A Educar em Revista iniciou o ano de 2020 com um novo desafio - a adoção da publicação em fluxo contínuo. Várias configurações já foram assumidas pela revista ao longo da sua história desde 1977. Manteve-se com periodicidade anual até 2000 e passou a publicar dois volumes ao ano a partir de 2001. Alterou-se para trimestral em 2009, e quadrimestral em 2011. Em 2018, passou a publicar seis números ao ano, com periodicidade bimestral. E, neste ano, a revista alterou sua política editorial para fluxo contínuo visando dar mais agilidade ao processo de avaliação e publicação dos manuscritos, bem como ampliar seus leitores e formatos de divulgação. Apesar da mudança mencionada, a revista manteve a publicação de várias seções de manuscritos, como artigos de demanda contínua, dossiês temáticos, documentos e entrevistas, exceto resenhas, que deixaram de ser publicadas desde 2018.
A Educar em Revista é um periódico consolidado na área de educação, tanto no que se refere à sua estabilidade editorial e sua inserção em relevantes bases de dados de indexação, como à capacidade de divulgação de autores e instituições diversas do Brasil e do mundo, e, ainda, com bons fatores de impacto. A título de exemplificação apresentamos, abaixo, um gráfico que expõe em dados quantitativos, no período dos últimos nove anos, a permanência e o significativo crescimento da participação de autores vinculados a instituições estrangeiras em manuscritos publicados na Educar em Revista.
FONTE: Elaborado pelas autoras a partir dos manuscritos publicados na Educar em Revista (2011 a 2019).
Esses dados revelam capilaridade e reputação acadêmica em se constituir espaço de publicação de produção intelectual e científica de colegas e instituições de fora do Brasil, como, por exemplo, dos seguintes países que conosco colaboraram: Alemanha, Argentina, Austrália, Bélgica, Canadá, Chile, Colômbia, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Honduras, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, México, Moçambique, Noruega, Peru, Portugal, Suécia, Uruguai.
Importante sublinhar que essas contribuições se somam a um esforço de professores brasileiros, estudantes de pós-graduação e grupos de pesquisa que vêm, sistematicamente, contribuindo com a publicação da Educar em Revista, no formato artigo de demanda contínua, dossiês temáticos, entrevistas e documentos. Incluindo todas estas modalidades, temos robustos números de publicação de 2011 a 2019 que se expressam em aproximadamente 762 manuscritos, com a seguinte distribuição anual.
FONTE: Elaborado pelas autoras a partir dos manuscritos publicados na Educar em Revista (2011 a 2019).
Somam-se aos números os intensos protocolos de qualidade editorial e acadêmica dos textos que foram divulgados em nossa revista, o perfil acadêmico dos vários editores e equipe da Educar em Revista, bem como o apoio institucional proveniente do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Entendemos que foi pertinente a preocupação sistemática em dispor o periódico à participação ampliada de pesquisadores brasileiros, contando com uma diversidade regional e evitando a endogenia. Também acertada foi a indução de publicações no formato de dossiês temáticos, vigentes de modo mais sistemático na revista desde 1998, que possibilitou o alargamento dos temas veiculados e colaborou para sua identidade editorial. Desde 2019, optamos por iniciar a publicação de editais públicos para proposição de dossiês e obtivemos boa recepção pelos colegas pesquisadores. Neste ano, novos editais foram publicados em dois formatos - um, com chamada aberta para submissão de artigos; outro, com composição fechada contendo todos os manuscritos. O resultado foi exitoso, nos dois formatos mencionados a Educar em Revista recebeu propostas com temas relevantes para o cenário do debate educacional, distintos daqueles já publicados pela revista e relevantes para a atualidade do debate acadêmico-científico no campo. Também se manteve uma distribuição equilibrada entre participação de autores brasileiros e estrangeiros, tanto na autoria como na organização dos dossiês.
Neste ano, publicamos quatro dossiês sobre “Novas e velhas formas de regulação da gestão dos sistemas educacionais”1, “Cultura digital e educação”2, “Educação, democracia e diferença3” e “Processos de privatização da educação em países latino-americanos4”. Agradecemos o trabalho acadêmico e o envolvimento ético dos colegas organizadores que firmaram uma parceria vital ao longo do processo editorial e nos apoiaram para a excelência na publicação de cada artigo e para o cumprimento da agenda, intensificada no segundo semestre de 2020. Mantivemos, na seção demanda contínua, uma participação diversa de artigos que perpassam: práticas pedagógicas, perspectivas filosóficas, históricas e sociológicas do campo educacional, dimensões sobre ensino em várias áreas, políticas públicas e gestão, educação especial, infância e juventude, questões de gênero, livros didáticos e cultura material, entre outros temas. Em entrevistas, há contribuições sobre a trajetória e a produção de colegas de Portugal, e na seção documentos há um belo texto do Prof. Carlos Roberto Jamil Cury em comemoração aos 45 anos do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR.
Apesar de brindarmos os feitos na pós-graduação e da produção científica, acompanhamos com preocupação as atuais políticas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em relação ao cenário das decisões mais recentes, principalmente, em não acolher a proposta de avaliação de periódicos do Colégio de Humanidades no Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES). A proposta acordada previa que o Qualis Periódicos do Colégio de Humanidades deveria ter por base os indexadores CiteScore (Scopus), fator de impacto (Journal Citation Reports - JCR/Web of Science) ou índice h (Google Scholar), utilizados de forma isolada ou combinada, conforme o perfil da área, incluindo delimitações de subáreas de conhecimento e de idioma/origem de publicação. Todavia, estas posições não foram assumidas em deliberação do Colégio de Humanidades do CTC-ES em setembro deste 2020, situação esta que pode produzir um esfacelamento dos periódicos da educação e das demais áreas que compõem a Humanidades (e mesmo das Ciências da Vida e Exatas), uma vez que as métricas propostas de modo retilíneo na avaliação dos periódicos produzirão, provavelmente, desequilíbrio e desigualdades atrozes, considerando o fato de que os periódicos nacionais publicam dominantemente em língua portuguesa, destinando-se prioritariamente ao público nacional, mas, justamente por isto, alcançam fatores de impacto e índices de citação menores que seus equivalentes em língua inglesa. Logo, um excelente periódico nacional, de qualidade superior inclusive a outros em língua inglesa, terá, muito provavelmente, indicadores menores que os anglófonos, impactando negativamente sua classificação no Qualis Periódicos.
Em 2019 já vivenciávamos dificuldades institucionais acerca das restrições de apoio aos periódicos, o que no ano em questão se acentuou drasticamente, tanto no âmbito federal5 como institucional, com cortes de recursos e problemas de gestão, em especial, pela redução de profissionais de revisão e diagramação. A revista se mantém, firmemente, por compromissos acadêmicos e sociais, pelo trabalho dos colaboradores autores, pareceristas e consultores, pelo ofício da editoria e secretaria e apoio da gestão do Setor de Educação e do Programa de Pós-Graduação da UFPR.
Em meio ao turbilhão de restrições e problemas, passamos, neste ano, a conviver com uma epidemia, do Covid-19, de escala mundial e que nos trouxe desafios de como continuar a manter o planejamento, o cronograma e o fluxo de publicações da revista diante do distanciamento social e dos comprometimentos das rotinas. Seguimos trabalhando com todo o empenho, não só para manter os acordos previamente estipulados no tocante ao ofício da editoria da revista, mas para possibilitar o espaço de publicações aos pesquisadores como força motriz do papel da ciência, do nosso compromisso social com a divulgação e democratização do conhecimento e da atuação resistente e criativa de se colocar neste tempo histórico de modo solidário e crítico.
Curitiba, primavera de 2020.