Introdução
Um número significativo de inovações surge constantemente aliado a possiblidades apresentadas pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC). Assim, a ampla utilização de dispositivos digitais móveis para uso pessoal e profissional modifica significativamente os diferentes setores da sociedade, como o econômico, o político, o social e o cultural.
De acordo com dados do Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br (2016, 2019), o acesso às tecnologias digitais tem se ampliado nos últimos anos entre a população em geral, de maneira mais acentuada na camada mais jovem da população que chegou a 90% na faixa etária de 16 a 24 anos, “[...] o que indica que a Internet passou a ser elemento fundamental de socialização e ferramenta básica para aqueles que entram no mercado de trabalho” (CGI.BR, 2019, p. 23). Cresce, portanto, a importância do aprofundamento nos estudos sobre o uso das tecnologias digitais na educação, seus benefícios e seus desafios, principalmente para professores.
Este trabalho partiu de inquietações advindas da sala de aula e de uma curiosidade epistemológica sobre o que as pesquisas científicas em publicações internacionais apontam em termos dos desafios do letramento digital no ensino superior. Teve como objetivo compreender melhor o letramento digital em ambientes acadêmicos, de modo a ampliar e aprofundar o conhecimento sobre esse tema pela investigação do que tem sido estudado e pesquisado sobre letramento digital na área de ensino superior em contextos acadêmicos internacionais, em publicações em língua inglesa. Envolveu a realização de uma revisão sistemática da literatura como método de pesquisa, procurando publicações na base de dados Education Resources Information Center (ERIC).
A busca por artigos foi realizada no mês de março de 2020. Foram encontrados 41 artigos, no período de 2008 a 2019, com o termo digital literacy provenientes de 16 países diferentes. Primeiro, este texto apresenta o conceito de letramento digital, em seguida, trata da definição de revisão sistemática da literatura para, então, analisar os dados encontrados. Fecha-se com as considerações sobre as implicações pedagógicas da pesquisa realizada.
Letramento digital
A noção de letramento em português foi inicialmente utilizada para fazer uma distinção entre o processo de aprendizagem das habilidades escritas e o ensino da escrita no ambiente escolar com a apropriação sociocultural da língua (TFOUNI, 1988). Alguns autores (SOARES, 2002; KLEIMAN, 2007; ROJO, 2007) propõem a pluralização do termo, uma vez que nos ambientes digitais existem infinitas possibilidades de interação com vários tipos de textos.
O termo digital literacy (letramento digital) foi cunhado por Gilster (1997) no início da difusão da internet. O autor argumenta que o letramento digital está relacionado ao pensamento crítico e à avaliação de informação, mais do que aos conhecimentos técnicos. Para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO (2011, p. 4, tradução nossa), o “[...] letramento digital é tão relevante quanto a alfabetização tradicional – como a leitura e escrita, a matemática ou o gerenciamento do comportamento social”.
Assim, um indivíduo digitalmente letrado é aquele que “[...] sabe quando e como empregar efetivamente recursos digitais para resolver uma necessidade de informação” e “como avaliar documentos digitais” (MEYERS; ERICKSON; SMALL, 2013, p. 358, tradução nossa). Na visão de Gilster (1997), uma pessoa digitalmente letrada é alguém que adquiriu quatro habilidades que incluem: a) fazer uma avaliação crítica do conteúdo encontrado na rede; b) ler textos em um modelo não linear ou hipertexto; c) realizar pesquisas na internet; d) construir conhecimento, combinando informações produzidas na internet, navegando e realizando pesquisas.
Contudo, na visão de outros autores (SOARES, 2002; BUZATO, 2007), existem limitações para definir o letramento digital em termos de habilidades ou competências, porque elas não levam em conta as diferentes relações sociais nas quais a apropriação das tecnologias pode ser estabelecida. E ainda há que se tomar cuidado com as formulações conceituais, pois podem omitir usos culturais mais amplos da internet, que são relativamente fáceis de adquirir e se tornam obsoletos em curtos espaços de tempo, (BUCKINGHAM, 2006, OLIVEIRA NASCIMENTO; KNOBEL, 2017). Além de conhecimento sobre as tecnologias digitais e habilidades para manejá-las, é essencial a apropriação, ou seja, saber por que utilizá-las, quando, como, onde e, ainda, fazê-lo criticamente, obedecendo critérios de segurança, de ética no manejo e no uso de dados na comunicação (GILSTER, 1997).
Essa discussão aponta para a necessidade de educadores adotarem experiências de letramento digital em todas as áreas do ambiente de aprendizagem, para que possam utilizar a internet de maneira apropriada e crítica e ensinar seus alunos (ROSAEN; TERPSTRA, 2012, LANKSHEAR; KNOBEL, 2006). Entretanto, não se trata de tarefa fácil.
A apropriação de uma nova tecnologia vai além do conhecimento e demanda um conjunto de habilidades e atitudes. Cabe ao pesquisador realizar estudos que apresentem resultados que possam ser revertidos em benefícios para o professor e seus alunos em sala de aula. Assim, discute-se, aqui, a importância do letramento digital na educação, e, mais ainda, no ensino superior, ambiente onde se formam professores que vão educar crianças, jovens e adultos, o que indica a relevância de efetuar uma revisão sistemática de literatura sobre letramento digital no ensino superior.
Revisão sistemática
A tradição de revisões de literatura vem da medicina e outras ciências médicas e é utilizada para a comunicação de estudos na prática baseados em evidências. No Reino Unido, as revisões sistemáticas surgiram de uma necessidade identificada de melhores pesquisas baseadas em evidências dentro da profissão médica. No início dos anos de 1990, o governo do Reino Unido identificou uma lacuna entre profissionais da pesquisa, argumentando que os acadêmicos estavam conduzindo uma agenda de pesquisa com pouco uso percebido (TRANFIELD; DENYER; SMART, 2003). Com o propósito de suprir essa lacuna, o governo daquele país aconselhou os profissionais da área médica a estabelecerem redes de evidências com a missão de preencher e atualizar bases de dados de pesquisa por meio de técnicas sistemáticas. A ideia era promover formulações de políticas fundamentadas em evidências, permitindo, dessa forma, que os pesquisadores tivessem um panorama completo do que já havia sido realizado anteriormente por outros pesquisadores. Os princípios fundamentais das revisões sistemáticas se espalharam por distintas ciências no Reino Unido e começaram a ser praticadas em pesquisas de outras áreas como a gestão (TRANFIELD; DENYER; SMART, 2003; DENYER; NEELY, 2004 apud PITTAWAY; THORPE; MACPHERSON; HOLT, 2005).
Segundo o EPPI-Centre, o propósito de uma revisão sistemática é “[...] compilar a melhor pesquisa disponível sobre uma questão específica [...]”, enfatizando que os procedimentos de pesquisa devem ser definidos com antecedência e informados no relato dos resultados para assegurar que o trabalho possa ser replicado com a garantia de minimização de possíveis vieses. Gough, Oliver e Thomas (2019) apontam que revisões sistemáticas sobre os resultados de pesquisas já realizadas fornecem um relato confiável do estado de conhecimento atual, que também pode ser denominado base de evidência, sobre um problema específico que avalia e sintetiza os resultados com métodos rigorosos, explícitos e responsáveis.
Essencialmente, uma proposta de definição de revisão sistemática passa pelo anúncio de um método rigoroso, replicável, cientificamente responsável e transparente. As definições enfatizam também que a pesquisa deve utilizar processos de busca exaustiva de material publicado em determinada área de conhecimento e não apenas naqueles que são publicações de periódicos qualificados. Desse modo, os pesquisadores devem investigar toda a literatura dentro de seu protocolo de pesquisa (THORPE; HOLT; MACPHERSON; PITTAWAY, 2005; TRANFIELD; DENYER; SMART, 2003; GOUGH; RICHARDSON, 2018; GRANT; BOOTH, 2009; EPPI-Centre, 2004), incluindo também trabalhos classificados como grey (ou gray) literature, tais como relatórios técnicos, pesquisa em andamento e anais de congressos (KITCHENHAM, 2004; HOPEWELL; CLARKE; MALLETT, 2005; SCHMUCKER; BLUEMLE; BRIEL; PORTALUPI; LANG; MOTSCHALL; SCHWARZER; BRASSLER; MUELLER; VON ELM; MEERPOHL, 2013; PAEZ, 2017).
Vários autores propõem um conjunto de etapas a serem seguidas em um protocolo de revisão sistemática (RAMOS; FARIA; FARIA, 2014; SAUR-AMARAL, 2011; GOUGH; THOMAS; OLIVER, 2012; RAMOS; FARIA, 2012; KOFINAS; SAUR-AMARAL, 2008; TRANFIELD; MOUCHEL, 2002). Briner e Denyer (2012) organizam o protocolo de pesquisa em cinco passos principais, como ilustrado na Figura 1.
Nas próximas linhas, seguem-se uma sequência das etapas da revisão sistemática adaptada ao modelo exposto.
Planejamento da pesquisa
O problema de pesquisa refere-se a desafios do uso das TDIC em educação, atrelados à necessidade de desenvolvimento de competências para apropriação dessas tecnologias por professores e alunos. Assim, objetiva-se investigar o que tem sido estudado e pesquisado sobre letramento digital na área do ensino superior, em contextos acadêmicos internacionais com o objetivo ampliar e aprofundar o conhecimento sobre esse tema.
Localização dos estudos
A partir de uma coleta de publicações em língua inglesa, realizou-se uma revisão sistemática da literatura, selecionadas na base de dados ERIC. A escolha de artigos com o termo digital literacy no título justifica-se em razão de selecionar artigos que possuíssem esse assunto como foco central.
O ERIC é uma biblioteca digital de pesquisa e informações educacionais disponível na internet, patrocinada pelo Institute of Education Sciences (Instituto de Educação em Ciências) do Departamento de Educação dos Estados Unidos. Feita a escolha da base de dados, prosseguiu-se com a pesquisa sobre o letramento digital no site do ERIC (https://www.eric.ed.gov/).
Na etapa do planejamento da pesquisa, definiu-se o protocolo que inclui os critérios de inclusão e exclusão de estudos sobre letramento digital.
Avaliação das contribuições
Nesta etapa, procedeu-se à busca dos artigos e à organização dos trabalhos encontrados. Os critérios de inclusão foram: artigos relacionados à área do ensino superior com o termo digital literacy no título, publicados em periódicos revisados por pares, disponíveis para download gratuito. Os critérios de exclusão foram: trabalhos que não fossem artigos; artigos não relacionados à área do ensino superior; textos que não possuíam o termo exato digital literacy no título; artigos que não foram publicados em periódicos revisados por pares e não disponíveis para download gratuito.
Assim, foram assinalados os critérios: title: “digital literacy” (entre aspas, para encontrar o termo exato), artigos de periódicos revisados por pares, texto completo disponível no ERIC, sobre “higher education” (http://www.eric.ed.gov/?q=title%3a%22digital+literacy%22&pr=on&ft=on&ff1=pubJournal+Articles&ff2=eduHigher+Education). A base mostrou 41 artigos, que foram enviados por e-mail. Foram considerados também artigos que tinham no título os termos: Digital Literacies; Digital Information Literacy; Digital, Discipline-Specific Literacy; Digital Online Media Literacy. Esses títulos foram considerados para a análise por serem relacionados a letramento digital e por terem sido incluídos na lista de resultados do ERIC na busca. Assim, privilegiou-se o critério de replicabilidade da revisão sistemática.
No passo seguinte, ao analisar cada artigo, foi possível visualizar as informações da base, como tipo de publicação, nível educacional, instituição autora e país dos pesquisadores (https://www.eric.ed.gov/?id=EJ1156711).
Os resumos foram copiados em uma tabela em Word e todos os artigos baixados e salvos em PDF em uma pasta do Windows. Esses documentos também foram salvos no Google Drive para compartilhamento entre as autoras durante a pesquisa, redação do artigo e para utilização futura.
Análise e discussão
Foram encontrados 41 artigos sobre letramento digital na base de dados ERIC, publicados de 2008 a 2019, segundo os critérios adotados na pesquisa: artigos revisados por pares, disponíveis na base do ERIC para download gratuito, relacionados ao ensino superior.
Análise quantitativa
Dos estudos analisados, 32 também foram classificados (pela base de dados do ERIC) como vinculados a post-secondary education e higher education. Deve ser enfatizado que há artigos que abordam vários níveis educacionais, além do ensino superior. No Gráfico 1, apresenta-se a distribuição dos artigos selecionados em relação ao ano de publicação.
Foram considerados todos os artigos encontrados na base ERIC sobre letramendo digital no ensino superior dentro dos critérios adotados. Em 2008, 2009 e 2010, houve uma publicação sobre o tema em cada ano. Em 2012, duas publicações; em 2013 e 2015, quatro. Em 2016, o número de publicações aumentou para sete, diminuindo para cinco, em 2017 e subindo para doze, em 2018. Há um decréscimo em 2019, ano em que quatro artigos foram publicados. A totalidade das publicações de 2019 pode não ter sido disponibilizada na base de dados, o que levaria a supor que o número desse ano poderia ser maior.
É interessante notar no gráfico 1 que houve um aumento considerável de artigos publicados entre os anos de 2015 e 2018. Em 2019, esse número retorna ao nível de 2015.
Os artigos encontrados são do tipo relato de pesquisa, análise de informação e resultados da aplicação de testes/questionários. Essas informações foram retiradas dos dados do ERIC. A maioria dos artigos trata de relatos de pesquisa (37), representando 90% das publicações. Os demais são: dois sobre análise de informação (5%) e dois sobre testes/questionários (5%).
A identificação da origem dos autores mostrou artigos de universidades de 16 diferentes países, com destaque para os Estados Unidos, com onze artigos, e a Turquia, com sete. Três artigos são do Reino Unido, África do Sul e Singapura. Canadá, Líbano e Japão aparecem com dois artigos cada um. Com um artigo, foram encontrados os países: Nova Zelândia, Indonésia, Espanha, Coreia do Sul, Israel, Austrália, Itália e Ilha de Man. Observa-se que não há artigos de autores provenientes do Brasil. Pesquisas recentes em língua portuguesa sobre a produção o tema letramento digital (artigos de uma das autoras que aguardam publicação) identificaram 98 artigos sobre letramento digital e educação, nos últimos cinco anos, e 22, sobre formação de professores, nos últimos 10 anos. Esses resultados podem indicar a preferência dos pesquisadores brasileiros pela publicação em periódicos em língua portuguesa.
A par disso, pesquisadores brasileiros que se debruçam no tema adotam diferentes denominações como: letramento digital, literacia digital, alfabetização digital. Os temas dos artigos selecionados revelaram uma escolha pela análise dos problemas de pesquisa, que foram agrupados em categorias que emergiram da pesquisa.
As categorias codificadas para facilitar a atribuição aos artigos analisados foram as seguintes:
✓ Atividades com recursos imersivos (RI): 4 artigos.
✓ LD associado a aspectos psicológicos (PSI): 12 artigos.
✓ Níveis de Letramento digital (NLD): 4 artigos.
✓ Impactos de características pessoais na apropriação do letramento digital (ILD): 6 artigos.
✓ Metodologias, estratégias e recursos (MTR): 8 artigos.
✓ Propostas teóricas, políticas, reflexões (PTR): 7 artigos.
O Gráfico 2 ilustra as percentagens das categorias dos artigos.
Dos temas que surgiram nas categorias, ressalta-se o interesse do estudo do LD associado a aspectos psicológicos (29%), com expressiva representação da categoria que englobou propostas de Metodologias, técnicas e recursos para o ensino do LD (19%). Com representatividade um pouco menor, verificou-se a categoria de Propostas teóricas, políticas, reflexões sobre o letramento digital na educação (17%) e Impactos de características pessoais de participantes das pesquisas no perfil de competências para o letramento digital (15%). As categorias Pesquisas sobre níveis de letramento digital e sobre a aplicação de Atividades com recursos imersivos representaram 10% cada uma.
O Gráfico 3 apresenta a distribuição dos artigos por países, relacionando-os com as universidades dos autores.
O Gráfico 3 destaca situações distintas com relação aos temas investigados. Dentre os países que tiveram maior representatividade na pesquisa estão os Estados Unidos com 11 artigos que mostram certa variedade e tratam de Propostas teóricas, questões políticas e reflexões – quatro artigos (BLUMMER, 2017; CORDELL, 2013; MARTZOUKOU; ELLIOTT, 2016; SPARKS; KATZ; BEILE, 2016); Metodologias e estratégias – dois artigos (HALLAQ, 2016; HILL, 2016); Impactos de características pessoais na apropriação do letramento digital– um artigo (ENGLISH, 2016); Níveis de letramento digital, com um artigo (DAVIS, 2009); e Atividades com recursos imersivos – três artigos (HUNTER; SILVESTRI; ACKERMAN, 2018; BURGESS; PRICE; CAVERLY, 2012; JENSEN; PAIGE; SWEREDOSKI; YANOFF, 2010). Em segundo lugar, em termos de números de artigos analisados, tem-se a Turquia com sete artigos que abordam dois temas: LD associado a aspectos psicológicos – seis artigos (ÖZDEN, 2018; ATA; YILDIRIM, 2019; ÇOCUK; YANPAR YELKEN, 2018; ÖNGER; ÇETIN, 2018; ALTUN, 2019; OZDAMAR; OZATA; ROYLE, 2015); e níveis de LD – um artigo (ÇAM; KIYICI, 2017).
Com três artigos no total, têm-se África do Sul, Reino Unido e Singapura. A África do Sul surge com dois artigos sobre Metodologias, estratégias e recursos (STEYN, 2018; TAKAVARASHA; CILLIERS; CHINYAMURINDI, 2018); e um sobre LD associado a aspectos psicológicos (CHINYAMURINDI; DLAZA, 2018). Dois artigos de autores do Reino Unido relatam sobre Impactos de características pessoais na apropriação do letramento digital (HALL; NIX; BAKER, 2013; JONES; LEA, 2008); e um, sobre Propostas teóricas, políticas, reflexões (GRUSZCZYNSKA; MERCHANT; POUNTNEY, 2013). Foi encontrado um artigo de Singapura sobre Atividades com recursos imersivos (CHAN; CHURCHILL; CHIU, 2017); um, sobre LD associado a aspectos psicológicos (KEBBLE, 2018); e um, sobre Propostas teóricas, políticas, reflexões (TANG; CHAW, 2016).
Canadá, Líbano e Japão publicaram dois artigos cada. O Canadá publicou um artigo sobre Metodologias, estratégias e recursos (HANBIDGE; SANDERSON; TIN, 2015); e um, sobre Propostas teóricas, políticas, reflexões (ANDEMA; KENDRICK; NORTON, 2013). O Líbano publicou um artigo sobre Impactos de características pessoais na apropriação (MELKI, 2015); e um, sobre Níveis de LD (DE COURSEY; DANDASHLY, 2015). O Japão publicou um artigo sobre Impactos de características pessoais na apropriação do letramento digital (COTE; MILLINER, 2017); e um, sobre Níveis de LD (COTE; MILLINER, 2018).
Os países que apresentaram um único artigo foram: Austrália, Coréia do Sul, Espanha, Indonésia, Ilha de Man, Israel, Itália e Nova Zelândia com os seguintes temas: Austrália (SON; PARK; PARK, 2017) sobre LD associado a aspectos psicológicos; Coréia do Sul (KIM, 2019) sobre LD associado a aspectos psicológicos; Espanha (GÓMEZ-TRIGUEROS; RUIZ-BAÑULS; ORTEGA-SÁNCHEZ, 2019) sobre Níveis de LD; Indonésia (DURRIYAH; ZUHDI, 2018) sobre Níveis de LD; Ilha de Man (CREER, 2018) sobre Impactos de características pessoais na apropriação do LD; Israel (PIETERSE; GREENBERG; SANTO, 2018) sobre LD associado a aspectos psicológicos; Itália (FEOLA, 2016) sobre LD associado a aspectos psicológicos; e Nova Zelândia (NOVEMBER; DAY, 2012) sobre Metodologias, estratégias e recursos.
Encontram-se, portanto, artigos de variados temas, vistos sob diferentes ângulos, por distintos pesquisadores de diversos países, o que possibilita olhares diversificados para os desafios do letramento digital. Os principais resultados indicam que os pesquisadores realizam estudos sobre letramento digital no ensino superior por várias razões: as diferenças educacionais, culturais, sociais e políticas de cada país, além do interesse particular dos pesquisadores.
Discussão
Dentre os artigos selecionados, houve alguns com poucas ou insuficientes informações sobre o problema de pesquisa e objetivos, o que dificultou a análise dos resultados. Embora a busca tenha primado por utilizar o termo “letramento digital” (com aspas) no título, para garantir a busca pelo termo exato, mesmo assim, foram encontrados nove artigos que não obedeceram a esse comando. Esses artigos foram considerados para a análise pela coerência com as orientações da revisão sistemática.
Um aspecto que limita a revisão sistemática na área da educação é a disponibilidade de bases de dados que ofereçam artigos revisados por pares e acesso aos documentos originais mediante uma política de acesso livre. A base de dados ERIC, dentre várias pesquisadas, foi a única que ofereceu essas condições, motivo pelo qual foi escolhida.
Este artigo apresenta uma análise e uma síntese de informações por um viés quantitativo, percurso metodológico que privilegia números de publicações distribuídas ao longo do período pesquisado, localização de autores dos artigos e temas de investigação. Um caminho que não privilegia a análise dos problemas de pesquisa em profundidade, mas permite apresentar resultados que podem aguçar a curiosidade para o aprofundamento de aspectos distintos relacionados ao letramento digital.
O número de artigos encontrados dentro dos critérios adotados na pesquisa não permite generalizações. Entretanto, aponta para possibilidades múltiplas de pesquisa futura, dada a variedade de temas tratados nos artigos analisados. Com relação ao tipo de metodologia utilizada, confirma-se a conclusão, apontada por Ramos, Faria e Faria (2014), sobre Brasil e Portugal não possuírem tradição na investigação científica relacionada aos métodos de revisão sistemática voltada à área da educação, o que foi constatado na presente pesquisa. Daí o compromisso de pesquisadores brasileiros no desenvolvimento desse tipo de estudo, e sua divulgação, no intuito de contribuir com a comunidade acadêmica em nosso país.
Considerações finais
O impacto das novas tecnologias na educação mostra-se significativo, na medida em que as tecnologias digitais estão presentes na educação, seja nos aspectos da gestão acadêmica, seja dentro e fora das salas de aulas. Considerada a relevância do letramento digital de professores e de estudantes, buscou-se, neste artigo, compreender melhor esse tema por meio de uma pesquisa utilizando-se o método da revisão sistemática da literatura. Para tanto, utilizou-se a base de dados ERIC, onde buscamos artigos revisados por pares e disponíveis para download gratuito.
A pesquisa de que trata o presente trabalho foi realizada em março de 2020. Foram identificados 41 artigos sobre digital literacy em higher education, no período de 2008 a 2019 na base de dados ERIC. Os resultados da pesquisa mostram um crescimento do número de artigos nos últimos anos. A maioria dos artigos trata de relatos de pesquisa (90%). Foram encontrados, dentro dos critérios da pesquisa, artigos de autores de universidades baseadas em 16 diferentes países, entretanto, nenhum deles de autoria de pesquisadores brasileiros. Desse modo, o Brasil não consta entre os países com expressivo número de artigos sobre o tema.
Os artigos selecionados trataram dos seguintes temas: atividades com recursos imersivos; pesquisas sobre letramento digital associado a aspectos psicológicos, como atitude, percepção, estilos de aprendizagem, crença de autoeficácia, dentre outros; níveis de letramento digital; impactos de características pessoais na apropriação do letramento digital; metodologias, estratégias e recursos para o desenvolvimento do letramento digital; propostas teóricas e políticas; além de reflexões.
Os resultados da pesquisa mostram a necessidade dos professores em buscar a apropriação das novas tecnologias digitais para o uso em educação. Pesquisas futuras devem buscar uma melhor compreensão das formas de se desenvolver o letramento digital de professores e, também, de estudantes.
Isso poderia acontecer de várias formas dependendo da situação de aprendizagem. Para o desenvolvimento de competências de letramento digital de professores em formação, sugere-se a inclusão de disciplinas eletivas nos currículos dos programas de formação, principalmente, nas licenciaturas. Além disso, recomenda-se incluir disciplinas obrigatórias com conteúdos relacionados ao uso das TDIC no currículo, incluindo as disciplinas relacionadas a letramentos, metodologia científica, didática etc. Além de disciplinas teóricas, poderia ser uma boa alternativa a oferta de atividades práticas, aulas de laboratório, atividades de iniciação científica e de extensão.
Para os professores, recomenda-se a criação de comunidades de prática entre docentes, nas quais os pares mais experientes poderiam ajudar os demais a se desenvolver, além da realização de oficinas nas quais os docentes poderiam compartilhar experiências de atividades realizadas com seus alunos e colegas.
Revisões sistemáticas podem gerar recomendações e novas inquietações para pesquisadores e educadores. Neste artigo, a pesquisa concentrou-se no contexto do ensino superior, mas as possibilidades para a pesquisa em outros níveis e modalidades de ensino são inúmeras. A contribuição que o artigo pode trazer para a comunidade de pesquisadores é gerar mais perguntas, dúvidas e inquietações, proporcionando, assim, oportunidades de novas investigações no campo do letramento digital.
Torna-se relevante continuar a pesquisar o tema diante dos desafios enfrentados pela pandemia causada pelo Covid-19, uma vez que várias instituições adotam o ensino remoto, mediado pelas tecnologias digitais, o que requer o desenvolvimento do letramento digital e indica a urgência de novas investigações sobre o tema.