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Práxis Educativa

versão impressa ISSN 1809-4031versão On-line ISSN 1809-4309

Práxis Educativa vol.19  Ponta Grossa  2024  Epub 31-Maio-2024

https://doi.org/10.5212/praxeduc.v.19.22809.012 

Artigos

A apropriação da teoria de Pierre Bourdieu nas pesquisas que tratam das políticas públicas educacionais no Brasil e na Argentina (2015-2022)

The appropriation of Pierre Bourdieu’s theory in research dealing with public education policies in Brazil and Argentina (2015-2022)

La apropiación de la teoría de Pierre Bourdieu en las investigaciones sobre políticas públicas educativas en Brasil y Argentina (2015-2022)

Marisa Schneckenberg* 
http://orcid.org/0000-0002-4006-3001

Hernán Mariano Amar** 
http://orcid.org/0000-0001-9150-7074

Jorge Manuel Gorostiaga*** 
http://orcid.org/0000-0002-5766-1593

*Doutora em Educação. Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). E-mail: <marisaunicentro@hotmail.com>.

**Doutor em Ciências Sociais. Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas-Universidad Pedagógica Nacional (CONICET-UNIPE), Argentina. E-mail: <hernan.amar@unipe.edu.ar>.

***Doutor em Análise Social e Comparada da Educação. Laboratorio de Investigación en Ciencias Humanas, Escuela de Humanidades de la Universidad Nacional de San Martín/Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas. E-mail: <jorgegoros@gmail.com>.


Resumo

O propósito desta investigação consiste em apresentar a contribuição e os limites da apropriação do referencial teórico-metodológico, fundamentado na obra do filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002), a partir da produção de pesquisadores brasileiros e argentinos publicada em periódicos científicos do campo científico das políticas educacionais no período compreendido entre 2015 e 2022. A partir da metapesquisa, foi possível evidenciar especialmente a consistência da apropriação da teoria e do método de Bourdieu e a relevância de estudos que se dispõem a investir em uma apropriação do modo de trabalho do autor. Tal análise poderá ampliar e contribuir na análise da produção no campo científico das políticas públicas educacionais em ambos os países, assim como na formação de seus pesquisadores.

Palavras-chave: Políticas educacionais; Metapesquisa; Pierre Bourdieu

Abstract

The purpose of this investigation is to present the contribution and limits of the appropriation of the theoretical-methodological framework based on the work of the French philosopher and sociologist Pierre Bourdieu (1930-2002), from the production of Brazilian and Argentine researchers published in scientific journals of the scientific field of education policies in the period between 2015 and 2022. Based on meta-research, it was especially possible to highlight the consistency of the appropriation of Bourdieu’s theory and method and the relevance of studies that are willing to invest in an appropriation of the author’s way of working. Such analysis expands and contributes to the analysis of production in the scientific field of education policies in both countries, as well as in the training of their researchers.

Keywords: Education policies; Meta-Research; Pierre Bourdieu

Resumen

El propósito de esta investigación consiste en presentar el aporte y los límites de la apropiación del marco teórico-metodológico fundamentado en la obra del filósofo y sociólogo francés Pierre Bourdieu (1930-2002), a partir del análisis de la producción de investigadores brasileños y argentinos publicada en revistas del campo científico en políticas educativas en el período 2015- 2022. A partir de la metainvestigación fue posible resaltar especialmente la consistencia de la apropiación de la teoría y el método de Bourdieu y la relevancia de estudios que se disponen a invertir en una apropiación del modo de trabajo del autor. Tal análisis podrá ampliar y contribuir al estudio de la producción en el campo científico de las políticas públicas sobre educación en ambos países, así como en la formación de sus investigadores.

Palabras clave: Políticas educativas; Metainvestigación; Pierre Bourdieu

Introdução

As políticas educacionais vêm delimitando um importante campo de investigação no contexto nacional e internacional, exigindo permanente consolidação teórico-prática. Assim, esta pesquisa objetiva apresentar a contribuição e os limites da apropriação do referencial teórico-metodológico fundamentado na obra do filósofo e sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002). Para além de descrever a apropriação, pretende-se apresentar uma análise contrastiva de como ela se dá junto ao objeto de pesquisa definido pelo pesquisador, especialmente a partir da produção de pesquisadores brasileiros e argentinos no campo científico das políticas educacionais, no período compreendido entre 2015 e 2022. Com isso, busca-se evidenciar a relevância do compromisso acadêmico do pesquisador com a literatura escolhida para compreender, analisar e interpretar o delineamento das ações, dos discursos e das práticas junto às políticas públicas educacionais de ambos os países.

Historicamente, as políticas educacionais são pensadas como respostas a problemas percebidos no campo educacional. Contudo, cabe reconhecer um trabalho discursivo no seu planejamento, que leva à gestão dos problemas de determinada maneira nem sempre da forma que possa sugerir uma análise científica de base teórica e empírica. Assim sendo, a fonte do problema nunca é manifesta, pois ela sempre evidencia um modo específico de fazer e, ainda, um ponto de vista particular. A vigilância epistemológica (Tello, 2012), que envolve a atividade do pesquisador em políticas educacionais, pretende, portanto, evidenciar um estudo de fundo histórico da política, em que a estrutura de uma pesquisa elaborada a partir da história dará legitimidade às suas intenções.

Neste trabalho, ocupa relevância justamente a produção do conhecimento científico e de como se torna explícito o posicionamento do pesquisador a partir dos trabalhos de pesquisa a serem apresentados. Bourdieu, Chamboredon e Passeron (2008) tratam do conceito de reflexividade epistemológica no sentido de desenvolver uma investigação científica sólida e coerente. Tal conceito que fundamenta o método da pesquisa desses autores envolve a possibilidade efetiva de mutação das estruturas de poder a partir de pressões coletivas, sempre presentes no campo das políticas educacionais.

Conforme Bourdieu (2000), a ausência de clareza na opção epistemológica explicita uma série de receitas e/ou preceitos que mostram muito mais a intenção de ser reconhecido como conhecedor do objeto, do que realmente se tornar conhecedor do objeto. De acordo com Rizvi e Lingard (2013), entre os múltiplos âmbitos de análise política, cabe considerar especialmente as questões relacionadas ao posicionamento do investigador de políticas e sua importância para a análise política. As perguntas sobre quem faz a análise política e com que propósito, dentro de determinado campo de investigação, são claramente relevantes para determinar o enfoque epistemológico definido nas pesquisas científicas. Tal posicionamento estará, portanto,

[...] relacionado com a situação real do investigador de políticas a respeito do enfoque da análise, como significado do posicionamento vinculado à postura teórica e política adaptada pelo investigador de políticas, com implicações a respeito dos recursos intelectuais que podem ser úteis junto ao tema de investigação, incluindo a teoria e a metodologia e por fim o posicionamento a respeito da investigação política que está intimamente relacionada com as características da globalização (Rizvi; Lingard, 2013, p. 74-75).

Daí decorre a importância da pesquisa, que se propõe a mostrar, entre os trabalhos investigados, o que Ball (2006) chama de “epistemologia profunda”, neste caso da apropriação dos conceitos explicitados na obra de Bourdieu. Trata-se, também, de evidenciar, no trabalho do pesquisador seus questionamentos, seu posicionamento frente às políticas, sua postura teórica e a vinculação destas com os recursos intelectuais utilizados em seu tema de investigação, envolvendo teoria e método. Essa é uma questão de interesse nesta pesquisa. Desse modo, para além de descrever a apropriação da teoria, quer-se identificar como se dá o vínculo desta com o tema de investigação nos trabalhos de pesquisa analisados. Cabe ainda registrar a intenção de, a partir da metapesquisa, contribuir para a compreensão da situação da pesquisa no campo das políticas educacionais no Brasil e na Argentina, oferecendo elementos tanto para a consolidação das pesquisas quanto para o processo de formação de pesquisadores.

Assim sendo, a problemática consiste em realizar uma análise da produção científica sobre as políticas públicas educativas do Brasil e na Argentina, nos anos 2015-2022, e suas relações com a evidência teórico-prática da área de conhecimento. Não se trata, como afirma Ball (1990 apudRizvi; Lingard, 2013), de uma análise de política com caráter de comentário e crítica, mas, sim, de um compromisso e busca da compreensão do fundamento epistemológico das pesquisas apresentadas. Cabe evidenciar, ainda, que a opção em realizar a pesquisa no Brasil e na Argentina se dá tanto considerando a relevância da internacionalização da prática da pesquisa acadêmica nos Programas de Pós-Graduação em Educação, como pela excelência no desenvolvimento do estudo da temática pretendida na Argentina.

Para tanto, este texto encontra-se organizado da seguinte forma: breve descrição da entrada da obra de Pierre Bourdieu no Brasil e na Argentina; apresentação e descrição do mapeamento dos artigos científicos de pesquisadores do Brasil, tendo sido encontrados 16 trabalhos no período e, da Argentina, 15 trabalhos no período; análise dos artigos científicos a partir das três categorias de análise concebidas por Roger Chartier (1998 apudCatani; Catani; Pereira, 2001), quais sejam: Apropriação Incidental: caracterizada por referências rápidas ao autor; Apropriação Conceitual Tópica: caracterizada pelo fato de deixar entrever a utilização, conquanto não sistemática, de citações e eventualmente de conceitos do autor; Apropriação do Modo de Trabalho: constituindo-se em maneiras de apropriação reveladoras da utilização sistemática de noções e conceitos do autor; e, por fim, as considerações finais.

A contribuição de Pierre Bourdieu no campo das pesquisas sobre políticas educacionais

Pierre Bourdieu foi um dos sociólogos mais influentes, importantes e citados do século XX. Ao longo de seus estudos e pesquisas, ele faz uma discussão e uma autoanálise sobre a aplicação dos conceitos pensados no campo da Ciência. Em Os usos sociais da ciência, Bourdieu (2004) afirma que é preciso escapar à alternativa da “ciência pura”, totalmente livre de qualquer necessidade social, e da “ciência escrava”, sujeita a todas as demandas político-econômicas. Como alternativa, o autor propõe o entendimento de que o campo científico é um mundo social, o qual faz imposições, solicitações e indicações relativamente independentes das pressões do mundo social global que o envolve. Dessa forma, conforme Bourdieu (2004), de fato, as pressões externas, sejam de que natureza forem, só se exercem por intermédio do campo, sendo mediatizadas pela lógica do campo. O campo científico é um espaço social, no qual agentes e agências científicas, dotados de habitus científico, produzem posicionamentos científicos (neste caso, sobre políticas educacionais) para lutar e estabelecer uma visão científica legítima sobre a educação, a política e a sociedade.

Cabe considerar que Pierre Bourdieu vem sendo descrito como um pesquisador construtivista estruturalista, provavelmente por sua postura intelectual no sentido de admitir que existem no mundo social estruturas objetivas que podem dirigir, ou até mesmo coagir, a ação e a representação dos agentes. Contudo, tais estruturas são construídas socialmente, assim como os esquemas de ação e pensamento, chamados por Bourdieu de habitus. Da mesma forma, o momento objetivo e subjetivo das relações sociais está disposto em uma relação dialética de integração e conflito; assim, há realmente as estruturas objetivas, que coagem as representações e as ações dos agentes, porém estes podem transformar ou conservar tais estruturas, ou almejar a tanto. Como os agentes incorporam a estrutura social se constitui, portanto, em uma das maiores preocupações da pesquisa e obra do sociólogo francês.

O capital científico configura-se, por conseguinte, como uma forma de capital simbólico, que se baseia em relações de conhecimento e reconhecimento dentro do campo. É nesse campo que a presente pesquisa pretende contribuir justamente nos modos de fazer do pesquisador dentro das políticas educacionais, propondo-se estudar e fundamentar seu objeto de investigação a partir dos fundamentos sociológicos da obra de Pierre Bourdieu.

A entrada da obra de Pierre Bourdieu no Brasil e na Argentina

No Brasil, a obra de Pierre Bourdieu vem sendo estudada, especialmente a partir do campo das Ciências Sociais, desde a década de 1960. A recepção da obra bourdieusiana experimentou diferentes estágios de recepção, entre movimentos crescentes e dispersões temáticas, nos usos da produção do sociólogo, especialmente no campo da Antropologia e da Sociologia, em detrimento da Ciência Política e da Educação. De qualquer forma, a influência do sociólogo francês, no campo da Sociologia da Educação, em todo o mundo, é seguramente reconhecida, especialmente com a publicação de Os herdeiros, em 1964, e, posteriormente, A reprodução, em 1970, ambos produzidos em parceria com Jean-Claude Passeron.

Oliveira e Silva (2021) descrevem, de forma detalhada e criteriosa, as formas de recepção de Pierre Bourdieu na Sociologia da Educação brasileira e indicam a relação e a influência das pesquisas francesas em território brasileiro:

[...] a sociologia francesa ocupa um locus particularmente relevante no âmbito da formação de professores no Brasil [...]. Some-se a isso o fato de que, no período de criação dos primeiros cursos de ciências sociais no Brasil na década de 1930, a influência francesa também foi decisiva, com destaque para a missão francesa que participou da fundação da Universidade de São Paulo (Oliveira; Silva, 2021, p. 4).

Consta, ainda, a partir da década de 1970, o encaminhamento de estudantes brasileiros para realizar seus estudos de pós-graduação na França. Especialmente com a criação do sistema de pós-graduação brasileiro, com a Reforma Universitária de 1968, percebe-se a circulação de cientistas sociais brasileiros na França para a realização de estudos de Doutorado. A partir daí, é possível afirmar que vários desses pesquisadores, inclusive do campo das Ciências da Educação, foram os principais responsáveis pela divulgação da obra de Pierre Bourdieu no Brasil. Esse processo, acompanhado pela participação de destaque de sociólogos franceses como Émile Durkheim, bem como pela ação francesa e pelo trânsito de pesquisadores brasileiros que foram realizar sua formação na França, conduzem, a partir da segunda metade do século XX, ao conhecimento das primeiras obras de Bourdieu e as apropriações de suas pesquisas passam a ser construídas no Brasil (Oliveira; Silva, 2021).

No campo da Educação, a França foi o principal destino no exterior para realização de estudos de pós-graduação, entre 1987 e 1998. Sociólogos do campo educacional francês, como Viviane Isambert-Jamati (1924-2019), fazem a orientação de pesquisadores brasileiros que vêm a se tornar referência em seus campos de atuação no Brasil junto à organização de Grupos de Pesquisa. Assim sendo, os primeiros textos de Bourdieu passaram a ser traduzidos no Brasil, ainda no final da década de 1960, também com a formação de uma rede de pesquisadores brasileiros e franceses, destacando-se como principal mediadora nesse processo Monique de Saint Martin (Oliveira; Silva, 2021). Pierre Bourdieu passou, portanto, a ser introduzido no Brasil, no campo intelectual, especialmente por seus ex-alunos brasileiros que realizaram estudos de pós-graduação na França. Esses pesquisadores passaram a ocupar lugares estratégicos em universidades, onde se iniciaram traduções de obras, divulgação de seus escritos, influenciando colegas de trabalho no Brasil e estabelecendo parcerias com colegas de trabalho franceses. No campo educacional,

[...] desde o princípio, Bourdieu é introduzido no Brasil como um autor fortemente vinculado ao debate educacional. Essa questão, obviamente, o liga à análise dos sistemas de ensino, mas também reconhece seu papel como investigador do campo acadêmico e intelectual, o que se tornará mais evidente em obras publicadas posteriormente - e, ainda mais recentemente, nas autorreflexões, ou na sociologia da educação, que passou a ser realizada mais sistematicamente pelos pesquisadores sobre a comunidade científica brasileira (Oliveira; Silva, 2021, p. 8).

No Brasil, a primeira obra de Bourdieu traduzida para o português foi A reprodução, em 1975. Ortiz (2013) aponta inclusive a publicação dessa obra no Brasil como um marco no campo da pesquisa educacional, causando um impacto nas discussões sobre o sistema de ensino brasileiro, depreendendo-se, como resultado, que a obra e a influência de Bourdieu jamais declinaria no Brasil, considerando ainda as inúmeras discussões que sua teoria da reprodução causou na pesquisa acadêmica. Por certo, os estudos de Bourdieu trazem como foco central a referência à sociedade capitalista contemporânea e apresentam uma reflexão sobre como a educação colabora na reprodução do consenso necessário para a reprodução de classes (Oliveira; Silva, 2021). Embora existam críticas sobre a limitação dos usos dos conceitos do autor na realidade educacional, o interesse pela obra bourdieusiana revigorou-se e intensificou-se no país, sobretudo a partir da década de 1990, quando ocorreu a universalização do acesso à Educação Básica. Bourdieu passou então a ser o autor mais citado na Sociologia da Educação brasileira e é amplamente abordado nas Faculdades de Educação, embora, nesse caso, apesar da larga citação aos seus trabalhos no campo da Educação, deve-se considerar que majoritariamente foram citações pontuais, e que apenas uma pequena parte desses trabalhos foram desenvolvidos e orientados pelo arsenal teórico do autor (Catani; Catani; Pereira, 2001).

Na Argentina, o primeiro livro de Bourdieu bem recebido entre os sociólogos foi A profissão de sociólogo. Essa obra epistemológica foi lida primeiro em francês e depois em um texto em espanhol no final dos anos de 1960 (Baranger, 2008, 2009; Martínez, 2007). Paralelamente, a sua Sociologia da Educação começou a circular entre alguns especialistas em educação no final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970. Por um lado, entre 1968 e 1971, Emilio Tenti Fanfani entrou em contato com Os herdeiros e suas edições na França, enquanto realizava seus estudos superiores em investigação política. Por outro lado, Juan Carlos Tedesco, diretor da Revista de Ciencias de la Educación (RCE), começou a incluir alguns artigos com referências à obra A Reprodução a partir de 1971 (Amar, 2016).

Nas páginas da RCE, o chamado “reprodutivismo educacional” de Bourdieu e Passeron foi utilizado sob as coordenadas teóricas do estruturalismo marxista althusseriano, para lançar uma ofensiva intelectual contra o desenvolvimentismo educacional local (secular e católico), que havia liderado o planejamento educacional público desde o final da década de 1950 (Amar, 2016; Suasnábar, 2004). Essa posição crítica assumida pela revista foi expressa, paradigmaticamente, em um artigo escrito por Tomás Amadeo Vasconi, publicado no número 9 (maio de 1973), em “Contra a Escola: rascunhos para uma crítica marxista da educação”. Esse sociólogo argentino concluiu que a escola burguesa não era uma instituição neutra que promovia a mobilidade social ascendente de acordo com as conquistas pessoais, mas, sim, um Aparelho Ideológico de Estado que incutiu, através da violência simbólica, uma ideologia dominante que reproduziu desigualdades entre classes sociais (Amar, 2021).

Essa primeira leitura de Bourdieu marcou a posterior recepção de sua teoria sociológica no campo educacional argentino. Deixou seus rastros, fundou suas inércias. Para além de alguns usos frutíferos e variados da sua obra, como os feitos por Tenti Fanfani ou pelos jovens Juan Dukuen e Manuel Giovine, em termos gerais, pode-se dizer que os usos educativos locais de Bourdieu continuaram a ligar o seu nome às “teorias da reprodução” e visões mecanicistas sobre educação e sociedade. Isso é percebido até hoje, não apenas em muitos dos programas de estudo das carreiras educacionais, mas também em parte da pesquisa educacional.

Esses efeitos de leitura nativa, que não levam em conta a abordagem praxiológica de Bourdieu ao mundo social, bem como a complexidade e a evolução do seu pensamento social sobre a educação, não podem ser explicados como uma “interpretação errada” da obra do sociólogo francês, mas antes como resultado de um perpétuo descompasso entre os campos de produção e recepção dos autores. Pelo menos, foi também isso que o próprio Bourdieu entendeu quando afirmou que as ideias viajam sem seus contextos originais de produção e são recebidas de acordo com as condições e as lógicas de funcionamento de campos intelectuais exógenos.

Procedimentos epistemetodológicos da pesquisa

A investigação seguiu o enfoque teórico metodológico da metapesquisa. Mainardes (2018) propõe utilizar a metapesquisa para estudos que analisam um campo ou disciplina dada, aspectos teóricos e epistemológicos, metodológicos, estilos de argumentação, nível de coerência interna e reflexividade ética. Sua principal característica, que o diferencia de outros enfoques, é sua finalidade de contribuir para o desenvolvimento de um campo ou uma disciplina. Em particular, sua utilização no campo das políticas educativas está orientada a avaliar a situação do campo e a promover seu desenvolvimento, com ênfase na análise dos posicionamentos metodológicos, teóricos e epistemológicos que adotam as investigações (Mainardes, 2018).

A presente proposta de investigação esteve fundamentada nas seguintes etapas de trabalho: definição dos propósitos da metapesquisa e da amostra; organização e sistematização dos textos da amostra; leitura sistemática e análise; integração dos dados e redação do relatório (Mainardes, 2021). A análise contrastiva (Durão, 1999) contribui para fins de descrever as diferentes formas de apropriação da obra de Bourdieu no Brasil e na Argentina. Ao evidenciar as similaridades e as diferenças existentes na referida produção, poderá ser possível estabelecer um parâmetro de conduta nas pesquisas no campo de investigação das políticas educacionais as quais apresentem alguma forma de apropriação da obra de Bourdieu em seus escritos.

Considerando as etapas da metapesquisa, no que se refere à organização e à sistematização dos textos da amostra, a busca foi realizada a partir dos descritores “Políticas Educacionais” e “Pierre Bourdieu” na Plataforma Google Acadêmico, referentes a artigos publicados em periódicos científicos no campo das políticas educacionais fundamentados na obra de Bourdieu, considerando publicações de autores de Instituições de Ensino Superior do Brasil e da Argentina. A fim de atender aos objetivos propostos, os trabalhos foram selecionados considerando título, resumo, citações de Bourdieu e de política educacional. O período previsto de busca foi entre os anos de 2015 e 2022, tendo sido encontrados 16 trabalhos publicados por pesquisadores brasileiros e listados na Plataforma. Já na busca por publicações de autores argentinos, resultaram 15 trabalhos, no mesmo período, conforme Quadros 1 e 2, a seguir. Cabe registrar que a pesquisa junto à Plataforma Google Acadêmico se deu a partir do Brasil entre os meses de junho de 2022 a maio de 2023. No levantamento pela produção científica da Argentina, ela se deu com a inclusão dessa informação nos termos de busca.

Quadro 1 Produção Científica do Brasil no campo das políticas educacionais - 2015-2022 

Levantamento dos principais artigos da área de políticas educacionais que se fundamentam na obra de Pierre Bourdieu no período de 2015-2022
Revista Autor Ano Título Vínculo institucional Link de acesso
1. Revista Tempos e Espaços em Educação, v. 8, n. 15, p. 121-131, jan./abr. 2015. Ione Ribeiro Valle 2015 Da meritocracia escolar financiada pela família à meritocracia escolar promovida pelo Estado: a igualdade de oportunidades progride a passo Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8640695
2. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 1, n. 2, p. 294-333, jul./dez. 2016. Fernando Cesar Sossai 2016 Anotações sobre o conceito de campo e os estudos em políticas educacionais Universidade da Região de Joinville (Univille) https://www.revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/10463
3.Arquivos Analíticos de Políticas Educativas, v. 24, n. 75, p. 1-13, 2016. Jefferson Mainardes; César Tello 2016 A pesquisa no campo da política educacional: explorando diferentes níveis de abordagem e abstração Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Brasil; Universidad Nacional de Tres de Febrero, Argentina https://www.redalyc.org/pdf/2750/275043450075.pdf
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6. Eccos - Revista Científica, n. 47, p. 237-252, set./dez. 2018. Rayane Regina Scheidt Gasparelo; Débora Cristina Jeffrey; Marisa Schneckenberg 2018 Análise de políticas educacionais: a abordagem do ciclo de políticas e as contribuições de Pierre Bourdieu Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro); Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) https://periodicos.uninove.br/eccos/article/view/7877
7. Movimento-Revista de Educação, ano 5, n. 9, p. 368-389, jul./dez. 2018. Flávia Monteiro de Barros Araújo; Pablo Silva Machado Bispo dos Santos 2018 A administração escolar durante o golpe militar e após a ruptura democrática de 2015: as políticas educacionais de uma autonomia escolar em cheque Universidade Federal Fluminense (UFF) https://periodicos.uff.br/revistamovimento/article/view/32690
8. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 3, p. 1-38, 2018. Isac Pimentel Guimarães 2018 Produção científica em redes de colaboração no campo da política educacional no Brasil (2000-2014) Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) https://www.revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12322
9. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 4, p. 1-23, 2019. Jorge Nassim Vieira Najjar; Marcelo Siqueira Maia Vinagre Mocarzel; Pablo Silva Machado Bispo dos Santos 2019 Os conceitos de campo e habitus em Pierre Bourdieu e sua (possível) aplicação à política educacional Universidade Federal Fluminense (UFF) https://revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/12957
10. InterMeio: Revista do Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMS, v. 25, n. 49, p. 55-82, jan./jun. 2019. Jacira Helena do Valle Pereira Assis; Sandra Novais de Souza; Alice Felisberto da Silva 2019 Operar com Pierre Bourdieu em estudos no campo educacional Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) https://desafioonline.ufms.br/index.php/intm/article/view/8950
11. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 6, n. 6, p. 51-61, 2020. Gabriela Albanás Couto; Schirlei Russi Von Dentz 2020 Conhecimento e política em Pierre Bourdieu: leitura e sentido do esboço de uma Pedagogia racional Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) http://www.periodicorease.pro.br/rease/article/view/112
12. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, v. 6, n. 6, p. 62-69, 2020. Rita Schane; Andrea Garcia Furtado; Roberta Ravaglio Gagno 2020 Alguns conceitos e contribuições de Pierre Bourdieu no campo educacional Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba (Faresc); Universidade Estadual do Paraná (Unespar) http://periodicorease.pro.br/rease/article/view/113
13. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 5, p. 1-17, 2020. Andréa de Paula Pires; Marisa Schneckenberg 2020 O conceito de habitus em Pierre Bourdieu: possibilidade de estudo na política de formação continuada do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro) https://www.revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/16257
14. Revista Pró-Discente, v. 26, n. 1, p. 164-175, jan./jun. 2020. Sue Elen Lievore; Roberta Freire Bastos 2020 Bases epistemológicas das pesquisas em políticas educacionais: alguns apontamentos Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) https://www.periodicos.ufes.br/prodiscente/article/view/23913
15. Revista Jornal de Políticas Educacionais, v. 15, n. 6, p. 1-23, fev. 2021. Jefferson Mainardes 2021 Panorama dos grupos de pesquisa de política educacional no Brasil Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) https://revistas.ufpr.br/jpe/article/view/79217
16. REVEDUC-Revista Eletrônica de Educação, v. 16, p. 1-18, jan./dez. 2022. Odair Neitzel; Camila Pelegrini 2022 A política educacional a partir da teoria do campo de Bourdieu Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) https://www.reveduc.ufscar.br/index.php/reveduc/article/view/4486

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados coletados no Google Acadêmico.

Nota: A busca no Google Acadêmico resultou em 328 artigos científicos aproximadamente, considerando os descritores “Pierre Bourdieu” e “políticas educacionais”. Destes, para maior refinamento, foram selecionados 16 trabalhos que mais atendiam à temática da pesquisa a partir dos seguintes critérios: título, resumo, citações de Bourdieu e temática específica no campo das políticas educacionais.

Quadro 2 Produção científica da Argentina no campo das políticas educacionais - 2015-2022 

Levantamento dos principais artigos da área de políticas educacionais que se fundamentam na obra de Pierre Bourdieu no período de 2015-2022
Revista Autor Ano Título Vínculo institucional Link de acesso
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3. Educação em Perspectiva, v. 6, n. 2, p. 199-226, jul./dez. 2015. Elisa Cragnolino 2015 Políticas públicas de educación en el campo: análisis de procesos de construcción y disputas de espacios educativos en Córdoba (Argentina) Universidad Nacional de Córdoba https://periodicos.ufv.br/educacaoemperspectiva/article/view/6799/2769
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5. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 1, n. 2, p. 451-476, jul./dez. 2016. Renata Giovine 2016 El oficio de enseñar política educativa: desplazamientos políticos y epistemológicos en los programas de formación docente universitaria en Argentina Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires https://revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/10475/5931
6. Revista Javeriana, n. 83, p. 57-82, jan./jun. 2017. César Tello 2017 Políticas educacionais na América Latina: o vínculo entre pesquisadores acadêmicos e tomadores de decisão em educação. Uma análise da teoria de campo Universidad Nacional de la Plata https://revistas.javeriana.edu.co/index.php/univhumanistica/article/view/15447/14362
7. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, n. 248, v. 98, p. 13-30, jan./abr. 2017. Silvana Lorena Lagoria 2017 Modelo analítico rizomático para o estudo dos efeitos das políticas educacionais regionais na experiência escolar cotidiana: as perspectivas de Rockwell, Bourdieu e Ball Universidad Nacional de Córdoba https://www.scielo.br/j/rbeped/a/dzPXfQckw364DyZcqhpnrcj/?format=pdf&lang=es
8. Práxis Educativa, v. 13, n. 1, p. 145-153, jan./abr. 2018. Hernán Mariano Amar 2018 Pierre Bourdieu: por una sociología sobre el Estado y las políticas educativas Universidad Nacional de Tres de Febrero https://revistas.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/view/10868
9. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 4, p. 1-10, 2019. Hernán Mariano Amar 2019 Estado, escuela y comunidad en la Argentina neoliberal (1993-2001). Decisiones teóricas y principales hallazgos de una investigación educativa Universidad Nacional de Tres de Febrero https://revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/14122/209209211582
10. Archivos Analíticos de Políticas Educativas, v. 27, n. 26, p. 1-20, 2019. Ingrid Sverdlick 2019 Inclusión educativa y derecho a la educación. La disputa de los sentidos Universidad Nacional Arturo Jauretche https://epaa.asu.edu/index.php/epaa/article/view/3197/2220
11. Rumbos TS, ano XIV, n. 20, p. 49-81, dez. 2019. María Fernanda Estevez 2019 “Alineación y alienación”: política educativa Argentina en tiempos de restauración neoliberal Universidad Nacional de San Juan https://revistafacso.ucentral.cl/index.php/rumbos/article/view/316/386
12. Confluencia de Saberes, n. 2, p. 53-74, 2020. Ema Paula Penas; María José Laurente 2020 Desafíos de investigar sobre políticas educativas y extractivismo: desde la alianza estatal empresarial hacia el giro ecoterritorial Universidad Nacional del Comahue https://revele.uncoma.edu.ar/index.php/confluenciadesaberes/article/view/2810/pdf
13. Revista de la Carrera de Sociología, v. 10, n. 10, p. 92-131, 2020. Nora Gluz; Mariel Karolinski; Maida Diyarian 2020 Diferencias e indiferencias. Pobreza y desigualdades en las políticas educativas argentinas del SXXI Universidad de Buenos Aires; Universidad Nacional de General Sarmiento; Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales https://publicaciones.sociales.uba.ar/index.php/entramadosyperspectivas/article/view/5675
14. Revista de Estudios Teóricos y Epistemológicos en Política Educativa, v. 7, p. 1-26, 2022. César Tello 2022 ¿Es el Estado el objeto de estudio de la política educativa? Contextualizaciones histórico-epistemológicas Universidad Nacional Tres de Febrero; Universidad Nacional de La Plata https://revistas.uepg.br/index.php/retepe/article/view/20137/209209216456
15. RELAPAE, ano 9, n. 17, p. 13-25, 2022. Inés Rodríguez Moyano; Lucrecia Rodrigo 2022 La evaluación de la calidad de la educación en Argentina. Tendencias y trayectoria de la política educativa nacional (1990-2022) Universidad de Buenos Aires; Universidad Nacional del Oeste https://revistas.untref.edu.ar/index.php/relapae/article/view/1479/1310

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados coletados no Google Acadêmico.

Nota: A busca no Google Acadêmico resultou em 23 artigos científicos. Destes, após leitura, sete foram excluídos por não se adequarem aos critérios de busca, e um texto não foi encontrado disponível, resultando 15 artigos para análise, considerando título, resumo, citações de Bourdieu e temática específica no campo das políticas educacionais.

O aporte das pesquisas no campo de investigação das políticas educacionais no Brasil e na Argentina 2015-2022

Trata-se de uma pesquisa qualitativa e exploratória, apoiada em procedimentos sistemáticos, a qual intenciona colaborar com a compreensão do fenômeno sob investigação, auxiliando no entendimento da complexidade e das interações relacionadas ao objeto de estudo (Bardin, 2011). Esta etapa consistiu na leitura integral, análise e distribuição dos artigos selecionados, por categoria representativa do modo de apropriação, conforme tipologia de Chartier (1985), utilizada por Catani, Catani e Pereira (2001): apropriação incidental, apropriação conceitual tópica e apropriação do modo de trabalho.

Apropriação incidental

A partir da leitura e do estudo dos artigos citados nos Quadros 1 e 2, foi possível registar um entre 16 trabalhos publicados no Brasil, e sete entre 15 em periódicos argentinos, dos quais seis tratam de estudo teórico e documental e dois compõem pesquisa empírica. Estes indicam referências rápidas ao autor, porém não menos importantes. Bourdieu é citado nas referências bibliográficas, contudo é pouco mencionado no texto. O pesquisador se refere a ele ou a seus conceitos, muitas vezes em conjunto com outros autores. Dessarte, são notas não substantivas, caracterizando uma articulação tênue com a obra, conceitos ou métodos de pesquisa. Trata-se de uma “apropriação incidental”, de acordo com Catani, Catani e Pereira (2001).

No Brasil, o artigo teórico e documental de Flávia Monteiro de Barros Araújo e Pablo Silva Machado Bispo dos Santos (2018) teve por objetivo principal discutir de que modo a autonomia escolar tem sido abordada, em documentos oficiais das políticas públicas nacionais, especialmente as regulatórias. Nele, Bourdieu é trazido ao texto em Coisas Ditas, de 2001, para fundamentar o conceito de campo e habitus, a partir do objeto em estudo na pesquisa dos autores.

Na Argentina, Mariana Nobile (2016), por meio de uma investigação bibliográfica e de dados secundários, detalha o processo de expansão do nível secundário, os desafios pendentes para alcançar a sua universalização e as principais estratégias de política educacional introduzidas para alcançá-la. A referência a Bourdieu é trazida uma vez ao texto, a partir da contribuição da Sociologia da Educação e do lugar da educação nos processos de reprodução e legitimação das desigualdades sociais, assim como das trajetórias diferenciais de pertencimento de classe dos estudantes.

Renata Giovine (2016), em estudo teórico e documental, analisa os programas de ensino nas carreiras de Ciências da Educação de universidades nacionais argentinas desde a década de 1980, a fim de observar continuidades e rupturas políticas e epistemológicas. Bourdieu contribui na discussão da autora, quanto aos programas universitários, que constituem um dos possíveis objetos de investigação, do estado do campo teórico da política educacional. Ingrid Sverdlick (2019), em pesquisa teórica e empírica, discute, de uma perspectiva histórica, a disputa política sobre os sentidos que o direito à educação e educação inclusiva constituem em diferentes modelos ou propostas educacionais, ao longo do tempo, e a sua configuração atual. O conceito de violência simbólica de Bourdieu é descrito no texto, a fim de analisar o depoimento de participantes da pesquisa, ao afirmarem sua presença na escola junto às resistências para as políticas de inclusão escolar; dessa maneira, os diretores das escolas secundárias estão preocupados com a violência escolar em relação às possibilidades de inclusão educacional. A violência dentro da escola apresenta, segundo a autora, um limite aos esforços dos atores institucionais para incluir, porém alguns diretores conseguem visualizar que nem sempre ela surge de fora, mas muitas vezes tem origem na própria escola. Reconhece-se que a violência simbólica é exercida no sentido proposto por Bourdieu e Passeron (1967).

María Fernanda Estevez (2019) examina, em estudo teórico e documental, o projeto político educacional promovido pela administração nacional de Mauricio Macri, na Argentina, desde dezembro de 2015. A partir de uma abordagem metodológica qualitativa, por meio de uma investigação documental, a autora realizou uma compilação e análise de conteúdo de diversas regulamentações nacionais vinculadas às políticas educacionais, bem como de discursos do próprio presidente e de autoridades da área. O conceito de reprodução de Bourdieu é contemplado na produção, no sentido de fundamentar junto a outros autores a intenção ideológica das políticas neoliberais no período, na Argentina.

Ema Paula Penas e María José Laurente (2020), em pesquisa teórica e empírica, apresentam uma análise da relação entre políticas educacionais e extrativismo, produto da experiência das pesquisadoras e com base em uma metodologia qualitativa - com levantamento e análise de documentos, entrevistas e observação participante. As autoras evidenciam situações específicas associadas à interferência da dinâmica extrativista em ambientes educacionais. Bourdieu é trazido ao texto pelas autoras no sentido de sentir e pensar o território a partir da ontologia relacional, para desmantelar essa visão hegemônica, provocando profundas rupturas heréticas baseadas na subversão cognitiva.

Nora Gluz, Mariel Karolinski e Maida Diyarian (2020), em estudo teórico e documental, analisam as concepções de pobreza que sustentam as políticas nacionais destinadas a garantir, na Argentina, o direito ao ensino secundário obrigatório no século XXI. Os estudos de Bourdieu, referentes à posição de desigualdade dos agentes sociais, é trazido ao texto a partir do entendimento de que luta tem uma relevância central, como a perpetuação das posições sociais desiguais sustentadas em processos de dominação simbólica, dito de outro modo, na imposição de uma visão de mundo articulada com a objetividade social que garanta adesão de todos os setores às condições dadas.

Inés Rodríguez Moyano e Lucrecia Rodrigo (2022), em estudo teórico e documental, indicam como objetivo examinar a especificidade das políticas no âmbito nacional, desde o momento de sua institucionalização, na década de 1990, até o presente, com o interesse de reconstruir sua trajetória histórica e identificar as orientações assumidas nas diferentes conjunturas sociopolíticas, no que se refere à avaliação da qualidade. Bourdieu é citado na produção tratando das políticas públicas orientadas para a avaliação e sua inscrição para fins de dominação simbólica e a capacidade estatal de inculcar as categorias com que pensam o mundo.

Apropriação conceitual tópica

Em continuidade à análise, conforme disposto nos Quadros 1 e 2, no Brasil, cinco de um total de 16 trabalhos analisados e, na Argentina, dois de um total de 15, apresentam pesquisas no campo das políticas educacionais, caracterizadas pelo fato de deixar entrever a utilização dos conceitos de Bourdieu. Contudo, não de forma sistemática, pois conceitos e/ou citações são apresentados eventualmente (Catani; Catani; Pereira, 2001). De qualquer modo, evidencia-se nas produções uma mobilização mais intensa junto à construção conceitual de Bourdieu. Tal referencial conceitual se faz presente no sentido de reforçar argumentos e resultados, não necessariamente desenvolvidos junto ao método de investigação e/ou objeto de pesquisa. Nessa categoria, os trabalhos indicam a perspectiva teórica de Bourdieu, mas sem o compromisso de evidenciar seu método de investigação na construção da pesquisa. Trata-se do que Chartier (1985apud Catani; Catani; Pereira, 2001) denomina de “Apropriação Conceitual Tópica”.

No Brasil, considerando o período histórico investigado, há o trabalho de Rayane Regina Scheidt Gasparelo, Débora Cristina Jeffrey e Marisa Schneckenberg (2018), o qual objetiva uma reflexão que articula os fundamentos da Abordagem do Ciclo de Políticas, proposta por Stephen Ball e Richard Bowe, e as contribuições conceituais de Pierre Bourdieu, para análise dos processos de formulação e implementação das políticas educacionais. Trata-se de um estudo de natureza teórica, que evidencia o movimento dialético entre os contextos de influência, de produção de texto e de prática na instauração de uma política pública. Além da pertinência dos conceitos de habitus, campo e poder simbólico, para analisar a articulação entre tais contextos. Os escritos de Pierre Bourdieu, por sua vez, contribuem para o desvelamento das ações, dos discursos, das necessidades (legais e institucionais), das crenças e dos valores discordantes, inconsistentes e contraditórios, das relações de poder desiguais (de vários tipos), das ausências e dos constrangimentos materiais e contextuais dos atores que estão envolvidos com as políticas global e localmente. É possível depreender o uso da perspectiva teórica de Bourdieu, especialmente os conceitos de campo e habitus, tendo, porém, por enfoque metodológico a Abordagem do Ciclo de Políticas (Mainardes, 2006). Enfim, a teoria de Bourdieu é utilizada como fundamentação teórica na constituição do objeto de pesquisa, qual seja: a análise de constituição das políticas educacionais, considerando seu contexto de influência, da produção do texto e da prática.

Na mesma categoria, está o artigo de Jacira Helena do Valle Pereira Assis, Sandra Novais de Souza e Alice Felisberto da Silva (2019). A pesquisa teórica e documental trata das contribuições da teoria bourdieusiana para os pesquisadores do campo educacional, tomando como corpus de análise as pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Antropologia e Sociologia da Educação (Gepase), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Para tanto, no tópico inicial, apresenta-se um histórico do grupo e uma visão geral das suas atividades, com ênfase em dois projetos de pesquisa que envolveram a maior parte de seus participantes. Posteriormente, foca-se nos resultados de duas teses desenvolvidas por pesquisadoras do Gepase, coautores deste artigo, que utilizaram em suas análises os conceitos elaborados por Bourdieu. A pesquisa descreve e faz uma análise da contribuição da teoria do autor, junto às pesquisas desenvolvidas em determinado Grupo de Pesquisa (GP), em que a obra e os conceitos de Bourdieu se fazem presentes na exposição e na descrição do corpus das pesquisas desenvolvidas. Para tanto, são analisadas diferentes pesquisas, desenvolvidas a fim de trazer ao debate como o grupo vem operando o diálogo, com a sociologia bourdieusiana, no campo da Educação.

O artigo de Gabriela Albanás Couto e Schirlei Russi Von Dentz (2020) objetivou, em estudo teórico, evidenciar os princípios pouco desenvolvidos por Bourdieu, mas não menos relevantes em sua obra. A partir da noção de “pedagogia racional”, presente em relatórios de pesquisa e textos do autor, as autoras se propõem a localizar e a compreender tais princípios da pedagogia racional - “diversidade de formas de excelência” e “multiplicação das oportunidades” - analisados à luz de comentadores, como Emiliano Gambarotta e Denice Catani. A pesquisa também se apropria dos estudos de Bourdieu como fundamentação teórica a fim de realizar uma aproximação de seus conceitos com a noção de pedagogia racional. Tal estudo se dá especialmente a partir da obra Os herdeiros, de Bourdieu e Passeron (2014).

Rita Schane, Andrea Garcia Furtado e Roberta Ravaglio Gagno publicaram, em 2020, estudo teórico, resultado de pesquisa que objetivou refletir sobre os conceitos dehabitus,campo, capital, capital cultural e violência simbólica, à luz dos escritos bourdieusianos no campo educacional. O artigo busca compreender como os indivíduos incorporam a estrutura social, legitimando-a e reproduzindo-a, por meio da instituição escolar, mais precisamente a partir da violência simbólica. Schane, Furtado e Gagno (2020) apresentam uma revisão teórica de cada um dos conceitos de Bourdieu já descritos e sua contribuição como fundamentação teórica das pesquisas no campo educacional.

O texto de Odair Neitzel e Camila Pelegrini (2022) pretende contribuir com as discussões teóricas acerca do campo epistêmico da política educacional, lançando mão da teoria do campo de Pierre Bourdieu. Aproxima-se das investigações de César Tello, Jefferson Mainardes e Ângelo Ricardo de Souza, no que se refere às discussões sobre o campo epistêmico das Políticas Educacionais. O texto parte de uma breve reconstrução dos conceitos básicos para a definição do campo da política educacional, como política, educação, política pública e políticas educacionais. Em seguida, cuida da análise da tríade conceitual da Teoria dos Campos: campo, habitus e capital. O texto, com base em uma revisão conceitual, aponta reflexões importantes sobre a Teoria dos Campos no pensamento de Bourdieu para pensar o campo das Políticas Educacionais.

Na Argentina, o artigo de Silvia Alucin (2015) analisa as percepções que os professores do ensino secundário têm sobre as políticas educativas implementadas nos últimos anos, em base de trabalho de campo realizado em quatro escolas da cidade de Rosário, em cenários sociais desiguais. Bourdieu é trazido ao texto para contribuir com o estudo sobre o lugar da escola no campo, permitindo o reconhecimento de que sempre há disputas e práticas díspares que podem operar sob o radar do Estado, mas escapando ao seu controle. Observa-se na análise que a teoria de Bourdieu é abordada junto ao diálogo com diferentes autores de diferentes perspectivas teóricas.

César Tello publicou, em 2022, um artigo de reflexão teórico-analítica, que intenciona compreender e descrever o processo de conformação histórica do objeto de estudo da política educacional no campo acadêmico e teórico. O autor utiliza a categoria de “episteme” de Foucault, juntamente ao desenvolvimento teórico do “Enfoque das Epistemologias da Política Educacional” assim como fundamentos da teoria de Pierre Bourdieu. Inicialmente, Tello (2022) propõe a reflexão sobre como outros campos das Ciências da Educação ou Pedagogia transformaram suas perspectivas disciplinares assumindo perspectivas mais amplas, que permitem estabelecer giros teóricos e desenvolvimentos conceituais que tentam responder às novas realidades socioeducativas. Na sequência, ele analisa os traços históricos e as matrizes teórico-epistemológicas e, posteriormente, as concepções de política em termos de políticas públicas. O autor estabelece uma distinção epistêmica entre políticas públicas em educação e política educacional como campo de estudo, procurando compreender como se estabelece o objeto de estudo da política educacional em termos da análise das ações do Estado, reduzindo, assim, os alcances e os objetos de estudo do campo.

Assim sendo, nessa categoria, é possível observar quatro trabalhos de autores brasileiros que se desenvolvem a partir de estudos teóricos, e um teórico e documental. Já entre os autores argentinos, tem-se um trabalho de cunho teórico e outro que envolve pesquisa de campo.

Apropriação do modo de trabalho

Os trabalhos de pesquisa indicados no período, no que se refere a uma apropriação mais densa do modo de trabalho e uso epistemetodológico da obra e conceitos de Bourdieu, evidenciam que, de 16 trabalhos analisados no Brasil, dez indicam uma relação consistente do objeto de pesquisa com os conceitos e/ou teoria propostos pelo autor, inclusive evidenciando seu método de pesquisa no corpo do texto, sendo um deles em coautoria com um pesquisador argentino. Já nos 15 trabalhos publicados por pesquisadores da Argentina, seis deles, da mesma forma, revelam a utilização muito mais sistemática das noções e dos conceitos do autor. Cabe reforçar que, nesses trabalhos, conforme Catani, Catani e Pereira (2001), há uma utilização sistemática dos conceitos de Bourdieu, demonstrando uma preocupação com o modo de fazer proposto por ele. Trata-se, assim, de modos de apropriação reveladores da utilização sistemática das noções e dos conceitos do autor, utilizando da estrutura conceitual em realidades empíricas precisas. Isso de acordo com os respectivos objetos de pesquisa, o que Catani, Catani e Pereira (2001) chamam de “Apropriação do Modo de Trabalho”.

Nesta categoria, no caso do Brasil, o artigo de cunho teórico e documental de Ione Ribeiro Valle (2015) apresenta uma discussão densa no campo das políticas educacionais tratando o conceito de meritocracia à luz da teoria de Pierre Bourdieu, especialmente a teoria das práticas sociais, intencionando examinar aspectos da política educacional brasileira em curso desde os anos de 1960 até os dias de hoje. A autora parte do pressuposto de que a meritocracia escolar tem sido financiada historicamente pelas famílias, favorecendo aquelas que estão mais bem posicionadas, para desenvolver estratégias de reconversão dos seus capitais (econômico, cultural, social, simbólico). Em primeiro lugar, a autora trata do conceito de prática social na teoria de Pierre Bourdieu como fundamento para o estudo do conceito da ideologia meritocrática. A partir daí, Valle (2015) faz uma busca dos encaminhamentos da política educacional brasileira, no período, considerando como hipótese o pressuposto de que a meritocracia escolar, historicamente financiada pelas famílias, deverá, por fim, ser promovida pelo Estado, no quadro dos direitos fundamentais. A perspectiva mobilizada pela autora, ao revisitar o pensamento de Bourdieu, pauta-se na sistematização crítica de que o capital cultural está na base das estratégias de reprodução das classes dominantes. As instituições escolares figuram como espaços privilegiados de transmissão desse capital, atuando como promotoras da diferenciação social e criadoras de uma verdadeira noblesse d’État. A obra Os herdeiros, escrita por Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, em 1964, é amplamente abordada no texto, no sentido de colocar em pauta as políticas públicas de democratização da educação e a meritocracia escolar, a qual continua sendo financiada pelas famílias, em detrimento do direito público subjetivo à educação.

O trabalho de Fernando Cesar Sossai (2016), de natureza teórica e documental, propõe problematizar as diferentes acepções do conceito de campo, em estudos educacionais de natureza diversa (teses, artigos etc.). O escrito estrutura-se em quatro partes. Na primeira, o autor faz uma análise da historicidade do termo “campo”. Em seguida, procede ao exame de escritos de Pierre Bourdieu, com a intenção de melhor compreender dois conceitos que considera capitais aos estudos de políticas educacionais (“campo intelectual” e “campo científico”). Na terceira, Sossai (2016) perscruta o conceito de campo, expressado em publicações, cujo foco é como e por que os estudos em políticas educacionais formam um “campo de alguma coisa” (de conhecimento, de estudos). Nesse fazer, o autor interroga os sentidos de campo, registrados em um conjunto de 34 textos coletados na Biblioteca Temática da ReLePe. Na leitura da produção do autor, é possível identificar a preocupação em estabelecer uma vigilância quanto a forma e o uso dos conceitos de campo acadêmico, campo teórico e campo científico de Bourdieu. A pesquisa mostra que, para além de apresentarem baixo, médio ou alto nível de aprofundamento, os trabalhos investigados são importantes referências para todos que desejam estar mais familiarizados com o debate sobre o estatuto dos estudos de políticas educacionais como campo científico. Ainda, trata-se de conhecer as várias acepções, os modos de construção e os argumentos que dão sustentação aos conceitos de campo, mencionados em cada tese ou artigo pesquisado que se propõe a estudar o campo das políticas educacionais.

A produção de Jefferson Mainardes e César Tello (2016), de natureza teórica, apresenta a descrição dos níveis de abordagem e abstração das investigações que compõem o campo da política educacional, quais sejam: descrição, análise e compreensão. Tais categorias foram desenvolvidas com base na teoria de Pierre Bourdieu e na fundamentação do enfoque dos estudos epistemológicos de política educacional e da metapesquisa. O artigo destaca a relevância dos diferentes tipos de estudo de política educacional e defende a necessidade da ampliação do número de artigos de compreensão, os quais podem colaborar de forma mais efetiva para o fortalecimento da política educacional como campo acadêmico. Afirmam os autores no texto que os conceitos de Bourdieu, de rejeição à inocência epistemológica, reflexividade e da necessidade da objetividade, requerem que o pesquisador defina o seu posicionamento dentro do campo da sociologia das políticas e dentro do campo de políticas nacionais de educação. Posicionamento refere-se, segundo os autores, à posição do pesquisador em relação ao objeto de estudo e em relação ao campo acadêmico relevante ou áreas correlatas. A partir da utilização dos fundamentos da metapesquisa, Mainardes e Tello (2016) argumentam que, no nível de desenvolvimento atual da pesquisa de política educacional na América Latina, faz-se necessária a ampliação do número de estudos de compreensão. Tais estudos são essenciais para o fortalecimento do campo, pois permitem avanços no conhecimento sobre política educacional e são estudos que podem servir de base para outros estudos. O referencial teórico-metodológico conduz a estrutura da investigação tanto no que se refere a sua problemática e a seus objetivos, quanto às categorias de análise da produção indicadas na obra de Bourdieu.

O texto de Silvana Stremel (2017) objetiva, a partir de uma análise teórica, o percurso metodológico, bem como as fontes de estudo, para análise da constituição do campo acadêmico da política educacional no Brasil. Baseia-se nas contribuições de Pierre Bourdieu sobre a formação e o funcionamento dos campos, bem como sobre as questões metodológicas para a análise de um determinado objeto de estudo. Tendo em vista as contribuições do autor, Stremel (2017) apresenta um conjunto de aspectos que contribuem para a estruturação do campo acadêmico da política educacional e que se constitui como fonte para o estudo da história desse campo no contexto brasileiro. O texto está estruturado em duas seções: a primeira apresenta as contribuições teórico-metodológicas de Pierre Bourdieu para a análise do campo acadêmico; já a segunda aborda o percurso metodológico e as fontes de estudo para a compreensão da constituição do campo acadêmico da política educacional no Brasil.

O trabalho de Juliana Cristina Araújo do Nascimento Cock, Ana Luisa Antunes, Rosane Pinto Rodrigues, Débora da Silva Lopes Santos e João Paulo Ferraro Turano de Araujo, publicado em 2018, faz um estudo teórico e documental exploratório, tendo por objeto de investigação a composição das hierarquias acadêmico-científicas de universidades, destacando o volume e a estrutura de capitais dos seus pesquisadores. Para tanto, os autores consideram Bolsa de Produtividade em Pesquisa (PQ-1ª), Produtividade Sênior (PQ-Sr) e Plataforma Lattes do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa foi desenvolvida a partir de leitura de textos de referência e debate coletivo da obra de Bourdieu. Em síntese, a produção de Cock et al. (2018) explora a temática das políticas de fomento e qualificação de docentes no Ensino Superior brasileiro, a partir de conceitos estruturais bourdieusianos, como hierarquia social, capital científico, produção e reprodução social, em que método e conceitos do autor conduzem o processo de construção da investigação.

Isac Pimentel Guimarães (2018), em pesquisa teórica e de campo, investigou os processos de articulação e produção científica, por intermédio das lutas geradas entre as diferentes posições de agentes em redes de colaboração, no campo da política educacional, nos Programas de Pós-Graduação em Educação da região Nordeste do Brasil, no período de 15 anos (2000-2014). Para tanto, amparada no fazer sociológico e na teoria do campo científico de Bourdieu, a ênfase recai no agente que produz uma representação acadêmica dentro da Política Educacional, de caráter científico e institucionalizado, bem como nos condicionantes sociais de sua prática. Metodologicamente, o autor buscou estabelecer a estrutura do espaço de produção acadêmica, por meio da utilização de instrumentos estatísticos e análise de redes sociais. A pesquisa trata dos condicionantes sociais e políticos por onde se estrutura o espaço de produção acadêmica, a fim de constituir o campo acadêmico da Política Educacional. Para tanto, Guimarães (2018) traz uma análise no campo da política educacional nos Programas de Pós-Graduação em Educação da região Nordeste do Brasil no período.

Jorge Nassim Vieira Najjar, Marcelo Siqueira Maia Vinagre Mocarzel e Pablo Silva Machado Bispo dos Santos (2019) apontam, a partir de uma investigação teórica, a intenção de demonstrar a possível aplicabilidade dos conceitos de campo e habitus à pesquisa em educação, em particular aquela voltada para a política educacional no Brasil. Os autores buscam situar esse campo, a partir de um modelo tridimensional de análise, em que tanto agentes quanto estruturas - e também trajetórias - possam encontrar lugar em uma nova técnica de apreensão dos movimentos do campo educacional. Em sua análise, a própria compreensão epistemológica da política educacional depende de variáveis muitas vezes intangíveis, na medida em que são condicionadas pelo campo e pelohabitus, conceitos que fundamentam a construção teórica dos autores na respectiva produção.

Outro artigo, de autoria de Andréa de Paula Pires e Marisa Schneckenberg (2020), em pesquisa teórica e empírica, se fundamenta no conceito de habitus de Pierre Bourdieu, sua constituição na política de formação continuada de professores alfabetizadores no Programa Pacto Nacional pela Alfabetização da Idade Certa (Pnaic) desde 2012, bem como na prática dos professores alfabetizadores no município de Rio Azul, Paraná. Para tanto, a discussão da pesquisa se dá a partir das vozes e dos fatos que influenciaram a implantação do Pnaic (contexto de influência), dos discursos contidos nos documentos legais que materializaram essa política (contexto da produção de texto) e dos discursos de professores alfabetizadores e orientadores de estudo do Pnaic (contexto da prática). Isso tendo o conceito de habitus como princípio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição política no processo de alfabetização.

O artigo de Sue Elen Lievore e Roberta Freire Bastos (2020) objetiva caracterizar teoricamente o campo de pesquisa científica em políticas educacionais, no Brasil, a partir do mapeamento e da análise de teses de Doutorado produzidas sobre o tema política educacional, com subtema planejamento educacional, nas décadas de 1990 e anos 2000. Com base na concepção de campo cunhada por Bourdieu, as autoras investigaram as origens da constituição desse campo de pesquisa, bem como suas singularidades, as relações de poder que o atravessam e ohabituspróprio entre seus integrantes. A pesquisa pretendeu contribuir, segundo as autoras, para o campo de pesquisa em política educacional ao propor uma reflexão acerca do contexto específico em que tais políticas estão inseridas e dos jogos de disputas, arranjos e interesses próprios que as circundam, possibilitando a análise da influência de tais políticas nos mecanismos de reprodução social.

A produção de Jefferson Mainardes (2021) apresenta em estudo teórico e documental de um panorama dos Grupos de Pesquisa que tratam do tema política educacional, cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa no Brasil (DGPB/CNPq). A partir dos fundamentos da teoria de Pierre Bourdieu, o autor argumenta que a participação em um GP é essencial na aquisição do habitus científico. A partir disso, Mainardes (2021) considera que a participação em grupos de pesquisa, ao lado das disciplinas (de Graduação e de Pós-Graduação), sessões de orientação, participação em eventos, é uma atividade altamente relevante na aquisição do habitus científico. Já a participação de pesquisadores experientes é também significativa, pois pode propiciar o desenvolvimento de projetos de pesquisa mais abrangentes, com a participação e a cooperação de membros do grupo e de outros parceiros. O habitus é, portanto, o princípio gerador das práticas dos agentes na sociedade e no campo científico, neste caso na atuação dos Grupos de Pesquisa institucionais, dando fundamentação às suas condutas, segundo o pesquisador.

Nas publicações argentinas no período investigado, as quais respondem à Apropriação do Modo de Trabalho, há o artigo de Federico Martín González (2015), fundamentado em perspectiva teórica centrada no relacionalismo, abordando as relações entre capital social e estratégias de vida. Especificamente, o autor questiona a construção de redes sociais no trabalho e na educação, bem como as formas de intervenção nas estratégias de vida dos jovens que estudam no Plano FinEs2. No quadro desse desafio teórico e metodológico, entende-se a noção de capital social como a construção e o desdobramento de redes duráveis ​​de relações e laços irredutíveis, constituindo uma ferramenta analítica para abordar os vínculos entre agência e estrutura. Nesse sentido, a categoria de capital social insere-se em um quadro conceitual, em que o papel do mundo social objetivado constitui condição para o desenvolvimento da ação e, por sua vez, ponto de partida e suporte para as ações dos jovens. Martín González (2015) afirma, ainda, ser fundamental colocar em cena as limitações das ações individuais ao alterar posições em espaços sociais estruturados por múltiplas dimensões da desigualdade social. Nessa perspectiva, o artigo dialoga com as noções de capital social e estratégias de vida para dar conta da configuração das posições em que os jovens se encontram no espaço social. A metodologia de pesquisa, baseada em Bourdieu, está presente na produção a partir da análise de quatro dimensões: o caráter coletivo das estratégias de vida; a configuração dos laços sociais e das redes de vizinhança que compõem os capitais sociais; o desdobramento destas em estratégias de busca e acesso ao trabalho; e a intervenção de imaginários sociais vinculados ao mundo do trabalho e da educação.

Elisa Cragnolino (2015) apresenta um estudo teórico e empírico sobre o levantamento de perspectivas e análises relacionadas à educação no campo, que surgem a partir de pesquisas realizadas sobre as disputas pela educação e pela escolarização nas áreas rurais de Córdoba, Argentina. A autora problematiza essas noções com base nas contribuições de Pierre Bourdieu e Antonio Gramsci e procura evidenciar, no estudo, a presença nos espaços sociais rurais de uma diversidade de agentes que constroem e estabelecem disputas em torno da educação. Cragnolino (2015) busca, em particular, a análise de uma escola agrotécnica a partir de um projeto de modernização tecnológica, nas propostas alternativas de uma escola camponesa, construída por um movimento social. Cabe destacar, na produção da autora, que as perspectivas gramsciana e bourdieusiana são desenvolvidas a fim de compreender as complexidades e os fatos evidenciados junto ao seu objeto de pesquisa. Segundo a autora, as abordagens dos autores, relacionais e históricas, permitem questionar as delimitações tradicionais do Estado e da política e permitem uma reflexão sobre as diferentes imbricações, continuidades, descontinuidades e tensões, que emergem na construção e na manutenção dos espaços e dos processos educativos no campo.

A publicação de César Tello (2017) aborda, em pesquisa teórica, a relação entre produção de conhecimento e tomada de decisão em educação, como um campo de estudo que vem sendo desenvolvido desde a década de 1990. Na literatura especializada, esse tema enfoca particularmente os vínculos e as relações que os atores devem estabelecer. O artigo analisa essa dinâmica, a partir da teoria dos campos, para entender a complexidade desse campo de estudo que se faz cada vez mais necessário na América Latina, segundo o autor. Tendo a produção do conhecimento em políticas e gestão educacional como objeto de estudo, Tello (2017) desenvolve o conceito de campo de Bourdieu, ao tratar do protagonismo do pesquisador e da constituição da sua identidade no campo acadêmico. Ele afirma que, seguindo os argumentos de Bourdieu (2002) e de sua categoria no campo, é possível observar que sua preocupação residia na possibilidade de protagonismo do campo dos pesquisadores, justamente para não perder sua identidade como tal, visto que qualquer que seja o grau de autonomia e legitimidade específica das Ciências Sociais, maior será sua autonomia diante da incidência que outros campos poderiam ter, neste caso, o político ou o da gestão. Trata-se de um artigo de reflexão que estuda a relação entre os produtores de conhecimento e os tomadores de decisão, à luz do conceito de campo de Bourdieu.

O artigo de Silvana Lorena Lagoria (2017) busca, em ampla pesquisa teórica, construir um “suporte rizomático”, como base para analisar a cultura escolar no quadro da escola cotidiana. A autora propõe a necessidade de construir um eixo epistemológico para tornar inteligível o efeito das políticas educativas no cotidiano escolar. Para tanto, Lagoria (2017) procura relacionar um conjunto de perspectivas teóricas como rede, para entender o aspecto intrínseco da escola, qual seja: os efeitos das políticas educativas na cultura institucional. Metodologicamente, a autora define, em um primeiro momento, o conceito de “cultura institucional”; na sequência, o modelo analítico rizomático, integrando aos aportes teóricos de Rockwell, Bourdieu e Ball. Bourdieu e Ball são trazidos ao texto, segundo a autora, pois são complementares e contribuem para a construção de um modelo de análise mais consistente. Especialmente Bourdieu (1988, 1991), é considerado pela autora por sua “teoria do campo”, a qual implica a configuração de espaços sociais de lutas que reproduzam as lutas e as tensões dos campos mais amplos em que se inscrevem.

Isso lhe permite interpretar a mudança nas instituições a partir da luta e das interações entre os agentes do campo, por meio da implantação de “estratégias” ligadas aos interesses em jogo, tudo no quadro de um campo maior que o influencia. A escola como “campo de luta” resulta de uma série de jogos em que os atores delimitam um conjunto de estratégias racionais, tingidas de interesses, ideologias e valores. Essas estratégias contêm as ações específicas desenvolvidas pelos atores dentro de cada organização, destinadas a executar as disposições dos órgãos de garantia de qualidade em resposta às políticas vigentes. Dessa forma, combate-se a inclinação de conceber a escola de forma realista ou substancialista (Bourdieu; Wacquant, 1995, p. 170) para concebê-la, ao contrário, como um “campo” que se configura, ao longo da história, como uma rede baseada em relações objetivas entre os cargos ocupados pelos agentes (no caso da escola, representados pelos agentes institucionais comprometidos).

Nesse sentido, Lagoria (2017) aponta ser importante resgatar um vínculo entre a referida teoria e a perspectiva de Rockwell ao considerar a escola como parte de um contexto maior com o qual está intimamente relacionada, pela qual é influenciada e também exerce sua influência. Por fim, a autora conclui que, no que se refere às reflexões epistemetodológicas para análise das políticas educacionais, a inclusão das noções da “teoria do campo” de Bourdieu (1988, 1991) foi de fundamental importância. Essa teoria é complementar à posição de Rockwell (2007), pois permite interpretar a mudança nas instituições a partir da luta e das interações entre os agentes do campo, por meio do desdobramento de “estratégias” atreladas aos interesses em jogo, tudo isso dentro da estrutura de um campo maior que o influencia, segundo Lagoria (2017).

O texto de Hernán Mariano Amar (2018) apresenta ideias sobre o Estado e as políticas educativas materializadas na obra de Pierre Bourdieu. Fundamenta-se, para tanto, na teoria social bourdieusiana para compreender a função do Estado e as políticas educacionais como produtoras e reprodutoras da ordem social. São contemplados, para isso, a apresentação do conceito de Estado e Políticas Educacionais na obra de Bourdieu em oposição às teorias marxistas. Em publicação de 2019, Hernán Mariano Amar apresenta as contribuições, bem como as posições, sobre políticas educacionais elaboradas pelo Estado Nacional para descentralizar a abordagem das demandas da comunidade por meio da cogestão do terceiro setor da escola nos anos de 1990 e início dos anos 2000 (Amar, 2019). A pesquisa, resultado de tese de Doutorado, se baseou em documentos oficiais e referencial bibliográfico sobre os fundamentos que estruturam os discursos das políticas públicas no campo educativo argentino. São analisadas a partir da obra de Bourdieu as funções do Estado de integração, dominação e diferenciação social, assim como a diferença entre grupos e classes sociais e as disputas por imposições de definições legítimas, sobre as problemáticas sociais e o planejamento de políticas públicas.

É possível identificar entre esses trabalhos, no Brasil, a presença de estudos teóricos (quatro trabalhos), teóricos e documentais (quatro trabalhos) e empíricos (dois trabalhos), sendo, na Argentina, quatro estudos teóricos, um teórico e documental e um empírico. Os diferentes modos de revelação da obra e conceitos de Bourdieu indicam, por certo, tanto a apropriação de tais conceitos pelos pesquisadores, quanto a escolha deles na construção de seus objetos de pesquisa. Assim

[...] em maneiras de apropriação reveladoras da utilização sistemática de noções e conceitos do autor, tais como campo, estratégia, habitus etc., bem como mostram preocupação central com o modus operandi da teoria (construção do objeto, pensar relacional, análise reflexiva, objetivação do sujeito objetivante etc.). Nessa forma de apropriação acionam-se os utensílios teóricos desenvolvidos por Bourdieu em realidades empíricas precisas (Catani; Catani; Pereira, 2001, p. 65).

Há alguns pontos em comum, entre eles: a fidelidade à perspectiva teórica que se encontra anunciada desde os objetivos da investigação, o que confirma a relevância e a consistência da prática da vigilância epistemológica no exercício do ofício de pesquisador (Bourdieu; Chamboredon; Passeron, 2008). Embora a abordagem quantitativa não seja o foco desta investigação, é possível explicitar tais dados nas Tabelas 1 e 2 como complementação da análise realizada.

Tabela 1 Incidência de formas de apropriação - Brasil 

Categoria Quantidade Percentual
Apropriação incidental 1 10%
Apropriação conceitual tópica 5 30%
Apropriação do modo de trabalho 10 60%
Total 16 100%

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 2 Incidência de formas de apropriação - Argentina 

Categoria Quantidade Percentual
Apropriação incidental 7 50%
Apropriação conceitual tópica 2 10%
Apropriação do modo de trabalho 6 40%
Total 15 100%

Fonte: Elaborada pelos autores.

Considerações finais

Cabe evidenciar, entre a totalidade dos trabalhos de pesquisa analisados, tanto do Brasil quanto da Argentina, os esforços na produção científica no campo das políticas educacionais por gerar estudos consistentes e teoricamente fundamentados. A partir de uma análise contrastiva dos dados levantados em cada uma das categorias propostas, a pesquisa se interessou pelos efeitos das diferenças e similaridades existentes, estabelecendo um estudo sobre a forma de apropriação da teoria de Pierre Bourdieu no Brasil, em contraste com a forma de apropriação da mesma produção na Argentina no período compreendido entre 2015 e 2022. Tal enfoque metodológico pretendeu potencializar experiências positivas no campo científico, considerando a possível influência entre as experiências dos países em foco (Freitas; Rocha; Schneckenberg, 2015).

Nesse sentido, são retomados os principais objetivos traçados nesta investigação, quais sejam: apresentar a contribuição e os limites da apropriação do referencial teórico-metodológico fundamentado na obra de Pierre Bourdieu (1930-2002). Para além de descrever a apropriação, buscou-se apresentar uma análise contrastiva de como ela se dá, junto ao objeto de pesquisa definido pelo pesquisador, especialmente a partir da produção de pesquisadores de instituições brasileiras e argentinas no campo das políticas educacionais no período.

Para tanto, ao evidenciar a relevância do compromisso acadêmico do pesquisador com a literatura escolhida para compreender, analisar e interpretar o delineamento das ações, dos discursos e das práticas junto às políticas públicas educacionais de ambos os países, é possível apontar algumas questões que chamam atenção. Uma questão, que indica um quadro de similaridade entre as produções, e que se constitui no objetivo maior desta investigação, é o fato de que, entre todos os artigos estudados, foi possível observar uma preocupação com a fidelidade ao referencial teórico-metodológico pretendido e/ou anunciado na introdução e/ou resumo dos trabalhos. Mesmo entre aqueles que parecem estar no lugar de uma apropriação incidental da obra de Bourdieu, geralmente o fazem de forma clara, coerente e consistente, aportando o autor em diálogo com seus respectivos objetos de investigação ou perspectiva teórica. De forma similar, os trabalhos de Brasil e Argentina se apropriam da obra de Bourdieu em cada uma das categorias, sejam a de apropriação incidental, conceitual tópica ou do modo de trabalho como opção epistemetodológica. Portanto, é possível afirmar que, nas produções em pauta, se evidencia, por certo, uma maior preocupação com o referencial teórico-metodológico escolhido juntos às pesquisas no campo, o que qualifica o modo de produção e a relevância do compromisso do pesquisador com a vigilância epistemológica, a coesão e a coerência epistemológica na condução de suas pesquisas.

Outra questão que merece destaque se refere a quais componentes do desenvolvimento teórico de Bourdieu são retomados nos estudos pesquisados. Por um lado, pode-se apontar que uma parte da produção, que tem um enfoque mais empírico, recorre a categorias que são úteis para abordar como as desigualdades sociais se refletem ou se reproduzem nos sistemas educativos. Por outro lado, e em particular entre os estudos que fazem uma apropriação conceitual tópica e aqueles que fazem uma apropriação do modo de trabalho, encontrou-se um foco importante nas discussões e análises teóricas sobre o campo da investigação em política educacional, utilizando elementos da teoria dos campos científico e acadêmico de Bourdieu. Esses diversos usos são verificados tanto no Brasil quanto na Argentina.

Por fim, esta pesquisa contribui no sentido de confirmar a relevância de estudos que considerem a importância da explicitação da perspectiva teórica como referencial epistemetodológico, algo imprescindível para a qualificação das investigações no campo das políticas educacionais. A metapesquisa foi utilizada com a intenção de explicitar as características e tendências da produção científica no campo das políticas educacionais no período histórico definido no Brasil e na Argentina. O foco esteve presente no estudo da forma de apropriação dos aspectos teórico-metodológicos da teoria de Pierre Bourdieu. Para tanto, foram considerados os princípios reflexivo e teórico analítico (Mainardes, 2018), na análise dos trabalhos de pesquisa. Princípios que indicam o campo da política educacional como objeto de estudo, a reflexão e a análise, a fim de indicar possíveis modos de compreensão das pesquisas em pauta, bem como suas tendências e fragilidades.

Ainda, no que se refere a sua perspectiva teórico-analítica, podem ampliar o campo teórico e científico junto ao grupo de pesquisadores envolvidos com a referida temática. Entre as categorias escolhidas para análise das produções científicas, cabe ainda ressaltar que estas intencionaram apresentar e/ou analisar as diferentes formas de uso/apropriação da obra e/ou dos conceitos da teoria de Bourdieu, entre as pesquisas de autores brasileiros e argentinos no período. Tal análise indica, no que se refere especialmente à apropriação da teoria e do método de Bourdieu, a relevância de estudos que se disponham investir em uma apropriação do modo de trabalho na teoria do autor, para fins de observar e ampliar sua contribuição na análise das políticas públicas educacionais em ambos os países. Assim, acredita-se que o estudo realizado poderá contribuir na compreensão do modo de produção da pesquisa no campo das políticas educacionais e na formação de pesquisadores.

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Recebido: 13 de Dezembro de 2023; Revisado: 04 de Março de 2024; Aceito: 05 de Março de 2024; Publicado: 18 de Março de 2024

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