produto de um contato, de uma disputa, de uma travessia, de uma miscigenação”.

5 Tradução nossa: “[...] os galeses de Chubut e os índios da Patagônia viveram juntos durante quarenta anos em perfeita paz e harmonia”.

6 Em 1899, houve uma grande inundação na região, que deixou casas, igrejas e escolas submersas. Esta é considerada até hoje a maior tragédia ambiental ocorrida na região.

7 Tradução nossa: “Os galeses de Chubut não procuraram converter ou civilizar os índios, mas estenderam-lhes a mão fraterna e intercederam repetidamente em seu favor no Congresso da Capital quando a perseguição os dominou, ameaçando extingui-los completamente. Os habitantes do deserto compreenderam que os recém-chegados não tinham chegado às suas terras para despejá-los, nem para oprimi-los, mas para conviver pacificamente com eles. O índio ensinou o galês a ser um caçador habilidoso, o que muitas vezes salvou a colônia da fome. Ele o ensinou a fazer todos os tipos de implementos para cavalos, usando couro de animais selvagens. Tudo isto é de grande valia para o novo estabelecimento em início de vida agrícola numa terra estranha, longe de todos os confortos”.

8 Tradução nossa: “É imensamente triste pensar que raças antigas tão pacíficas, tão mansas, com faculdades fortes, saudáveis de corpo e alma, de origem tão antiga, com uma história tão encantadora, o homem branco com o seu cristianismo e a sua maldita bebida assola e destrói como um incêndio devastador por onde passa. Acaso isso é necessário? É a pergunta que perfurou o meu coração centenas de vezes enquanto medito sobre o destino dos nativos nômades de cada país: os índios vermelhos da América do Norte e os encantadores Maori da Oceania, e os velhos amigos da minha infância na América do Sul”.

9 Tradução nossa: “[…] embora o projeto educativo tenha avançado, em 1892 o estabelecimento fechou as portas. O governo nacional criou escolas públicas gratuitas que beneficiaram a educação oficial na Colônia”.

10 Tradução nossa: “[…] ambos são culpados de buscar o extermínio dos nativos e das pequenas nações”.

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Recebido: 02 de Agosto de 2023; Aceito: 06 de Novembro de 2023; Publicado: 28 de Novembro de 2023

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Artigo decorrente de projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Sônia Maria da Silva Araújo, Universidade Federal do Pará (UFPA), Programa de Pós-Graduação em Educação

ihttps://orcid.org/0000-0001-8240-9704

Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado na Universidade de Coimbra (UC/PT). Professora titular da UFPA, onde atua no Programa de Pós-Graduação em Educação, orientando mestrado e doutorado.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/5826372225106245

E-mail: ecosufpa@hotmail.com

Lucia Lionetti, Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires ( IEHS UNICEN )

iihttps://orcid.org/0000-0003-4222-4515

Graduada em História, doutora em Filosofia e Letras pela Universidade Autônoma de Madri. Professora da IEHS-UNICEN, onde atua como docente do doutorado em História e do mestrado em Educação e Ciências Sociais.

E-mail: lionettilucia@gmail.com

Editora responsável: Lia Machado Fiuza Fialho

Pareceristas ad hoc: Miria Izabel Campos e Andrea Abreu Astigarraga

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