O presente estudo propõe como tema as práticas do cuidado em enfermagem e o advento do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe (UFS), cujo objeto versa na trajetória histórica entre as práticas do cuidado em enfermagem e a criação do Curso de Graduação em Enfermagem, um recorte entre 1931 a 1979. Períodos compreendidos entre a criação do Departamento de saúde pública de Sergipe e a formação superior da primeira turma do Curso de graduação em Enfermagem da UFS, respectivamente. O objetivo deste estudo é o de compreender a motivação e relevante panorama social que foram determinantes para o aprimoramento das práticas do cuidar e a criação do curso de graduação em enfermagem da UFS.
Quanto ao constructo metodológico, o presente estudo, de natureza histórico-social, busca investigar fenômenos sociais geradores de “movimentos”, na vida das pessoas, que direta ou indiretamente contribuíram na construção e preservação da história, com destaque para a história cultural como base de abordagem, acerca da trajetória histórica sobre as práticas do cuidado aos enfermos em Sergipe e a criação do Curso de Graduação em Enfermagem da UFS.
A história, para Barros (2010), é considerada como campo de produção do conhecimento, onde se preservam “homem” e sociedades humanas como objeto de estudo. O que permite trazer, para o cerne da investigação, os possíveis atores sociais envolvidos nas práticas de cuidado realizadas e o curso de enfermagem da UFS.
Barros (2004) alerta quanto a necessidade do diálogo entre os variados campos de conhecimento da história, contudo, sinaliza que o mundo humano não pode ser decalcado do social, do político e do mental. As fontes coletadas no referido estudo compreenderam os documentos oficiais, jornais, revistas e escritos que se afinem com a temática e que estejam inseridos com o recorte cronológico proposto.
Na construção de um trabalho científico o percurso metodológico é de tamanha importância, pois revela que o problema de pesquisa não “brotou” e “germinou” de modo instantâneo, na realidade foi fruto de uma inquietação que, de modo processual e revelador, ganhou fôlego e forma. Para Rocha e Nascimento (2020), a pesquisa histórica aspira novas tecnologias, emprego de novos recursos para suporte no desvelar de novos achados, portanto, depreende-se a necessidade de uma relação com outros campos disciplinares, focalizando eventuais contribuições para o acesso, análise e disponibilização de materiais ou acervos documentais. Dito isto, O percurso das buscas ocorre em bases de dados, bibliotecas físicas em Instituições de Ensino Superior no estado de Sergipe e, em seguimento a pesquisa, uma nova incursão é realizada a partir de uma visita no centro de pesquisa e documentação da Escola de Enfermagem Anna Nery, na cidade do Rio de Janeiro.
O presente estudo almeja colaborar para o ensino de graduação em enfermagem, pós-graduação, estudante da área de saúde e, sobretudo, para as demandas do grupo de estudos e pesquisas sobre história do ensino superior - GREPHES, por oferecer um conhecimento específico na linha de pesquisa histórica. Acredita-se que nas discussões e reflexões se estabelecem novas práticas e aporte no processo de construção e desenvolvimento do trabalho acadêmico, possibilitando “movimentos” acerca do fomento a novas publicações e incentivo às novas pesquisas.
Uma reflexão sobre a história é pertinente quando a prática histórica se torna o lugar de um questionamento, de acordo com Certeau (2011). Portanto, apoiada neste estudioso, segue a seguinte questão condutora deste estudo: Quais foram as razões e motivações determinantes, nessas práticas, contribuintes para a criação do curso de enfermagem da UFS?
Este estudo emerge a partir da minha aproximação com a UFS, que decorre, precisamente, no início de 2001, meses após chegar à cidade de Aracaju, quando ingressei na instituição como discente no “Curso de formação pedagógica em Educação Profissional na área da Saúde”, cuja proposta se inseria no Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores da Área de Enfermagem - PROFAE1, promovido pela Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe.
Neste período, o curso de graduação em Enfermagem da UFS era o único ofertado pelo Estado de Sergipe, e os cenários de práticas absorviam uma parte significativa dos profissionais que concluíam o curso, seja na cidade de Aracaju ou em outros municípios do Estado, de tal sorte que o mercado de trabalho em Sergipe apresentava-se fértil e profícuo para a área da saúde, em especial, a área de enfermagem.
Como docente de ensino superior, nas oportunidades em lecionar a disciplina História da Enfermagem nos cursos de graduação, foi possível observar, na construção e planejamento das aulas, o aprimoramento deste conhecimento, nos revelando o constante movimento que a história nos apresenta, a partir das multiplicidades de “lentes”, o que suscita novas inquietações e questionamentos capazes de revelar, nesta construção histórica, novas proposições e caminhos trilhados pela enfermagem, consonantes com a estrutura social e econômica impressa no referido contexto, com o devido cuidado para não cometer anacronismos.
De acordo com Machado (2007), a história sempre se constitui pela relação entre o presente e o passado, e as histórias mudam porque as narrativas históricas mudam e, nesta dinâmica, só podemos ver a imagem do passado, quando nos situamos na história. Cabe ressaltar que a história da educação não esteve fielmente alinhada com as minhas práticas acadêmicas e laborais nos últimos anos, em alguns momentos apresentou-se como mecanismo de “fio condutor”, mostrando-se como opção, por vezes, de entendimento, argumento e proposições sobre um determinado acontecimento. Nessa perspectiva, o exercício da docência apresenta, no cotidiano, novas possibilidades de imersões que nos aproximam e provocam inquietações. Nesta caminhada, temos a perspectiva da construção de um percurso capaz de descortinar, na sua trajetória, as práticas de enfermagem adotadas nesta sociedade, suas singularidades e principais fenômenos reluzentes às novas proposições e aprimoramentos deste costume, sobrepondo o cuidado e o compromisso do historiador com as narrativas históricas e da memória.
Sob a singularidade que repousa nas questões específicas relacionadas a uma determinada sociedade, no que concernem suas crenças, cultura e experiências, o presente estudo pretende se debruçar, de modo particular e, por vezes relacional, sobre as ocorrências sociais que dialogaram com as práticas dispensadas aos enfermos e a criação do Curso de Enfermagem da UFS, em uma determinada cronologia.
Segundo Bourdieu (2002), só podemos capturar uma lógica profunda do mundo social, submergindo na particularidade de uma realidade empírica, historicamente situada e datada, para construí-la. E, sob esta lente, o presente estudo repousa, consciente do seu papel social e, sobretudo, compromissado com a história, suas nuances, produção historiográfica e possíveis alinhamentos e combinações.
A escrita é como um ato, uma operação que resulta como combinação de “um lugar social”, de “práticas científicas” e de uma “escrita”, sendo esta última, o momento da concretização das pesquisas dos historiadores em um produto [...] Por intermédio da pesquisa e escrita, o historiador transforma seus objetos de estudo e neste movimento opera uma transformação e consolida um produto. Acrescenta que ela, a escrita, não mais parte de “raridades”, restos do passado, para chegar a uma síntese, compreensão presente, mas que parte de uma formalização, um sistema presente, para dar lugar aos “restos”, indícios de limites e, portanto, um passado que é produto do trabalho (CERTEAU, 2006, p.63-86).
Depreende-se, a partir dessas reflexões, que, neste estudo, a prática do cuidado em enfermagem será tratada como um exercício de repetição adotado pela sociedade sergipana, balizado em conhecimentos empíricos, alinhados às especificidades que caracterizam seu corpus: os indivíduos, sua ancestralidade, costumes, valores, crenças, alinhada ao campo: lugar onde os fenômenos são dinâmicos e constantes. Portanto, nesta triangulação, a escrita se apresenta como parte combinante que detém, como desafio, a tarefa de descortinar os resquícios, olhares e impressões acerca do objeto.
No curso da sua historiografia, estudos e pesquisas na área da enfermagem, há uma pauta inesgotável de assuntos que permeiam o campo da prática - mola condutora do ofício - e seus diversos cenários e peculiaridades consonantes com o ensino e, de igual modo, com o campo da história, onde paira a presença marcante e valorosa de “bravas mulheres2”, como baluartes da profissão e mantenedoras de um ideário pautado nas primícias do “cuidar”, sobretudo, sóbrio e profícuo, afinado a uma prática que se debruça sobre a questão do humano e do natural e, nestes, repousam a essência desta práxis. No que concerne às primícias do cuidar, como substrato de um ofício, Santo e Porto (2006, p. 540) contribuem,
A crescente preocupação em explorar e justificar o cuidado como sendo a essência da profissão, a base do ensino e da prática de enfermagem, culmina em estudos contemporâneos que vêm determinando não só o fortalecimento da construção do saber da enfermagem enquanto ciência em plena evolução, como também o resgate da história da profissão, ao trazer à tona os elementos constituintes de uma prática cujas raízes estão fincadas na evolução da humanidade, na sobrevivência e nas relações entre os indivíduos e a natureza.
Há de se apresentar o “cuidado” como ato genuíno e natural nas relações com os seres viventes, em especial, o homem, através das multiformes expressões e representações por ele estabelecidas, que por vezes se configuram na manifestação de atenção com o outro, pelo simples fato da sua existência, singularidade, anseios e necessidades. Nesse sentido, podemos arriscar em dizer que, a figura do humano se apresenta como razão única e real de um movimento que promove transformação ao se conectar com seus pares.
Antecessor às relações postas no campo do social, o cuidado e o homem caminham ao longo do tempo e evoluem nas suas práticas e saberes; e sobre estas relações advêm a construção do campo da enfermagem. Este fato promove a enfermagem como uma prática, detentora de um cuidado genuíno, alicerçado nas experiências do cotidiano, e nelas, sofrem com as modificações postas e impostas, cada qual a seu tempo, a partir das demandas advindas do meio e para o meio, num mecanismo interrelacional.
Sendo assim, podemos remeter à prática do cuidado como um ato de sobrevivência capaz de dialogar com outras áreas do conhecimento e provocar transformações nas diversas áreas da sociedade, como exemplo: saúde e educação, não obstante, estabelece interação e, por vezes, alternância de ideias e conflitos, comuns do convívio social. Almeida et al (2009) atestam, no tocante às práticas do cuidado,
Se tomarmos o cuidado enquanto procedimentos de enfermagem realizados para a promoção da saúde, prevenção da doença e reabilitação da saúde, este corpo de conhecimentos vai ter seu êxito técnico, pois produz o que se pretende [...] o cuidado permite fazer a mediação dialética entre as dimensões dos micros espaços de intervenção e dos macros espaços estrutural, permitindo a construção de práticas de saúde democráticas, convergentes com os direitos sociais (ALMEIDA et al, 2009, p. 751-752).
Ora, partindo desta assertiva, observa-se com alguma naturalidade que, o cuidar emerge como uma atividade que ultrapassa os limites da temporalidade. Cabe contextualizar que, sobre este cuidar repousam pilares: culturais, históricos e sociais que, pari passu resistem aos movimentos de cada tempo histórico. Sobre eles, Prost (2008) revela não se tratar de memória, por dialogar efetivamente com o evento, sua materialidade. Todavia, nos alerta ser esse tempo, alvo de reflexão pela própria história, emoldurando-se em sua base epistemológica. Onde compreende-se serem os estudos epistemológicos a base que busca o entendimento sobre os diferentes olhares do conhecimento a partir de um determinado fenômeno. A seguir, apresentaremos a epistemologia do cuidado, na perspectiva da dimensão histórica, ilustrada sob o formato de “linha do tempo”.
Nesta ilustração inspirada em Salviano et al (2016), buscamos refletir acerca do cuidado da enfermagem e sua epistemologia, partindo de diversas dimensões, a exemplo da dimensão histórica, anteriormente ilustrada sob o formato de linha do tempo, onde foi estabelecido um percurso e diálogo entre o homem e o cuidado, suas evoluções e modificações, desde os primórdios civilizatórios, no período paleolítico, até a idade contemporânea3, destacada como limite temporal no referido estudo.
E neste movimento, as práticas de saúde no mundo moderno sofrem novos processos de compreensão e realinhamento, a partir de novas proposições político-econômicas, adotadas como um novo modelo de expansão capitalista em voga nos países europeus. Sob esta perspectiva, as práticas de saúde, em especial, as de enfermagem, são repensadas e institucionalizadas como prática profissional. Um movimento que se consolida com a Enfermagem moderna.
No transpor do século XIX para o XX, o Brasil passava por um processo de reconstrução nacional. Ordenamentos e alinhamentos políticos foram constituídos em prol do progresso e avanços nesta república, para tanto, intervenções foram planejadas e propostas nas diversas áreas da sociedade, com vistas ao fortalecimento das estruturas basilares no campo social, representados como os seguintes pilares: economia, educação e saúde.
Em que pese sua monta, as práticas de saúde eram pautadas no cuidado com os enfermos e executadas por pessoas leigas, em sua maioria, mulheres religiosas, pertencentes às ordens sacerdotais missionárias que atribuíam, neste cuidado com o outro, um sentimento de ajuda, caridade e, sobretudo, de altruísmo, valores inestimáveis e promovidos na doutrina cristã. As ações de atenção e promoção à saúde eram incipientes, e geradas de acordo com os fenômenos que acometiam o cenário nacional que, à época, sofria com epidemias, moléstias e agravos prevalentes de comprometimento individual, coletivo e seus impactos eram diversos e difusos.
Segundo Moreira (1999), havia a necessidade de construir emblemas e sinais de distinção da profissão enfermagem, a criação de uma Escola e a delimitação de um campo de prática profissional constituíram os pré-requisitos necessários para que fossem retirados do cenário público os visitadores de saúde, agentes leigos que assistiam a população com conhecimento empírico, sem organização e controle formal.
No percurso da profissionalização da Enfermagem, destaca-se a criação da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (EEDNSP), sob o enfoque técnico científico, com vistas a adoção de medidas saneantes de atenção e promoção à saúde sanitária, sob orientação e organização de enfermeiras norte americanas, capitaneadas pelo acordo de cooperação firmado entre Brasil e Estados Unidos da América, via Departamento Nacional de Saúde Pública e Fundação Rockefeller.
Em que pese o referido raciocínio, constata-se que o processo de profissionalização da enfermagem inicia-se a partir de uma reconstrução no perfil dos executores responsáveis pelas práticas que, necessariamente, deveriam compreender e refletir sobre essas ações, imbuídos de saberes e técnicas previamente construídas e pensadas segundo o grau de complexidade e agravo, fato que teve como marco a criação no Brasil da Escola Profissional de Enfermeiros e Enfermeiras (Escola Alfredo Pinto), em 1890, com o seguinte impacto: exclusão no corrente ano, das irmãs de caridade e serventes do sexo feminino do quadro de colaboradores do Hospício Nacional de Alienados, Hospício Pedro II. Em meio à crise, os guardas e serviçais da instituição passaram a ser educados na escola, cujo objetivo era preparar enfermeiros e enfermeiras para os hospícios e hospitais civis e militares do País. O modelo inicial de ensino caracterizou-se por certa ‘frouxidão’ proveniente da ausência de rituais de seleção e formação regulados pela técnica acadêmica e pela ciência (MOREIRA, 1999, p. 05).
De acordo com Tyrrel (2003), a referida Escola foi fundada em atenção às demandas sanitárias e políticas da época, na cidade do Rio de Janeiro, então capital da república, pelo decreto nº 16.300 de 31 de dezembro de 1923, posteriormente, pelo Decreto nº 17.268 de 31 de março de 1926, quando da sua reformulação e nova denominação, “Escola de enfermagem Anna Nery”, com vistas à ampliação e implantação de um novo modelo para a Enfermagem nacional. Consoante o exposto, a região sudeste figurou, no cenário nacional, como polo central de criação das primeiras escolas de enfermagem e, por consequência, assumiria papel crucial no processo de difusão para todas as regiões do país.
Tais “ruídos” foram emblemáticos e ressonantes para o nordeste do país, que já se destacava, no campo científico, com a institucionalização da Faculdade de Medicina em 1808, na cidade de São Salvador, na Bahia, no Brasil colônia. Uma página significativa na história da educação, inserida como parte da composição do processo educacional no país.
Ademais, a repercussão dos trabalhos prestados pelas enfermeiras, egressas da ENSP, no combate às epidemias e organização das unidades de saúde, atraiu a atenção dos demais Estados, a exemplo de Sergipe e, por consequência, o interesse em tê-las, na composição dos seus quadros, haja vista a necessidade de um novo modelo de atenção à saúde proposto nos moldes vigentes, porém, sob uma dada especificidade territorial e local. Nessas reflexões destaca-se o “lugar de fala”.
Sobral e Bretas (2016) tratam, no âmbito da pesquisa em educação, por situar o “lugar” das investigações sobre os fenômenos. Diante de tal afirmativa, o presente estudo aponta para a região Nordeste do Brasil, o estado de Sergipe, local de “voz” e ressonância dos fenômenos. Como nos esclarece Carvalho (2003), situado entre os rios São Francisco e Real, na região nordeste do Brasil, é um dos nove estados localizados na região nordeste do Brasil, capital Aracaju. Caracteriza-se, territorialmente, como o menor Estado da federação, cujo paradoxo se demarca por sua ousadia e capacidade de enfrentamento, exposto no curso do século XIX, quando da sua independência, como Estado autônomo.
A história de Sergipe nos revela que no transpor dos séculos XIX e XX a economia do estado acompanhou os reflexos oriundos de um contexto nacional que promoveu um movimento de transformação nas diversas áreas da sociedade. À época, o cultivo da cana de açúcar nas lavouras e engenhos era visto como atividade econômica profícua, já o fumo, gado e couro eram fontes de grande impacto econômico para o estado, quando ainda se denominava capitania e permaneciam ativos nas áreas do sertão.
Tais ações desencadearam uma nova concepção no tocante à produção e geração de riquezas, como também, impactos na compreensão espacial e geográfica, resultando em novas confecções de mapas e, por consequência, novas delimitações de território em razão das dinâmicas propostas e executadas no curso do referido período, portanto, as novas representações geográficas.
Consoante ao exposto, para Cruz e Oliveira (2016), os mapas são veículos de transmissão do conhecimento ao sintetizar e sistematizar os elementos reais contidos no espaço geográfico a serem representados, com objetividade e clareza de informação, uma construção onde o território é formado a partir do espaço, constituindo-se de uma produção oriunda de todas as relações de poder estabelecidas nele. O território deve ser trabalhado na multiplicidade de suas manifestações e poderes oriundos de múltiplos agentes e sujeitos envolvidos. Nesse bojo, podemos apresentar, no caso de Sergipe, a seguinte representação.
Para Bourdieu (2007) as posições sociais constituem o campo de poder e se relacionam em permanente disputa, na medida em que se movimentam através da ação de seus agentes. Portanto, a figura anterior nos apresenta o espaço geográfico, representado pelo Estado de Sergipe, como um “lugar de fala” - o campo, com especificidades e características próprias e, sob esta lente, repousa a seguinte tríade: a ressonância dos fenômenos social, econômico e político; um novo modelo de atenção à saúde e, sobre uma perspectiva relacional, os sistemas simbólicos determinantes nessa dinâmica que atuam a partir das suas produções e funções bem definidas entre as classes dominantes, sua hegemonia e intervenção sobre os eventos que permeiam este campo.
Destarte, Azevedo (2015) pontua o processo de modernização como um evento que já estava em curso em Sergipe, desde meados do século XIX, e ganhou força com a república. A figura do então governador apresentava-se no centro da condução e liderança das ações e projetos em prol da construção de um estado com aspirações de progresso e modelo tal qual propunha a nova república, com atuação plantada em bases para mudança. Teve sua assinatura marcada na realização de obras de tamanha representação social e cultural no âmbito da educação e saúde, a exemplo de uma construção que traduziu a representação da modernidade.
O Governo Gracho Cardoso4 (1922-1926) foi marcado pelo período de prospecção e imponência sob o ponto de vista das representações estruturadas nos monumentos das cidades sergipanas, tal qual aponta FSPH (2020) sobre a importância do Patrimônio cultural da saúde, espaço destinado às pesquisas científicas em torno das doenças epidêmicas que assolavam à população, qual seja, o Instituto Parreiras Horta que foi fundado em 1923. Este monumento, marca a história da saúde sergipana, e para além de representar em sua arquitetura os ideais de modernização e progresso, próprios da conjuntura do início do século XX, é símbolo também da produção científica sergipana.
Até o ano de 1931, conforme Vieira e Faro (2001), a saúde de Sergipe se direcionava para vigilância sanitária e combate a doenças pestilenciais. A criação da ENSP na capital federal, e toda a repercussão acerca do combate às doenças epidêmicas e organização sanitária local, trouxe uma contribuição significativa, no tocante às novas proposições para a saúde sergipana. O Departamento de Saúde Pública de Sergipe é instituído pelo decreto de 16 de maio de 1931, sob a coordenação do Dr. José Rodrigues Bastos Coelho, que passa a enviar as jovens sergipanas para a então Escola de Enfermagem Anna Nery. Em 1936 chega a primeira enfermeira profissional no Estado.
É mister destacar que, em Sergipe, o modelo de atenção à saúde era pautado no tratamento da doença já instalada, nos diversos cenários de prática existentes, a saber: uma maternidade, casas de caridade, ordens religiosas de acolhida aos enfermos e, um hospital geral, recém inaugurado, detentor da centralização dos atendimentos de maior complexidade, com necessidades específicas e de demanda cirúrgica. Práticas que “iam de encontro” às novas proposituras de saúde, pautadas na adoção de medidas sanitárias que prevenissem o acometimento de doenças a partir dos hábitos, costumes e cultura de uma dada sociedade. Para fins de assistência à saúde, Sergipe contava com casas de caridade. Segundo Silva (2006), o panorama dos hospitais sergipanos não agradava aos médicos nem à população, fato que inquietou a comunidade médica da época liderada por Drº Augusto Leite que, em reunião com o Governador do Estado, Graccho Cardoso, expôs todas as dificuldades e impactos na saúde da população, culminando na idealização e, posteriormente, inauguração de um Hospital Geral, ora denominado: Fundação Beneficente Hospital de Cirurgia, em 02 de maio de 1926.
Contudo, a assistência prestada aos enfermos era a nível “auxiliar”,5 de ajuda e continuidade ao tratamento que fora proposto e prescrito pelo médico - à época - profissional detentor do saber científico, a quem era atribuída competência de prover toda a programação e conduta científica de “planejamento dos cuidados” diários do “trato com os enfermos”.
O movimento sanitário nacional propagou uma “agenda urgente” de proposições concernentes ao ensino de enfermagem, a serem investidas no campo da saúde com a assertiva de que os impactos seriam percebidos em “larga escala”, no âmbito da promoção à saúde individual e coletiva, cujas ações e planejamentos seriam centrados no profissional enfermeiro, como personagem-chave de um novo modelo social a ser implantado na área da saúde, e tinha como máxima o processo do ensino de enfermagem como base na aplicação de uma nova prática de cuidar. Sobremodo, o ensino sistematizado e planejado, pautado no cientificismo em voga nos países desenvolvidos, a exemplo: Estados Unidos da América e França, corroboravam sua eficiência ao processo emancipatório da enfermagem sergipana.
O ensino superior no Estado de Sergipe, segundo Bretas e Oliveira (2014), foi iniciado em 1920, vindo a funcionar formalmente nos primeiros anos da década de 1950, com quatro faculdades que ofereciam os cursos de Química, Geografia Econômica, Direito, Filosofia e depois Geografia e História, Matemática e Línguas Neolatinas e Anglo-Germânicas. No ano de 1960, a faculdade de Direito foi federalizada e um ano depois entrou em funcionamento a Faculdade de Medicina. Tais desdobramentos resultaram na constituição da Universidade Federal de Sergipe, em 1968, com a aula inaugural. Instituição precursora do ensino superior no Estado, que consolidou, de modo fragmentado, porém consistente, a construção de um importante centro profissional de formação superior local, com reflexos significativos no cenário nacional.
O presente estudo justifica-se a partir de uma pesquisa prévia realizada no período de outubro a dezembro de 2016, nas bases de dados: biblioteca virtual em saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (Scielo) na área de Educação em Enfermagem e História do Ensino Superior, para tanto utilizaram-se os seguintes descritores: Enfermagem, Ensino, Educação em Enfermagem, alicerçada no mapeamento e conhecimento das publicações dos últimos anos sobre a implantação do Curso de Graduação em Enfermagem nas Universidades Federais do País, em especial, a UFS. Como critérios de inclusão, utilizaram-se trabalhos de conclusão de curso, dissertações, teses e artigos, na modalidade “texto completo”, sem limites com o ano de publicação, tendo obtido nove artigos selecionados em conformidade com a proposta da pesquisa, devidamente ilustrados no quadro (II), a seguir:
PERIÓDICO/ ANO | AUTOR (ES) | TÍTULO DO ARTIGO |
---|---|---|
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2001 | Vieira, M. J.; Faro, C. M. M. S. | ABEn Sergipe: 47 anos de luta e resistência. |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2006 | Nunes, B. N. V. T. et al | Memória coletiva da Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Piauí |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2007 | Abrão, F. M. S.; Almeida, M. C. P | Raízes da pré-institucionalização da enfermagem profissional na cidade do Recife (PE) - 1922-1938 |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2007 | Nobrega-Therrien, S. M; Almeida, M. I.; Silva, M. G. C. | Ensino de enfermagem no Ceará de 1942-1956: A memória que projeta o futuro. |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2008 | Figueiredo, M. A. G.; Baptista, S. S. | Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de fora: 1977-1979 |
Rev. Esc. Anna Nery, 2008 | Cardoso, F. A. Dytz, J. L. G. | Criação e consolidação do Curso de Enfermagem na Universidade de Brasília: Uma História de Tutela (1975-1986) |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2009 | Nobrega-Therrien, S. M.; Almeida, M. I.; Silva, M. G. C. | Enfermagem no Ceará: fatos, reflexões e propostas para preservação da história e memória da profissão. |
Rev. Brasileira de Enfermagem, 2011 | Mattos, M. C. T.; Pontes, M. P. A. | Associação Brasileira de Enfermagem - Seção Sergipe: 52 anos de vontade, garra e coração |
Rev. da Rede de Enfermagem, 2014 | Carlos, D. J. D. et al. | Escolas de enfermeiras no nordeste brasileiro (1943-1975) |
Fonte: Levantamento e ilustração da própria autora (2021).
Da pesquisa inicial efetuada, Nunes et al (2006), Vieira e Faro (2001), Mattos e Pontes (2011) trouxeram à lume, em seus estudos, temáticas relacionadas à Associação Brasileira de Enfermagem, em seções regionais, a saber respectivamente: seção Piauí e seção Sergipe em atenção a momentos pontuais distintos. Cardoso e Dyrtz (2008) e Figueiredo e Baptista (2008), retrataram cenários próprios e específicos da história da criação das referidas Instituições de Ensino Superior, enquanto Abrão e Almeida (2007), Nobrega-Therrien e Almeida (2007; 2009), Carlos et al (2014), discursaram sobre o ensino de enfermagem, da sua gênese e preservação da memória profissional, cada um com suas características e especificidades.
Não obstante, com vistas à ampliação das produções acadêmicas, optamos por aprofundar a investigação da pesquisa no âmbito local, a partir das produções acadêmicas (teses, dissertações, monografias e artigos) desconhecidas neste estudo, no período de janeiro a maio de 2017,6 em visitas à Biblioteca de Saúde - BISAU da UFS e de Instituições privadas de Ensino Superior em Enfermagem no Estado. De tal investida, duas monografias foram localizadas e seguem em destaque no seguinte quadro:
ANO | AUTOR (ES) | TÍTULO |
---|---|---|
1998 | Scandiam et al, 1998 | História do curso de Enfermagem7 |
2005 Mon/ DEN/ UFS | Azevedo, A. F. | Histórias e Memórias: O CAENF nas lutas políticas da UFS |
2006 Mon. / DEN/ UFS | Ribeiro, A. O. | Estágio Supervisionado na modalidade de Preceptoria no Curso de Enfermagem da UFS: Histórias, Avanços e desafios. |
Fonte: Levantamento e ilustração da própria autora (2021).
Os trabalhos elencados, no segundo momento investigativo, concernentes com a temática proposta, resultaram em três produções: um texto completo (exemplar único - no arquivo central da UFS) e dois trabalhos monográficos. Na construção da historiografia sobre o curso de enfermagem da UFS, Scandian et al (1998) apresentaram registros concernentes ao movimento nacional na saúde, as demandas propostas pela máquina estatal e os impactos para os estados da federação e os caminhos trilhados, resultantes na criação do curso, corpo docente, currículo, construção de projetos para produção científica e demais compreensões baseadas na preservação das memórias das docentes/autoras do referido texto e as fontes consultadas (atas de reuniões de colegiados e resoluções).
Os dois estudos monográficos apresentaram uma abordagem histórica, que trataram de acontecimentos distintos no Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe, a saber: O Centro Acadêmico do Curso e o estágio supervisionado na modalidade de preceptoria. Os estudos propostos por Azevedo (2005) e Ribeiro (2006) permearam a historicidade de eventos distintos, compreendidos em um determinado espaço temporal, do Curso de enfermagem, com o compromisso de resgate histórico no entorno das relações de poder, nos conflitos estabelecidos a partir das novas possibilidades de reposicionamento político-social, concernentes com as novas proposituras com vistas aos novos horizontes que se apresentavam na esfera social da época.
Os textos reproduzidos refletiram, cada um deles (no seu contexto temporal), recortes do percurso da enfermagem sergipana sob um olhar multifatorial, na transversalidade social, econômica, cultural e suas implicações na comunidade da época. Nas leituras, foi possível constatar que as narrativas retrataram as memórias da profissionalização da enfermagem em Sergipe, a exemplo das primeiras enfermeiras que chegaram ao Estado, os caminhos percorridos que deflagraram o processo de implantação do Curso na UFS e os fenômenos advindos com ele. No entanto, cabe apontar como sintonia entre os autores destacados nos dois momentos de investigação, no que tange às produções acadêmicas destacadas, a exemplo de: Scandian et al (1998), Vieira e Faro (2001), Azevedo (2005), Ribeiro (2006), Mattos e Pontes (2011) o valor que fora atribuído à preservação das memórias e do tempo, relacionadas às experiências vividas, sucessos, sofrimentos, contexto sociopolítico e demais acontecimentos contribuintes para o cenário histórico do País e, sobretudo, na Universidade Federal de Sergipe, no que diz respeito à prática da enfermagem, sob “pontos de vistas” (re)memorados.
Cabe pontuar que o artigo em tela difere dos estudos anteriores, por trazer para o cerne da investigação a motivação e relevante panorama social que foram determinantes para o aprimoramento das práticas do cuidar e a criação do curso de graduação em enfermagem da UFS, em que pese atestar a necessidade de compreender a trajetória desta sociedade, de suas práticas de cuidado em enfermagem, como também, conhecer suas especificidades e os possíveis fenômenos que potencializaram e consubstanciaram às reflexões sobre essas práticas e, por consequência, os desdobramentos contribuintes para a criação do Curso de Graduação em Enfermagem. Contudo, pretende, através do recorte temporal proposto (1931-1979), transitar sobre essas práticas na perspectiva de um cuidado mutável e progressivo, que se aprimora nas diversas vertentes do conhecimento, na sociedade sergipana da época e, por consequência, o cientificismo latente nesse contexto histórico, marca a singularidade desse estudo.
Essa abordagem permitiu constatar que, as práticas de cuidado em enfermagem, o aprimoramento dessas práticas e o processo de profissionalização da enfermagem foram movimentos ocorridos na dinâmica da sociedade sergipana que teve como apogeu a criação do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Sergipe. Ademais, no processo de investigação da temática, observou-se que aflora uma pauta inesgotável à pesquisa, justificada por publicações, ainda tímidas, referentes à compreensão e entendimento dos acontecimentos, contextualização sociopolítica e enfrentamentos travados por personalidades comprometidas por promover a enfermagem moderna por todo o território sergipano e, por consequência, solidificar a enfermagem como profissão institucionalizada.
Com vistas à aproximação, interpretação e significado do fenômeno, a autora optou por um estudo histórico que segundo Padilha e Borestein (2005), envolvem-se em ensinamentos com grupos humanos no seu espaço temporal, não obstante, discutem os variados aspectos do cotidiano das diferentes classes da sociedade.
O presente estudo histórico busca trazer conceitos e princípios do teórico Pierre Bourdieu,8 no tocante às práticas sociais que corroboraram na necessidade de aprimoramento dessas atividades e o percurso trilhado, no campo do cientificismo, resultantes na criação do curso de enfermagem da UFS. Cabe considerar que nas “práticas sociais”, o presente estudo propõe, com base nas percepções e reflexões do referido autor, estabelecer uma relação, tomando como eixo norteador as estruturas sociais pontuadas e defendidas no seu discurso teórico, alargando o entendimento em razão do contexto histórico a que se refere o estudo proposto, buscando uma relação pontual nas questões de domínio, poder, cultura e relação à dinâmica social que será historiada. É mister acrescentar que, tal pensador é reconhecido como um dos mais importantes pensadores do século XX, que em muito contribui, na contemporaneidade, em discussões e proposições no campo das ciências humanas.
Para Bourdieu (1996), os condicionamentos materiais e simbólicos agem sobre nós (sociedade e indivíduos) numa complexa relação de interdependência, ou seja, a posição social ou o poder que detemos na sociedade não dependem apenas do volume de dinheiro que acumulamos ou de uma situação de prestígio que desfrutamos por possuir escolaridade ou qualquer outra particularidade de destaque, mas está na articulação de sentidos que esses aspectos podem assumir em cada momento histórico.
De acordo com Bourdieu (2007), a partir da história das transformações na produção de bens simbólicos é possível conhecer a história intelectual e artística das sociedades, uma vez que o campo intelectual e artístico bem como um sistema de relações de produção, circulação e consumo desses bens se formou ao longo dessas transformações, enfatizando a noção de cultura como lugar das produções simbólicas e instrumento de distinção social. Considera que o campo cultural é um espaço de luta entre diferentes grupos sociais, que determina a própria hierarquização da cultura.
Neste entendimento, pontuamos como assertiva que, na transformação social, desencadeada pela sociedade sergipana à época, os bens simbólicos produzidos, a saber: domínio de capital, conhecimentos, riqueza cultural e demais segmentos da sociedade, foram de extrema valia na sua personalização histórica, intelectual e artística e, sobremaneira, influenciaram nas mudanças técnico-científicas prementes no estado.
Com vistas à construção do texto, optamos por alinhar um referencial teórico capaz de nos ajudar no trato entre costumes e práticas realizados pela sociedade sergipana, com isso, o conteúdo da proposta deste estudo esteve está pautado nas concepções de Pierre Bourdieu. No que concerne à teoria das estruturas sociais (2001-2007), a partir de conceitos-chave sobre habitus, campo, sistemas simbólicos ou culturais, em que o campo é caracterizado pela autonomia de certo domínio de concorrência e disputa interna, serve de instrumento ao método relacional de análise das dominações e práticas específicas de um determinado espaço social, sistema simbólico: exercem um poder estruturante, na medida em que são também estruturados, e a estruturação decorre da função que os sistemas simbólicos possuem de integração social para um determinado consenso, habitus: sistema aberto de disposições, ações e percepções que os indivíduos adquirem com o tempo em suas experiências sociais (tanto na dimensão material, corpórea, quanto simbólica, cultural, entre outras), vai, no entanto, além do indivíduo, diz respeito às estruturas relacionais na qual está inserido, possibilitando a compreensão tanto de sua posição num campo quanto seu conjunto.
Estes serão os conceitos fundamentais que farão parte de nossa análise, além do conceito de trajetória em que Bourdieu (2008), a partir do seu estruturalismo construtivista, nos leva a situar os acontecimentos biográficos numa matriz de relações que pouco se associam às experiências de um sujeito único e que se aproximam da localização das posições de um agente ou de um grupo num espaço social, com distinção do indivíduo concreto do indivíduo construído, o que nos exige examinar o estado do campo, como estado social dinâmico, entendendo a trajetória como uma série de posições sucessivamente ocupadas por um mesmo agente ou grupo, em um espaço, em um movimento e submetido a incessantes transformações. Em que pese o raciocínio discorrido em tela, podemos ilustrar de modo figurativo, a compreensão desses conceitos a partir da apropriação dessas ideias em um específico cenário social com suas demandas e peculiaridades próprias, passíveis de um (re) arranjo constante, por isso, o “como e o por quê” desta teoria.
Nesta estrutura social, a enfermagem sergipana ganha forma e se estabelece como prática de um cuidado que avança e se afina com as demandas emergidas na coletividade e, sobremaneira, sustentadas por um contexto local favorável tanto no campo da saúde, como no educacional, a exemplo disso, o pragmatismo representado pela reforma educacional9 que rompe com práticas conservadoras e demarca novas políticas institucionais, uma ruptura com o convencional e, por consequência, um remodelamento do ensino que provoca ruídos periféricos e transversais nas diversas áreas e setores da sociedade, a exemplo do campo da saúde que ganha robustez com a introdução de novas tecnologias resultantes do cientificismo militante que identificou, nesta sociedade, a urgência por evocar novas proposições favoráveis ao diálogo entre o empírico e o científico, representados, respectivamente, entre a prática do cuidado em enfermagem e a criação do curso de graduação da UFS, portanto, razões e motivações determinantes que, diante destes ruídos periféricos e transversais transitaram nas diversas áreas e setores da sociedade, com efetiva viabilidade de consolidação do ensino superior no Estado.
Cabe compreender que imerso por um olhar dicotômico, a estrutura social em Sergipe se compõe de modo relevante a partir de suas características, singularidades e auspícios demandados pela própria coletividade, sob a tutela de sistemas simbólicos definidos e responsáveis por estruturar este campo, a partir do aprimoramento técnico-científico entre o empirismo demarcado pelas práticas do cuidado, e o cientificismo, selado com a criação da UFS. Neste entendimento, de modo, a priori, conclusivo, o aprimoramento das práticas do cuidado em enfermagem e a criação do referido curso na UFS desvelaram um percurso fecundo e necessário à consolidação de uma prática sedimentada nas diversas vertentes do conhecimento, neste texto, delimitadas entre o empírico e o científico. Contudo, faço saber que o processo investigativo não se esgota e, diante dos achados e apontamentos, promovem proposições e pautas para novas investigações.