Sob organização de Altair Alberto Fávero, Carina Tonieto, Chaiane Bukowski e Junior Bufon Centenaro, o livro “Pesquisa em Política Educacional: perspectivas metodológicas” emergiu dos estudos e pesquisas realizadas no Grupo de Pesquisa em Educação Superior da Universidade de Passo Fundo (GEPES/UPF) durante o ano de 2022. A coletânea aborda questões relacionadas aos elementos metodológicos que constituem a pesquisa em política educacional, que se pautam pela atenção de produzir conhecimentos que atendam à relevância acadêmica e social, aos princípios éticos, aos fundamentos teóricos e metodológicos. Por isso, a presente obra disponibiliza um conjunto de textos que se unem no objetivo de apresentar contribuições às pesquisas em políticas educacionais, notadamente, pela observância rigorosa do referencial teórico, método e caracterização da pesquisa quanto à sua natureza, problema, objetivos e procedimentos técnicos. Nesse contexto, a coletânea é composta por dezesseis capítulos, assinados por pesquisadores da área com experiência nacional e internacional que contribuem para a fundamentação da pesquisa no campo educacional.
No primeiro capítulo, os autores Altair Alberto Fávero, Antônio Pereira dos Santos, Carina Tonieto, Caroline Simon Bellenzier, Chaiane Bukowski e Junior Bufon Centenaro, que também escrevem o segundo e terceiro capítulos, apresentam "Reflexões sobre a pesquisa em Política Educacional e seu objeto de estudo”, com ênfase na diversidade de possibilidades buscando compreender algumas definições conceituais acerca das políticas educacionais e refletir sobre os objetos de estudo das pesquisas do campo, abordando o conceito de Política educacional, levando a uma reflexão sobre sua natureza e especificidade, temas, problemas e referenciais teóricos e metodológicos, apresentando desafios para as pesquisas em políticas educacionais.
O segundo capítulo, intitulado “O referencial teórico na pesquisa em política educacional", objetiva retomar a importância e a função do referencial teórico nas pesquisas em política educacionais e identificar alguns posicionamentos apresentados em manuais de metodologia científica. O capítulo apresenta concepções acerca do referencial teórico na pesquisa e um importante estudo por meio de comparações de cinco obras selecionadas que fazem referência à teoria ou ao referencial teórico para a elaboração e condução de pesquisas.
Continuamente, em seu terceiro capítulo, sob o título “O problema de pesquisa: a relação entre a dúvida científica e a elaboração da pergunta”, com objetivo de apontar a necessidade de elaboração do problema de pesquisa no processo de investigação científica e mapear algumas definições de problema de pesquisa presentes em manuais de metodologia científica, abordam resultados e discussões acerca de um estudo baseado em cinco obras que apresentam a elaboração do problema de pesquisa a fim de mapear as definições e identificar os elementos básicos que as compõem, sua importância para o processo de pesquisa e as orientações quanto à sua elaboração.
No quarto capítulo, sob o tema “Abordagem qualitativa e quantitativa nas pesquisas em políticas educacionais: caracterização e possibilidades de cruzamento”, de autoria de Altair Alberto Fávero, Ana Paula Pinheiro e Jerônimo Sartori, buscando aprofundar o debate sobre as potencialidades da abordagem qualitativa e quantitativa no campo da pesquisa acadêmica em Políticas Educacionais, trazem um debate sobre a abordagem quantitativa e suas perspectivas, apresentando a possibilidade de entrecruzamento entre a abordagem qualitativa e quantitativa nas pesquisas em políticas educacionais.
No que se refere ao quinto capítulo, os autores Ana Carolina Leite da Silva, Marcio Pedroso Juliani e Simone Zanatta Guerra, abordam “A pesquisa básica e aplicada nas investigações de políticas educacionais: potencialidades e limites”. Retrata as ciências humanas e a pesquisa em políticas educacionais, salientando que, ao se intencionar na construção do conhecimento científico, devemos manter a vigilância epistêmica e o rigor científico apoiado ao problema de investigação de forma ética, comprometida e cuidadosa, compreendendo que a pesquisa básica apresenta muitas potencialidades levando à reflexão e à criticidade. Ambas podem atuar de forma complementar uma da outra, e apresentam grande relevância para a produção do conhecimento científico.
O sexto capítulo, intitulado “Interação e diálogo com o campo de estudos: a pesquisa bibliográfica em políticas educacionais”, de autoria de Altair Alberto Fávero, Ana Carolina Leite da Silva, Flávia Stefanello, Julia Costa Oliveira e Taís Silva Pereira, objetiva complexificar e sistematizar indicativos sobre a função da pesquisa bibliográfica em estudos da área, ressaltando o processo de interação e diálogo. Enfatiza a convocação de uma “comunidade argumentativa” para aderir a um campo teórico robusto e consistente, e aponta as etapas fundamentais e as especificidades da pesquisa bibliográfica para constituir-se numa abordagem metodológica potente e produtiva.
O sétimo capítulo, assinado por Carina Tonieto e Marcio Pedroso Juliani, aborda o “Tratamento e análise de dados na pesquisa em política educacional”, em que os pesquisadores realizam uma análise em manuais e guias de pesquisas com a finalidade de identificar os conceitos de tratamento e análise de dados, identificando se são apresentados com clareza à comunidade acadêmica. Os autores ressaltam ainda que a produção dos dados, que também pode ser considerado como o coração da pesquisa, é sempre um processo dialético entre a técnica e a teoria, e que, além da aplicação de um método para obtenção dos resultados, a vigilância epistemológica da pesquisa torna-se essencial.
O capítulo oito, de autoria de Aristeo Santos López e Tania Morales Reynoso, intitulado “Estado del arte: brechas matagales y senderos al andar”, tem o objetivo de apontar as pesquisas do estado da arte como ponto de partida para as investigações. Em especial, os autores mexicanos chamam a atenção para a postura dos pesquisadores que precisam evitar a superficialidade quando buscam estudos já publicados. Em uma segunda direção, apresentam importantes distinções entre estado da arte, estado da questão e estado do conhecimento. Por fim, os pesquisadores registram que essa pesquisa deve observar questões éticas que evitem a produtividade excessiva, o plágio, autoplágio e cyberplágio.
O capítulo nove traz “A pesquisa documental e sua importância para a compreensão de políticas educacionais”, tornando-se relevante devido ao grande número de documentos pontuados em diversos contextos em que as políticas educacionais se desenvolvem. Assinado por Junior Bufon Centenaro, Chaiane Bukowski e Antonio Pereira dos Santos, que abordam fontes documentais de políticas educacionais e apresentam alguns conceitos sobre documentos, e a definição do procedimento da pesquisa documental, como também abordam apontamentos com relação aos passos e delineamentos da pesquisa, por meio das perspectivas da análise textual discursiva e da análise de conteúdo.
No décimo capítulo, escrito por Carina Tonieto, Caroline Simon Bellenzier e Chaiane Bukowski, que abordam a temática “Análise de conteúdo nas pesquisas em políticas educacionais”, por meio de mapeamento das pesquisas de doutorado produzidas entre o período de 2010 e 2021 nos programas de pós-graduação em educação disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses (BDTD), com o intuito de compreender como essas pesquisas utilizam a análise de conteúdo e quantas delas estão vinculadas à linha de políticas educacionais. Seguidamente os autores abordam o conceito e algumas caracterizações da análise de conteúdo, como técnica e método.
A “Metapesquisa no campo da política educacional: uma proposta de pesquisa em construção” é a temática abordada pelos autores Carina Tonieto, Catiane Richetti Trevizan e Diocélia Moura da Silva no capítulo onze, em que apresentam elementos teóricos e as principais características que orientam e definem sua realização. Os autores apontam também que, apesar de pouca teorização sobre metapesquisa, principalmente no Brasil, há um grupo de pesquisadores nacionais e internacionais, a ReLePe, que apresenta estudos e discussões com grandes contribuições acerca dessa temática, reconhecendo nela diferentes estilos, porém assumindo que não se pode separar o teórico do metodológico.
Já no capítulo doze, delineado por Altair Alberto Fávero, Ana Lúcia Kapczynski, Daniê Regina Mikolaiczik e Evandro Consaltér, os autores realizam uma abordagem sobre a “Pesquisa-ação e políticas educacionais: um diálogo possível e relevante de compartilhamento de saberes”, em que buscam compreender esse método de pesquisa, dados históricos, potenciais formativos e reflexões na atuação docente, objetivando analisar potencialidades da pesquisa-ação no campo das políticas educacionais, demonstrando peculiaridades, limites, caráter dialógico e interativo na produção e socialização do conhecimento nesse campo. Os pesquisadores trazem um estudo de dados quantitativos, identificando que a pesquisa-ação no campo das políticas educacionais ainda é pouco utilizada, apontando como potencialidade para um instrumento que favorece a análise crítica dos objetivos de investigação.
No capítulo treze, os autores Carmem Lúcia Albrecht da Silveira, Sandra Maria Zardo-Morescho e Renata Cecilia Estormovski realizam uma importante reflexão acerca da “Etnografia de redes como forma de análise das políticas educacionais no cenário global”, objetivando reconhecer sua importância, tendo em vista que a etnologia de redes é uma metodologia destinada ao mapeamento do conteúdo das relações políticas em um campo particular, também sendo definida como análises etnográficas de governança de ação. Neste capítulo, abordam a contextualização da etnografia de redes como uma metodologia para a pesquisa em políticas educacionais, a atuação das redes de governança nesse campo, como também indicam a influência das redes internacionais na produção da política da educação brasileira.
Seguidamente, em seu capítulo quatorze, produzido por Carina Copatti e Graziela Bergonsi Tussi, que abordam concepções acerca da temática “Estudo de caso na compreensão das políticas educacionais e de sua influência nos contextos escolares”, objetivando um constructo-teórico reflexivo sobre o estudo de caso qualitativo, ou etnográfico, considerando também suas contribuições para o campo das políticas educacionais. Também apresentam um estudo acerca de uma análise de publicações, a fim de identificar aspectos que envolvessem os procedimentos, percursos e resultados na utilização do estudo de caso nas políticas educacionais.
Prosseguindo com o tema “Grupo Focal, uma análise do planejamento e execução com foco na utilização em ambientes virtuais”, temática contemplada no décimo quinto capítulo, em que os autores Altair Alberto Fávero, Camila Chiodi Agostini, Elia Maria Leandro Uangna e Larissa Morés Rigoni buscam analisar o planejamento e a execução do grupo focal, buscando explorar conceitos, potencialidades, limites e sua aplicação em ambientes virtuais, apresentando de forma didática e conceitual os principais aspectos dessa técnica de pesquisa e trazendo uma investigação sobre os desafios.
E para encerrar esta coletânea de perspectivas metodológicas, o capítulo dezesseis, elaborado por Adriana Costa, Altair Alberto Fávero, Lidiane Puiati Pagliarin e Priscila de Campos Velho, traz uma abordagem acerca das “Potencialidades e riscos da utilização da entrevista na pesquisa no campo das políticas educacionais”, com o propósito de apresentar e enfatizar as vantagens e desvantagens na utilização da entrevista, como também relatar a sua relevância nesse campo. Os autores ressaltam a relação entre entrevistador e entrevistado, a fim de abrir caminho para a fala e a escuta, não deixando a entrevista cair num jogo de perguntas e respostas.
Revelando a diversidade de possibilidades metodológicas da pesquisa em política educacional, todavia a coletânea apresentada traz subsídios acerca das dimensões metodológicas de extrema importância a serem considerados na elaboração da pesquisa, com fundamentações e abordagens que se fazem necessárias para contribuir com a comunidade acadêmica em política educacional, tornando-se um convite de leitura especialmente para a iniciação científica e pesquisadores de mestrado.