Apresentação
Com características históricas únicas, as populações dos países que compõem a Panamazônia representam sociedades originadas por uma variedade de movimentos migratórios ao longo do tempo. Essas populações deram origem a distintos espaços urbanos e rurais, tanto centrais como periféricos, em ambientes que incluem cidades, campos, florestas e rios. Elas são compostas por diversos grupos, como os povos tradicionais, que englobam indígenas, camponeses e colonos, além de ocupantes estrangeiros, sejam eles dominadores ou dominados, que chegaram de outros continentes e se estabeleceram na região.
Além disso, a formação dos países na Panamazônia também exibe uma diversidade notável, em que cada nação reserva um conjunto distinto de relações de poder, dinâmicas de dominação, estruturas econômicas e culturas multifacetadas. Como exemplo, o Brasil conquistou sua independência política em 1822, enquanto a Guiana alcançou a sua independência somente em 1966.
Historicamente, esses países têm enfrentado desafios decorrentes de disputas persistentes relacionadas à exploração de seus recursos naturais e às políticas que viabilizam ou permitem a implementação de megaprojetos, tais como a exploração mineral, o garimpo, a expansão agropecuária e a construção de ferrovias, entre outras ocupações, algumas das quais podem ser questionáveis. Isso resulta em contradições evidentes entre a geração de riqueza material decorrente desses empreendimentos econômicos, as políticas de desenvolvimento influenciadas pelas regras do mercado internacional que sustentam projetos locais e nacionais, e as necessidades expressas pelas populações locais. Em geral, essas populações não costumam se beneficiar economicamente desses projetos e, muitas vezes, têm suas vidas prejudicadas como resultado.
Um exemplo ilustrativo dessa situação é a luta diária dos povos indígenas Yanomami, que enfrentam desafios constantes para sobreviver devido à prática do garimpo ilegal em suas terras demarcadas.
Na Amazônia Ocidental, essa faixa envolve áreas fronteiriças com cinco países e tem cerca de 9 mil Km de extensão [...] tendo uma situação periférica com relação aos centros urbanos maiores e, portanto, também com relação à modernidade, essas áreas apenas ocasionalmente foram atingidas pelo processo histórico de ocupação regional. São marcadas por uma realidade socioeconômica deprimida, refletindo a marginalidade acentuada pelas grandes distâncias (SILVA; HOMMA, 2015, p. 161).
Estamos lidando, portanto, com pessoas que habitam uma região de grande destaque e interesse global devido às suas biodiversidade e riqueza biológica. Essa área desempenha um papel central na manutenção da vida no nosso planeta, o que é evidenciado pelo fato de que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30) será realizada na Amazônia brasileira, especificamente em Belém, Pará. No entanto, é fundamental ressaltar que essa atenção se deve não apenas à região em si, mas também às suas populações.
É imprescindível que reconheçamos a importância de dar visibilidade a essas comunidades, permitindo que elas compartilhem suas experiências sociais, culturais e históricas, assim como seus modos de vida e os métodos de educação das gerações futuras por meio de instituições próprias. Devemos, também, promover a divulgação das diferenças e singularidades que existem entre essas populações, o que ajuda a explicar as práticas escolares que têm significados particulares e nacionais, como exemplificado na imagem abaixo, que retrata uma manifestação cívico-escolar em um rio durante um desfile fluvial.
Essas experiências singulares oferecem insights valiosos sobre as pessoas que desempenham um papel fundamental na educação da Amazônia, bem como sobre as intervenções políticas em nível nacional e local e as práticas sociais e culturais que, ao longo da história, têm sido constantemente remodeladas.
Explorar a história da educação na Amazônia nos confronta com a contradição de produzir conhecimento sobre uma região que está no epicentro dos debates globais, mas que, ao mesmo tempo, permanece à margem. Tal marginalidade é dupla, pois essas áreas estão localizadas em países que orbitam em torno das economias industriais desenvolvidas e, no caso do Brasil, também em estados federativos que estão distantes dos centros produtivos (STAVIE, 2015).
Os países que compõem essa área geográfica buscam alcançar uma simetria e equidade em um local caracterizado por suas próprias necessidades e por desafios únicos. Além disso, essa região abriga uma diversidade extraordinária de expressões culturais, entrelaçadas com distintas identidades coletivas, que servem como alicerce às lutas pela preservação de seus territórios (MESQUITA et al., 2009).
A produção de conhecimento sobre a história da educação na/da Panamazônia emerge como um canal adicional para reflexão sobre essas identidades e sobre as vidas das diversas populações amazônicas, situadas no contexto dos variados processos e projetos de construção das nações e de seus sistemas educacionais.1
Apresentamos, agora, uma temática inédita, o que justifica plenamente o desafio que assumimos ao reunir esta produção da maneira como a proposta se apresenta. Apesar das dificuldades que surgiram, decidimos enfrentá-las diretamente.
A história da educação na Amazônia, em suas diversas abordagens teóricas, desempenha um papel fundamental no fortalecimento da cooperação e integração dos povos, promovendo o conhecimento, a problematização teórica e a compreensão ativa das subalternizações que afetam a região.
O percurso que estamos traçando atualmente ganha forma. Damasceno e outros(as) pesquisadores(as) (2021) mergulham na produção em história da educação na pós-graduação na Amazônia, entre 2003 e 2019, para destacar a escassez de produtos, dissertações e teses nesse campo. Por outro lado, Vasconcelos, Souza e Miki (2023) exploram os desafios na construção do campo e na produção de conhecimento nos estados Amazonas e Pará, salientando a contradição entre a riqueza de fontes disponíveis para a escrita da história da educação e a carência de políticas públicas para a constituição e preservação de acervos documentais. Esse esforço é compartilhado por Costa e Rosário (2020), que narram a trajetória de dois grupos de estudo e pesquisa no Pará, documentando e divulgando sua produção e seu impacto na ampliação do debate sobre a História da Educação na Amazônia. Esses autores destacam os desafios enfrentados, os progressos alcançados e os esforços contínuos empreendidos nesse campo.
No contexto que se delineia, parece apropriado analisar alguns dos avanços que vêm sendo feitos na construção da história da educação na Panamazônia, com base no que tem sido publicado em artigos de revistas acadêmicas brasileiras. Vale ressaltar que não estamos buscando realizar um levantamento completo do estado da arte, mas, sim, destacar algumas produções dos últimos cinco anos, tomando como referência revistas de diferentes regiões do Brasil, incluindo Norte, Nordeste, Centro-Oeste e, claro, a região amazônica, bem como duas outras revistas: uma especializada em história da educação e a outra que, gentilmente, aceitou nosso dossiê.
Começando pelo Norte do País, merece destaque a publicação em história da educação na Revista Exitus, ligada à Universidade Federal do Oeste do Pará. Nessa revista, encontramos uma análise complexa sobre a inserção da Amazônia no contexto do modo de produção hegemônico e no projeto educacional da modernidade, apresentada por Colares (2022). O autor problematiza a colonização, tanto a externa como a interna, que resulta nos persistentes problemas de subordinação. Além disso, na mesma revista, há um estudo sobre a formação de professores de Matemática para o ensino em escolas rurais no sul de Mato Grosso durante a década de 1960. Os autores Furtado, Alencar e Amorim (2019) empreendem uma análise crítica dessa formação, considerada tecnicista, a partir dos cadernos de uma professora leiga em formação. Utilizando fontes primárias de arquivos públicos e escolares, Soares (2019) também contribui para a história da educação ao explorar a história da educação Matemática por meio da trajetória de um professor e autor de livros nessa disciplina escolar.
No campo da história das instituições escolares, Silva e Oliveira (2022) se destacam ao trazer à tona uma experiência considerada pioneira em educação integral que ocorreu em uma escola de Belém nos anos 1900. Na mesma linha temática, Silva e Miki (2019) lançam luz sobre a história do ensino técnico em uma escola de Manaus, abrangendo o período de 1942 a 1965. Por fim, no âmbito das políticas públicas em educação, Golobovante, Melo e Damasceno (2023) abordam questões relacionadas ao ensino de História no Pará, situando-o no contexto do período nacional-desenvolvimentista no Brasil.
Esses estudos representam importantes contribuições para o campo da história da educação na Panamazônia, explorando diversos aspectos e abordagens que enriquecem nossa compreensão das dinâmicas educacionais nessa região singular.
Seguindo para o Nordeste, na Revista Educação e Emancipação, um periódico eletrônico da Universidade Federal do Maranhão, identificamos textos relevantes sobre a história da educação na Amazônia. Com uma abordagem cultural, Maciel e Castro (2019) nos convidam a examinar as mobílias escolares nas escolas radiofônicas na Amazônia bragantina, no período de 1961 a 1968, como artefatos que proporcionam uma análise da produção, da circulação e dos métodos de ensino voltados para jovens e adultos. Por sua vez, Frazão (2023) compartilha informações sobre a formação e as práticas das diretoras dos grupos escolares no Maranhão, recorrendo à história oral para resgatar suas memórias formativas. Além disso, nesse periódico, encontramos um estudo que aborda a história da educação básica na Venezuela, contextualizada durante a chamada “guerra econômica” que ocorreu de 2014 a 2018, com ênfase nas consequências do embargo econômico, um tópico analisado por Nogueira e Alves (2021). Por fim, uma discussão crítica sobre a educação quilombola é conduzida por Ferreira, Rodrigues e Martins (2022), por meio do exame da história de uma escola quilombola no Mato Grosso e das questões relacionadas à formação de professores para essa escola.
Avançando para a região Centro-Oeste, encontramos três temáticas abordadas na Revista de Educação Pública, vinculada à Universidade Federal de Mato Grosso. No contexto da educação indígena em Rondônia, Neves (2023) lança luz sobre a educação formal para os Pakaas-Novos, no período de 1965 a 1979, destacando as resistências da comunidade, que preservou suas práticas culturais e incorporou o conhecimento escolar de acordo com seus próprios interesses. Kunze (2020), por sua vez, apresenta um estudo que abrange uma década da história do Instituto Federal do Mato Grosso, ressaltando o papel da instituição em ensino, pesquisa e extensão, tanto na educação básica como no ensino superior na região. Silva (2023) contribui com aspectos da história da instrução primária durante o processo de formação da cidade de Porto Velho, examinando as primeiras escolas criadas na cidade, as modalidades de ensino existentes e os debates relacionados ao grupo escolar no período de 1910 a 1930, à luz da História Cultural.
Por fim, desejamos destacar a recepção e publicação de artigos relacionados à Amazônia na Revista Brasileira de História da Educação, um periódico de reconhecimento nacional que representa um importante passo para a integração de nossa história na região. A revista abrange uma ampla variedade de temas e localidades, abordando questões como a história intelectual, exemplificada pela experiência educacional e política de José Veríssimo no Pará (MORAES, 2020), bem como pela trajetória social de José do Nascimento Moraes, um proeminente representante de uma família negra que enfrentou o racismo (CRUZ, 2022).
Além disso, a inspeção escolar no início do século XX na educação paraense durante a Primeira República é minuciosamente explorada por Damasceno e Pantoja (2020). A história das instituições escolares e da educação indígena é discutida com base na experiência dos internatos salesianos no Amazonas (COSTA, 2021) e no estudo da cultura escolar e das práticas educacionais no Colégio Universitário da Universidade Federal do Maranhão, no período de 1980 a 1995 (CASTELLANOS; OLIVEIRA, 2021).
O tema da educação e trabalho é abordado de forma substancial por Lobato e Ferreira (2020), que investigam as ações educativas de uma empresa mineradora ativa no Estado do Amapá durante os anos de 1964 a 1967. Além disso, questões relacionadas a qualidade, avaliação e expansão do ensino são amplamente exploradas, traçando a história política da educação paraense entre 1957 e 1961 (BENCOSTTA; MELO; MORAES, 2022).
A revista também se estende além das fronteiras brasileiras, com um olhar sobre a Venezuela, destacando as instituições educacionais e o pensamento pedagógico de intelectuais comprometidos com a causa da liberdade durante o processo de independência venezuelano de 1808 a 1822 (FARRERO, 2020).
A relação entre educação e cultura é explorada de maneira intrigante por Maciel (2020), que analisa o rádio cativo como um meio de alfabetização e escolarização de caboclos ingênuos, jovens e adultos nas escolas radiofônicas da Prelazia do Guamá, na Amazônia paraense, entre 1961 e 1971.
Por último, o periódico Educar em Revista, da Universidade Federal do Paraná, tem sido um valioso espaço para divulgar a história da educação na Amazônia. Autores como Ruíz e Socorro (2020) examinam os impactos das políticas sociais, em particular as econômicas, dos Estados Unidos da América sobre a Venezuela e o projeto bolivariano nas últimas décadas. Maciel, Castro e França (2019) investigam a cultura escolar em Bragança, Pará, analisando a cultura material nas escolas radiofônicas entre 1960 e 1970. Por fim, Zora (2022) compartilha suas análises sobre a formação dos modelos de sujeito educado na Colômbia a partir do currículo e das políticas do ensino médio no período de 1956 a 2015.
Esse breve panorama da produção relacionada à história da educação na Amazônia demonstra um crescimento significativo e uma crescente expansão dessa área de estudos, consolidando uma base sólida para futuras investigações. A diversidade de experiências históricas na região contribui para a singularidade da educação amazônica, que, gradualmente, está ganhando visibilidade a nível nacional e internacional. Isso justifica a necessidade de estabelecer um espaço científico dedicado à reflexão histórica sobre a educação na Amazônia, utilizando as linguagens e perspectivas locais, incorporando as experiências dos sujeitos envolvidos, não apenas como fontes de conhecimento sobre suas próprias histórias, mas também como fundamentos teóricos e metodológicos para a produção desses saberes.
A busca por novas fontes, perspectivas, olhares e objetos de estudo é fundamental na construção dessa narrativa histórica da Amazônia, que nos afasta do discurso centralizado e hegemônico que, muitas vezes, prevalece nas representações sobre regiões periféricas.
A compilação de escritos relacionados à história da educação na Panamazônia é pertinente, considerando a crescente relevância das questões relacionadas à região no cenário global. A inclusão de artigos originais e inéditos produzidos por pesquisadores do campo da história da educação, com foco em instituições de ensino e pesquisa, torna este dossiê um meio privilegiado para ampliar as relações internacionais, promovendo o diálogo entre pesquisadores de diferentes instituições e, assim, contribuindo para reduzir o desequilíbrio acentuado na produção de conhecimento entre os países envolvidos.
Assim sendo, a estrutura desta publicação foi cuidadosamente elaborada, compreendendo nove artigos inéditos e uma entrevista. Esses materiais são fruto de pesquisas profundamente enraizadas em abordagens e questões que discutem a significativa relevância da história da educação na região amazônica.
Para inaugurar esta contribuição à nossa historiografia, destacamos o artigo de Vitor Souza Cunha Nery e Cristiane Socorro Santos Nery, intitulado Sujeitos de inspeção da Instrução Pública Primária na Comarca de Macapá (1852-1886). Esse estudo utiliza uma variedade de fontes históricas encontradas em arquivos de grande relevância, que foram cruciais na identificação das diferentes categorias de agentes de inspeção escolar na região. Esses agentes incluíam presidentes de província, diretores de instrução pública, delegados, visitadores e, por fim, professores. O que unia esses agentes, além de sua atuação na promoção da educação e na fiscalização das escolas na Comarca de Macapá, no século XIX, era a sua origem social elitizada.
Adalberto Carvalho Ribeiro, em seu estudo intitulado Trajetórias e memórias de pioneiros da Amazônia Setentrional: singularidades históricas, formação e bases do Sistema Educacional Amapaense, revela, por meio da metodologia de história de vida e das memórias das personagens entrevistadas, que as trajetórias estão intrinsecamente vinculadas aos contextos sociais. Nesse caso, os processos de socialização de quatro professores e quatro professoras aposentados são profundamente influenciados pela história e pela formação, nas bases, do sistema educacional amapaense ― localizado na Amazônia setentrional brasileira ― ao mesmo tempo em que destacam percursos individuais singulares que evidenciam o contexto da região a partir de meados do século XX.
Em seguida, o artigo de Alceu Zoia, Josiane Brolo Rohden e Helen Arantes Martins, intitulado O cotidiano escolar na história de Vilhena-RO durante o processo de colonização da Amazônia no século XX, discute o cotidiano escolar da Escola Wilson Camargo, situada na região Norte do Brasil, entre os anos de 1960 e 1980, um período notoriamente marcado pela Ditadura Civil-Militar Brasileira. Além da documentação da própria escola, foram utilizadas entrevistas realizadas com ex-alunos e professores que, juntos, contribuíram para a contextualização da história da educação em relação às práticas vivenciadas pelos indivíduos que integravam aquele ambiente escolar.
As autoras Iolete Ribeiro da Silva e Alessandra dos Santos Pereira, em seu artigo, História de vida e feminismos na Amazônia: um estudo de caso, voltam seus olhares para a historiografia social da Amazônia que, por muito tempo, invisibilizou e silenciou o papel desempenhado pelas mulheres professoras ribeirinhas do Rio Negro, próximas ao município de Iranduba (Amazonas). Por meio de suas análises, as autoras buscam compreender os processos de empoderamento dessas mulheres e suas estratégias de resistência, que se configuraram dentro de contextos sociais mais amplos, contribuindo para a construção de diferentes formas de participação e protagonismo comunitário.
Dentro do contexto da produção historiográfica, apresentamos, a seguir, quatro discussões de significativa relevância. A primeira delas é a contribuição de Vivian Souza Lobato, Renato Pinheiro Costa e Maria José Aviz Rosário, intitulada A Linha de História da Educação nos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu. Nesse estudo, enfatiza-se a importância dos estudos sobre a História da Educação Básica no âmbito da Educação, com especial destaque para a produção dos Programas de Pós-Graduação em Educação no Brasil. Destaca-se, sobretudo, a trajetória da pesquisa História da Educação Básica do Programa de Pós-Graduação em Currículo e Gestão da Escola Básica da Universidade Federal do Pará.
A segunda discussão é apresentada por Carlos Nazareno Ferreira Borges e Márcio Barradas Souza, por meio do artigo intitulado Notas introdutórias sobre a educação não escolar em pesquisas educacionais. Conforme sugerido pelo título, o texto tem como objetivo analisar experiências de pesquisas educacionais focadas em processos educativos de natureza não escolar. Essas pesquisas foram conduzidas por membros do Grupo de Pesquisa História da Educação na Amazônia, inserido na Linha de Pesquisa Saberes Culturais e Educação na Amazônia do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará.
A terceira discussão, apresentada no artigo de autoria de José Damião Trindade Rocha e Jardilene Gualberto Pereira Fôlha, intitulado Quilombolas Amazônicos nas pesquisas de Pós-Graduação em Educação, resulta de investigações sobre as pesquisas realizadas nos Programas de Pós-Graduação em Educação das universidades da Amazônia Brasileira, com enfoque nos remanescentes quilombolas. Assim como as discussões anteriores, esse estudo tem base na abordagem bibliográfica, utilizando a metodologia do estado do conhecimento.
Por fim, a quarta discussão desse conjunto de estudos é apresentada no artigo de Livia Sousa da Silva, Welington da Costa Pinheiro e Tayane Helena Cunha Silva, intitulado A utilização da técnica do inventário como instrumento de pesquisa: uma contribuição metodológica para a História da Educação na Amazônia. Esse artigo tem como objetivo primordial analisar a aplicação do inventário como uma ferramenta técnico-metodológica na análise de dados documentais de grande relevância para as pesquisas realizadas na área da História da Educação, com foco nas produções acadêmicas no contexto amazônico, especialmente no estado do Pará.
Continuamos nossa apresentação com o próximo artigo, A constituição do Estado na Modernidade e as Políticas Educacionais de Inclusão na Panamazônia: Brasil, Colômbia e Peru, de autoria de Maria Almerinda de Souza Matos e Maria Francisca Nunes dos Santos. Este estudo direciona seu foco para a compreensão da formação do Estado Moderno e sua inter-relação com as políticas educacionais na América Latina, com ênfase nos casos do Brasil, da Colômbia e do Peru. As autoras evidenciam que a educação formal nem sempre foi universal e que, muitas vezes, foi concebida como um privilégio, perpetuando a marginalização de grupos sociais, como negros, indígenas e surdos, fora das salas de aula.
Para encerrar nosso dossiê, apresentamos a entrevista Diálogos sobre a História da Educação na Panamazônia, com a participação dos renomados pesquisadores Anselmo Colares (Brasil) e Luiz Bermudez (Venezuela), juntamente com a destacada pesquisadora Mariana Tosolini (Argentina). Nessa entrevista, eles e ela exploram a significância de estudos dedicados à história da educação, especialmente na vasta região da Amazônia e da América do Sul, compartilhando também o desejo de iniciar um diálogo enriquecedor com colegas de países vizinhos.
As experiências histórico-educacionais devem destacar ideias e práticas contrárias à hegemonia, tornando visíveis as diversas pessoas, territórios e experiências sócio-históricas. Os pensamentos questionadores oferecem uma maneira alternativa de abordar a educação, levando à análise crítica dos processos educacionais do ponto de vista dos subjugados e à superação de qualquer abordagem colonialista. O conhecimento sobre a história da educação assume um papel central no desenvolvimento social e econômico da região.
Espera-se que este conjunto de ideias promova um maior diálogo científico entre os países Panamazônicos, uma vez que o distanciamento entre essas nações tem resultado em um nível de diálogo e cooperação técnica e diplomática tênue e muito distante das demandas das populações da região (SILVA; RODRIGUES, 2021).
Convidamos os(as) leitores(as) a refletir sobre a história da educação na Panamazônia por meio dos artigos apresentados neste Dossiê. Esses artigos revisam experiências nacionais e locais, estimulando reflexões que têm como objetivo reunir, socializar e dar voz às diversas experiências histórico-educacionais das populações dos países que compartilham o espaço/tempo panamazônico.
Por fim, esta publicação é um ato político, uma contribuição para fortalecer a educação e suas análises sob uma perspectiva histórica. Ela busca dar visibilidade às pessoas e às suas histórias. Que esta leitura seja tão enriquecedora como a expressão “pai d’égua”, proposta por dois acadêmicos amazônicos: um pesquisador do Paraná e uma pesquisadora do Pará.