INTRODUÇÃO
O contexto migratório engloba a mobilidade de imigrantes legais, indocumentados e, até mesmo, refugiados (BARRETO; COUTINHO; RIBEIRO, 2009). De acordo com o Estatuto do Refugiado, que se deu na Convenção de Genebra de 1951 (Organização das Nações Unidas [ONU], 1951), definiu-se, inicialmente, que o termo refugiado se aplicava a pessoas que, em razão dos acontecimentos ocorridos antes de 1º de janeiro de 1951, estavam fora de seu país de origem, pois encontravam-se em situação de perseguição por motivo de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, e não podiam contar com a proteção do país de sua nacionalidade. (ONU, 1951). Os refugiados são obrigados a abandonar as suas vidas já construídas, executar saídas pouco planejadas, se adaptar a uma nova cultura, tecer novas redes de socialização e “desenvolver uma compreensão inexperiente do mercado de trabalho local” (CAMPION1, p. 14, 2018, tradução nossa).
Antes de serem refugiados, alguns tinham suas carreiras profissionais já consolidadas em seu país de origem, todavia, não alcançam reconhecimento profissional e institucional no país de acolhida. Essa situação pode levar a uma queda traumática das oportunidades de trabalho, da estabilidade financeira e, consequentemente, ter impacto nos significados do trabalho (CAMPION, 2018; WEHRLE et al, 2018; ZIKIC; RICHARDSON, 2016). Migrantes legais estabelecem planos e, muitas vezes, possuem recursos de apoio econômico e conhecimento da cultura do país de acolhida. De forma diversa refugiados movimentam-se geograficamente sem planos previamente construídos (EGGENHOFER-REHART et al, 2018) e são menos propensos a fornecer seus documentos originais, devido a sua saída não planejada (WILLOTT; STEVENSON, 2013). Por essas razões, observam-se iniciativas como a da Cátedra Sérgio Vieira de Melo [CSVM] (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados [ACNUR], 2020), que entre o período de 2019 e 2020 procurou garantir vagas de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras para refugiados. Tais ações valorizam as potencialidades dos refugiados e contribuem para o desenvolvimento profissional e educacional no país de acolhida. Nessa mesma direção, observa-se que a legislação brasileira, mediante a Portaria Normativa nº 22, de 13 de dezembro de 2016 (BRASIL, 2016), ampara os estrangeiros no reconhecimento dos seus diplomas de outros países com o auxílio da Plataforma Carolina Bori (CARDOZO, 2017).
Contudo, denota-se que apesar das dificuldades que imigrantes e refugiados encontram em relação ao direito à educação básica e ao ensino superior no Brasil, trabalhos acadêmicos sobre a escolarização desse público em território brasileiro ainda são escassos. Especificamente quanto ao ensino superior, embora seja possível verificar um recente aumento do acesso de estrangeiros a esse nível de ensino em instituições brasileiras, os procedimentos ainda são muito burocráticos e há poucas universidades que ofertam esse tipo de serviço (GIROTO; PAULA, 2020).
A despeito das dificuldades que imigrantes podem encontrar quanto à garantia dos seus direitos, o Brasil tornou-se, sobretudo a partir de 2010, um polo atrativo para outras nacionalidades da América Central e Caribe e da América do Sul, observando-se intensos fluxos de trabalhadores imigrantes (HALLAK NETO; SIMÕES 2021). De acordo com os registros administrativos de solicitações de residência e de reconhecimento da condição de refugiado realizados entre 2011 e 2020, aproximadamente 1,3 milhão de imigrantes estavam morando no Brasil (OLIVEIRA, 2021).
Estudos nacionais nos centros urbanos da região sudeste e sul (TEIXEIRA et al, 2021; COIMBRA; ORCHARD, 2020; IRIGARAY et al, 2020) investigaram a percepção dos refugiados sobre o processo e as principais dificuldades de acesso ao mercado de trabalho (TEIXEIRA et al, 2021; IRIGARAY et al, 2020) e o descompasso entre a formação profissional superior e sua atividade ocupacional exercida no Brasil (TEIXEIRA et al, 2021; COIMBRA; ORCHARD, 2020; IRIGARAY et al, 2020; BARROS, 2017). Nessa direção, refugiados com formação profissional estabelecida podem apresentar crises identitárias (MACKENZIE-DAVEY; JONES, 2019; ZIKIC; RICHARDSON, 2016; COLIC-PEISKER; FARIDA, 2006), sendo desafiados por barreiras estruturais no país de acolhida (BEECH, 2011) e pela exigência do cumprimento de critérios formais específicos, o que possui significativo impacto no desenvolvimento de suas carreiras psicossociais (RIBEIRO, 2014).
Não obstante a situação de refugiado apresente especificidades no que se refere às carreiras psicossociais, a transição dos modelos tradicionais de carreira, associados ao taylorismo-fordismo, para formas mais flexíveis, instáveis e muitas vezes precárias de trabalho, alcança o conjunto dos trabalhadores, imigrantes ou não. Desde as últimas décadas no século passado novas questõeschave emergiram no mundo do trabalho, como a necessidade de aprimoramento profissional constante e a falta de apoio institucional e segurança, obrigando as pessoas a reconstruir suas identidades com frequência (MALVEZZI, 1999). Desse modo, observou-se o surgimento de novos modelos de carreira, denominadas, por exemplo, de carreira protiana, carreira sem fronteira e carreira portifólio (BENDASSOLLI, 2009). Ademais, ao considerar a instabilidade e a flexibilidade das relações de trabalho na contemporaneidade, teorias tradicionais de carreira foram revistas e novas propostas surgiram, orientadas por diferentes perspectivas teóricas, tais como a teoria da construção da vida (SAVICKAS, 2002), a teoria da ação (YOUNG; DOMENE; VALACH, 2014), a teoria do caos (PRYOR; BRIGHT, 2003; FARIA; LOUREIRO, 2012) e a proposta psicossocial de carreira (RIBEIRO, 2014).
Nesse novo contexto de carreira, os desencontros entre a formação de origem e o trabalho efetivamente realizado aprofundam-se. Quanto ao ensino superior, a transição da universidade para o mercado de trabalho e o desenvolvimento de carreira de formandos brasileiros caracterizam-se frequentemente pela realização de trabalhos alternativos e pela desistência do exercício da profissão para a qual o indivíduo se formou (ALMEIDA; SOCI, 2017). Assim sendo, a necessidade de desenvolver atividades de trabalho distintas da formação superior de origem não se restringe à situação dos refugiados, todavia tal situação mereça atenção em virtude de suas singularidades.
A respeito das trajetórias de refugiados no Brasil, é necessário evidenciar que a formação superior pode se configurar como um elemento que beneficia o desenvolvimento de vida e carreira no país que os recebeu. Mesmo tendo em vista as dificuldades enfrentadas por imigrantes e refugiados que possuem ensino superior, uma formação especializada e competências profissionais mais avançadas - ainda que muitas vezes não reconhecidas ou validadas - podem apresentar-se como um fator de proteção e uma vantagem, em relação a trabalhadores que não as possuem. Nesse sentido, é importante considerar as diferentes situações de vida e modos de singularização de migrantes e refugiados por meio de suas distintas formações e atividades laborais, muitas vezes mediadas por redes de cooperação (SCHERER; GRISCI, 2022). Os países de origem, o sexo, a raça e a cor da pele também se relacionam com suas práticas sociais (IRIGARAY et al, 2021) e com suas oportunidades e dificuldades nos processos de inserção no mercado de trabalho e na sociedade brasileira (TEIXEIRA et al, 2021). Assim sendo, observa-se a relevância de estudos que considerem, quanto aos processos de inserção e permanência no mercado de trabalho, as situações desiguais enfrentadas por grupos específicos, como, por exemplo, por refugiados com diferentes níveis de escolarização (GIROTO; PAULA, 2020), pelas mulheres (O’BRIEN et al, 2000; POCINHO et al, 2010) e, especificamente, por mulheres refugiadas (CAMPION, 2018; NYABVUDZI; CHINYAMURINDI, 2019).
As barreiras estruturais presentes nos processos de busca de refúgio, dessa forma, não determinam inteiramente trajetórias de vida, pois estas são definidas como marcos sociológicos mais amplos e, assim, transcendem regulamentações específicas relativas à migração (WEIß, 2018). Outros marcadores sociodemográficos, tais como idade, gênero, etnia e situação socioeconômica combinam-se, de diferentes modos, nas trajetórias de vida. Ao refletir sobre as histórias de vida profissional dos refugiados, Magnano et al (2021) consideram que, no processo de enfrentamento de barreiras concretas, identidades mais positivas também podem ser construídas, transcendendo situações difíceis e orientadas para o futuro. Assim, o artigo objetiva compreender como duas refugiadas com ensino superior estão construindo suas carreiras psicossociais fora de suas áreas de formação profissional. Não obstante as experiências das participantes sejam únicas, elas expressam formas por meio das quais refugiados com ensino superior, reconstroem as suas carreiras psicossociais fora de seus países de origem.
A CARREIRA PSICOSSOCIAL E AS CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS
A carreira psicossocial destaca os projetos e trajetórias de vida de trabalho, evidenciando as narrativas que cada trabalhador produz (RIBEIRO, 2014). A trajetória aqui é narrada a partir de um testemunho de eventualidades que os indivíduos foram construindo em sua história de trabalho (GAETE; SOTO, 2012), promovendo a organização desses eventos em coconstrução com o mundo do trabalho (RIBEIRO, 2014). Já os projetos de vida de trabalho se constituem na “dupla dimensionalidade de planos de ação e construções identitárias” (RIBEIRO, 2014, p.124), ou seja, por meio dos acontecimentos passados (construções identitárias) e planos para o futuro. Por sua vez, o fenômeno migratório também é caracterizado como um trânsito ou movimento no tempo e no espaço. Para compreender que a identidade aqui não é estagnada, Dantas et al (2010) destacam que a expansão do self ocorre a partir da maneira que a pessoa conta e reconta a sua própria individualidade em relação às práticas sociais. O self não é simplesmente um acervo da experiência migratória, mas uma expressão que por meio da linguagem e da narração amplia as possibilidades de ser em encontro com outra cultura (DANTAS et al, 2010).
No que se refere especificamente às construções identitárias de trabalho, estas são compostas pelas identidades vocacionais, profissionais, ocupacionais, organizacionais e de carreira. Em síntese, “a ideia de vocação seria a base psicossocial mais relacionada ao ser; a profissão e a ocupação, ao fazer; a organização, ao espaço de trabalho; e a carreira, à trajetória de trabalho” (RIBEIRO, 2014, p. 119). A identidade de trabalho é um conceito abrangente (STECHER, 2020), um movimento contínuo por meio do qual a pessoa se constrói pelo seu trabalho e constrói o seu trabalho, o espaço e o mundo do trabalho. Refere-se a um processo relacional no qual o indivíduo consegue se identificar e se diferenciar de outros trabalhadores (RIBEIRO, 2014). Associadas às diferentes dimensões da identidade de trabalho, foram identificadas, por Ribeiro (2014), quatro produções discursivas de carreira presentes nos estudos sobre o tema, que se encontram sintetizadas na Tabela 1.
Produções discursivas | Bases psicossociais de apoio | Projetos de vida de trabalho | Trajetórias de vida de trabalho | Localização no Continuum Psicossocial |
---|---|---|---|---|
Nostalgia |
Organizações de trabalho (empresas e instituições) e sistema de empregos | Projetos e identidades organizacionais | Carreiras Organizacionais | Foco no extremo tradicional |
Fechamento | Profissões, ocupações, Grupos profissionais, Associações de classes e sindicatos |
Projetos e identidades profissionais e/ou ocupacionais |
Carreiras Profissionais | Foco no extremo tradicional |
Possibilidade | Redes Sociais | Projetos e identidades de rede | Carreiras flexíveis | Foco no extremo flexível |
Instrumentalidade | Sem base | Projetos dispersos e descontínuos e desidentidade | Não-Carreira (careerless) | Fora do continuum psicossocial |
Fonte: Ribeiro (2014, p. 158)
A principal característica que define o discurso “nostalgia” é o vínculo e a dependência dos trabalhadores em relação às organizações na qual trabalham, que se apresentam como referências centrais nos processos de carreira e de construção identitária. O sentido da palavra “nostalgia” remete-se a um sistema de emprego reconhecido que deve garantir estabilidade, permanência e segurança. O comprometimento com a organização e a identidade organizacional são marcas desse discurso, que se caracteriza como tradicional, por sua associação com as relações de trabalho e modelos de carreira predominantes até a década de 1970. O discurso “fechamento”, também tradicional, associa-se a processos de carreira que buscam referências em órgãos autárquicos profissionais que protegem a relação pessoa-trabalho, como associações de classe, conselhos profissionais ou sindicados. O comprometimento com determinada profissão e a identidade profissional associam-se a esse discurso (RIBEIRO, 2013; 2014).
Quanto aos outros dois discursos, “possibilidade” e “instrumentalidade”, esses reportamse a processos de carreira relacionados às mudanças contemporâneas do mundo do trabalho. O primeiro, sem desconsiderar as possíveis vantagens do emprego estável em uma organização, focase, entretanto, na necessidade de flexibilidade para a adaptação às mudanças constantes, sendo a carreira construída com base nas redes sociais e nos interesses, valores e projetos pessoais, que sustentam a identidade de trabalho. Aproxima-se, desse modo, da ideia do empreendedorismo e de um sentido de identidade vocacional, que se reporta a motivações psicológicas. O discurso “instrumentalidade”, por sua vez, caracteriza-se por projetos de vida e trabalho dispersos e descontínuos e pela ausência de vinculações institucionais ou profissionais estáveis. Assim sendo, remete-se à constante adaptação ao mundo do trabalho de forma difusa, em contextos de trabalho precarizado, com pouco reconhecimento e autonomia (RIBEIRO, 2013; 2014). Os quatro discursos de carreira combinam-se, de diferentes formas, nas narrativas singulares dos trabalhadores e, assim, contribuem para uma melhor compreensão dos processos psicossociais de construção identitária.
LaPointe (2010) pontua que para situar as carreiras em contextos históricos e socioculturais, o foco nos discursos e nas narrativas sociais ajuda a compreender como as identidades podem ser pensadas e, consequentemente, construídas. Sendo assim, considerando os processos de construção identitária de refugiados com ensino superior acolhidos no Brasil, que não conseguem atender aos requisitos necessários para restabelecer seu antigo status profissional, buscou-se observar como suas narrativas articulam-se aos diferentes discursos de carreira apresentados.
METODOLOGIA
O método da presente pesquisa é qualitativo e descritivo (GIL, 2008; CAJUEIRO, 2013), de corte transversal. Pretende-se analisar o fenômeno estudado, a saber, a carreira psicossocial das participantes, oferecendo subsídios para a caracterização de refugiados com ensino superior e para o aprimoramento de compreensões teóricas sobre o tema. O método baseia-se na análise narrativa (BAUER; GASKELL, 2015) e a investigação foi delineada como o estudo dos casos de duas refugiadas acolhidas no Brasil. Sendo um tipo de método que proporciona o detalhamento da realidade social do fenômeno estudado, procura responder questões “como” e “por quê” de uma pessoa (GODOY, 1995). A seleção das participantes dessa pesquisa foi intencional e atendeu aos seguintes critérios de inclusão: ser refugiado (ACNUR, 2021), possuir formação superior, residir há mais de um ano no Brasil, compreender o idioma local e não estar atuando na sua área de formação.
Após a aprovação do Comitê de Ética (CAEE 49987821.8.0000.0121), iniciou-se a prospecção dos possíveis participantes em uma determinada ONG, localizada na cidade de São Paulo, que promove a inserção laboral de refugiados. Como no período de coleta a instituição estava respeitando as medidas de biossegurança do Estado, em razão da pandemia (Covid-19), não foi possível uma participação ativa na rotina institucional. Diante disso, a seleção ocorreu com base em um levantamento inicial dos possíveis participantes por parte da ONG, devido à impossibilidade de acesso direto dos pesquisadores aos dados pessoais dos refugiados, considerando a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados). Dessa forma, migrantes que estavam de acordo com os critérios de inclusão foram convidados por responsáveis da ONG a participar da pesquisa e, em caso de interesse inicial, a instituição repassava os contatos aos pesquisadores. Assim, foi possível realizar, por chamada de vídeo ou telefone, uma conversa inicial sobre os objetivos da pesquisa, para verificar se teriam interesse em contribuir com o estudo. Desse modo, Verônica e Isabel (nomes fictícios) aceitaram o convite e se encontram caracterizadas na Tabela 2. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), as entrevistas foram realizadas presencialmente em locais escolhidos pelas participantes, próximos as suas residências.
Sociodemográfico | Verônica | Isabel |
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Idade, estado civil e país | 42 anos, solteira e Venezuela; | 63 anos, viúva, afro-cubana |
Escolaridade e tempo total de trabalho no país de origem | Superior em Administração e Direito com 21 anos de trabalho | Superior em História e mestrado em Antropologia com 32 anos de trabalho |
Processo migratório | Migrou sozinha para Roraima em 2018 e mudou para São Paulo dois meses depois. | Migrou sozinha para São Paulo entre 2013/2014 |
Modalidade de trabalho | Empregada | Autônoma |
Ocupação atual | Assistente Administrativo | Escritora, pesquisadora e professora de Espanhol |
Fonte: elaboração dos autores, 2022.
Para a coleta de dados foram utilizados um questionário sociodemográfico e a técnica de entrevista narrativa. As entrevistas foram realizadas presencialmente, em português, e gravadas, tendo como temas centrais as experiências de trabalho das refugiadas e seus projetos de vida e de trabalho. Para tratar dos temas indicados foi utilizada a seguinte pergunta instigadora: “conte-me seu histórico de formação e trabalho, desde o seu país até agora no Brasil, e seus projetos para o futuro”. As entrevistas abrangeram quatro áreas principais: (I) trajetória de formação e trabalho nos países de origem; (II) transição de carreira; (III) experiência de contexto social e práticas de trabalho atual; (IV) planos de carreira futuros e construções identitárias (RIBEIRO, 2014).
As informações obtidas foram examinadas por meio da proposta de análise narrativa de Schütze (JOVCHELOVITCH E BAUER, 2017), que é composta por seis etapas: descrição detalhada da entrevista; divisão do material em indexado e não indexado; ordenação dos componentes da trajetória; investigação dos componentes não indexados que refletem os valores, opiniões e teorias gerais do informante; agrupamento e separação das trajetórias individuais; comparação dos casos e estabelecimento de semelhanças existentes para identificação de trajetórias coletivas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os testemunhos de Verônica e Isabel sobre suas “vidas de trabalho” são analisados tendo a carreira psicossocial (RIBEIRO, 2014) como quadro de referência. Nessa perspectiva, a vida de trabalho das participantes inclui a trajetória e o projeto de vida de trabalho desde o país de origem, o processo de trânsito e de restabelecimento no pós-chegada. A recolocação laboral, as transições de carreira, as atuais práticas cotidianas de trabalho e as construções identitárias são destacadas. A singularidade das experiências de Isabel e Verônica refletem modos de reconstrução de vidas de refugiados, suas aspirações com base no passado, nas vivências do presente e em suas visões do futuro.
Isabel: de historiadora, jornalista e pesquisadora a faxineira e professora de espanhol
Isabel, no momento da entrevista, estava com um pouco mais de 60 anos e chegou ao Brasil, na cidade de São Paulo, há aproximadamente oito anos, por motivo de perseguição política em seu país de origem. Historiadora com mestrado em antropologia, recorda-se que o procedimento inicial de asilo se configurou como uma fase longa e difícil, como pontua: “[...] tive que aguardar por muito tempo para finalmente ser entrevistada pelo Conare [Comitê Nacional para os Refugiados]. Tive, também, que passar pela tortura de ser entrevistada muitas vezes. Constantemente mexem com suas feridas, aprofundam bem na ferida.” A espera de uma licença, que pode durar meses ou anos, não só tem um impacto negativo na busca por emprego, mas também em possíveis projetos educativos.
Hoje Isabel possui sua licença e usa o seu tempo para trabalhar como professora de espanhol, reconhecendo as barreiras, conforme sua fala: “uma grande parte de nós [refugiados] somos pessoas que já são formadas, e bem formadas, com um histórico valorizado de trabalho nos nossos países, antes de chegar no Brasil”. A experiência de esperar e permanecer profissionalmente intrêmula, todavia sem trabalhar na sua área de formação, fez com que a afro-cubana se sentisse existencialmente bloqueada e acarretou a necessidade de reestruturar seu projeto de vida como autônoma após anos investidos na sua carreira, pois sua formação profissional não foi reconhecida no Brasil: “E, como eu sei quem eu sou, sei que eu posso fazer faxina, fazer qualquer coisa. Mas, ser jornalista e pesquisadora, nunca vou deixar de ser. Eu continuei pesquisando por minha conta e ninguém, nunca, no Brasil, me pagou para pesquisar” (Isabel). Ressalta-se, dessa forma, na fala de Isabel, um significativo sentido de identidade profissional que lhe fornece referência para lidar com as dificuldades relatadas, no contexto de um discurso de carreira “fechamento”.
Em relação ao futuro, Isabel evidencia dificuldades adicionais associadas à frequente imagem negativa do refugiado, como aponta: “assassinou alguém ou vem aqui para roubar o nosso trabalho”. Sobre suas aspirações profissionais, relata que não possui expectativas de desenvolvimento de carreira no Brasil: “ninguém pode evitar que eu continue escrevendo e sendo pesquisadora, mas eu não tenho expectativas nenhuma de poder me inserir em um centro de pesquisa [no Brasil]. Então, eu sei que alguma vez eu vou ao meu país e é isso. São os únicos planos que posso pensar”. No momento, Isabel deseja “reconstruir” sua vida no Brasil como professora de espanhol, para garantir sua sobrevivência. Seu projeto de vida e trabalho reforça seu senso de identidade profissional e, assim, o desejo de voltar ao seu país de origem em razão de sua percepção sobre as dificuldades associadas à inserção qualificada no mercado de trabalho no Brasil. Ademais, sustentada por suas competências laborais, a narrativa de Isabel também aproxima-se do discurso “possibilidade”, na medida em que ela se apresenta capaz de lidar com um cenário flexível e instável e, ainda assim, construir projetos baseados em valores pessoais (identidade vocacional), mesmo que um pouco vagos. De forma contraditória, alguns trechos de sua fala também parecem se remeter a elementos do discurso de carreira “instrumentalidade”, quando afirma, por exemplo, não possuir projetos para o futuro e desejar viver apenas o presente.
Verônica: de futura juíza a assistente administrativa em uma escola particular
Verônica, quando foi entrevistada, tinha 42 anos e chegou ao Brasil há cerca de três anos. Foi acolhida inicialmente na Região Norte e lá residiu por três meses até chegar a São Paulo.
Formada no ensino superior em Direito e Administração, antes de deixar seu país havia realizado um concurso para juíza, sendo aprovada em todas as etapas. Devido à crise política e econômica em seu país de origem, migrou para o Brasil, segundo ela, sem saber o que iria acontecer.
Mesmo não tendo a possibilidade de exercer de forma plena sua profissão no Brasil, Verônica inicialmente buscou ocupar cargos administrativos de menor complexidade como pontes para empregos mais qualificados, o que possibilitou o restabelecimento de suas identidades profissional e organizacional, associadas aos discursos tradicionais de carreira (“nostalgia” e “fechamento”). Indica, nessa direção, que o dono de um restaurante no qual trabalhou no início da pandemia gostaria, inclusive, que ela ficasse, mas não aceitou, pois pretendia exercer uma atividade mais consistente com seu perfil profissional. Atualmente atua, com vínculo empregatício, como assistente administrativa em uma escola particular em São Paulo. Após uma rápida progressão nessa escola, se identifica como uma profissional em evolução, com sentimentos de segurança e orgulho por conseguir restabelecer as referências de vida de trabalho que construiu em seu país de origem. Em suas palavras: “nessa nova oportunidade que me deram de crescer em um ano dentro de uma empresa, nunca senti orgulho assim de mim mesma. Me senti mais segura e sou uma profissional que cresce cada dia mais, que evolui”. Evidencia-se, assim, em sua narrativa, elementos centrais do discurso de carreira “nostalgia” e a valorização de um sentido de identidade organizacional, apoiado pela percepção de oportunidades de desenvolvimento de carreira dentro da organização.
Quanto ao futuro, Verônica destaca o que irá fazer em “um, dois ou três anos”. Ou seja, a importância do planejamento da sua vida, sobretudo por ter a responsabilidade de contribuir financeiramente com seus dependentes que estão na Venezuela. Nesse sentido, evidencia seu desejo de reencontrar seus dois filhos e os trazer para São Paulo, como relata: “uma vez eles aqui, começo com a segunda parte que sou eu. Em que sentido? Da carreira”. Esse plano, previsto para 2020, foi interrompido em razão do fechamento das fronteiras devido à pandemia da Covid-19. Verônica mencionou, ainda, não ter certeza do que vai fazer no futuro, todavia, ressaltou seu interesse em revalidar seu diploma na área jurídica ou realizar um curso profissionalizante em gestão financeira para lhe dar “mais forças na parte administrativa”, como disse. A opção de revalidar seu diploma na área do direito associa-se ao desejo de ajudar um grupo de venezuelanos refugiados da região onde mora. Seu projeto de vida e trabalho, passando pelo interesse em revalidar o diploma (área do Direito) ou fazer um curso relacionado à área da Administração, evidencia um sentido de identidade profissional que se manteve ao longo da trajetória de Verônica, legitimado pelo discurso de carreira “fechamento”. Todavia, assim como Isabel, ao ter recursos pessoais e competências técnicas para enfrentar os desafios e os riscos de reconstruir uma carreira em um novo país, Verônica demonstra uma coerência entre seus valores e seus projetos pessoais de vida e trabalho, o que tende, assim, ao discurso “possibilidade” e à identidade vocacional.
Construções identitárias de trabalho de Isabel e Verônica
Isabel e Verônica são particularmente confrontadas com a dificuldade de seguir a representação de carreiras tradicionalmente mais lineares (BENDASSOLLI, 2009), de dar continuação à vida profissional e ao percurso educativo mais estável que possuíam antes da migração. As duas refugiadas relatam uma sensação de perda de controle sobre a vida ao chegarem no Brasil e, muitas vezes, se queixam de ter que “começar do zero” após anos de educação e vida profissional.
Nesses processos de transição de vida, as narrativas podem expressar questões sobre como conseguiram vivenciar tais mudanças e como as situações se transformam à medida que se movem (McADAMS, 2001). Verônica gostaria de reconstruir seu projeto de vida morando na Região Norte do Brasil, para estar mais próxima da fronteira e, consequentemente, da sua família. Todavia, com a acolhida que teve de instituições que atendem refugiados e migrantes, se restabeleceu, de fato, na cidade de São Paulo. Isabel, por sua vez, relata que seu projeto, inicialmente, não era ficar em condição de refúgio, mas sim vir para o Brasil como convidada de uma ONG para exercer atividades profissionais, ficar aproximadamente um ano e voltar para seu país de origem. Contudo, tomou a decisão de solicitar o refúgio pois, segundo ela, sua situação era muito complicada e envolvia também risco para sua família. Assim sendo, as narrativas da vida de trabalho de Isabel e Verônica demonstram, com base na concepção da carreira psicossocial, que suas construções identitárias refletem processos relacionais que se desenvolvem entre o “eu” e os “outros” (DUBAR, 1998; RIBEIRO, 2014).
Os projetos de vida e trabalho de Verônica, como parte de sua construção identitária, são marcados pela mediação que sua atual atividade na escola representa em relação ao seu desejo de dar continuidade, futuramente, a sua carreira na área do direito, interrompida em razão de sua migração. Percebe-se o contraste entre a identidade passada de Verônica e sua reconstrução no processo de transição. Verônica evidencia, em sua narrativa, tanto a perda do estatuto profissional, como de um sentido de identidade coerente e de autoestima. Contudo, um fator acentuado ao longo da entrevista é a importância que ela atribui ao seu “gosto de estudar'', que se encontra associado, como elemento fundamental, a sua trajetória de vida de trabalho.
No que se refere aos discursos de carreira apresentados por Ribeiro (2014), observa-se que os sentidos atribuídos por Verônica a sua carreira aproximam-se do discurso “fechamento”, tendo em vista seu esforço em preservar sua identidade profissional, com referência a sua formação no país de origem. Denota-se, ainda, em sua narrativa, a expressão do discurso de carreira “nostalgia”, uma vez que Verônica valoriza a estabilidade e o pertencimento a sua organização atual no Brasil, sobretudo em razão do alinhamento desta com seus valores pessoais. Por outro lado, no polo mais flexível dos discursos de carreira, Verônica apresenta elementos do discurso “possibilidade”, na medida em que precisou, com a migração, traçar novos projetos de vida e trabalho, mais pessoais e arriscados.
Em relação a Isabel, a experiência da migração forçada expressa-se em três discursos de carreira distintos (RIBEIRO, 2014), a saber, “fechamento”, “possibilidade” e “instrumentalidade”. Nota-se como a importância que ela atribui as suas competências e habilidades como pesquisadora e a sua ocupação como jornalista no país de origem denota sua identidade profissional, aproximando sua narrativa do discurso “fechamento”. No entanto, o caráter mais individualizado que ela associa a sua carreira de pesquisadora e autora independente também a aproxima do discurso “possibilidade”, como é possível observar no seguinte trecho: “continuar sendo pesquisadora que eu sou e eu preciso disso, como preciso de escrever”.
O sentido de preservação do compromisso ético-político com suas atividades ocupacionais e profissionais, desde o país de origem, também é uma marca da identidade de trabalho de Isabel. Após a migração, foi cofundadora de um projeto para mulheres imigrantes e refugiados afro. Interessa-se, ainda, por conhecer as questões das mulheres negras na sociedade brasileira. Contudo, o trabalho atual de Isabel como professora de espanhol, bem como as outras ocupações que precisou desenvolver no Brasil para se manter financeiramente, aparecem em sua narrativa como projetos temporários e, de certa forma, precários e inseguros, ainda que constituam planos para seu objetivo principal, que é retornar ao seu país. Nessa direção, observam-se características do discurso de carreira “instrumentalidade” (RIBEIRO, 2014). Em alguns fragmentos da sua narrativa identifica-se, inclusive, a vontade de viver intensamente apenas o momento atual, sem planos ou projetos para o futuro, como relata quando questionada sobre o que seria carreira: “[...] se você tinha algumas expectativas, elas vão ser mortas, pior ainda, elas vão ser assassinadas”. Segundo Ribeiro (2014), o discurso da carreira “instrumentalidade” se situa fora do continuum de construção de vida de trabalho, pois tem como característica uma evitação na tarefa de construção do projeto de vida.
No que se refere às construções identitárias de trabalho (RIBEIRO, 2014), percebe-se que ambas as refugiadas têm em comum identidades vocacionais salientes, uma vez que Isabel e Verônica buscam trabalhar com o que se identificam, com o que “as chama”. Como projetos, elas não pretendem trabalhar em outras áreas de formação profissional, mas apenas nas áreas de formação educacional já estabelecidas em seus países de origem, o que demonstra também um sentido de identidade profissional. Verônica, por exemplo, tem planos de revalidar seu diploma na área do Direito, embora pareça não possuir conhecimentos mais precisos sobre as exigências vinculadas ao processo de revalidação; Isabel, por sua vez, pretende voltar a seu país para continuar exercendo sua profissão de origem e lançar livros sobre seus temas de estudo.
Embora as duas refugiadas venham de contextos diferentes, ainda que o motivo da saída do país por políticas repressivas seja semelhante, ambas exercem ocupações fora de suas formações profissionais e compartilham o sentimento de pertencimento a um grupo da sua comunidade local, o que evidencia a importância das redes de cooperação para pessoas em situação de migração/refúgio (SCHERER; GRISCI, 2022). Verônica afirma que se sente bem por estar com os imigrantes, pela empatia que observa entre os membros desse grupo, mesmo que não estejam em seus lares. Observa-se, desse modo, o caráter psicossocial, processual e dialético das construções identitárias, que se encontram sempre em movimento e, muitas vezes, apresentam elementos contraditórios. De acordo com Isabel, quando começou a trabalhar como professora, em 2015, essa experiência trouxe “uma troca rica” com as chamadas “aulas culturais”. Blustein (2011) destaca a questão do cultural como fator relacional. Nessa direção, a carreira dos refugiados, quando se encontram em um lugar novo, com diferentes costumes culturais, vai sendo construída por meio das conexões sociais estabelecidas no novo país, favorecendo sentimentos de conectividade (MASSENGALE et al, 2020).
Isabel, quando chegou no Brasil, começou a trabalhar inicialmente com outros imigrantes, todavia, posteriormente, indicou que sua relação com seus alunos brasileiros se tornou cada vez mais intensa. De outro modo, Verônica relatou, no momento da entrevista, que em seu contexto de trabalho atual ainda prefere se conectar com as crianças descendentes de imigrantes e da língua espanhola:
alguns deles falam em espanhol porque, também, são do México, Argentina e Espanha. Então, é muito bom para eles e para mim. [...] Me sinto bem porque eles entendem e eu entendo muito do que eles sentem e os pais também, porque eles são imigrantes, então você sente a empatia que gera.
As redes de relacionamento e de trabalho das duas refugiadas são constituídas por alguns brasileiros e migrantes de diversas nacionalidades. Dessa forma, procuram construir seus projetos de vida e de trabalho sem abandonar seus lugares de origem, suas referências identitárias e, ao mesmo tempo, incorporam elementos da cultura do país que as recebeu, como destacam em suas falas: “tinha que aprender outros códigos culturais e tentar ir aos poucos entendendo... reconhecendo. Entendendo o imaginário absolutamente diferenciado. Entender outras maneiras de ser afro” (Isabel); “ser advogada aqui e estudar as regras do Brasil, a lei do Brasil. E muitos dos meus paisanos pedem apoio para mim e é por isso, porque quem estudou do grupo nessa área, porque é... é o que eu sou” (Verônica).
Luimpock (2019) diz que os trabalhadores refugiados possuem uma restruturação identitária para tornar visível a dinâmica da vida profissional e o redirecionamento de suas carreiras. Mesmo não estando vinculadas a instituições que regulamentam as atividades profissionais no Brasil, em razão de impedimentos legais, as trabalhadoras investigadas procuram proteção social em comunidades definidas pelo ofício de ser mulher e migrante, compartilhando planos com esses grupos após o rompimento gerado pela migração. Possuindo educação superior e trajetórias profissionais em seus países de origem, podem trabalhar, temporariamente, em outro setor ou em empregos instáveis, contudo, continuam procurando dar um sentido coerente para suas carreiras. Assim sendo, buscam valorizar suas competências e capacidades por meio das relações sociais que estabelecem no país que as recebeu.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A migração forçada é um caso em que as temporalidades do trabalho podem ser interrompidas e não facilmente reconstituídas. O processo de transição de vida dos migrantes é marcado por obstáculos estruturais após a reinstalação, relacionados à busca de garantias do status legal e a questões linguísticas. Evidenciam-se, ainda, fatores psicossociais e econômicos associados aos desafios e barreiras presentes no processo de reconstrução identitária após a reinstalação.
As refugiadas pesquisadas, de forma específica, apresentaram realidades, possibilidades e necessidades diferentes, visto que vieram de condições sociais, econômicas e históricas diversas. Todavia, compartilham a condição de formadas no ensino superior, o que contribuiu, significativamente, para seus processos de construção identitária no mundo do trabalho, sobretudo no que se refere à identidade profissional. O fato de estar em um novo lugar social como refúgio, com a posse de um documento que comprove essa situação, favorece o enfrentamento das incertezas e o início da reconstrução de seus projetos de vida e de trabalho. As narrativas das investigadas evidenciaram que suas carreiras, em uma perspectiva psicossocial, encontram-se associadas ao restabelecimento de suas construções identitárias de trabalho no país que as acolheu e, ao mesmo tempo, ao não desenraizamento dos seus costumes culturais. Em relação aos discursos de carreira (RIBEIRO, 2014) aos quais suas narrativas se remetem, foram identificados, além do discurso de carreira “fechamento”, vinculado à identidade profissional, os discursos de carreira “nostalgia”, “possibilidade” e “instrumentalidade”, sendo os dois últimos expressões do mundo do trabalho contemporâneo, mais flexível, instável e inseguro.
Tendo em vista a complexidade que envolve as investigações que associam os temas trabalho, carreira e migração, como principal limite da presente pesquisa apresenta-se o fato de se tratar do estudo de dois casos específicos - que não obstante possibilite um exame mais profundo, não permite a compreensão de processos mais ampliados a respeito do fenômeno investigado. Nessa direção, novos estudos com um número elevado de participantes e diferentes métodos de investigação, que considerem de forma específica a relação de determinados marcadores sociodemográficos com os processos de construção identitária de imigrantes, podem contribuir com a agenda de pesquisa que envolve refugiados com ensino superior. Acrescenta-se que estudos da interseccionalidade podem proporcionar significativas contribuições para a compreensão dos processos de reconstrução identitária (COLLINS; BILGE, 2021). Os trâmites formais para a revalidação de diplomas no Brasil também merecem especial atenção em futuros estudos com essa população.