Introdução
O artigo teve a sua gênese no “Projeto Fundamentos e Autores Recorrentes do Campo da Educação de Jovens e Adultos no Brasil: a construção de um glossário eletrônico”, coordenado pela professora Maria Hermínia Lage Laffin da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que foi elaborado a partir da realização de um estudo das categorias levantadas em uma primeira análise, por docentes e discentes do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e Adultos (EPEJA), da UFSC, para subsidiar a construção do referido projeto de pesquisa.
O projeto, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), está sendo desenvolvido coletivamente por pesquisadores de várias regiões e diversas instituições públicas e privadas, a partir de alguns descritores selecionados previamente pela coordenação e pelos pesquisadores que participam da investigação.
O objetivo geral do referido projeto foi:
compreender os principais fundamentos, conceitos e autores recorrentes do campo da Educação de Jovens e Adultos no Brasil, levantados nos seguintes âmbitos: da política educacional e do direito à educação, dos elementos teóricos e do contexto da prática pedagógica (LAFFIN, 2018).
Esta investigação ao adentrar o campo da Educação de Jovens e Adultos assumiu o propósito de traçar as tendências teóricas, divulgar os temas e autores recorrentes e vertentes metodológicas de forma crítica acerca da produção acadêmica disponibilizada na Plataforma dos Periódicos Capes, sendo esse o principal objetivo desta pesquisa. Intenciona, então, efetuar um levantamento e analisar os principais conceitos, os seus fundamentos e os autores que estudam a Educação de Jovens e Adultos na atualidade e no seu processo histórico no Brasil, situados nos resultados de pesquisas científicas, mediante o estudo dos artigos encontrados na mencionada Plataforma.
Este trabalho de pesquisa, bem como a construção deste artigo foi ancorado em uma investigação sobre o estado de conhecimento no campo da Educação de Jovens e Adultos realizada por Laffin e Dantas (2015), acerca das pesquisas no contexto de mestrado e doutorado na Bahia, nos últimos dez anos, no período de 2003 a 2013. A referida investigação, como antecedente dessa pesquisa, aportou valiosas contribuições para se rastrear as pesquisas na/da EJA, inclusive sobre formação de professores nesse campo de estudo.
Nesse contexto, o artigo situa-se como um recorte da pesquisa que estuda a categoria Formação Docente e a EJA. No levantamento inicial, realizado no segundo semestre de 2018, no Portal de Periódicos da CAPES, foram identificados 95 artigos mediante o uso das palavras-chave: formação docente e EJA; formação de professores e EJA. O estudo que se apresenta a seguir constitui a primeira parte da investigação com a sistematização de dados referentes a 54 artigos analisados, de acordo com a distribuição do trabalho de pesquisa com alunos/pesquisadores, membros do Grupo de Pesquisa Formação, Autobiografia e Políticas Públicas (FORMAPP), sob a minha liderança, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do CNPq.
O trabalho se enquadra, portanto, como estado de conhecimento a respeito de uma temática específica no campo da Educação de Jovens e Adultos, ou seja, sobre a formação em EJA. Segundo Romanowski e Ens (2006, p. 39-40) a diferenciação entre estado da arte e estado de conhecimento é que “[…] o estudo que aborda apenas um setor das publicações sobre o tema estudado vem sendo denominado de “estado do conhecimento”. Esta pesquisa recolheu dados e informações de artigos publicados no Portal de Periódicos da Capes.
Trata-se de uma abordagem qualitativa como nos ensina André (2013, p.97) a respeito das abordagens qualitativas em pesquisa “que se fundamentam numa perspectiva que concebe o conhecimento como um processo socialmente construído pelos sujeitos nas suas interações cotidianas, enquanto atuam na realidade, transformando-a […]”.
O estudo se justifica plenamente quando lembramos que Garcia Carrasco (1997) anuncia que a educação de adultos é um dos campos de desenvolvimento que mais possui virtualidades frente ao século XXI, contudo a evolução da pesquisa nesse campo depende substancialmente da formação que recebe os profissionais que nele atuam.
Este artigo apresenta a estrutura do trabalho a partir de um projeto de pesquisa em rede com a participação e colaboração de diversos pesquisadores, destaca as estratégias e dispositivos metodológicos da investigação educativa, procede a uma análise qualitativa dos dados e informações obtidas a partir do mapeamento e da organização dos dados em tabelas e quadros, e, por fim, tece algumas considerações a respeito desse trabalho.
Formação de professores: algumas ideias iniciais
O debate sobre formação de professores vem tomando fôlego e assumindo o centro da cena educacional, quer seja por correntes conservadoras que tentam colocar equivocadamente os professores como profissionais despreparados, quer seja por correntes progressistas que mostram a relevância do papel do professor na história e no cenário social e educacional da contemporaneidade.
Nessa mesma linha de raciocínio, Imbernón (2011) coloca que a formação de professores vem experimentando uma evolução no campo das ciências da educação, tanto no que concerne a seus princípios teóricos, como em suas técnicas de aplicação no próprio campo da formação.
Para Nóvoa (1995), a formação de professores deve levar em consideração tanto a cultura profissional (que diz respeito ao docente), como a cultura organizacional (que se articula com a escola, a instituição), podendo contribuir decisivamente para uma nova configuração da profissão docente.
Ele destaca que “a formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de autoformação participada.” (1995, p. 25). A formação é um investimento pessoal do professor no caminho da construção de uma nova identidade profissional.
Em produção anterior sobre as pesquisas em Educação de Jovens e Adultos, no período de 1998 a 2008, Leôncio Soares, com base em Haddad e Di Pierro (1994, p. 16), enfatiza que
o tema da formação dos professores de EJA tem chamado a atenção de pesquisadores ora pela inexistência de uma política pública nacional de formação de docentes para a educação básica de jovens e adultos, ora pela precariedade das condições de profissionalização e de remuneração desses docentes (SOARES, 2011, p. 37).
Entende-se a formação como um processo contextualizado que se constrói nas trajetórias da escolarização, nas vivências, nas trocas de experiências ao longo da vida que nos torna um constante aprendiz, em permanente transformação e em construção de nossa identidade e subjetividade (DANTAS, 2009).
Tal concepção aponta para superar o conceito de formação baseado no prisma da racionalidade técnica a qual era entendida como um repasse, uma transferência de conhecimentos ou simples preparação do docente para desempenhar determinadas tarefas, geralmente planejadas por técnicos ou especialistas em educação (DANTAS, 2009).
Publicando a respeito do campo da pesquisa sobre formação de professores, Diniz-Pereira faz um breve histórico sobre a gênese e a evolução do campo da educação afirmando que está havendo um grande interesse dos estudantes de pós-graduação por essa temática. Destaca que a pesquisa sobre formação de professores precisa ser “multidisciplinar e multi-metodológica” (2013, p. 151), ou seja, ele propõe combinar métodos e análises quantitativos e qualitativos, face à complexidade dos problemas educacionais.
Apesar das diversas críticas que se possam fazer sobre as pesquisas que vêm sendo produzidas nesse campo temático, ele anuncia que autores como Zeichner (2009) vêm defendendo uma agenda de pesquisa sobre formação de professores e a questão da articulação teoria e prática nos processos formativos; ele, particularmente, enfatiza que se deve analisar o impacto dessa formação nas práticas pedagógicas.
É preciso atentar para o fato de que os resultados das pesquisas, via de regra, nem sempre fundamentam as ações e saberes em sala de aula, o que vem reforçar a necessidade da formação continuada para os professores na qual se tem oportunidade de discutir resultados de investigação, mediante uma escolha direcionada de textos que possibilitem informações, dados atualizados e recomendações oriundas de pesquisas em educação.
Imbernón (2011) destaca que a formação é um elemento essencial embora não seja o único do desenvolvimento profissional do professor. Essa noção está estreitamente articulada com a carreira do professor e com novos sistemas de trabalho, mas envolve também novas aprendizagens, melhoria da prática profissional onde a formação desempenha um papel preponderante para esse desenvolvimento.
Estratégias metodológicas da investigação
Trata-se de uma pesquisa de natureza bibliográfica e exploratória, com abordagem qualitativa, embora alguns dados quantitativos possam ser utilizados, sobre as singularidades da Educação de Jovens e Adultos, caminhando desde a política educacional do direito até o contexto da prática pedagógica. O nosso entendimento sobre pesquisa comunga da mesma percepção de Lüdke e André (2008, p.1-2) quando afirmam que para se pesquisar “é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele”.
Portanto, esse trabalho se constitui em uma investigação educativa, que segundo Latorre et al. (1997, p. 36, tradução nossa) “é o procedimento mais formal, sistemático e intensivo para levar a cabo uma análise científica”1. De acordo com esses autores, o conceito de investigação educativa tem sofrido muitas mudanças, assumido múltiplos significados, se considerarmos a diversidade dos objetivos e da finalidade a que se destina a pesquisa. Na medida em que a investigação no campo da educação vem assumindo novos contornos teóricos, novas epistemologias, diferentes modos de conhecimentos, se observa o aparecimento de novas concepções de investigação numa linha mais interpretativa e crítica, como nos adverte os referidos pesquisadores.
Essas concepções vêm sendo levadas em consideração, de forma que os estudos até aqui levantados deverão servir para orientar e ajudar nos avanços da investigação, como também para destacar tendências, contribuindo, futuramente, para definir os verbetes a serem utilizados no glossário que será elaborado acerca da Educação de Jovens e Adultos pela equipe de pesquisadores envolvidos.
Vale destacar que esse trabalho de pesquisa foi realizado a partir do recorte “formação de professores e EJA”, em conformidade com as diretrizes do projeto matricial e embasado na literatura atual sobre a temática estudada.
As etapas desse processo metodológico, de acordo com o projeto matricial e com base em Romanowski e Ens (2006) no que concerne aos estudos sobre estado do conhecimento, compreendem:
Leitura inicial dos resumos das publicações disponibilizadas nas bases de dados em questão, com construção de sínteses prévias, levando em conta o tema, os objetivos, as problemáticas, as metodologias, as relações entre o pesquisador e a área e os resultados;
Leitura e análise dos textos na íntegra dos “achados” do corpus encontrado e sua análise de conteúdo;
Sínteses e conclusões de acordo com a apresentação dos dados, situando abordagens, fundamentos teórico-metodológicos e aprofundamento dos principais autores e bases epistemológicas que referenciam as pesquisas analisadas;
Análise dos dados e conclusões, inserindo elementos considerados relevantes para a análise dos dados.
Apresentação das principais conclusões do estudo.
Todo o trajeto da pesquisa foi desenvolvido com a ajuda de quatro componentes do Grupo de Pesquisa FORMAPP, no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação de Jovens e Adultos (MPEJA), da Universidade do Estado da Bahia, e contou com apoio de dois discentes do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O que dizem os dados: apresentação, análise e discussão
Mesmo tendo levantado 95 artigos com base no Descritor Formação Docente e EJA, concorda-se com Haddad (2011) que existem poucas pesquisas e poucos pesquisadores da área de educação interessados por estudar e investigar temáticas acerca da Educação de Jovens e Adultos.
Na análise dos dados e informações encontradas nos artigos selecionados para essa investigação, percebe-se que as temáticas mais recorrentes versam sobre temas alinhados com a EJA, conforme aparecem no Quadro 1.
Temáticas recorrentes nos 54 artigos | Nº Absoluto | % |
---|---|---|
Formação de professores | 05 | 9,3 |
Prática Docente | 03 | 5,5 |
Representações Sociais de Docentes | 02 | 3,7 |
Leitura na EJA | 02 | 3,7 |
Gestão na Educação de Jovens e Adultos | 01 | 1,9 |
Relações entre ensino e aprendizagem | 01 | 1,9 |
EJA e as TICs | 03 | 5,5 |
Produção de saberes docentes | 02 | 3,7 |
Formação inicial e EJA | 02 | 3,7 |
Narrativas de formação | 04 | 7,5 |
Formação do Pedagogo e a Educação nas Prisões | 02 | 3,7 |
Educação de Idosos | 03 | 5,5 |
Educação sexual na EJA | 02 | 3,7 |
Escolarização de alunos da EJA | 02 | 3,7 |
Ensino de Ciências e Matemática na EJA | 02 | 3,7 |
Subtotal | 36 | 66,7 |
Temáticas não alinhadas com a EJA | 18 | 33,3 |
Total | 54 | 100 |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados sobre os artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES – 2018/2019.
A partir da leitura minuciosa e da análise criteriosa foi possível elencar as temáticas mais alinhadas com a EJA no contexto dos 54 artigos analisados, com destaque para a formação de professores (9,3%). Nota-se que a EJA aparece articulada a outras temáticas como as tecnologias da informação e da comunicação (TICs), a gestão, a leitura, o ensino e a formação inicial. Algumas temáticas se relacionam com a formação na área de física, química, mas não com a EJA, por isso, foram consideradas como não alinhadas.
A temática de formação de professores para esta modalidade da educação básica (a EJA) ainda se ressente da precariedade das pesquisas tanto em termos quantitativos como qualitativos e observa-se que poucos estudantes da pós-graduação estão pesquisando sobre a formação de professores na EJA, além da pouca representatividade de trabalhos sobre a formação inicial. Nessa direção, Dantas e Almeida (2017) alertam sobre a escassez das pesquisas no campo da EJA, sobretudo a respeito da temática da formação de professores, o que denota a necessidade de um mapeamento das pesquisas realizadas e o incremento das investigações neste campo de estudo e de investigação.
No Quadro 1 – Síntese das Temáticas Alinhadas com a EJA, observa-se que, após a formação dos professores (9,3%), despontam as Narrativas de Formação (7,5%) como uma das temáticas mais recorrentes, seguida da temática Tecnologias da Informação (5,5%) e da Prática Docente (5,5%). Os artigos que destacaram essas temáticas frisam que vêm estudando o papel do professor no âmbito das TICs, as competências e habilidades dos professores. O avanço das temáticas sobre as tecnologias implica em repensarmos o trabalho no cotidiano da sala de aula e a formação docente nesse novo modelo de educação na contemporaneidade.
Outra temática também muito estudada é a Educação de Idosos (5,5%), abrangendo a formação docente como categoria de estudo para esse segmento. É bom lembrar que na sua gênese, a EJA apresentava mais estudantes adultos e idosos do que jovens como acontece mais recentemente, configurando o fenômeno denominado de “juvenilização”. Os idosos estão presentes nessa modalidade educativa reivindicando um direito que lhes foi negado por muito tempo. Como lembra Arroyo, com a inspiração em Paulo Freire, trata-se de “recuperar a humanidade roubada” (2002, p. 247).
Em decorrência das temáticas, aparecem como conceitos Saberes Docentes, Formação Permanente, Prática Pedagógica, Inclusão Escolar, Vivência do Saber Docente relacionados com a temática Formação. Em outro Grupo, se denota Percepções sobre Gênero e Sexualidade, Processo de Leitura e Letramento, Afetividade no Processo Ensino-Aprendizagem como conceitos trabalhados nos artigos.
Com vistas a sistematizar as estratégias mais empregadas pelos autores foi realizado um agrupamento por modalidade na direção de constituir uma tipologia das mesmas, conforme aparece no Quadro 2, abaixo.
Relato | Narrativa | Estudo | Mapeamento da produção |
---|---|---|---|
Relato de experiência | Narrativas de formação | Estudo de caso | Estado da Arte |
Relato do contexto histórico | Narrativas educativas | Estudo exploratório | Estado do Conhecimento |
Resgate da experiência da vida cotidiana |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa sobre os artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES- 2018/2019.
Assim, o Quadro 2 demonstra que os autores definiram nos seus artigos diversas estratégias metodológicas, as quais podem ser classificadas como relato, narrativa, estudo, mapeamento da produção, dentre outras modalidades. Algumas modalidades pressupõem uma pesquisa de caráter bibliográfico (como estado da arte, por exemplo), mas outras necessitaram de um trabalho de campo (como por exemplo estudo de caso, estudo exploratório). Todas as modalidades aqui classificadas possibilitaram efetuar levantamento de dados qualitativos e quantitativos a depender dos objetos de análise e dos objetivos da pesquisa, como se constatou a partir da leitura dos artigos selecionados para esta pesquisa.
Os autores também mencionam alguns tipos de pesquisa com predominância da pesquisa bibliográfica que de acordo com Gil (2008, p. 50) potencializa “ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”.
A esse respeito, na Tabela 1 se pode visualizar os tipos de pesquisa encontrados, a saber: pesquisa bibliográfica, pesquisa formação, pesquisa de campo descritiva, pesquisa intervenção em sala de aula, pesquisa narrativa, pesquisa participativa, pesquisa de campo descritiva e avaliação diagnóstica. Destaca-se a predominância da pesquisa bibliográfica (22,2%) na maioria dos artigos pesquisados.
Estratégias, tipos de pesquisa, dispositivos metodológicos identificados nos artigos | Nº Absoluto | % |
---|---|---|
Pesquisa e revisão bibliográfica | 12 | 22,2 |
Estudo de caso | 10 | 18,5 |
Análise documental | 5 | 9,2 |
Entrevista semiestruturada | 7 | 13,0 |
Representações sociais | 3 | 5,5 |
Análise de conteúdo | 2 | 3,7 |
Relato de experiências sobre práticas pedagógicas | 1 | 1,8 |
Estudo exploratório | 1 | 1,8 |
Pesquisa formação | 1 | 1,8 |
Pesquisa de campo descritiva | 1 | 1,8 |
Grupo de Discussão | 1 | 1,8 |
Pesquisa intervenção em sala de aula | 1 | 1,8 |
Pesquisa narrativa | 1 | 1,8 |
Análise dialógica | 1 | 1,8 |
Análise textual discursiva | 1 | 1,8 |
Estado da arte | 1 | 1,8 |
Estado do conhecimento | 1 | 1,8 |
Análise sobre políticas educacionais | 1 | 1,8 |
Abordagens identificadas nos artigos e não seus dispositivos | ||
Abordagem qualitativa | 2 | 3,7 |
Pesquisa fenomenológica | 1 | 1,8 |
Total | 54 | 100 |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa sobre os artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES – 2018/2019.
Quanto às estratégias e metodologias de pesquisa mais empregadas, aparecem de forma predominante nos artigos: o Estudo de caso (18,5%); a Análise documental (9,2%) e Representações sociais (5,5%), como as metodologias de pesquisa mais frequentes nos artigos selecionados. A entrevista semiestruturada (13%) como o dispositivo de pesquisa mais recorrente. A abordagem qualitativa se destaca com 3,7% da preferência dos autores de artigos pesquisados.
A esse propósito, a ideia de dispositivo foi cunhada por Michel Foucault em sua obra História da Sexualidade e na obra A vontade do saber. É abordado também no livro Microfísica do Poder (1999). Nesse livro, ele esclarece o conceito de dispositivo como sendo
um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode tecer entre estes elementos (FOUCAULT, 1999, p. 244).
Levando-se em consideração essa definição é que se atribui o termo dispositivo aos instrumentos, técnicas de pesquisa utilizados pelos autores de artigos selecionados, como aparece na Tabela 1.
Dentre as categorias elencadas, destaca-se a pesquisa e revisão bibliográfica (22,2%) como a mais utilizada, pressupõe-se porque não requer ida ao campo da pesquisa, levantamento de dados primários in loco e emprego de dispositivos metodológicos mais apurados como entrevistas, narrativas e outros. O estudo de caso (18,5%) disputa também a preferência dos autores, sendo a mais conhecida pelos estudantes e docentes tanto da graduação, como da pós-graduação. Segundo André (2013) os estudos de caso se constituem em um tipo de pesquisa muito usado em diferentes áreas do conhecimento humano como psicologia, antropologia, direito, sociologia, educação e outras.
A referida autora esclarece que no âmbito das abordagens qualitativas, com destaque “[…] nos anos 1980, […] o estudo de caso ressurge na pesquisa educacional com um sentido mais abrangente; o de focalizar um fenômeno particular, levando em conta seu contexto e suas múltiplas dimensões” (2013, p. 97).
Em relação aos objetos de análise encontrados nos artigos pesquisados, foi possível construir seis categorias a partir da relação que o autor (a) estabelece com a formação na EJA, que são demonstradas no Quadro 3. Isso foi realizado buscando-se uma maior compreensão no que concerne aos objetos de análise dos artigos, ampliando-se o filtro do estudo para se analisar cada categoria identificada nos seus desdobramentos, gerando diversas variáveis, conforme aparecem nos Quadros 3 e 4, adiante.
Categorias identificadas em relação aos objeto de análise dos artigos sobre Formação na EJA | Nº Absoluto | % |
---|---|---|
Artigos cujo objeto é a formação em si mesma | 14 | 25,9 |
Artigos cujo objeto relaciona formação à prática, representações, narrativas e saberes docentes | 11 | 20,3 |
Artigos cujo objeto relaciona formação à aprendizagem, gênero e sexualidade e afetividade na EJA | 4 | 7,4 |
Artigos cujo objeto relaciona formação a programas e políticas | 12 | 22,3 |
Artigos cujo objeto relaciona formação a áreas/campos no ensino | 13 | 24,1 |
Total | 54 | 100 |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa sobre os artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES- 2018/2019.
Objetos de análise por categoria | Nº Absoluto | % | |
---|---|---|---|
Artigos cujo objeto é a formação em si mesma | |||
Formação docente/formação de professores | 05 | 9,2 | |
Formação Inicial e EJA | 03 | 5,5 | |
Formação permanente na EJA | 01 | 1,9 | |
Formação do pedagogo e a educação nas prisões | 01 | 1,9 | |
Formação pessoal e profissional | 01 | 1,9 | |
Pesquisas e estudos sobre a formação inicial docente no campo da educação de jovens e adultos | 01 | 1,9 | |
Concepção freireana e a formação permanente de professores | 01 | 1,9 | |
Formação de professores e educação de jovens e adultos: o formal e o real nas licenciaturas | 01 | 1,9 | |
Artigos cujo objeto relaciona formação à prática, representações, narrativas e saberes docentes | |||
Prática docente | 03 | 5,5 | |
Relação gestão e formação docente | 02 | 3,7 | |
Produção de saberes docentes | 01 | 1,9 | |
Experiências e práticas na EJA | 01 | 1,9 | |
Representações sociais de professores da EJA | 01 | 1,9 | |
Papel dos professores da EJA | 01 | 1,9 | |
Narrativas de formação na voz de professores e alunos | 01 | 1,9 | |
Prática docente na Educação de Jovens e adultos nas prisões | 01 | 1,9 | |
Artigos cujo objeto relaciona formação à aprendizagem, gênero e sexualidade e afetividade na EJA | |||
Afetividade, formação docente e inclusão | 01 | 1,9 | |
Relações entre ensino e aprendizagem na EJA | 01 | 1,9 | |
Gênero e sexualidade | 01 | 1,9 | |
Educação sexual na EJA. | 01 | 1,9 | |
Artigos cujo objeto relaciona formação a programas e políticas | |||
PROEJA | 05 | 9,2 | |
Políticas Públicas Educacionais | 04 | 7,4 | |
Educação de idosos em programas de EJA | 01 | 1,9 | |
Programas e projetos desenvolvidos em espaços escolares e não escolares | 01 | 1,9 | |
Propostas e programas de alfabetização | 01 | 1,9 | |
Artigos cujo objeto relaciona formação a áreas/campos no ensino | |||
Educação física na educação de jovens e adultos e no PROEJA | 03 | 5,5 | |
Ensino de química na educação de jovens e adultos | 02 | 3,7 | |
Práticas de numeramento na EJA | 02 | 3,7 | |
Estudo de ciências na EJA | 01 | 1,9 | |
Relações pedagógicas e cidadania | 01 | 1,9 | |
Formação docente e o ensino de física | 01 | 1,9 | |
Formação de professores de física e experiência do PIBID | 01 | 1,9 | |
Ensino de ciências e matemática na EJA | 01 | 1,9 | |
Processo de leitura e formação | 01 | 1,9 | |
Total geral | 54 | 100 |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa dos artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES- 2018/2019.
Observa-se que os artigos cujo objeto é “a formação em si mesma” (25,9%) desponta como sendo a forma mais recorrente na escolha dos autores para elaborarem os seus artigos e, consequentemente as suas pesquisas. Isso denota a concentração das preocupações dos pesquisadores com a própria formação, com as concepções de formação no âmbito educacional e sintonizados com as discussões sobre autoformação, formação permanente, formação continuada e outras vertentes da formação, lideradas por Nóvoa (1995), Imbernón (2011), Arroyo (2002), dentre muitos outros.
Aparece logo em seguida, a categoria “artigos cujo objeto relaciona formação a áreas/campos de ensino” (24,1%) vez que a formação na EJA na sua relação com o currículo deve contemplar as diversas áreas do conhecimento: física, química, geografia, história, ciências, matemática e outras.
A esse respeito, Diniz-Pereira (2013), em seu artigo intitulado “A construção do campo da pesquisa sobre formação de professores”, esclarece que a formação de professores tem o reconhecimento da comunidade internacional de pesquisadores em educação e que vem se consolidando no Brasil, sobretudo mediante o acesso de obras e pesquisas produzidas em outros países.
Visando dar uma visão mais panorâmica dos objetos de análise que serviram para delinear o foco da investigação empreendida pelos autores, foi construído o Quadro 4 que apresenta um detalhamento dos objetos de análise sobre Formação na EJA com desmembramento das categorias elencadas.
No detalhamento das categorias constantes no Quadro 4 aparecem como destaques:
em relação à categoria “Artigos cujo objeto é a formação em si mesma” desponta a formação docente/formação de professores (9,2%) como a principal categoria mais estudada pelos pesquisadores/autores;
referente à categoria “Artigos cujo objeto relaciona formação à prática, representações, narrativas e saberes docentes”, aparece a “prática docente “(5,5%) como a mais representativa na escolha dos autores;
relacionados com a categoria “Artigos cujo objeto relaciona formação à aprendizagem, gênero e sexualidade e afetividade na EJA” não há destaque para as categorias encontradas, tendo todas a mesma pontuação;
concernente à categoria “Artigos cujo objeto relaciona formação a programas e políticas” o destaque é para “educação física na educação de jovens e adultos e no PROEJA” com 5,5% de frequência nos artigos pesquisados;
as categorias “ educação de idosos em programas de EJA” (1,9%) e “experiências e práticas na EJA” aparecem de forma tímida apenas em um artigo, apesar dessas temáticas serem tão significativas e fundantes para o entendimento da EJA tanto no contexto histórico, como na contemporaneidade.
A última categoria trabalhada nessa pesquisa teve o enfoque nos principais autores que fundamentam os estudos, as pesquisas e dialogam na construção dos artigos selecionados que alimentam o Portal de Periódicos, como demonstra o Quadro 5.
Temáticas | Autores mais citados ou que fundamentam os estudos |
---|---|
Formação de professores | Imbernón (1998), Gatti e Barreto (2009), Ribeiro (2014), Freire (2000, 2006), Soares (2008), Nóvoa (1995), Lima (2003; 2007); Nóvoa (1982); Campos (2009); Kalhil; Menezes (2008); Domingues (2000); Scheibe (2006); Maldaner (2000); Brasil (1996); Tanuri, (2000). |
Formação inicial | Arroyo (1999), Machado (2000 e 2008), Haddad e Di Pierro (2000), Pereira e De La Fare (2011), Kleiman (2000), L. Soares (2006, 2006a), Moura (1999, 2007 e 2009), Laffin (2006, 2010 e 2012). |
Formação do pedagogo | Penna; Carvalho; Novaes (2016) |
Formação pessoal e profissional | Sônia Maria Chaves Haracemiv (2007); Zavalloni (1973) |
Prática docente | Costa; Marques; Costa; Echeverría (2013); Schön (1997); Tardif (2002); Saviani (2008);Salem (2006); Freire (1978, 1980, 1999); Perrenoud (2000); Libâneo (2002); Mizukami e Realli (2002); Veiga (2006) |
Saberes docentes | Tardif (2005), Zeichner (1995), Shön,(1995) Maldaner (2000), Freire (2000, 2015), Garcia (1997), Hypolito. |
Narrativas educativas | Nóvoa (1995), Bueno (1996); Souza (2003); Souza e Vicentini (2003); Halbwachs (1990). |
(Auto)biografias | Bueno (1996); Souza (2003); Souza e Vicentini (2003); Halbwachs (1990). |
Educação de Jovens e Adultos e formação | Braga; Fernandes (2015); Di Pierro (2008 e 2010); Haddad (2009); Rodriguez (2009); Barreyro (2010); Serrao (2013); Andriola (2014); Barcelos (2014);Bonamino; Ribeiro (2012); Schneider; Fonseca (2013); Carvalho (2012); Moraes (2013); Rodriguez (2009) Machado (2008), Freire (2007), Oliveira (2002). |
Educação no campo | Freire (2009), Libâneo (2011), Vasconcellos (2006), Nóvoa (1995), Alvares (2012) |
Ensino de química | Lambach e Marques (2009); Maldaner (2000); Schnetzler (2002) e Santos & Schnetzler (1997); Haddad et al. (2002); Schnetzler (2002); Maldaner (2000) |
Educação física na educação de jovens e adultos | Brasil (2002; 2007); Betti (2004); Casajus (2012); Ortega (2008); Tani (2008); Barros (2009); Ionsdale (2013); Scruggs, Mungen e Oh (2010); Carvalho (2013), Denti e Vargas (2013; Furtado, Simão e Lemos (2004)); Guimarães e Hirakata (2012). |
PROEJA | Farai e Assis (2014); Brasil (2006); Santos (2007); Brasil (2007); Dantas, Paiva e Barbosa Júnior (2007); Moura e Henrique (2013); Moura e Pinheiro (2009); Frigotto e Civatta (2003;2004); Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005). |
Gênero e sexualidade | Maia e Ribeiro (2011); Ribeiro (2005); Foucault (1988); Louro (1997); Nunes (2012), Guimarães (1995); Werebe (1998); Benites (2006); Sayão (1997); Figueiró (2006; 2009); Furlani (2009); Silva e Ribeiro (2011). |
Inclusão | Mantoan (2006); Mazzotta (1989); Brasil (1996; 2001; 2005). |
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa dos artigos pesquisados no Portal de Periódicos da CAPES – 2018/2019.
O Quadro 5 apresenta o confronto das temáticas pesquisadas com os autores mais estudados no campo da formação e da EJA. O autor Paulo Freire (1978, 1999, 2000, 2007, 2015) aparece como o mais frequente em todas as temáticas. Entre as suas obras mais citadas nos artigos trabalhados encontram-se: Educação como prática da liberdade (1978), Conscientização: teoria e prática da libertação (1980), Pedagogia da autonomia. (2000). Em se tratando da educação de jovens e adultos era previsível que aparecesse como o principal autor. O português António Nóvoa (1982, 1995) também se consolida como um dos mais estudados e citados nos artigos trabalhados, sobretudo quando se trata da formação de professores. O autor Maurice Tardif (2005), desponta nos estudos sobre saberes docentes, enquanto Haddad (2000, 2009), Machado (2008) e Di Pierro (2009, 2015) aparecem com frequência significativa quando o tema é Educação de Jovens e Adultos, formação e /ou políticas públicas. Destaque para a autora Laffin (2006, 2010 e 2012), que aparece o maior número de vezes nas produções sobre formação inicial, pressupondo-se porque se trata de uma pesquisadora na área da EJA com produção consolidada nesse campo. Em relação à temática “Sexualidade” (que vem acompanhada das questões de gênero) considera-se muito pertinente a presença marcante de Foucault (1988) como um dos principais teóricos que estudaram e publicaram com profundidade sobre esse tema.
O que dizem os resultados: apresentação e considerações
A partir da recolha dos dados, da análise e interpretação de dados e informações, das sínteses do conteúdo dos artigos pesquisados e levando-se em consideração as categorias selecionadas para esse estudo, foi possível destacar alguns resultados apontados pelos próprios autores de artigos sobre a sua pesquisa, como se pode constatar, a seguir, nas sínteses que foram elaboradas com base nos resultados destacados pelos autores dos artigos sobre Formação e EJA. Dessa forma, pode-se inferir que as representações sociais dos professores se objetivam na prática cotidiana por meio do compromisso assumido com os alunos e se ancoram na perspectiva afetiva, posto que o amor e a responsabilidade são mais significativos do que a competência técnica e a formação didático-pedagógica (CAMARGO, 2017).
A análise e a interpretação dos dados mostraram a importância da alfabetização e do curso para o desenvolvimento de uma aprendizagem consciente que impulsiona a cidadania e o ingresso ao mercado de trabalho (SERRANO; MARTINS, 2012).
Os resultados assinalaram que para além da infraestrutura necessária ao uso das tecnologias na escola, os docentes apontaram para a necessidade de construção de conhecimentos nos cursos de formação profissional inicial, sendo entendido como uma das formas de viabilizar uma atuação pedagógica que relacione positivamente a educação e as novas tecnologias (SILVA; SOUZA; CARMO, 2016).
Os resultados mostram que, para os graduandos dos cursos de Licenciatura em Pedagogia e Ciências Sociais, o diferencial da extensão universitária é oferecer a oportunidade de atuação em uma situação real, porém sob supervisão, evidenciando um espaço de reflexão originada na prática. Dando ênfase à supervisão, os alunos valorizam esse recurso como relevante e mencionam ser justamente ele que não está presente de forma habitual nas situações tradicionais de estágio. Destacam também a relevância da prática, a autopercepção e da vivência do fazer do docente (DALL'ACQUA; VITALIANO; CARNEIRO, 2013).
A análise indicou que a formação permanente possibilitou ao grupo de professores a incorporação de práticas freireanas no fazer docente. Os dados da pesquisa também indicaram limites e dificuldades enfrentados na implementação do processo de formação, tais como a resistência a mudanças por parte de alguns professores, a avaliação e a forma como a proposta foi implantada pelos gestores (CUNHA; DELIZOICOV, 2016).
Entre os resultados destaca-se que, mesmo em tempos de inclusão, encontramos turma de educação especial segregada no ensino regular, sem sala de recursos multifuncionais, há problemas de acessibilidade e a prática docente não atende às necessidades especiais dos educandos nem às especificidades etárias. Contudo, constatou-se que ainda é encontrada a política de integração no interior escolar e nas práticas vivenciadas nesta escola (FERNANDES, 2017).
Outra contribuição é a provocação de debates no contexto da pesquisa para a identificação de novos focos em função do que ainda não foi descortinado pelas investigações. Tal identificação no campo da EJA reforça a ausência da oferta de formação inicial em instituições de ensino superior no âmbito das licenciaturas e, portanto, a impossibilidade de gerar mecanismos de acesso à ciência ou ao pensamento científico nesse campo (LAFFIN; GAYA, 2013).
Como resultado, constatou-se que a gestão da EJA municipal se apresenta, ainda, de maneira precária, o que implica difíceis condições de trabalho e de formação, comprometendo a educação ofertada à comunidade local. Verificou-se também que existe uma estreita relação entre a gestão educacional e a formação dos educadores de EJA, o que aponta para a necessidade de investimento financeiro, material e pedagógico no âmbito da melhoria dos processos de gestão educacional, escolar e consequentemente na melhoria e na garantia dos processos formativos, no âmbito da EJA (DUQUES; AMORIM, 2016).
Tornam-se necessárias rupturas, que dizem respeito à própria imagem do pedagogo e da área da educação na sociedade, notadamente vinculada à infância, no intuito de incluir temáticas relativas ao idoso e ao envelhecimento nos currículos dos cursos de pedagogia, bem como de ampliar discussões a respeito do idoso, (em especial aquele oriundo de camadas populares), nas pesquisas no campo educacional (MARQUES; GIUSTI PACHANE, 2010).
Os resultados do estudo indicaram que nas escolas pesquisadas não se compreende a importância da leitura para a ampliação do letramento dos sujeitos, uma vez que ela permanece ocupando um lugar secundário nos projetos pedagógicos e, consequentemente, na prática de sala de aula. Na prática de uma professora, que foi objeto da pesquisa ficaram explícitas dificuldades no trato com a leitura e no letramento dos educandos, no que diz respeito aos fundamentos linguísticos, necessários às atividades para trabalhar a leitura. A profissional age muitas vezes baseada na intuição, ou transplanta para a modalidade práticas pedagógicas que vivenciou em seu período de escolarização (FREITAS; CAVALCANTE, 2014).
No que concerne às perspectivas teóricas, tomando-se como base as temáticas, o enfoque teórico, os autores utilizados e as metodologias que aparecem nos artigos pesquisados, observa-se o fluir da perspectiva epistemológica da fenomenologia que busca estudar a formação de professores, a prática pedagógica, o estágio supervisionado, a formação inicial, a partir da abordagem biográfica, das narrativas e entrevistas autobiográficas. Convergente com essa abordagem, encontra-se a investigação-formação com as narrativas de formação através dos seus principais pesquisadores como Josso, Nóvoa, Souza, Bueno, dentre outros. Essa abordagens convivem com perspectivas teóricas mais antigas como as concepções de educação popular, as concepções teóricas e metodológicas na perspectiva freiriana que também ancoram os estudos sobre formação de professores e práticas pedagógicas com base em Arroyo, Freire, Soares, Haddad, conforme foi sinalizado pelos próprios autores de artigos analisados.
A compreensão ao final desta primeira parte do trabalho de investigação é que os textos pesquisados permitem traçar um panorama atual sobre os estudos e produções relativas ao campo da formação de professores para a Educação de Jovens e Adultos. Os resultados parciais apresentados indicam que tal temática ainda carece de maior atenção nas propostas de formação dos professores nos artigos investigados.
Considerações finais
A pesquisa revela as preocupações, os interesses, as reflexões dos autores acerca do campo da formação. Essa constatação leva a crer que só se investiga o que realmente traz algum sentido para a nossa vida, a nossa prática docente, o nosso fazer cotidiano, as nossas vivências.
A intenção deste trabalho de investigação foi apresentar um panorama geral de como é tratada a temática formação de professores e EJA em artigos científicos, encontrados no referido Portal, para que possa servir de pistas, referências para estudantes, pesquisadores e interessados por esta temática.
A Formação, em suas vertentes, contempla o maio número (33, 3%) dos objetos de análise encontrados nos artigos. Esses dados demonstram que a formação vem se impondo como um campo de estudo e de pesquisa na produção dos professores da área de educação.
Os dados levantados confirmam as inferências e resultados apresentados em pesquisas anteriores, como por exemplo, o trabalho de investigação desenvolvido acerca do levantamento das pesquisas sobre a educação de jovens e adultos na Bahia, nos últimos dez anos (LAFFIN; DANTAS, 2015).
O mencionado trabalho destacou que a categoria “formação docente na EJA” aparece em 13 pesquisas em níveis de mestrado ou doutorado, trazendo vários subtemas como formação do sujeito, formação para a cidadania, formação de professores, formação de alfabetizadores, sujeito da formação e outros.
O resultado dessa investigação apontava de que ainda havia “grandes necessidades e possibilidades de pesquisas em função de objetos pouco abordados, como: gênero, estudos sobre relações étnico-raciais (ERER), políticas públicas e formação docente, particularmente a inicial” (LAFFIN; DANTAS, 2015, p. 23).
Convém esclarecer que nesse estudo sobre artigos publicados no Portal de Periódicos da CAPES, alguns artigos não abordavam a temática central da pesquisa e que não foram encontrados alguns dos elementos pesquisados no âmbito dos artigos, sendo por esses motivos desconsiderados.
Concorda-se com a premissa que o silenciamento em relação à EJA nas licenciaturas se confunde com a situação dessa própria modalidade de ensino no país. Perseguindo metas modestas, políticas descontinuadas e fragmentadas, ofertas dispersas, iniciativas locais e aligeiradas, a EJA traduz um projeto social no qual a universalização da educação básica de qualidade para todos vem sendo pouco discutida e não é levada em consideração quando se trata de políticas afirmativas para reverter essa situação (VENTURA; BOMFIM, 2015).
A partir da pesquisa efetuada no Portal da CAPES foi possível apresentar Indicativos para apostar em novas pesquisas e publicações principalmente nas subáreas, às quais as produções apresentam número reduzido, a saber: Avaliação na EJA, Inclusão Sócio Digital na EJA, As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs), Ensino Médio na EJA, Oferta e Permanência, Estudo das Relações Étnico-Raciais, as Diversidades na EJA, Memórias e Histórias de vida de professoras da EJA.
Há necessidade de ampliação e inserção de estudos de várias áreas do ensino, aquelas ainda ausentes no levantamento dos dados e informações a partir dos artigos publicados e ainda aquelas com pequena produção, como é o caso de educação ambiental, ensino de filosofia, sociologia, artes, história, geografia, física e matemática.
Destaca-se, também, a necessidade de Indicativos para incentivar mais pesquisas sobre o estado do conhecimento em EJA como possibilidade de fortalecimento da área na direção de potencializar políticas de oferta e permanência na EJA, de formação docente, bem como necessidades de financiamento para novas pesquisas.
Não resta dúvida de que a formação do educador de jovens e adultos está a exigir estratégias políticas mais plurais que não podem limitar-se a momentos esporádicos de formação, mas que precisam incluir tramas mais complexas, “processos de constituição, de reprodução e de transformação”, como exalta Arroyo (2002, p. 199).
Ao finalizar esse trabalho, reafirma-se que o professor que atua na EJA precisa estar qualificado para compreender as reais necessidades de seus educandos, construindo junto com eles saberes e conhecimentos fundamentais à sua formação.
Vale ressaltar que esse estudo vem-se tornando uma referência pontual tanto para os mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação de Jovens e Adultos, na modalidade Mestrado Profissional, como para os alunos da graduação do curso de Pedagogia, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Conclui-se que o trabalho apontou questões importantes que desvelam a ação pedagógica nas instituições públicas, reforçou a relevância de se pesquisar sobre formação e/na/da EJA e pode contribuir com futuras ações nesta modalidade de ensino.
Espera-se com este trabalho de pesquisa colaborar para uma reflexão sobre a formação docente e a prática pedagógica na EJA, enfatizando a necessidade de melhoria da qualidade da educação, especialmente nesse campo de estudo e de investigação, com a finalidade de possibilitar uma educação em consonância com os princípios de formação integral do cidadão, de forma que tal concepção seja internalizada pelos próprios professores.