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Educação

versão impressa ISSN 0101-465Xversão On-line ISSN 1981-2582

Educação. Porto Alegre vol.46 no.1 Porto Alegre jan./dez 2023

https://doi.org/10.15448/1981-2582.2023.1.43996 

Outros Temas

Docência inovadora: ressignificações da identidade docente a partir da escuta de si e do outro

Innovative teaching: resignifications of the teacher's identity based on listening themselves and the other

Docencia innovadora: resignificaciones de la identidad del maestro basado en escucharte y a los otros

Lisiane Fernandes da Silveira1 

Doutora e mestre pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba, PR, Brasil.


http://orcid.org/0000-0002-4299-0378

Regina Cely de Campos Hagemeyer1 

Doutora pela Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, SP, Brasil. Professora sênior do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal do Paraná (PPGE/UFPR), em Curitiba, PR, Brasil. Líder do grupo de pesquisa Formação docente, currículo e práticas pedagógicas: paradigmas contemporâneos (GPFOR/PPGE/UFPR).


http://orcid.org/0000-0002-2114-5423

1Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil.


Resumo:

A inovação escolar frente às mudanças socioculturais da contemporaneidade vem sendo um desafio para as escolas, especialmente para os professores que atuam no cotidiano escolar. A pesquisa apresentada neste artigo propôs-se a analisar a concepção, os processos e a constituição da identidade da docência inovadora de um grupo de professores que atua nos anos iniciais do ensino. O estudo se pautou na abordagem teórico metodológica da pesquisa narrativa autobiográfica de formação, segundo os materiais de Abrahão (2003, 2011), Josso (2004, 2010) e Delory Momberger (2006). Contou com três etapas por meio de questionários, entrevistas e encontros formativos. Para tanto, são investigados os elementos constituintes da identidade docente segundo Huberman (1995), Marcelo Garcia (2009), Pimenta (1999) e outros que, em interação com narrativas dos docentes na pesquisa, possibilitaram através da escuta de si e do outro a ressignificação da constituição da identidade da docência inovadora aos sujeitos da investigação.

Palavras-chave: docência inovadora; identidade docente; pesquisa narrativa de formação

Abstract:

The school innovation faced to the contemporary sociocultural changes has been a challenge for schools, especially for teachers who work in daily school life. The research presented in this paper aimed to analyze the conception, the processes and constitution of the identity of innovative teaching of a group of teachers. This group teaches for early years of teaching. The research was based on the theoretical methodological approach of the autobiographical narrative research of formation according to the studies by Abrahão (2003, 2011), Josso (2004, 2010) and Delory Momberger (2006). It was carried out in three stages, through questionnaires, interviews and training meetings. In this paper, constituent elements of the teacher's identity are analyzed according to Huberman (1995), Marcelo Garcia (2009), Pimenta (1999) and others, who, in interaction with the narratives of the teachers in the research, made it possible, through listening themselves and the other, to resignify the constitution of the identity of innovative teaching to research subjects.

Keywords: innovative teaching; teacher identity; narrative formation research

Resumen:

La innovación escolar frente a los cambios socioculturales contemporáneos ha sido un desafío para las escuelas, especialmente para los maestros que trabajan en la vida escolar diaria. La investigación presentada en este artículo tuvo como objetivo analizar la concepción, los procesos y constitución de la identidad de la docencia innovadora de un grupo de maestros. Este grupo trabaja en los primeros años de docencia La investigación se basó en el enfoque teórico metodológico de la investigación narrativa autobiográfica de la formación según los estudios de Abrahão (2003, 2011), Josso (2004, 2010) y Delory Momberger (2006). Se llevó a cabo en tres etapas, a través de cuestionarios, entrevistas y reuniones de capacitación. En este artículo se analizan elementos constitutivos de la identidad del maestro según Huberman (1995), Marcelo García (2009), Pimenta (1999) y otros, quienes, en interacción con las narrativas de los maestros en la investigación, hicieron posible, a través de la escucha de sí mismos y del otro, resignificar la constitución de la identidad de la docencia innovadora a los sujetos de investigación.

Palabras clave: docencia innovadora; identidad del maestro; investigación de formación narrativa

A inovação adentra as instituições escolares por vezes orquestrada por perspectivas de mercado pautadas na individualidade, competição e projeções que nem sempre beneficiam o avanço de forma equânime a todos os estudantes inseridos nestes projetos de inovação escolar. Diante disso, a concepção adotada na presente pesquisa contempla a inovação como avanços e integração de novas metodologias e recursos, mas não se limita esta dimensão. Buscou na investigação com os professores e na análise compreender e identificar quais concepções e processos inovadores são desenvolvidos para além de apenas a inserção de novas metodologias.

O trabalho de análise e pesquisa junto aos professores no estudo aqui desenvolvido envolve o diálogo sobre abordagens de inovação docente, narrativas autobiográficas e busca verificar quais ressignificações da identidade docente ocorrem. Portanto, busca-se contribuir diretamente com práticas docentes na escola atual, com novos direcionamentos para processos de formação de professores que nela atuam e buscam por processos pedagógicos inovadores.

O conceito de docência inovadora compreende os referenciais postos por Carbonell (2002), que descreve a inovação como um conjunto de intervenções, decisões e processos, com certo grau de intencionalidade e sistematização, que tratam de modificar atitudes, ideias, culturas, conteúdos, modelos e práticas pedagógicas docentes. Para o autor, a docência inovadora empreende novos projetos e programas, materiais curriculares, estratégias de ensino e aprendizagem, modelos didáticos e outra forma de organizar e gerir o currículo, a escola e a dinâmica das aulas em dado espaço escolar.

A compreensão da docência inovadora assume neste estudo uma perspectiva que não significa apenas utilizar mudanças metodológicas. Segundo Cunha (2016) a inovação é uma nova forma de compreender o conhecimento, portanto com alterações nas bases epistemológicas da prática pedagógica.

A aproximação e o diálogo com os professores se tornam ponto de partida para se compreender processos e concepções de inovação na escola atual. Sendo assim, a proposta deste artigo faz parte de um recorte de uma pesquisa em nível de doutorado, do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em desenvolvimento com professores da Rede Municipal de Ensino do Município de Curitiba-PR, onde buscou-se compreender aspectos e processos que instigam os professores à mudança na prática pedagógica. Na abordagem mencionada neste artigo pretende-se dialogar com as potencialidades da pesquisa narrativa autobiográfica de Abrahão (2003, 2011), Josso (2007, 2010) e Delory Momberger (2006) como processo formativo para os sujeitos da pesquisa, onde o diálogo desenvolvido na investigação corrobora tanto na formação da pesquisadora, na constituição da pesquisa, como também com o processo de desenvolvimento profissional dos professores investigados.

No propósito do texto pretende-se, ainda, dimensionar potencialidades através das tessituras das narrativas docentes se oportunizar espaço de fala, escuta e reflexão aos docentes participantes da pesquisa como um processo de ressignificação da identidade docente segundo Huberman (1995), Marcelo Garcia (2009), Nóvoa (2019) e Pimenta (1996) compreendendo aspectos integrantes desse processo de desenvolvimento profissional que contribuem para inovação na escola.

A pesquisa narrativa de formação e o olhar sobre a docência inovadora

A pesquisa foi desenvolvida com um grupo de professores que atuam na educação básica, com turmas dos anos iniciais de ensino. Desenvolveu-se em três etapas, utilizando-se de três instrumentos para investigação:

  1. A etapa inicial desenvolve-se através do uso de questionário semiestruturado com 46 professores participantes, desenvolvido no primeiro semestre de 2019. Estes profissionais foram indicados pelos gestores ou pedagogos da escola, por serem professores com iniciativas inovadoras nas práticas pedagógicas que desenvolvem na escola.

  2. A segunda etapa da investigação e do estudo de campo desenvolveu-se através de uma entrevista com roteiro aberto, para retomar e aprofundar aspectos abordados sobre narrativas de memórias relativas a aspectos constituintes de suas identidades docentes que contribuíssem para clarificar aspectos relativos a suas práticas e concepções inovadoras desenvolvidas na escola. Esta etapa foi desenvolvida com nove professores participantes da fase inicial. As entrevistas ocorrem no segundo semestre do ano de 2019.

  3. A terceira fase do estudo de campo foi desenvolvida através encontros formativos que ocorreriam de forma presencial, mas devido ao contexto de isolamento social durante o vivido na pandemia de COVID-19 necessitaram ser redimensionados e desenvolvidos em ambiente virtual, através de vídeos conferência na plataforma Google Meet, com perspectiva e ênfase na pesquisa-formação de Josso (2007, 2010) e com elementos dos Ateliês Biográficos de Formação de Delory-Momberger (2006). Os encontros formativos foram desenvolvidos com um grupo de oito professores e a pesquisadora. Nestes, oportunizaram o diálogo sobre interações com os dados preliminares pesquisa, revisitando as narrativas dos docentes sobre seus processos formativos para docência inovadora, com aprofundamento e reflexão sobre a contribuição do referencial teórico da pesquisa. Esta etapa ocorreu durante o primeiro semestre de 2020, com professores participantes desde a fase inicial da investigação, fazendo parte de toda trajetória da investigação.

Na fase inicial da investigação, no questionário, devido ao número maior de participantes, as narrativas foram construídas com gênero escrito e os participantes foram identificados por P1, P2… Na segunda e terceira fase da pesquisa as narrativas ocorreram através de entrevista individual e encontros coletivos, com gênero oral e transcritas pela pesquisadora. Nesta fase, os professores participantes foram identificados por nomes fictícios, por representarem um grupo menor.

Na proposição da pesquisa buscou-se oportunizar aos professores um olhar sobre si, ou seja, revisitaram aspectos de sua prática docente e perspectivas inovadoras. Possibilitou-se, ainda, no decorrer da investigação um olhar sobre o outro e sobre processos de redimensionamentos de ensino que contribuem com avanços ao processo de formação dos estudantes. Ao revisitar nas narrativas dos docentes aspectos integrantes e que favorecem o desenvolvimento profissional, engloba-se também a memória seletiva não mencionada, como invisibilidades e entraves que necessitam maior compreensão ao se pensar em inovar na escola.

Nesse sentido Abrahão (2004, p. 86) afirma,

Esse ressignificar os fatos narrados nos indicam que, ao trabalharmos com memória, o estamos fazendo conscientes de que tentamos capturar o fato sabendo-o reconstruído por uma memória seletiva, intencional ou não. A memória reconstrutiva de nossos destacados educadores e das demais pessoas-fonte que nos brindavam com suas narrativas. Sob este aspecto, em especial, reputamos muito adequada a proposta teórico metodológica de pesquisa que adotamos, justamente ao pretender construir um conhecimento privilegiando a profissionalização do educador, trazendo aportes das histórias contextualizadas de educadores na dimensão não só pessoal, mas também nas demais dimensões, principalmente na profissional e sócio-política que àquela se imbricam.

Caracterizar e analisar como se manifestam os processos da docência inovadora nos anos iniciais de ensino, nos levou a buscar formas mais apuradas de interpretação sobre os processos de construção das práticas dos professores considerados inovadores. Detectou-se na metodologia das narrativas e histórias de vida de professores, as possibilidades de leitura, interpretação e análise sobre as atividades e mediações pedagógicas que desenvolvem e que serão analisadas nesta pesquisa.

Na trajetória da pesquisa proposta, como a intenção era estar em interação direta com os professores investigados, buscou-se proporcionar oportunidades de tempo de atividades, para ouvir suas vozes e histórias de vida profissional, visando interpretar e analisar posteriormente as experiências vividas, concepções e metodologias reveladas. As narrativas dos professores como fenômeno, método e processo de formação e práxis social (Abrahão, 2007) apresentaram-se como um caminho norteador para a compreensão dos processos de inovação do grupo investigado.

Freitas e Ghedin (2015) referem-se à compreensão do uso e origem das narrativas na pesquisa da formação de professores ao caracterizarem o período que marca a emergência metodológica, que considera as histórias de vida em formação. Os autores situam o contexto europeu, no início da década de 1980, no qual foram publicadas algumas obras que abriram caminhos para a viragem relativa à valorização das narrativas docentes na pesquisa. Nesta perspectiva, os autores mencionam as obras: Produzir sua vida: autoformação e autobiografia, de Gaston Pineau e Marie-Michèle (1983); O professor é uma pessoa, de Ada Abraham (1984), e o livro organizado por António Nóvoa e Matthias Finger: O método (auto) biográfico e a formação (1988).

No Brasil, a utilização das narrativas de formação, despontou a partir de 1990, seja como prática de formação, como pesquisa, ou como pesquisa-formação, presentes nas investigações da pós-graduação em educação. Além disso, foram criados diversos grupos de pesquisas sobre narrativas de professores, nos quais se destacou o Grupo de Estudo sobre Docência, Memória e gênero da Faculdade de Educação na Universidade de São Paulo (GEDOMGE/FEUSP), sob a coordenação de Catani, Souza, Bueno e Sousa (Freitas & Ghedin, 2015).

A proposta de investigação nesta pesquisa, pautou-se a partir da narrativa "de si", que se entrecruza com a "do outro" e "dos outros", buscando localizar nestes "outros", o lugar que ocupam, para onde desejam ir, o que fazem, o que querem fazer e porque o fazem. O olhar, a escuta e a análise dessas narrativas, trilhou um caminho interativo na pesquisa com os professores inovadores, e observamos que, gradativamente, esta forma metodológica se tornou importante para os professores participantes, ou seja, falar sobre o lugar que ocupam na escola, em suas trajetórias e experiências do ponto de vista pessoal, profissional, social e cultural.

Para Abrahão (2003), ao trabalhar com metodologia e fontes dessa natureza, qualifica a atuação do pesquisador que,

… conscientemente adota uma tradição em pesquisa que reconhece ser a realidade social multifacetária, socialmente construída por seres humanos que vivenciam a experiência de modo holístico e integrado, em que as pessoas estão em constante processo de auto-conhecimento [sic]. Por esta razão, sabe-se, desde o início, trabalhando antes com emoções e intuições do que com dados exatos e acabados; com subjetividades, portanto, antes do que com o objetivo. (Abrahão, 2003, p. 80)

Segundo a autora, nesta tradição de pesquisa, o pesquisador não estabelece generalizações estatísticas, mas sim, compreende o fenômeno em estudo, o que lhe pode até permitir uma generalização analítica. Desta forma, ao iniciar o trabalho com as narrativas, interagiu-se a partir de emoções e intuições, mais do que com dados exatos e acabados.

As narrativas dos professores mostraram o aspecto profissional singular de cada docente, em uma perspectiva plural, da teia que constitui o processo de ensino, considerando os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos, psicológicos entre outros. Segundo Delory-Momberger (2006), a narrativa sobre o processo indefinido do vivido, que é multiforme, heterogêneo, polissêmico, realiza a busca de sentidos e de organização, bem como uma ordenação de funcionalidade significante.

Nesta perspectiva, propicia a possibilidade de organizar e tratar de modo temático os acontecimentos dos processos da docência inovadora no âmbito da vida escolar e do(a) professor(a). Afirma a autora que:

É a narrativa que designa os papeis aos personagens de nossas vidas, que define posições e valores entre eles. É a narrativa que constrói entre as circunstâncias, os acontecimentos, as ações, relações de causa, de meio, de fim; que polariza as linhas de nossos argumentos entre um começo e um fim e os atrai para sua conclusão; que transforma a relação de sucessão dos acontecimentos nos encadeamentos acabados; que compõe uma totalidade significante em que cada acontecimento encontra seu lugar de acordo com sua contribuição à realização da história contada. É a narrativa que faz de nós o próprio personagem de nossa vida, é ela enfim que dá uma história à nossa vida: nós não fazemos a narrativa de nossa vida, porque nós temos uma história; nós temos uma história porque nós fazemos a narrativa de nossa vida. (Delory-Momberger, 2006, p. 363)

Neste sentido, propôs-se aos professores inovadores que, ao narrar suas trajetórias e processos de formação, abordassem aspectos relativos à sua prática docente enquanto ações impulsionadas por necessidades, observações e reflexões que conduziram a mudanças no modo como desenvolveram novas estratégias e atividades docentes. Por meio de conversas e reflexões, foi possível dialogar com as ciências sociais e com os processos da cultura escolar e da escola, pois em todo o percurso das atividades, buscamos relacionar a importância das narrativas dos professores inovadores aos significados e à significância do social e cultural.

Abrahão (2011) menciona a natureza tridimensional do tempo da narrativa, tendo em vista que esta rememora o passado, com os olhos do presente e permite prospectar o futuro, sendo que o próprio discurso narrativo não procura necessariamente obedecer a uma lógica linear e sequencial. A autora considera ainda a narrativa autobiográfica em uma tríplice dimensão: (a) como fenômeno, na qual o ato de "narrar-se" é realizado de forma reflexiva; (b) como metodologia, em que a narrativa se torna fonte da investigação e como processo formativo de aprendizagem, de autoconhecimento; e (c)de (re)significação do vivido.

A investigação teve, nos momentos de pesquisa formação, o propósito de oportunizar um percurso de formação com vistas ao projeto futuro de desenvolvimento profissional voltado às características reveladas por estes docentes. O diálogo com as docentes investigadas e a troca epistemológica durante este processo conduziu ao propósito de construir um conhecimento compartilhado e, portanto, coletivo, com vistas a atenuar fronteiras entre a teoria e a prática, a escola e a universidade, o professor e o pesquisador.

Segundo Josso (2007), o trabalho de pesquisa a partir da narração das histórias de vida ou, de histórias centradas na atuação e na formação, busca a perspectiva de evidenciar e questionar as heranças, a continuidade e a ruptura dos projetos de vida, os múltiplos recursos ligados à docência, esse trabalho de reflexão parte da narrativa da formação "de si". Desta forma, permite ao professor estabelecer a medida das mutações sociais e culturais em suas trajetórias de vida singulares e relacioná-las a influências e à evolução profissional nos contextos de trabalho.

No desenvolvimento da pesquisa, o propósito de dialogar com o processo de atuação de docentes inovadores, implicou no desenvolvimento profissional desses professores, e da escola em que exercem seu trabalho, em busca de redimensionamentos pedagógicos. Estes docentes estão diante de desafios impostos a suas práticas, o que levou a pensar a inovação a partir do olhar dos sujeitos da docência, e não somente a partir do movimento vertical de propostas oficiais e dos gestores, premidos por demandas externas e interesses de uma sociedade de mercado.

O olhar sobre si e outro como ressignificações para identidade da docência inovadora

Na pesquisa, o percurso da escuta e interação com as narrativas contemplou a partir da memória autobiográfica um olhar plural para constituição da docência ao dialogar com ações individuais e processos inovadores que partem, por vezes, de forma silenciosa, tímida, com invisibilidades no ato de ensinar e podem muito contribuir com o processo de ensino dos estudantes. Para tanto, a importância de compreender suas narrativas sobre suas experiências vividas no percurso profissional na escola e na vida.

Os estudos sobre a identidade docente corroboram as compreensões de aspectos que incentivam a inovação na escola atual. A perspectiva da pesquisa, sugere a necessidade de avanços na discussão sobre a prática docente inovadora, rompendo com uma visão pragmática dos saberes da prática pedagógica, vista em uma perspectiva de isolamento ou fora do compartilhamento da vida social.

Marcelo Garcia (2009) refere-se à necessidade de compreensão sobre a identidade profissional dos professores por se constituir como interação entre o professor(a) como pessoa, e como profissional em sua trajetória e experiências individuais de ensino, onde se constrói e se transmite. Segundo o autor, existem algumas características ou constantes da identidade profissional docente, que se repetem e que são, geralmente, independentes do contexto social ou cultural – as diferencia, ainda, da perspectiva pessoal e coletiva.

Para o autor, é preciso entender o conceito de identidade docente como:

… uma realidade que evolui e se desenvolve, tanto pessoal como coletivamente. A identidade não é algo que se possua, mas sim algo que se desenvolve durante a vida. A identidade não é um atributo fixo para uma pessoa, e sim um fenômeno relacional. O desenvolvimento da identidade acontece no terreno do intersubjetivo e se caracteriza como um processo evolutivo, um processo de interpretação de si mesmo como pessoa dentro de um determinado contexto. Sendo assim, a identidade pode ser entendida como uma resposta à pergunta "quem sou eu neste momento. (Marcelo Garcia, 2009, p. 112)

A constituição da identidade da docência inovadora, enquanto profissão do professor, se constrói de forma correlata ao contexto e ao momento histórico em curso, como resposta às necessidades que estão postas pela sociedade, assim como se busca desvelar as mudanças reais presentes no contexto contemporâneo na escola.

Segundo Pimenta (1996), como a compreensão sobre a identidade docente pressupõe que os estudos que contemplam sua constituição, possibilitam entender também como vemos ou interpretamos os elementos que constituem a identidade dos professores no momento atual.

Neste sentido, detectar quem são os professores inovadores, o que propõem, quais seus domínios, as relações que estabelecem com os estudantes e os novos conhecimentos e interesses que revelam, são questões que ao serem respondidas a partir das narrativas de docentes inovadores, nos levaram a estabelecer categorias que constituem a identidade profissional desses professores.

Huberman (1995) se referiu à constituição da identidade docente, e ao desenvolvimento de uma carreira, como um processo não linear, constituído de patamares, regressões, becos sem saída, momentos de arranque, descontinuidades. O que o autor identificou em suas pesquisas como ciclo de vida que o professor se encontra, relacionados a sua identidade que evidencia diferentes características profissionais e tem origem nas diferentes etapas da sua vida profissional.

A fase de ingresso na docência, que segundo o autor seria a fase da sobrevivência ou da descoberta, é quando ocorre, segundo o autor, o choque com o real, ou a confrontação inicial do docente com a complexidade da situação profissional. Nesta fase, ocorre a preocupação consigo próprio para avaliar se vai conseguir permanecer na função docente, ou seja, quando o professor se depara com dificuldades, constata a distância entre os ideais e a realidade do cotidiano escolar e se inicia uma fase de descoberta da real atuação docente no ambiente escolar.

A este processo de descoberta e exploração, agregam-se o entusiasmo inicial, a experimentação, a exaltação por estar com responsabilidade no processo de ensino e aprendizagem de um grupo de estudantes e por se sentir participante de um grupo de profissionais da educação. Esta segunda dimensão contribui para a permanência na docência, sendo que a importância da coletividade, da interação com seus pares no âmbito do trabalho escolar, é o que fortalece a identidade docente.

A próxima etapa do ciclo de vida profissional pelo comprometimento profissional, tomada de responsabilidades, é uma fase de estabilização, segundo Huberman (1995), e nesta fase ocorre a escolha de uma identidade profissional, na qual se fortalece o pertencimento do professor a uma classe profissional e a busca da independência neste âmbito. Nesta fase da carreira o profissional se expõe mais para seus pares e para a gestão escolar, acentua-se o seu grau de liberdade e afirmam-se suas prerrogativas, o seu modo próprio de funcionamento.

A fase da estabilização traz consigo um sentimento de competência profissional, de investimento em práticas pedagógicas inovadoras, como estilo próprio de ensino e estratégias, com autoria para suas relações com a comunidade escolar, onde segundo o autor se evidencia a experimentação e a diversificação. O professor desenvolve características como tolerância, flexibilidade, prazer, humor, segurança e espontaneidade. Nesta fase, os professores seriam os mais motivados, dinâmicos, os mais empenhados em processos de mudança na escola, lançando-se a novos desafios e opondo-se à rotina.

Estas etapas segundo Huberman (1995) ocorrem de forma não linear nos diferentes perfis docentes. A fase da estabilização pode se distanciar de processos inovadores e manter práticas pedagógicas rotineiras e monótonas. Neste caso, os processos da formação continuada e o desenvolvimento profissional são fundamentais na carreira docente, uma vez que a essas multifacetas e perfis docentes, agregam-se os outros e demais aspectos constituintes da identidade docente.

O ciclo que contempla da serenidade e o distanciamento afetivo identifica-se ao caminhar para o final da carreira, no qual se diminui o nível de investimento nos processos de formação e que, segundo os estudos de Huberman (1995), poderão prosseguir para um desinvestimento, conservação, e resistência à inovação, aos questionamentos, manifestando-se o distanciamento em relação aos estudantes, o que por vezes acontece devido ao choque de gerações.

As características da identidade docente para cada ciclo profissional não são fases distintas que podem ser relacionadas a uma uniformidade pré-estabelecidas para os professores. Como são distintas, ocorrem de forma não similar e inúmeros são os aspectos que influenciam no desenvolvimento dessas convergências na profissão.

Embora essas incompatibilidades possam ser sempre encontradas na pesquisa sobre a docência, a compreensão da identidade como constituinte do processo de tornar-se professor refere-se a um dos caminhos da pesquisa sobre as concepções de inovação e os processos engendrados pelos professores nos anos iniciais de ensino.

A identidade docente é vista de forma plural. A ela se agregam as parcerias e os colaboradores, o que possibilita uma rede de apoio à docência, vista por algumas políticas públicas como responsáveis pelo sucesso e, ao mesmo tempo, pelo fracasso do processo educacional, segundo Nóvoa (2019). Reafirma-se, nesta abordagem, a importância da relação teoria e prática, e da aproximação da docência com a universidade, para além do ingresso inicial na carreira e a necessidade de interações dos professores com relação aos processos da pesquisa (Nóvoa, 2019).

O entendimento sobre a identidade dos professores, torna-se uma significativa contribuição para a compreensão da inovação necessária à escola atual. A análise da inovação, a partir das relações que a prática dos professores estabelece entre e com os sujeitos da escola, possibilitam olhar a inovação e compreender seus porquês, a quem beneficia, e quais projetos contempla, visando o sucesso na escolarização dos alunos que frequentam a escola, assim como o docente constrói esta identidade profissional.

A constituição da docência inovadora e suas ressignificações a partir da pesquisa narrativa de formação

Oportunizar espaços formadores para a "escrita de si" constitui a possibilidade de refletir sobre os processos de formação e compreensão de processos vividos, como explicita Josso,

As práticas de reflexão sobre si, que oferecem as histórias de vida escritas centradas sobre a formação, comumente se apresentam como laboratórios de compreensão de nossa aprendizagem do ofício de viver num mundo móvel, globalmente não-dominado [sic] e, no entanto, parcialmente dominável na medida das individualidades, que se faz e se desfaz sem cessar e que põe em cheque a crença em uma "identidade adquirida", em benefício de uma existencialidade sempre em obra, sempre em construção. (2007, p. 431)

Dentre os professores que responderam a esta questão, muitos abordaram aspectos relativos ao preparo profissional para além da formação inicial e, dentre elas, ficaram evidenciadas as atitudes de: ensinar aprendendo; competência para ensinar; bem como compreender como os professores dimensionavam a inovação. Alguns aspectos foram dimensionados como pesquisa; trocas de experiências; formação; e atualização. Nas palavras referentes ao preparo profissional docente, percebeu-se a preocupação com profissionalismo, organização e planejamento, além de autoavaliação, autodisciplina e ética profissional.

Nas concepções dos docentes, evidenciadas nos objetivos de trabalho que surgem como necessidade da docência inovadora, destacamos algumas abordagens das narrativas que predominaram, tais como as que alguns professores mencionaram:

A evolução do mundo me faz repensar sobre minha prática, buscando ser mais reflexiva, crítica e inovadora. A sociedade afeta diretamente a educação, devido a isso precisamos estar em constante evolução, explorar a criticidade dos estudantes é um passo. (P1, comunicação pessoal, abril 2019)

A minha maior motivação é levar a todos os conhecimentos, provocar debates, levantar hipóteses; eles têm sede de conhecimento e isso me motiva muito. (P9, comunicação pessoal, 8 abril 2019)

O despertar nos alunos a criatividade, a curiosidade, o desejo de aprender, a autonomia forma assim seres humanos aptos a viver em sociedade. (P17, comunicação pessoal, 15 abril 2019)

Na proposta para que narrassem sobre as concepções e objetivos de suas práticas inovadoras, um grupo de professores mencionou o respeito e a compreensão das diferenças culturais dos estudantes ao destacar características da identidade da docência inovadora. Reconheceram o compromisso com a aprendizagem dos estudantes, a compreensão sobre função da formação da cidadania contemporânea na escola, o desenvolvimento diário dos educandos, o crescimento humano, o respeito à diversidade no trabalho pedagógico e o respeito às diferenças culturais.

Muitas dessas atitudes do professor inovador, advêm das observações e vivências dos professores com relação à busca de mudanças que empreenderam, principalmente com relação às mudanças que percebem na sociedade e, sobretudo, considerando as influências dessas mudanças, nos estudantes com os quais trabalham. Estas atribuições, ainda são compostas também por características próprias, de suas histórias de vida, que apareceram bem evidentes nas memórias que permeiam suas subjetividades. Embora apontem inúmeras identificações sobre suas opiniões, deixaram transparecer os constituintes históricos e socioculturais enquanto professores, como se pode observar nas abordagens que se referem aos objetivos de trabalho, tais como respeito à ampliação de visões de mundo, a visibilidade sobre a identidade social da classe à qual pertencem, entre outras.

Ainda nestes aspectos integradores da identidade docente, evidenciaram-se em algumas narrativas docentes, compreensões sobre a influência de posições históricas, sociais, culturais políticas, ideológicas como influências da docência inovadora, em suas abordagens sobre o que constitui a docência inovadora, tais como:

A prática nossa como professores é muito complexa com muitas influências que necessitam compreensão das questões sociais. É necessário que seja inovador, pesquisador e dotado de interações para as demandas que surge no contexto atual e a diversidade de influências na prática docente. (P12, comunicação pessoal, 8 abril 2019)

A atuação docente é um todo, que compreende os ideais da educação escolar. A minha atuação acaba tendo minhas ideias políticos, sociais, e epistemológicos e estão em interação ao ensino. (P14, comunicação pessoal, 8 abril 2019)

Sempre busco compreender as ideologias intrínsecas ao ensino, nas dimensões e limitações de nossas ações, sempre nossos governos, administradores submetem à escola, propostas ideológicas. Busco autenticidade na minha prática, minha crença pedagógica que venho construindo ao longo da carreira. (P25, comunicação pessoal, 29 abril 2019)

Reflito sempre sobre todas as dimensões da escola e acho que primeiro devemos considerar a transformação geradas socialmente; acredito que a neutralidade não existe na escola. (P27, comunicação pessoal, 29 abril 2019)

Quando questionados sobre as mudanças promovidas, percebeu-se que nas narrativas das professoras, os aspectos evocados abordaram três perspectivas de forma bastante significativa: (a) pessoais, (b) profissionais relativas ao cotidiano escolar e pedagógicas com relação aos seus projetos.

Nesta mesma pergunta, deixaram claras as perspectivas que os diferenciam de uma concepção pragmática de atuação docente e sinalizaram em suas narrativas as compreensões sobre a necessidade de domínios referentes aos processos culturais escolares. Revelaram constituir-se com características que transitam entre atitudes voltadas às diferenças culturais e sociais dos estudantes, à busca de domínios profissionais necessários, ao desenvolver o trabalho docente, e com a preocupação de desenvolver práticas inovadoras.

A ressignificação da identidade do professor inovador

Os encontros formativos realizados possibilitaram aos participantes rever suas compreensões sobre a inovação a partir de todo o processo vivido na sua participação nas fases anteriores da investigação e, a partir deste momento de fala e escuta coletiva e do espaço, repensar sobre inovação na escola de forma coletiva e interativa. Percebeu-se no conteúdo das suas narrativas, uma amplitude ao integrar um olhar para além da sala de aula, em uma perspectiva de colaboração, buscando um projeto de ensino não mais fragmentado e desconectado do real.

Os professores mencionaram pequenas ações que fazem parte da inovação, como também a importância de um projeto para o ensino, citando ainda dificuldades com os diferentes ciclos ou fases em que se encontram os professores na profissão. Em suas diferentes concepções de ensino é importante nas suas falas a significativa percepção de como as parcerias e interações, seja com professores, com alunos, ou gestores, favorecem a inovação e melhoram a aprendizagem dos estudantes. Nas falas dos professores a seguir, pode-se perceber suas definições de inovação:

Inovar é ir além daquilo que você realmente dá conta, é sair da sua zona de conforto. É muito fácil eu estar fazendo aquilo que eu sempre faço, do mesmo jeito… (Maria, comunicação pessoal, 5 agosto 2019)

Pensar de novo, "Poxa, mas dá para ser desse jeito?". Eu acho que inovação dá para definir assim, você buscar novas formas, novos jeitos de fazer. Ou fazer de uma outra forma. (Maria, comunicação pessoal, 05 agosto 2019)

Porque quando eu entrei na escola uma professora que me chamou muito a atenção, eu falei para ela, muito jovem, ela tem umas ideias diferentes, e ela conseguiu manter. Porque eu entrei, há sete anos, e tinha muita professora antiga já se aposentando, que não aceitam coisas, sabe? E daí a gente também trouxe, o que você fala de inovação, como essa leva de professores novos do concurso. Eu não sou nova de idade, mas na de cabeça sou mais jovem para pensar, do que os recém-formados. E professoras mais novas, cheia de ideias trazem tudo isso, que a gente pode aplicar. Eu acho que o processo de inovação é pensar nesse processo de troca e de crescimento profissional. (Cristina, comunicação pessoal, 19 agosto 2019)

Na construção dialógica observada, percebe-se como os professores ao revisitar suas experiências a partir do olhar sobre si e do outro, enriquecem e reconstroem suas identidades profissionais. A profissionalidade pode ser o termo mais adequado para o exercício da docência inovadora, sendo que não é estática e permanente, é sempre um processo.

As professoras revelaram nesta troca de experiências e reflexões após participar das fases da investigação, novas compreensões quanto às práticas que desenvolvem e percebeu-se um avanço ao citar características próprias e específicas de suas atividades. Nas ações metodológicas de sala de aula, sinalizaram compreensões quanto ao crescimento profissional em desenvolvimento, objetivando as suas experiências para além de visões sobre o ensino como transmissão de conteúdo, sendo que a relevância social ficou muito presente neste momento coletivo de pesquisa-formação.

A pesquisa narrativa de formação: uma possibilidade para um novo olhar sobre a docência inovadora e para avanços na formação de professores

As narrativas dos professores contemplam a transição de paradigmas presentes na escola atual, onde muitos professores encontram espaços de resistência, inovação e autonomia, da mesma forma que vivenciam espaços de estabilização e reprodução. No cotidiano escolar, os projetos tomam dimensões não esperadas e agregam muitas parcerias estabelecendo avanços para além dos esperados.

Os professores compreendem ainda limitações na escola e nas suas práticas e sinalizam a importância de uma maior compreensão sobre os aspectos que integram a inovação, em uma perspectiva teórica que dialogue com o vivido no cotidiano escolar. Nestas abordagens, o novo para os professores tem sido percebido no espaço do pensar sobre a prática que se manifesta a partir de atividades, projetos e as relações que propiciam e estabelecem.

Os professores falaram sobre seu desenvolvimento profissional e a potencialidade do espaço de interação na escola em uma dimensão de conhecimento de si e do outro. Nas suas considerações sobre suas expectativas do vivido no processo de investigação, bem como nas demais fases das quais participaram, referiram-se à importância e riqueza desse momento de escuta e fala. Salientaram como é um espaço ainda pouco trilhado como formação no cotidiano escolar, como se observa a seguir.

E eu gosto dessa ideia do olhar para si, eu acho que a gente pode listar a quantidade de coisas de qualidade, de inovação que a escola já tem. E aí que cada um pense um pouco em si e reconheça a qualidade dos outros também. (Rebeca, comunicação pessoal, 14 outubro 2019)

Quando você fez essa proposta para o questionário, eu revisitei, uma parte que estava lá guardada e que tipo, que ficou lá atrás, que eu não tinha parado para pensar assim, não era uma reflexão cotidiana minha. Mas daí quando você para responder o questionário, você vai pensar em cada coisa que você vai escrever, aí você vai ter que puxar algo pela a tua memória, lembrar de algumas coisas. E aí quando você puxa pela a memória, você pensa. Nossa, eu fiz isso. Mas, olha, agora eu já faço assim, já nem é mais aquele jeito. Daquele jeito já estava bom, mas eu acho que algumas coisas melhoram, outras você acaba abandonando no percurso. (Luana, comunicação pessoal, 26 agosto 2019)

Participar da pesquisa me permitiu pensar, porque a gente para pensar sobre a prática, não é? Para pensar. E daí a primeira pergunta que vem é assim, tá, você é um professor inovador? Não sei, não é? O que é que um professor inovador? (Cristina, comunicação pessoal, 19 agosto 2019)

Nestes momentos de síntese, quando os professores passaram a ressignificar o seu percurso na investigação, demonstram nas suas considerações a contribuição do processo vivido para o seu desenvolvimento profissional, como um espaço de reconstrução de suas identidades. Mencionaram, ainda, como este espaço segue restrito nas formações docentes e no próprio cotidiano vivido na escola e ficou visível no conteúdo destas abordagens, a satisfação em relação ao momento de repensar sobre suas experiências docentes, como uma constante construção.

A pesquisa e suas contribuições para ressignificação da identidade docente: considerações finais

A compreensão de quanto foi relevante a participação dos professores na interação com a pesquisa para reconstrução da identidade da docência inovadora, seguindo toda a potencialidade da pesquisa narrativa, talvez um dos caminhos, tenha sido aquele proposto por Delory-Momberger (2012), ao concluir que:

Essa ambição, talvez louca, de atingir as próprias fontes e os modos de efetuação da singularidade individual, só pode trilhar os caminhos de uma "hermenêutica da relação" em que o pesquisador empreende, ele também, um "trabalho do sujeito", tanto quanto o autor do relato, e em interação com ele. Talvez o pesquisador, mesmo quando "armado" de seus modelos e grades, não faça e não possa fazer nada a não ser "contar" por sua vez aquilo que lhe "contam" os relatos dos outros. É pouco e é muito, é o preço de uma ciência "humana" – e é seu tesouro. (Delory-Momberger, 2012, p. 535)

O conteúdo dos depoimentos dos docentes sobre a sua participação na pesquisa, bem como o quanto foi significativa para o desenvolvimento profissional fica na riqueza do processo, da interação entre pesquisador e pesquisado, nos momentos em que se transitou no singular-plural, bem como nas teias do vivido e na intencionalidade do que é dito e do que foi omitido. A potencialidade e as fragilidades da investigação se dão na mesma perspectiva de onde se partiu: enredos entre uma história reconstruída que tem passado, presente e futuro e olhares de sujeitos plurais em construção.

Os professores traduziram em suas narrativas o que entendiam como identidade docente, concepções, posições, preocupações, práticas pedagógicas e metodologias que evidenciaram mudanças em suas práticas. Apresentamos os requisitos a que responderam agregando várias dimensões e/ou elementos da docência inovadora com palavras que representassem como eles ressignificam sua identidade profissional e buscam através dessas reflexões o ensino na escola atual, demonstrando que o conceito de inovação compreende não apenas o uso de novas metodologias, mas contempla novas dimensões a suas identidades profissionais.

Os textos deste artigo foram revisados pela SK Revisões Acadêmicas e submetidos para validação do(s) autor(es) antes da publicação.

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Recebido: 31 de Outubro de 2022; Aceito: 19 de Setembro de 2023; Publicado: 24 de Novembro de 2023

Endereço para correspondência Lisiane Fernandes da Silveira; Regina Cely de Campos Hagemeyer Universidade Federal do Paraná Rua XV de Novembro, 1299 Centro, 80060-000 Curitiba, PR, Brasil lisifernandes@hotmail.com

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