1 Introdução
O atraso na conclusão de um curso superior representa uma perda social, visto que há gastos desnecessários tanto a nível individual como coletivo, fazendo com que não haja o devido retorno do investimento na Educação Superior. Do ponto de vista individual, ao demorar a concluir o curso, o indivíduo está deixando de receber os benefícios proporcionados pela diplomação, como seus possíveis rendimentos como graduado. Além disso, os estudantes que adiam a Graduação estão contribuindo para uma má alocação dos recursos das universidades e também impedem o aumento da quantidade de profissionais qualificados no mercado de trabalho.
Segundo o Censo de Educação Superior, entre 2006 e 2016, o número de matrículas na Educação Superior aumentou 62,8%, com uma média anual de 5,0% de crescimento. Porém, a quantidade de alunos concluintes, em 2014, por exemplo, era de 44,7% nas instituições públicas, apontando altas taxas de evasão e de retenção.
Nesse âmbito, refere-se à retenção como o processo que decorre da permanência prolongada do estudante universitário na instituição que ultrapassa o período regular de integralização do curso. Esse fenômeno é um dos fatores que interfere nos recursos financeiros que são repassados às Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), pois integra o cálculo do Total de Alunos Equivalentes de Graduação (Taeg)1 . Desse modo, as Ifes que possuem o maior quantitativo de alunos equivalentes, terão um maior recebimento de recursos, enquanto que, quanto maior a porcentagem de alunos que não se formam no tempo regular, menor será o Taeg. Logo, haverá uma redução do financiamento recebido. Dessa forma, ao considerar esse índice para a destinação de recursos, surge uma maior preocupação para incentivar a taxa de sucesso do discente.
A partir de dados da Diretoria de Estatísticas Educacionais do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Deed/Inep), certifica-se uma estimativa de investimento público direto por estudante universitário de R$ 23.215,00, para o ano de 2015. Essa quantia seria o gasto médio de se manter um aluno por mais um ano na universidade, demonstrando uma grande problemática em mitigar a retenção discente.
Na literatura, diversos trabalhos procuram investigar os fatores que impactam a evasão no Ensino Superior ( BAGGI; LOPES, 2011 ; PRESTES; FIALHO, 2018 ; SACCARO; FRANÇA; JACINTO, 2016; SILVA FILHO et al., 2007), porém, a investigação sobre a retenção é secundária, em que não se identificam trabalhos sobre os determinantes acadêmicos da retenção nas instituições de Ensino Superior público no Brasil.
Logo, este trabalho procura contribuir com a literatura ao fornecer uma análise dos determinantes acadêmicos relacionados ao discente, ao curso e à instituição que influenciam a retenção nas instituições federais de Ensino Superior público. Além disso, procurou-se considerar as especificidades das diferentes áreas de conhecimento, de forma a identificar se os determinantes variam entre elas. Para tanto, fez-se uso dos dados do Censo de Educação Superior, referente ao ano de 2016 e estimou-se um modelo econométrico politocômico ordenado.
Assim, o escopo desse artigo está organizado em mais quatro seções. A próxima refere-se a um levantamento teórico acerca da retenção no Ensino Superior. Em seguida, é apresentado a metodologia adotada. Logo após, expõe-se os resultados estimados e, por fim discorre-se as considerações finais.
2 Revisão de Literatura
2.1 Retenção no Ensino Superior
No Brasil, a retenção é conceituada como permanência prolongada do aluno na universidade, em que o discente continua em situação de matriculado no curso de Graduação por um tempo maior do que o planejado pelo currículo da instituição (LIMA JÚNIOR et al., 2019; VASCONCELOS; SILVA, 2011 ).
Segundo Lamers et al. (2017) , a retenção ocorre por motivo de suspensão, cancelamento ou trancamento de matrícula ou repetência, fazendo com que o estudante necessite de um maior período para finalizar o curso.
De acordo com Campelo e Lins (2008) e Mainier et al. (2006) , o atraso no término da graduação pode levar o aluno a evasão. Assim, essas duas definições estão bastantes associadas, evidenciando a importância da redução da retenção para combater os antecedentes que ocasionam a desistência permanente do estudante. Em vista disso, os fatores determinantes da retenção estão estritamente ligados aos fatores que levam à evasão.
Estudos da literatura brasileira evidenciam que fatores internos e externos à instituição determinam a retenção. Dentre os fatores externos, ressaltam-se as dificuldades dos estudantes em conciliar a carga horária das aulas e do trabalho ( VANZ et al., 2016 ). Na pesquisa de Vasconcelos e Silva (2011) , o perfil do aluno retido é aquele que possui idade acima da média dos universitários (31 a 50 anos), possui filhos e tem a responsabilidade de sustento da família. Em relação aos fatores internos, destacam-se a falta de apoio financeiro e a falta ou restrição de programas acadêmicos (auxílios financeiros, bolsas e monitoria). Esses fatores também estão associados aos cursos, exemplificando, citam-se as dificuldades nas disciplinas, metodologias dos professores e a falta de prática do curso ( SILVA, 2017 ).
Da mesma forma, a retenção é considerada uma preocupação notável para os formuladores de políticas em outros países. Conforme Vidales (2009) , a evasão e a retenção, classificadas como um fracasso escolar, têm sido questões preocupantes na maioria dos países, desde os europeus até os latino-americanos, sendo considerados fenômenos complexos e multidimensionais que constituem uma problemática educativa e social.
Na literatura internacional, os fatores que influenciam na retenção discente na Educação Superior estão voltados ao mercado de trabalho e ao comprometimento do aluno durante a Graduação. A necessidade de trabalhar em tempo parcial para financiar os estudos, as perspectivas de empregos ruins e taxa de desemprego elevada reduzem o estímulo para a formação regular (AINA; CASSALONE, 2011; BRUNELLO; WINTER-EBMER, 2003 ). Além disso, segundo Brunello e Winter-Ebmer (2003) , o atraso na Graduação é substancialmente maior em países europeus com proteção mais rigorosa do emprego e que a Graduação de faculdades percebidas como de maior qualidade demanda maior tempo, talvez por causa do currículo mais exigente.
Ferrão e Almeida (2018) reforçam que os alunos que são admitidos na primeira opção de curso têm maior probabilidade de concluir a Graduação em comparação aos alunos não admitidos em sua primeira escolha, afirmando que o efeito da admissão na primeira opção de curso parece captar a motivação e o comprometimento do aluno em terminar o curso com sucesso. Ademais, aqueles estudantes que não declararam repetência na Educação Básica têm maior probabilidade de sucesso no Ensino Superior, reforçando o que Ferrão (2015) afirma, que a repetição precoce é um forte preditor de repetição tardia.
Nessa perspectiva, English e Umbach (2016) acrescentam que o sucesso do estudante na Educação Superior está relacionado ao desempenho acadêmico, ao processo de admissão ao Ensino Superior, compreendendo a escolha da instituição e do curso.
Lima Júnior et al. (2019) colocam que a retenção é vinculada à problemas que podem ser resolvidos pela própria instituição, tais como as oportunidades de aprendizagem, a oferta de disciplinas, a concepção curricular dos cursos, o acolhimento da diversidade, entre outros.
É possível, ainda, que fatores anteriores à inserção do Ensino Superior venham a influenciar a retenção. Por exemplo, a qualidade dos docentes na Educação Básica. Como Bauer, Cassettari e Oliveira (2017) afirmam, um dos fatores para melhoria da qualidade da Educação em geral está nas políticas públicas direcionadas aos docentes, uma vez que esses compõem o fator direto que influencia a aprendizagem dos alunos.
Em vista disso, muitos pesquisadores discorrem possíveis políticas para a redução da retenção. Tais políticas estão associadas à ampliação ou à criação de bolsas, visando ao apoio financeiro, maior integração ao ambiente acadêmico, informação e motivação dos estudantes sobre as possibilidades de carreira em sua futura área de atuação (BARCELOS JÚNIOR, 2015). Essas políticas também estão ligadas ao aprendizado. Pereira (2013) propôs um sistema de programas de suporte acadêmico para melhorar o aprendizado e o desempenho acadêmico, como tutoria, orientação acadêmica e monitorias.
Araújo e Leite (2014) e Saccaro, França e Jacinto (2016) enfatizam a importância dos programas de bolsas permanência na Educação Superior brasileira, que visam a auxiliar financeiramente os estudantes de Ensino Superior que, na média, são menos abastados e, portanto, mais propensos à evasão e também à retenção.
Andriola e Araújo (2018) destacam a relevância da seleção de indicadores educacionais pelos gestores, como método de obter informações e ter um diagnóstico situacional da instituição, estabelecendo um planejamento estratégico para adoção de ações e de projetos
Nessa mesma linha, Donoso-Díaz, Iturrieta e Traverso (2018) alertam que devido à rápida e massiva expansão do Ensino Superior na América Latina nos últimos anos, preocupações vêm sendo geradas, como o aumento das taxas de retenção, principalmente se considerar a mudança de perfil dos ingressantes. Os autores destacam a importância de estratégias e de ações para minimizar as taxas de retenção. Uma das mais importantes abordadas está no desenvolvimento de Sistemas de Alerta Precoce que são definidos como a criação de sistemas de alertas automatizados que buscam detectar o aluno que possuem risco de atraso ou de abandono, antecipando, assim, a ocorrência desses fatores. Dessa forma, é possível adotar medidas que possam minimizar as condições ruins dos alunos e influir na sua decisão de não atrasar ou de abandonar o curso.
É sobre esse contexto que o presente artigo vem contribuir com a literatura, identificar fatores acadêmicos que podem determinar a retenção no Ensino Superior, embasando, assim, a criação dos Sistemas de Alerta Precoce das instituições de Ensino Superior.
3 Metodologia
3.1 Modelo econométrico
Tendo em vista o objetivo proposto, adotou-se uma metodologia com um modelo econométrico do tipo logit ordenado2 , que possui uma variável de resposta politocômica, ou seja, a variável dependente Y possui mais de duas respostas possíveis e essas apresentam um ordenamento. A escolha desse modelo é justificada pelo objetivo de identificar a quantidade do tempo de retenção dos alunos, considerando os seguintes casos ordenados: alunos que não se encontram na condição de retenção, aqueles que estão retidos entre 6 e 18 meses e os que estão vinculados fora do prazo previsto há mais de 18 meses.
Assim, o modelo assume a seguinte estrutura geral:
Onde Y representa uma variável latente observada na forma discreta mediante uma classificação, assumindo a seguinte estrutura:
Sendo β i o vetor de K parâmetros a serem estimados, X i o conjunto de variáveis explicativas e o erro aleatório, ε i .
Para determinar os limites do intervalo da variável latente em (2), calculou-se a variável dependente retenção em anos de acordo com a equação (3). Nessa equação, foi considerado o ano de conclusão como sendo 2016, em que esse é subtraído pelo ano de ingresso no curso, observando o semestre e a duração do curso. Com isso, estabeleceu-se a situação do vínculo do aluno, se está retido ou não, e, no caso positivo, há quanto tempo apresenta-se nessa situação.
Em seguida, computou-se a retenção em meses, mapeando assim a escala da variável dependente:
Assim, o modelo permite a estimação de probabilidades de Y em assumir um ranking de valores, no caso 0, 1 e 2 e encontrar os efeitos marginais das variáveis.
3.2 Base de dados
Para avaliar as variáveis que afetam a retenção nos cursos de graduação das Ifes, utilizaram-se dados disponibilizados pelo Inep, o Censo de Educação Superior e o Índice Geral dos Cursos (IGC), referentes ao ano de 2016. O IGC, segundo o Ministério da Educação (MEC), é um indicador de Qualidade da Educação Superior composto pela média ponderada envolvendo as notas dos cursos de graduação, os Conceitos Capes e o número de matrículas dos cursos de Pós-Graduação. Sendo assim, o IGC reflete a qualidade dos cursos que, por sua vez, poderá afetar de forma positiva na diminuição das taxas de retenção das instituições de Ensino Superior. Foram consideradas apenas as Ifes4 e seus cursos presenciais, sendo realizados alguns filtros na amostra, tais como: selecionou-se somente alunos em situação de concluinte5 e ingressantes no curso por meio do Enem ou de vestibular.
A relação entre abandono e retenção é bastante considerada na literatura (CUNHA; TUNES; SILVA, 2001; LOTUFO et al., 1998 ; MAGALHÃES; REDIVO, 1998 ; MAZZETTO; BRAVO; CARNEIRO, 2002; RIBEIRO, 2005 ). Numa regressão de abandono, omitir a retenção poderá gerar viés nas estimativas (omissão de variáveis), pois a retenção pode levar ao abandono, porém, a volta não é observada. Logo, acredita-se que não se têm elevadas perdas em não considerar os alunos que abandonaram na análise. Embora, exista uma relação entre tempo de retenção de abandono, os alunos podem abandonar o curso por diferentes fatores, tais como: descontentamento com horários das disciplinas, falta de cursos noturnos, impossibilidade de trabalhar e estudar ao mesmo tempo ( LOTUFO et al., 1998 ; MACHADO, MELO FILHO; PINTO, 2005; MAGALHÃES; REDIVO, 1998 ; MAZZETTO; BRAVO; CARNEIRO, 2002; PACHECO et al., 2001 ; VELOSO; ALMEIDA, 2002 ), mau relacionamento professor-aluno (CUNHA; TUNES; SILVA., 2001; VELOSO; ALMEIDA, 2002 ), pouca integração social à universidade ( POLYDORO, 2000 ; TINTO, 1997 ), expectativas não correspondidas e falta de informações sobre curso e profissão (CUNHA; TUNES; SILVA, 2001; LOTUFO et al., 1998 ; MACHADO; MELO FILHO; PINTO., 2005; MAGALHÃES; REDIVO, 1998 ; PACHECO et al., 2001 ; RIBEIRO, 2005 ), problemas financeiros ( LOTUFO et al., 1998 ; MACHADO; MELO FILHO; PINTO, 2005; PACHECO et al., 2001 ; PALMA; PALMA; BRANCALEONI, 2005; POLYDORO, 2000 ; RIBEIRO, 2005 ), dentre outros, que não necessariamente tempo de retenção.
Com isso, não considerar os alunos que abandonaram não significa, necessariamente, que haverá uma perda significativa de alunos retidos com alto tempo de evasão, pois o desligamento costuma ser maior nos anos iniciais do curso ( MAGALHÃES; REDIVO, 1998 ; PALMA; PALMA; BRANCALEONI, 2005; PRADO, 1990 ; RIBEIRO, 2005 ; SBARDELINI, 1997 ; VELOSO; ALMEIDA, 2002 ). No modelo apresentado pela equação (1), a variável dependente é a retenção discente, classificada de acordo com a ordenação presente na equação (4) e as variáveis explanatórias utilizadas referem-se às características dos alunos, à localização da instituição e ao ambiente acadêmico, identificadas no Quadro 1 .
Variáveis | Descrição |
---|---|
Aluno | |
Idade | anos de idade |
Sexo | 1 = se masculino; 0 = se feminino |
Cor_Raça | 1 = se branca; 0 = se não branca |
Localização | |
Capital* | 1 = s e a IFES está localizada na capital; 0 = se está localizada no interior |
Região_ne | 1 = se a IFES está localizada na região Nordeste; 0 = caso contrário |
Região_s | 1 = se a IFES está localizada na região Sul; 0 = caso contrário |
Região_se | 1 = se a IFES está localizada na região Sudeste; 0 = caso contrário |
Região_co | 1 = se a IFES está localizada na região Centro-Oeste; 0 = caso contrário |
Acadêmicas | |
Cotista | 1 = se o discente ingressou por meio de reserva de vagas de cunho étnico, social, renda familiar, egresso de escola pública e outros; 0 = ampla concorrência |
Bolsista | 1 = se o discente participa de algum programa de bolsas remunerado de estágio não obrigatório, monitoria, pesquisa e extensão; 0 = caso contrário |
Ing_enem | 1 = se o discente ingressou por seleção via Enem; 0 = se ingressou por meio do vestibular |
Apoio_social | 1 = se o discente recebe algum auxílio na forma de moradia, transporte, alimentação, material didático e bolsas (trabalho/permanência); 0 = caso contrário |
Tipo_escola | 1 = se o discente cursou o ensino médio em escola pública; 0 = se cursou em escola particular |
Turno_mat** | 1 = se o curso de graduação é matutino; 0 = caso contrário |
Turno_not | 1 = se o curso de graduação é noturno; 0 = caso contrário |
Turno_integ | 1 = se o curso de graduação é integral; 0 = caso contrário |
Grad_bacharelado*** | 1 = se o curso de graduação é do tipo bacharelado; 0 = caso contrário |
Grad_licenciatura | 1 = se o curso de graduação é do tipo licenciatura; 0 = caso contrário |
IGC | Índice Geral dos Cursos |
Fonte: Elaboração própria (2018)
* Informa se o local de oferta do curso presencial está localizado na capital
** Destaca-se que dentre os alunos existem também aqueles que estão matriculados em cursos de turno vespertino
*** Destaca-se que dentre os alunos existem também aqueles que estão matriculados em cursos de grau tecnológico
4 Resultados
4.1 Análise Descritiva
A Tabela 1 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis empregadas neste estudo. Primeiro, apresentam-se as estatísticas descritivas da amostra total e, posteriormente, são apresentados os dados agrupados para cada uma das oito áreas gerais dos cursos de Graduação6 . A amostra obtida é composta por 66.019 alunos; em relação à situação final deles, apenas 17.576 (26,62%) colaram grau no tempo previsto, 30.387 (46,03%) ficaram retidos entre um a três semestres e 18.056 (27,35%) ficaram retidos por um período maior que três semestres.
Variáveis | Todas as Áreas Gerais do Cursos | Educação | Humanidade e Artes | Ciências sociais, negócios e direito | Ciências, matemática e computação | Engenharia, produção e construção | Agricultura e veterinária | Saúde e bem estar social | Serviços |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Dependente | |||||||||
retençao | 1,0073 | 1,0777 | 1,1972 | 0,9088 | 1,1432 | 1,1764 | 0,9370 | 0,7463 | 1,1545 |
Aluno | |||||||||
Idade | 26,1707 | 27,8761 | 27,2085 | 26,2698 | 24,6600 | 25,1818 | 25,3865 | 25,5728 | 27,8241 |
Sexo | 0,5762 | 0,6611 | 0,5778 | 0,5922 | 0,4033 | 0,4048 | 0,4979 | 0,7504 | 0,6746 |
Cor_raça | 0,5516 | 0,4361 | 0,5665 | 0,5567 | 0,5991 | 0,6667 | 0,5669 | 0,5568 | 0,4755 |
Localização | |||||||||
Capital | 0,6362 | 0,6796 | 0,6178 | 0,6845 | 0,6314 | 0,5869 | 0,5688 | 0,5959 | 0,6476 |
Região_ne | 0,2984 | 0,3485 | 0,2756 | 0,3148 | 0,2813 | 0,2262 | 0,1835 | 0,3419 | 0,3505 |
Região_co | 0,1324 | 0,1490 | 0,1135 | 0,1569 | 0,1101 | 0,1149 | 0,1624 | 0,1058 | 0,0848 |
Região_s | 0,1778 | 0,1317 | 0,2004 | 0,1655 | 0,1615 | 0,2615 | 0,2328 | 0,1519 | 0,1966 |
Região_se | 0,2854 | 0,1970 | 0,3931 | 0,2642 | 0,3734 | 0,3361 | 0,1988 | 0,3412 | 0,2783 |
Região_no | 0,1060 | 0,1737 | 0,0174 | 0,0987 | 0,0737 | 0,0614 | 0,2225 | 0,0592 | 0,0898 |
Acadêmicas | |||||||||
Ing_enem | 0,3906 | 0,4126 | 0,4198 | 0,3595 | 0,5008 | 0,3768 | 0,3540 | 0,3319 | 0,5188 |
Tipo_escola | 0,5699 | 0,7379 | 0,5459 | 0,5315 | 0,5138 | 0,4499 | 0,7210 | 0,4675 | 0,6891 |
Bolsista | 0,1322 | 0,1283 | 0,1293 | 0,1032 | 0,1629 | 0,1064 | 0,1375 | 0,1910 | 0,0678 |
Cotista | 0,1818 | 0,1602 | 0,2327 | 0,1894 | 0,1711 | 0,1623 | 0,2382 | 0,1914 | 0,1727 |
Apoio_social | 0,1854 | 0,2141 | 0,2137 | 0,1582 | 0,1884 | 0,1241 | 0,2434 | 0,2160 | 0,1457 |
Turno_matutino | 0,1179 | 0,1597 | 0,1459 | 0,1559 | 0,0991 | 0,0756 | 0,0667 | 0,0702 | 0,1796 |
Turno_noturno | 0,2854 | 0,4807 | 0,3030 | 0,4557 | 0,2548 | 0,1096 | 0,0348 | 0,0737 | 0,3763 |
Turno_vespertino | 0,0632 | 0,1118 | 0,1107 | 0,0552 | 0,0512 | 0,0491 | 0,0139 | 0,0261 | 0,1614 |
Turno_integral | 0,5335 | 0,2478 | 0,4404 | 0,3332 | 0,5949 | 0,7656 | 0,8846 | 0,8300 | 0,2827 |
Grad_bacharelado | 0,7139 | 0,0041 | 0,9228 | 0,9378 | 0,8650 | 0,8994 | 0,9236 | 0,9916 | 0,4296 |
Grad_licenciatura | 0,2178 | 0,9934 | 0,0000 | 0,0012 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 | 0,0000 |
Grad_tecnológico | 0,0683 | 0,0024 | 0,0772 | 0,0609 | 0,1350 | 0,1006 | 0,0764 | 0,0084 | 0,5704 |
IGC | 3,4355 | 3,2845 | 3,6482 | 3,4857 | 3,4802 | 3,4786 | 3,3286 | 3,5457 | 3,1345 |
Fonte: Elaboração própria a partir do Censo de Educação Superior (INEP, 2016)
Observa-se que, em média, os alunos estão retidos no período de tempo dentro do segundo intervalo exposto no conjunto de equações (4), que significa um tempo de 6 a 18 meses. Ademais, todas as áreas de cursos estão próximas a esse intervalo, encontrando-se uma média moderadamente maior nos cursos ligados à área de humanas, seguida pela área das engenharias e uma média menor nos cursos da área de saúde.
Ao analisar o perfil do aluno, percebe-se que a maioria é do sexo masculino (57,62%), a média de idade é de 26 anos e 55,16% consideram-se brancos. Em relação à localização geográfica das Ifes, aproximadamente 63,62% encontram-se nas capitais brasileiras e, em maioria, estão localizadas no Nordeste (29,84%) e no Sudeste (28,54%).
Quanto ao recebimento de auxílio financeiro, apenas 13% dos estudantes eram beneficiados com bolsas e em torno de 18% recebiam algum tipo de apoio social. A maior parte das bolsas está direcionada para os cursos de saúde, com 19,10%, e de ciências, matemática e computação com 16,29%.
Analisando acerca dos cursos da amostra, em geral, prevalecem o turno integral (53,35%) e do tipo bacharelado (71,39%). Esses dominam os cursos, exceto os ligados à Educação, que são, em maioria, do tipo licenciatura. Evidencia-se também que as áreas que apresentam melhores indicadores de qualidade, de acordo com o IGC, são ligadas às ciências humanas e à saúde, seguidas por ciências sociais e matemática.
4.2 Resultados econométricos
Em modelos de escolha ordenada, os sinais e as magnitudes dos coeficientes não são diretamente interpretáveis, sendo necessário computar os efeitos marginais para interpretar de forma significante o modelo. O efeito marginal mostra o impacto nas probabilidades específicas por mudança de unidade no regressor. Esse impacto das variáveis explicativas sobre a probabilidade de ocorrência do tempo de retenção, descritos em três intervalos, encontra-se na Tabela 2 .
Fonte: Elaboração própria a partir do Censo de Educação Superior (INEP, 2016).
*** p < 0,01
** p < 0,05
* p < 0,10
As estimativas para todas as áreas de conhecimento do perfil do aluno em retenção elevada mostram que o estudante nessa situação é mais velho e do sexo feminino, exceto o grupo de saúde, que apontou efeito marginal positivo, significando que existe uma elevação de 0,95% na probabilidade de os homens serem estabelecidos na terceira situação e uma redução de 2,37% de incluir-se na primeira situação. Além disso, o aluno autodeclarado de cor branca, quando esta variável se mostra estatisticamente significante, possui uma redução na probabilidade de retenção na terceira categoria. Exemplifica-se isso na área de ciências sociais e de saúde, em que há uma diminuição de 2,97% e 0,90%, respectivamente, da probabilidade de o estudante encontrar-se na terceira condição.
Dentre esses resultados, a relação positiva entre o aumento da probabilidade de retenção e a idade era esperado. Indivíduos que possuem uma idade maior propendem a ter que sustentar a família, possuir um emprego e ter um horário de trabalho incompatível com os estudos, reforçando as investigações feitas por Vanz et al. (2016) , Vasconcelos e Silva (2011) e Silva (2017) , o que certamente dificulta o tempo destinado para as atividades acadêmicas, aumentando a probabilidade de permanecer na faculdade por um tempo maior que o previsto.
Em superioridade nas áreas de conhecimento, o aluno que frequenta uma instituição da capital apresenta uma redução na probabilidade de maiores períodos de retenção. Porém, as ciências humanas indicaram resultado contrário: o efeito marginal para a terceira categoria foi positivo, resultando que um aluno da área de humanas da capital tem um aumento de 6,41% da probabilidade de incluir-se na terceira situação de retenção e uma redução de 3,77% da probabilidade de não estar retido.
Em continuidade, se o estudante frequenta um curso da área de serviços no Nordeste, esse possui um aumento da probabilidade de estar retido na terceira categoria (21,72%). Enquanto que, se o aluno estuda na área de engenharias do Centro-Oeste ou do Sul possui uma elevação de 7,73% e 7,41%, respectivamente, da probabilidade de situar-se no terceiro intervalo de retenção. Por conseguinte, caso o aluno frequente um curso na área da Educação no Sudeste, esse apresenta um aumento da probabilidade de retenção na terceira categoria de 5,02%.
Em todas as áreas, o universitário que ingressou na graduação via Enem tem uma redução da probabilidade de atrasar a conclusão do curso. Em relação aos alunos advindos do ensino médio em escola pública, esses possuem uma elevação na probabilidade de encontrarem-se no terceiro nível de retenção, excluindo-se os cursos de engenharias e humanas, que apresentaram uma diminuição de 2,39% e 4,44% da probabilidade de o estudante estar em um nível elevado de retenção. No que se refere ao aluno cotista, em todas as áreas que apresentou significância estatística, aponta uma diminuição da probabilidade de estar na terceira categoria e uma adição de estar na primeira categoria.
Os fatores referentes às políticas assistenciais nas Ifes apresentaram-se relevantes como mecanismo de auxílio aos universitários na obtenção do diploma de Graduação para todas as áreas. Tendo em conta que o aluno beneficiário de algum tipo de programa de bolsa ou de auxílio financeiro tem menores chances de ficar retido. ( PEREIRA et al., 2015 ; SILVA, 2017 ).
Verifica-se que o turno matutino apresentou relação positiva com a probabilidade de retenção elevada nos cursos do grupo de serviços (37,52%), enquanto que os turnos integral e noturno revelaram aumento da probabilidade de retenção na área de humanas, 11,46% e 21,87%, respectivamente.
No que se refere ao grau dos cursos, o grau de bacharelado indicou diminuição na probabilidade do aluno se inserir no terceiro intervalo de retenção na maioria dos cursos, exceto nos cursos de humanas. Por motivos de colinearidade, os cursos de licenciatura foram considerados somente nas áreas de Educação e ciências sociais, ressaltando que esse grau demonstrou efeito marginal com sinal positivo na última categoria, apontando a existência, nessas áreas, de uma maior probabilidade de os estudantes atrasarem a diplomação caso o curso seja do tipo licenciatura.
Considerando o IGC das instituições, esse apresenta-se com efeito marginal positivo na terceira ordenação de retenção, exceto na área de Educação. Tal resultado possivelmente pode estar associado ao estudo de Brunello e Winter-Ebmer (2003) , que afirmam que a graduação de universidades consideradas como de maior qualidade demanda maior tempo para conclusão, talvez por causa do currículo mais exigente.
5 Conclusão
Este trabalho visa a contribuir com a literatura ao identificar possíveis determinantes acadêmicos associados à retenção discente nas Ifes, assim como verificar os fatores que podem contribuir para sua redução, levando-se em consideração a variação desses fatores para cada grupo de conhecimento dos cursos de graduação.
A fim de alcançar o objetivo proposto, extraíram-se informações do Censo de Educação Superior de 2016 e estimaram-se as regressões logísticas ordenadas e os efeitos marginais, permitindo, assim, analisar as variáveis que aumentam ou reduzem a probabilidade de o aluno estar em atraso na diplomação.
Percebe-se que houve similaridades em relação aos impactos dos fatores para cada área geral, todavia ressalta-se que algumas variáveis demonstraram unanimidade quanto aos seus efeitos. A idade manteve-se positivamente relacionada à retenção em todos os grupos, perfazendo a literatura bibliográfica no que diz respeito ao estudante que possui família e obrigações e que tem que lidar com os custos de oportunidade, dispondo de um tempo reduzido para realizar suas atividades e concluir sua formação acadêmica. Também, cita-se que o ingresso pelo Enem permaneceu de forma negativa em todas as áreas dos cursos, evidenciando sua importância como forma de seleção à entrada dos estudantes nas Ifes.
Os fatores com maior magnitude estão ligados ao apoio financeiro e à realização de atividades acadêmicas, mantendo-se negativo em relação ao atraso na conclusão, evidenciando que os estudantes, muitas vezes, enfrentam dificuldades financeiras que influenciam na sua decisão de trancar o curso e não o concluir no tempo regular.
Desta forma, é fundamental implementar políticas institucionais que levem em conta a dimensão desse problema para a sociedade, no sentido de inserir os alunos de forma participativa na comunidade acadêmica, buscando um acompanhamento presente durante o tempo da Graduação dos estudantes para procurar os motivos de retenção e auxiliá-los em melhores decisões, visando a alcançar o sucesso desses e, portanto, a eficiência da própria instituição.