INTRODUÇÃO
Dentre tantos esportes que compõem a Educação Física, enquanto elementos estruturados e estruturantes desse cenário de práticas corporais e em relação à constituição do campo esportivo no Brasil, o remo é compreendido como um dos primeiros a se organizar no país, no final do século XIX e início do XX (MELO, 2000). Tal prática estava articulada ao movimento de moralidade, saúde e progresso, os quais estavam em voga na época. De tal modo que esse esporte se ajustava a um projeto de modernização, uma vez que era entendido como elemento saudável e civilizador (ELIAS; DUNNING, 1992). Isto é, o remo, dentre outras práticas corporais, tratava-se de um elemento projetado para substituir as práticas e espaços sociais tradicionais1, categorizadas como ultrapassadas e forjadas por aspectos não civilizados (MELO, 2000).
Atualmente, no campo da Educação Física identifica-se a constituição de um extenso corpo de cientistas preocupados em alargar o conhecimento sobre o remo e, evidentemente, sobre o esporte e seu desenvolvimento histórico, social e cultural. Esses estudiosos, ainda que em pouco número, têm buscado a compreensão do remo enquanto esporte capaz de redimensionar a cultura e, assim, os hábitos e costumes que constituem as regiões que incorporam tal prática. O campo da pesquisa histórica na Educação Física também tem apresentado representatividade na área, visto que 195 estudos foram apresentados no XV Congresso de História do Esporte, do Lazer e da Educação Física, realizado em 2018.
Isso começa a ocorrer a partir da década 1990, quando inicia-se contribuições de estudos socioculturais sobre remo, como, por exemplo, os trabalhos de Victor Andrade de Melo e Ricardo de Figueiredo Lucena. Após esse período outros autores destacam-se, a saber: Janice Zarpellon Mazo, Carina Sartori, Gabrielli Zanca, Ileana Wenetz, Alexandre Fernandez Vaz, Leopoldo Gil Dulcio Vaz e Carolina Fernandes da Silva, entre outros. Nesse cenário de registros científicos sobre o remo, a Educação Física se mostra uma área cujos pesquisadores têm se direcionado com maior expressividade em relação às publicações. Não por acaso, o campo da Educação Física, em sua integralidade, é uma área em que o esporte é, indubitavelmente, um tema relevante - e pode-se dizer, que ele é ou, ao menos, tem sido um dos elementos centrais em tal meio, haja vista a importância que lhe é dado.
A compreensão da dimensão histórica do esporte destaca-se neste estudo como objeto principal de investigação. Dito de maneira mais específica, busca-se o entendimento atual desse movimento de produções acadêmicas no que diz respeito à história do esporte, além de enfatizar também a caracterização da produtividade do meio acadêmico quanto a este objeto de pesquisa.
Com o intuito de compreender os elementos que caracterizam a produção acerca do remo no campo da Educação Física nos últimos anos, foi utilizada a metodologia Estado da Arte. Esta técnica de caráter bibliográfico busca, em alguma medida, apresentar como está configurada a produção do saber, isto é, o que há em diferentes campos de conhecimento e tem sido evidenciado e privilegiado sobre determinado tema em determinado período (FERREIRA, 2002). Assim, buscou-se, fundamentalmente, a partir da metodologia que orienta o presente estudo, saber: o que se tem produzido (quanto e sobre qual perspectiva) sobre remo? Em que área de conhecimento e região do país se produziu? Em quais idiomas os trabalhos foram publicados? Diante disso, o presente estudo objetiva compreender como está configurada a produção de conhecimento histórico sobre o remo no campo da Educação Física.
Logo, esse estudo compreende a exposição do levantamento realizado e análise dos dados, a partir de buscas - realizadas com as palavras-chaves remo e rowing - voltadas à produção acadêmica durante o período de 2000 a 2018 em bancos de dados de pesquisas no Brasil, o Portal de Periódicos CAPES2, o site Scielo3 e em revistas científicas da área. É importante ressaltar que tanto no Portal de Periódicos CAPES, como no Scielo, as grandes áreas de conhecimentos selecionadas foram Ciências da Saúde, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas e Multidisciplinar. A escolha dessas áreas se dá, justamente, pelas características do campo da Educação Física, a qual é formada por uma reunião de outras ciências. Isto é, entende-se que se faz necessário a realização de buscas de pesquisas históricas sobre o remo a partir do conhecimento histórico produzido nas áreas que fundamentam a Educação Física.
Como os artigos encontrados no Scielo eram predominantemente (90%) vinculados às revistas da área da Educação Física, optamos por abranger as buscas e incluir outras revistas dessa área, selecionadas a partir de indícios encontrados nas Referências dos primeiros artigos levantados. Dessa forma, as revistas elegidas, para além do Portal de Periódicos CAPES e do Scielo, são: Esporte e Sociedade, Revista do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer (Licere), Motriz, Movimento, Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE), Revista Brasileira de Ciência e Movimento (RBCM), Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE), Journal of Physical Education (Universidade Estadual de Maringá - UEM), A Pensar a Prática e Motrivivência.
Pesquisas sobre o remo: uma prática historicamente estabelecida
Homem liberto, hás de estar sempre aos pés do mar!
O mar é teu espelho; a tua alma aprecias
No infinito ir e vir de suas ondas frias,
E nem teu ser é menos acre ao se abismar...
(BAUDALAIRE, 2018, p.134).
A Educação Física configura-se como um campo acadêmico entre as décadas de 1970 a 1990, “É nessas décadas que o ‘fazer científico’ (e não apenas o saber científico) passa a ser parte desse campo de forma mais intensa e estrutural” (BRACHT, 2013, p. 19). Nesse período, diversas foram as discussões e confrontos sobre se a Educação Física seria ciência ou se era composta de cientificidade a partir de outras ciências, quando surgem as divisões dos conhecimentos da área, bem como as diversas perspectivas de abordagem das práticas corporais como objetos de análise científica. Dentre estes estão as pesquisas históricas tendo o remo como objeto.
O remo, assim como o turfe e o futebol, foi um dos primeiros esportes a se organizar no Brasil no final do século XIX e início do XX (LUCENA, 2000). Assim, já no final do século XIX, o remo aumenta em popularidade e sua aceitação tem se alargado, assim como passa também a ser encarado como uma prática direcionada para novos tempos (SILVA et al., 2014). Diante disso, tornou-se uma prática presente nas sociedades brasileiras, com rupturas e continuidades, e em diversos espaços, o que possibilita o surgimento de múltiplos olhares investigativos sobre este esporte e o surgimento de variados problemas de pesquisa.
Essa instituição do campo esportivo decorre de uma adesão do remo no país que, no Brasil, se consolida no movimento de ascensão da modernidade, fundamentalmente, pela ideia que orientava o culto ao corpo e à beleza. Prática esportiva outrora firmada na Inglaterra, cujos aspectos morais e éticos eram vinculados àqueles existentes na era vitoriana e por ideais humanistas na ideia de cultuar o corpo e a mente (ZANCA, 2008). Logo, o remo e a sociedade viam-se imbricados, de maneira que eles constituíam um movimento complexo e multifacetado que ritmava e impulsionava a cidade moderna à medida que era também desenvolvido um novo modus vivendi (MELO, 2006).
O remo, dentre outros tantos temas, é um elemento que é objeto de pesquisa acadêmica na medida em que esta se encontra investida dessa função de compreensão e ligação dos temas e das relações entre os agentes em determinado tempo e espaço, por exemplo. A contribuição de Pierre Bourdieu (1983) sobre o estudo sociológico do esporte aponta essa orientação, que liga campo esportivo e campo acadêmico, no que diz respeito à sistematização do comportamento do pesquisador que, em suma, significa dizer que para compreender o esporte é necessário, além de considerar o contexto político e econômico, que se perceba aquilo que lhe é peculiar e que lhe permite ser relativamente autônomo (SOUZA; MARCHI JR., 2017):
O campo das práticas esportivas é o lugar de lutas que, entre outras coisas, disputam o monopólio de imposição da definição legítima da prática esportiva e da função legítima da atividade esportiva, amadorismo contra profissionalismo, esporte-prática contra esporte-espetáculo, esporte distintivo - de elite - e esporte popular - de massa - etc.; e este campo está ele também inserido no campo das lutas pela definição do corpo legítimo e do uso legítimo do corpo, lutas que além de oporem entre si, treinadores, dirigentes, professores de ginástica e outros comerciantes de bens e serviços esportivos, opõem também os moralistas e particularmente o clero, os médicos e particularmente os higienistas, os educadores no sentido mais amplo - conselheiros conjugais, dietistas, etc. -, os árbitros da elegância e do gosto - costureiros, etc. (BOURDIEU, 1983, p. 142).
Ora, vê-se que o esporte é difundido mundo afora, de modo que vai para além das fronteiras espaciais e temporais restritas à Inglaterra do século XVIII. O remo, por exemplo, passa a integrar a cultura de outros locais, que, por vezes, têm suas identidades reorganizadas (SILVA; MONTEIRO; MAZO, 2014). Esse movimento de reconstrução de identidades parece provocar ou, ao menos, sugerir, em alguma medida, a demanda de estudos4 nas mais variadas regiões do Brasil a fim de mapear as características peculiares do desenvolvimento de tal esporte. Isso porque tal prática corporal não só permite como promove condutas, ritmos e hábitos específicos, uma vez que estabelece uma estrutura forjada por normas, que, fundamentalmente, movimentam os espaços sociais e seus agentes - nas relações de interdependência5. Ou seja, há, dentre outros aspectos, ressignificações das relações interpessoais e novas maneiras de fazer usos dos espaços.
Conforme corroboram Melo e Fortes (2010), a prática do remo ao se espalhar pelo mundo, manteve muito do seu caráter original, mas também intercambiando com as particularidades de cada região, sendo este um fator chave para a popularidade da modalidade, juntamente com o fato de ser considerada um modelo de prática adequada para os novos padrões de sociedade em formação na época, conforme autores, sociedade do capitalismo e do imaginário da modernidade.
Dessa forma, percebe-se a ligação lógica entre a compreensão do cenário, o contexto, brasileiro e o desenvolvimento das práticas esportivas. O remo, por exemplo, se mostra indubitavelmente enraizado nesse processo histórico de um pretérito em que sua dinâmica contribuiria para a formação de um novo momento, um período cujo cenário era composto por ideias voltadas para o progresso a partir dessas práticas de caráter civilizador e fundamentadas na formação do corpo belo e forte. Vinculadas a isso, na transição do século XIX para o XX, há a ligação dessas práticas corporais com a construção e com o desenvolvimento das cidades, isto é, os processos de urbanização, industrialização e educação dos corpos (SARTORI, 2013). Diante destas informações, percebe-se o remo enquanto uma prática historicamente estabelecida na cultura brasileira, a qual ao ser abordado pelos pressupostos teórico-metodológicos da História revela elementos constitutivos do Brasil desde a sua inserção com os primeiros praticantes.
Sobre o remo: análises sobre as produções acadêmicas de 2000 a 2018
Ao fazer as buscas que correspondem às publicações nesses 19 anos selecionados, 2000 a 2018, constatou-se que foram encontrados apenas 42 estudos sobre o remo. Dentre estes, cinco artigos podem ser subtraídos, pois se repetem no Scielo e em alguma das revistas escolhidas. Deste de modo, somente 37 trabalhos foram localizados sobre remo. Em seguida, serão mostradas as análises que foram possíveis a partir dos registros encontrados, a saber: quantidade de estudos por ano (teses, dissertações e artigos), perspectiva (geral ou histórico-cultural), região, área de conhecimento e por idioma (utilizado para divulgação e publicação).
Cabe ressaltar que as produções que foram selecionadas são aquelas que trazem em seus textos informações e análises que tratam diretamente do remo enquanto objeto de estudo, seja de maneira técnica (por aplicação de protocolos, por exemplo), seja de modo histórico ou sociocultural.
Como mostra o Gráfico 1, em 2001, 2004 e 2007 não foram encontradas produções sobre remo, e em duas dessas 10 revistas (Motrivivência e Pensar a Prática) selecionadas não se encontrou nenhuma produção sobre remo.
Além disso, os dados mostram que 25 artigos foram encontrados; entretanto, há cinco dos 25 artigos que aparecem tanto na Scielo quanto nas revistas (dois de aspectos gerais, ou não históricos, nos anos 2014 e 2015 e três de caráter histórico 2013, 2014 e 2018). Isto é, foram localizados 20 artigos e 17 teses e dissertações publicadas, totalizando 37 novas publicações no período analisado. Tal número sugere que é realizada, em média, duas pesquisas por ano sobre o remo. O Gráfico 1 também revela uma maior frequência na publicação de artigos sobre remo e que pode nos sugerir a identificação do habitus do pesquisador que faz parte do campo acadêmico, uma vez que é parte do sistema de avaliação da CAPES em relação aos programas de pós-graduação stricto sensu a produção do discentes e dos egressos (CAPES, 2013). Isto é, pode-se pensar e analisar tais informações a partir também do modus operandi do pesquisador do campo acadêmico, que tem relação entre artigos, teses e dissertações.
No que diz respeito, especificamente, às perspectivas das pesquisas publicadas sobre o remo, podemos, para os fins desse estudo, categorizar em dois grupos, essencialmente: i) aspectos histórico-culturais, que, como o próprio nome sugere, envolvem análises direcionadas a compreensão da história e da cultura, ou seja, do remo enquanto fenômeno cultural, social e político que se relaciona culturalmente com a sociedade6; ii) aspectos gerais, isto é, artigos constituídos de elementos que não se orientam, fundamentalmente, pela história, mas por outras perspectivas, como, por exemplo, funções fisiológicas, antropométricas, de força, de performance, entre outros.
Quando analisamos as publicações de teses e dissertações produzidas nesses últimos 18 anos, percebemos que existem 17 estudos realizados e divulgados (de modo que somente três são teses: 2000, 2015, 2016) e não há predomínio quanto à determinada perspectiva, vez que há oito estudos históricos e nove produções de caráter geral. Entretanto, ao observar as produções em alguns períodos, notar-se-á que esses estudos históricos de maior profundidade - mestrado e doutorado - têm sido cada vez mais presentes no campo acadêmico. Isto é, ao analisar os intervalos em que não há publicações históricas, por exemplo, nota-se que eles passam a diminuir gradativamente, sobretudo no período entre 2011 e 2015. Tal aspecto não demonstra a superioridade dos estudos histórico-culturais sobre os gerais, mas caracteriza maior constância e, de certa forma, maior importância dada a tal perspectiva e a profundidade de investigação.
De toda forma, sublinha-se, novamente, que, mesmo havendo uma inclinação de maior constância para pesquisas na perspectiva histórica, social e/ou cultural, quantitativamente isso se mostra pouco expressivo.
Isto é, como mostra o gráfico acima, há praticamente a mesma quantidade de produções no que diz respeito aos aspectos gerais e às perspectivas histórico-culturais.
Outro ponto de equidade é percebido na soma de intervalos sem produção de estudos. Isto é, nesse período de 2000 a 2018, em oito (2000, 2001, 2004, 2007, 2009, 2011, 2012 e 2013) dos 19 anos em que foram feitas as buscas, não foram encontradas publicações de estudos gerais. Quanto aos estudos de caráter histórico-culturais, houve sete anos (2001, 2002, 2003, 2004, 2007, 2010 e 2016) em que não foram realizadas ou, ao menos, não publicadas pesquisas nos meios a que recorremos sobre o tema aqui tratado, o remo.
Ao analisar os artigos publicados a partir dessa perspectiva, enfatiza-se a importância de se realizar estudos históricos para compreender as implicações de tal prática esportiva na sociedade e suas relações: “O levantamento de estudos feitos sobre a história do remo em diferentes regiões do país possibilita ver o remo como uma prática cultural bastante difundida em diversas regiões do país no início do século XX” (SILVA; MONTEIRO; MAZO, 2014, p. 448).
Ademais, constata-se que as produções realçam a relevância de se realizar pesquisas históricas não apenas pela contribuição para o âmbito da História do Esporte no Brasil, mas também pelas possibilidades de expandir as buscas pelas análises e representações de identidades culturais a partir da prática esportiva do remo, que demais estudos não apresentam.
CAPES | SciELO | Revistas | Total | |
---|---|---|---|---|
Sul | 11 | 2 | 5 | 18 |
Sudeste | 6 | 6 | 6 | 18 |
Centro-oeste | 0 | 2 | 2 | 4 |
Norte | 0 | 0 | 0 | 0 |
Nordeste | 0 | 0 | 0 | 0 |
Internacional | 0 | 2 | 0 | 2 |
Apesar do remo estar entre os primeiros esportes que foram institucionalizados em clubes no Brasil e que há um grupo de pesquisadores voltados para o registro da história da modalidade nas diferentes regiões do Brasil7, os números apontam que há uma concentração de pesquisas nas regiões Sul e Sudeste, dentre o total de estudos encontrados. Há, claramente, uma predominância destas regiões quanto a escolha deste objeto de estudo, já que são 36 produções do total de 42. Isto é, de todas as regiões do país, mais a contabilização de duas unidades publicadas internacionalmente, 85,71% tem com origem as regiões Sul e Sudeste e apenas 14,29% estão relacionadas às demais regiões. Destaca-se, ainda, que não foram localizadas publicações realizadas nas regiões Norte e Nordeste.
Há também outro dado que chama a atenção sobre as regiões onde as produções sobre remo têm ocorrido em caráter stricto sensu, o maior número de teses e dissertações também se concentra em determinadas regiões do país. Das 17 teses e dissertações localizadas sobre remo na plataforma CAPES, 11 correspondem a produções realizadas na região Sul8 (64,70%), seis na região Sudeste (35,30%) e nenhuma nas outras três regiões do país. Além disso, todos esses trabalhos foram desenvolvidos em universidades públicas estaduais e federais, respectivamente, sete e 10.
Sobre a área de conhecimento que abrange as teses e dissertação localizadas sobre remo, vimos que, daqueles divulgados no portal CAPES (17), 14 (82%) deles são na área da Educação Física, dois (12%) são no campo da História e um (6%) pertence a área da Educação. Tais dados indicam que os programas de pós-graduação em Educação física têm se destacado no que diz respeito à produção sobre remo.
Além disso, foi realizado um levantamento sobre quais idiomas foram utilizados para publicação dos textos como percebemos na Tabela 2:
Sobre os idiomas utilizados, percebe-se que, de todos os trabalhos, não chega a um terço a quantidade de estudos que foram traduzidos para outro idioma além do português. Isto é, as publicações encontradas são eminentemente registradas na língua materna em relação aos estudiosos que as realizaram.
Contudo, existe a preocupação quanto ao alargamento do conhecimento científico, uma vez que as publicações, quase que em sua totalidade, continham resumos em idiomas, aparentemente, considerados universais - inglês e espanhol. Essa preocupação de disseminação do conhecimento, por meio da divulgação dos estudos em idiomas diversos, implica, evidentemente, no desenvolvimento do campo acadêmico e concomitantemente o desenvolvimento do modus operandi dos agentes que a ele pertencem.
No que diz respeito às áreas de conhecimento, notamos que 90,48% dos trabalhos são produções da Educação Física, de modo que os outros 9,52% representam produções de outras áreas, História (2), Educação (2) e Administração (1).
Como havíamos previsto, percebemos aqui que a área da Educação Física, dentre tantas outras áreas que poderiam fomentar e desenvolver estudos sobre o remo e sobre esporte em geral, concentra a maioria das produções. Ou seja, o remo, sobretudo no que diz respeito a sua compreensão enquanto fenômeno social e histórico, parece estar contido como um tema da tradição e da cultura dessa área de conhecimento chamada Educação Física.
Considerações Finais
A presente pesquisa identificou que as produções sobre o remo ocorrem principalmente por pesquisadores da Educação Física e eminentemente nas regiões Sul e Sudeste, bem como estas têm sido publicadas na grande maioria em língua portuguesa. Isso significa que os estudos históricos sobre o remo tem contribuído para consolidação da Educação Física como âmbito de produção do conhecimento restrito ao Brasil. Para além disso, o significativo número de publicações que registraram a história da Educação Física no Brasil, também contribuíram para a transformação deste campo científico, visto que as informações mostram a constância destas pesquisas ao longo dos últimos 19 anos da Educação Física e a expansão desse subcampo. É preciso sublinhar, também, a tradição que este campo parece sustentar quanto ao remo como objeto de pesquisa, ainda que haja abertura e diálogo para com outros campos por meio da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Isto é, existe certa centralidade desses estudos sobre esporte por cientistas que compõem o campo acadêmico da Educação Física. Nesse sentido, parece caber aqui também a crítica de Gastaldo (2010) quando diz que nossa produção sobre esporte, mesmo que seja em alguma medida significativa, ainda é predominantemente voltada a nós mesmos, isto é, restringido a publicações e eventos que se encontram inscritos no território nacional e entre grupos disciplinarmente delimitados.