Muitos foram os desafios e emoções que nos atravessaram neste ano. Vamos qualificá-los, para melhor entender os sentidos vivenciados; assim, elegemos 3 Atos. Sendo:
1º. Ato: das incertezas sanitárias aos descalabros políticos, e das esperanças renovadas.
O exaustivo e angustiante ano de 2022 foi marcado pelas incertezas sobre o controle da pandemia, pelos efeitos perversos do empobrecimento social, pela ampliação da disseminação do negacionismo - por dirigentes do país e partícipes da distopia social -, pelo crescimento da intolerância e violência e, como se não bastasse tudo isso, pelos descalabros da gestão federal, que diante de tantos desvarios fez encolher o investimento em ciência e tecnologia nas universidades e nos suportes de divulgação da produção científica - como as revistas, por exemplo.
Com o passar dos meses e com a retomada efetiva das atividades presenciais nas em todas as instituições, incluindo as universidades, fomos ganhando força e ânimo no contato que a vida junto aos pares, estudantes e técnicos nos proporciona, e nos organizamos para participar e promover reuniões, eventos, encontros na Universidade Federal do Paraná e em outros espaços como exercício de troca e atuação acadêmica. Porém, se no âmbito federal tivemos que administrar a penúria dos recursos, as inconstâncias e inseguranças quanto ao resultado do processo de avaliação quadrienal da CAPES, também na esfera local as dificuldades não foram diminutas, pois os serviços relativos ao processo de revisão, normalização, diagramação e gravação em linguagem XML tiveram interrupções, atrasos, e isso produziu prejuízos ao volume de publicações da revista.
Quando nosso fôlego já estava por ruir, atravessamos um processo de eleições presidenciais dos mais difíceis desde a redemocratização política no Brasil, com embates, ataques e descrenças no processo eleitoral e na eficiência das urnas eletrônicas. A Educar em Revista, embalada com os demais democratas brasileiros, posicionou-se contra os cortes de recursos das universidades, lutou pela democracia e engajou-se na defesa da vida e da ciência. Em outros momentos históricos, a revista também acompanhou contextos pouco promissores, vale aqui lembrar o interessante editorial escrito pela Professora Acácia Küenzer, em abril de 1996, à época como diretora do Setor de Educação, no qual explicitava a crise institucional que as universidades brasileiras enfrentavam naquele momento, fruto de crise do Estado nacional, que atingia no campo educacional, “radicalmente a concepção de ‘público’, de sistema educacional e de definição de responsabilidades quanto ao financiamento” (KÜENZER, 1996, p.1). Salientava ainda que:
apesar dos baixos salários, das precárias condições de trabalho, dos 15 meses sem reposição salarial, dos excessivos encargos e efeitos do financiamento sobre a pesquisa e sobre as estratégias de qualificação permanente, os servidores - docentes e técnico-administrativos - e os alunos do mestrado entregaram à comunidade a sua produção como resposta às críticas das quais temos sido objeto pelo próprio Estado, com profundas repercussões no imaginário que se constrói na sociedade civil. (idem, p.1-2).
Como muito bem dito no excerto destacado do editorial acima, a Educar em Revista, em tempos remotos e nos atuais, entrega socialmente o seu compromisso com a divulgação científica na área da educação, apesar da falta de investimentos, de editais permanentes para os periódicos, da ausência de pessoal técnico e de apoio institucional. Vimos mantendo, com a frequência e consistência exigidas, o fluxo de publicação da revista, reiventando formas e modos de fazê-lo. Mas, para dar conta desta empreitada, muitos sujeitos foram acionados e determinantes nesta tarefa. Recebemos dos autores paciência e compreensão com a extensão dos prazos nas devolutivas de seus manuscritos, dos organizadores de dossiês temáticos muita colaboração e parceria com a seleção de bons textos, e dos leitores boa recepção e a manutenção pela intensa procura pelas nossas publicações. Nessa direção, faz-se necessário registrar o decisivo apoio institucional recebido pelo Setor de Educação, aqui nomeado pelos seus diretores Marcos Alexandre dos Santos Ferraz e Odisséa Boaventura de Oliveira, pelas coordenadoras do Programa de Pós-Graduação em Educação, Elisangela Alves da Silva Scaff e Andréa Barbosa Gouveia, pela técnica Lúcia Alves dos Santos, que durante tantos anos dedicou-se ao trabalho da revista e, neste ano, se aposentou, abrindo estrada para uma nova colega, Sandra Lima, assumir a responsabilidade pela secretaria da Revista. Também nos apoiaram as estagiárias Clarisse Sofhia Alejandra di Núbila e Natália Bonadia da Silva Fulgêncio, assim como as e os colegas, professoras e professores da casa Mater, integrantes do Conselho Consultivo.
O ano está por findar, e renovadas perspectivas de regresso à civilidade e aos investimentos em ciência e educação se apresentam. O resultado do processo eleitoral de 2022, longe de nos acomodar, nos provoca sentimentos de esperança e cobrança para outros tempos de estabilidade e possibilidades.
2º. Ato: Mesmo com as agruras, é preciso comemorar! A Educar em Revista se mantém firme e forte.
No primeiro editorial da Educar, de março de 1977, o Professor Lauro Esmanhoto, coordenador do Curso de Mestrado em Educação da UFPR à época, apostava ser a revista um “repositório intelectual trabalhado por professores e alunos” (p.1) do Programa, cujas finalidades se centravam em divulgar
estudos, pesquisas, monografias, ou de quaisquer trabalhos que demandem nível científico, atende a uma tríplice finalidade: estimular o bom desempenho dos que se acham envolvidos pelas tarefas do Mestrado; levar à comunidade as contribuições da instituição para solução da sua problemática educacional; e servir de veículo ao indispensável intercâmbio científico-cultural entre os Setores, Centros, ou Faculdades de Educação, quer nacionais ou estrangeiras. (ESMANHOTO, 1977, p.p.1).
Obviamente que as finalidades, composição e organização da revista se alteraram para os dias atuais, mas elementos comuns permanecem neste extenso arco temporal - a divulgação de estudos e pesquisas de alto nível científico, a tarefa de se constituir em espaço de intercâmbio científico-cultural e a problemática educacional figurar como eixo das publicações da revista.
Pela materialidade das capas da primeira e do último volume, conforme se visualiza nas imagens 1 e 2, é possível caracterizar que a diferença não reside apenas na dimensão estética, mas localiza uma mudança significativa, o lócus da gestão da revista passa a ser o Campus Rebouças, representado na imagem pelas escadarias antigas do Edifício Teixeira Soares, novo endereço que abriga parte das dependências do Setor de Educação, desde 2016, e nele acolhe em sala própria a Educar em Revista.
Muitos esforços e competências de colegas foram mobilizados na editoria da Educar em Revista, na secretaria e no Conselho Consultivo e Editorial, no decorrer dos seus 45 (quarenta e cinco) anos. A todos e todas que participaram, direta ou indiretamente, recebam nosso agradecimento por fazer manter, sem interrupção, o empreendimento de uma revista científica de qualidade aferida, com avaliação Qualis/Capes A1, desde 2012, que inicialmente nasceu ligada ao Curso de Mestrado em Educação da UFPR e hoje se vincula ao Setor de Educação e se abre para compartilhar o conhecimento acadêmico produzido por pesquisadoras e pesquisadores do Brasil e do mundo. Não seria forçoso afirmar que a Educar, como carinhosamente a chamamos, tem uma história de sucesso de público e crítica, pois construiu ao logo dos anos reconhecimento acadêmico e expansão de leitores e autores que qualificam e renovam o sentido próprio da revista.
De 1977 para cá, a revista se profissionalizou, desde os aparatos formais de editoração aos aspectos de submissão e divulgação dos estudos e pesquisas. Também ampliou suas bases de indexação, alargou seu público leitor, diversificou seus colaboradores autores, brasileiros e de países estrangeiros, aprendeu a lidar com ferramentas novas de divulgação científica e de mídias sociais, a enfrentar pressões por modismos e critérios por vezes nem sempre consoantes com os entendimentos da área de humanidades e educação, bem como a manter o rigor acadêmico aliado ao compromisso da democratização do conhecimento, que passa pelo acesso aberto, ou seja, sem cobranças para acesso à revista.
Ao considerar as publicações do ano em que comemoramos 45 de existência (persistência e resistência), em 2022 temos o seguinte balanço: 45 manuscritos derivados de 4 (quatro) dossiês temáticos, com os seguintes temas: “Educação de jovens e adultos, políticas e processos educativos democráticos”; “Educação rural em perspectiva comparada: políticas de escolarização, experiências formativas e trabalho docente”; “Pierre Bourdieu - após 20 anos qual o legado de sua obra para pesquisas em educação” e “Sujeito e conhecimento: articulações em contextos de formação e atuação docente”. Em outras três seções: Demanda Contínua, 21 (vinte e um) artigos, 1 (uma) Entrevista e o Editorial, perfazendo um total de 67 (sessenta e sete) textos. O conjunto é revelador de um esforço coletivo e de uma aposta na potente e consistente produção do campo educacional.
Último Ato: encerrar, mas continuar a existir
Para finalizar, recorremos à poesia de Paulo Leminski (2013) ao dizer que:
O ciclo do trabalho editorial da Educar em Revista quando concluído não se fecha. Na rua, nas moradas dos nossos leitores, torna a existir, revigora-se a cada leitura, discussão, citação feita. Que nos próximos anos, compreendidos como mais auspiciosos, ela siga firme em seus propósitos vislumbrando os 50 anos, plenos do simbolismo de sua trajetória acadêmica.