INTRODUÇÃO
No esporte, a busca por destaque e melhores resultados é comum e constante, e tal excelência se relaciona diretamente com o bom desempenho dos jogadores, tanto amadores quanto profissionais (SAMULSKI, 2009). Pesquisas têm demonstrado o quanto atletas e treinadores têm buscado uma preparação eficiente, que transpassa o preparo apenas físico e técnico, indo na direção da preparação psicológica, por meio de técnicas de administração do controle emocional, mais especificamente o estado de humor (BRANDT et al., 2011; COSTA et al., 2017; LIRA et al., 2017; OLIVEIRA; FOGAGNOLI; VIEIRA, 2015).
Segundo Weinberg & Gould (2017) o humor pode ser definido como um estado de ativação emocional ou afetiva, de duração variada e inconstante intensidade. Os autores apontam que o humor reflete os estados emocionais, corporais e comportamentais do indivíduo, assim como os seus sentimentos, pensamentos e entusiasmo durante a realização de uma dada tarefa. Logo, ao se tratar de desempenho esportivo, é necessário considerar não apenas a performance atlética, mas também, influências de características psicológicas e das emoções nas habilidades motoras (MACHADO, 2006).
Todavia, baseado no exposto, pode-se tecer que as alterações dos estados de humor podem comprometer o desempenho do atleta em seu contexto, pois são sensíveis às experiências do indivíduo e ocorrem de acordo com as circunstâncias percebidas no meio externo (BRANDT et al., 2014a). A forma com que o atleta percebe o que está a sua volta é influenciado pelo seu estado de humor, fazendo com que aumente ou diminua o impacto desses acontecimentos e também afete a sua reação (BARRETO, 2017; OLIVEIRA; FOGAGNOLI; VIEIRA, 2015).
Em um contexto de competição, o atleta pode encontrar-se sob um estado de estresse psíquico e, assim, os estados de humor podem demonstrar alteração, muito influenciado por alguns fatores como: a presença da torcida, o tipo de modalidade esportiva (coletiva ou individual), a modalidade ter ou não contato físico com o adversário, o gênero do atleta, a faixa etária etc. (BRANDT et al., 2014b; NUNES et al., 2014; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014). Assim, o atleta que estiver psiquicamente mal preparado, pode apresentar um estado emocional que afete negativamente o seu desempenho, podendo produzir e/ou influenciar reações motoras e emocionais (BUENO; DI BONIFÁCIO, 2007).
Dessa forma, a compreensão e análise dos estados de humor passam a ser uma ferramenta útil para predizer a chance de sucesso durante uma competição, o que abre a possibilidade de intervir de maneira mais assertiva (BARRETO, 2017). Diante disso, evidencia-se a premissa de que o bom preparo físico e técnico não são suficientes para que o atleta tenha resultados de excelência quanto ao seu rendimento (SAMULSKI, 2009), devendo-se compreender o contexto esportivo, também, sob a perspectiva de componentes psicológicos (MACHADO, 2006), sendo estes, fatores importantes e essenciais na prática esportiva.
Entretanto, para investigar os estados de humor, alguns instrumentos foram desenvolvidos (MCNAIR; LORR; DROPPLEMAN, 1971; TERRY, 1995; TERRY et al., 1999). No Brasil, o instrumento mais utilizado é a Escala de humor de Brunel (BRUMS) (TERRY et al., 1999). Cabe destacar que o uso frequente deste instrumento está relacionado ao fato de ter sido traduzido e validado para o Brasil (ROHLFS et al., 2008). Como exemplo do uso deste instrumento, com atletas brasileiros, vale destacar os estudos com atletas de Futsal (WERNECK et al., 2015), atletas de tiro (NEVES et al., 2016), atletas de beach soccer (ESCOBAR; LACERDA, 2010) e com atletas de diversas outras modalidades (BRANDT et al., 2014a, 2014b; FORTES et al., 2017; LIRA et al., 2017; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014). Esses estudos demonstram-se relevantes por serem recentes e por abordarem a importância deste instrumento para a avaliação de atletas.
Porém, desses estudos, apenas um trabalho (BRANDT et al., 2014a) foi conduzido com atletas de jogos regionais, demonstrando a necessidade de mais estudos sobre a temática junto a atletas de jogos regionais, justificando o presente estudo. Cabe tecer que os jogos regionais apresentam uma característica peculiar, pois muitos atletas atuam em clubes de diferentes partes do país e, apenas durante os jogos regionais, reúnem-se para defender uma cidade/equipe específica.
Dessa forma, pode-se especular que essa “convocação” para defender uma cidade/equipe, por um período curto de tempo, pode ser um fator estressante para esses atletas, influenciando seus estados de humor. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi investigar os estados de humor de atletas de esportes coletivos, das equipes da cidade de Itatiba/SP, participantes dos jogos regionais de 2018 que ocorreram na cidade de Santa Bárbara d’Oeste/SP.
MATERIAIS E MÉTODO
Participantes
Para a realização deste estudo, participaram de forma voluntária 34 atletas, de ambos os sexos (23 homens e 11 mulheres), com idades de 15 a 29 anos (M=20,41 e DP=4,00) (Tabela 1). Os participantes eram atletas de 3 equipes: Voleibol Masculino (12 participantes); Voleibol Feminino (11 participantes); Basquetebol Masculino (11 participantes). Todos os atletas participaram dos jogos regionais de 2018 na cidade de Santa Bárbara d’Oeste/SP e defenderam a cidade de Itatiba/SP.
Todos os participantes preencheram e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e, no caso de atletas menores de idade, além do TCLE (preenchido e assinado pelos seus responsáveis, maiores de idade), os participantes preencheram o termo de assentimento.
Instrumento
Foram utilizados dois instrumentos: a) Questionário Sociodemográfico e; b) Escala de Humor de Brunel - BRUMS. O questionário sociodemográfico foi elaborado especificamente para o estudo, com questões relacionadas a perfil pessoal, escolaridade e modalidade esportiva.
Para avaliação dos estados de humor, foi utilizada a Escala de Humor de Brunel (BRUMS), validada para o Brasil (ROHLFS et al., 2008). Tal instrumento é composto por 24 itens baseados em escala Likert de 5 pontos (0 = nada / 4 = extremamente), nos quais possibilita o participante se posicionar considerando como se sente no momento da coleta em relação a sensações como as de nervosismo, raiva, disposição e insatisfação.
Os itens são agrupados em seis fatores: tensão, depressão, raiva, fadiga, confusão mental e vigor (Tabela 2), onde cada um é composto por quatro itens. Os 5 primeiros fatores mencionados são considerados os fatores negativos do humor e o último, o vigor, é considerado o fator positivo (TERRY et al., 1999). A soma das respostas de cada fator resulta em um escore que pode variar de 0 a 16 pontos.
FATORES | DEFINIÇÃO |
Tensão | Estado de tensão musculoesquelético, preocupação. |
Depressão | Estado emocional de desânimo, tristeza e infelicidade. |
Raiva | Estado de hostilidade, relativamente aos outros. |
Vigor | Estado de energia, vigor físico. |
Fadiga | Estado de cansaço, baixa energia. |
Confusão Mental | Estado de atordoamento, instabilidade das emoções. |
Fonte: Rohlfs et al. (2008)
Procedimento
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Adventista de São Paulo através do número de parecer: 2.597.647. A pesquisa está de acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), ou seja, respeitou os padrões éticos de pesquisas com seres humanos.
Após a provação do CEP, realizou-se contato prévio com os responsáveis das equipes a fim de explanar o objetivo da pesquisa e solicitar autorização para a coleta com seus atletas. Com a devida autorização dos técnicos, os atletas foram informados sobre os objetivos do estudo, e todos os participantes que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), estando cientes de que a participação na pesquisa era voluntária e anônima. Para os menores de 18 anos, o TCLE foi assinado por um responsável maior de idade e o menor assinou o termo de assentimento.
Para que o objetivo da pesquisa fosse respeitado, adotou-se alguns cuidados metodológicos, afim de garantir a confiabilidade das informações coletadas. Para tanto, os questionários foram entregues aos atletas no dia do primeiro jogo nos jogos regionais. Os questionários foram respondidos individualmente, no local de concentração das equipes (Hotel ou alojamento), acompanhados de ao menos um pesquisador, para que os atletas não compartilhassem as informações durante o preenchimento do questionário. O tempo de preenchimento dos questionários foi de aproximadamente 15 minutos. Após todos atletas responderem aos questionários, as informações coletadas foram transferidas para uma planilha eletrônica (Excel, versão 2016), para análise dos resultados.
Análise estatística
No presente estudo análises descritivas e inferenciais foram adotadas para apresentar os resultados. Neste estudo as análises inferenciais assumiram o valor de p ≤ 0,05 para níveis de significância. Dado o número de participantes do presente estudo, houve a necessidade de testar a normalidade e a homogeneidade de variância dos dados, o que foi realizado por meio dos seguintes testes: Kolmogorov-Smirnov (K-S) e o teste de Levene, respectivamente.
Como os dados não apresentaram distribuição normal (p<0,05), nem homogeneidade de variância (p<0,05), foram utilizados: Mediana (Md) e Quartis (Q1; Q3) para caracterização dos resultados e para as análises assumiu-se testes não paramétricos. Com o intuito de avaliar a confiabilidade dos fatores do instrumento, ou seja, avaliar a consistência interna dos fatores, utilizou-se do alfa de Cronbach (α de Cronbach), assumindo valores entre 0,7 e 0,8 como aceitáveis para o α (FIELD, 2009), para cada fator de forma isolada.
Para avaliação da fidedignidade teste-reteste foi utilizado o coeficiente de correlação intraclasses entre os itens e fatores do instrumento. Os valores de correlação foram avaliados conforme proposto por Hopkins (2002), em que <0,10 (trivial), 0,10 a 0,30 (baixa), 0,31 a 0,50 (moderada), 0,51 a 0,70 (alta), 0,71 a 0,90 (muito alta), 0,91 a 0,99 (quase perfeita) e 1 (perfeita). Após essas etapas de análises, iniciou-se as análises acerca do objetivo do estudo. Para analisar as diferenças entre os fatores, para toda a amostra e para as análises intragrupo, utilizou-se do teste de Friedman.
Concernente a localização, utilizou-se o post hoc de Wilcoxon. Para as análises entre grupos, utilizou-se do Teste Kruskal Wallis (K-W) com post hoc U de Mann-Whitnney. Para controle do erro tipo 1, foi utilizado o procedimento sequencial Holm de Bonferroni (GREEN; SALKIND; AKEY, 2000). Por fim, todas as análises foram realizadas com o auxílio do IBM SPSS Statistics, versão 20.
RESULTADOS
Em relação a confiabilidade dos fatores, o alpha de Cronbach revelou bons índices de confiabilidade (α > 0,522), ou seja, o índice de consistência interna geral do instrumento foi satisfatório na coleta realizada. Porém, como o instrumento é multidimensional, houve a necessidade de calcular a confiabilidade de cada fator. De acordo com a tabela 3, os valores de confiabilidade para cada fator variaram entre 0,522 e 0,848, tendo a correlação item-fator variando entre 0,314 e 0,778, indicando correlação entre moderada e muito alta entre os itens e o fator a qual ele pertence.
Fatores | Item número | α | Correlação item-fator |
---|---|---|---|
Raiva | 7, 11, 19, 22 | 0,848 | 0,583/0,707/0,778/0,622 |
Confusão Mental | 3, 9, 17, 24 | 0,705 | 0,408/0,499/0,534/0,505 |
Depressão | 5, 6, 12, 16 | 0,522 | 0,314/0,616/0,367/0,414 |
Fadiga | 4, 8, 10, 21 | 0,736 | 0,617/0,547/0,419/0,436 |
Tensão | 1, 13, 14, 18 | 0,589 | 0,455/0,451/0,414/0,465 |
Vigor | 2, 15, 20, 23 | 0,585 | 0,506/0,424/0,616/0,578 |
Fonte: os autores
Frente a análise com todos participantes, para os seis fatores do instrumento, observou-se (Tabela 4) que o fator com maior escore foi o fator Vigor (Md=12,00), seguido do fator Tensão (Md=4,00). Tais informações foram confirmadas pelas análises inferenciais, já que o teste de Friedman apresentou diferença significante entre os fatores [x2 (5) = 129,734; p < 0,0001]. Concernente a localização, o teste de Wilcoxon demonstrou que o fator Vigor apresentou escores superiores aos demais (p<0,003, valor ajustado) e que o fator Tensão apresentou escores maiores que os fatores: Depressão, Raiva, Fadiga e Confusão Mental (p<0,003, valor ajustado). Esses resultados demonstraram que no início da competição os atletas apresentavam estado de humor positivo, pois o fator Vigor obteve os maiores escores.
Fatores | Itens |
---|---|
Raiva | 0,00 (0,00; 1,00) |
Confusão Mental | 2,00 (0,00; 2,00) |
Depressão | 0,00 (0,00; 1,00) |
Fadiga | 1,50 (0,00; 3,00) |
Tensão | 4,00 (2,75; 5,25) |
Vigor | 12,00 (10,75; 14,00) |
Fonte: os autores
Nas comparações intragrupos (Equipes), pôde-se observar que para todas as equipes, o fator Vigor foi superior aos demais fatores (Tabela 5). Falando-se da equipe masculina de Basquetebol, o teste de Friedman demonstrou que houve diferença significante entre os fatores [x2 (5) = 39,353; p < 0,0001]. Concernente a localização, o teste de post hoc demonstrou que o fator Vigor foi superior aos demais fatores (p<0,003, valor ajustado), ou seja, no início do campeonato os atletas de Basquetebol apresentaram aspectos positivos para o estado de humor, já que o fator Vigor apresentou os maiores valores.
Fatores | Basquetebol Masculino (n=11) Md (Q1; Q3) | Voleibol Masculino (n=12) Md (Q1; Q3) | Voleibol Feminino (n=11)Md (Q1; Q3) | X2 | P |
---|---|---|---|---|---|
Raiva | 0,00 (0,00; 1,00) | 0,00 (0,00; 1,75) | 0,00 (0,00; 1,00) | 0,530 | 0,767 |
Confusão Mental | 2,00 (0,00; 2,00) | 2,00 (0,25; 3,50) | 0,00 (0,00; 2,00) | 1,045 | 0,593 |
Depressão | 0,00 (0,00; 1,00) | 0,00 (0,00; 1,00) | 0,00 (0,00; 0,00) | 0,615 | 0,735 |
Fadiga | 1,00 (0,00; 3,00) | 2,00 (1,00; 3,00) | 1,00 (0,00; 2,00) | 1,682 | 0,431 |
Tensão | 3,00 (2,00; 4,00) | 4,50 (3,25; 7,00) | 5,00 (4,00; 5,00) | 4,880 | 0,087 |
Vigor | 11,00 (9,00; 11,00) | 11,50 (8,75; 13,75) | 14,00 (12,00; 14,00) | 7,634 | 0,022* |
Diferença significativa: p<0,05.
Fonte: os autores
Tratando-se das análises da equipe masculina de Voleibol, o teste de Friedman demonstrou que houve diferença significante entre os fatores [x2 (5) = 47,045; p < 0,0001]. Concernente a localização, o teste de post hoc demonstrou que o fator Vigor foi superior aos demais fatores (p<0,003, valor ajustado), e que o fator Tensão apresentou escores maiores que os fatores: Depressão e Raiva (p<0,003, valor ajustado). Esses resultados sugerem que no início da competição os atletas de Voleibol apresentaram aspectos positivos para o estado de humor, sendo seus resultados similares aos encontrados na equipe de Basquetebol.
Por fim, frente as análises da equipe feminina de Voleibol, o teste de Friedman demonstrou que houve diferença significante entre os fatores [x2 (5) = 44,657; p < 0,0001]. Concernente a localização, o teste de post hoc demonstrou que o fator Vigor foi superior aos demais fatores (p<0,003, valor ajustado), ou seja, no início da competição as atletas de Voleibol apresentaram aspectos positivos para o estado de humor, pois o fator Vigor apresentou os maiores valores. Esses resultados são similares aos encontrados nas outras equipes investigadas.
Em relação as análises entre equipes, pode-se observar que a equipe de Voleibol Feminino apresentou maior escore para os fatores Vigor e Tensão. Entretanto, as análises inferenciais, com o uso do teste Kruskal Wallis, apresentaram diferenças significantes, entre grupos, apenas para o fator Vigor (p<0,05). Concernente a localização, o post hoc foi conduzido com o teste U de Mann Whitney, o qual apresentou diferença significante entre a equipe de Voleibol Feminino e a equipe de Basquetebol Masculino (p=0,005, U =18,500), sendo os escores da equipe de Voleibol Feminino superiores. Tais informações confirmam parcialmente as observações, pois a equipe de Voleibol Feminino apresentou os maiores escores para o fator Vigor, mas não houve diferença significante entre as equipes para o fator Tensão.
Em síntese, os resultados do presente estudo demonstraram que o instrumento apresenta bons índices de consistência interna, demonstrando confiabilidade do instrumento. Além disso, os resultados demonstraram que no início da competição os atletas de todas as equipes apresentavam estado de humor positivo, já que o fator Vigor obteve os maiores escores, mas as atletas da equipe feminina de Voleibol foram superiores nesse fator as demais equipes, sendo estatisticamente superiores aos atletas da equipe masculina de Basquetebol.
DISCUSSÃO
O presente estudo teve como objetivo investigar os estados de humor de atletas de esportes coletivos, das equipes da cidade de Itatiba/SP, participantes dos jogos regionais de 2018 que ocorreram na cidade de Santa Bárbara d’Oeste/SP. Para alcançar esse objetivo, utilizou-se da Escala de Humor de Brunel - BRUMS, validada para o Brasil (ROHLFS et al., 2008) e que demonstra bons resultados de validade e fidedignidade (BRANDÃO et al., 2015; LIRA et al., 2017; ROTTA; ROHLFS; OLIVEIRA, 2014; SILVA et al., 2018), bem como os encontrados no presente estudo.
Em relação aos resultados do presente estudo, pode-se observar que os atletas investigados apresentaram o fator Vigor como o fator com maior escore, seguido do fator Tensão. Tais achados vão ao encontro da literatura, já que estudos realizados com atletas de esportes coletivos apresentaram valores mais elevados para o fator Vigor em relação a outros fatores (BRANDT et al., 2014a; FORTES et al., 2017; LIRA et al., 2017).
Brandt et al. (2014a) tiveram como objetivo investigar a saúde mental de atletas que participaram dos Jogos Abertos de Santa Catarina 2011. Para isso participaram do estudo 445 atletas de diferentes modalidades individuais (Natação, Judô, Ginastica Artística, Taekwondo e Duathlon) e coletivas (Voleibol, Basquetebol, Handebol, Futsal e Vôlei de dupla), sendo 211 homens e 234 mulheres. Os resultados apresentaram uma boa saúde mental dos atletas, os quais foram caracterizados com um perfil de humor semelhante ao proposto por Morgan (1980), ou seja, perfil de iceberg. Diante de tais resultados, os autores concluíram que os atletas apresentaram uma boa saúde mental, pois apresentaram um estado de humor positivo.
Além disso, com mencionado anteriormente, a literatura aponta, de maneira geral, que atletas de esportes coletivos tendem a apresentar um perfil positivo de humor (BRANDT et al., 2014b; NEVES et al., 2016; WERNECK et al., 2015), ou seja, os resultados do presente estudo corroboram os resultados observados na literatura. Somado a isso, os resultados do presente estudo reforçam os achados do estudo de Escobar e Lacerda (2010), pois independentemente do momento de aplicação do questionário, os resultados demonstraram que atletas de esportes coletivos tendem a apresentar um perfil positivo do humor (ROHLFS et al., 2008).
Tratando-se das análises entre grupos, pôde -se observar que as equipes investigadas tiveram os escores dos fatores da escala de humor similares, tendo apenas o fator Vigor apresentado diferença significante entre as equipes. Referente a esse fator, a equipe que apresentou maior escore para esse fator foi a equipe de Voleibol Feminino. Tais resultados corroboram os apresentados pela literatura (BRANDT et al., 2010, 2014a), enquanto esportes coletivos, mas não enquanto sexo dos atletas. No estudo de Brandt et al. (2010) os autores compararam velejadores homens e mulheres e os resultados demonstraram que as mulheres apresentaram escores inferiores de Vigor, comparadas com os homens, e escores mais elevados de tensão, depressão e raiva.
As mesmas informações foram encontradas no estudo de Brandt et al. (2014a), apontando que as mulheres apresentaram menores escores do fator Vigor, o que não foi encontrado no presente estudo. Uma possível explicação para tal fato pode estar relacionada aos esportes investigados, já que no presente estudo todas as atletas são praticantes de Voleibol. Uma outra explicação para esta diferença pode ser devido ao tipo de modalidade esportiva, no caso deste estudo esportes coletivos, já que a literatura descreve que atletas de esportes coletivos comumente apresentam indicadores positivos relacionado ao aspecto humor quando comparados a modalidades individuais (MORGAN et al., 1988; ROHLFS et al., 2008).
Assim, é possível, hipoteticamente, dizer que os resultados do presente estudo não corroboram os achados de alguns estudos da literatura (BRANDT et al., 2010, 2014a) devido ao fato das mulheres desses estudos serem, em grande parte, atletas de esportes coletivos. Tal hipótese faz sentido se observarmos os resultados apresentados por Neves et al. (2013), nos quais as mulheres investigadas (atletas de esportes individuais) apresentam escores elevados do fator Fadiga. Todavia, tal hipótese não foi objetivo do presente estudo e deixa-se, assim, como perspectiva futura de investigação.
Retornando aos resultados, é oportuno destacar os resultados relativos ao fator Vigor, no que se refere aos esportes coletivos, pois como mencionado pela literatura (BRANDT et al., 2014a; ESCOBAR; LACERDA, 2010; FORTES et al., 2017; LIRA et al., 2017; ROTTA, 2016; SILVA et al., 2018) os atletas de esportes coletivos tendem a apresentar elevados escores para esse fator. Dessa forma, os estudos supracitados demonstraram que atletas de esportes coletivos tendem a apresentar um perfil de humor denominado de iceberg (MORGAN, 1980; MORGAN et al., 1988), considerado ideal para o desempenho esportivo.
Considerando ainda o desempenho esportivo, os resultados do presente estudo podem ter relação com perfil de liderança do técnico da equipe. De acordo com Rohlfs et al. (2008), o trabalho junto a comissão técnica pode ter influência no estado de humor dos atletas, uma vez que as variáveis de treinamento como carga e intensidade, assim como o estilo de liderança, podem influenciar o estado de humor de forma positiva ou negativa (ROHLFS et al., 2008).
Tratando-se da possível influência do estilo de liderança, Vieira et al. (2013) citam que quanto mais o treinador aproveitar o momento de treino para motivar e preparar o atleta, maior será a influência do técnico sobre o desenvolvimento do atleta, ou seja, sobre o estado de humor. Corroborando com o já citado, Gomes e Machado (2010) apontam que as ações otimistas, motivacionais e favoráveis, em relação as atividades impostas aos atletas, estão associadas positivamente com os níveis de satisfação dos atletas, o que teria influência positiva no estado de humor dos atletas.
Diante disso, pode-se dizer que o técnico é relevante no processo de construção de grupos satisfeitos (MESQUITA et al., 2009; RIBEIRO, 2016; WERNECK et al., 2015). Falando-se, ainda, de possíveis influências nos estados de humor, pode-se citar os níveis de coesão do grupo, já que todos atletas são de esportes coletivos. De acordo com a literatura (APPLE, 1993), quando os atletas demonstram prazer pela atividade esportiva que executam, tendem a apresentar sentimentos de aceitação e pertença ao grupo, o que tem reflexo positivo na interação com outros membros da equipe. Além disso, de acordo com Vieira et al. (2008), o estado de humor positivo tem relação com elevados níveis de participação e envolvimento na modalidade esportiva. Tais achados corroboram a literatura (BRANDT et al., 2010; ROHLFS et al., 2004).
Todavia, é oportuno esclarecer que essas discussões são hipóteses explicativas dos resultados do presente estudo, já que não existe, no presente estudo, condições de explica-las por meio de resultados, uma vez que tais relações não foram objetivo do presente estudo, apontando, assim, perspectivas futuras de estudo. Uma outra relação que se pode citar nas explicações dos resultados, é que a ansiedade pode ser considerada um fator influenciador do estado de humor (GULLIVER et al., 2012; PELUSO; ANDRADE, 2005). A literatura tem apontado a relação entre elevados níveis e ansiedade e estados de humor negativos (BRANDT et al., 2014a; MORGAN, 1980). Diante dessas afirmações, pode-se tecer que elevados escores do fator Vigor podem ter relação com baixos índices de ansiedade. Todavia essa relação não foi objetivo do presente estudo, o que demonstra limitação do mesmo.
Retomando os resultados do presente estudo, os fatores negativos de humor mantiveram os escores baixos em todos os grupos, com exceção do fator Tensão, que se apresentou como o segundo fator com maior escore para as equipes de Voleibol (Masculino e Feminino). A tensão é um fator que representa um estado de tensão musculoesquelética, agitação e inquietação (TERRY, 1995), podendo ser fator de ativação e estar associadas a fatores de estresse, à expectativa de desempenho e ao medo de não estar preparado (TREVISAN et al., 2017; WEINBERG; GOULD, 2017).
Entretanto, os resultados de Tensão não foram significativamente superior aos resultados dos demais fatores, ou seja, mesmo que os atletas apresentassem agitação e inquietação na primeira partida, o humor dos mesmos foi considerado positivo, já que apresentaram escores superiores, significativamente, para o fator Vigor em relação aos demais fatores, o que é considerado como perfil iceberg, corroborando a literatura (BRANDT et al., 2014a; NUNES et al., 2014; ROTTA, 2016; SILVA et al., 2018; VIEIRA et al., 2008).
CONCLUSÃO
O presente estudo demonstrou que os atletas dos esportes coletivos investigados (Basquetebol e Voleibol) apresentaram escores elevados do fator Vigor, tendo a equipe de Voleibol Feminino apresentado o maior escore desse fator. Assim, no presente estudo os atletas apresentaram o perfil de humor denominado de iceberg, considerado como o perfil ideal para o rendimento esportivo, como mencionado pela literatura apresentada como referencial teórico para este estudo. Ainda, cabe ressaltar que os resultados do presente estudo corroboram os achados de outros estudos da literatura que investigaram esportes coletivos, fato que merece destaque por reforçar o arcabouço teórico para o ambiente esportivo.
Todavia, o presente estudo apresenta a limitação de ter investigado atletas que representaram apenas uma cidade, não abrangendo todos os participantes dos jogos regionais. Somado a isso, o presente estudo apresenta a limitação de ter investigado apenas atletas de esportes coletivos e de não ter relacionado as variáveis investigadas com outras variáveis, como coesão de grupo e ansiedade.
Assim, para estudos futuros, espera-se que a amostra seja constituída por atletas de diferentes esportes (coletivos e individuais), abordando, também, um maior número de modalidades e em maior escala territorial (mais de uma cidade), pois dessa forma é possível obter uma melhor análise dos estados de humor em diferentes contextos e públicos. Espera-se, também, que estudos futuros façam a relação das variáveis do humor com outras variáveis, com coesão de grupo e ansiedade, por exemplo.