INTRODUÇÃO
As ligas acadêmicas (LA) datam sua existência a partir de 1920, com o surgimento da Liga de Combate à Sífilis da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) que tinha por objetivo uma intervenção médica e social - de profilaxia e combate - na sociedade da época para tratar a sífilis1)-(3. Esse novo espaço apareceu e proporcionou um lugar para o surgimento de várias ligas que atuavam auxiliando e amparando a comunidade, em grande parte, por causa da falta de assistência do Estado brasileiro com a saúde coletiva4.
Ainda na primeira metade do século XX, as LA começaram a ter seus objetivos modificados, juntando discentes e docentes para tratar de um assunto específico, em uma espécie de grupo de estudos e práticas envolvendo o meio acadêmico médico5. Em outras áreas da saúde, como na enfermagem, existe uma lacuna de produção e desenvolvimento tardio - quando comparada com a medicina. Contudo, em um dos artigos, os futuros enfermeiros relatam que a entrada em ligas resultou em um aumento de suas habilidades sociais, imprescindíveis para o trabalho6. Pode-se inferir que, independentemente do campo da saúde, as LA se tornam importantes auxiliadoras da formação.
Alguns estudos sugerem que a tensão da ditadura militar possivelmente desenvolveu um ambiente de críticas ao método de ensino e à sua aplicação, o que deu às LA maior destaque e interesse por parte dos acadêmicos7.
Assim, após três anos transcorridos do término do regime ditatorial, no ano de 1988, entra em vigor a Constituição da República Federativa do Brasil, que estabelece as bases para a recém-recuperada democracia. Nesse cenário, a educação brasileira passa igualmente por reformas, e novas orientações moldam o ensino nacional, e uma das mais importantes é a proposição de uma indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, como previsto no artigo 207 da previamente citada Constituição8. Dessa forma, as LA veem-se obrigadas a acompanhar as mudanças sociais e se adaptar a essas novas proposições impostas pelo novo regime político.
Para tal, pouco tempo depois, no ano de 1996, é instituída a Lei nº 9.934 que estipula as Bases da Educação Nacional e define com maior precisão as três parcelas indissociáveis do ensino em nível superior9. Dessa forma, fica elucidado que, para o critério de ensino, “é necessário promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber”. Paralelamente a isso, fica explanada a pesquisa como “uma investigação científica que visa desenvolver a ciência e tecnologia e como uma criação difusão de cultura, desenvolvendo, assim, o entendimento do homem e do meio em que vive”. E, por fim, fica definida a extensão “aberta à participação da população, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição”.
Com base nessas definições e mediante a necessidade de representar e coordenar as novas LA que despontaram, em 2005 foi criada a Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Medicina (Ablam). Nesse cenário, Ablam tornou-se responsável não somente por reunir todas as LA de Medicina, como também assumiu uma definição para elas que contemplem as previsões constitucionais e obedeçam às Bases da Educação Nacional. Sendo assim, as diretrizes da Ablam concebem as LA como associações científicas, de iniciativa estudantil autônoma, sem fins lucrativos, que visam complementar a formação acadêmica em uma área específica do campo médico e atendam ao trinômio universitário (extensão, pesquisa e ensino), reunindo estudantes do curso de Medicina, médicos, residentes, outros profissionais e professores universitários10.
As LA assumem um papel importante no ensino superior, pois atuam, na maior parte das vezes, como um importante complemento para as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina. Como elucidado pelo artigo 3º da Resolução nº 3, de 20 de junho de 201411, o graduando em Medicina deve receber uma formação humanista, crítica, reflexiva e ética. Sendo assim, as LA usam seus recursos para ampliar e desenvolver esses critérios nos discentes, principalmente ao contornarem suas atividades no tripé universitário.
A Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 201812, estabelece as diretrizes para a extensão no contexto de educação superior, reiterando que as atividades de extensão devem compor, no mínimo, 10% do total da carga curricular. Assim, fica decidido que as LA não estão mais restritas ao ambiente extracurricular.
Apesar de o número de ligas ter aumentado nos últimos anos, a produção científica não acompanhou esse avanço. Artigos que abordem as LA ainda são escassos, porém são de grande importância para a conceituação e maior compreensão de seu real papel nas faculdades da área da saúde. Pensando nisso, esta revisão sistemática analisa o perfil das LA da área de saúde no Brasil a partir de artigos científicos publicados de 2003 a 2022 e identifica limitações da literatura disponível, apresentando uma proposta de padronização para futuros estudos sobre as LA.
MÉTODO
Este estudo teve como objetivo geral realizar uma revisão sistemática sobre as LA e a atuação delas no Brasil.
Estes foram os objetivos específicos:
Discutir a história e evolução das LA no Brasil.
Analisar bibliometricamente as publicações sobre LA no Brasil.
Analisar o perfil demográfico das LA de saúde no Brasil.
Propor um checklist norteador para a redação de estudos observacionais (relatos de experiência) sobre LA de saúde no Brasil.
No que concerne aos critérios de elegibilidade, adotaram-se os seguintes:
1)Critério de inclusão: característica compartilhada por todos os sujeitos a serem estudados:
2)Critério de exclusão: característica ou circunstância que impede a inclusão do sujeito no estudo, apesar de cumprir os critérios de inclusão:
Os bancos de dados selecionados para a revisão sistemática foram: Medline via PubMed Central e Biblioteca Virtual de Saúde - BVS (inclui Lilacs), com busca realizada em 9 de novembro de 2022, em todo o período disponível nas bases de dados pesquisadas.
Os termos utilizados na estratégia de busca foram escolhidos com base no assunto LA e suas variações, em razão de não haver um descritor específico para esse tema, o que pode representar uma possível limitação do estudo. Não houve restrição de data de publicação ou idioma.
Na base de dados Medline via PubMed Central, utilizaram-se os seguintes descritores: (liga acadêmica) OR (ligas acadêmicas) OR (liga acadêmica de Medicina) OR (ligas acadêmicas de Medicina) OR (medical academic league) OR (academic league) (liga estudantil) OR (ligas estudantis).
Na BVS, adotaram-se os seguintes descritores: (liga acadêmica) OR (ligas acadêmicas) OR (liga acadêmica de Medicina) OR (ligas acadêmicas de Medicina) OR (medical academic league) OR (academic league) OR (liga estudantil) OR (ligas estudantis).
Processo de seleção
Dois autores (WN, DG) selecionaram de forma independente os títulos e resumos de todos os estudos rastreados por meio das estratégias de busca nos bancos de dados e os incluíram no Rayyan™️ (Intelligent Systematic Review). Os textos completos foram levantados e selecionados aplicando-se os critérios de elegibilidade preestabelecidos pelos autores. As discordâncias foram resolvidas por meio de consenso ou, quando necessário, por meio da revisão de um terceiro autor (JC). Dois autores (WN, DG) avaliaram independentemente e selecionaram os estudos com base nos critérios de elegibilidade preestabelecidos. Qualquer divergência foi resolvida por discussão e, sempre que necessário, pela avaliação de um terceiro autor.
Processo de coleta de dados
Dois autores (WN, DG) extraíram independentemente os dados dos estudos incluídos. As discordâncias foram resolvidas por meio do consenso ou pela avaliação do autor principal (RR). Utilizou-se um formulário semiestruturado (na plataforma Google Sheets™️) para coletar os seguintes dados: título do artigo, autores, DOI/URL, ano de publicação, revista de publicação, tipo de artigo, universidade envolvida (pública - federal ou estadual - ou particular), estado de origem da LA, curso responsável pela LA, a grande área envolvida (ciências básicas, clínica médica ou clínica cirúrgica) e especialidade. No que concerne à área médica, coletaram-se os seguintes dados: ano de abrangência da graduação, objetivo de fundação da LA, ano de fundação da LA, concordância com tripé universitário (extensão, ensino e pesquisa), descrição do eixo de ensino, pesquisa e extensão, descrição da parte prática realizada no ensino, existência de supervisão docente, financiamento da LA, avaliação do impacto da LA nos estudantes (não disponível, qualitativo, quantitativo e qualiquantitativo) e definição de LA utilizada pelo relato.
Lista de dados
Os dados bibliométricos foram coletados na própria ferramenta de pesquisa (título do artigo, autores, DOI/URL, ano de publicação, revista de publicação e tipo de artigo).
Em relação aos demais itens:
Universidade envolvida e estado de origem da LA: informação extraída das filiações dos autores e do texto do artigo, considerando-se as informações explícitas.
Curso responsável pela LA, ano de fundação da LA, descrição de atividades práticas realizadas no ensino, existência de supervisão docente, financiamento da LA - extraído do texto do artigo.
Grande área envolvida e especialidade: informação extraída de relatos de experiência na área médica, caracterizando as LA em ciências básicas, clínica médica ou cirúrgica a partir de suas especialidades.
Concordância com tripé universitário (extensão, ensino e pesquisa): descrição explícita no texto com todos os itens do tripé ou inferência a partir das atividades relatadas.
Descrição do eixo de ensino, pesquisa e extensão: utilizaram-se os critérios definidos pela Ablam nas Diretrizes Nacionais, artigos 15º e 16º13:
1. Ensino:
Artigo 15º Parágrafo 2° - Podem ser contempladas atividades práticas e teóricas na carga horária estipulada acima, segundo critério de funcionamento da LAM, estabelecido em seu respectivo Estatuto. i.I - São consideradas atividades teóricas da LAM: aulas teóricas sobre temas que atendam ao escopo da área de concentração da Liga Acadêmica, discussão de casos clínicos, discussão de artigos científicos, cursos introdutórios, jornadas, simpósios e eventos interligas. i.II - São consideradas atividades práticas da Liga Acadêmica: acompanhamento de atividades ambulatoriais, acompanhamentos de procedimentos cirúrgicos, acompanhamentos de visitas a pacientes, atividades realizadas no pronto- socorro, enfermaria, laboratório, Serviço de Verificação de Óbito, prática cirúrgica em cobaias animais, ou outro local desde que em consonância com a entidade de supervisão e colaboradora na regulamentação das LA na instituição.
2. Pesquisa:
Artigo 16º II - Atividades de Pesquisa - revisão de prontuários para apresentação de relato de caso, pesquisas clínicas do hospital de ensino, projeto de Iniciação Científica na área, trabalhos científicos com dados obtidos através de mutirão/feira da saúde, análise prontuários para confecção de banners/artigos e discussão de artigos científicos. É sugerido e incentivado que a LAM possa auxiliar a publicação científica aos membros.
3. Extensão:
Artigo 16º III - Atividades de Extensão - mutirão/feira de saúde voltada ao bem estar da população, campanhas ou consultorias à população, manuais/panfletos/sites informativos à população e palestras/simpósios que possam abranger diversas áreas da saúde, cujo público alvo se estenda além da área da Medicina.
Avaliação do impacto da LA nos estudantes: informação extraída do texto; se ausente marcada como NA (not available), se feita de forma quantitativa (consideraram-se aqueles que apresentaram dados quantitativos), qualitativa (consideraram-se aqueles que utilizaram questionários com dados qualitativos e aqueles que apresentaram apenas relatos qualitativos por parte do autor ou dos membros) ou qualiquantitativa, marcada como tal.
Risco de viés em cada estudo
O estudo em questão utilizou-se de relatos de experiência e revisões em sua maioria. Em relação aos estudos quantitativos, possíveis limitações foram avaliadas - sem o uso de avaliação estruturada ou checklist.
Métodos de síntese
Realizou-se a análise descritiva por meio do software Microsoft Excel™️ e do Google Sheets™️.
Os artigos selecionados foram individualmente adicionados no organizador de referências (Mendeley™️), por meio do qual se realizaram anotações e grifos específicos para extração e síntese de informações.
Com base nos dados selecionados, separaram-se as informações em três subtópicos: perfil bibliométrico dos artigos, informações referentes aos eixos de atuação das LA (ensino, pesquisa e extensão) e avaliação dos estudos quantitativos.
De acordo com o observado após síntese das informações, elaborou-se uma tabela com os principais pontos de discussão dos artigos e suas implicações práticas em sua área de estudo. A tabela foi elaborada com base no consenso dos pesquisadores e de forma semelhante ao executado em revisões de escopo.
Além disso, uma última tabela foi elaborada pelos autores com informações essenciais para a redação de artigos observacionais (relatos de experiência) por LA da área de saúde, em formato de checklist. Essa tabela foi desenvolvida a partir do consenso dos autores sobre a literatura disponível e problemas identificados, com base nas definições do tripé universitário da Ablam e também no checklist para revisões sistemáticas PRISMA14 e STROBE15, o qual teve trechos adaptados para essa literatura em específico.
RESULTADOS
Fluxograma de artigos
Para a revisão sistemática, identificaram-se 2.132 artigos candidatos nas bases de dados Medline via PubMed Central e BVS após a aplicação da estratégia de busca, sem restrição de ano de publicação. Após a exclusão de artigos duplicados (68), 2.064 artigos foram filtrados com base no título, e excluíram-se aqueles que não mencionavam LA em saúde. Avaliaram-se 354 artigos na íntegra, restando 74 que cumpriam todos os critérios de inclusão desta revisão sistemática (Figura 1).
Visão geral
A partir da revisão sistemática, obtivemos 74 artigos que versavam sobre o tema LA de saúde1),(2),(5)-(7),(16)-(84. Entre eles, há 28 (37,8%) relatos de experiência (em laranja), que mencionam as atividades e a fundação de LA de todo o país; e 25 (33,7%) artigos originais (em azul-escuro), com pesquisas de dados quantitativos e qualitativos em relação às LA no Brasil. O restante, 21 (28,5%), está distribuído em ponto de vista (em cinza), editorial (em verde), revisão de literatura (em roxo), carta ao editor (em vermelho), dossiê (em amarelo) e ensaio (em azul-claro). No Quadro 1, os artigos estão ordenados em suas respectivas classificações e em ordem crescente de ano de publicação.
Referências | Nome do Artigo | Autores | Ano de publicação | Revista de Publicação | Universidade pública (Federal ou Estadual) ou particular | Estado de origem da liga | Curso | Tipo de artigo | Ano de fundação da liga |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
51 | “Liga de geriatria e gerontologia da Universidade Federal do Triângulo Mineiro: relato de experiência” | Montanholi et al. | 2010 | Revista Eletrônica de Enfermagem | Federal | Minas Gerais | Enfermagem, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Terapia Ocupacional | Relato de experiência | 2003 |
52 | “Alcohol and other drugs: contributions of an academic league for nursing training” | Moreira et al. | 2017 | Revista de Enfermagem da UFPI | Particular | Piauí | Enfermagem | Relato de experiência | 2014 |
53 | “Experiences of nursing students in an academic league of stomatherapy” | Carvalho et al. | 2015 | Revista de Enfermagem da UFPI | Estadual | Piauí | Enfermagem | Relato de experiência | 2013 |
54 | “Proposition, fundation, implementation, and consolidation of an academic league” | Silva et al. | 2018 | Revista de enfermagem UFPE on line | Federal | Alagoas | Enfermagem | Relato de Experiência | 2016 |
55 | “Grupo operativo com estudantes de enfermagem: vivência em uma liga acadêmica de oncologia” | Rossato et al. | 2020 | Revista Baiana de Enfermagem | Estadual | São Paulo | Enfermagem | Relato de Experiência | 1998 |
56 | “Liga interdisciplinar em saúde mental: trilhando caminhos para a promoção em saúde” | Oliveira et al. | 2019 | Saúde em redes | Estadual | Ceará | Enfermagem, educação física, psicologia, direito e pedagogia | Relato de experiência | 2017 |
57 | “Liga de humanização SARAKURA: contribuição para a formação dos profissionais da saúde” | Helmo et al. | 2010 | Ciência, Cuidado e Saúde | Federal | Minas Gerais | Enfermagem, medicina, biomedicina, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia, | Relato de experiência | 2006 |
58 | “Liga acadêmica de medicina de família e comunidade: instrumento de complementação curricular” | Bonin et al. | 2011 | Revista de Atenção Primária a Saúde | Federal | Minas Gerais | Enfermagem, Medicina, Odontologia, Serviço Social, Psicologia, Farmácia, Fisioterapia, | Relato de experiência | ND |
59 | “A importância da liga acadêmica na promoção do envelhecimento saudável” | Wu et al. | 2020 | Revista Brasileira em Promoção da Saúde | Estadual | Pará | Fisioterapia | Relato de experiência | ND |
60 | “Liga Acadêmica de gerontologia da EACH/USP: histórico e perspectiva para a atuação do bacharel em gerontologia” | Silva et al. | 2009 | Revista Kairós-Gerontologia | Estadual | São Paulo | Gerontologia | Relato de experiência | 2007 |
61 | “Capacity-building experience through implementation of an academic league in hematology in a low-income Amazonian region of Brazil” | Fujimoto et al. | 2018 | Blood Advances | Federal | Acre | Medicina | Relato de experiência | 2016 |
62 | “Contribuição para o ensino de ortopedia da primeira liga da especialidade em Rondônia” | Vieira et al. | 2014 | Revista de Medicina USP | Particular e Federal | Rondônia | Medicina | Relato de experiência | 2012 |
63 | “Implantação de uma liga acadêmica de anatomia: desafios e conquistas” | Silva et al. | 2015 | Revista Brasileira de Educação Médica | Federal | Rio de Janeiro | Medicina | Relato de experiência | 2014 |
64 | “Lessons learned from the student’s surgery academic league: is it worth it?” | Miranda et al. | 2020 | Revista Brasileira de Educação Médica | Estadual | Pernambuco | Medicina | Relato de experiência | 2007 |
65 | “Liga acadêmica de medicina do trabalho: a experiência da Universidade Federal do Paraná” | Daniel et al. | 2018 | Revista Brasileira de Medicina do Trabalho | Federal | Paraná | Medicina | Relato de experiência | 2016 |
66 | “Liga de anatomia aplicada (LAA): as múltiplas perspectivas sobre participar de uma liga acadêmica” | Yang et al. | 2019 | Revista Brasileira de Educação Médica | Estadual | Rio De Janeiro | Medicina | Relato de experiência | 2012 |
67 | “Liga de educação em saúde: reflexões a partir das vivências dos estudantes de medicina da Universidade Federal do Rio Grande” | Floss et al. | 2014 | Revista de Atenção Primária a Saúde | Federal | Rio Grande do Sul | Medicina | Relato de experiência | 2010 |
68 | “Ligas acadêmicas: o que há de positivo? experiência de implantação da liga baiana de cirurgia plástica” | Monteiro et al. | 2008 | Revista Brasileira de Cirurgia Plástica | Federal | Bahia | Medicina | Relato de experiência | 2006 |
69 | “O câncer de mama no estado do Pará, Brasil, e o papel da liga acadêmica de oncologia na promoção da saúde feminina: um relato de experiência” | França et al. | 2017 | ABCS Health Sciences | Estadual | Pará | Medicina | Relato de experiência | ND |
70 | “Quem ‘liga’ para o psiquismo na escola médica?A experiência da Liga de Saúde Mental da FMB - Unesp” | Gonçalves et al. | 2009 | Revista Brasilera de Educação Médica | Estadual | São Paulo | Medicina | Relato de experiência | 2004 |
71 | “A liga acadêmica de saúde da família e comunidade influenciando na formación de graduandos en salud” | Vanina et al. | 2018 | Convención Internacional de Salud, CubaSalud 2018 | Federal | Distrito Federal | Medicina, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Enfermagem, Saúde coletiva | Relato de experiência | 2016 |
72 | “Papel das Ligas estudantis de apoio à nefrologia na prevenção da doença renal crônica” | Bastos et al. | 2007 | Jornal Brasileiro de Nefrologia | ND | ND | ND | Relato de experiência | ND |
73 | “Conversas sobre formarfazer a nutrição: as vivências e percursos da liga de segurança alimentar e nutricional” | Schneider et al. | 2014 | Interface - Comunicação, Saúde, Educação | Particular | Rio de Janeiro | Nutrição | Relato de experiência | 2007 |
74 | “Liga acadêmica baiana de educação em saúde bucal (LABESB): experiência de discentes em odontologia com educação em saúde bucal” | Costa et al. | 2015 | Revista Brasileira de Ciências da Saúde | Particular | Bahia | Odontologia | Relato de experiência | ND |
75 | “A construção de um LARR: contações sobre a criação da liga acadêmica de relações raciais” | Purificação et al. | 2020 | Revista de Psicologia, Diversidade e Saúde | Particular | Bahia | Psicologia | Relato de experiência | 2016 |
76 | “A liga acadêmica como ferramenta da formação em psicologia: experiência da LAPES” | Magalhães et al. | 2015 | Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional | Particular | Bahia | Psicologia | Relato de experiência | 2011 |
77 | “As ligas acadêmicas como suplemento da graduação em psicologia: uma experiência como coordenadora da LASG (2015-2016)” | Alves et al. | 2020 | Revista Psicologia, Diversidade e Saúde | Particular | Bahia | Psicologia | Relato de experiência | 2015 |
78 | “Uma nova possibilidade de construção de conhecimento em psicologia” | Souza et al. | 2019 | Estudos Interdisciplinares em Psicologia | Particular | São Paulo | Psicologia | Relato de experiência | 2015 |
16 | “A contribuição de uma liga acadêmica no ensino de graduação em Enfermagem” | Panobianco et al. | 2013 | Revista da rede de Enfermagem do Nordeste | Estadual | São Paulo | Enfermagem | Artigo original | 1998 |
17 | “Contribuições de uma liga acadêmica do trauma e emergência na formação universitária: percepção dos integrantes” | Vieira et al. | 2019 | Nursing | Particular | São Paulo | Enfermagem e medicina | Artigo original | ND |
18 | “A importância da liga acadêmica de queimaduras” | Costa et al. | 2009 | Revista Brasileira de Queimaduras | Estadual | Ceará | Fisioterapia | Artigo original | ND |
18 | “O ensino de terapia ocupacional na clínica das dependências: uma experiência na liga acadêmica de farmacodependências (Proad Unifesp)” | Perrone et al. | 2014 | Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar | Federal | São Paulo | Enfermagem, Medicina, Psicologia e Terapia Ocupacional | Artigo original | 2004 |
20 | “Cardiothoracic surgery league from University of São Paulo Medical School: twelve years in medical education experience” | Fernandes et al. | 2010 | Revista Brasileira de Cirurgia Vascular | Estadual | São Paulo | Medicina | Artigo original | 1996 |
21 | “Ensino de anestesiologia durante a graduação por meio de uma liga acadêmica: qual o impacto no aprendizado dos alunos?” | Ramalho et al. | 2012 | Revista Brasileira de Anestesiologia | Estadual | São Paulo | Medicina | Artigo original | ND |
22 | “Liga de cirurgia de cabeça e pescoço da Universidade Federal do Ceará: 6 anos de ensino, pesquisa e extensão” | Mendes et al. | 2014 | Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço | Federal | Ceará | Medicina | Artigo original | 2007 |
23 | “Liga de combate à hanseníase ‘Luiz MarinoBechelli’: a inserção de um projeto acadêmicojunto à atenção primária em saúde e comunidade” | Souza et al. | 2003 | Hansenologia Internationalis: hanseníase e outras doenças infecciosas | Estadual | São Paulo | Medicina | Artigo original | 1991 |
24 | “Organ donation and transplantation from medical students’ perspective: introducing the experience from an academic league in Brazil” | Almeida et al | 2011 | Transplantation Proceedings | Federal | Goiás | Medicina | Artigo original | ND |
25 | “The experience of an academic league: the positive impact on knowledge about trauma and emergency” | Tedeschi et al. | 2018 | Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões | Federal | Rio de Janeiro | Medicina | Artigo original | ND |
26 | “Trauma leagues: an alternative way to teach trauma surgery to medical students” | Simões et al. | 2014 | Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões | Federal | Espírito Santo | Medicina | Artigo original | ND |
27 | “Iniciação científica na graduação: experiência da liga da mama da Universidade Federal de Goiás” | Soares et al. | 2017 | Revista Brasileira de Mastologia | Federal | Goiás | Medicina, psicologia, nutrição, enfermagem e fisioterapia | Artigo original | 2001 |
28 | “Análise das ligas acadêmicas de medicina sob a perspectiva dos alunos” | Camilo et al. | 2020 | Scientia Medica | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
29 | “Em busca da definição contemporânea de ‘ligas acadêmicas’ baseada na experiência das ciências da saúde” | Cavalcante et al. | 2021 | Interface - Comunicação, Saúde, Educação | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
30 | “Influência da participação de estudantes em ligas acadêmicas na escolha da especialidade para o programa de residência médica da Bahia 2017” | Pontes et al. | 2019 | Revista de Medicina USP | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
31 | “Inquérito nacional sobre as ligas acadêmicas de Medicina intensiva” | Neves et al. | 2008 | Revista Brasileira de Terapia Intensiva | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
32 | “Ligas acadêmicas e formação médica: estudo exploratório numa tradicional escola de Medicina” | Moreira et al. | 2019 | Revista Brasileira de Educação Médica | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
33 | “Ligas acadêmicas e formação médica: validação de um instrumento para avaliação e percepção discente” | Misael et al. | 2022 | Revista Brasileira de Educação Médica | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
34 | “Ligas acadêmicas na educação médica: uma análise institucional sob a visão dos orientadores” | Toledo et al. | 2020 | HU revista | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
35 | “Normatização da abertura de ligas acadêmicas: a experiência da Faculdade de Medicina de Botucatu” | Hamamoto Filho et al. | 2010 | Revista Brasilera de Educação Médica | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
36 | “O perfil das ligas acadêmicas de angiologia e cirurgia vascular e sua eficácia no ensino da especialidade” | Andreoni et al. | 2019 | Jornal Vascular Brasileiro | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
37 | “The importance of student leagues on medical training in Neurosurgery and Residency Choice” | Moraes et al. | 2018 | Arquivos Brasileiros de Neurocirurgia | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
38 | “The role of academic leagues as a strategy for pain education in Brazil” | Garcia et al. | 2019 | Journal of Pain Research | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
5 | Ligas acadêmicas no processo de formação dos estudantes” | Silva et al. | 2015 | Revista Brasileira de Educação Médica | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
6 | “Contribuição das ligas acadêmicas para formação em enfermagem” | Araujo et al. | 2020 | Enfermagem em foco | ND | ND | ND | Artigo original | ND |
49 | “Academic league of videolaparoscopy: a new strategy to awaken the interest of medical students in minimally invasive surgery” | Lima et al. | 2020 | Journal of Minimal Access Surgery | Federal | Pernambuco | Medicina | Ponto de vista | 2010 |
50 | “Ligas acadêmicas estudantis: o mérito e a realidade” | Santana et al. | 2012 | Revista de Medicina USP | ND | ND | ND | Ponto de vista | ND |
43 | “As ligas acadêmicas no ensino médico” | Sasaki et al. | 2013 | Revista de Medicina USP | ND | ND | ND | Editorial | ND |
44 | “Medical teaching beyond graduation: undergraduate study groups” | Pego-Fernandes et al. | 2010 | Sao Paulo Medical Journal | ND | ND | ND | Editorial | ND |
45 | “O cenário das ligas acadêmicas de estomaterapia no Brasil” | Alvarez et al. | 2021 | ESTIMA, Brazilian Journal of Enterostomal Therapy | ND | ND | ND | Editorial | ND |
46 | “Ophthalmology academic leagues: making an impact on medical education” | Gameiro et al. | 2020 | Arquivos Brasileiros de Oftalmologia | ND | ND | ND | Editorial | ND |
47 | “The important role of academic leagues (extensions) in Brazilian medical education” | Torsani et al. | 2019 | Revista da Associação Médica Brasileira | ND | ND | ND | Editorial | ND |
2 | “Ligas acadêmicas de medicina: artigo de revisão” | Botelho et al. | 2013 | Revista Paraense de Medicina | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
79 | “Academic leagues: a brazilian way to teach about cancer in medical universities” | Ferreira et al. | 2015 | BMC Medical Education | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
80 | “As ligas acadêmicas na área da saúde: lacunas do conhecimento na produção científica brasileira” | Cavalcante et al. | 2018 | Revista Brasileira de Educação Médica | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
81 | “Ligas acadêmicas de medicina: perfil e contribuições para o ensino médico” | Ferreira et al. | 2016 | Revista da Sociedade Brasileira de Clínica Médica | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
82 | “Ligas acadêmicas de Odontologia: uma revisão de literatura” | Melo et al. | 2019 | Revista da ABENO | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
83 | “Ligas acadêmicas: motivações e críticas a propósito de um pepensar necessário” | Hamamoto Filho | 2011 | Revista Brasilera de Educação Médica | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
84 | “Ligas acadêmicas: uma revisão de várias experiências” | Georgen | 2017 | Arquivos Catarinenses de Medicina | ND | ND | ND | Revisão de literatura | ND |
1 | “Como as ligas acadêmicas podem contribuir para a formação médica?” | Hamamoto Filho et al. | 2011 | Revista Diagnóstico & Tratamento | ND | ND | ND | Carta ao Editor | ND |
39 | “First academic league of EBM in Brazil: experience report” | Rocha et al. | 2021 | BMJ evidence-based medicine | Federal | São Paulo | Medicina | Carta ao editor | 2013 |
40 | “The role of academic association in professional training” | Bastos et al. | 2012 | Jornal Brasileiro de Pneumologia | ND | ND | ND | Carta ao editor | ND |
41 | “The academic leagues phenomenon” | Goergen et al. | 2019 | Mastology | ND | ND | ND | Carta ao editor | ND |
42 | “The centenary of academic leagues in Brazil: a brief reflection” | Brito et al. | 2022 | Revista de Medicina USP | ND | ND | ND | Carta ao Editor | ND |
7 | “Ligas acadêmicas e formação médica: contribuições e desafios” | Torres et al. | 2008 | Interface - Comunicação, Saúde, Educação | ND | ND | ND | Dossiê | ND |
48 | “As ligas acadêmicas e sua aproximação com sociedades de especialidades: um movimento de contrarreforma curricular?” | Goergen et al. | 2021 | Revista Brasilera de Educação Médica | ND | ND | ND | Ensaio | ND |
Fonte: Elaborado pelos autores.
O primeiro artigo publicado sobre LA foi em 2003, com o título “Liga de combate à hanseníase ‘Luiz Marino Bechelli’: a inserção de um projeto acadêmico junto à atenção primária em saúde e comunidade”23. Porém, até 2006 não há na literatura outros artigos que tratem sobre o tema. As publicações retornam em 2007, e, a partir desse ano, todos os anos - até a data atual - possuem publicações. Em 2019 observou-se a maior taxa de publicação, com 11 artigos (15%) publicados sobre ligas. Observa-se maior produção científica (frequência versus ano) no período 2017-2021, com uma média de 6,4 artigos/ano, sendo ao todo 38 artigos (51,4%) somente nesse período.
Em relação ao local de publicação dos artigos, 11 artigos (15%) foram publicados na Revista Brasileira de Educação Médica, três (4%) na Interface e cinco (6,7%) na Revista de Medicina da Universidade de São Paulo. Todos os demais textos estão distribuídos em 51 revistas que versam sobre diversos assuntos. Em 41 artigos, foram descritas LA que traziam nas informações seu estado de origem, sendo 11 (26,8%) no estado de São Paulo, cinco (12,2%) na Bahia e quatro (9,7%) no Rio de Janeiro (Figura 2).
Nesses 41 artigos analisados, 18 (43,9%) trazem LA pertencentes a faculdades públicas federais, e 14 (34,1%), a faculdades públicas estaduais. As faculdades públicas somam 78% das LA.
Análise qualitativa dos relatos de experiência
Ao todo, analisaram-se 28 relatos de experiências, e estabeleceram-se parâmetros para sintetizar o funcionamento e a conceituação das LA. Os parâmetros observados foram: “Objetivos de fundação”, “Segue o tripé ensino-pesquisa-extensão?”, “Como ocorre o ensino?”, “Como ocorre a pesquisa?”, “Como ocorre a extensão?”, “Há parte prática? Caso sim, como é feita?”, “A liga se envolve em eventos científicos?”, “Há supervisão docente?” e, finalmente, “Há financiamento?”.
Primeiramente, analisaram-se os objetivos de fundação de cada LA (Figura 3). Notou-se que dois parâmetros foram citados nove vezes: a promoção da saúde no município onde está localizada57)-(59),(61),(65),(67),(70),(72),(76 e a oportunidade de desenvolver projetos científicos54),(61),(65),(66),(68),(70),(71),(75),(76, sendo os argumentos mais incidentes entre todos. Em seguida, o segundo argumento mais recorrente, que apareceu oito vezes, foi o aprofundamento do conhecimento teórico51),(52),(54),(60),(65),(66),(72),(78. Ademais, a oportunidade de aprofundar o conhecimento prático52)-(54),(58),(66),(72),(78 apareceu sete vezes. Citaram-se ainda, em menor periodicidade, articulação do tripé ensino-pesquisa-extensão, discutir temas específicos, promover educação para a população local e exercer a cidadania. É válido ressaltar que quatro dos 28 artigos (14%)55),(62),(69),(74 não explicitaram os objetivos de fundação de suas LA.
Para o próximo parâmetro, 24 relatos (85%) afirmaram que seguem o tripé ensino-pesquisa-extensão, e, nos quatro restantes52),(64),(67),(72, essa informação não estava disponível.
Acerca do ensino, 24 artigos (85%) descreveram suas atividades de ensino, e as mais preponderantes foram reuniões ou aulas periódicas, sejam semanais ou quinzenais. Nos quatro artigos restantes54),(59),(69),(72, essa informação não estava disponível.
Em relação à pesquisa, apenas 17 relatos (60%) comunicaram que desenvolviam projetos de iniciação científica e pesquisas acadêmicas51),(53),(54),(56),(58),(60)-(63),(66),(68),(70),(71),(74),(76)-(78.
Além disso, no quesito de extensão, sete relatos (25%) não apresentaram descrições sobre isso54),(55),(62),(64),(68),(75),(77, e, entre as disponíveis, os princípios mais recorrentes foram os de educação à comunidade local e atividades de atendimento de saúde gratuito à população. Por fim, apenas 15 (53%) relataram atividades práticas nas LA40),(52),(54)-(56),(59),(60),(65),(67),(69),(71),(73),(75)-(77, e as mais habituais foram acompanhamento ambulatorial e aulas práticas. Outrossim, 15 artigos (53%) reportaram que participam de eventos científicos ou promovem a organização deles51),(53),(54),(56),(61)-(64),(68),(70),(74)-(78.
Ainda 26 (por volta de 93%) reportaram que recebem supervisão docente, e, dos dois restantes, em um relato (3,5%) essa informação não estava disponível51, e, em outro (3,5%), foi explicitamente relatado que a LA não possuía supervisão docente, sendo totalmente gerenciada pelos alunos e por suas demandas63.
Apenas três artigos (cerca de 10%) mencionaram receber financiamento51),(62),(72, e, nos demais, esse dado não estava contido.
Análise dos artigos quantitativos
Entre os estudos, foram encontrados quatro que mensuraram quantitativamente os impactos das LA no conhecimento, todos analisando alunos de Medicina, a partir da utilização de questionários estruturados (antes e depois da LA)21),(25),(26),(36.
Desses, dois utilizaram na comparação grupos de controle com alunos que não participaram da LA21),(36, e dois não utilizaram controles25),(26, avaliando apenas os alunos que passaram pela LA. Apenas um estudo era multicêntrico36. Todos esses estudos demonstraram resultados que convergem para um aumento no conhecimento21),(25),(26),(36.
DISCUSSÃO
Dados bibliométricos
De acordo com os resultados bibliométricos, os artigos dispersos em múltiplas revistas demonstram a ausência de um espaço dedicado à temática e possivelmente uma falta de clareza editorial das revistas que não são dedicadas à educação médica quanto à aceitação dessa literatura, além de possível resistência editorial para publicação de estudos, uma vez que muitos são tecnicamente simples e atraem menos atenção que outros tópicos clínicos específicos de uma especialidade.
Isso é especialmente problemático, uma vez que o conhecimento de LA depende de relatos de experiências como fonte importante de informações sobre as atividades desenvolvidas. A centralização da temática em uma ou algumas revistas poderia facilitar o avanço e maior atenção para essa literatura, e possivelmente atrair a atenção de pesquisadores para o desenvolvimento de projetos. Seria, portanto, interessante a criação de uma seção específica na própria Revista Brasileira de Educação Médica para publicação exclusiva sobre LA ou até mesmo para publicação de artigos sobre o tema elaborados por estudantes da área da saúde (sob orientação de um docente).
Uma limitação da revisão é a descrição de dados encontrados nos artigos publicados e não necessariamente de todas as LA, uma vez que informações nacionais não estão disponíveis. Uma plataforma atualizada anualmente ou mesmo um “censo” das LA em nível nacional poderia beneficiar um entendimento dessas organizações. Desse modo, possivelmente, quando estiverem claras as informações básicas sobre o que fazem essas organizações em âmbito nacional, questões mais complexas, como os impactos nos alunos e na comunidade, podem ser investigadas com mais facilidade.
Perfil demográfico das ligas acadêmicas de saúde no Brasil
No Brasil, há 389 faculdades de Medicina, sendo 268 privadas e 121 públicas85, e muitas delas possivelmente com LA estabelecidas ou em processo de abertura de novas. Essas organizações atuam diretamente na educação médica e de outros cursos da saúde, além de se integrarem à sociedade por meio de atividades de extensão e demandarem investimento de tempo e por vezes recursos financeiros. No entanto, a literatura atual parece não acompanhar esse cenário, tampouco oferece dados sobre o impacto dessas LA, o que deveria ser um tópico de discussão da educação médica.
Os dados analisados e expostos na Figura 2 mostram que as LA se encontram majoritariamente na Região Sudeste, com 19 LA (46,3%). Isso também foi observado em um estudo descritivo que analisava LA de oncologia, em que a maioria estava concentrada nessa região, sendo proporcional à quantidade de escolas médicas e número de habitantes79.
A saúde brasileira necessita que a formação educacional seja integrada e contextualizada, preparando o profissional para lidar com as adversidades do universo da saúde. As LA surgiram como um aparato que permitiu uma aproximação da teoria com a prática dos alunos80, centralizando a responsabilidade da educação no educando, assim como Paulo Freire preconizava em seu livro Pedagogia da autonomia86. Esse fato não ocorre apenas na medicina80, mas também em outras áreas da saúde, como psicologia75),(77),(78, fisioterapia19),(59, enfermagem16),(52)-(55, odontologia74, gerontologia60, nutrição73, farmácia, terapia ocupacional, educação física e biomedicina. Isso ocorre também em áreas não relacionadas à saúde, como serviço social e direito. Por fim, existem LA que se expandem entre os cursos18),(27),(51),(56)-(58),(71, aprimorando esse contato entre diferentes áreas que trabalharão juntas.
Apesar de as ligas possuírem um grande papel na formação acadêmica brasileira na área da saúde, dados nacionais sobre elas ainda são escassos7. Isso dificulta a realização de estudos quantitativos e qualitativos que poderiam trazer melhorias para o cenário atual das LA no Brasil. Encontrar artigos e materiais sobre LA na literatura é difícil porque os dados estão dispersos e sem padronização.
Nos artigos encontrados, as informações, de forma geral, variam nos trabalhos analisados - ponto de vista, editorial, revisão de literatura, carta ao editor, artigo original, relato de experiência, dossiê e ensaio -, ainda que estejam na mesma categoria. A maior parte dos artigos é composta por relatos de experiência (37,8%) que dispõem de dados despadronizados no que diz respeito às atividades da LA (dentro do tripé universitário), financiamento, orientação e supervisão. Assim, limita-se a análise de dados e formulação posterior de informações fidedignas sobre LA.
História e evolução das ligas acadêmicas no Brasil
Em setembro de 1918, foi fundada a primeira LA de que se tem registro pelos discentes de Medicina da Faculdade de Medicina de São Paulo. Todavia, embora a LA de Sífilis tenha se consolidado como o marco inicial das LA, é importante ressaltar que a expansão desses grupos estudantis ocorreu essencialmente durante o período da ditadura militar brasileira50. Nesse cenário, pode-se inferir que essa referida ascensão objetivava questionar a essência do ensino universitário, bem como o direcionamento e a aplicabilidade dos avanços técnicos e científicos7.
Além disso, alguns anos após o término do regime ditatorial, é dado início à implantação da democracia e à feitura de uma nova Constituição Federal8. Associado a isso, ainda é possível citar a Lei nº 9.934 que surge no ano de 1996, que conceitua com maior precisão o que delimita cada parcela inseparável do ensino nacional9. Por consequência desse cenário, as LA passam a ser orientadas por essa determinação federal, e pode-se contemplar uma adequação a esse novo modelo de se fazer a educação nacional pautada no tripé ensino-pesquisa-extensão2),(35),(80.
Todas as LA analisadas têm sua fundação datada a partir da década de 1990, momento da história em que ocorreu um aumento crescente na fundação de novas LA pelo Brasil. A LA mais antiga coletada nos dados foi a Liga de Combate à Hanseníase “Luiz Marino Bechelli”23, fundada em 1991.
Posto isso, é interessante notar a mudança nos fundamentos das LA: se, por um lado, a LA de Sífilis tinha por objetivo principal realizar atendimento público a uma epidemia na capital de seu estado de fundação, por outro, as LA que surgiram após a reestruturação do ensino nacional objetivam essencialmente se enquadrar no tripé ensino-pesquisa-extensão e realizar atividades que estivessem alinhadas com ele.
Já no contexto mais atual, ainda é cabível elencar um alinhamento da estruturação das LA com a Lei nº 3, de 20 de junho de 2014, que reitera que o graduando em Medicina deve receber uma formação humanista, crítica, reflexiva e ética11.
Tripé acadêmico: ensino, pesquisa e extensão
Em relação ao ensino, a introdução da prática hospitalar é datada de 1562 e marca o abandono da tradição de ensino exclusivamente oral isento de qualquer atividade ambulatorial87. Contudo, seria equivocado dizer que o modelo prático implementado no meio do século XVI foi mantido até a atualidade.
No ano de 1910, inicia-se um processo intensivo de reformas na educação médica por meio da Reforma Flexner. Essa reforma, encomendada a Abraham Flexner pela American Medical Association (AMA), introduziu uma série de mudanças no ensino médico dos Estados Unidos e do Canadá, propondo a obrigatoriedade de ensino laboratorial durante a graduação, expansão do ensino clínico (especialmente em hospitais), estímulo à pesquisa e sua vinculação ao ensino, entre tantos outros. Assim, embora nem todas as proposições tenham sido acatadas, os princípios que nortearam a Reforma Flexner também fundamentaram o modelo de ensino médico utilizado no Brasil87. Isso se reflete nas LA, uma vez que, em mais de metade dos relatos analisados, é reportada a disponibilidade de atividades práticas e acompanhamento ambulatorial.
Dando enfoque à pesquisa, é interessante notar que um dos principais objetivos de fundação das LA é a oportunidade de desenvolver projetos científicos. Essa procura não é incomum mediante a compulsoriedade da entrega de projetos de iniciação científica que o currículo acadêmico dos discentes da área da saúde requer. Nesse sentido, a feitura de projetos científicos pode acarretar diversos benefícios para seus redatores, posto que foi provado que a participação em pesquisa permite aos alunos adquirir habilidades em metodologia de pesquisa, avaliação crítica, estatística, gestão de tempo e trabalho em grupo, e, por isso, melhora o cuidado com os pacientes88)-(90.
No que tange à extensão, quando preconiza uma integração com a esfera social, torna-se indispensável a realização de projetos e atividades que atendam a população durante a graduação, espaço em que as LA desempenham um papel valioso. É por meio das LA que diversas campanhas de educação e atendimento gratuito são feitas todos os anos visando atender às demandas particulares de cada região e transformá-las45.
Fica evidente, por meio da análise da Figura 3, que não existe um padrão para a criação de LA77, no qual são catalogadas oito principais justificativas de fundação. Apesar dessa falta de alinhamento, as LA convergem em seus objetivos de fundação, ao passo que todas servem de complemento para a graduação77.
Outro quesito que as faz confluir é a supervisão de um docente responsável. De acordo com mais de 90% dos relatos analisados, as atividades da LA são supervisionadas por pelo menos um professor ou profissional graduado na área de atuação. Contudo, um contraste curioso ocorre quando o preceptor da LA não atua de forma presente na LA. Assim, embora a supervisão exista em teoria, ela não necessariamente ocorre na prática, podendo ocorrer de um residente ou algum médico recém-formado (ainda não especialista) exercer a responsabilidade do docente32.
Outrossim, as LA também se aproximam no que diz respeito ao financiamento, posto que ele quase não está presente na maioria delas. É notável que se devem avaliar a necessidade e os meios para que esse patrocínio ocorra. Contudo, esse lapso é intrigante. Embora a maior parte das LA mencione o propósito de viabilizar oportunidades de desenvolvimento de projetos científicos, como previamente citado, pouquíssimas referem buscar, por exemplo, uma bolsa no fundo de estímulo à pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
A afluência entre as LA também deveria ocorrer no que se refere ao estatuto e regimento. A Ablam dispõe no terceiro capítulo de suas diretrizes diversas regras para que haja o funcionamento apropriado das LA dentro da escola médica91. No entanto, em nenhum dos relatos de experiência supracitados, foram disponibilizadas informações referentes aos estatutos das LA, e tampouco se fez referência à existência destes.
Por fim, é válido ressaltar que, dentro da graduação em Medicina particularmente, é comum que as LA estejam associadas aos centros acadêmicos de suas respectivas universidades de fundação. Todavia, vale ratificar que essa padronização não é regra: segundo a Ablam, no parágrafo I de seu estatuto próprio13, a LA de Medicina é uma associação com ou sem registro em cartório civil.
Estudos quantitativos e elaboração do checklist
Considerando o total de artigos encontrados, pode-se considerar uma área carente de estudos avaliando o impacto - por meio de testes quantitativos - das LA no conhecimento dos acadêmicos. Uma vez que essas organizações se fazem presentes em diversas faculdades, recebendo por vezes incentivos institucionais, recursos financeiros, emprego de tempo por discentes e docentes, e buscando suprir eventuais déficits na grade tradicional1),(2, essa lacuna no conhecimento sobre LA pode ser considerada problemática. Desse modo, seria interessante que a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), em conjunto com a Ablam, capitaneasse um projeto de cadastro (censo) das LA de saúde no Brasil.
O desenvolvimento de ferramentas específicas33 para avaliação de LA, especialmente voltadas para o impacto delas nos estudantes, pode ser relevante para a replicabilidade dos estudos. Com base na análise realizada nesta revisão sistemática, elaboramos um checklist que visa nortear a escrita de relatos de experiência sobre LA em saúde, exposto no Quadro 2. A aplicação do checklist, associado ao uso de ferramentas dedicadas à temática, pode favorecer uma literatura de maior qualidade científica e com informações mais claras.
Título | Identifique o artigo como um relato de experiência e mencione a área de atuação da LA. |
---|---|
Resumo estruturado | Apresente um resumo estruturado incluindo, se aplicável: área de atuação e nome da LA, objetivos da fundação, participantes, abrangência, atividades realizadas, síntese dos métodos de fundação, método utilizado para avaliar o impacto da LA e/ou percepção dos participantes, comitê de ética, resultados das atividades, conclusões e implicações dos principais achados no trabalho. |
Palavras-chave | Identificar palavras-chave no sistema DeCS/MeSH que representem o artigo científico. |
Introdução | |
Contextualização | Apresente uma contextualização do movimento da educação brasileira, o surgimento das LA e seu impacto, relacione a LA no seu ambiente acadêmico e na comunidade. |
Justificativa (racional) | Descreva a justificativa do relato de experiência dentro do contexto proposto e conhecido, destacando os principais diferenciais da LA. |
Métodos | |
Tipo de método | Descreva, se aplicável, como foi feita a abordagem qualitativa/quantitativa dos resultados, apresentando a metodologia aplicada. |
Amostra | População envolvida no relato, uni/multicêntrico; ano do curso dos participantes do período da LA que foi relatado. |
Fonte de dados | Descrever qual a fonte dos relatos: se por meio dos participantes envolvidos, se avaliado qualitativamente, se avaliado quantitativamente, se a partir de documentos da liga, entre outros. |
Relato de experiência (resultados) | |
Perfil da LA | Ano de fundação, nome da LA, cursos envolvidos, alunos envolvidos (quantidade, período da graduação), associação a algum órgão regulatório (faculdade, centro acadêmico, associações, organizações, independente), área de atuação. |
Informação demográfica | Instituições (pública ou privada), estado e município de localização. |
Objetivo de fundação | Motivos pelo qual a LA foi fundada, descrição do passo a passo desde a idealização até a materialização, participantes envolvidos, o que a LA busca alcançar (lema). |
Ensino | Descrever como são realizadas as atividades teóricas e práticas. Teóricas: explicitar periodicidade dos encontros, qualidade (reunião, seminário, roda de conversa etc.), como são definidos os temas tratados (programação anual), quem ministra os encontros (aluno, docente, preceptor, convidados). Práticas: periodicidade, ambulatórios assistenciais, como se dá a participação do aluno, simulações e práticas supervisionados. |
Pesquisa | Apresentar se há realização de pesquisas acadêmicas, oportunidade de iniciação científica mediada pela LA, produção de relatos de caso, pesquisas clínicas, participação em congressos e áreas, organização de eventos científicos, discussão de casos clínicos e artigos científicos. |
Extensão | Discorrer sobre a realização de eventos voltados ao bem-estar da população, campanhas ou consultorias, elaboração de informativos (manuais, panfletos, sites), palestras e simpósios que possam abranger diversas áreas da saúde e população, além da graduação. |
Financiamento | Apresentar como a LA arrecada recursos financeiros para se sustentar, realizar suas atividades e distribuição conforme o tripé universitário. |
Supervisão docente | Relatar como se dá a supervisão das atividades da LA - presença ou não de docente, quantidade, qualidade, área de formação. |
Impacto | Descrever o impacto da LA conforme o tripé universitário, e, se possível, utilizando ferramentas validadas para quantificação dos dados, além de incluir detalhes suficientes para a replicação metodológica. Se aplicado algum questionário, descrever taxa de participação da pesquisa. |
Discussão | |
Discussão | Sintetize os principais resultados e os avalie de forma cautelosa conforme a importância para a temática, implicações para as LA, quais pontos convergem para literatura e quais divergem, como o artigo contribui para o avanço das organizações e a possibilidade de generalização dos achados. |
Limitações | Discuta limitações do estudo, possíveis fontes de viés e confundidores. Se possível, discuta como essas limitações podem ser superadas em novos estudos. |
Conclusão | |
Conclusão | Apresente uma interpretação geral dos resultados obtidos e sua correlação com a literatura disponível sobre a temática e possíveis implicações para futuras pesquisas. |
Outras informações | |
Conflito de interesse | Declarar qualquer conflito de interesse presente. Informar se os autores do relato foram ligantes ou diretores da LA. |
Disponibilidade dos dados, dos códigos e de outros materiais | Se possível, disponibilize na íntegra os bancos de dados utilizados (anonimizados), instrumentos de pesquisa, scripts e outputs de softwares estatísticos, ou mesmo o motivo pelo qual esses não foram disponibilizados. |
Financiamento da publicação | Descreva se houve financiamento governamental ou privado da publicação e, se necessário, como os recursos foram aplicados. |
Fonte: Elaborado pelos autores.
Limitações
Conforme apontado na seção “Método”, como não se obteve um descritor-padrão para as LA, o que representa uma limitação, há a possibilidade de muitos artigos não terem sido considerados nesta revisão. Como este estudo avaliou apenas artigos publicados em revistas indexadas na BVS e PubMed, muitos artigos publicados em revistas não indexadas não foram incluídos, além de trabalhos sobre LA apresentados em congressos, que poderiam ser obtidos via Google Scholar em novas revisões. Por fim, houve a descrição apenas de dados encontrados nos artigos publicados e não necessariamente de todas as LA, uma vez que informações nacionais não estão disponíveis.
CONCLUSÃO
O perfil das LA em saúde se alterou com o passar dos anos, chegando ao modelo atual pautado no tripé ensino, pesquisa e extensão. Ainda assim, as LA são heterogêneas no país, concentradas em algumas regiões, especialmente no Sudeste.
A literatura sobre a temática das LA em saúde ainda é carente de estudos que contribuam para a compreensão nacional desse fenômeno. A redação dos relatos de experiência é despadronizada, o que contribui para que o espaço deles nas publicações de alto impacto seja ainda menor. A partir do checklist elaborado nesta revisão sistemática, buscamos contribuir para a difusão da boa prática de escrita científica sobre LA nas revistas nacionais e ampliar as publicações sobre elas.
Novos estudos precisam ser desenvolvidos para que possam esclarecer as atividades em nível nacional e avaliar o impacto das LA para a academia e a sociedade.