Abrimos esta edição chamando atenção para alguns eventos que marcam o atual cenário mundial: as questões políticas e sociais, especialmente, na América Latina, com os agravos dos conflitos internacionais e a epidemia do Cononavírus; e, no Brasil, a proliferação dos desmandos do Governo, o crescimento da vulnerabilidade social e as fissuras nas relações interpessoais. Na Educação, falhas na correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em 2019 geraram confusão para as inscrições no Sistema de Seleção Unificada (SISU). Também acompanhamos estupefatos discussões sobre ingresso de crianças com 5 anos no Ensino Fundamental, especialmente, no Rio Grande do Sul. Não são poucos os desafios!
Diante disso, neste editorial resgatamos o conceito de Sofrimento Social, apresentado por Werlang e Mendes (2013) para reacender a discussão de que sofrimento se manifesta de distintas formas e que suas origens são multicausais. Segundo as autoras,
Embora a questão do sofrimento, não raras vezes, apareça envolvendo elementos de dor física, a maioria dos autores que trata dessa temática enfatiza que seria muito mais do que isso. O sofrimento estaria presente nos sentimentos de isolamento social, de perda, de sentimentos aliados à depressão, ansiedade, culpa, humilhação e estresse. As pessoas sofrem quando há estados de privação material, com a perpetuação da injustiça social e com a perda da liberdade em todas as suas formas e expressões (p. 742).
O que estamos vivendo nos dias de hoje é uma realidade social tensa, densa e complexa e, a precarização decorrente das diferentes violências da vida cotidiana (Bourdieu, 1997) é sofrimento social, que expressa na angústia, padecimento e consternação da população, em especial, a brasileira. Para Bourdieu o indivíduo e o social são unidades de análise, portanto as relações sociais - suas estruturas e desestruturas: suas fissuras, suas fragilidades ou até sua liquidez, independentemente do aporte teórico adotado, devem ser objeto das humanidades.
Há uma pedra no caminho! Essa certeza temos. Apesar de vivermos em um mundo superconectado, impera o individualismo. Acreditamos que é possível a construção de um outro mundo, em que se preze o homem, o respeito e a responsabilidade e, para isso, é preciso resistir e investir.
Este número da revista Educação oferece ao leitor uma edição temática sobre Intervenção Precoce na Infância centrada na Família. O ponto de partida foram artigos produzidos por pesquisadores da área, de diversos países da Europa, dos EUA e do Brasil. Sob diferentes perspectivas, a produção do conhecimento no campo deixa clara a necessidade de planejamento da intervenção com crianças pequenas e suas famílias.
Na sessão outros temas, os artigos de demanda contínua apresentam cada um, a seu modo, aspectos e dimensões do cotidiano educacional. Em conjunto, eles contribuem para pensar o contexto contemporâneo da Educação.
Boa leitura!