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Educar em Revista

versão impressa ISSN 0104-4060versão On-line ISSN 1984-0411

Educ. Rev. vol.39  Curitiba  2023  Epub 06-Set-2023

https://doi.org/10.1590/1984-0411.87131 

DOSSIÊ: PROCESSOS MIGRATÓRIOS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA TRANSNACIONAL

Circulação e estratégias da revista “O Jovem Luterano”: perspectiva transnacional e das histórias cruzadas (1950-1970)

Patrícia Weiduschadt* 
http://orcid.org/0000-0001-6804-7591

Elias Krüger Albrecht* 
http://orcid.org/0000-0002-7381-8909

*Universidade Federal de Pelotas, UFPel, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: prweidus@gmail.com; eliask.albrecht@gmail.com


RESUMO

O presente estudo tem como objetivo discutir um provável intercâmbio cultural entre jovens luteranos ligados ao Sínodo de Missouri em diferentes países do mundo. Tal intercâmbio foi veiculado pela revista “O Jovem Luterano” (1929-1970), periódico juvenil produzido no Brasil, pelo Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil, para educar e orientar a vida social e religiosa dos seus jovens. O recorte temporal escolhido foi o das décadas de 1950-1970, por ser um período de circulação e estratégias que visavam fomentar esse intercâmbio. Assim, para efetivá-las, intensificou-se a propagação de tais práticas no impresso, sendo responsável por mediar a interlocução e as conexões de diferentes realidades juvenis luteranas. Por meio de suas páginas disseminaram-se estratégias, como planos de leituras, círculo de amizades, viagens de jovens, que possibilitaram conexões entre jovens de diferentes partes do mundo. Para a análise do corpus utilizou-se da teoria transnacional e das histórias cruzadas (WERNER; ZIMMERMANN, 2003; SCHWRIEWER; CARUSO, 2005), buscando compreender como as ideias e os princípios religiosos envolvidos na dinâmica foram reverberados no contexto brasileiro e como se deu a interconexão entre realidades. Pode-se afirmar que a instituição luterana do Sínodo de Missouri, por meio dos intercâmbios e das práticas adotadas no periódico em questão, buscou homogeneizar a formação cultural, educativa e moral das uniões juvenis, mas que, certamente, essas práticas foram recebidas e adaptadas de acordo com o contexto local.

Palavras-chave: Luteranismo; Transnacional; Histórias Cruzadas; Impresso

ABSTRACT

This study discusses a possible cultural exchange among young Lutherans associated with Missouri Synod in different countries worldwide. The discussion is based on the magazine “The Young Lutheran” (1929-1970), a periodical for young adults created by the Missouri Synod, the current Evangelical Lutheran Church of Brazil, to educate and mentor the social and religious life of their youths. The chosen timeframe is between 1950 and 1970, since it was a period of distribution and strategies aiming to foster such exchange. Thus, “The Young Lutheran was printed and published to accomplish the mission. This magazine was responsible for mediating questions and connections from different Lutheran youth realities. Through its pages, strategies were spread, such as reading plans, friendship circles, and youth trips, allowing the connection of young people from different parts of the world. For corpus analysis, we used the transnational theory and crossed histories (WERNER; ZIMMERMANN, 2003; SCHWRIEWER; CARUSO, 2005) to understand how the religious ideas and principles engaged in the dynamics reverberated within the Brazilian context, as well as how the interconnectivity occurred between realities. We can affirm that the Missouri Synod Lutheran institution, through the incorporated exchanges and experiences, pursued to standardize cultural, educational, and moral development of the youth unity. However, such actions were taken and adapted according to the local situation.

Keywords: Youth; Lutheranism; Transnational; Intertwining Stories; Journal

Introdução

Este artigo remonta a grupos imigratórios étnicos alemães que se deslocaram, no início do século XIX, da Alemanha em direção aos Estados Unidos, e depois, instalados no país norte-americano, expandiram-se para outros lugares. Tratando dessa proposta, quer-se contextualizar, em especial, a vinda ao Brasil, no início do século XX, no ano de 1900. Sabe-se que grupos imigratórios oriundos da Europa, ao longo do século XIX, precisaram se movimentar por questões econômicas e de sobrevivência1. Entretanto, o grupo em questão teve razões religiosas para sair do país de origem e se aproveitou disso para a expansão institucional das comunidades étnicas instaladas em terras destinadas aos imigrantes alemães2.

Para tanto, quer-se apresentar neste estudo a instituição que mediou e conectou essa movimentação, que foi uma instituição luterana chamada Sínodo de Missouri, constituída de princípios ortodoxos e que se autodenominou como a “verdadeira igreja luterana”. Tal instituição fugiu do crescente racionalismo cristão na Alemanha do final do século XVIII para fundar nos Estados Unidos determinada vertente do luteranismo (STEYER, 1999; WEIDUSCHADT, 2007).

Apesar das divergências doutrinárias com outras orientações luteranas, o Sínodo de Missouri operou de forma idêntica às instituições luteranas radicadas na Alemanha, tendo como características principais a preocupação na organização comunitária, o assento no binômio escola e igreja, e o fomento de material impresso circulante para adultos, crianças e jovens, bem como produção e circulação de materiais didáticos e doutrinários. Assim, uma das formas de expansão encontradas pelas instituições religiosas luteranas, que operaram em diferentes partes do mundo, foi a circulação de materiais impressos. Mesmo no século XIX era intensa a produção, circulação e edição de tais materiais. Essa necessidade de estímulo à área educacional, representada por criação de escolas e produção de material religioso escrito, está firmada nos princípios do reformador Martinho Lutero3.

O que se quer evidenciar neste artigo é o impresso direcionado ao público jovem da instituição do Sínodo de Missouri. Tal Sínodo foi fundado em 1847 e formou uma rede coesa no país norte-americano, chegando ao Brasil em 1900, com a visita de um pároco em comunidades étnicas alemãs no estado do Rio Grande do Sul, região meridional do território brasileiro. Além de se expandir para o Brasil, também assentou trabalho de missão em outras partes do mundo, como na Ásia, na Europa, e em outros países da América Latina, como também Oceania. A preocupação com a educação cristã não recaiu somente nas crianças, pela organização da escola paroquial4, mas também se disseminou pelas publicações religiosas, doutrinárias e educativas. O público jovem sofreu considerável investimento pelos luteranos, por meio de atividades específicas, por exemplo, as de controle do lazer, consolidadas pela divulgação dos seus princípios de doutrinação.

O impresso “O Jovem Luterano”, objeto mobilizador deste estudo, foi um veículo de comunicação juvenil que circulou entre os anos de 1929 e 1971. Criado pela Waltherliga Brasilians5 com o objetivo de colaborar com os interesses da igreja e levar até aos jovens uma leitura jovial de bases religiosas, tinha ênfase na educação e no entretenimento e em aproximar os jovens luteranos de diferentes regiões do país. Nos dez primeiros anos da revista a publicação foi em língua alemã , e ela era denominada “Der Waltherligabote”. No ano de 1940, por consequência da nacionalização do ensino e proibição da circulação da literatura estrangeira, o periódico passou a ser redigido em língua portuguesa, sob o título “O Jovem Luterano”.

Com relação à materialidade, o impresso manteve formato regular de tamanho 15 x 22, não havendo grandes oscilações em número de páginas, que giravam em torno de 16 a 18 por edição. As edições em língua alemã possuem capas ilustradas e coloridas, enquanto que as revistas da década de 1940, em português, apesar de variarem em cor possuem uma capa padrão e o mesmo logotipo. O corpo da revista, até o referido período, possuía folhas que se assemelhavam ao papel jornal, mas com uma textura um pouco mais densa, sendo impresso em preto e branco, incluindo as figuras. Já a partir dá década de 1950, observa-se mudanças graduais da revista, com capas diversificadas e impressões coloridas no corpo, bem como a textura de suas folhas ficando mais lisas e com um aspecto mais brilhante, muito próximo a papel couchê6. Quanto ao conteúdo, observa-se que jovens são convidados a refletir sobre temas variados de cunho educativo e recreativo relacionados à vida, ao corpo e à alma.

A revista foi produzida e editada pela Casa Publicadora Concórdia7, cujos editores e principais colunistas estavam direta ou indiretamente ligados à instituição religiosa, entre eles pastores, professores e jovens seminaristas. Com edições mensais e assinatura anual custeadas pelo assinante, sua tiragem e circulação oscilou entre duas mil nas décadas de 1930/40, três mil nas décadas de 1950/60 e quatro mil em 1970.

Tal modelo de impresso juvenil já tinha sido amplamente estimulado na igreja-mãe, nos Estados Unidos. A produção de materiais de leitura e a manutenção de uma editora foram prementes no início da fundação do Sínodo, em 1847. Sendo provenientes da Alemanha, mantiveram a premissa luterana da formação de escolas paroquiais, impressão de materiais e também visaram a expansão em outros lugares além dos Estados Unidos. Como a instituição foi constituída por imigrantes alemães, inclusive mantendo a língua alemã na produção de material religioso e informativo, a circulação se deu na linguagem germânica, assim seria mais fácil se inserir em comunidades de imigrantes alemães em outras partes do mundo. De qualquer modo esse norteamento não impediu, mesmo com menor incidência, a instituição de atuar em comunidades não étnicas alemãs, como em alguns lugares no Brasil ou na África. Mas o que chama atenção é que a questão étnica, para a expansão, foi central em razão de encontrar maior legitimidade para se começar o trabalho.

O Sínodo de Missouri buscou alcançar diferentes segmentos na igreja, por meio de organização de departamentos, das escolas, mas logo percebeu que era preciso investir de modo especial no segmento jovem. Estudos de Pahl (2003), realizados na realidade norte americana, consideram que a juventude, ao final do século XIX e início do XX, foi uma das fases da vida mais controladas e direcionadas por instituições religiosas e laicas. Pahl (2003), ainda, afirma que foram os cristãos que inventaram a adolescência e tentaram moldar a fase juvenil nos seus preceitos conservadores em relação à sexualidade, gênero e comportamento, bem como no que diz respeito às mudanças sociais8. Mas o que se viu, segundo referido autor, é que tais jovens, nesses movimentos, souberam resistir e aproveitar os intercâmbios de conhecimento e experiências de diferentes lugares.

Uma prova disso foi a juventude do Sínodo de Missouri, primeira organização sistematizada congregacional, denominada The Internacional Walther League,9 a qual contou com uma rede integrada entre vários estados norte-americanos, agregando o público feminino à organização administrativa, contrariando, inclusive, as orientações gerais do Sínodo. Foram as estratégias dos jovens e das jovens que permitiram consolidar essa união juvenil na igreja-mãe e que ela se interconectasse com vários lugares através das suas proposições (PAHL, 2006). O estudo de tal autor defende que os jovens acompanharam as mudanças ao longo do tempo, desde a fundação da liga em 1897. A interconexão e atuação dessas ideias ressoaram em diferentes partes do mundo em que a igreja luterana do Missouri tinha pontos de expansão, originando desde a organização de grupos de jovens até a produção de impressos. Em tais publicações há orientações para atividades lúdicas, como também para a condução dos relacionamentos amorosos e o estímulo do convívio de forma endógena10 no grupo religioso, havendo preceitos de atividades consideradas lícitas e ilícitas para serem realizadas por jovens luteranos.

Cabe destacar que as diferentes abordagens da historiografia brasileira acerca da formação das comunidades étnicas, relacionadas ao luteranismo, buscaram classificar as tipologias dos diferentes protestantismos (DREHER, 1998). Marthin Dreher (1998) considera como protestantismo todas as demais organizações que vieram ao Brasil de forma sistemática e que se diferenciavam do catolicismo. Portanto, o estudo do autor considera o século XIX como sendo o período em que efetivamente acontece este movimento de chegada de outras congregações religiosas ao país. No entanto, as instituições luteranas, sendo a IELB uma delas, não é considerada um protestantismo de missão e sim de imigração e histórico. Nessa linha, Steyer (1998) argumenta que o motivo que levou o Sínodo de Missouri a expandir sua organização no Brasil foi um pedido formal de comunidades étnicas do Rio Grande do Sul, em que se conheceu o trabalho por meio de periódicos (o jornal Der Lutheraner). Apesar de constar que enviaram missionários, à realidade brasileira chegaram pastores com formação sistemática e formal em seminários estadunidenses. Desse modo, Steyer não concorda que o Sínodo de Missouri teve um objetivo “proselitista”, ou seja, de convencer grupos que já tenham a sua própria confessionalidade a aderir a religião, mas sim de preencher uma demanda das comunidades étnicas alemãs. Desde a fundação nos EUA, foi sempre reforçada a preocupação confessional e doutrinária, estabelecendo os princípios de comunidade luterana pautados em Martinho Lutero (DREHER, 1998).

Não cabendo a este artigo aprofundar tais questões, mostrar-se-á, em outra direção, como a transnacionalidade e a formação de redes se estabeleceu, preponderantemente, por aproximações étnicas. Assim, é profícuo usar os conceitos do transnacional e das histórias cruzadas, pois ajudam a referendar que as conexões entre diferentes contextos têm um ponto de intersecção (WERNER; ZIMMERMANN, 2003), neste caso, a instituição juvenil enquanto sistematizadora da atuação, buscando diferentes formas de reverberar nos contextos em que esteve presente, ou seja, aproveitando-se das organizações luteranas e adaptando-se ao contexto de destino (WERNER; ZIMMERMANN, 2003; OSSENBACH; POZO, 2011; FUCHS, 2017; SCHRIEWER; CARUSO, 2005).

Pelos estudos de Werner e Zimmermann (2003), pode-se entender esses cruzamentos como configurações. A ênfase não deve recair em entender os pontos de partida e de chegada, mas, segundo os pesquisadores acima citados, em colocar em evidência as interconexões. Essas interconexões não partem de um ponto fixo, mas sim da noção de intersecção. Essa noção do entrecruzamento está no princípio da história cruzada e transnacional, rompendo com uma perspectiva unidimensional, simplificadora e homogeneizadora em benefício de uma abordagem multidimensional que reconheça a pluralidade e as configurações complexas que daí resultam (relações, interações e circulação).

Por isso, é necessário entender, dentro de tal perspectiva teórica, estratégias de circulação e expansão, que consistiram em propagandear campanhas e projetos tendo como mediação a revista juvenil organizadas pelos grupos de jovens da instituição luterana do Sínodo de Missouri.

Portanto, pretende-se, especificamente, compreender tal intercâmbio cultural entre jovens luteranos ligados ao Sínodo de Missouri em diferentes países do mundo. A principal fonte será a revista “O Jovem Luterano”, do período de 1950-1971.

Este trabalho está centrado nas edições correspondentes à década de 1950 até o encerramento da circulação da revista, na década de 1970, em que é percebida maior circulação de ideias e pessoas para além das fronteiras nacionais, sendo tais processos, aqui, problematizados com base no conceito do transnacional e das histórias cruzadas. São perceptíveis algumas ações de corporação e socialização de ideias entre os jovens luteranos que ultrapassam os limites físicos das fronteiras de seus territórios de origem. Por isso, serão apresentadas as estratégias do impresso por meio de três práticas que visibilizaram os intercâmbios, a saber, planos de leitura, círculos de amizade e viagens de jovens.

Estratégias do impresso: circulação e conexão transnacional

Partindo do pressuposto de que a instituição religiosa do Sínodo de Missouri se constituiu por um sistema de pensamento que teve como fundamentação teológica os escritos de Martinho Lutero, pode-se perceber o expansionismo religioso de tal instituição reverberado em ações no sentido de romper o isolamento das fronteiras culturais, especialmente entre as comunidades étnicas. Por meio dessa perspectiva expansionista o Sínodo pôde estabelecer relacionamentos entre diferentes culturas e promover conexões culturais de seus ideais religiosos. Tais conexões possibilitam entrelaçamentos e diversos recruzamentos; sendo relacionais, portanto, não são fixas as relações, ou seja, os grupos estudados se modificam ao estabelecer conexões e cruzamentos. (WERNER; ZIMMERMANN, 2003).

Poder-se-ia pensar que haveria homogeneidade no ressoar das práticas em diferentes contextos, porque isso abarcaria ideários religiosos idênticos, assim como o sentido de comunidade estabelecido nos diferentes lugares. Mas ao observar as diferentes práticas intercambiantes, pode-se perceber que algumas singularidades surgem.

Como órgão oficial da Juventude Evangélica Luterana do Brasil, a revista, meio utilizado para conectar ideias e princípios, empenhava-se em fomentar projetos e programas de incentivo à leitura, desenvolvidos por jovens luteranos norte-americanos. Por isso, quer-se abordar algumas práticas discorridas do referido período que convergem para evidenciar de forma mais visível tais movimentos. As práticas demonstradas, na maioria das vezes, são organizadas pela revista e outras práticas são somente publicadas para repercutir e cobrar participação e engajamento dos leitores luteranos brasileiros.

A revista, sendo religiosa, teve como objetivo formar e moldar comportamentos morais e doutrinários do meio juvenil. Tal revista foi produzida no Brasil, encontrando inspiração em uma revista juvenil produzida nos Estados Unidos. Assim, o que se quer destacar é o diferencial e a formação de redes transnacionais do “O Jovem Luterano” em diferentes contextos, com participação, propostas e conexões. Para melhor visualizar a potencialidade de conexão em diferentes contextos, abaixo se apresenta um quadro para compreender a relação do impresso “O Jovem Luterano” em diferentes países e as respectivas práticas utilizadas.

QUADRO 1: Relação dos países, situação e das práticas veiculadas pela revista “O Jovem Luterano” 

PAÍS SITUAÇÃO PRÁTICAS: PLANO DE LEITURAS, CÍRCULO DE AMIZADE E VIAGENS DE JOVENS.
PROPOSTA PARTICIPAÇÃO
Brasil Fundação pelo Sínodo de Missouri- 1900
Edição da revista “O Jovem Luterano”
Editou e publicou as notícias.
Círculo de amizades
Viagens de jovens para Portugal, Alemanha e Argentina
Plano de leitura
Viagens de jovens
Círculo de amizades
Estados Unidos Sede da igreja mãe, fundada em 1847.
Sede da primeira união juvenil da instituição
Plano de leitura Viagem de jovens ao Brasil
Austrália Fundação pelos
EUA- 1880
-------------------- Plano de leitura
Círculos de amizade
Japão Fundado por missionários militares luteranos do Sínodo de Missouri- 1948 ---------------------- Plano de leitura
Argentina Comunidade de imigração, fundada em 1905 pelo Brasil ---------------------- Círculos de amizade
Viagem de jovens
Portugal Missão brasileira - final dos anos 1960 -------------------- Círculos de amizade
Viagens de jovens
Índia Fundada em 1894 ---------------------- Plano de leitura
África Não tem dado da fundação ---------------------- Círculo de amizade
Finlândia Não tem dado da fundação ---------------------- Círculo de amizade
Alemanha Não se tinha igreja oficial do Sínodo, mas aproximações com outras instituições luteranas. --------------------- Círculo de amizade
Plano de leituras
Viagens de jovens

FONTE: Elaborado pelos autores a partir da Revista “O Jovem Luterano”, 1950-1971.

Os dados mostram a conexão mais estreita com alguns lugares, como Estados Unidos, Alemanha, Portugal e Argentina, pelas viagens de jovens, pelo efetivo intercâmbio. Provavelmente isso ocorreu porque nesses locais as comunidades étnicas estariam mais fortalecidas e teriam maior aproximação. Nos demais lugares, com exceção da Austrália, que contava com uma comunidade étnica, o Sínodo se expandiu de forma missionária, não mais étnica; mas em alguma medida, é provável que os jovens participantes oriundos de tais lugares tivessem alguma forma de aproximação linguística com o inglês.

Os planos de leitura, como são descritos no quadro 1, foram propostos pela juventude dos Estados Unidos. Parecem ser uma prática recorrente em muitos países relacionados com o Sínodo, mesmo não encontrando a totalidade nesta análise, no “O Jovem Luterano”, a apresentação da proposta mostra o esforço em universalizar tal orientação.

O plano de leitura apresentava de forma sistemática a leitura do Novo Testamento, foi proposto pela Walther League /EUA (Juventude Evangélica Luterana dos Estados Unidos), sugerindo que fosse expandida “a todos os jovens luteranos do mundo”, tendo ampla repercussão na revista “O Jovem Luterano”, conforme segue:

O Congresso Geral da Juventude Luterana reunida em Porto Alegre nos dias 19 20 e 21 de janeiro, aceitou entusiasticamente o plano de leitura sistemática da Bíblia, sugerido pela Liga Walther nos EE.UU11. O plano visa fazer os jovens luteranos de todo o mundo comungar na mesma leitura e assim estreitar os laços que nossa unem. Ainda mais que os jovens Luteranos dos EEUU, estão dispostos a fornecer os novos testamentos para esta leitura (O JOVEM LUTERANO, mar. 1951, p. 37).

A proposta era promover uma leitura organizada do Novo Testamento da Bíblia e realizar um intercâmbio de ideias entre os jovens do mundo com os jovens norte-americanos, conforme segue:

Nos EE.UU, cada jovem luterano contribuirá com um dólar para receber o Novo Testamento em 11 pequenos volumes e com estes ainda um pequeno estojo de couro dentro do qual poderá levar consigo um volume onde quer que esteja. O mesmo dólar pagará também por mais um Novo Testamento para um amigo num campo de missão que o doador indicará ou um nome enviado pelos missionários. Assim o trabalho de missão estará incluído na oferta e os amigos da missão em toda a parte estarão lendo e estudando com o doador os mesmos trechos do Novo Testamento. Nas Américas, na Austrália, na Ásia na Europa e na África participarão desta grande comunhão de leitura da Bíblia. Quantos benefícios não poderão nascer desse grande empreendimento? (O JOVEM LUTERANO, jan./fev. 1950, p. 5).

Para tanto, os jovens brasileiros interessados em participar do plano de leitura e em receber uma Bíblia doada por jovens norte-americanos deveriam organizar listas com nomes e endereços e encaminhar para o conselho geral da juventude luterana, que se encarregaria de encaminhá-las à Walther-League norte-americana. Depois, os jovens iriam receber no endereço indicado uma Bíblia com o nome e o endereço do doador. Assim os jovens poderiam se corresponder com aqueles que lhe doaram o Novo Testamento em tempo oportuno (O JOVEM LUTERANO, mar. 1951).

Não surpreende que uma instituição norte-americana que se direciona a lugares com projetos de expansão tenha essa necessidade de realizar interlocuções e estabelecimento de vínculos, seria uma forma de “transferir” princípios e valores em outro território na tentativa de homogeneizar os preceitos religiosos e doutrinários. O que salta aos olhos são as formas sistemáticas de estratégias para realizar tal empreitada. Organiza-se uma forma de trabalho a nível internacional, partindo da igreja mãe12, localizada nos Estados Unidos, que segue propondo/impondo aos lugares subordinados as devidas interlocuções. Sabe-se que cada realidade a ser atingida não seguiria de forma similar a proposta inicial, mas é provável que tenha sido preciso promover adaptações; portanto, são os pontos de contato e conexões que se pretende observar. São processos que atravessaram fronteiras, não somente a fronteira geográfica, mas também a social, a cultural e a educativa. Mais que atravessar, o sentido do transfronteiriço é visto como um modelo dinâmico e permeado por entrelaçamento (Verpflechtung) (SCHRIEWER; CARUSO, 2005).

Abre-se a possibilidade, também, de discorrer sobre outros aspectos relacionados aos da transnacionalidade e das histórias cruzadas, como o dos “espaços culturais”, em que a criação de novos mapas mentais dos lugares onde os sujeitos de análise vivem não está assentada na nacionalidade ou no território, mas em lugares e redes de intercâmbio cultural (OSSEMBACH; POZO, 2011). Por exemplo, os espaços de ideias e de formação educativa representados pela organização de escolas, formação de professores e, especialmente, neste caso, pela circulação de imprensa específica, mostram como a veiculação de estratégias pode visibilizar um determinado ideário, a saber aqui, da instituição religiosa. As propostas mediadas pelo impresso tinham sentido em interligar e conectar um tipo de pensamento que formaria essa juventude, ao mesmo tempo em que as intersecções não seriam previsíveis, haveriam mudanças e adaptaçoes.

Na já referida edição de março de 1951, a revista “O Jovem Luterano” reitera que o plano traçado pela Walther League dos EUA era fazer os jovens luteranos “em todo mundo” comungarem da mesma leitura e também corresponderem-se para assim se conhecerem mutuamente e estreitarem os laços de amizade a fim de haver aceitação do referido plano:

A Liga Walther League em Chicago relata que o plano encontrou aceitação em toda parte do mundo, sim, que entusiasmou todos quanto dele tiveram conhecimento. Os nomes dos “amigos da missão”13 estão chegando de todos os continentes. Nunca antes disto teve um plano dos jovens alcançando tais proporções e atingindo a tantos corações como esta realização evangelizadora. (O JOVEM LUTERANO, mar. 1951, p. 37).

É perceptível a confiança que a instituição tinha em desejar homogeneizar os diferentes grupos juvenis em contextos e países diferenciados. Para eles, a religiosidade institucionalizada apagaria diferenças entre a realidade norte-americana, a latino-americana, a africana e ou a asiática. Eles apostaram na ideia de intercâmbio por meio desse mecanismo da circulação de impressos juvenis.

Para a concretização desse projeto a revista convoca os jovens brasileiros a “[...] começar o quanto antes o intercâmbio de ideias entre os jovens dali e jovens daqui” (O JOVEM LUTERANO, mar. 1951, p. 37). Conforme o periódico, o intercâmbio de jovens de diferentes partes do mundo é uma ótima oportunidade de apresentar a eles a cultura brasileira, assim como conhecer os costumes de outros lugares.

No exemplar de abr./mai. de 1952, p. 50, é mencionado que “todos os jovens luteranos do mundo têm o desejo de conhecer os jovens de outros países e de entrar em comunhão mais estreita com eles”. Ressaltam, ainda, que:

Este projeto de intercâmbio de ideias visa unir a mocidade luterana de todas as partes do mundo para um trabalho ainda mais eficiente em que todos podem compartilhar dos benefícios. Assim será fomentado o intercâmbio de ideias e de materiais que se prestam para serem integrados no programa dos jovens em todas as partes do mundo. É o desejo de reunir uma vez representantes da Juventude de todos os campos de atividade da igreja luterana em todo o mundo, para estabelecer o contato, para cimentar ainda mais as relações amistosas já existentes e para conjuntamente planejar o futuro (O JOVEM LUTERANO, abr./mai. 1952, p. 51).

Com base em Certeau (2011), toda essa mobilização pode ser pensada como uma articulação estratégica do Sínodo de Missouri no sentido de condicionar as relações sociais aos propósitos da instituição religiosa. Uma vez que ao promover uma leitura intencionalmente organizada, em que jovens de diferentes lugares do mundo estavam fazendo reflexões sistêmicas acerca de um mesmo texto da Bíblia, o Sínodo reforçava os seus propósitos educacionais, sociais e religiosos e alinhava a unidade confessional luterana, além de facilitar a criação de laços de amizade entre os jovens luteranos em diferentes lugares do mundo.

Em agosto de 1952, a revista “O Jovem Luterano” traz uma parcial de que até aquele momento 14.882 jovens haviam aderido ao projeto no mundo e recebido uma Bíblia de um amigo norte-americano. E para estimular os jovens brasileiros, que ainda não haviam aderido ao projeto de leitura, a revista apresenta um ranque dos cinco países que mais aceitaram o programa destacando que o Brasil se encontra na quinta posição, com a adesão de 1.326 jovens, atrás da Alemanha, com 1.537; Índia com 1.696; Austrália, com 2.523 e Japão, que estava em primeiro lugar, com 4.112 jovens participando da leitura sistematizada da Bíblia (O JOVEM LUTERANO, ago. 1952). Ressalta, também, que o projeto ainda está vigente e que os jovens brasileiros ainda têm a oportunidade de aderir ao programa de leitura e receber de presente uma Bíblia.

O fato do Japão, da Austrália e da Índia, até então percebidos como países com pouca tradição no luteranismo, serem os territórios com maior adesão ao projeto causa espanto e surpresa. Instigou-nos a saber o porquê de os jovens desses territórios estarem liderando o plano de leitura da Bíblia. Sabe-se que o trabalho missionário do Sínodo de Missouri no Japão teve início durante a Segunda Guerra Mundial, por meio dos capelães do Exército dos EUA afiliados à Lutheran Church Missouri Synod (LCMS). Em 1948, o LCMS instalou o primeiro missionário no Japão. Em 1950 oficializou o trabalho missionário naquele país. Um ano depois, em 1951, o programa de rádio Lutheran Hour começou a ser transmitido no Japão. Em 1953, o Sínodo foi oficialmente reconhecido como um corpo religioso no Japão (STREGE, 1953). Assim, provavelmente, a grande adesão dos jovens japoneses ao plano de leitura da Bíblia teve a influência do trabalho missionário. Cabe destacar que tal espírito missionário não pode ser confundido com proselitismo, sempre se instituía a formalidade e o seguimento dos preceitos doutrinários da igreja mãe (STREGE, 1953).

Em relação à atuação da Igreja Luterana no Japão cabe ainda observar a entrevista concedida à revista “O Jovem Luterano” pelo professor do Instituto St Louis/EUA William Danker, na qual fala sobre a sua viagem ao Japão, que teve como objetivo acompanhar o trabalho do Sínodo de Missouri entre os japoneses e estudar sobre as religiões japonesas para a sua cadeira de “Missão e Religiões Comparativas”, a qual lecionava no Instituto St Louis/EUA. Ao ser questionado sobre a existência de algum trabalho entre os jovens no Japão, salientou que “há um bom trabalho juvenil na igreja do Japão. De fato, se poderia quase dizer que a Igreja Luterana do Japão é essencialmente um movimento juvenil, já que a maioria dos seus membros são jovens” (O JOVEM LUTERANO, ago. 1969, p. 7).

A partir de 1950, a Walther League iniciou um programa conhecido como Bible Reading League. Através deste projeto, os membros da Walther League de todos os Estados Unidos e Canadá contribuíram com um dólar cada, para o qual cada um recebeu um Novo Testamento em doze pequenos panfletos. Um Novo Testamento semelhante foi enviado a um “amigo da missão” em alguma terra estrangeira. Os nomes desses amigos da missão foram reunidos e enviados a Chicago por missionários de todo o mundo. Na Convenção da International Walther League em St. Louis, Missouri, de 8 a 12 de julho de 1951, foi relatado que mil e quinhentos nomes de amigos missionários haviam sido recebidos do Japão (STREGE, 1953, p. 98-99, tradução livre).

Desse modo, a comunidade no Japão se forma pelas ideias divulgadas no periódico, mas não por meio de uma comunidade étnica alemã. É no período da Segunda Guerra que se torna possível a conexão dessas duas realidades. O país asiático era considerado exótico, pelo distanciamento linguístico e religioso, então ter penetração nesse local mostraria a força que o Sínodo tinha, em especial com a faixa etária juvenil. Cabe destacar que a apresentação e relação com o Japão se mostra sem tensões e embates, coisa que certamente não ocorreu; foi preciso fazer adaptações para o luteranismo ser aceito no Japão e, da mesma forma, os jovens naquele contexto também tiveram suas resistências e adaptações. Em relação à Austrália, foi possível perceber que a formação da Igreja Luterana daquele país ocorreu de maneira semelhante à Lutheran Church Missouri Synod (LCMS) EUA. Constituiu-se a partir de imigrantes alemães, que assim como aqueles que imigraram para os EUA também se recusaram a aderir à União Prussiana e migraram para a Austrália em dois momentos distintos. A aproximação com o Sínodo de Missouri teria ocorrido a partir da década de 1880, através da busca de pastores junto ao Sínodo de Missouri nos Estados Unidos. Em 1904 parte dela tornou-se um distrito desse Sínodo. Assim, com o luteranismo ortodoxo estruturado, a revista “O Jovem Luterano” observa que em 1951, ano que teve início o plano de leitura da Bíblia, a liga de jovens da Austrália comemorava o seu 25ª aniversário, mobilizando a juventude australiana para as atividades e festividades alusivas à data (O JOVEM LUTERANO, abr./mai. 1952), influenciando os jovens luteranos daquele país a aderirem ao projeto da Walther League.

Por outro lado, contradizendo a nossa expectativa inicial, a presença do luteranismo ortodoxo entre os indus é anterior a do Brasil. Segundo a revista “O Jovem Luterano” o trabalho missionário do Sínodo de Missouri entre os indus teve início em 1894, em Krishnagiri, no distrito de Salem, na província de Madras. No ano de 1948 a Igreja Evangélica Luterana da Índia contava com cerca de dezoito mil almas, trinta e seis missionários, entre pastores e professores, e cinco diaconisas. (O JOVEM LUTERANO, jan. 1948). Já em 1953, eram quarenta e dois missionários, cinco diaconisas, trinta quatro jovens teólogos formados no seminário da instituição em Nagercoil, e quinhentos e cinquenta obreiros nativos da Índia, trabalhando em trezentos e trinta e seis estações e comunidades. Além de contar com um hospital equipado ao cuidado de dois médicos. (O JOVEM LUTERANO, ago. 1953).

A Índia, já no século XIX, foi atendida pelo Sínodo de Missouri, por pastores norte-americanos que se deslocaram para tal lugar, segundo Fergin (1958):

O missionário Elmer E. Griesse apresentou uma tese para a Universidade de Washington, St. Louis, sobre a história da Missão Evangélica Luterana de Missouri na Índia (MELIM) desde o início do trabalho em 1895 até 1944. Esta presente tese nos levará ao final de uma era - pois a Missão tornou-se uma. igreja irmã do Sínodo de Missouri. Em 8 de janeiro de 1950, a Igreja Evangélica Luterana da Índia (IELC) ​​declarou-se capaz de autogoverno”(FERGIN, 1958, p. 1, tradução nossa).

Então, no período do mencionado plano de leitura, na Índia, já havia certa autonomia em relação aos Estados Unidos, mas se trata de autonomia administrativa, não de desvinculação religiosa e doutrinária. Interessante notar a necessidade da revista brasileira, orientada pela organização juvenil da matriz nos Estados Unidos, de fazer questão em salientar o trabalho missionário em países com pouca tradição luterana como o Japão, Austrália e Índia. A necessidade do engajamento da juventude seria para dar certa universalidade no pensamento da doutrina luterana e na legitimidade da organização juvenil. Ainda, reforçar que se em países mais distantes do conhecimento luterano estavam prosperando, era preciso que no Brasil fosse intensificado o trabalho com os jovens.

Em 1953 a revista realiza um fechamento do projeto agradecendo aos jovens brasileiros que aderiram, destacando que, conforme informado pela “Walther League/EUA, mais de 17.000 cópias do novo testamento foram enviadas para 75 diferentes países em 41 línguas” (O JOVEM LUTERANO, jun./jul. 1953, p. 70), mostrando assim a mobilização internacional gerada através do projeto.

Tal prática não somente mostra que a juventude Luterana no mundo estava envolvida em um programa de leitura, mas também que existia por trás dessa mobilização um projeto de expansão do Sínodo de Missouri de levar o luteranismo ortodoxo a lugares onde tinham comunidades religiosas que se identificavam com a práxis luterana, como também em comunidades não tão alinhadas ao perfil étnico luterano. O jovem era, para o Sínodo, uma força renovadora, os fiéis da igreja luterana do amanhã, conforme artigo publicado na revista “O Jovem Luterano” de fevereiro de 1947, que em resumo fala sobre a importância do trabalho do Sínodo de Missouri entre os jovens.

Não se sabe ao certo se a proposta de intercâmbio de ideias e culturas deu resultados para a proliferação da instituição. No caso do Brasil, as barreiras linguísticas eram grandes por não haver amplo domínio da língua inglesa, e no período, década de 1950, os jovens ainda não tinham passado pelas escolas étnicas alemãs, devido a proibição da política estadonovista14.

Outra estratégia de intercâmbio, em que se exigiria muito das habilidades linguísticas, foi o projeto denominado “Círculo de Amizade”, amplamente divulgado pela revista “O Jovem Luterano”. Tratava-se de uma iniciativa da juventude luterana brasileira para promover correspondência entre jovens e/ou grupos juvenis com outros países, tendo como objetivo trocas de experiências e conhecimento do trabalho desenvolvido pelos jovens.

Algumas dessas correspondências ganhavam grande espaço nas páginas da revista, outras eram somente citadas. Por exemplo, em fevereiro de 1966 o impresso informa o recebimento de uma carta vinda da Nigéria/África e outra enviada por jovens da Finlândia, em que tais uniões juvenis africanas e finlandesas informam sobre a sua satisfação em poder se corresponder com jovens brasileiros através do “Círculo de Amizade”. Como se observa no excerto da carta publicada na revista “O Jovem Luterano”:

[...] informamos que a Juventude Luterana da Finlândia está progredindo muito bem. [...]. Gostaríamos de ficar em contato com vocês! E gostaríamos de nos corresponder para aprender a respeito das vossas atividades e da vossa pátria tão distante, para fundir mais o sentimento de unidade dos seguidores de Jesus. Estamos gratos em poder nos comunicar com vocês (juventude da Finlândia) (O JOVEM LUTERANO, fev. 1966, p. 6).

Não se tratava apenas de uma troca de correspondências entre jovens de diferentes países. Conforme o texto da carta acima citada é notável a existência de um intercâmbio cultural, em que os jovens fazem valer dessas correspondências para conhecer a realidade e os costumes de outros países. Na edição de mar./abr. de 1966, também é reproduzida uma carta enviada por jovens da Austrália acusando o recebimento da carta enviada pelos jovens de Porto Alegre/RS, agradecendo a flâmula15 e o postal nela contida. Informam que ficaram felizes em conhecer um pouco sobre a cultura gaúcha e brasileira. A carta ressalta ainda a existência de um grande departamento juvenil na Austrália e este estaria providenciando o envio de uma flâmula e de um postal para retribuir o presente enviado pelos jovens porto-alegrenses. Exprime também que é desejo “fortalecer cada vez mais o elo da associação cristã unindo os vossos jovens do Brasil, com os jovens da Austrália” (O JOVEM LUTERANO, mar./abr. 1966, p. 10).

A carta, provavelmente traduzida, é publicada para demonstrar que jovens de diferentes lugares organizam-se de forma similar, e busca reforçar conexões e contatos por meio de símbolos que representavam a união juvenil.

Da mesma forma havia contato com a juventude de Lisboa/Portugal, com a qual os jovens luteranos brasileiros mantinham uma estreita relação de troca de experiência e apoio missionário, conforme relato de correspondência publicado pela revista:

É com o coração pulsando de alegria que estamos escrevendo para agradecer a UJ de Niterói. Ficamos maravilhados com as ofertas que nos enviaram [...] provando assim que na fé não há distancias que possam separar os servos do senhor [...] como nosso departamento ainda se encontra em fase de evolução inicial, não temos ainda como retribuir as vossas bonitas ofertas como merecem [...]. Porém para que não fiquem dessa vez sem uma pequena lembrança nossa, junto enviamos duas fotografias do nosso grupo de jovens e um cartão postal. Nosso desejo é enviar em um futuro próximo uma recordação alusiva ao folclore português [...]. Durante os domingos estamos fazendo uma campanha de Evangelização em Lisboa, fazendo visitas e distribuindo literatura cristã [...].

Agora queria pedir-vos um favor: se nos podiam enviar o endereço ou mesmo uma revista do “Jovem Luterano” cremos que é assim que se chama, para através dele pedir a todos os centros juvenis luteranos do Brasil que nos escrevam, que nós de bom grado lhes responderemos, para desta forma se propagar em maior escala este Círculo de Amizade (Albino Pereira Carvalho) (O JOVEM LUTERANO, Jul. 1966, p. 8).

O relato da carta mostra que existia uma aproximação mais estreita entre os jovens desses dois países, provavelmente a questão linguística contribuía para isso Apesar dos indícios, não se tem como afirmar que o fator linguístico foi um ponto importante para aproximar ou afastar os campos missionários. Porém, em dezembro 1963, p. 9, a revista “O Jovem Luterano” informa que “A jovem congregação Luterana de Portugal [...], após avaliação doutrinal, passará a ser um membro do Distrito Brasileiro e com isso da igreja Luterana”, diferente dos outros países com os quais os jovens luteranos brasileiros mantinham a troca de correspondência, onde já havia um luteranismo estruturado. Em Portugal o trabalho estava se iniciando e o Brasil era o principal responsável por esse trabalho missionário.

Em abril de 1968 o pastor de Portugal Paulo Jung16 escreve especialmente para “O Jovem Luterano” agradecendo aos luteranos brasileiros pelo apoio financeiro e material para o trabalho em Lisboa e Queluz, local onde a igreja luterana tem encontros semanais com cultos, estudos bíblicos, escola dominical e departamento de servas17. Destaca que à época estavam trabalhando na organização de departamentos de jovens em Queluz e em Lisboa. (O JOVEM LUTERANO, abr. 1968).

Cabia à Igreja Evangélica Luterana do Brasil assistir e orientar as comunidades luteranas de Portugal. Para tanto ela contava com a força e o entusiasmo da juventude luterana brasileira, que estava engajada nesse trabalho principalmente colocando-se à disposição a sua revista, que era uma forma de aproximar os jovens portugueses e socializar com eles, afinal integravam o distrito brasileiro. Assim, em jan./fev. de 1969 o Pastor de Portugal Paulo Jung escreve à revista “O Jovem Luterano” para agradecer o envio de uma coleção da mesma, correspondente ao ano de 1968, ressaltando que por meio do impresso foi possível conhecer a dinâmica das Uniões Juvenis, congressos distritais e acontecimentos do círculo juvenil do Brasil. Revela que lá os recursos são escassos e que conta com a colaboração dos jovens do Brasil com envio de qualquer material que possa auxiliar no trabalho com jovens e crianças. Reforça que a Igreja Evangélica Luterana de Portugal já possui a Escola Dominical, que conta com uma frequência regular de 20 a 30 crianças e dois grupos de jovens. Um deles com 15 jovens que se reúnem quinzenalmente em Lisboa, sendo um deles natural da Angola, província portuguesa ultramarina, e outro grupo com 8 jovens que se reúnem semanalmente em Queluz (O JOVEM LUTERANO, jan./fev. 1969).

As conexões e trocas podem ser percebidas, também, pelos relatos de viagens de jovens brasileiros que se deslocaram para conhecer a realidade da juventude luterana em diferentes países. Como é o caso de um estudante brasileiro que participou do Congresso da Juventude Luterana na Alemanha e pôde conhecer algumas organizações juvenis alemãs. Em seu relato observa que teve a oportunidade de experenciar e compartilhar atividades no contexto alemão. Ele opinou, inclusive, que tais jovens se encontravam muito mais “atrasados” em relação à Juventude do Brasil (O JOVEM LUTERANO, set./out. 1958). Diante disso, pode-se perceber que as conexões podem não ser apenas transferências mecânicas de conhecimento, abre-se a possibilidade de escolhas e julgamentos do que seria mais adequado a cada contexto. Lamenta-se que nas páginas do impresso não se aprofunde os motivos desse “atraso”, pressupõe-se que não havia uma organização tão sistematizada como encontros regulares e atividades que envolviam praticamente todo o cotidiano de lazer dos jovens.

A revista “O Jovem Luterano” mostra que esse intercâmbio da juventude luterana brasileira com jovens de diferentes nacionalidades era constante e se dava de várias maneiras. Ainda em 1950 é possível observar a publicação de uma carta enviada pela Walter League dos EUA aos jovens luteranos do Brasil, saudando-a pelo congresso constituinte de reorganização da antiga Liga Walther do Brasil com o nome de Juventude Luterana do Brasil (O JOVEM LUTERANO, jan./fev. 1950). O envio dessa carta evidencia que as juventudes luteranas no mundo não estavam isoladas e que havia uma comunicação entre elas. Ressalta-se também essa liderança que a Walther League norte-americana exercia sobre as demais, percebida pela revista como uma referência, conforme se observa no exemplar de jan./fev. de 1955, no momento em que noticiam o trabalho que vem sendo desenvolvido pelos jovens luteranos daquele país.

Assim como a juventude luterana brasileira deveria se inspirar no modelo juvenil luterano norte-americano, os jovens dos EUA também buscavam saber sobre o trabalho desenvolvido pelos jovens luteranos do Brasil. Em jul./ago. de 1957 a revista “O Jovem Luterano” comunica que a pedido da Walther League dos EUA foi realizada uma reportagem especial sobre o Congresso de jovens brasileiros para ser publicado na revista luterana juvenil daquele país. Já no mês seguinte a revista “O Jovem Luterano” anuncia que:

O Jovem Luterano e a juventude luterana do Brasil passarão a ter um contato mais íntimo com a revista dos nossos irmãos estadunidenses “The Walther League Messenger”18 com a nomeação do pastor Reimnitz como o nosso correspondente para os Estados Unidos (O JOVEM LUTERANO, set. 1957, p. 2).

Desta maneira não restam dúvidas de que existia uma circulação de informações entre os jovens brasileiros e norte-americanos por intermédio das suas revistas.

As trocas e conexões são visíveis, mas não há domínio total de transferências da organização juvenil da igreja-mãe, ela tenta instaurar diretrizes e preceitos, mas acontecem adaptações de tais diretrizes e preceitos na realidade brasileira.

De acordo com o estudo de Ossenbach e Pozo (2011) acerca dos modelos pós-coloniais ocorridos da Península Ibérica em direção a América Latina, os autores tentam desconstruir a relação de centro e periferia, como se os considerados mais adiantados dominassem e aculturassem totalmente a região periférica. O trabalho provoca as pesquisas que levam em conta a categoria da transnacionalidade e das histórias cruzadas ou interconectadas, ao questionar se realmente a considerada periferia seria tão dominada assim pelo centro. Com isso, é perceptível que as tentativas de organização educativa tinham o propósito de unir os grupos fora do país e adequá-los à instituição que buscavam orientar. Mas os grupos aqui instalados, apesar de parecerem dominados, conseguiam resistir e impor também a sua própria organização e adaptação. Não é somente o Brasil que precisa conhecer os Estados Unidos no caso, a necessidade de aprender a cultura da América do Sul também é visível.

Em 1964 a redação do “O Jovem Luterano” comunica que recebeu carta do Pastor W. Dorre, conselheiro da igreja-mãe (Sínodo de Missouri), (O JOVEM LUTERANO, mai./jun., 1964, p. 22). A carta evidencia o interesse das crianças e dos adolescentes norte-americanos em conhecer a cultura brasileira. Ao mesmo tempo em que a revista “O Jovem Luterano” aproveita para “incentivar os adolescentes brasileiros a praticar o seu inglês trocando cartas com os amiguinhos dos Estados Unidos. Terão muito o que contar e com certeza aprenderão muito sobre lá” (O JOVEM LUTERANO, mai./jun.,1964, p. 22). A troca de correspondências com irmãos na fé nos Estados Unidos era apresentada como uma oportunidade para o aprendizado linguístico, mas também para o conhecimento geral e cultural, uma vez que a proposta era o intercâmbio de informações. A esse respeito o presidente mundial do Sínodo de Missouri, na época Jacob Preus, em entrevista concedida à revista “O Jovem Luterano”, observa que “a melhor estratégia para a juventude brasileira introduzir novas ideias em seu trabalho e ter mais contato com os irmãos na fé de outros países é o intercâmbio entre os jovens” (O JOVEM LUTERANO, out., 1969, p. 6).

Ao mesmo tempo em que havia essa circulação de ideias e correspondências entre jovens luteranos brasileiros e americanos, a revista “O Jovem Luterano” de 1967, ago./set. registra a visita de um grupo de 28 jovens luteranos americanos, que reunindo o útil ao agradável teriam vindo ao Brasil para visitar algumas juventudes e conhecer as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre, participando ainda de um Congresso Juvenil na cidade gaúcha Segundo a revista:

Os americanos levaram uma boa impressão dos jovens luteranos brasileiros. A caravana de luteranos dos Estados Unidos foi muito bem recepcionada pelos jovens de todos os estados visitados, recebendo muito carinho dos jovens brasileiros que lhes apresentaram aspectos do tradicionalismo brasileiro. (O JOVEM LUTERANO, ago./set., 1967, p. 4).

Novamente a cultura brasileira é citada como um dos assuntos de interesse dos jovens norte-americanos.

Outro intercâmbio bastante presente nas páginas da revista é a relação de amizade entre os jovens luteranos do Brasil e da Argentina19, que pode ser observada nas páginas da revista “O Jovem Luterano” durante todo o período analisado. Em diversos momentos é possível observar a organização de caravanas de jovens brasileiros para participar do Congresso Geral da Juventude Luterana da Argentina. Na edição de mai./jun. de 1956, a revista “O Jovem Luterano” apresenta uma reportagem especial falando sobre a participação de 5 departamentos juvenis do Brasil no II Congresso Geral de Jovens em Buenos Aires, na Argentina. Na reportagem, os jovens falam sobre a experiência de participar de um conclave juvenil em outro país. De maneira semelhante, a revista, em diferentes momentos, registra a presença de jovens argentinos em congressos brasileiros.

Esse relacionamento próximo entre as juventudes vizinhas fazia com que eventos organizados pelos jovens argentinos fossem amplamente divulgados pela revista “O Jovem Luterano, ao mesmo tempo em que esses mesmos jovens expunham a sua ansiedade em participar de eventos em solo brasileiro, conforme carta enviada ao periódico em fev./mar. de 1957. A Associação dos jovens luteranos da Argentina escreve que aguarda com sumo interesse a programação do Congresso Geral da Juventude Luterana do Brasil, que irá se realizar em Porto Alegre/RS. Ressaltam que estão seguros de que os dias que passarão na companhia dos jovens brasileiros irão influenciar positivamente os ânimos da juventude da Argentina. Ainda um mês antes, a revista “O Jovem Luterano” noticiava com satisfação a confirmação de que mais uma vez a juventude luterana da Argentina enviaria representantes ao Congresso Geral da Juventude Luterana do Brasil. E ressalta “estreitamos, assim, cada vez mais os laços de amizade e intercâmbio espiritual com nossos irmãos argentinos” (O JOVEM LUTERANO, jan. 1957, p.1).

Com a proximidade geográfica entre o estado do Rio Grande do Sul e Argentina foi possível intensificar as relações e intercâmbios por meio de reuniões culturais e esportivas. Para isso, eram realizadas visitas e encontros com trocas e fortalecimentos dos grupos com os mesmos interesses e vinculações doutrinárias.

O que se percebe nessas estratégias foi a possibilidade de organizar atividades e um imaginário de congregamento e unidade atravessado por fronteiras transnacionais, ligados e relacionados pelo impresso da organização juvenil.

Considerações finais

Buscou-se, neste artigo, mostrar como conexões e interrelações podem ser realizadas por instituições religiosas que buscam em estratégias educativas moldar e formar determinados comportamentos. Neste caso, o público juvenil era o alvo, um grupo que tende a escapar dos controles por ansiar por mais liberdade de escolhas. Mas a instituição em questão, o Sínodo de Missouri, percebe desde a sua fundação como era importante investir na juventude, pois tal grupo seria o futuro fiel na igreja. Era preciso oferecer educação religiosa, moral e momentos de sociabilidades.

Uma das estratégias encontradas foi a constituição de associações juvenis luteranas a fim de concorrer com outras associações cristãs e trabalhadoras, colocando a circulação de periódicos que pudessem mediar a interlocução entre os interesses da igreja-mãe, nos Estados Unidos, com outros lugares. Neste estudo, o foco foi a realidade brasileira, que também se mostrou desde cedo preocupada com os jovens, publicando uma revista juvenil, “O Jovem Luterano”, impresso que organizou, orientou e fomentou atividades educativas, de sociabilidade e culturais para a formação do grupo desses jovens.

Foram abordados, aqui, os métodos mais profícuos que por meio do periódico buscavam intensificar essas conexões. Especialmente nas décadas de 1950-1970 foram publicadas as propostas de circulação e intercâmbio, a saber, os planos de leituras do Novo Testamento instituído pela igreja mãe, os círculos de amizades, com trocas de correspondência a nível internacional, e os relatos de viagens de jovens brasileiros, bem como recepção de jovens estrangeiros vindos ao Brasil.

Em relação aos planos de leitura, foram publicadas as propostas e a adesão de diferentes países, mostrando assim formas de conhecer outras realidades e contextos. A publicação da falta do protagonismo do Brasil na campanha, evidenciado pelo ranqueamento em que o Brasil figurava atrás de países como Japão e Índia, foi uma das formas de chamar atenção que se deveria fortalecer a juventude brasileira.

Os círculos de amizades mostravam e propagandeavam conexões e ligações de jovens estrangeiros com os brasileiros, em especial, coordenados pela igreja mãe nos Estados Unidos, mas com possibilidades de se comunicar com outros países. Visualiza-se, assim, que a instituição buscava homogeneizar as organizações juvenis pelo alinhamento doutrinário e de práticas consideradas cristãs, como divertimentos aceitos somente no seio da igreja.

Por fim, destacou-se ainda as viagens e recepção de jovens estrangeiros, que mostraram a tentativa de formar uma identidade juvenil luterana que transcendeu fronteiras, sendo que o conceito do transnacional e das histórias cruzadas ajudaram a problematizar muitas questões.

Até que ponto se tinha aceitação total das propostas hierárquicas da igreja? Como cada lugar se adaptava ao que vinha sendo proposto? Faltam elementos ainda a considerar para esmiuçar melhor os encontros e as conexões. Mas diante de tais práticas, pode-se afirmar que foi a instituição luterana em questão que buscou dar um sentido universalizante do que seria uma organização juvenil representante da vertente do luteranismo do Sínodo de Missouri, sendo necessário reforçar tal pensamento por meio dessas práticas mediadas no impresso “O Jovem Luterano”.

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1Estudos sobre a imigração no estado do Rio Grande do Sul já foram amplamente divulgados desde os anos de 2000, especialmente na região do Vale dos Sinos. Ver Dreher (1998), Rambo (2002), Kreutz (1194). São mais recentes os estudos na região meridional, Weiduschadt (2007), Thum (2009).

2Ao tratar da instituição luterana, que editou a revista juvenil, pode-se depreender que a instalação no Brasil se constituiu em grupos étnicos no Rio Grande do Sul, já, anteriormente, organizados. Havia, nesse meio, comunidades independentes não oficializadas, sistematizadas pelos primeiros imigrantes em meados do século XIX. Foram formadas no intuito de ter liberdade organizativa e permanecem até hoje, no entanto, essas não produziram material didático Teichmann, 1996. Por isso, a instituição do Sínodo de Missouri, atual Igreja Evangélica Luterana do Brasil, pôde ter apoio para se instalar nesse contexto, convencendo tais grupos imigratórios que era importante estar ligado a uma instituição oficial, justificando a adesão da necessidade de se ter formação teológica dos pastores e pedagógica dos professores, bem como o fomento de publicação de revistas e livros (WEIDUSCHADT, 2007).

3Martinho Lutero protagonizou a Reforma Protestante, movimento de renovação da Igreja ocorrido no século XVI, na Europa Central, que levou a importantes transformações na sociedade, operando mudanças no campo educacional e religioso. Assim, aqueles que se identificam com os ensinamentos de Martinho Lutero acabaram sendo chamados de luteranos. Para saber mais sobre ver: Russo (2012).

4Muitos trabalhos já trataram da formação das escolas paroquiais em comunidades étnicas. Ver Weiduschadt (2007); Kreutz (1994).

5Atual Juventude Evangélica Luterana do Brasil.

6Recebe esse nome após passar por um processo químico que envolve produtos como carbonato de cálcio, caulin, látex e outros, que protegem as fibras do papel e, por consequência, deixam o papel mais resistente, com uma superfície lisa e uniforme.

7A Casa Publicadora Concórdia, até hoje em funcionamento em Porto Alegre, foi fundada no Brasil em 1923. Publicava e publica os periódicos e livros da instituição em questão. Seu formato recebeu influência da editora do Sínodo de Missouri nos Estados Unidos, a Concordia Publishing House dos Estados Unidos (ALBRECHT, 2019).

8Com o surgimento da Associação Cristã de Moços, Associação de Jovens Trabalhadores, acaba forçando, em certa medida, o investimento do meio luterano em associações juvenis. (PAHL, 1977),

9O nome da liga foi uma homenagem ao fundador da igreja de Missouri nos Estados Unidos, chamado Carl Ferdinand Wilhelm Walter (WEIDUSCHADT, 2012).

10Em várias publicações da revista os jovens são orientados a escolher os seus pares da mesma vertente religiosa, porque a instituição considerava a família ideal aquela formada pelos membros que tivessem os princípios religiosos.

11Abreviatura utilizada para se referir aos Estados Unidos na época.

12Adota-se tal expressão porque foi nos Estados Unidos que a instituição Sínodo de Missouri se formou e organizou a expansão.

13Provável que nesse período, década de 1950, havia a necessidade de a instituição realizar essa missão, indo a comunidades, como as da África e Finlândia, que não seriam as étnicas alemãs. Os grupos étnicos, na metade do século XX, haviam se estabilizado e não haveria formação intensa de novos núcleos.

14Conjunto de medidas adotadas durante o governo de Getúlio Vargas (1937-1945), como a proibição do uso ad língua alemã e circulação de literatura estrangeira, entre outras medidas para diminuir a influência das comunidades de imigrantes estrangeiros no Brasil e forçar sua integração junto à população brasileira. Ver Seyferth (1997).

15Uma espécie de distintivo ou emblema que identifica um grupo de pessoas e ou seguimento.

161º pastor da Igreja evangélica Luterana do Brasil em Portugal.

17Tais atividades foram sempre organizadas nas instituições luteranas que, além dos cultos, promoviam estudos bíblicos, reuniões mais informais para estudar a Bíblia, De modo especial a escola dominical era uma prática destinada às crianças com aprendizado doutrinário na linguagem infantil e departamento de servas, destinado a reunião de mulheres, em geral, para o público feminino casado.

18Walther League Messengercomeçou a publicar sob esse título principal em 1918, sucedendo Vereinsbote, uma publicação bilíngue em alemão e inglês cujas edições posteriores foram legendadas como Walther League Messenger. Ela continuou a numeração do volume da publicação anterior. Foi substituído por Arena em 1963. Ver em https://onlinebooks.library.upenn.edu/webbin/serial?id=waltherleaguem

19Segundo Rieth (2009), a instituição Sínodo de Missouri começou na Argentina em 1905, sendo fomentada pela igreja do Brasil. Foi também expandida pelo meio comunitário étnico, ou seja, em comunidades germânicas já instaladas no território argentino.

Recebido: 05 de Agosto de 2022; Aceito: 21 de Março de 2023

Translated by Viviane Ramos - E-mail: vivianeramos@gmail.com

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