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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.20 no.66 Curitiba jul./sept 2020  Epub 01-Oct-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.20.066.ed01 

Apresentação

Apresentação - v. 20 n. 66

Maria Paula Carrerasa 

Adelina Novaesb 

Romilda Teodora Ensc 

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieirad 

a Universidad Nacional de Tucumán; Universidad Católica de Santiago del Estero, Tucumán, Argentina. Doutora em Ciencias Políticas y Sociología, e-mail: paulacarreras6@gmail.com

b Fundação Carlos Chagas (FCC), Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), São Paulo, SP, Brasil. Doutora em Educação: Psicologia da Educação, e-mail: anovaes@fcc.org.br

c Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação: Psicologia em Educação, e-mail: romilda.ens@gmail.com

d Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com


Práticas docentes: narrativas e representações sociais

O momento presente nos interpela com inúmeras interrogantes sobre a prática docente. A pandemia provocada pela doença do coronavírus (Covid-19) nos tomou de assalto e têm provocado inovações e adaptações curriculares, metodológicas e relacionais. Apesar de a chamada deste dossiê ter antecedido ao fenômeno atual, os artigos que constam dele podem oferecer contribuições para a análise do que estamos vivenciando e permitir avanços, dada a proficuidade de abordagens teórico-metodológicas e de resultados de pesquisa dos estudos relatados.

Neste cenário, pensar a prática docente passa a ser prioridade ainda mais premente, visto que, para além da formação de pessoas como cidadãos, associa-se o desafio da saúde e do bem-estar pessoal e coletivo. Nesse sentido, os artigos aqui reunidos lançam mão de investigações por meio de narrativas e da teoria das representações sociais com o intuito de compreender a educação, que é levada a termo com o trabalho cotidiano dos professores.

Seja presencial ou a distância, a ação diária dos educadores permanece como essencial para propiciar transformações e avanços no conhecimento que a humanidade vem acumulando. Além da informação de nossa herança cultural, professores constroem dialogicamente com seus alunos valores, atitudes, cidadania. Nesse sentido, os investimentos dos artigos constantes desse dossiê contemplam o propósito de compreender as práticas de docentes, seus contextos de produção e de significação, bem como suas condições de trabalho.

No primeiro texto, “Olhares psicossociais para a prática docente: elaboração de uma estratégia investigativa”, Adelina Novaes, Érika Kulessa de Souza e Paulo Afranio Sant´Anna apresentaram o Projeto “Olhares psicossociais para a prática docente”, com o objetivo de discutir os desafios da realização de um estudo multissituado que ambiciona uma generalização analítica com sua conclusão. A abordagem etnográfica e a configuração em rede levaram à elaboração de um protocolo, que foi consensuado com os 44 grupos de pesquisa associados ao Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade - Educação (CIERS-ed) e à Cátedra UNESCO sobre Profissionalização Docente, abrigados pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas.

O artigo “Formação docente como ambiente de pensamento: projeto representacional e processos narrativos”, de Daniela Freire Andrade e Ângela Cristina Lisboa Costa, discorreu sobre estudo desenvolvido por meio de uma análise psicossocial do processo formativo de profissionais da Educação Infantil, orientada pela teoria das representações sociais, privilegiando as articulações entre representações sociais e processos narrativos. Após detalhada discussão, as autoras indicaram que o processo formativo potencializou o tensionamento do campo representacional e o compartilhamento de novos significados sobre a prática docente na Educação Infantil.

André Augusto Diniz Lira e Lúcia Villas Bôas, em “Conceitos de ‘prática’ no campo educacional: história conceitual e teoria das representações sociais em foco”, empreenderam uma reflexão sobre os conceitos de prática (social, educativa, pedagógica, docente) por meio da história conceitual e das contribuições possíveis advindas da Teoria das Representações Sociais (TRS). Para isso, lançaram mão de uma pesquisa lexicográfica para apreender a narrativa semântica em desenvolvimento, em obras de referência, tendo um corpus de 10 dicionários e 4 glossários técnicos de educação, produzidos no Brasil ou traduzidos para língua portuguesa, desde a década de 1970. Os autores depreenderam que os conceitos de prática social, prática educativa, prática pedagógica e prática docente se estabelecem, sobretudo a partir da década 2000, o que indica que esse trajeto sinaliza para os desafios e as lacunas no tocante ao entendimento dessas práticas, partindo de abordagens mais plurais e integradas do agir docente.

“Representação Social e Inclusão: lidando com a diferença”, elaborado por Angela Maria Baltieri Souza, Clarilza Prado de Sousa e Helenice Maia Gonçalves, debateu estudo que buscou apreender as representações sociais de professores sobre a inclusão, por meio da investigação de dificuldades de aprendizagem dos alunos incluídos e as dificuldades dos professores da escola para atuar com esses alunos. Os resultados evidenciaram um profundo sentimento de desamparo nas narrativas dos professores e salientaram a necessidade de serem efetivadas propostas, medidas e procedimentos que possam aperfeiçoar o processo de atendimento a alunos com deficiência na escola contexto da pesquisa, assim como contribuir para a compreensão dos professores sobre as dificuldades específicas de cada um desses alunos.

Rafael Lira Gomes Bastos e Pollyanne Bicalho Ribeiro, no artigo “Uma perspectiva dialógica de representações sociais sobre o uso de tecnologias digitais em contexto educacional”, relatam pesquisa que buscou compreender as representações sociais de professores de um curso de letras inglês sobre o uso de tecnologias digitais a partir de uma perspectiva dialógica. A análise em torno das diferentes relações entre alter/ego/objeto, flagradas nos diálogos com os professores, permitiu que depreendessem que as representações sociais sobre o uso das tecnologias digitais em contexto educacional giram em torno de thêmata “fácil/difícil” e “certo/errado”. A semântica positiva dos léxicos “fácil” e “certo” construiu a representação de que o uso de tecnologias digitais é melhor para os alunos, fácil, prático e válido, enquanto a semântica negativa dos léxicos “difícil” e “errado” compôs a representação do objeto como uma obrigação, difícil, trabalhoso ou, até mesmo, inadequado.

No texto “Representações sociais do trabalho em tensão: narrativas de agentes e professores de Educação Infantil”, Raquel Garcia Braga de Lima e Rita de Cássia Pereira Lima discorreram sobre estudo acerca das representações sociais de agentes e professores de Educação Infantil a respeito do trabalho que desenvolvem nesse segmento educacional. A teoria das representações sociais, em diálogo com a abordagem (auto)biográfica, enfatizando narrativas de vida, foi o arcabouço teórico-metodológico da pesquisa. Os resultados encontrados evidenciaram que os agentes reivindicam o reconhecimento da categoria como professoras e estas, apesar de reconhecerem que realizam as mesmas tarefas, acreditam ter maior responsabilidade que as agentes. Esta diferença está na origem de tensões vivenciadas pelos dois grupos em seu cotidiano de trabalho. As narrativas demonstraram que as histórias de vida são basilares à construção e compreensão das representações sociais dos grupos e revelaram que a tensão velada reforça a dicotomia do binômio cuidar-educar.

Por outra via, Ivany Pinto Nascimento, Patrícia Rodrigues de Oliveira Kimura e Maura Lúcia Martins Cardoso, em “Formação Profissional e Prática Docente: representações sociais de professores da rede básica de ensino” analisaram as representações sociais de professores sobre a inter-relação entre formação profissional e prática pedagógica docente. Elas indicaram como resultados aspectos que centralizam as imagens-objetivações e os sentidos-ancoragens atribuídos pelos professores participantes da pesquisa: “Formação, experiência e prática docente” e “Aprimoramento teórico e prático continuado”. Ainda, apontaram que para além das implicações decorrentes das representações, está à necessidade de reestruturação dos modelos formativos, como um aspecto essencial ao aprimoramento da prática pedagógica dos professores e ao desenvolvimento da profissão.

Em “Investigação da prática pedagógica: formação continuada nas narrativas e representações de profissionais da educação”, Jociane Emídia Silva Geronasso, Romilda Teodora Ens e Rui Trindade analisaram as representações pelas narrativas de profissionais da educação da Rede Municipal de Ensino de Araucária, apresentadas em relatos de experiência e artigos publicados no Caderno Pedagógico 2017, o qual publicou os trabalhos finais do processo de formação continuada dos profissionais da educação que participaram no município. A consideração dos 61 artigos e 63 relatos de experiência, publicados e de autoria de 321 profissionais da educação participantes do curso de formação continuada sobre intervenção na prática pedagógica, estabelecem que esse tipo de formação apresenta grande potencial para transformar a realidade em que os docentes atuam ao instaurar no espaço/tempo dessa formação um processo investigativo, reflexivo e interpretativo sobre suas práticas pedagógicas.

Edna Maria Querido de Oliveira Chamon, Suellen Patareli Miragaiae Patrícia Diana Edith B. de S. Camargo Ortiz Monteiro, no texto: “Narrativas e representações sociais: professores de ensino fundamental e fracasso escolar”, apresentaram estudo que buscou apreender representações sociais de professores sobre a defasagem idade-série e, por extensão, sobre o fracasso escolar, utilizando a narrativa como método para analisar as representações sociais. Por meio da pesquisa relatada, identificam histórias e materiais contextuais, com o objetivo de reconstruir o significado amplo dessas narrativas na forma de grandes temáticas organizadoras das representações sociais. Os resultados apontam para uma lógica de exclusão na qual a escola é vista positivamente e isenta de responsabilidades, e o fracasso escolar representado pela defasagem idade-série e suas consequências têm como causa uma família desestruturada e um aluno a quem falta empenho ou interesse.

O artigo “Narrativas de educadores da socioeducação: representações sociais sobre adolescência na tessitura do trabalho socioeducativo”, de Ana Maria Eyng e Auda Ramos, apresentou uma rede de significados que configuram as representações sociais sobre a adolescência e os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto de um grupo multiprofissional de educadores. As representações sociais encontradas estão em contradição com as redes de significados acerca dos adolescentes. As autoras identificaram que, na expressão das representações sociais sobre a adolescência, ainda persistem narrativas da situação irregular, as quais ampliam sobremaneira as demandas das práticas socioeducativas que, além do trabalho multidisciplinar, desafiam a desconstrução de tais referências na perspectiva da garantia dos direitos da infância.

María Paula Carreras, Paula Belló, Cynthia María Torres Stockl, no artigo intitulado “Trabajo docente y narrativa: las dimensiones del ser docente”, defendem que há quatro grandes dimensões operando como camadas concêntricas que, quando combinadas, permitem caracterizar o fenômeno do trabalho docente. Cada uma das dimensões distingue uma dinâmica do ser docente, a saber: o Ser Ontológico, o Ser Ético, o Ser Pragmático e o Ser Político. Para expor suas considerações, as autoras recorreram a um estudo fenomenológico que contou com um corpus composto por 15 cartas de professores dirigidas a um colega estrangeiro, narrando sua experiência de trabalho.

No texto “Educação Infantil e Cidade Educadora: pelas representações do discurso documental e das narrativas”, das autoras Sueli Pereira Donato e Jaqueline Salanek de Oliveira Nagel, ao analisarem o discurso presente na Carta das Cidades Educadoras, produzido pela Associação Internacional das Cidades Educadoras (AICE) e sua relação com o da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação Infantil, e do Programa Linhas do Conhecimento da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba-PR, com o apoio do software Iramuteq realizaram a análise de Classificação Hierárquica Descendente (CHD). O resultado evidenciou que as proposições presentes nos documentos estão ancoradas em princípios enaltecidos no discurso da Carta das Cidades Educadoras e expôs, ainda, o grande desafio para sensibilizar os habitantes da cidade para que seus olhares sejam voltados ao processo educacional que existe e acontece na cidade.

Na continuidade sobre educação infantil, Ecleide Cunico Furlanetto, Aline de Souza Medeiros e Karina Alves Biasoli, no artigo “A transição da educação infantil para o ensino fundamental narrada pelas crianças”, apresentaram estudo que buscou analisar os sentidos atribuídos narrativamente por crianças a respeito da transição da Educação Infantil para o Ensino Fundamental. Pelo uso da pesquisa (auto)biográfica em Educação e da Sociologia da Infância, mostraram-nos que essa transição entre as duas escolas provocou algumas tensões, ao indicarem que as crianças se viam atraídas pelas inovações oferecidas pela nova escola, mas sentiam temores, lutos e sofrimentos, sobretudo, no que se refere à diminuição de oportunidades para brincar, ao acolhimento e à preparação da escola para recebê-los.

Margaréte May Berkenbrock Rosito e Juliana Paiva Pereira de Souza, em “Documento autobiográfico: costuras estéticas nos processos narrativos da prática docente”, debateram a trajetória investigativa de um estudo que teve como objetivo compreender o sentido da dimensão estética nas narrativas autobiográficas de discentes que participaram do dispositivo “Colcha de Retalhos”, na disciplina “Organização do trabalho docente”, em um curso de Pedagogia. A interpretação das narrativas, sob enfoque hermenêutico, apresentou destacadas contribuições para a prática de formação estética dos professores, elencadas no texto.

María Luisa Bossolasco e Analía Claudia Chiecher, no artigo “¿Qué esperan los alumnos de un “buen profesor”? Develando expectativas para repensar la práctica docente”, buscaram evidenciar traços que definiriam um bom professor a partir da voz dos alunos. Por meio de um estudo descritivo, qualitativo-indutivo, as autoras recorreram a um questionário de autopreenchimento no qual foi solicitada a descrição de “um bom professor”. Os resultados evidenciam que, independentemente da instituição de origem e do rendimento escolar obtido, os alunos que concluem o primeiro ano do nível superior universitário reconhecem na prática docente o nó central da sua tarefa pedagógica e o estudante como principal destinatário desta. As autoras destacaram ainda que algumas exigências particulares foram reconhecidas no grupo de pior desempenho acadêmico, em ambas as universidades investigadas, que parecem estar vinculadas à própria percepção de desvantagem em que se encontram. O reconhecimento dessas caracterizações as permitiu inferir expectativas de um bom professor, o que constitui um valioso insumo para repensar a prática docente.

Em “Mapa mental das representações sociais de professores do ensino fundamental sobre a educação étnico-racial”, Antônio Luís Parlandin dos Santos, Glauber Ranieri Martins da Silva e Arlete Marinho Gonçalves analisaram a constituição das representações sociais de professores do ensino fundamental sobre educação étnico-racial e as implicações em sua prática pedagógica. O estudo relatado recorreu à técnica de evocação de palavras e à técnica de mapa mental para produção de informações pelos professores do ensino fundamental de uma escola pública. A pesquisa evidenciou que a visão psicossocial da educação para as relações étnico-raciais problematiza o cômodo lugar da perspectiva hegemônica de ciência e pesquisa. No entanto, os resultados revelaram que as representações sociais dos professores do ensino fundamental sobre a educação étnico-racial - num contexto diferenciado de mudanças socioculturais, político-legais, econômicas e educacionais, engendrado desde o processo de redemocratização do Brasil - apresentam perspectivas ambíguas, que em alguns momentos podem reproduzir o racismo, o preconceito e discriminação racial via educação, mas além de mudanças sensíveis tem-se a visão, um “território simbólico” com “solo fértil” para que novas mudanças sejam concretizadas na sociedade e no cotidiano escolar, os quais vêm sendo construídos a partir de aproximações da perspectiva intercultural como referencial demandado pelos alunos e alunas e impulsionados pela organização e mobilização do Movimento Negro.

Andreza Maria Lima e Laêda Bezerra Machado, no texto “Um estudo sobre famílias de alunos de escola pública nas representações sociais construídas por docentes”, analisaram as representações sociais das famílias dos alunos de uma escola pública construídas por professoras dos anos iniciais do Ensino Fundamental, bem como essas representações orientam suas práticas. A produção dos dados foi realizada por meio de entrevista semiestruturada e observação de plantões pedagógicos. Com base nas análises, elas constaram que nas representações sociais das professoras, construídas na confluência de saberes provenientes de relações sociais diversas, predomina um conteúdo representacional negativo, que orienta suas práticas.

Fecha o dossiê o texto “Professoras idosas do campo: narrativas sobre formação e prática pedagógica”, de Maria Antônia Souza, Maria de Fátima Rodrigues Pereira e Maria Iolanda Fontana, que debate estudo que teve como objetivo compreender a prática pedagógica, bem como a formação inicial e continuada de professoras de mais de 60 anos, moradoras do campo e que sempre trabalharam em escolas rurais, tiveram ao longo da trajetória profissional. As autoras indicam ser possível afirmar que a prática pedagógica esteve assentada em quatro aspectos, a saber: a) formação generalista, independente do contexto agrário brasileiro; b) organização curricular e conteúdos direcionados à instrução dos alunos; c) planejamento centrado na decisão das professoras e supervisão realizada pelas secretarias municipais e estadual de educação e d) proximidade da escola e das professoras com as comunidades, possibilitando articulação entre as atividades realizadas pelas famílias na agricultura e os conteúdos escolares. E destacam que as professoras entrevistadas se formaram no e pelo trabalho pedagógico, visto que a própria experiência e o apoio de outras professoras propiciaram o aprendizado da docência.

O primeiro trabalho apresentado na parte relativa à demanda contínua da Diálogo Educacional é o de Fabrício Oliveira da Silva e André Luiz Gaspari Almeida, “ontribuições formativas do PIBID para a prática de reflexão linguística no ensino de Língua Portuguesa”, que analisa ações desenvolvidas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência - PIBIC, com o objetivo de compreender o processo de iniciação à docência proposto por esse Programa e de conhecer a percepção dos bolsistas quanto às práticas de reflexão linguística desenvolvidas em escolas. O percurso da pesquisa envolveu uma análise das discussões realizadas sobre o ensino da Língua Portuguesa, por meio de considerações provenientes do estudo científico da linguagem, partindo para a análise da percepção dos bolsistas, com apoio no método (auto)biográfico. Como resultado, o estudo evidenciou que o PIBID se caracteriza por ser um processo formativo que se realiza com a inserção dos estudantes nos contextos reais em que a profissão acontece. O processo vivenciado possibilita o conhecimento do cotidiano escolar como elemento que propicia a compreensão de como e do que se ensina em matéria de gramática na escola, favorecendo o desenvolvimento de reflexões sobre o ensino de língua voltado para uma prática pedagógica significativa por parte dos estudantes.

Na sequência, o artigo “A educação como prática da liberdade por meio do teatro do oprimido: novas aplicações educacionais”, de Mádson Francisco da Silva e Maria de Fátima Gomes da Silva, trata da problemática da violência escolar no âmbito das práticas pedagógicas de professoras dos anos finais do ensino fundamental. Optou-se por uma abordagem qualitativa de pesquisa, com ênfase na pesquisa-ação. Os dados foram coletados por meio de oficinas do Teatro do Oprimido (TO), com base nas ideias de Augusto Boal e, complementarmente, foram realizadas observações participantes e questionários. Os resultados indicaram que as oficinas do TO possibilitaram às docentes participantes dessa investigação novas formas de enfrentamento da violência escolar, com a participação dos estudantes, respaldada numa educação como prática da liberdade. Demonstraram, também, que o TO constitui um excelente recurso de enfrentamento à violência escolar e de valorização dos diversos saberes vividos e reinventados pelos estudantes e pela comunidade escolar.

Os autores Júlio Cesar Godoy Bertolin e Rafaela Bohrz trazem para nossa leitura o artigo “Diálogo, contextualização do saber e autonomia em Paulo Freire e a semipresencialidade na Educação Superior”. Com apoio nos princípios teóricos e metodológicos de uma educação emancipatória, investigou a presença das evidências freireanas referentes ao diálogo, à autonomia e à contextualização do saber nas práticas educacionais de disciplinas semipresenciais em uma instituição de ensino superior. A pesquisa possibilitou identificar categorias freireanas na semipresencialidade e permitiu verificar que a concretização do diálogo, da autonomia e da contextualização do saber nas práticas educacionais não ocorreu de forma plena. Desta forma, sugere que a modificação do ensino presencial, por meio do uso da modalidade semipresencial e das Tecnologias da Informação e da Comunicação, exija um novo olhar, planejamento e inovação dos sujeitos envolvidos no processo educacional.

Encerrando a apresentação deste número, temos o artigo de Mitsi Pinheiro de Lacerda, intitulado “Fixada à parede, a coisa escrita: o cotidiano escolar em invenção e crítica”, cujo objetivo é refletir sobre a invenção, a reprodução e a crítica de práticas no cotidiano escolar. Os estudos de Michel de Certeau e de Henri Lefebvre relacionados à vida cotidiana foram utilizados como aporte teórico, em particular no que se refere à aplicação do método regressivo-progressivo proposto por Lefebvre. O desenvolvimento do texto comunica a análise que atravessa um artefato pedagógico comum, fixado à parede de uma sala de aula e encontrado em breve incursão a escolas localizadas no Noroeste do estado do Rio de Janeiro. A descrição do artefato produz narrativas datadas historicamente, ressaltando a preservação de concepções anteriormente submetidas à crítica e sinalizando a invenção de uma outra realidade. O estudo aponta para a possibilidade de a escola criar, por meio da análise crítica, regressiva e histórica, a compreensão acerca daquilo que produz e reproduz. 

Esta reunião de textos oferece um panorama que convida a novos debates. Com o intuito de continuar a discussão, agradecemos às pesquisadoras e aos pesquisadores que submeteram à esta proposta de dossiê da Revista Diálogo Educacional seus textos, sem os quais a edição deste número não teria sido possível. Desejamos que os artigos apresentados propiciem análises e novos questionamentos não apenas para a atual conjuntura, mas para o futuro. Acreditamos que as reflexões sobre sentido e significados de se pesquisar “práticas docentes, narrativas e representações sociais” podem contribuir para o aprimoramento de nossas ações, uma vez que corroboramos com Moscovici (2011, p. 180), quando afirmou que “[...] quando a ideia muda, a realidade em que vivemos juntos não é mais a mesma”.

Boa leitura!

Curitiba, 04 de setembro de 2020.

As editoras.

Referências

MOSCOVICI, S. A invenção da sociedade: sociologia e psicologia. Trad. Maria Ferreira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. [ Links ]

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