Mudam-se os tempos
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades. […]
O ser em transformação, a realidade modificando-se e a vida seguindo com seus desafios. Assim, produz-se a existência, que, sob a perspectiva da dialética, está em movimento e em permanente processo de superação, como um devir. Essas mudanças, impregnadas por contradições, por negação e renovação das qualidades que regem a orquestra da vida, circunscrevem-se aos movimentos que se processam na existência do ser humano, produzindo a história. Orquestra, por entender-se que, ao mesmo tempo em que o ser humano vive como sujeito “livre”, guiado pelo encanto da melodia, existem regras sociais que precisam ser seguidas, a exemplo de uma partitura.
Nesse contexto, como sujeito histórico-social, criador da realidade (Cury, 1986), o ser humano (re)produz e conduz sua existência sob condições adversas, com embates políticos, sociais e ideológicos. Isso porque, “[…] na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade; […]” (Marx, 2008, p. 49). Nessa realidade, as escolhas sobre o modo de viver, de pensar, de agir, enfim, de ser e de estar no mundo não ocorrem de maneira aleatória e neutra e a partir somente de vontades individuais.
O discurso1 dominante omite, nega a exploração de uma classe sobre outra, os antagonismos de classes e se afirma “[…] pretensamente universal, igualitário, e, portanto, falsamente idêntico e homogêneo.” (Cury, 1986, p. 47). Alicerçada na pseudoconcreticidade2 (Kosik, 1976), a classe dominante, detentora dos meios de produção, estabelece suas concepções de realidade como verdades acabadas e imutáveis. O mundo reificado3 é expresso sob aparências enganadoras, com preconceitos, como práxis4 fetichizada (ibidem), em que os fenômenos5 imediatos e as evidências penetram na consciência dos indivíduos. A superação da pseudoconcreticidade se processa a partir da crítica revolucionária da práxis, explicitada por esse filósofo tcheco (1926–2003), em destaque ao seguinte argumento: “Para que o mundo possa ser explicado ‘criticamente’, cumpre que a explicação mesma se coloque no terreno da ‘práxis revolucionária’.” (ibidem, p. 22).
Nesse sentido, o processo de superação da pseudoconcreticidade abrange a educação, tanto no âmbito formal como informal. Trata-se, a educação, de “[…] um campo6 bastante amplo e caracteriza-se por sua relação intrínseca com os demais campos da vida humana: o social e, por isso, cultural, o econômico, o político […]” (Ferreira, 2017, p. 19). Dessa maneira, prossegue a autora, a educação “[…] apresenta-se suscetível a quaisquer movimentos no social.” (ibidem, p. 19). Nessa relação, diferentes interferências desses campos distintos da vida social acarretam mudanças, e a educação desencadeia modificações, portanto, articulam-se e influenciam-se de maneira imanente. Processa-se o movimento da realidade, em que todos os fenômenos se inter-relacionam com implicações entre um e outro, em espiral.
O movimento dialético de pensar, de perceber as peculiaridades e de compreender os fenômenos da realidade e, em decorrência, apreender e elucidar as suas “múltiplas determinações”7 (Marx, 2008, p. 260) e, intrinsecamente, nela interferir converge para a necessidade de entendimento da categoria8 “totalidade”. Para tanto, considera-se, com Hungaro (2014, p. 19, grifos do original), a apreensão da realidade em sua totalidade e salienta-se: “[…] essa mesma realidade é compreendida como uma processualidade, como movimento, enfim, como vir a ser que carrega em si elementos de superação e de continuidade.”. Sendo assim constituída, significa que,
A totalidade está na realidade concreta, e ao investigador é possível reproduzi-la idealmente. Não se trata de conhecer os vários aspectos (fatores) que compõem a realidade e depois somá-los. Trata-se de perceber que a realidade é em si totalidade e nos é possível apreender a lógica articuladora dessa realidade. O pensamento não coloca a lógica na realidade, o movimento é justamente o contrário. (Hungaro, 2014, p. 66)
Com base nessa relação imanente entre realidade e totalidade equivalentes a um todo estruturado, dialético, em que os fatos podem ser racionalmente compreendidos, como conhecimento da realidade e as partes são os elementos estruturais do todo (Kosik, 1976), visa-se entender os movimentos dos fenômenos do real, em diferentes tempos e contextos. A totalidade, como eixo estruturante, permite a problematização da realidade com seus inúmeros desafios, a gênese histórica do seu processo de formação, os limites gerados pelos antagonismos de classe e as possibilidades de superação pela práxis revolucionária.9
Dessa maneira, compreende-se a educação imersa e orientada sob os pilares do capital, como um sistema incontrolável, isto é, “[…] como um modo de controle sociometabólico e sistema de reprodução social.” (Mészáros, 2011, p. 96). E, diante das mudanças provocadas pelas inúmeras determinações do capital, sentiu-se necessidade de revisar a perspectiva de estudo e pesquisa10 em Educação, prospectando realizá-la com base na dialética e assentada no discurso, sendo seus movimentos de sentidos a centralidade. Além do mais, sabe-se da importância em subsidiar uma proposta de estudo e pesquisa em Educação com as profícuas categorias: “totalidade”, “contradição” e “historicidade” (Cury, 1986; Netto, 2011; Lukács, 2013), por isso, a necessidade de articulá-las aos conceitos de “movimentos”, “discursos” e “sentidos”. Estes, interpretados e expostos os argumentos, tornam-se categorias. Isso justifica-se pelo entendimento de que “[…] as categorias devem corresponder às condições concretas de cada tempo e lugar. Elas não são algo definido de uma vez por todas e não possuem um fim em si mesmas.” (Cury, 1986, p. 21).
Apresentados esses prolegômenos, necessários à compreensão de como se articulou este artigo, cabe esclarecer ainda como a escrita sistematiza os estudos em grupo, tendo como objetivo descrever a Análise dos Movimentos de Sentidos (AMS), suas características conceituais, como fundamento teórico-metodológico para a pesquisa em Educação (o que será apresentado na próxima seção). Para tanto, apresentam-se os aspectos conceituais e operacionais na análise dos movimentos e na concepção de sentidos (descritos na terceira seção do texto). Seguem considerações finais, reiterando os aspectos principais tratados no texto.
ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS: UMA DESCRIÇÃO GERAL
Neste artigo, discorre-se sobre a elaboração da AMS como fundamento teórico-metodológico.11 Para os sujeitos envolvidos nessa proposta de estudo e pesquisa, movimentos, discursos e sentidos emergem como categorias, dadas a complexidade e a ampla perspectiva de análise dos fenômenos do campo social, de modo especial, os relativos à educação. A partir da necessidade de evidenciar o contexto de produção de dados das pesquisas, nas quais seja possível relacioná-lo à tessitura dos fatos, teve início esse processo. Isso porque pesquisas também tendem a explicitar o movimento existente e os sentidos produzidos, sendo esses articulados e, além disso, potencializando a materialidade discursiva influenciada pelo meio, porém não determinante. Nesse processo, o cotejo entre os movimentos fundamentais da totalidade dos sujeitos ocorre na cisão de circunstâncias e situações em que aqueles se produzem.
Cabe destacar que, na AMS, a teoria apresenta-se em constante reavaliação e recriação, tanto no âmbito do método como na denominação. Nesse sentido, adensar estudos relativos à temática possibilita contribuir com subsídios para pesquisadores que pretendem investigar no campo educacional, sem se contrapor às metodologias científicas já consolidadas na pesquisa em Educação, mas indicando uma alternativa.
Vale dizer que o desenvolvimento da AMS surge da necessidade de estudantes e pesquisadores do Grupo de Pesquisa Kairós, com vistas à pesquisa em Educação, elaborarem coerentemente uma aproximação e consonância entre os aportes teóricos e metodológicos. Partiu-se da percepção quanto à própria pesquisa e aos procedimentos escolhidos no grupo. Resolveu-se, para aproximar esses aportes, elaborar um fundamento teórico-metodológico, um e outro juntos, aliados, consoante com a cultura da pesquisa na área da Educação. Para abordá-lo, inicialmente, mais do que uma descrição metodológica propriamente dita, cabe compreender as definições dos termos abordagem,12método,13técnica14 e metodologia.15 A finalidade em distingui-los torna-se imprescindível para avançar nesta argumentação, pois, partindo dessas distinções, pretende-se assumir, mesmo que momentaneamente, como parte fundante da AMS, a perspectiva que vem sendo estudada: fundamento teórico-metodológico.
Posto isso, para além de explicitar os termos recorrentes nas metodologias de pesquisa, compreendê-los no seu contexto de produção é importante para delimitar de onde se parte. Nesse sentido, salienta-se que, na elaboração desta seção do texto, foram organizados quatro blocos temáticos, interligados e interdependentes, para facilitar a distinção de cada termo: abordagem, método, técnica e metodologia. A escolha da “[…] organização é hierárquica. A razão para esta organização é que as técnicas executam um método que é consistente com uma abordagem.” (Anthony, 1963, p. 63-67, grifos do original). A necessidade de distinção dos termos deve-se ao fato de encontrá-los em textos acadêmicos relativizadas como sinônimos ou similares. Discordando dessa similaridade, acredita-se que se torna relevante compreendê-los e distingui-los, pois, como parte essencial do método de pesquisa, constituem-se nos subsídios para a investigação.
Prossegue-se com as explicitações dos termos apresentados de acordo com a sua etimologia. Inicialmente, contempla-se a palavra abordagem, designada como substantivo feminino, de origem francesa abordage. O termo abordagem “[…] aparece na literatura, após estudos nas áreas da linguística estruturalista e psicologia comportamental […]” (Borges, 2010, p. 398).
O método, por sua vez, caracteriza-se por não prescrever, tendo em vista as especificidades e particularidades de cada estudo e pesquisa, permitindo autonomia de escolha aos pesquisadores. Já em relação à palavra metodologia, é composta de méthodos, formada por dois vocábulos — meta: “[…] algo que está além, adiante ou ao final, na intenção de que seja alcançado.” (Souza, 2009, n. p.); e hodos (passagem ou caminho) — mais o sufixo logia. Em suma, metodologia é “[…] a organização e o planejamento de uma passagem em relação ao estudo, prática e/ou conclusão de um tema.” (Veschi, 2019, n. p.).
Ao recorrer aos significados dos termos no sentido do dicionário, observa-se que alguns têm certas similitudes, e, devido a isso, podem ocorrer equívocos conceituais, o que permite questionar: qual o termo mais adequado ou com maior proximidade semântica para a descrição do que seja a AMS? Como resposta para essa questão, considera-se que sejam movimentos — sentidos — discursos as categorias basilares para a pesquisa em Educação. Isto posto, nesse processo, chegou-se ao consenso de que os termos anteriormente citados, por ora, não dimensionam tal estudo. Em decorrência, decidiu-se que a terminologia para distinção e caracterização geral da AMS, condizente ao que se propõe, seria fundamento teórico-metodológico.
Aqui cabe destacar que as produções de Liliana Soares Ferreira e pesquisadores do Kairós sobre AMS se intensificaram a partir do ano de 2018. Os materiais publicizados no decorrer desses quatro anos abordam a AMS como técnica (Ferreira, Braido e De Toni, 2020), abordagem analítica (Ferreira et al., 2019), abordagem teórica (Rodrigues e Ferreira, 2020), investigação (Ferreira, Braido e De Toni, 2020) e aportes teóricos-metodológicos (Siqueira, 2020). Por ser um estudo em produção, constante avaliação e aprofundamento das categorias e dos conceitos que adensam as distintas elaborações, tais como artigos científicos, monografias, trabalho de conclusão de curso (TCC), dissertações e teses, a AMS consta como técnica em parte significativa destas produções: Ferreira et al. (2019); Ferreira (2020); Rodrigues e Ferreira (2020); pois, até então, a concepção de técnica aproximava-se das demandas advindas dos objetos de pesquisa. Porém, com a ampliação temática, observou-se a necessidade de buscar uma terminologia que pudesse contemplar outras diferentes possibilidades para a descrição conceitual, qual seja fundamento teórico-metodológico.
Por que fundamento teórico-metodológico? Justifica-se com base no significado do termo “fundamento”, com a seguinte definição: “[…] a reunião dos conhecimentos ou daquilo que sustenta uma teoria, um sistema, uma religião.”.16 Nesse sentido, essa terminologia parece promissora para distinguir a mas, diferenciando-a de, por exemplo, percurso ou pressupostos teórico-metodológicos, recorrentes na linguagem científica, para descrever como foi ou será realizada a pesquisa. Ao revisar a explicitação de percurso (espaço percorrido), pressupostos (aquilo que vem antes), para entender o significado destes, questionou-se se, de fato, seriam ou não adequados, independentemente do contexto ou das situações em investigação. Ao não encontrar respostas conclusivas e condizentes com o assunto em questão, reiterou-se ser mais apropriada, por sua significação, a expressão fundamento teórico-metodológico como escopo de referência para designar a AMS. Afirma-se, portanto, que se pretende desenvolver o fundamento teórico-metodológico de pesquisa a ser aplicado, em especial, na pesquisa em Educação. Isso porque se trata de uma proposta de base dialética, que visa estudar, considerando a totalidade social, em um processo investigativo que se movimenta do particular para o geral e deste para o específico, analisando, a todo o momento, os sentidos evidenciados em relação aos fenômenos.
Reitera-se que, na AMS, compreende-se o movimento como condição que dá origem aos sentidos, ou seja, para que se produza um sentido haverá um movimento. Como exemplo, por se tratar de uma proposta de estudo e pesquisa em Educação, analisam-se os diferentes fenômenos que fazem parte desse campo social: políticas educacionais, políticas de governo, organização dos trabalhadores em educação via sindicatos, precarização das relações de trabalho, entre outros. Esses fenômenos alteram-se de acordo com os movimentos da realidade e, no caso da sociedade brasileira, formada pelo modo capitalista de organização da reprodução econômica e social (Mészáros, 2008), o capital domina e se reproduz. As múltiplas determinações da reprodução social do capital definem e direcionam as políticas em seus diferentes âmbitos. Com efeito, passam a existir contradições no âmbito dos discursos sobre a educação, desde as intencionalidades no contexto escolar, como também informal. Isso porque a realidade em sua totalidade é dinâmica, mutável, produzida pelo ser humano. A realidade é “[…] historicizada, ao ser considerada como produto da práxis humana, já que o mundo histórico é o mundo dos processos dessa práxis.” (Cury, 1986, p. 25).
Em decorrência, para os seres humanos, o movimento é o processo do pensamento, em que, inicialmente o objeto de pesquisa apresenta-se caótico e, no decorrer, com a apropriação teórica, construída com crítica, interpretação e avaliação dos fatos (Kosik, 1976), realiza-se a abstração. Do concreto ao abstrato, Kosik (1976) define como o movimento no pensamento e do pensamento, portanto, é um movimento que articula os conceitos, como elemento da abstração. Nesse movimento, o ser humano cria sentidos para si, “Estes mesmos sentidos, por meio dos quais o homem descobre a realidade e o sentido dela, coisa, são um produto histórico-social.” (ibidem, p. 29).
Já na perspectiva das ciências da natureza, especificamente na Física, que possibilita conhecer vários tipos de movimentos, há outra e complementar descrição conceitual de movimento. O básico e popularmente conhecido é o movimento retilíneo unidimensional, que determina o deslocamento em linha reta de um ponto A para um ponto B. O que define a existência ou não de um movimento é a variação de espaço entre um corpo e um referencial no decorrer do tempo (Halliday, Resnick e Walker, 2012). Em outras palavras, há de se tomar um ponto de referência em relação ao que é analisado em função de espaço e tempo. Nesse sentido, quando o movimento de deslocamento não é conhecido, isto é, não se desloca de forma retilínea, em que não se identifica sua trajetória, as leis da Física estabelecem a linguagem matemática para observar esses deslocamentos, as grandezas escalares. Portanto, de acordo com os autores anteriormente mencionados, “Nem toda a grandeza física envolve uma orientação. A temperatura, a pressão, a energia, a massa e o tempo, por exemplo, não ‘apontam’ para nenhuma direção. […] A grandeza vetorial mais simples é o deslocamento ou mudança de posição.” (ibidem, p. 40).
Transpondo esse conceito da Física para o campo discursivo em questão, como uma espécie de analogia, tem-se a análise como referencial e, a partir desta, processa-se o movimento de produção de sentidos. Entre o que o discurso expressa e sua materialidade,17 ocorre o movimento que o altera significativamente em decorrência das determinações da realidade. “Assim, o discurso é materialidade. Está na base desta, sustenta-a, alimenta-a de sentidos e possibilita o movimento dos sujeitos, em inter-relação.” (Ferreira, 2020, p. 10). O discurso, que apresenta nuances, e a realidade, por se caracterizar dinâmica e permeada por contradições, desafiam o pesquisador a produzir análises a partir do confronto e de aproximações e elaborar a sistematização. A produção de sentidos se desenvolve nesse movimento, entre análise, síntese e sistematização (Ferreira, Calheiros e Siqueira, 2020).
Como analogia ao conceito de movimento na Física, pode-se também observar uma pessoa parada em determinado local e que executa a ação de pular para o alto e retornar ao mesmo lugar. Embora não tenha se deslocado de sua posição inicial, distanciou-se da superfície em que se encontrava por um determinado tempo, retornando à mesma posição inicial. Tal ação configura-se como movimento. Importante salientar que o movimento não acontece apenas na materialidade, mas, do mesmo modo, na subjetividade.18 Vale dizer, ao exercitar o pensamento para a produção dos sentidos, ocorre, antes de tudo, o movimento.
Geralmente, a concepção de movimento encontra-se atrelada à ideia de deslocamento, transmutando de um ponto e/ou estado para outro e, não raras vezes, relaciona-se a um lapso de/do tempo. Dessa maneira, movimento não é algo momentâneo, pronto e acabado. Ocorre ao longo de um período de tempo cronológico, histórico, social e contextualizado. Nessa concepção, assume-se que, para acontecer o movimento, é mister existir um conjunto de elementos agregados que interagem entre si, o que implica, direta ou indiretamente, em influências que o meio exerce em relação ao objeto analisado. Enfim, movimento não é algo visível, tangível, palpável. É um fenômeno de características subjetivas. No contexto da mas, movimento constitui-se no ponto de chegada e partida. Para fins de sistematizar a análise dos dados, considera-se como uma categoria, cuja centralidade consiste em produzir os sentidos e, a posteriori, possibilitar a compreensão.
A seguir, apresenta-se a descrição da AMS e os limites constatados no processo de análise de produções acadêmicas, de modo especial, em dissertações e teses. Argumenta-se a partir do exposto anteriormente e visa-se explicitar os procedimentos para a análise de trabalhos acadêmicos, de livros e discursos.
ANÁLISE DOS MOVIMENTOS DE SENTIDOS
Para a realização de estudos e pesquisas, podem os pesquisadores partir de temas e abordagens que, de alguma maneira, vinculam-se às suas vivências profissionais e ou acadêmicas, como também àquelas que se relacionam a determinadas situações que, por sua vez, acarretam abruptas mudanças na sociedade. Um exemplo dessa ocorrência é o atual estágio pandêmico, no qual estão sendo realizadas muitas pesquisas sobre a educação remota e os impactos desse momento na produção das investigações. Para dar início aos estudos, avaliando o contexto em que ocorrem, os investigadores elaboram estratégias como estado do conhecimento e estado da arte. Com isso, obtêm informações preliminares acerca de temas e abordagens que se articulam às suas pesquisas, bem como possibilita-lhes confirmar o caráter inédito proposto em um projeto de investigação, evitando, com isso, redundância.
Para melhor esclarecer essa referência, parte-se da compreensão de “estado do conhecimento” conforme Morosini e Fernandes (2014, p. 155) apresentam a definição: “[…] identificação, registro, categorização que levem à reflexão e síntese sobre a produção científica de uma determinada área, em um determinado espaço de tempo, congregando periódicos, teses, dissertações e livros sobre uma temática específica.”.
Nesta busca em diferentes fontes, tem sido recorrente a constatação de significativa produção de trabalhos elaborados com determinada temática sem que se evidenciem os sentidos produzidos. Percebem-se limites. Um deles diz respeito ao fato de pesquisadores desconsiderarem a produção imersa em uma totalidade dialética, que transpassa o autor e a obra a todo momento e, desse modo, analisam para se situar quanto aos temas de “[…] determinada área em um determinado espaço e tempo.” (Morosini e Fernandes, 2014, p. 155). Ou, então, aplicam estados da arte que “[…] abrangem toda uma área do conhecimento […]” (Romanowski e Ens, 2006, p. 39), em que, não raramente, demonstram compreensão dos avanços e/ou retrocessos de determinada temática, podendo abstrair os sentidos e os movimentos produzidos pelos autores em outras obras com a mesma temática e desconsiderar o espaço e o tempo da produção.
Em acordo com o evidenciado na Figura 1, compreende-se que a AMS abrange a totalidade e, por isso, busca-se representá-la por um círculo onde estão contidos o estado da arte e o estado do conhecimento, em caixas fechadas, considerando-se seus limites, que os tornam estáticos e fechados.
Diante disso, optou-se por denominar AMS, a qual visa a entender as relações estabelecidas sobre determinado fenômeno, além de compreender os textos já elaborados sobre a temática, tendendo a perscrutar o contexto em que as produções acontecem (Ferreira, Zimmerman e Calheiros, 2020). Então, esse fundamento teórico-metodológico de estudo e pesquisa em Educação produz e analisa os dados, apresenta a historicidade e as contradições da realidade, conforme se configura a sociedade capitalista. Dito com outras palavras, põem-se em relevo os sentidos produzidos nos trabalhos analisados, destacando-se o movimento encontrado em cada sentido, o que não seria possível analisar quando se trata de significados, pois a essência do sentido está no movimento. Os significados, segundo Ferreira (2020), são construções sociais, sistematizadas após o debate. Dessa forma, compreende-se os sentidos em constantes movimentos: o primeiro, entre os próprios sentidos; e o segundo para vir a ser significado, conforme o exposto na Figura 2.
De acordo com a Figura 2, ocorrem movimentos separados, porque não necessariamente se processam de modo simultâneo. Não raras vezes acontecem os movimentos dos sentidos em debates com outros interlocutores, sem que resulte em sistematização, portanto, em significado. Considerando esses pressupostos, a partir da escolha da temática de abordagem dos estudos, faz-se a pesquisa. Prospecta-se, com ela, compreender as obras e os estudos já realizados que serão parâmetro de análise da temática e, com isso, “[…] entender o modo como ela se expressa em diferentes tempos e lugares, conhecer sua historicidade […]” (Braido, 2020, p. 13).
Destarte, há de se definir quais tipos de produções se analisará, como, por exemplo, entrevistas, textos legais referentes às políticas educacionais, livros, trabalhos de conclusão de curso e/ou monografias e/ou dissertações e/ou teses, produções acadêmicas e/ou profissionais, resumos e/ou artigos, periódicos completos, anais de eventos, entre outros. Por meio dessas diferentes fontes de estudo e pesquisa, constatam-se diversas possibilidades — cabe ao pesquisador delimitar e ter sempre em mente o objeto de sua pesquisa. A partir disso, conforme a escolha das produções, decide-se qual a plataforma de análise (repositórios, bibliotecas, periódicos, etc.) delas. Nessa fase, é importante atentar-se à observância de determinados aspectos, conforme o discurso. É o que se descreverá a seguir.
SELEÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS
Neste momento, ressalta-se a importância de se apresentar(em) o(s) descritor(es), escrito(s) de todas as maneiras possíveis: com e sem acento, com letras maiúsculas, com a primeira letra maiúscula, com a primeira letra minúscula. Se a expressão conta com duas palavras, escreve-se com letra maiúscula a primeira e, por sua vez, a primeira letra da segunda palavra será minúscula. Posteriormente, inverte-se, pois podem ser obtidos resultados de busca diferentes. Em outras situações, as palavras podem ser sinônimos; há muitas possibilidades e nem todas fazem-se presentes nesta explicação, mas a ideia é fornecer pistas ao pesquisador da importância de se pensar em variáveis, visto que, de acordo com a plataforma, há de se considerar também o operador booleano.19 No Quadro 1, mostram-se as possibilidades e salienta-se que se faz necessário observar e entender que cada círculo corresponde a uma palavra da temática, conforme o exposto.
Enfatiza-se que os booleanos auxiliam na pesquisa. Na primeira linha do Quadro 1, a busca realiza-se apenas em trabalhos que contenham a expressão trabalho pedagógico. As duas palavras, diferentemente do segundo caso, apresentado na segunda linha da coluna, que contempla apenas produções com a palavra trabalho, já que o booleano utilizado exclui o segundo termo. No terceiro caso, na terceira linha do quadro, desenvolve-se a pesquisa nas três versões possíveis, ou seja, inserem-se as palavras trabalho, pedagógico e também a expressão trabalho pedagógico. No momento em que se pretende realizar a pesquisa sobre determinada temática, composta de duas palavras, como a expressão trabalho pedagógico, indica-se que a busca seja realizada com as palavras entre aspas, pois, nesses termos, o decodificador entende a procura desses termos de acordo com essa ordem de escrita.
Para auxiliar na pesquisa, certas plataformas20 utilizam determinados caracteres curingas, que seriam o asterisco (*) e o sinal de interrogação (?). O primeiro auxilia na busca de palavras com múltiplos caracteres, por exemplo pedagog* e, então, aparecem resultados como pedagogy, pedagoga, pedagogo, pedagogia, pedagógico. E, se modificar apenas um caractere, utiliza-se o sinal de interrogação, como ao buscar por pedagog?, a busca se dará a partir de palavras que contenham pedagogo ou pedagoga.
Selecionados os trabalhos que comporão o corpus, inicia-se a análise, cujas etapas serão descritas adiante, no texto.
SELEÇÃO DE OBRAS
Engloba a pesquisa bibliográfica, que se constitui em técnica de produção de dados, realizada durante toda a análise para subsidiar os sentidos produzidos. As obras selecionadas têm em comum perspectivas teóricas que ou se aproximam, ou se distanciam. Nesse caso, cabe aos pesquisadores esclarecerem essas aproximações ou não. Portanto, a pesquisa bibliográfica não diz respeito somente à seleção, mas aos critérios para tanto.
Selecionados os materiais que integram o corpus da pesquisa, passa-se à análise. Nesse processo, intenciona-se evidenciar os discursos dos sujeitos, comparando-os e articulando aproximações e deslocamentos, tendo em vista os discursos “[…] serem evidências dos sujeitos […]” (Ferreira, 2020, p. 9). Em consonância com essa concepção, entende-se que os discursos se referem a
[…] enunciados organizados e expressos pelos sujeitos, mediante uma intencionalidade, um objetivo em relação aos interlocutor(es), preestabelecido e teleologicamente elaborado, porque antecipam reações, compreensões, interações a serem alcançadas por meio da organização expressiva da linguagem. (ibidem, p. 4)
Produzidos em acordo com a materialidade social, os discursos expressam as concepções de mundo dos sujeitos, como percebem e entendem as contradições da realidade e seus posicionamentos diante dos diferentes aspectos do real. Pelos discursos, os sujeitos manifestam consciência acerca da realidade. Ademais, apresentam-se como seres sociais pertencentes a uma classe, constituída pelos não proprietários dos meios de produção ou na condição inversa, de proprietários. Para Marx (2008, p. 49), “O modo de produção da vida material condiciona o processo de vida social, política e intelectual.”. Portanto, sob esse pressuposto, há referência, neste texto, à materialidade da produção dos discursos e a como o ser social elabora a consciência sobre a realidade dos fenômenos.
Na análise dos discursos inserem-se, como técnicas, análise documental, entrevistas, questionários, diário de campo, grupos focais, entre outros (Ferreira, 2020). Para a realização da análise documental, o pesquisador necessita munir-se de referenciais produzidos a partir de diferentes instâncias e perspectivas. Pode valer-se de legislações, de projetos de governo, de posicionamentos de sujeitos vinculados à representação dos trabalhadores, como também dos empresários. Além destes, há outras possibilidades, como artigos publicados em jornais, charges, fontes documentais, conforme Ciavatta (2010) enumera. Dada a importância da análise da autora citada, destaca-se a pesquisa em acervos de escolas, sindicatos, universidades, empresas, órgãos públicos, prefeituras municipais, as quais,
São, basicamente, instituições voltadas para a geração de informações e para a organização de fontes de pesquisa. Os acervos podem ser compostos de documentos textuais, iconográficos (imagens fotográficas e outras, negativos, cromos, gravuras, mapas), legislação, jornais e recortes, livros, revistas, material audiovisual (fitas cassete, vídeos, filmes). Os suportes podem ser tanto impressos, ou em outro material, quanto digitais. (Ciavatta, 2010, p. 22)
Mediante essas fontes e as demais técnicas de pesquisa enunciadas anteriormente, inicia-se o processo de investigação, análise e produção de síntese e, por fim, a sistematização. Esse movimento abrange a análise de obras e discursos produzidos, representados com a sequência do Quadro 2, em que se destacam os principais aspectos de cada uma das etapas que se articulam e são interdependentes.
Investigação ⇒ | Análise dos dados ⇒ produzidos | Síntese ⇒ | Sistematização |
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↓ | ↓ | ↓ | ↓ |
Pesquisa bibliográfica; leitura de relatórios; acervos; periódicos. | Problematização dos fenômenos; instrumentos de análise; processos de linguagem entre sujeitos que visam conhecer a totalidade. | Agrupamentos de sentidos em suas semelhanças. Recompor o texto. |
Escrita das sínteses. Argumentação. |
Fonte: Elaboração dos autores conforme Ferreira (2020).
Após, sugere-se a criação de uma tabela, como o Quadro 3, para o registro das primeiras informações do trabalho que também auxiliam na visualização das relações dos sentidos entre os discursos e os respectivos autores.
N° | Instituição de ensino | Título | Autor | Ano | Palavras-chave | Subtítulos |
---|---|---|---|---|---|---|
01 | ||||||
02 |
Exemplifica-se com uma tabela para análise de trabalhos acadêmicos e/ou artigos.
Fonte: Elaboração dos autores.
Os itens especificados no Quadro 3 evidenciam os sentidos, como o ano em que consta significativa produção referente à categoria em questão. Ao pesquisador, cabe elaborar hipóteses para essa categoria, em decorrência da ênfase ou mesmo da reduzida inserção nos estudos em determinada instituição de ensino. De acordo com a situação analisada, há possibilidades de se pontuar elementos interessantes, tais como, por exemplo: porque em determinada(s) instituição(ões) há maior ou menor incidência de interesse pela temática; sob qual ponto de vista os periódicos concebem o objeto investigado; quais outras temáticas o autor relaciona ao foco principal de pesquisa; e como aborda o tópico definido em seu trabalho a partir dos subtítulos presentes no texto.
Além disso, a organização das informações essenciais das produções intenciona evidenciar a distribuição das pesquisas nos estados brasileiros, se for um item necessário ao estudo. Com tal procedimento, torna-se possível elaborar hipóteses sobre o estudo do tema em cada região, entre outros possíveis sentidos definidos de acordo com os interesses dos pesquisadores.
Na análise das instituições de ensino, pode-se pensar e indagar em relação à dependência administrativa em que se encontra e se a pesquisa está de acordo com as áreas de conhecimento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Por fim, elaboram-se dados relativos à temática de estudo com seus focos secundários, que, no caso dos estudos realizados, podem ser:
trabalho pedagógico na educação infantil;
trabalho pedagógico no ensino fundamental;
trabalho pedagógico no ensino médio;
trabalho pedagógico no ensino superior; etc.
Posteriormente, indica-se a releitura das obras em análise, destacando, em uma segunda tabela, os itens de interesse da pesquisa. Conforme a temática, podem ser selecionados diferentes critérios. Exemplifica-se, a seguir:
temática central do trabalho;
banca de avaliadores (se o intuito for avaliar a existência de uma rede de pesquisa sobre a temática);
estrutura do trabalho (caso se queira entender como acontece a pesquisa na área do conhecimento);
referências sobre a temática central (para visualizar os autores e as obras que subsidiam os estudos sobre a temática); e
informações do autor.
Essa e as demais tabelas são exemplos de instrumentos com base nas quais irão decorrer as análises de sentidos.
Após, inicia-se a análise e o movimento de sentidos, em que se considera a realidade, o contexto e o tempo histórico fundamentais para a apreensão dos conceitos e das abordagens apresentadas pelos autores em suas obras. Nesse momento, podem-se buscar explicações como hipóteses acerca do que é explicitado, a fim de compreender os sentidos produzidos pelo autor. Destaca-se que não há uma receita a ser seguida para buscar os sentidos produzidos. Propõe-se que se pense em todas as possibilidades, contudo, sempre relacionadas ao fenômeno em análise, à historicidade do discurso ou do seu sujeito e também à totalidade da sociedade capitalista.
Inicialmente, pode-se refletir sobre a origem da produção da obra de acordo com instituição de ensino, se há grupos de pesquisas e estudos sobre o tema, se há disciplinas em programas de pós-graduação sobre determinado assunto, se o curso em que se realiza a pesquisa está na instituição a partir da demanda da comunidade e qual a relação do tema com a instituição. Ademais, indaga-se acerca da relação do autor com tal temática: se é primeira aproximação ou se já abordou esse tema; se, no ano da defesa e/ou publicação, também constam outros autores pesquisando sobre o mesmo tema; se esse tema de pesquisa tem sido recorrente na instituição ou em outras instituições; se estas são públicas ou privadas; por que apresenta ápice ou declínio das produções em períodos definidos. Com isso, elaboram-se hipóteses de acordo com a produção anual e os fatos históricos que movimentam a sociedade, as leis e os decretos. Em relação à legislação, como objeto de estudo, destaca-se a concepção de Ciavatta (2010, p. 18): “Também as leis são elaboradas como novos discursos que devem impulsionar a sociedade em determinada direção, mas que podem ser entendidas de diversas formas.”. Para esses discursos específicos, criam-se critérios de análise condizentes.
Pode-se, ato contínuo, caracterizar os sentidos produzidos em cada trabalho, ou seja, como cada autor compreende a temática, identificar a banca de avaliadores, se estes são recorrentes e por quê; quais instituições representam e as mais solicitadas para o tema. Além do mais, há condições de averiguar as referências citadas nas pesquisas, as metodologias recorrentes citadas como possibilidades para iniciar a produção de dados. Pode-se também constatar aspectos da historicidade do tema nas pesquisas desenvolvidas, como apresentam a temática escolhida, de que maneira abordam o tema proposto, se a estrutura apresenta os elementos centrais: introdução, problematização, objetivos, justificativa, desenvolvimento, fundamentação teórica, metodologia e conclusão. Cumpre salientar a importância de considerar os seguintes critérios de análise: há ou não repetição de temáticas investigativas; há constatação de novas elaborações nos títulos e subtítulos, de que modo aparecem e se relacionam com a pesquisa. Observa-se se os resumos contemplam a pesquisa e atendem aos critérios formais da escrita acadêmica de maneira satisfatória ou não; e, por fim, identificam-se, nos textos, imagens, gráficos ou outras ferramentas de apoio.
A partir dessas considerações, salienta-se que foi apresentada parte das sugestões sobre como iniciar o trabalho, a título de exemplificação, cabendo adaptá-las, ampliá-las e adequá-las ao estudo a ser realizado. Via de regra, considera-se que, com esse fundamento teórico-metodológico aplicado ao estudo e à pesquisa, à AMS, cada pesquisador(a) apresentará resultados distintos, pois foram realizadas produções de dados em condições, tempos e por sujeitos diferentes. Portanto, têm suas especificidades. De toda forma, o estudo, uma vez concluído, poderá ser referência para outros estudos, com novos enfoques e redimensionados.
À GUISA DE CONCLUSÃO
Se movimento é a centralidade, seria equívoco afirmar que a proposta de estudo e pesquisa, assentada no fundamento teórico-metodológico, denominado AMS, finaliza com as explicitações e os argumentos expostos neste artigo. O início pode ser o fim, pois, ao mesmo tempo em que se preza pela totalidade dos sentidos, pode-se encerrar de maneira inconclusa. Compreende-se que, para a AMS, a produção de sentidos acontece no movimento de análise dos fenômenos e esse movimento processa-se em sua totalidade, permeada por contradições. A historicidade dos fenômenos da realidade articula-se às demais categorias destacadas e, juntas, são basilares na elaboração da investigação a que se propõe o pesquisador e permanecem até a sua conclusão. Da investigação a análise, síntese e sistematização, evidencia-se imprescindível a permanente observância da problematização que gerou o estudo.
Neste artigo, partiu-se da descrição de discurso, sentido e movimentos para se apresentar uma proposta para a pesquisa em Educação, denominada AMS. Em seguida, possibilidades para a realização dessa proposta foram descritas com exemplos de etapas e fases a serem realizadas. Concluiu-se reiterando o quão produtivo é pesquisar considerando os discursos dos sujeitos, expressos nas mais diferentes formas, como evidências materiais e, em decorrência, analisáveis dos seus movimentos no social.
Teve-se como pressuposto, no texto ora finalizado, que toda pesquisa é — ou deveria ser — inédita, pois cada sujeito analisa conforme sua perspectiva, conhecimento e de acordo com as características do projeto de pesquisa. Desse modo, preza-se pelo movimento, pelas relações que podem ser estabelecidas a partir do tema com os fenômenos que perpassam as produções. Assim como afirma Camões, na epígrafe deste texto, “todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades”, portanto, não há como finalizar, apenas deixar fluir para outras possibilidades.