INTRODUÇÃO
A entrada na Faculdade de Medicina é um momento de alegria, orgulho e expectativas. Trata-se de um marco de importantes mudanças na vida pessoal e acadêmica dos ingressantes. Não raramente, pessoas bastante jovens precisam sair da casa dos pais para morar perto da faculdade ou mesmo têm que mudar da terra natal para cidades com outras paisagens, cultura e valores. Longe dos colégios e cursinhos para o vestibular, a faculdade é um ambiente desconhecido, no qual os alunos terão de se adaptar a pessoas e rotinas bem diferentes daquelas a que estavam acostumados.
A mudança da vida de estudante de nível médio para a de estudante universitário é um desafio para os alunos ingressantes1. Em geral, os cursos de Medicina exigem tempo integral de dedicação, que se estende aos finais de semana e feriados por causa do grande volume de conteúdo ministrado durante a semana. Esse volume costuma ser assustador para o aluno que acaba de entrar na faculdade, e a alegria inicial começa a dar lugar à preocupação sobre como lidar com tanta mudança em tão pouco tempo. Também a estrutura do curso médico surpreende e muitas vezes decepciona o aluno ingressante2. Em vez de temas próximos ao seu imaginário de ser médico, a realidade lhe oferece disciplinas das bases científicas da medicina, necessárias, mas distantes desse imaginário. Não por acaso, a literatura1),(3),(4 sobre a educação médica aponta os primeiros anos como os mais vulneráveis para o aluno desenvolver estresse psicológico. Um estudo realizado nos Estados Unidos3 mostrou que a prevalência de estresse em estudantes de Medicina é significativamente maior que na população geral, principalmente entre alunos dos primeiros semestres. No Brasil, uma revisão sistemática4 com metanálise apontou que quase 50% dos estudantes de Medicina manifestaram estresse psicológico, e estar no primeiro ano apareceu como um importante fator correlacionado. As dificuldades de adaptação estão relacionadas a baixo desempenho acadêmico5, frustração com a escolha do curso, ansiedade e depressão.
Para mitigar o impacto da entrada na faculdade, realizam-se atividades de integração do recém-ingresso, principalmente durante a chamada semana de recepção do calouro. A maioria dessas atividades compreende atividades culturais, palestras e seminários sobre a instituição. Outrossim, para um suporte mais efetivo em médio e longo prazos, as escolas médicas incentivam o aluno a participar de programas de mentoria6),(7 desde seu ingresso na faculdade. Nas revisões da literatura8)-(12, a mentoria figura como espaço institucional para compartilhar experiências pessoais e grupais da vida acadêmica, em diferentes formatos, a propósito de suporte e acompanhamento dos mentorados. Há suficientes trabalhos6),(7),(10),(11 demonstrando que programas de mentoria bem estruturados, mas flexíveis às questões dos mentorados, melhoram o aprendizado, o desenvolvimento pessoal e a satisfação com a carreira escolhida. Entretanto, um dos problemas também suficientemente descritos nesses estudos é a baixa adesão dos alunos a essa atividade, que, por sua natureza de encontro intersubjetivo, não costuma ser obrigatória.
Nesse contexto, na Faculdade de Medicina Santa Marcelina desenhou-se um modelo de mentoria, denominado “Mentoria de Acolhimento”, voltado especificamente aos alunos ingressantes. Em meio à literatura supracitada, que preconiza a inclusão dos ingressantes nos grupos de veteranos, verificamos que ainda há poucas iniciativas de mentoria especificamente para aqueles. A intenção da Mentoria de Acolhimento foi provocar uma experiência de mentoria para o maior número possível de recém-ingressos, buscando facilitar sua adaptação ao curso médico e seus desafios durante o primeiro semestre. Esse objetivo tornou-se ainda mais relevante quando, em março de 2020, devido à pandemia de Sars-CoV-2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) as atividades presenciais foram suspensas, adotando-se o modelo de ensino a distância, que poderia agravar a experiência de o aluno sentir-se perdido nesse novo ambiente educacional. Neste artigo, apresentam-se o modelo da Mentoria de Acolhimento e seu estudo de implementação.
MÉTODO
Optou-se por um desenho metodológico do tipo utilizado no campo da implementation Science13 com o objetivo de estudar o processo de implementação e os resultados da Mentoria de Acolhimento. Na área da saúde, a ciência da implementação é um campo interdisciplinar que utiliza princípios, teorias e métodos diversos com vistas a integrar determinados conhecimentos, evidências científicas ou resultados de pesquisas às rotinas dos serviços de saúde. Mais recentemente, tem sido aplicada a práticas educacionais com bons resultados14. Na pesquisa-base deste artigo, tomaram-se como objeto de estudo a implementação de um modelo novo de prática de mentoria em uma escola médica e seus resultados na perspectiva de alunos e mentores. Utilizaram-se técnicas e instrumentos de pesquisas qualitativas e quantitativas para compor um estudo de métodos mistos.
O modelo da Mentoria de Acolhimento
Na Faculdade de Medicina Santa Marcelina, há um programa de mentoria para alunos de todos os períodos, e a Mentoria de Acolhimento é uma atividade paralela dentro desse programa. Ela foi desenhada semelhantemente às atividades regulares do programa de mentoria, constituindo-se em encontros mensais de grupos de dez alunos com um mentor. Os encontros foram previstos na grade curricular obrigatória, em horários predeterminados nos primeiros quatro meses letivos do primeiro semestre da graduação. Diferentemente do que ocorre no programa de mentoria regular, em que a entrada no programa é espontânea, na Mentoria de Acolhimento, as turmas ingressantes como um todo foram divididas em oito a dez grupos formados pela administração do programa. Ou seja, ao entrarem no curso médico, todos os alunos foram inscritos automaticamente em grupos de mentoria que aconteceram dentro da grade curricular. Após o primeiro semestre, os alunos podiam se inscrever ou não no programa de mentoria regular, participando dos grupos existentes segundo suas escolhas. Os alunos não eram obrigados a participar da Mentoria de Acolhimento, mas, se participassem de três encontros, as horas contavam como atividade complementar extracurricular. Os encontros duravam em torno de uma hora a uma hora e meia. Os temas dos encontros eram livres, mas o mentor podia seguir um roteiro criado a partir da literatura1),(2 e da experiência prévia do programa relativamente às questões recorrentes quando do ingresso do aluno na faculdade (Quadro 1).
Primeiro encontro: por que ser médico? |
- Histórias de vida e escolha pela medicina |
- O que o aluno espera da medicina |
- Quais suas expectativas com a faculdade |
Segundo encontro: como é ser estudante universitário? |
- Tempo de mudança na vida: sair de casa, mudar de cidade, cursar a faculdade |
- O que os veteranos já contaram aos calouros sobre a faculdade |
Terceiro encontro: como se preparar para as provas? |
- O que estudar e como |
- Como gerenciar o tempo |
- Estudar sozinho ou em grupo |
Quarto encontro: como está sendo a vida na faculdade? |
- Primeiras impressões |
- Sentimentos, descobertas, dificuldades |
- Contar com apoio e cuidado: o programa de mentoria |
O estudo da implementação
No Quadro 2, apresentam-se os três pilares básicos do estudo de implementação13.
Delimitação do problema e da evidência a ser implementada | Alunos ingressantes no curso de Medicina são mais vulneráveis a problemas de adaptação e às exigências de aprendizagem do curso médico, impactando o desempenho e a experiência do aluno com a faculdade e a profissão. Programas de mentoria demonstraram resultados satisfatórios no desenvolvimento de recursos psicossociais para enfrentamento dessas dificuldades, entretanto a adesão espontânea aos programas é baixa. |
O plano de implementação | Elabora-se um modelo de mentoria especificamente para ingressantes. Preparam-se os mentores para desenvolver a mentoria para esses alunos. Criam-se grupos de alunos, incluindo todos os ingressantes. Incluem-se os grupos em horários da grade curricular obrigatória. Divulga-se a mentoria na semana de recepção em conferências, e-mail-marketing e e-mail-convite. Os mentores entram em contato com os alunos de seus grupos para confirmar os encontros. Mentores e coordenação da mentoria realizam encontros mensais de monitoramento e coaching. Alunos são convidados a responder ao questionário de experiência da mentoria ao final do semestre. |
Análise do processo e de seus resultados | Avaliação da experiência dos alunos. Avaliação do processo pelos mentores. Identificação de barreiras. Identificação de facilitadores. |
Os sujeitos da pesquisa foram os alunos dos dois primeiros semestres do curso médico no ano 2020 e 11 mentores que participaram da Mentoria de Acolhimento. Os mentores já trabalhavam no programa de mentoria da escola, sendo professores do curso médico com experiência de ensino e do próprio trabalho de mentor.
A proposta do modelo foi inicialmente apresentada e discutida com os mentores, e, ao longo do semestre, estabeleceram-se reuniões de debriefing e coaching conduzidas pela pesquisadora, uma psiquiatra com ampla experiência em gestão. Conforme os princípios clássicos8 do trabalho de coach, estimulavam-se no grupo o autoconhecimento, o aprofundamento da consciência sobre o trabalho e suas implicações, e então o sentido de responsabilidade e foco na solução de problemas. Nessas reuniões, os mentores compartilhavam detalhes de seu cotidiano na mentoria em termos de: estruturação, fluxos, temática dos encontros, comportamentos, tônus afetivo, sentimentos e dúvidas sobre manejo de grupo. Identificavam-se as inconformidades de desenho ou de processo do modelo, e definiam-se, coletivamente, ações e tarefas para suas correções. Conjuntamente, identificavam-se certas dificuldades dos mentores para lidar com aspectos mais delicados da intersubjetividade, que então eram tratadas por meio de aprofundamento reflexivo, troca de experiências e aconselhamento. Essas reuniões foram registradas e, com as respostas às perguntas abertas feitas aos alunos, constituíram os dados qualitativos do estudo.
Elaborou-se um questionário eletrônico anônimo com perguntas fechadas em escala Likert de quatro alternativas e perguntas abertas discursivas para investigar a percepção dos alunos sobre a experiência da mentoria. A escala Likert é uma escala psicométrica que permite quantificar a intensidade de concordância ou discordância dos sujeitos da pesquisa sobre tópicos qualitativos em investigação. As perguntas do questionário foram elaboradas a partir dos achados qualitativos obtidos nas reuniões de debriefing. Esse questionário foi enviado aos alunos no final do semestre.
Os dados qualitativos foram analisados com técnica de análise temática15),(16 da pesquisa qualitativa. Nesse modelo de análise, após leituras repetidas do material, identificam-se unidades semânticas narrativas que podem responder à pergunta da pesquisa. Os dados quantitativos foram analisados de modo descritivo das frequências relativas. Na análise, os dados quantitativos e qualitativos foram triangulados, proporcionando confiabilidade à pesquisa. Relativamente ao processo de implementação, identificaram-se facilitadores e barreiras para o desenvolvimento da mentoria. Buscaram-se também elementos para compreender os principais efeitos da mentoria, inclusive o nível de concordância para alguns deles por referência aos objetivos e às evidências que embasaram a construção do modelo da Mentoria de Acolhimento. Dessa forma, além de estudar o processo e aprimorá-lo, investigou-se sua efetividade para a melhor integração do aluno ingressante à Faculdade de Medicina.
Esse estudo correspondeu à parte de um projeto de pesquisa de avaliação do Programa de Mentoria do Curso de Medicina da Faculdade Santa Marcelina aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAEE) nº 01083018.1.0000.8125.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Mentoria de Acolhimento foi implementada em duas turmas de ingressantes de admissão semestral no curso médico em 2020. Entrou na faculdade o total de 190 alunos, dos quais 147 (77%) participaram da mentoria. No mesmo ano, a participação de alunos nos grupos do programa regular de mentoria não ultrapassou 15%, indicando que a estratégia de abordagem dos ingressantes foi bem-sucedida.
No primeiro semestre de 2020, 70% da turma de ingressantes participou da mentoria. Nas reuniões de debriefing, identificaram-se as seguintes barreiras de implementação: falhas na comunicação, mentores que não realizavam os encontros e disciplinas que ofereciam atividades didáticas extracurriculares no mesmo horário previsto para a mentoria. Com a correção dessas falhas de processo, foi possível melhorar o desempenho da implementação, e os ingressantes do segundo semestre alcançaram 83% de participação. Esse fato ilustra um modus operandi derivado da implementation science, que têm entre seus propósitos diminuir a distância entre os achados e as evidências científicas das pesquisas acadêmicas e sua introdução e efetivação na realidade concreta das práticas e de suas vicissitudes14, por meio do estudo controlado de processo e resultados.
As respostas dos alunos aos questionários eletrônicos somaram 39% dos participantes. Na análise descritiva dos dados quantitativos, observou-se que a mentoria propiciou uma experiência positiva, conforme apresentado no Gráfico 1.
A qualidade do mentor destacou-se na avaliação da experiência dos alunos, emergindo como facilitador do processo. A centralidade da competência do mentor para desenvolver os encontros confirma outras experiências de mentoria descritas na literatura17.
Outro facilitador identificado e também sustentado na literatura2),(17 foi a disposição do aluno ingressante para participar de atividades com os colegas, mostrando-se interessado em conhecer o ambiente e as pessoas da faculdade. Nesse sentido, foi um acerto estratégico ofertar a Mentoria de Acolhimento para os alunos logo no início do curso e dentro da grade horária.
Na perspectiva dos alunos, as principais barreiras decorreram de a atividade se desenvolver em modo remoto. A Mentoria de Acolhimento foi planejada para o modo presencial, entretanto, devido à pandemia de Sars-CoV-2, que bruscamente acometeu o mundo em 2020, a mentoria precisou ser adaptada ao modo a distância síncrono por razões sanitárias. Os alunos consideraram a situação como um problema compreensível: “Foi uma boa experiência, acho que presencialmente a interação entre os alunos seria maior, mas devido às restrições da pandemia eu entendo”.
Os alunos apontaram como dificuldades os problemas de conexão com a internet que às vezes os impediam de estar conectados ou abrir as câmeras. Também avaliaram que o modo remoto, por vezes, dificultou a interação do grupo. Ainda assim, alguns se surpreenderam com a experiência: “Pra mim foi incrível a forma como minha mentora e meu grupo conseguiram passar o apoio e a confiança mesmo numa tela de computador, não tenho do que reclamar!”.
Alguns alunos disseram que gostariam de mais encontros no mês e mais tempo nos encontros para aprofundar os temas. Entretanto, a falta da interação presencial foi o ponto crítico mais relevante para eles. Ao encontro dos alunos, os mentores também narraram dificuldades na interação. O fato de serem grupos de alunos novos, não conhecidos de sala de aula, sem experiência prévia com a faculdade, fazia com que, em alguns deles, o encontro fosse difícil. Nesses casos, o roteiro de conversa mostrou-se um bom recurso para estimular a participação de todos. Nos grupos mais “quietos”, o roteiro ajudava o mentor a estimular a conversa, e, nos grupos mais “falantes”, o roteiro não era necessário, entretanto observou-se que os temas listados surgiram em todos os grupos em diferentes momentos de conversa.
Ao longo do semestre, e à medida que o conhecimento e a confiança aumentavam, a qualidade interativa dos encontros melhorava.
Os temas emergentes nos encontros foram tratados nas reuniões de debriefing com os mentores e inseridos nos questionários dos alunos. Entre os temas, observou-se que os alunos mostraram mais interesse por aqueles tidos como mais relevantes para o seu momento acadêmico (Gráfico 2). Pode-se observar que, enquanto os ingressantes preferiram conversar sobre os temas de gestão do tempo e do estudo e o cotidiano da faculdade, os veteranos se interessaram mais pelas conversas sobre conflitos interpessoais com colegas, pacientes, professores e outros profissionais da saúde nos diversos cenários de ensino prático e teórico.
A forte concordância dos alunos sobre contribuições da mentoria, tais como melhorar o desempenho acadêmico, conhecer o cotidiano escolar e lidar com aspectos emocionais e relacionais (Quadro 3), mostra que o modelo da Mentoria de Acolhimento beneficiou o aluno conforme planejado.
A mentoria melhora | Concordo muito | Concordo em parte | Discordo | Não sei |
---|---|---|---|---|
Desempenho acadêmico | 29,82 | 43,85 | 1,75 | 24,56 |
Cotidiano escolar | 38,59 | 43,85 | 10,52 | 7,01 |
Lidar com suas emoções | 40,35 | 45,61 | 10,52 | 8,77 |
Relações interpessoais | 21,05 | 40,35 | 14,03 | 24,56 |
Na triangulação de dados, a análise das perguntas abertas aos alunos reforçou esse resultado:
Foi uma experiência muito enriquecedora, o professor nos acolheu de uma forma muito gentil e sempre se colocou à disposição para qualquer questão. Nossas reuniões foram cheias de apoio e eles nos oferecia caminhos para lidarmos com problemas cotidianos do curso. Estou muito feliz por ter tido essa grande oportunidade e apoio.
Achei uma experiência extremamente positiva e necessária, uma vez que os alunos entram no curso um pouco perdidos em relação ao curso, método de estudos e o estresse geral causado pela graduação.
Os alunos também reconheceram o papel da mentoria como apoio para lidar com questões emocionais, corroborando evidências de outros estudos1),(12),(18:
Penso que foi muito importante reservar um tempo para discutir sobre assuntos não relacionados às disciplinas do curso, a reflexão diante dos pontos levantados contribuiu para minha melhor adaptação à realidade do ensino superior emocional e psicologicamente. Não sei como é a mentoria presencialmente, mas no modo remoto achei até que bem produtivo, creio que me senti mais à vontade para participar.
A Mentoria de Acolhimento ajudou a integração do aluno à faculdade, dando-lhe um lugar de aluno, nas palavras desta estudante:
Eu achei muito bom, porque tendo aulas somente EaD parece que ficamos abandonados, jogados à própria sorte. A mentoria, mesmo que on-line ajudou muito para que eu me sentisse parte da faculdade, aluna e ouvida. Acho que foi essencial para esse meu primeiro semestre.
A boa experiência dos alunos também foi observada pelos mentores:
A mentoria é um lugar protegido para eles falarem de coisas que não querem falar em casa, mas estão engasgadas... dificuldades, medos, preocupações. Também não querem falar com os amigos de fora, e dentro da faculdade ainda não fizeram novas amizades porque acabaram de entrar.
Nas reuniões de debriefing, registraram-se percepções semelhantes de que, apesar das limitações do modo remoto de interação, era possível criar um ambiente acolhedor, em que os alunos sentiam confiança uns nos outros e conseguiam falar de suas impressões e vivências e produzir reflexões sobre elas. Nas palavras de uma mentora: “A mentoria para calouros é surpreendente. Começam calados e com as câmeras fechadas e no fim abrem as câmeras e até contam histórias de vida e superação!”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As revisões de literatura3)-(5),(8 levantadas neste estudo apontam como elementos que determinam a qualidade do encontro intersubjetivo nos programas de mentoria: o vínculo de confiança entre mentor e mentorados, a disposição para o encontro, o ambiente acolhedor, as discussões sobre temas relevantes para os alunos e a percepção de resultados por mentores e alunos. Entretanto, inidcam também a necessidade de aprofundar as pesquisas sobre mentoria, inclusive experimentando modelagens diferentes que produzam mais evidências do seu impacto na formação médica.
Com base nesses elementos, a Faculdade de Medicina Santa Marcelina criou o modelo da Mentoria de Acolhimento e o desenvolveu seguindo uma metodologia de implementação que, embora ainda pouco explorada, se mostra promissora para o desenvolvimento de novos modelos educacionais.
Pelo emprego de métodos mistos de pesquisa, estudou-se a percepção de alunos e mentores sobre diferentes dimensões da Mentoria de Acolhimento, que se mostrou satisfatória em termos de desenho da atividade diante de seus objetivos terminais. A oferta logo no início do curso e em horários inscritos na grade curricular facilitou a participação de um número expressivo de estudantes, mesmo sendo uma atividade facultativa. Os temas abordados também se mostraram adequados ao momento educacional do aluno. A experiência dos alunos foi positiva em diversos aspectos, destacando-se os ganhos percebidos em termos de desempenho acadêmico, relações interpessoais, suporte emocional e orientações para melhor lidar com o cotidiano da Faculdade de Medicina.
Considerando que em 2020, em razão da pandemia de Sars-CoV-2, os alunos ingressantes não tiveram contato prévio com a faculdade, a Mentoria de Acolhimento exerceu um importante papel de integração deles à vida acadêmica, proporcionando-lhes um espaço de convivência em meio a uma difícil situação de isolamento social. Na perspectiva dos mentores, apesar das dificuldades da interação a distância, agravada pelo fato de serem alunos novos, os encontros foram, na maior parte das vezes, agradáveis, reflexivos e mesmo surpreendentes.
A fraqueza deste estudo se refere ao número de alunos que responderam ao questionário, que, embora aceitável em um estudo de implementação, não se constituiu em uma amostra representativa, mas sim de conveniência, com as limitações a ela inerentes. Assim, devem-se prosseguir e aprofundar as investigações apresentadas neste artigo. Por sua vez, os resultados obtidos mostraram que a iniciativa foi exitosa em termos de alcançar um grande número de alunos no seu ingresso no curso médico e propiciar-lhes uma experiência acolhedora de contato com o mundo novo de estudante de Medicina.