El intelectual, ante todo y sobre todo, debe cumplir con su tarea: escribir, investigar, pensar, pintar, construir, enseñar. Ahora bien, la crítica es inseparable del quehacer intelectual.
En un momento o en otro, como don Quijote y Sancho con la Iglesia, el intelectual tropieza con el poder. Entonces el intelectual descubre que su verdadera misión política es la crítica del poder y de los poderosos. (Octavio Paz, p. 12)1
Nunca Octavio Paz foi tão necessário como nos tempos em que vivemos e produzimos, escrevendo, investigando, pensando, construindo, ensinando, em nosso quefazer intelectual — matéria pura do cotidiano. Junto a esta matéria, o exercício inseparável da crítica ao poder e aos poderosos que, mais do que nunca, exacerbam e demonstram o desprezo pelas gentes, pelas pessoas e suas identidades plurais que pesquisadores e pesquisadoras insistem em fazer emergir nessa sociedade duramente castigada na história pela mão do açoite que forjou o racismo estrutural, a negação do diferente, que impôs como castigo a masculinidade com regra sórdida e aniquiladora de corpos e mentes subjetivados em outros diapasões da vida e da cultura.
Como Quixotes, cumprimos nossa missão política de desvendar e desbravar territórios, defender causas e desvelar encobrimentos torpes que classificam, diluem e cegam as mais fortes hierarquizações doentias de uma sociedade que se pensa sã, mas em verdade nega a si mesma suas dores, suas fraquezas e monstruosidades, normalizando a barbárie de atos e de pensamentos que passaram a coexistir com a grandeza e a generosidade de tantos, com a solidariedade e a mão amiga que, estendida, faz re-existir a esperança que não é espera e que anuncia para dois terços que nem tudo está perdido, que há-de resistir.
E, no entanto, mesmo nas lutas fratricidas que assistimos o poder comandar, sem pena nem dó, oprimindo os tantos cidadãos que sobrevivem a uma pandemia que não tem fronteiras, há chance para a beleza, para a melodia, para a poesia, para a arte, a escrita, a estética que encanta a vida e acolhe vidas que param para vê-las e ouvi-las.
Lançar o quinto número de Teias nesse ano de 2020, reforçando a parceria com a Associação Brasileira de Currículo (ABdC), que coordenou a seção temática que este número apresenta, tem muito de ato heroico, tem muito de quixotesco da parte de muitos de nós aqui presentes em ideias, pensamentos, reflexões, resistências, poéticas de vida, filosofias e literariedade. Sem omitir a crítica que nos anima a assumir o papel de intelectuais, os artigos que dialogam nesse número tomaram, mesmo que de forma invisível, o poeta mato-grossense Manoel de Barros2 pela mão e com ele ressignificaram sua Didática da invenção que, em subtítulo, nomeia esse editorial, alinhando a potência dos versos à grandeza de sua poesia-raiz, que inspira e carreia a cada um de nós, educadoras e educadores, “[...] para apalpar as intimidades do mundo” e [...] “saber: a) que o esplendor da manhã não se abre com faca” [...] e que para isso precisaremos “Desaprender oito horas por dia”, pois só isto “[...] ensina os princípios”.