Introdução
A Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EJA) constitui-se um espaço em que diferentes gerações se encontram, interagem e vivenciam experiências culturais e sociais diversas. É nesse lócus que se verifica, no decorrer dos últimos anos, um aumento considerável de jovens matriculados(as) nessa modalidade da Educação Básica, fato comumente denominado de fenômeno juvenilização da EJA.
Destaca-se que o fenômeno juvenilização corresponde ao rejuvenescimento da população que frequenta a EJA e caracteriza-se pela presença expressiva de jovens cada vez mais jovens, advindos(as); sobretudo, por meio de um processo migratório do Ensino de Crianças, Adolescentes e Jovens (BRUNEL, 2008).
Esse fenômeno surge no cenário brasileiro, a partir da década de 90, em uma modalidade educacional, historicamente, dirigida às pessoas adultas e idosas. Pressupõe-se que, em função da aprovação da Lei de Diretrizes e Base Nacional (LDBN nº 9.394/1996) que legalizou a redução da idade para ingresso na EJA de 21 anos para 18 anos no ensino médio e de 18 para 15 anos, no ensino fundamental, subentende-se que a partir de então houve uma procura maior dos(as) jovens por essa modalidade da Educação Básica.
Entretanto, apesar de a alteração na idade estabelecida na LDBEN ser considerada determinante para a ocorrência do fenômeno juvenilização na EJA, Conceição (2014, p. 66) argumenta que “é impossível precisar se o chamado ‘rebaixamento’ da idade mínima de ingresso na EJA ocorrida a partir da LDB de 1996 foi causa ou efeito da demanda de adolescentes pela modalidade”. Todavia, é consenso que foi a partir dessa legislação que se iniciaram as discussões e as pesquisas sobre a juvenilização da EJA.
Mediante o cenário de reconfiguração da EJA, em que a presença de jovens é massiva, importa desvelar o que dizem os estudos concernentes a esse tema, os quais retratam esse fenômeno no Brasil. Nessa perspectiva, indaga-se quais as principais discussões e seus resultados das pesquisas brasileiras sobre o fenômeno de juvenilização na EJA? A partir dessa problemática, objetiva-se identificar de que forma essa temática se estabelece como objeto de estudo no âmbito das publicações no meio acadêmico. Mais especificamente, pretende-se, neste texto, apresentar um estudo do tipo estado do conhecimento a respeito da juvenilização na Educação de Pessoas Jovens e Adultas, analisando as principais discussões e os resultados de pesquisas brasileiras sobre o fenômeno da juvenilização na EJA.
Esta investigação parte do pressuposto de que se está diante de um tempo de reconfiguração da EJA, o que de certa forma pode evidenciar tanto o protagonismo das juventudes, pelo fato de os(as) jovens terem liberdade para buscar a EJA e continuarem os estudos, assim como, pode demonstrar uma negação em que eles(as) estão sujeitos nas escolas de Ensino de Crianças, Adolescentes e Jovens, as quais os(as) encaminham para a EJA, tão logo completem a idade mínima de ingresso.
Nessa perspectiva, a EJA assume um importante papel de acolhimento para esses(as) jovens ao se constituir como espaço e tempo de socialização e sociabilidade, de formação e intervenção, cuja “[...] finalidade não poderá ser suprir carências de escolarização, mas garantir direitos específicos de um tempo de vida.” (ARROYO, 2018, p. 21).
Em congruência, torna-se relevante estudar o campo conceitual sobre a juvenilização na EJA. Para isso, são fundamentais os aportes teórico-metodológicos de Dayrell (2018); Leão (2018); Jardilino e Araújo (2014); Brunel (2008); Carrano (2007), entre outros(as) pesquisadores(as). Por fim, reitera-se que ao se realizar um estudo do tipo estado do conhecimento sobre o fenômeno juvenilização na EJA, permite-se visualizar e problematizar as principais discussões tecidas pelos(as) pesquisadores(as) brasileiros(as), com o intuito de contribuir para o campo de estudos da EJA.
Percurso Metodológico
Metodologicamente, é importante situar o que se entende por estado do conhecimento, haja vista que há estudos os quais sinalizam uma diferenciação entre esse termo e o de estado da arte. Romanowski e Ens (2006) diferenciam tais termos. No estado da arte não é suficiente estudar apenas os resumos de dissertações e teses, são necessários estudos mais amplos das produções da área, levantadas em vários lócus de socialização dessas pesquisas (teses, dissertações, livros, artigos em periódicos, anais de eventos...). Já o estado do conhecimento aborda somente algum ou alguns setores dessas publicações sobre o tema estudado ao evidenciar o que nesses lócus tem sido produzido.
Nesta pesquisa, foram estudados somente os trabalhos realizados em bancos de dados de pesquisas que documentam as investigações realizadas em cursos stricto sensu - isto é, examinaram-se teses, dissertações e artigos que resultam dessas pesquisas - entende-se que se tomou apenas um setor de produção das pesquisas e, portanto, reafirma-se que se trata de um estudo de tipo estado do conhecimento tal como proposto por Romanowski e Ens (2006).
Dessa forma, o texto incide sobre o conjunto das pesquisas realizadas em três bases de dados relevantes no campo da educação, quais sejam, o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e o Grupo de Trabalho de Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPEd). Tais bases foram selecionadas por proporcionarem acesso gratuito a estudos atuais e supostamente com boa qualidade científica, haja vista que se compõe de publicações procedentes de pesquisas mais complexas realizadas em programas de pós-graduação reconhecidos pela Capes. Desse modo, os objetos deste estudo foram teses, dissertações e artigos disponíveis nas supracitadas bases de dados.
Dada a relevância de pesquisas do tipo estado de conhecimento, Soares e Maciel (2000) elucidam que a compreensão do estado do conhecimento sobre um tema é necessária no processo de evolução da ciência, pois a ordenação e a sistematização desenvolvida periodicamente das informações e dos resultados obtidos permite a indicação de novas possibilidades de integração e de diferentes perspectivas, assim como a identificação de duplicações, contradições, lacunas, isto é, aspectos não estudados ou pouco explorados e até a inferência de novos vieses.
Ainda de acordo com Morosini e Fernandes (2014), o estado do conhecimento compreende a identificação, o registro e a categorização das pesquisas de forma a permitir o estabelecimento de uma reflexão e a construção de sínteses sobre uma temática em determinado espaço de tempo. Logo, realizar uma pesquisa do tipo estado de conhecimento a respeito de um campo temático possibilita a identificação e a análise do que já se produziu no meio acadêmico, objetivando qualificar e fundamentar a produção científica.
Os critérios de análise para seleção dos trabalhos foram estabelecidos como aqueles cujos títulos, resumos ou palavras-chave explicitassem o descritor “juvenilização” e estivessem relacionados, diretamente, ao campo de estudo da EJA. À vista disso, empregaram-se algumas combinações de descritores na busca, a saber: “juvenilização + EJA” e “juvenilização na Educação de Jovens e Adultos”. Durante o levantamento das publicações, fez-se uma leitura criteriosa dos resumos das teses, dissertações e artigos, para identificar o objeto de análise, qual seja a juvenilização na EJA. No entanto, considerou-se que nem todo resumo dá conta de caracterizar a pesquisa, ainda que devesse, em alguns casos foi necessária uma leitura, ora flutuante, ora mais detida dos trabalhos completos para melhor compreender aspectos teóricos e metodológicos das pesquisas.
A consulta às bases de dados foi realizada em março de 2019. Portanto, a partir dos termos relacionados ao foco da investigação foram inclusos, neste texto, os trabalhos que à época estavam disponibilizados nas plataformas consultadas. Este alerta é importante, pois em face da nossa experiência em outras pesquisas do estado do conhecimento há atualizações constantes nessas plataformas.
O recorte temporal para buscas foi estabelecido de 1996 a 2018. Pretendeu-se utilizar este recorte temporal em função da aprovação da Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN nº 9.394) de 1996. Em vista disso, a seleção dos trabalhos analisados ocorreu em três etapas.
Na primeira etapa, considerou-se o período de 2013 a 2018 para identificação das pesquisas disponibilizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES. Estabeleceu-se esse recorte temporal, tendo em vista que essa base de dados, apesar de conter referências dos registros de pesquisas em programas de pós-graduação no Brasil desde 1987, conta apenas com as produções publicadas após 2013, com seu texto completo armazenado na Plataforma Sucupira4. Sendo assim, em análise preliminar, identificaram-se quarenta e quatro pesquisas; todavia, vinte e três dissertações e uma tese aproximaram-se do objeto deste estudo, quer seja o fenômeno juvenilização da EJA.
Na segunda etapa, as consultas foram efetivadas na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD), no período de 2002 a 2018, consideraram-se as buscas a partir do ano de 2002, tendo em vista o ano em que esta plataforma oficialmente foi lançada. Dessa forma, identificaram-se um total de trinta e um trabalhos; desses, dezenove condizem com a temática aqui referida; entretanto, dez pesquisas já haviam sido localizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES; portanto, repetiam-se. Dessa forma, mencionam-se apenas os trabalhos inéditos identificados: a saber: sete dissertações e duas teses.
Realizou-se na terceira etapa, a identificação dos trabalhos publicados na ANPEd nacional, especificamente no Grupo de Trabalho de Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas. Importante ressaltar que em 1998 foi o ano em que constam os primeiros trabalhos registrados na ANPEd referentes à EJA, ainda sob a forma de grupos de estudos, vindo a consolidar-se como grupo de trabalho (GT 18) somente em 1999, na 22ª reunião da ANPEd. Fato que vem demarcar a Educação de Pessoas Jovens e Adultas como um campo específico e relevante na área de pesquisa educacional. Nessa base de dados, estipulou-se o período para buscas de 1998 a 2018. Nessa plataforma, inicialmente, encontraram-se duzentos e trinta publicações, mas após o refinamento mediante leitura criteriosa dos trabalhos identificaram-se apenas três artigos; entretanto, um deles foi desconsiderado, pois não resultou da realização de pesquisa stricto sensu.
Após o levantamento realizado, a análise de conteúdo foi a que mais se adaptou aos objetivos da investigação para a sistematização dos dados obtidos. Sobre essa perspectiva, Bardin (1995) discorre que a análise de conteúdo compreende um conjunto de técnicas que visam por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos à obtenção de indicadores que permitam a inferência de conhecimentos referentes à produção e/ou à recepção das mensagens, ou seja, mediante a análise de conteúdo é possível ir além do que está sendo comunicado no conteúdo dos materiais coletados, pois possibilita captar a essência das mensagens. Não obstante, na análise de conteúdo, o interesse não consiste apenas na descrição dos conteúdos, mas sim no que esses poderão ensinar após serem tratados (BARDIN, 1995).
A autora chama a atenção para se pensar a análise de conteúdo como possibilidade metodológica que se dá por meio de unidades de codificação a partir de uma totalidade, buscando uma determinada objetividade mediante critérios de categorização (BARDIN, 1995). Nessa mesma direção, Campos (2004) tomou como base a obra de Bardin, considerando que,
[..] produzir inferências sobre o texto objetivo é a razão de ser da análise de conteúdo; confere ao método relevância teórica, implicando pelo menos uma comparação onde a informação puramente descritiva sobre o conteúdo é de pouco valor. [...] produzir inferência, em análise de conteúdo significa, não somente produzir suposições subliminares acerca de determinada mensagem, mas em embasá-las com pressupostos teóricos de diversas concepções de mundo e com as situações concretas de seus produtores ou receptores. Situação concreta que é visualizada segundo o contexto histórico e social de sua produção e recepção. (CAMPOS, 2004, p. 613).
Ainda, no que diz respeito à categorização dos dados, Lopez (2002) enfatiza que não se trata só de agrupar dados e documentos, mas de que é necessário categorizá-los para não se correr o risco de ter somente uma descrição desses dados. Após a leitura dos resumos das pesquisas levantadas, realizou-se a construção de quadros sínteses para facilitar a análise desses dados. Nesse sentido, a definição de categorização pode contribuir no debate quanto às questões que se referem ao método do conhecimento no campo de investigação e, no caso deste artigo, os objetos voltados ao fenômeno juvenilização na Educação de Pessoas Jovens e Adultas. Portanto, a elaboração do estado do conhecimento lança luz a uma investigação que toma como perspectiva as produções e os conhecimentos que pesquisadores(as) têm elaborado sobre uma temática específica no decurso dos últimos anos.
Com a seleção finalizada, empreendeu-se à análise das pesquisas e, mediante a sistematização e a categorização das pesquisas procurou-se identificar como os(as) pesquisadores(as) têm abordado essa temática e o que dizem as publicações selecionadas.
Sistematizando as bases de dados
A partir da busca nas referidas bases de dados, seguindo o processo de triagem por meio da leitura, encontrou-se um total de trinta e cinco publicações entre teses, dissertações e artigos, que problematizam o fenômeno juvenilização da EJA. Dessa forma, apresenta-se o Quadro 01, em que se quantificam as pesquisas e as suas formas de publicização, assim como as respectivas bases de dados.
Banco de Dados | Teses | Dissertações | Artigos | Total |
---|---|---|---|---|
ANPEd Nacional | 0 | 0 | 02 | 02 |
Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES | 01 | 23 | 0 | 24 |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) | 02 | 07 | 0 | 09 |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise dos dados da pesquisa, 2020.
No quadro 01, verifica-se um reduzido número de publicações localizadas no Grupo de Trabalho de Educação de Pessoas Jovens Adultas e Idosas da ANPEd (nas reuniões nacionais) sobre o processo de juvenilização o que, ao mesmo tempo em que evidencia ausências, denota potencialidade nesse campo de pesquisa. Ademais, observa-se que as pesquisas identificadas são, majoritariamente, compostas por dissertações, o que demonstra um campo profícuo para aprofundamentos quanto a esse fenômeno juvenilização na EJA, inclusive nos cursos de doutorado.
Destarte, quantificaram-se as produções pelo ano da publicação a fim de se visualizar a frequência e a constância com que tal temática vem sendo tomada como objeto de pesquisa. Sendo assim, apresenta-se no Quadro 02 a evolução temporal das pesquisas sobre o fenômeno juvenilização no Brasil:
Ano | 2003 | 2008 | 2009 | 2011 | 2012 | 2013 | 2014 | 2015 | 2016 | 2017 | 2018 | Total |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Tipo de publicação | ||||||||||||
Tese | - | 1 | - | - | 1 | - | - | 1 | - | - | - | 3 |
Dissertação | 1 | - | 1 | 1 | 1 | 1 | 6 | 6 | 4 | 4 | 5 | 30 |
Artigo | - | - | - | - | - | 1 | - | 1 | - | - | - | 2 |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise dos dados da pesquisa, 2020.
Percebe-se ao verificar a evolução temporal das pesquisas sobre o fenômeno juvenilização no Brasil que as produções com foco nessa temática começaram a ser publicadas a partir do ano de 2003 e tornaram-se mais recorrentes nos últimos dez anos; sobretudo, quando houve mais incidência de publicações entre os anos de 2014 a 2018, como se apresenta no Quadro 02.
A seguir, objetivando estabelecer um panorama geral das pesquisas, que servirá de base para a análise mais detida dos aspectos teórico-metodológicos que as fundamentam, organizaram-se em quadros as publicações identificadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES (Quadro 03); na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (Quadro 04) e na ANPEd Nacional (Quadro 05), respectivamente acompanhados da temporalidade, título, autoria, tipo de pesquisa, curso e vínculo institucional.
A seguir as produções localizadas no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES:
Ano | Título | Autor(a) | Tipo | Curso | Instituição |
---|---|---|---|---|---|
2018 | Estética do oprimido na Educação de Jovens e Adultos | Danilo Dias Nardeli | Dissertação | Programa de Pós-Graduação Profissional em Ensino das Artes Cênicas | Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) |
2018 | Educação de Jovens e Adultos no Brasil: da alfabetização à inclusão cultural | Cibelle Dirce dos Santos | Dissertação | Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas | Universidade Santo Amaro |
2018 | Discursos docentes atribuídos à Educação de Jovens e Adultos a partir de tensionamentos provocados pela juvenilização da modalidade: analisando o contexto de uma escola municipal de Duque de Caxias (RJ) | Roberta Avoglio Alves Oliveira | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) |
2017 | Juvenilização na EJA: significados e implicações do processo de escolarização de jovens. | Carolina Coimbra de Carvalho | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal do Maranhão (UFMA) |
2017 | Despeja na EJA: Reflexões acerca da migração perversa de jovens para o PEJA no município do Rio de Janeiro. | Amanda Guerra de Lemos | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) |
2017 | A formação docente e o fenômeno da juvenilização na Educação de Jovens e Adultos: desafios formativos. | Núbia Sueli Silva Macedo | Dissertação | Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação de Jovens e Adultos-MPEJA | Universidade do Estado da Bahia (UNEB) |
2017 | Educação de Jovens e Adultos (EJA): um estudo sobre a inclusão de adolescentes no Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos (CIEJA). | Ana Luiza Bacchereti Sodero de Toledo | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Nove de Julho (UNINOVE) |
2016 | Juvenilização na Educação de Jovens e Adultos no ensino médio: Um estudo de caso no município de Salvador Bahia. | Luana Leão Afro | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal de Sergipe (UFS) |
2016 | Juvenilização da Educação de Jovens e Adultos em Abaetetuba: representações sociais e projeto de vida escolar. | Marivane Silva de Alcantara | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade do Estado do Pará (UFPA) |
2016 | Currículo e culturas juvenis: um estudo de caso sobre as representações sociais dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos no município de Conceição da Feira-BA | Maria Da Conceição Cédro Vilas Bôas De Oliveira | Dissertação | Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação de Jovens e Adultos-MPEJA | Universidade do Estado da Bahia (UNEB) |
2015 | Juvenilização na EJA: reflexões sobre juventude(s) e escola no Município de Angra dos Reis. | Marcelo Laranjeira Duarte | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação, Cultura e Comunicação | Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) |
2015 | Juvenilização na Educação de Jovens e Adultos de Ouro Preto/MG: trajetórias e perspectivas dos estudantes mais jovens. | Lorene Dutra Moreira e Ferreira | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) |
2015 | Interfaces entre o ensino médio regular e a juvenilização na EJA: diálogos, entrelaçamentos, desafios e possibilidades sobre Quefazeres docentes. | Larissa Martins Freitas | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) |
2015 | Pisando em campo minado: a escolarização de adolescentes na Educação de Jovens e Adultos. | Luci Vieira Catellane Lima | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Psicologia | Universidade Federal de Rondônia (UNIR) |
2015 | Entre Nós e Encruzilhadas: as trajetórias dos jovens de 15 a 17 anos na EJA em Angra dos Reis. | Leila Mattos Haddad de Monteiro Marinho | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal Fluminense (UFF) |
2015 | Juventude, educação e trabalho: um estudo sobre a juvenilização no CEJA de Brusque-SC. | Olavo Larangeira Telles da Silva | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) |
2015 | Educação de Jovens e Adultos: como se constitui a influência das redes sociais no acesso e/ou na permanência dos jovens na escola? | Vanessa Petró | Tese | Programa de Pós-Graduação em Sociologia | Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
2014 | Um estudo de caso sobre uma possibilidade para o ensino de matemática na EJA juvenilizada. | Rosalina Vieira dos Anjos | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática | Universidade Federal de Pelotas (UFPel) |
2014 | Me Jogaram aqui porque eu fiz 15 anos: biopolítica da juvenilização da Educação de Jovens e Adultos em Belém-PA (2010-2013). | Letícia Carneiro da Conceição | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal do Pará (UFPA) |
2014 | Professores iniciantes na Educação de Jovens e Adultos: Por que ingressam? O que os faz permanecer? | Angelita Aparecida Azevedo Freitas | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) |
2014 | Desigualdade e educação: a ação da Educação de Jovens e Adultos (EJA) no município de Vila Velha - ES. | Edna e Assis Ferreira Reis | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política | Universidade Vila Velha (UVV) |
2014 | Formação permanente de professores(as) da EJA: círculo de diálogos como práxis pedagógica humanizadora. | Eliziane Tainá Lunardi Ribeiro | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) |
2014 | Estudantes negros em Angra dos Reis: descortinando as desigualdades do Ensino Fundamental Regular à Educação de Jovens e Adultos. | Eliana de Oliveira Teixeira | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal Fluminense (UFF) |
2013 | Da macropolítica às contradições e desafios em nível local: descortinando o PROEJA FIC em Passo Fundo/RS. | Ângela Xavier | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade de Passo Fundo (UPF) |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise dos dados da pesquisa, 2020.
Os estudos localizados na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações são os seguintes:
Ano | Título | Autor (a) | Tipo | Curso | Instituição |
2018 | Estudo sobre o uso das atuais tecnologias pelos Sujeitos da EJA no trabalho e na formação escolar | Kleuver Luís Alves Mota | Dissertação | Programa de Mestrado em Educação e Docência - PROMESTRE | Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) |
2018 | O abandono do ensino médio regular pelos estudantes e a juvenilização da EJA: uma teia de relações. | Juliana Bicalho de Carvalho Barrios | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Estadual de Londrina (UEL) |
2016 | Jovens na modalidade EJA na escola pública: autodefinição de jovem e função das TDICEs. | Helga Valéria de Lima Souza | Dissertação | Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação | Universidade de Brasília (UNB) |
2012 | A política nacional de juventude: assistencialismo ou inovação? | Carla Alessandra Barreto | Tese | Programa de Pós-Graduação em Educação Escolar da Faculdade de Ciências e Letras | Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) |
2012 | Escolarização de alunos com deficiência na Educação de Jovens e Adultos: uma análise dos indicadores educacionais brasileiros. | Taísa Grasiela Gomes Liduenha Gonçalves | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Estadual de Londrina (UEL) |
2011 | A Implementação da Política de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em uma Escola Municipal de Vitória/ES: apostas e tensionamentos. | Marcel Bittencourt Romanio | Dissertação | Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional | Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) |
2009 | Juventude, EJA e relações raciais: um estudo sobre os significados e sentidos atribuídos pelos jovens negros aos processos de escolarização da EJA. | Natalino Neves da Silva | Dissertação | Pós-Graduação em Educação, Conhecimento e Inclusão Social | Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) |
2008 | Juventudes e processos de escolarização: uma abordagem cultural. | Sandra dos Santos Andrade | Tese | Programa de Pós-Graduação em Educação | Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) |
2003 | Educação de Jovens e Adultos: a experiência do PEJ no município do Rio de Janeiro. | Marcos Antonio Macedo das Chagas | Dissertação | Departamento de Educação | Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir análise dos dados da pesquisa, 2020.
Por fim, os trabalhos identificados na plataforma das reuniões nacionais da ANPEd:
Ano | Título | Autor(a) | Tipo | Instituição |
---|---|---|---|---|
2013 | A EJA frente ao enigma das idades: decifrá-lo ou ser por ele devorado. | Letícia Carneiro da Conceição; Luiza Nakayama | Artigo | Universidade Federal do Pará (UFPA) |
2015 | A alternativa para o menino indesejável: vozes e sujeitos na biopolítica da juvenilização da EJA. | Letícia Carneiro da Conceição | Artigo | Universidade Federal da Pará (UFPA) |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise dos dados da pesquisa, 2020.
Como se pode inferir a partir da sistematização dos dados identificados nesse levantamento que as pesquisas com foco no fenômeno juvenilização da EJA foram realizadas, prioritariamente, em cursos de mestrados, pois se identificaram trinta dissertações, ao passo que somente três teses e dois artigos científicos. Importa salientar, ainda, que foram identificados apenas trinta e cinco trabalhos, uma vez que nem todas as publicações sobre juvenilização correspondem ao campo de estudos da EJA, muitas pesquisas sequer tinham relação com a área da educação e; portanto, na leitura preliminar foram desconsideradas.
Constata-se que apesar de ser mencionado na literatura (BRUNEL, 2008) que o fenômeno juvenilização na EJA se data de meados da década de 90, somente no ano de 2003 identificou-se a primeira pesquisa, seguida de uma ruptura nos anos posteriores, haja vista a ausência de publicações, pois apenas no ano de 2007 verificam-se novas publicações para esta temática em questão. Ademais, observa-se que no ano de 2015 houve a maior concentração de trabalhos publicizados, a saber, oito pesquisas.
Ressalta-se inclusive a prevalência feminina na autoria das pesquisas que enfocaram o fenômeno juvenilização da Educação de Pessoas Jovens e Adultas, ou seja, das trinta e cinco pesquisas promovendo a discussão da temática vinte e oito foram realizadas por pesquisadoras brasileiras, fato que corrobora os estudos realizados por Barros e Mourão (2018) cuja pesquisa evidencia a predominância da participação feminina entre os(as) estudantes brasileiros(as) na educação superior, tanto na graduação, quanto na pós-graduação.
Por conseguinte, das três teses, trinta dissertações e dois artigos considerados para a análise, vinte e um são originárias de Programas de Pós-Graduação em Educação, duas pesquisas do Programa de Pós-Graduação Profissional em Educação de Jovens e Adultos (UNEB) o único programa específico que se dedica a estudos referentes à Educação de Pessoas Jovens e Adultas em âmbito nacional; as demais pesquisas oriundas de Programas de Pós-Graduação em sociologia, psicologia, ensino entre outros; portanto, evidencia-se que os programas de educação são os que mais se dedicam ao estudo da temática analisada.
Com relação à instituição de origem, pode-se depreender que, majoritariamente, as pesquisas foram realizadas em Programas de Pós-Graduação de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas, ou seja, das trinta e cinco pesquisas, vinte e uma são de IES federais e oito de IES estaduais. As demais, seis pesquisas são oriundas de IES privadas. Diante desses dados, percebe-se que as universidades públicas foram as que mais realizaram investimentos em pesquisas científicas acerca do fenômeno juvenilização da EJA.
Além disso, no que tange à localização das IES, o levantamento revela que as pesquisas são oriundas de universidades de diversas regiões do país, com predominância na região Sudeste, em que se localizaram dezesseis pesquisas; seguida da região Sul com nove; enquanto na região Nordeste foram identificadas quatro pesquisas; na região Norte, cinco pesquisas e apenas uma pesquisa na região Centro-Oeste.
Finalizada a análise das pesquisas identificadas para a sistematização do Estado do Conhecimento, utilizou-se a análise de conteúdo (BARDIN, 1995) no intuito de facilitar a discussão dos resultados, ressaltando as aproximações e os distanciamentos entre os dados obtidos e, para tal, agrupou-se em categorias as pesquisas com temáticas semelhantes.
Assim, para a exploração dos dados identificados e tratamento dos resultados, os estudos foram agrupados em quatro categorias, a saber: Sujeitos; Escolarização e Inclusão; Políticas Públicas e Formação Docente. No Quadro 06, situam-se as categorias temáticas, com suas respectivas bases de dados, bem como o número de publicações selecionadas.
Categoria Temática | Base de Dados | Produções Selecionadas |
---|---|---|
Sujeitos | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES | 05 |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) | 01 | |
ANPEd Nacional | 02 | |
Total | 08 | |
Escolarização e Inclusão | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES | 09 |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) | 04 | |
ANPEd Nacional | - | |
Total | 13 | |
Políticas Públicas | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES | 04 |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) | 04 | |
ANPEd Nacional | - | |
Total | 08 | |
Formação Docente | Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES | 06 |
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) | - | |
ANPEd Nacional | - | |
Total | 06 | |
Total Geral | 35 |
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir da análise dos dados da pesquisa, 2020.
De posse da categorização, os resultados são apresentados na próxima seção, considerando as categorias temáticas com o objetivo de compreender as principais discussões promovidas nas pesquisas brasileiras sobre o fenômeno juvenilização na EJA.
O que revelam as categorias analíticas acerca do fenômeno juvenilização na EJA
No que tange às categorias analíticas que emergiram das pesquisas levantadas, identificaram-se as seguintes: Sujeitos com oito pesquisas; Escolarização e Inclusão com treze; Políticas Públicas com oito e Formação Docente com seis estudos. Para reflexão, considera-se que as categorias congregam publicações as quais informam matrizes que permeiam a compreensão sobre o fenômeno juvenilização da EJA. Sendo assim, busca-se explanar os enfoques privilegiados em cada categoria.
As pesquisas agrupadas na categoria Sujeitos pretendiam de um modo geral compreender o fenômeno juvenilização da EJA mediante a voz dos sujeitos. Para tanto, os estudos centralizam-se nos(as) jovens, indagam quem são os(as) jovens que se inserem na EJA e quais as motivações que os(as) levam a ingressarem na EJA, objetivam compreender os sentidos e os significados que os(as) jovens atribuem à EJA em relação a seus projetos de vida. Exceto Oliveira (2018) que embora em sua pesquisa tenha discutido o fenômeno juvenilização, centralizou sua análise nos discursos dos(as) docentes, com o intuito de identificar os sentidos atribuídos por eles(as) a EJA juvenilizada.
Nas pesquisas que compõem a categoria Sujeito é consenso entre os(as) autores(as) que o fenômeno juvenilização vem sendo desencadeado no Ensino de Crianças, Adolescentes e Jovens (TOLEDO, 2017; ALCANTARA, 2016; SOUZA, 2016; FERREIRA, 2015; MARINHO, 2015; CONCEIÇÃO, 2015; 2013). Entre as motivações, percebe-se a manifestação da pouca identificação dos(as) estudantes ao ambiente escolar e à sensação de não pertencimento, o que em muitas ocasiões pode levá-los(as) a se evadirem do Ensino de Crianças, Adolescentes e Jovens e/ou migrarem para a EJA.
Nessa perspectiva, a EJA pode estar sendo concebida como uma escola de “segunda chance”, em que os(as) jovens são encaminhados(as) para concluírem o processo de escolarização e garantirem a obtenção da certificação. Entretanto, reitera-se que a retomada e/ou continuação da vida escolar na EJA institui-se para as pessoas jovens e adultas não apenas uma “oportunidade” ou “segunda chance” (ARROYO, 2018), mas representa a afirmação do direito subjetivo à educação.
A respeito do sentimento de não pertencimento aos espaços educacionais que muitos(as) jovens experienciam, Carrano (2007) argumenta que, para enfrentar o desafio da chamada juvenilização da EJA, é fundamental produzir espaços escolares culturalmente significativos que contemplem os interesses e os anseios da multiplicidade de sujeitos jovens. Essa afirmação corrobora a concepção de Marinho (2015) de que a educação tem que fazer sentido para os sujeitos e estar conectada com as suas realidades, caso contrário, eles(as) podem perceber-se como sendo de um “não lugar” e vivenciar um novo processo de exclusão.
A categoria “Escolarização e Inclusão” reuniu duas temáticas, pois em todas as publicações acessadas à escolarização era discutida a partir da perspectiva da inclusão, de maneira que os assuntos se intercruzavam em um dado momento. Ademais, essa categoria é a que contabiliza maior número de pesquisas, cuja ênfase centra-se em identificar as implicações do fenômeno juvenilização no processo de escolarização dos(as) estudantes da EJA, bem como as pesquisas selecionadas apontam essa modalidade da Educação Básica como uma alternativa para a inclusão dos(as) jovens, que outrora foram excluídos(as) das escolas de Ensino de Crianças, Adolescentes e Jovens.
Com objetivos distintos, todas as pesquisas ressaltaram a importância de considerar os(as) jovens protagonistas no processo de ensino e aprendizagem, sobretudo reverbera-se a necessidade de pensá-los(as) como sujeitos de direitos, e reconhecê-los(as), de fato, como parte da Educação Básica. Nesse sentido, algumas pesquisas buscaram alternativas para favorecer a inclusão dos(as) jovens sendo que, das treze pesquisas analisadas na categoria, uma pretendeu investigar as possibilidades para o ensino da matemática na EJA juvenilizada. Nesse estudo, Anjos (2014), com o intuito de favorecer o processo de escolarização, buscou mediante a alternativa da Modelagem Matemática (técnica que envolve elementos do cotidiano), permitir aos(as) estudantes perceberem o significado de tais conhecimentos e o sentido no contexto de suas vidas.
Nardeli (2018) em sua pesquisa ressaltou os desafios apresentados pelo fenômeno juvenilização da EJA e propôs como alternativa para o enfrentamento dessa realidade, um diálogo com teóricos da arte educação, mais, especificamente, versa sobre os trabalhos de Augusto Boal referentes a Estética do Oprimido como uma possibilidade para utilizar o teatro como instrumento de luta política. Segundo Nardeli (2018) a linguagem artística permite aos(as) educandos(as) jovens da EJA, além da ampliação da capacidade de leitura de mundo, sua emancipação estética.
Na sequência, Mota (2018) propôs, em sua pesquisa, investigar o uso que os sujeitos da EJA fazem das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) no ensino médio de uma escola estadual de ensino de Divinópolis-MG. Quanto aos resultados, o autor constatou que o fenômeno juvenilização da EJA, no ensino médio, está, estritamente, relacionado ao trabalho, pois os(as) jovens estão se inserindo cada vez mais cedo no mercado de trabalho e buscam, na EJA, a oportunidade de conciliar trabalho e estudos e também concluírem em um período mais curto de sua escolarização. Ademais, destaca que a juvenilização da EJA exige novas metodologias de ensino, assim o uso pedagógico das TDICs torna-se uma possibilidade.
Por conseguinte, duas pesquisas selecionadas pretenderam analisar o fenômeno da juvenilização incorporando as questões raciais: a primeira, Teixeira (2014) investigou a escolarização de estudantes negros(as) no ensino fundamental na rede municipal de Angra dos Reis-RJ e, a segunda, Silva (2009) objetivou compreender os significados e os sentidos atribuídos pelos(as) jovens negros(as) ao processo de escolarização vivenciados na EJA. Os dois estudos apontam as desvantagens de estudantes negros(as) em seu percurso escolar, os(as) quais são mais propícios aos bancos escolares da EJA, endossando a juvenilização. Além disso, defendem a inclusão de políticas afirmativas a fim de que se proporcione aos(as) estudantes experiências de pertencimento étnico-raciais.
Acerca desta questão, Passos (2012) assevera que nos últimos anos indicadores educacionais mostram as disparidades entre brancos(as) e negros(as) no acesso, na permanência e na conclusão dos percursos escolares e enfatiza que as desvantagens educacionais fazem com que muitos(as) jovens e adultos(as) negros(as) procurem a EJA para concluir sua escolarização.
A pesquisa de Gonçalves (2012) visou identificar e analisar as matrículas de alunos(as) com necessidades educacionais especiais na Educação de Pessoas Jovens e Adultas no Brasil. A pesquisadora constatou elevado índice de matrículas de alunos(as) com deficiência nas séries iniciais da EJA. E, com relação à idade dos(as) alunos(as) com deficiência da EJA, destacou a concentração de matrículas em faixas etárias mais baixas o que denota a juvenilização presente entre os(as) alunos(as) com deficiência.
Muitas pesquisas aqui categorizadas apontam que os(as) jovens movidos(as) pela necessidade de trabalhar para terem melhores condições de vida buscam os cursos noturnos da EJA para prosseguirem a sua escolarização (ALCANTARA, 2016; TOLEDO, 2017; CARVALHO, 2017, PETRÓ, 2015; REIS, 2014). Na mesma direção, a pesquisa realizada por Silva (2015) analisou o que estaria provocando o ingresso de muitos(as) jovens no CEJA de Brusque-SC. Para isso, investigou os fatores da “juvenilização” dessa modalidade educacional a partir das relações estabelecidas entre juventude, educação, trabalho e futuro profissional. Silva (2015) constatou ainda que, em relação aos motivos de abandono escolar, o trabalho aparece como principal motivo. Entretanto, destaca que os(as) jovens voltam a estudar, agora no CEJA, a fim de concluir o ensino médio para cursar o ensino superior ou técnico e, também, para se inserir ou se manter no mercado de trabalho.
Por tal viés, infere-se que dependendo da origem social dos(as) jovens estes(as) podem vivenciar a condição juvenil de distintas formas. Assim, a juvenilização é também efeito da injusta ordem social, na qual jovens, especialmente das classes populares, são empurrados(as) ao mercado de trabalho a fim de contribuírem com a subsistência familiar. Reafirma esse entendimento Carrano (2007, p. 5) ao avaliar que “os baixos níveis de renda e capacidade de consumo redundam na busca do trabalho como condição de sobrevivência e satisfação de necessidades materiais e simbólicas para a maioria dos jovens”.
As demais pesquisas que compõe a categoria Escolarização e Inclusão centralizam sua análise de forma similar nos processos de exclusão e inclusão que muitos(as) jovens vivenciam no sistema educacional (ANDRADE, 2008); pretendem desvelar as implicações do fenômeno juvenilização no processo de escolarização (CARVALHO, 2017; LIMA, 2015); buscam compreender a posição da juventude no sistema escolar que tem sido marcada por desigualdades (DUARTE, 2015), analisam a modalidade da EJA e seu papel na formação educacional considerando a condição de pobreza (REIS, 2014) e, também, pretenderam compreender como as redes sociais operam sobre as trajetórias de vida dos(as) jovens, influenciando a continuidade dos estudos na EJA (PETRÓ, 2015).
As investigações que compõem a categoria Políticas Públicas objetivam, em seu conjunto, empreender uma análise sobre fenômeno juvenilização pelo viés das políticas educacionais. Nessa perspectiva, evidenciam a relevância de se compreender as sucessivas políticas destinadas aos sujeitos jovens, assim como reconhecer que o desenvolvimento do fenômeno juvenilização na EJA está calcado, também, em atuações políticas.
Nessa categoria, das oito publicações selecionadas, quatro tinham como alvo a análise do fenômeno juvenilização em programas destinados à EJA: Xavier (2013) investigou a experiência do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Pessoas Jovens e Adultas, Formação Inicial e Continuada com Ensino Fundamental (PROEJA/FIC) na cidade de Passo Fundo-RS. Lemos (2017) deteve-se às reflexões sobre a migração de jovens para o Programa de Educação de Pessoas Jovens e Adultas (PEJA) no município do Rio de Janeiro-RJ; Barreto (2012) discutiu e analisou as parcerias ensejadas no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (PROJOVEM Urbano) e Chagas (2003) investigou as políticas destinadas à escolarização dos sujeitos jovens no Programa de Educação Juvenil (PEJ) no município do Rio de Janeiro-RJ.
As demais pesquisas que integram a categoria Políticas Públicas detiveram-se em empreender uma análise da constituição da EJA como política pública no Brasil, tal como a realizada por Conceição (2014), Barrios (2018) buscou compreender a juvenilização da EJA a partir da análise política do Ensino Médio; Romanio (2011) analisou os efeitos do processo de implementação da política municipal de Educação de Pessoas Jovens e Adultas em uma escola pública do município de Vitória-ES; e buscando refletir sobre a EJA como um espaço de cidadania e inclusão cultural, Santos (2018) procurou compreender as políticas públicas voltadas para a Educação de Pessoas Jovens e Adultas desenvolvidas no município de Diadema-SP.
Os estudos imbricados no campo das políticas públicas trouxeram elementos importantes para a compreensão da temática investigada. Segundo Barrios (2018, p. 22) ao estudar a juvenilização, tendo como foco as políticas, traz à baila a compreensão de que esse fenômeno pode ser, também, produzido pelas ações do Estado, haja vista a complexa teia de relações que estão em constante reconfiguração na sociedade capitalista.
Todavia, é consenso entre os(as) pesquisadores(as) referidos(as) que o fenômeno juvenilização da EJA está intimamente relacionado às mudanças estabelecidas na legislação, mais, precisamente, por uma questão institucionalizada e legalizada junto à LDBEN de 1996 que flexibilizou a idade mínima para o ingresso na EJA. Além disso, asseveram que a presença expressiva dos(as) jovens na EJA é uma realidade que está posta e precisa ser reconhecida como a nova identidade dessa modalidade educacional, daí a necessidade de se pensar e implementar políticas públicas de Estado que garantam o direito à educação de forma efetiva a esse segmento juvenil.
Na categoria Formação Docente, transitam interlocuções entre os desafios e as possibilidades da formação inicial, os processos de formação continuada e a formação permanente de professores(as), assim como os desafios e as possibilidades diante do fenômeno juvenilização na Educação de Pessoas Jovens e Adultas.
Das seis pesquisas selecionadas, três delas dedicaram-se a analisar a relevância da formação profissional no desenvolvimento do trabalho docente diante da EJA juvenilizada. Freitas (2014) investiga, em sua pesquisa, o processo de inserção e permanência do(a) professor(a) iniciante na EJA; Ribeiro (2014) se deteve a compreender a formação permanente de professores(as) atuantes na EJA mediante a perspectiva de uma práxis pedagógica humanizadora e Freitas (2015) pretendeu compreender como os(as) professores(as) expressam os dizeres sobre seu quefazer docente mediante círculos dialógicos formativos-investigativos considerando as interfaces entre o ensino médio e a juvenilização na EJA.
Outras duas pesquisas identificadas (AFRO, 2016; MACEDO, 2017) aplicam-se, de forma mais direta, a compreender o fenômeno juvenilização da EJA para, na sequência, analisar as possibilidades e os desafios que o fenômeno representa aos(as) professores(as). Sendo assim, um dos objetivos da pesquisa de Afro (2016) foi identificar junto aos(as) docentes quais as principais dificuldades enfrentadas devido à juvenilização experienciada no ensino médio das classes da EJA. Macedo (2017) estudou os desafios formativos dos(as) professores(as) para o trabalho junto aos(às) jovens, bem como construiu uma proposta formativa aos(às) professores(as) que considerasse as especificidades da juventude na EJA.
Já a pesquisa realizada por Oliveira (2016), pretendeu analisar as representações sociais dos(as) estudantes da EJA, de uma escola da rede estadual de ensino do município de Conceição da Feira-BA, acerca do currículo e juventude, ressaltando os desafios e as possibilidades na construção de um currículo que de fato atenda a cultura juvenil. Além disso, Oliveira (2016) apresentou um projeto de formação continuada para os(as) professores(as), extensivo aos(as) coordenadores(as) pedagógicos(as) e gestores(as), objetivando promover a reflexão e a compreensão das especificidades que perpassam esta modalidade educacional a partir do contexto de juvenilização, de forma que, os diálogos formativos e reflexivos e o ambiente colaborativo possibilitasse a construção de conhecimentos pertinentes a todos(as) os(as) profissionais que atuam junto aos(as) estudantes da EJA.
Nessa última categoria, Formação Docente, unanimemente as pesquisas revelaram que são muitos os desafios encontrados pelos(as) docentes, pelo fato de que com a juvenilização da EJA, defrontam-se com interesses de públicos diversos com distintas faixas etárias que exigem ajustes curriculares, metodológicos e didáticos e; inclusive verifica-se a ausência de formação profissional adequada às especificidades dessa modalidade educacional. Além disso, os(as) pesquisadores(as) coadunam que é preciso repensar o contexto da formação, haja vista as profundas mudanças políticas, sociais e culturais que perpassam a Educação de Pessoas Jovens e Adultas e, mais amplamente, a sociedade contemporânea.
Por fim, considera-se a formação dos(as) profissionais que atuam na Educação de Pessoas Jovens e Adultas como um requisito fundamental para que promovam experiências pedagógicas que reconheçam as pessoas jovens e adultas como construtoras de conhecimento. Ademais, destaca-se a necessidade de criarem-se espaços específicos para este fim, nas universidades e nas instituições formadoras. Dessa forma, são desejáveis mais investimentos em políticas públicas educacionais voltadas à formação de professores(as), a fim de favorecer o desenvolvimento do trabalho docente frente à EJA juvenilizada.
Tecendo algumas considerações
Perante o objetivo deste artigo ao apresentar as principais discussões e resultados situados nas pesquisas brasileiras sobre o fenômeno juvenilização na Educação de Pessoas Jovens e Adultas (EJA) e construir o estado do conhecimento a partir da análise de material coletado, é possível inferir que a temática se apresentou ainda timidamente entre as produções identificadas no Grupo de Trabalho de Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas da ANPEd nacional. Entretanto, constatou-se que as pesquisas sobre juvenilização ganharam espaço na última década nas publicações encontradas na CAPES e na BDTD. Supõe-se que tal configuração possa decorrer da história relativamente recente do fenômeno juvenilização na EJA, bem como a não problematização da inclusão desses(as) jovens e a sua invisibilidade no processo educativo.
Constatou-se, ainda, a realização de pesquisas a respeito do fenômeno juvenilização na Educação de Pessoas Jovens e Adultas, em todas as regiões brasileiras, nas mais diversas áreas de estudo, sobretudo com concentração nos Programas de Pós-Graduação em Educação e com predominância nos cursos de mestrado. Além disso, verificou-se que a maioria das publicações são oriundas de Instituições de Ensino Superior (IES) públicas e foram realizadas, majoritariamente, por pesquisadoras brasileiras.
Sendo assim, a partir da constituição deste artigo foi possível perceber que a juvenilização da EJA é um fenômeno que se tem intensificado ao longo da última década e que ainda existem “espaços” incompreendidos que revelam a necessidade de se ampliar as investigações sobre o fenômeno a fim de compreender os desafios e visualizar alternativas para de fato incluir os(as) jovens, com o intuito de que a EJA não seja mais um espaço caracterizado pela inclusão excludente, mas um espaço de legitimação de identidades.