Introdução
Esta pesquisa tem como objetivo discutir, sob os processos educacionais, a produção do conhecimento das juventudes rurais, particularmente entre os anos de 2007 e 2016. Estes recortes de pesquisa, que dizem respeito principalmente aos segmentos educacionais e das juventudes rurais, procuram compreender o processo social de um rumo científico ligado à produção do conhecimento de programas de pós-graduação no Nordeste do Brasil, especificamente, as características que possibilitam mostrar o perfil dos pesquisadores com as temáticas e as estratégias utilizadas, teórico-metodologicamente, para compreender esse grupo social em seu vínculo com o tema da educação provedora da ascensão e autonomia de grupos marginalizados na sociedade moderna.
Alguns estudos mostram que há a participação de jovens das diversas ruralidades brasileiras nos espaços escolares (WEISHEIMER, 2005), mas questiona-se como está se dando o processo de produção do conhecimento sobre juventudes rurais e educação no meio científico e acadêmico brasileiro nos últimos anos, e quem são esses pesquisadores em seus perfis sócio-acadêmicos inter-relacionados com a temática. Portanto, este estudo vem suprir uma produção de material ainda escassa, onde as produções que tratam a respeito da educação no contexto das famílias, segundo os grupos sociais, são voltadas principalmente à área urbana, deixando a categoria ruralidade ainda pouca conhecida.
De uma maneira geral, a educação formal faz parte do modo de vida dos jovens rurais, que veem nela um instrumento para uma ocupação bem remunerada e menos penosa do que a agricultura. Além disso, essa educação passa a ser percebida como uma possibilidade de ampliação de suas escolhas, as quais, muitas vezes, não foram evidenciadas pelos pais por questões culturais, econômicas, sociais e políticas.
Com isso, este trabalho vem estimular o estudo acerca dos jovens rurais, e juntamente com as pesquisas anteriores, aumentar o banco de dados sobre o assunto, possibilitando que outros estudiosos possam pensar sobre essas produções, e quem sabe, suas inquietações possam gerar novas pesquisas. Além disso, projetam-se discussões com produção de estudos sobre a relação com o saber entre a população rural e os processos educacionais que possam oferecer elementos para uma ação mais eficaz tanto do Estado e dos movimentos sociais, quanto da própria universidade em seu compromisso com a esfera pública.
Situando a discussão sobre juventudes rurais e processos educacionais
O termo “juventude”, de acordo com o Dicionário de Ciências Sociais (1987, p. 661), quando “aplicado a uma pessoa, expressa o período compreendido entre o fim da infância e o início da idade madura”, mas também a “Juventude tem um sentido coletivo de maior interesse para os estudos sociológicos, significando uma parte da população total de cada país ou grupo de países”. Ainda pode ser “expresso em anos, e tem limites máximo e mínimo variáveis em cada momento histórico”.
Embora também seja um desafio abordar teoricamente essa categoria sociológica, considerada como problemática e sem definição clara e objetiva, Stropasolas (2006, p. 176) reconhece que “a quantidade e a qualidade das obras que abordam atualmente o tema da juventude já são suficientes para formar uma base, graças a qual se pode começar a falar de uma ‘sociologia específica’”, sem cair no determinismo estrutural-funcionalista (SCHNEIDER, 2009a). A esse respeito, Brumer (2007) salienta que o número de estudos referentes à juventude cresceu desde o início dos anos 90, em virtude das reivindicações dos jovens por maior visibilidade e políticas públicas geradoras de emprego, exigindo para essa compreensão perspectivas fenomenológicas e pós-estruturalistas (SCHNEIDER, 2009b).
Segundo Quapper (2001), a juventude deve ser compreendida como produção sociocultural, de acordo com o contexto de desenvolvimento de cada grupo de jovens e seu tempo histórico. Na sociedade do consumo, por exemplo, a juventude é um modo de sobreviver à tensão existencial entre o direcionamento da sociedade para que os jovens cumpram com as expectativas em relação ao mercado, ao conjunto de normas sociais e ao papel de futuro adulto e suas próprias expectativas e identidades.
Mais do que isso, a análise da produção do conhecimento sobre juventudes exige compreender os modos de afirmação de suas identidades. Primeiramente, porque a identidade supõe diferença, isto é, os jovens evoluem ao olhar do outro, um olhar que unifica o que é apresentado a ele em forma de fragmentos (TELES, 1999). Nesta perspectiva, todo interlocutor permite também ao jovem tomar posição, desenvolver um saber, que pode ser tanto discursivo ou prático, e afirmar uma identidade social, descobrindo que nesta afirmação identitária há uma dimensão coletiva, uma condição comum a outros indivíduos. Esta dupla perspectiva é, portanto, complementar.
As identidades das juventudes rurais são pensadas como condições específicas entre os meios rurais e urbanos, construindo, a partir disso, suas visões de mundo, de si e do outro, por vivenciar problemas específicos do seu meio, que evidentemente, também se diferenciam de um país para outro, de uma região para outra, de um município para outro e de um rural para outro, uma vez que esse meio é multifacetário e multidimensional e, portanto, heterogêneo (WANDERLEY, 2007).
É importante, portanto, contextualizar o meio rural no qual esse jovem está inserido e compreender o processo histórico que o gerou e suas contradições. O meio rural que envolve os pequenos municípios do Nordeste do Brasil é marcado pela precariedade de acesso a bens e serviços básicos, sendo o transporte, por exemplo, uma das maiores carências dessas populações. Salienta-se ainda que a distância do rural, onde vive, em relação ao meio urbano, tem ligação direta na diferença do processo de construção de sua identidade nos sonhos e projetos, nas escolhas profissionais, pessoais e nas possibilidades de realização, sendo o acesso à educação a principal delas.
Para além das discussões a respeito da operacionalidade do conceito de juventude rural, as questões que se manifestam nos debates sobre juventude rural sempre percorrem o acesso desta à educação. Marin (2009) afirma que:
O estudo da juventude rural como uma construção social e cultural, variável no tempo e no espaço, requer a compreensão das especificidades das relações de dependência com a vida e o trabalho nos espaços agrários, bem como as redes de relações econômicas, políticas, institucionais e culturais em que os jovens e suas famílias estão inseridos. (p.2).
Outros autores como Abramovay et al. (1998) e Ferrari et al. (2000) demonstram que existem vários condicionantes para definir as escolhas dos jovens rurais no que se refere à decisão de ficar ou de sair do seu meio. Se antes, essa decisão era quase que totalmente orientada pela família, como coletividade, hoje, além desta, outros elementos devem ser considerados para entendê-la: a educação no meio rural, a diferenciação social e a precarização das condições das unidades produtivas, além de não deixar de levar em consideração as dimensões de gênero e geração nas relações familiares e nos processos sucessórios.
Há uma importante associação entre o local, a pobreza, a escolaridade, a idade, o gênero e o futuro profissional dos jovens rurais. Carneiro e Castro (2007) compreendem a juventude rural como uma dupla dinâmica social. Por um lado, a dinâmica territorial que relaciona a casa (a família), a vizinhança (a comunidade local) e a cidade (o mundo urbano-industrial) e por outro lado, a dinâmica temporal, relacionada ao passado das tradições familiares que inspira práticas e estratégias do presente e consequentemente o encaminhamento do futuro.
De acordo com Castro et al. (2009), o papel atribuído aos jovens rurais focaliza a importância desse segmento para o futuro do mundo rural. Os jovens rurais são aqueles que vivem o “dilema” do trânsito entre o campo e a cidade, e sofrem de forma mais direta as transformações sociais do meio rural, principalmente diante das relações com o trabalho e a educação. Essas tendências põem questões recorrentes nas pesquisas sobre os jovens rurais, que evidenciaram para o campo acadêmico a necessidade de compreender os fatores que contribuem para a mudança do mundo rural pelos jovens rurais (CASTRO et al., 2009). Mais do que isso, estudos como neste artigo, objetiva discutir, sob os processos educacionais, as produções do conhecimento sobre essas juventudes rurais, particularmente nos anos de 2007 a 2016, pela produção de pesquisadores dos programas de pós-graduação do Nordeste do Brasil das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas.
Metodologia
Este artigo busca realizar um estudo do tipo qualitativo (LUDKE; ANDRÉ, 1986), principalmente porque significa o campo teórico pela interpretação relacional dos conhecimentos das teses e dissertações com as trajetórias de ensino, pesquisa e extensão de seus autores com as temáticas juventudes, ruralidades e educação. A necessidade de realizar estudos sobre os estados da arte está na perspectiva da temática possibilitar a verificação da sua evolução nas áreas de conhecimentos produzidos. Esse tipo de pesquisa, que segundo Brandão, Baeta e Rocha (1986), é usual na literatura científica americana, foi pouco a pouco sendo conhecido entre pesquisadores no Brasil.
Para realizar essa pesquisa, foi usado como descritores as palavras juventude, ruralidade e educação, restringindo aos marcadores dos anos de 2007 a 2016 e da produção de pesquisadores dos programas de pós-graduação do Nordeste do Brasil das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas, na base de dados compostos na plataforma da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Dessa forma, foram obtidos 42.129 resultados para teses e dissertações que apresentaram algumas das expressões em seus elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais. Assim, utilizando de critérios para a seleção do material que compõe o corpus do estado da arte nas teses e dissertações, conseguiu-se chegar, fazendo a leitura dos títulos, resumos e palavras-chave, ao resultado de 26 teses e dissertações.
Com esse resultado, passou-se para uma segunda leitura cuidadosa, onde essas teses e dissertações foram copiadas e gravadas em pastas virtuais. Para a organização dessa etapa de coleta de informações, foi elaborada uma ficha individual de apontamento e dados contendo: nome da publicação do trabalho, ano, nome do autor, programas de pós-graduação pesquisados, nível dos programas, além das informações considerando o tema, referencial teórico, metodologia e as conclusões. Com esses dados, buscou fazer a elaboração da categorização preliminar, isto é, identificando termos e expressões mais frequentes, através da técnica da Análise de Conteúdo de Bardin (1977).
Em seguida, foi estabelecido um sistema hierárquico de categorias por meio de identificação e análise de relações entre essas categorias. Os trabalhos foram organizados e submetidos ao software IRAMUREQ, onde foram tratados pelos métodos de Renert, análise de similitude e nuvem de palavras (CAMARGO; JUSTOS, 2013). Além desse software, utilizou-se também o Excel for Windows, para análise estatística de dados referentes ao perfil dos autores das teses e dissertações com as temáticas juventudes, ruralidades e educação. Para isso, buscou-se o currículo lattes de cada um dos autores das teses e dissertações, selecionando os seguintes pontos que envolviam a temática: ano em que passou a trabalhar com a temática; quantidade de trabalhos publicados, eventos que participou, atividade de ensino e extensão que realizou envolvendo a temática.
Juventudes rurais e educação na pós-graduação do nordeste brasileiro
Ao identificar a produção dos programas de pós-graduação do nordeste brasileiro, nas áreas das ciências humanas e sociais aplicadas, buscou-se também analisá-la, categorizá-la e revelar os múltiplos enfoques e perspectivas, tanto em termos da trajetória dos autores pesquisadores nas temáticas de juventudes rurais e educação, quanto às perspectivas teórico-metodológicas das produções textuais dessas dissertações e teses.
Trajetórias de pesquisadores com as temáticas juventudes rurais e educação
A trajetória dos autores das teses e dissertações pesquisadas mostram a relação autoral das atividades acadêmico-científicos com as temáticas da juventude rural e educação. Este mapeamento possibilitou dizer que muitos dos pesquisadores têm se dedicado a trabalhar no tema sobre juventude rural ao longo de sua carreira, além de dar visibilidade aos seus grupos de estudos e às atividades de ensino e extensão. Desse modo, os dados permitem compreender a autoridade desses autores no campo acadêmico (BOURDIEU, 1989).
Um primeiro ponto a ser destacado na trajetória desses pesquisadores, diz respeito ao gênero. Observou-se, tabela 1, que um pouco mais da metade (57,7%) das autoras dos trabalhos das teses e dissertações é do sexo feminino. Esse percentual mostra o crescimento no número de mulheres pesquisadoras que desenvolvem seus trabalhos na linha de juventude, educação e ruralidade. Leta (2003) salienta a falta de informações sistemáticas sobre a formação e o perfil dos recursos humanos na educação superior e na ciência brasileira, mas segundo ela:
Apesar da recente institucionalização da ciência brasileira, foi também nos anos de 1980 e 1990 que as mulheres brasileiras aumentaram sua participação no setor (...) Mas fato é que, aos olhos, principalmente, dos mais "seniores", é evidente a mudança na universidade brasileira no que diz respeito à freqüência de mulheres: diferente de algumas poucas décadas atrás, elas hoje são a maioria em boa parte dos cursos de graduação e de pós-graduação do país (LETA, 2003, p.273).
É importante salientar a relação entre a maior participação das mulheres e a institucionalização da ciência nas décadas de 80 e 90 (LETA, 2003). Isso para dizer que com o passar dos anos o número de mulheres fazendo ciência no Brasil têm aumentado significativamente. Nesse crescimento, evidencia-se na análise deste artigo uma concentração das teses e dissertações produzidas por mulheres entre o ano de 2014 e 2016, embora a delimitação deste estudo seja apenas de 2007 a 2016. Especificamente, no período de 2014 e 2016 foram produzidos praticamente a metade (49,4%) dos trabalhos, seguido do intervalo entre 2011 e 2013 com 34,8% e 2007 a 2009 com 15,7%. (ver tabela 1).
VARIÁVEIS | n (%) |
Sexo Masculino Feminino Total |
11 (42,3) 15 (57,7) 26 (100) |
Ano de defesa das Teses e Dissertações 2007 - 2009 2011 - 2013 2014 - 2016 Total |
4 (15,7) 9 (34,8) 13 (49,4) 26 (100) |
Áreas dos Programas de Pós-Graduação Ciências humanas e sociais Ciências sociais aplicadas Total |
4 (15,7) 22 (84,3) 26 (100) |
Nível dos Programas de Pós-Graduação Mestrado Doutorado Total |
23 (88,5) 3 (11,5) 26 (100) |
Ano com início de publicações sobre o tema 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2013 Total |
1 (3,8) 2 (7,7) 1 (3,8) 2 (7,7) 1 (3,8) 4 (15,4) 8 (30,9) 6 (23,1) 1 (3,8) 26 (100) |
Quantidade de trabalhos publicados sobre o tema 0-10 11-53 Total |
17 (65,4) 9 (34,6) 26 (100) |
Eventos que participou envolvendo o tema 0-6 12-27 Total |
19 (73,1) 7 (26,9) 26 (100) |
Atividade de Extensão realizada envolvendo o tema 0 1 2 3 10 Total |
13 (50,0) 7 (26,9) 4 (15,5) 1 (3,8) 1 (3,8) 26 (100) |
Atividade de Ensino realizada envolvendo o tema 0 1 2 Total |
16 (61,5) 4 (15,4) 6 (23,1) 26 (100) |
TOTAL | 26 (100) |
Fonte: pesquisa de campo, 2018.
Os programas em que as teses e dissertações foram realizadas demonstram que a área das Ciências Sociais Aplicadas é a que realizou maior produção (84,3%) dos trabalhos. Esse dado evidenciado vislumbra a importância de desenvolver pesquisas referentes à juventude rural nas diversas áreas do conhecimento. Quanto ao nível de estudo nesses Programas de Pós-Graduação, os autores produziram mais dissertações de mestrado (88,5%) do que tese de doutorado (11,5%), percebendo, assim, um espaço significativo para mais produções sobre as temáticas juventude, educação e ruralidade. (Verificar tabela 1)
Por outro lado, mesmo com a maioria das pesquisas se concentrando em nível de mestrado e na área das Ciências Sociais Aplicadas, percebe-se na trajetória dos autores que há uma divergência ao iniciar e dar continuidade em trabalhos com a linha de pesquisa juventude rural. Na análise dos Currículos Lattes dos autores pesquisados, revelou-se que nem todos levam adiante as atividades nesta linha, evidenciando assim os desafios de se trabalhar com esta temática.
Especificamente, é possível observar, por meio da tabela 1, que foi entre o período de 2009 e 2011 onde houve o maior número (69,4%) de autores que passou a publicar/ divulgar trabalhos com a temática. A respeito dessa quantidade, é possível dizer que dos 26 autores estudados, observa-se que a maioria (65,4%) deles tem até dez publicações, enquanto que os demais (16,6%) apresentam entre 11 a 53 publicações na área . Sobre os eventos em que os autores participaram envolvendo o tema, a maioria (73,1%) participou de até seis, enquanto os demais se mostraram mais atuantes, com uma frequência de 12 a 27 eventos (26,9%).
Em análise realizada por Campello (2000, p. 62), esse observou que os eventos científicos desempenham diversas funções, dentre elas: encontros como forma de aperfeiçoamento de trabalhos científicos; como reflexo do estado da arte sobre a temática proposta no evento; conversas informais com seus pares constituintes importantes dos eventos; formação de network, etc. Por essa perspectiva, Lacerda et al. (2008) revelam como itens mais importantes ditos pelos estudantes de graduação em Biblioteconomia, em suas participações nos eventos científicos, o crescimento pessoal e atualização no desenvolvimento acadêmico/ profissional.
Há de salientar que, além das pesquisas e suas formas de divulgação, as atividades de extensão e ensino se mostram como importante tripé para a trajetória dos pesquisados dos Programas de Pós-Graduação do Nordeste, nas áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. Pela tabela 1, é possível observar que a metade (50%) dos autores realizou de uma a 10 atividades de extensão envolvendo a temática. Por outro lado, quando se trata do ensino especifico sobre Juventudes rurais e educação, viu-se que mais da metade (61,5%) desses pesquisadores não produziram nenhum tipo dessa atividade, o que mostra certa rigidez na estrutura curricular das disciplinas ofertadas nas Instituições de Ensino Superior. Por isso,
Em uma sociedade democrática é fundamental formar o professor na mudança e para a mudança por meio do desenvolvimento de capacidades reflexivas em grupo, e abrir caminho para uma verdadeira autonomia profissional compartilhada já que a profissão docente precisa o conhecimento como o contexto (IMBERNÓN, 2001, p.18)
Na verdade, com essa perspectiva, torna-se necessário um conhecimento que leva em consideração uma formação que traga no seu cerne a autonomia profissional para que o docente possa produzir conhecimentos dialogicamente articulado entre a teoria e prática, de forma a compartilhar em seus meios de interação social às transformações e necessidades de seus públicos. Portanto, ela necessita ser compreendida sob a ótica de sujeitos sociais localizados culturalmente, que carregam marcas dos contextos em que estão inseridos.
Sentidos produzidos entre Juventudes Rurais e Educação nas teses e dissertações das Pós-graduações do Nordeste: atualidade e atualização
Ao trazer para frente da discussão os elementos das teses e dissertações: tema, quadro teórico, metodologia e conclusão, verificou-se uma atualidade e atualização na compreensão das Juventudes Rurais. Para essa reflexão, iniciou-se com a análise da subcategoria “Tema”, através do método da árvore de similitude (figura 1), proposto pelo Iramuteq e que se baseia na teoria dos grafos (MARCHAND & RATINAUD, 2012). Nessa árvore, identificou-se, pelas coocorrências entre as palavras e seu resultado, os produtores de sentidos das pesquisas principalmente pelos termos juventude, rural e desenvolvimento.
Especificamente, é possível perceber na arvore da figura 1 que os termos juventude, rural e desenvolvimento salientam que essas teses e dissertações buscam compreender as trajetórias dos jovens rurais e suas estratégias para desenvolver-se através da educação, pois os mesmos almejam melhores condições de vida para si, para sua família e para os lugares onde vivem, e a melhor forma de fazer isso acontecer, segundo essas teses e dissertações, é participando dos diversos projetos educativos que o poder público e os setores da sociedade civil organizada disponibilizam para eles.
No entanto, essas metas, muitas vezes, não são alcançadas por esses jovens porque, mesmo que eles gostem dos projetos realizados, não são envolvidos em outras ações que contribuam, de forma conectada, para o desenvolvimento local. Nesse sentido, a tese de Isabela Gonçalves Menezes, 2016, “No sertão da minha terra, o sentido da escolarização, as expectativas profissionais e o discurso sobre identidade e individualizações de jovens rurais estudantes do ensino médio em escolas urbanas”, argumenta que:
Uma das perspectivas dos jovens é a ida à escola com o objetivo de um futuro promissor por meio de um emprego e da autonomia financeira. Se o jovem atravessa uma fase da infância para a maturidade quando quer se afirmar e ter independência financeira; o do meio rural do sertão sergipano vive em um território que passa por transformações e tem priorizado projetos pessoais em contraposição à perpetuação da herança paterna. Todavia, tais escolhas não significam que desgostam do meio rural ou queiram se afastar dos familiares (MENEZES, 2016, p.28)
Apesar de muitos jovens buscarem uma saída pela educação (MENEZES, 2016), a dissertação de Priscila Teixeira da Silva “O olhar da escola sobre a juventude do campo na comunidade de Mutãs - Bahia: linhas que se cruzam, tessituras a se fazer”, 2015, argumenta que para muitos desses jovens ainda prevalece a ideia de que a escola e a educação não são para eles, ou quando persistem nos estudos da escola urbana, acabam abandonando sua identidade camponesa.
As reflexões trazidas pelos temas estudados nas teses e dissertações remetem a uma atualidade dos referenciais teóricos já consolidados nos estudos sobre juventudes rurais. Com base nas informações mostradas pela nuvem de palavras da Figura 2, verifica-se que o corpus “Referencial teórico” das pesquisas tem na palavra Castro sua maior representação. Em termos numéricos, esta palavra vem a ser o núcleo da representação social sobre o corpus, e tem o sentido de ligação para o corpus dos textos.
Além de Castro, é possível observar que os autores com maior frequência nas dissertações e teses foram: Carneiro, Bourdieu e Wanderley. A nuvem de palavras mostra, de forma geral, que essas autoras desenvolveram seus temas voltados para pesquisas sobre juventudes rurais que envolviam de alguma forma experiências educacionais. Para citar, destaca-se “Os jovens estão indo embora?: Juventude rural e a construção de um ator político”, produzido em 2009, por Castro. “A juventude é apenas uma palavra”. In: Questões de Sociologia, de 1983, por Bourdieu. “O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais”, de 1999, Carneiro. E “O mundo rural como espaço de vida: reflexões sobre a propriedade da terra, agricultura familiar e ruralidade”, lançado em 2009, por Wanderley.
Essas referências trazem no bojo de suas reflexões sentidos de sociologias do “mundo rural” e da juventude em que suas tradições teóricas ultrapassam às clássicas, desde as chamadas de funcionalista ou de marxista clássica - estruturalista. Nos referenciais dessas teses e dissertações, verificam-se preocupações com as mudanças que estão ocorrendo no mundo rural e da juventude brasileira.
Além disso, é importante situar que esse quadro da discussão teórica está articulado na interação com os caminhos metodológicos das teses e dissertações. Percebeu-se sua importância no fazer científico, pois revelou uma sintonia com as diretrizes gerais do método que orientou a pesquisa, os procedimentos utilizados na coleta de informações e nas suas análises.
Ao tratar os textos metodológicos das teses e dissertações, através da árvore de similitude (ver figura 3), observou-se que a abordagem qualitativa, entrevistas, observação participante, grupo focal e análise documental são as mais utilizadas como os caminhos metodológicos de todo material analisado. Foi por meio delas que se chegaram às conclusões dos casos analisados.
No tema “Conclusão”, utilizou-se para sua análise o Método de Reinert, a qual encontrou significância estatística, com significância de 76.47%. O corpus geral do texto foi dividido em sete classes, para se obter um melhor aproveitamento das informações.
Essas classes são resultantes da Classificação Hierárquica Descendente, que se refere a uma classificação das palavras em ordem decrescente. De acordo com Reinert (1987), este método faz sucessivas divisões de texto em seguimentos. Esta função extraiu as classes de enunciados (conforme quadro 1) que são representativos, apresentando os resultados em forma de dendograma (conforme figura 4), isto é, em diagrama de árvore.
CLASSES DENDOGRAMA CONCLUSÃO | NÚCLEOS TEMÁTICOS |
---|---|
Classe 1 | As atividades agrícolas tradicionais se distanciam das perspectivas juvenis pelo ensino formal urbano |
Classe 2 | O jovem rural quer ter uma nova identidade e permanecer no campo |
Classe 3 | Transformações das identidades juvenis no rural brasileiro |
Classe 4 | A não efetividade das políticas públicas para o desenvolvimento rural sustentável |
Classe 5 | Os jovens buscam melhores oportunidades, mas permanecendo no campo |
Classe 6 | Não existe uma relação direta entre Politicas públicas e a educação do campo |
Classe 7 | A juventude rural forma laços em seu meio que possibilitam ganhos individuais, mas produzem outros sentidos para ficar ou sair do campo |
Fonte: Pesquisa de campo, 2018.
A classe um, representada em vermelho da figura 4, e tendo como palavras-chave agrícola, atividade e urbano, aborda a questão da educação e estudos dos jovens no meio rural. Em relação aos 26 trabalhos pesquisados, esta classe mostra a sua significância, pois aborda as (não)relações entre atividades agrícolas, educação, juventude no meio rural, seus valores e sonhos.
Para compreender as conexões de sentido das palavras-chave desta classe, buscou-se dialogar com trechos das teses e dissertações. Na dissertação de Virzangela Paula Sandy Mendes (2011), intitulada “Os projetos de vida da juventude do perímetro Curu-Paraipaba: entre o sonho e a realidade”, a autora resgata o (não)lugar dos projetos de vida dos jovens rurais:
Embora dispersos, os desejos expressados pelos jovens denotam que eles podem contribuir para assegurar a sustentabilidade da área irrigada, desde que, a partir de ações coordenadas, os jovens não executem apenas atividades eminentemente agrícolas, mas também atividades não agrícolas que os possibilite dar vazão às suas capacidades criativa e empreendedora, ultrapassando a letargia política dos que receberam a dádiva e partiram para a gratidão. A democracia requer nova cidadania. Percebe-se que os jovens têm potencial para fazer suas escolhas e traçar seus próprios caminhos. (MENDES, 2011, p.8)
Pode-se perceber que esses jovens pretendem permanecer no seu perímetro, executando as atividades disponíveis e sonhando com um futuro melhor. Querem ter um emprego, uma profissão e, sobretudo, poder realizá-los no seu espaço rural. Não querem depender somente das atividades agrícolas tradicionais aos quais seus pais se construíram, mas empregos com direitos trabalhistas. Eles querem traçar seu próprio caminho.
A classe dois (representada pela cor cinza, da figura 4), que tem como palavras-chave cultural, social e rural, aborda sobre o jovem rural ter uma nova identidade e permanecer em seu assentamento. A autora, Aurea Régia Oliveira da Silva, na dissertação intitulada “Participação e visibilidade dos jovens nos assentamentos rurais do município de Mari (PB)” observa que:
Os assentamentos rurais de Mari, apesar de suas limitações, oferecem condições de atração e de permanência de muitos jovens, já que tem uma infraestrutura razoável, com a presença de escolas, postos de saúde e até lanchonete. Além disso, um deles conta com a presença do Projeto Ponto de Cultura, que estimula os jovens a participarem de diversas atividades culturais e envolve-os nas atividades relativas a comunidade em geral. (SILVA, 2013, p.170)
Os jovens rurais consideram a escola importante para seu futuro e pretendem exercer profissões com estudo. Eles vislumbram conseguir exercer uma atividade em que possam conciliar com a vida no assentamento, eles têm preferência em continuar vivendo nos assentamentos rurais de Mari. Em outro trabalho, da dissertação de Talita Silva Bezerra (2013), “Vidas em trânsito: Juventude rural e mobilidade(s) pelo acesso do ensino superior”, pode-se compreender que:
Na efemeridade dos acontecimentos a realidade está se modificando, e com ela, os indivíduos. Estamos sempre acrescentando algo novo ao nosso conhecimento de acordo com o que acontece ao nosso redor. Sair diariamente do município de origem e ir de encontro a um outro bem diferente, com outras pessoas de realidades distintas e semelhantes, com diversidade de outros modos de ser e agir, traz para os jovens de Araquém mudanças significativas. Ao mesmo tempo, eles reafirmam o que eles são e de onde vieram, o que forja uma construção dos mesmos como pessoas e como estudantes, trazendo novas responsabilidades consigo e com os demais, construindo identidades coletivas e individuais. (BEZERRA, 2013, p.133)
O fluxo entre o rural e o urbano por meio do ensino superior mostrou, no estudo de Bezerra (2013), que sair de seu lugar, conhecer novos ambientes e trocar experiências fazem com que os jovens rurais reflitam sobre as identidades coletivas e individuais, produzindo para si e seu lugar uma afirmação identitária mais complexa. Nesse caso, o cotidiano desses jovens está em comunicação permanente entre o rural e o urbano, tanto pela mobilidade material, quanto pela mobilidade virtual ou simbólica. De acordo com Carneiro (1999), a partir dessas relações com dois mundos, novas identidades entram em elaboração.
Pela classe três (representada pela cor verde, da figura 4) é possível destacar as palavras organização, prático e identidade, para entender melhor que organizar e entender as identidades dos jovens rurais não estão ligadas somente em sair de seu ambiente rural para o urbano, estão em perceber em si mesmo a capacidade de executar um papel importante na sua comunidade. Pode-se ver na dissertação de Marcilio José da Silva, intitulada “Educação Não Formal e Desenvolvimento Local: a Experiência da Associação de Mulheres de Vitória de Santo Antão, para o Empoderamento dos Jovens de Piritúba”, 2008, uma reflexão a esse respeito quando ele compreende que:
A possibilidade de continuar os estudos, de adquirir uma profissão, de falar em público, bem como, repassar as informações que receberam para outras pessoas, na aquisição de novas habilidades, novos papeis, funcionando também como motivação para trabalhar á frente de questões diretamente ligadas à comunidade. Se torna um elemento essencial para o empoderamento de outros aspectos da vida, como organização política para reivindicação e conquistas de direito (SILVA, M. 2008, p.70).
Por essa perspectiva, também é ressaltado na dissertação de Maria Evilene de Sousa Abreu (2015), “Processos artísticos e comunicacionais da juventude no meio rural: modos de cartografar e intervir no assentamento Barra do Leme” que:
Jovens e moradores de Barra do Leme são abundantes de desejos, de afetos, de sonhos e de novas perspectivas de vidas. Eles resistem a todas as intempéries e buscam a continuidade da vida. Mesmo diante das dificuldades, a alegria por se estar e permanecer onde se deseja é pulsante no cotidiano dos moradores. Para os jovens, a possibilidade de conhecer novas experiências e retornar ao assentamento para compartilhar o que tem vivido é uma realidade. Nem todos alcançam, mas aqueles que o fazem saem do enquadramento e criam novas possibilidades. (ABREU, 2015, p.127)
Verifica-se que esses aspectos levantados podem ser considerados como um empurrão para o desenvolvimento humano, principalmente pela forma de fortalecer ações para o desenvolvimento local. A motivação dos jovens pode propiciar muitos ganhos, como o incentivo a participação coletiva e em fazer com que a comunidade onde vivem tenha clareza do que é preciso para melhorar suas condições de vida.
Na abordagem da classe quatro (também representada pela cor verde, da figura 4), que tem em destaque as palavras:local, desenvolvimento, atividade e político, é possível compreender que por mais que os jovens gostem dos projetos realizados pelas politicas públicas, e se empenhem bastante, suas ações locais não são resultantes desses projetos, principalmente porque não conseguem gerar renda exercendo as atividades apreendidas no âmbito da formação. Sobre esse respeito, a dissertação de Everaldo Costa Santana, com título “Juventude, Tecnologias da Comunicação e Desenvolvimento Local: análise da recepção da proposta do Grupo de Informática, Comunicação e Ação Local por Jovens do Meio Rural”, destaca que:
De acordo com os objetivos do projeto, a ideia é que depois de formados os jovens continuem atuando na produção de vídeos, através da criação de produtoras de vídeos, prestem serviços em assessoria de comunicação para instituições locais e com isso possam gerar sua própria renda. Mas, a maioria dos jovens que produzem vídeos encontra dificuldades para ter acesso ao emprego nessa área. Mesmo assim, eles “buscam um emprego, que não precisa ser necessariamente na área de comunicação” (SANTANA, 2013, p. 7).
Observa-se, nesse sentido, a importância da implementação desses projetos para o desenvolvimento local. No entanto, ocorre uma invisibilidade desses jovens porque, embora o Estado ofereça programas e políticas voltadas para inclusão digital, o caminho percorrido entre estas até as necessidades locais se perde por não se enxergar a necessidade de políticas pós-formação. Isso é abordado na dissertação da Aline de Oliveira Bomfim, “Política Pública para Inclusão Digital de Jovens de Cachoeira Seca - Caruaru/PE”, 2016. Essa autora pondera que:
Dessa forma, com ajuda das TIC e TDIC, como ferramentas para o exercício de comunicação e informação, os jovens poderão empoderar-se e protagonizar contribuindo na fomentação de debates sobre direito, cidadania, inclusão digital e social e políticas públicas, promovendo, assim, a construção de sujeitos sociais capazes de se situar e atuar de forma contundente em seus espaços de vida. (BOMFIM, 2016, p. 15).
Desse modo, pode-se observar nas dissertações de Santana (2013) e Bonfim (2016) que as políticas públicas de inclusão digital e social se mostram necessárias para o desenvolvimento local pelas dimensões sociocultural e espacial, mas com necessidade de pensar ações pós-formação.
Analisando a classe cinco (representada pela cor azul espesso, da figura 4), tendo como palavras-chave evidenciar, comunidade e local, pode-se observar que se trata de jovens do campo escolarizados, sujeitos de uma política pública, que se apresentam sob mecanismos de qualificação e inserção para o mercado de trabalho. Referente ao processo educacional, Jaqueline Andrade Brito, com a dissertação “Vivências e Experiências em Educação e Trabalho: Um Estudo de Caso sobre Jovens do Campo Egressos do Curso Técnico Profissionalizante em Agropecuária/ Pronatec Ubaíra-Ba”, 2016, afirma que:
O processo educativo escolar ficou evidente, a partir da análise teórica, que o mesmo contribui significativamente para a formação humana e política do sujeito, possibilitando que através dela se construa a base para a busca e conquista de outros direitos fundamentais e necessários para uma vida digna. Ao apresentarmos as reflexões dos jovens sobre o seu lugar de vivência, percebemos que existe um sentimento de pertença pelo campo, lugar de vida e produção, mas a falta de acesso a direitos fundamentais como: Educação e Trabalho desanimam e afastam os jovens do campo (BRITO, 2016, p. 110)
Essa experiência, observada por Brito (2016), possibilita afirmar que as transformações na visão educacional e trabalho fizeram com que jovens se tornassem mais críticos sobre seu lugar de fala. Em outra dissertação, de Cleyton Douglas de Apolônio Vital, “Políticas Públicas, Juventude e Capital Social: As Apropriações do Programa Casa das Juventudes pelos Jovens de Lagoa de Itaenga, Pernambuco”, 2014, afirma que:
Percebeu-se que houve um investimento no capital humano desses jovens na medida em que tornaram-se mais comunicativos, decididos e referências no município. De acordo com os entrevistados foi possível reconhecer que os jovens que vivenciam a experiência do Programa se diferenciam dos demais jovens de Lagoa de Itaenga pois, segundo as observações, eles melhoraram o desempenho com a comunicação, passaram a questionar com propriedade os direitos humanos e ampliaram suas expectativas de vida para o futuro. (VITAL, 2014, p. 85)
Ainda segundo Vital (2014), os jovens reconhecem a importância e contribuição dos ensinamentos da Casa das Juventudes para o desenvolvimento pessoal. Entretanto, verificam que o Programa deve fazer alguns investimentos no sentido de qualificar melhor o curso de produção audiovisual, um dos mais procurados pelos jovens, e assim possibilitar que eles obtenham resultados mais satisfatórios no campo profissional.
Nesse caminho delineado nas outras classes, a seis (representada pela cor azul, da figura 4) destacará as palavras público, político, resultado e formação, onde se pode analisar o desafio que as escolas enfrentam de informar a grande importância das formações baseadas nos modos de vida das comunidades. Em contrapartida, as políticas públicas não atendem às demandas locais por estarem generalizadas, como destaca a dissertação de José Willame Felipe Alves, “O Processo de Educação no Assentamento Rural Vida Nova Transval, no Município de Canindé, Ceará”, 2012. Nela, o autor diz ser
(...) importante ressaltar que a pressão, advinda dos movimentos sociais no sentido de que sejam implantadas políticas de educação para o campo, conforme mostrado nesse trabalho, é nova e ainda falta muito. Os camponeses passam por um processo de reconhecimento de sua importância no contexto nacional e de que a zona rural deve ser preparada para que os seres humanos, que nela vivem, possam ter vida de qualidade e não sintam a necessidade de migrarem para as cidades (ALVES, 2012, p. 54).
Alves (2012) afirma também que, em relação à atuação da escola no processo de formação das crianças, há um grande esforço por parte dos seus profissionais, apesar dos limites por falta de infraestrutura e preparo dos educadores em relação à educação do campo. A comunidade espera muito desta escola, principalmente que os estudantes alcancem qualificação para contribuir com as necessidades e demandas de organização social, cultural e econômica do assentamento. Isso significa desconstruir conceitos trazidos de outras realidades vividas na região e trabalhar com as demandas concretas locais e com o que esperam as famílias desta escola. Complementando a discussão para com a falta de sensibilidade pelas necessidades das escolas do campo, a dissertação de Aline de Oliveira Bomfim “Política Pública para Inclusão Digital de Jovens de Cachoeira Seca - Caruaru/PE”, 2016, verifica:
A ausência de redes de internet pública, pois o único espaço coletivo público, a escola, não disponibiliza acesso a rede wifi para as e os jovens. O acesso a rede wifi é restrito aos professores, pois, esta foi contratada a partir de uma contribuição entre eles e não da infraestrutura da rede pública de ensino. Observamos que além da desigualdade entre o rural e o urbano existe uma exclusão naturalizada das e dos jovens que não ocorre apenas pelo poder público mas dos espaços e instituições que deveriam empoderar. (BONFIM, 2016, p. 48).
Bonfim (2016) salienta, nesse sentido, que ocorre uma invisibilidade desses jovens, embora o Estado ofereça programas e políticas voltadas à inclusão digital, o caminho percorrido entre estes até os locais se perde por não enxergar a diversidade.
Vale apontar também o fio que conecta a classe sete (representada pela cor rosa, da figura 4) desta análise, que tem como palavras-chave processo, formação e juventude. Nessa classe é possível ver que o processo de formação gera incentivo para os jovens rurais por meio da internet, possibilitando aos mesmos obterem alguma renda. Santana (2013) afirma que as mudanças na vida dos jovens rurais podem não representar mudanças estruturais na sociedade, mas contribuem com o desenvolvimento de processos individualizados dentro da sociedade atual e com a inclusão digital e social, a partir da descoberta e utilização do poder da comunicação falada, escrita ou através do audiovisual.
Portanto, o investimento em formação com apoio de tecnologias associadas às políticas públicas favorece o aumento de uma educação com capacidade dos jovens gerarem renda, mas também reflexividade sobre seu modo de vida e a sociedade. De acordo com Vital (2014), as declarações dos jovens entrevistados em sua pesquisa revelam que eles associam o sentido do trabalho a um esforço para evitar que os jovens em condição de vulnerabilidade social caiam em situações onde prevalecem a violência e a falta de perspectiva de futuro.
Considerações finais
Ao discutir, sob os processos educacionais, as produções do conhecimento sobre as juventudes rurais, particularmente nos entre os anos de 2007 e 2016, situando os rumos científicos ligados à produção de pesquisadores dos programas de pós-graduação do Nordeste do Brasil das áreas de ciências humanas e sociais aplicadas, verificou-se a necessidade de analisar as características que possibilitam mostrar o perfil dos autores com a temática, bem como as estratégias utilizadas teórico-metodologicamente na compreensão desse grupo social em seu vínculo com a educação.
As trajetórias dos autores das teses e dissertações revelam uma diversidade de caminhos que possibilitam mostrar avanços e recuos nas linhas de pesquisas sobre juventudes rurais e educação. Isso porque eles têm se dedicado a trabalhar com o tema, principalmente durante o percurso do mestrado e/ ou doutorado, enveredando depois em novos campos de estudos e pesquisas. Por outro lado, verificou-se também uma continuidade e desdobramento dessa temática ao longo de sua carreira, através de produções ligadas à pesquisa acadêmica e/ ou às atividades de ensino e extensão ligadas às Instituições de Ensino Superior.
Identificou-se nos autores e suas produções uma diversidade de estratos, no que diz respeito a este campo de pesquisa. Cada trabalho analisado possui identidade própria e especificidades que o transforma em algo singular, mas também sob linhas mestras que possibilitam situar teórico-metodologicamente, desde correntes mais estrutural-funcionalistas às fenomenológicas e pós-estruturalistas, isto dentro de um grau de maturidade que pode ser visto como uma área em atualidade e atualização.
Nesse processo de atualidade e atualização das abordagens sobre a superação das problemáticas abordadas nas teses e dissertações, foi possível observar que grande parte dos trabalhos analisados abordam as identidades das juventudes rurais sob suas necessidades propostas com a educação e políticas públicas. No entanto, para que essa interação ocorra é necessário o fortalecimento no fazer pedagógico e na formação continuada dos profissionais voltadas para a educação do campo, bem como a implementação de políticas públicas na direção da valorização dos profissionais, da melhoria da infraestrutura educacional e desenvolvimento rural sustentável.
A investigação permitiu concluir que os estudos referentes à pesquisa sobre o levantamento da produção do conhecimento de dissertações e teses, no período de 2007-2016, sobre Juventude rural e educação nos programas de Pós-graduação do Nordeste do Brasil vêm crescendo. O propósito até aqui não foi esgotar este debate, mas forjar possibilidades para futuros trabalhos. Ainda que não explicitamente, é possível perceber nesses estudos uma busca por um reconhecimento e demarcação da área, uma delimitação de quem são, a que vieram, como chegaram e para onde vão.
Portanto, observou-se a procedência autoral dos trabalhos acadêmicos, com discussões que têm trazido novos caminhos para a produção dos Programas de Pós-Graduação, possibilitando repensar os campos de conhecimentos sobre juventudes rurais e educação pelas áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.