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Revista Brasileira de Educação Médica
versão impressa ISSN 0100-5502versão On-line ISSN 1981-5271
Resumo
LIMA, Maria Cristina Pereira et al. O Trote e a Saúde Mental de Estudantes de Medicina. Rev. Bras. Educ. Med. [online]. 2018, vol.42, n.2, pp.110-120. ISSN 1981-5271. https://doi.org/10.1590/1981-52712015v41n3RB20160025ING.
Introdução:
A prática do trote é um fenômeno que teve início na Idade Média e ainda persiste em muitas universidades pelo mundo. No Brasil, embora seja um problema amplamente reconhecido, tem sido insuficientemente estudado.
Objetivo:
Estimar a prevalência e identificar fatores associados à ocorrência de trote numa faculdade de Medicina pública, localizada no interior do Estado de São Paulo.
Método:
Foi realizado um estudo transversal do qual participaram 477 estudantes de Medicina do primeiro ao sexto ano do curso. O questionário autopreenchido continha questões e instrumentos estruturados que permitiram avaliar: características sociodemográficas e da vida acadêmica, apoio social, sintomas depressivos, uso problemático de álcool (por meio do Alcohol Use Disorder Identification Test — Audit), transtorno mental comum (por meio do Self Reporting Questionnaire — SRQ) e se o participante sofreu trote que considerou abusivo ou se aplicou trote do qual se arrependeu posteriormente. Foi realizada análise bivariada e regressão logística para identificar fatores independentemente associados a cada um dos desfechos (ter sofrido trote que considerou abusivo ou ter aplicado trote do qual se arrependeu posteriormente).
Resultados:
A taxa de resposta foi de 87,0%. Relataram ter sofrido trote abusivo 39,8% (IC95% 35,4% — 44,2%) dos estudantes, enquanto afirmaram ter aplicado trote do qual se arrependeram 7,5% (IC95% 5,2% — 9,9%) deles. Ter sofrido trote abusivo associou-se a: sexo masculino, não estar adaptado à cidade, apresentar menor escore na escala de apoio social e ter feito ou estar fazendo tratamento psiquiátrico e/ou psicológico após o ingresso na universidade. Ter aplicado trote, por sua vez, também se associou a sexo masculino, assim como a maior idade e maior pontuação no Audit.
Conclusão:
Trote associou-se a sexo masculino e à procura por tratamento de saúde mental entre os que o receberam e a uso problemático de álcool entre os que o praticaram. É fundamental que as instituições debatam e compreendam melhor o problema do trote, a fim de adotar medidas efetivas para que este seja prevenido.
Palavras-chave : Estudantes de Medicina; Trote; Violência; Bullying; Saúde Mental.