INTRODUÇÃO
Hiperidrose é a produção excessiva de suor pelo corpo, além do exigido pelo meio ambiente e do requerido para a homeostase do organismo. Essa doença pode ser primária ou secundária e generalizada ou localizada1 . No caso da hiperidrose primária (HP), o suor ocorre devido a uma hiperatividade do tronco simpático, sem nenhuma causa relacionada a doenças como hipertireoidismo, obesidade, distúrbio psiquiátrico ou menopausa2 , 3 . A HP pode manifestar-se isoladamente nos sítios craniofacial, axilar, palmar e plantar, no dorso e na face interna das coxas. Pode haver associações entre os sítios ou concomitantemente nessas regiões4 , 5 .
A HP é classificada da seguinte forma: grau leve (área molhada sem gotejar), moderada (área molhada e gotejante) ou intensa (área molhada e muito gotejante)6 - 8 . A HP é classificada qualitativamente de acordo com a Escala de Gravidade da Doença da Hiperidrose ( Hyperhidrosis Disease Severity Scale – HDSS), com base em como a doença pode afetar as atividades diárias. O paciente seleciona a declaração que melhor reflete sua experiência com transpiração na área especificada. Uma pontuação de 3 ou 4 indica hiperidrose grave, enquanto uma pontuação de 1 ou 2 indica HP leve ou moderada9 .
A HP apresenta uma prevalência muito variável, de 0,6%10 a 16,8%11 , e tem início, principalmente, na infância e adolescência12 - 15 . As regiões mais acometidas são palmar, plantar e axilar, gerando prejuízo nas atividades diárias9 , 16 - 19 . A HP, embora seja uma doença benigna, apresenta um eminente impacto negativo na qualidade de vida (QdV) do paciente por causar limitações ocupacionais, educacionais, na interação social, nas atividades físicas e no lazer, trazendo consigo distúrbios psicológicos e de relacionamento1 , 20 .
Diversos estudos têm utilizado medidas de QdV para avaliar a profundidade do seu impacto nos portadores de HP. Após a criação do questionário validado por Campos et al.4 , este passou a ser utilizado nas pesquisas, o que permitiu a padronização na interpretação da avaliação da QdV em pacientes portadores dessa afecção. Mesmo que a hiperidrose não seja considerada uma doença grave, é acompanhada por um impacto negativo na QdV dos seus portadores e, por ser crônica, tem enfoque psicológico, físico, social, profissional, além comprometer as atividades de lazer3 , 20 .
Observa-se um número crescente de estudos utilizando questionários que avaliam o impacto na QdV relacionados a várias doenças clínicas e cirúrgicas. Avaliar o impacto na QdV traz elementos comparativos antes e após determinado tratamento e também quantitativos com escore de QdV4 , 3 . Essa avaliação permite estimar a multidimensionalidade das relações da HP nos vários aspectos pessoais, sociais e profissionais. Pesquisas sobre QdV sugerem que a magnitude dos efeitos adversos provocados por HP é comparável a outras condições, como psoríase grave, insuficiência renal em estágio final e artrite reumatoide21 .
Essa afecção estigmatizante provoca dificuldades nas atividades do dia a dia dos seus portadores, especialmente aqueles que utilizam manobras manuais. Ainda permanecem sem evidência os impactos na QvD dos portadores de HP nessa população. Diante do que foi apresentado, considerando que a atividade laboral do estudante de medicina depende de destreza manual e da interação com outros profissionais, objetivou-se compreender a prevalência, os critérios diagnósticos, a gravidade e o impacto na QdV que a HP provoca nos âmbitos profissional e extracurricular dos acadêmicos de medicina.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal de abordagem quantitativa de caráter descritivo. A população em estudo foi do tipo finita, composta pelos discentes dos cursos de Medicina de uma universidade particular de Aracaju/SE, matriculados na instituição até o segundo semestre de 2017. O estudo foi realizado no período de agosto a novembro de 2017. De acordo com informações coletadas disponibilizadas pela coordenação do curso, o quantitativo de acadêmicos matriculados foi de 548. O cálculo da amostra segue o descrito na equação realizada pela fórmula de Barbetta22 . Foram calculados intervalos de confiança (IC) a 95% para todas as estimativas, tendo como parâmetro o erro amostral de 0,05.
De acordo com a fórmula, a amostra mínima calculada foi de 232 acadêmicos e a estudada totalizou 300 acadêmicos, selecionados de forma aleatória e sistemática pelo programa estatístico BioEstat 5.0, de maneira a garantir uma amostra homogênea. A pesquisa foi realizada de acordo com as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com seres humanos e atende à Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério de Saúde. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa e protocolado com o número do parecer 260511.
Para a triagem dos acadêmicos portadores de hiperidrose entre a população estudada, foi aplicado o questionário proposto por Felini, Demarchi, Fistarol, Matiello e Delorenze13 , que define critérios objetivos para definição diagnóstica. Os indivíduos que obtiveram resultado positivo segundo os critérios abordados nessa etapa responderam ao questionário com dados sobre o impacto da HP nas atividades acadêmicas e extracurriculares dos estudantes e o perfil sociodemográfico. Esse questionário foi composto por variáveis inerentes à identificação, principais atividades prejudicadas pela HP.
Em seguida, os acadêmicos portadores de HP preencheram um terceiro questionário com o objetivo de complementar a avaliação da QdV. Esse instrumento foi validado e descrito por Amir, Arish, Weinstein, Pfeffer e Levy23 e modificado por Campos et al.4 . Esse instrumento avalia 20 atividades sobre quatro domínios: funcional-social, pessoal, emocional e condições especiais. O escore total do questionário varia de 20 a 100 pontos e é obtido pela soma da avaliação de cada atividade, sendo classificadas em cinco níveis de satisfação. Dessa forma, os subescores são classificados, segundo Campos et al.4 , assim: satisfação muito ruim – acima de 84; ruim – de 68 a 83; boa – de 52 a 67; muito boa – de 36 a 51; excelente – de 20 a 35.
Os questionários utilizados apresentam validação no Brasil e internacionalmente. Os dados coletados nesta pesquisa foram inseridos em uma planilha eletrônica no Excel 2016. A análise estatística dos dados utilizou o programa BioEstat 5.0, e a análise descritiva das variáveis foi apresentada por frequência, tendência, variabilidade numérica e desvio padrão, complementada pelos testes Shapiro-Wilk, Anova, Kruskal-Wallis e Pearson. Considerou-se significativo valores de p < 0,05.
RESULTADOS
Em um total de 300 acadêmicos que responderam aos questionários, 106 (35%) eram do sexo masculino e 194 (65%) do feminino; e 54 (18%) preencheram os critérios diagnósticos para HP. Dos 54 acadêmicos, 19 (35,2%) foram do sexo masculino e 35 (64,8%) do feminino, o que corresponde a uma prevalência de 17,9% nos homens e 18,1% nas mulheres. Nesse total, 3 (5,5%) se declararam negros, 19 (35,2%) pardos e 31 (57,4%) brancos; um acadêmico não declarou sua cor. A média da idade foi de 21,57 anos ( Figura 1 ).
Sobre as características da doença, 18 (33,3%) estudantes de medicina referiram início dos sintomas da HP na infância, 32 (59,2%) na adolescência e 4 (7,4%) na fase adulta.
Em relação à frequência dos critérios diagnósticos dos acadêmicos portadores de HP, 43 (79,6%) referiram suor bilateral e relativamente simétrico, 38 (70,4%) apresentaram frequência de pelo menos um episódio de suor excessivo por semana, 14 (25,9%) relataram prejuízo nas atividades diárias, 41 (75,9%) apresentaram os sintomas com idade inferior a 25 anos, 11 (20,4%) apresentaram história familiar positiva, 36 (66,7%) referiram piora dos sintomas com o estresse e 15 (27,8%) não relacionaram a sudorese com a interferência de temperatura.
A principal área afetada foi a associação das regiões palmar e plantar em 15 (27,80%) acadêmicos, seguida da região axilar isolada em 10 (18,52%) acadêmicos, da associação das regiões palmar, plantar e axilar em 7 (12,96%) acadêmicos e em outras regiões nos demais. De modo geral, a região palmar foi a área mais citada: 35 (64,83%) alunos ( Tabela 1 ).
ÁREAS AFETADAS | FREQUÊNCIA |
---|---|
Palmar + Plantar | 15 (27,80%) |
Axilar | 10 (18,52%) |
Palmar + Plantar + Axilar | 7 (12,96%) |
Palmar | 5 (9,26%) |
Palmar + Axilar | 5 (9,26%) |
Facial | 2 (3,70%) |
Axilar + Facial | 2 (3,70%) |
Dorsal | 1 (1,85%) |
Axilar + Dorso | 1 (1,85%) |
Plantar + Axilar | 1 (1,85%) |
Craniofacial | 1 (1,85%) |
Palmar + Pélvica | 1 (1,85%) |
Facial + Craniofacial + Abdome | 1 (1,85%) |
Palmar + Plantar+ Axilar + Facial | 1 (1,85%) |
Palmar + Plantar + Axilar + Facial + Dorsal | 1 (1,85%) |
Fonte: Elaborada pelos autores.
De acordo com a gravidade da HP, a maioria dos estudantes se enquadrou no grau 2 (66,67%), seguido respectivamente dos graus 1 (20,37%), 3 (11,11%) e 4 (1,85%). Com relação à autoavaliação sobre a QvD desses portadores: 7 (12,96%) a classificaram como excelente, 15 (27,79%) como muito boa, 21 (38,89%) como boa, 10 (18,52%) como ruim e 1 (1,85%) como muito ruim ( Tabela 2 ).
HDSS | Frequência | Porcentagem | Porcentagem válida | Porcentagem acumulativa |
---|---|---|---|---|
Grau 1 | 11 | 20,37 | 20,37 | 20,37 |
Grau 2 | 36 | 66,67 | 66,67 | 87,04 |
Grau 3 | 6 | 11,11 | 11,11 | 98,15 |
Grau 4 | 1 | 1,85 | 1,85 | 100 |
Total | 54 | 100 | 100 | |
QdV | Frequência | Porcentagem | Porcentagem válida | Porcentagem acumulativa |
Excelente | 7 | 12,96 | 12,96 | 12,96 |
Muito boa | 15 | 27,78 | 27,78 | 40,74 |
Boa | 21 | 38,89 | 38,89 | 79,63 |
Ruim | 10 | 18,52 | 18,52 | 98,15 |
Muito ruim | 1 | 1,85 | 1,85 | 100 |
Total | 54 | 100 | 100 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
A correlação da gravidade e da QdV dos portadores de HP evidenciou que, no grau 1 da doença, 6 (54,54%) estudantes a consideraram excelente; 4 (36,36%), muito boa; e 1 (9,09%), boa. No grau 2, somente 1 (2,78%) acadêmico a avaliou como excelente; 11 (30,55%), como muito boa; 19 (52,78%), como boa; e 5 (13,89%), como ruim. No grau 3, 1 (16,70%) aluno considerou a QdV boa; 4 (66,60%), ruim; e 1 (16,70%), muito ruim. No grau 4, 1 (100%) estudante classificou a QdV como ruim.
A QdV referida foi comparada ao escore da HDSS por meio do teste de Shapiro-Wilk para normalidade da distribuição que exibiu valor de p < 0,001, justificando que a amostra tinha uma distribuição fora da normalidade. O teste não paramétrico de Kruskal-Wallis foi utilizado e apresentou p = 0,021, sugerindo que a distribuição entre o total dos domínios é diferente entre as categorias de HDSS. Por fim, o teste de Pearson para correlação das variáveis – utilizando como variável de agrupamento os grupos HDSS 1, HDSS 2 e HDSS 3 ou 4 – foi aplicado e apresentou p < 0,01. Assim, pode-se inferir que níveis maiores de QdV são inversamente proporcionais aos escores da HDSS.
Na Tabela 3 , estão representados os valores da distribuição dos domínios social, pessoal, emocional e em condições especiais, e a Figura 2 apresenta as frequências das pontuações do domínio total e a consequente a soma de todos os domínios de acordo com o questionário de QdV de Campos et al.4 .
Domínios | Número | Mínimo | Máximo | Média | Erro desvio |
---|---|---|---|---|---|
Funcional-social | 54 | 8 | 39 | 20,15 | 8,32 |
Pessoal | 54 | 3 | 15 | 6,91 | 3,88 |
Emocional | 54 | 2 | 10 | 5,24 | 2,64 |
Especial | 54 | 7 | 35 | 21,33 | 7,08 |
Fonte: Elaborada pelos autores.
Utilizou-se o teste de Shapiro-Wilk para testar a normalidade do domínio total e constatou-se um p = 0,449. Por meio da escala de domínios de Campos et al.4 , observaram-se as seguintes médias de escore de gravidade: 42 para HDSS 1, 54 para HDSS 2, 70 para HDSS 3 e 74 para HDSS 4. Com o teste de Anova para avaliação dos subescores do domínio total, obtiveram-se valores estatisticamente diferentes entre as categorias de HDSS ( p = 0,018). Os maiores graus de HP se correlacionaram com níveis mais elevados no questionário de Campos et al.4 , o que significa uma pior QdV.
DISCUSSÃO
A HP é descrita por Moya et al.24 com uma prevalência na população mundial maior que 1%. No Brasil, Felini, Demarchi, Fistarol, Matiello e Delorenze13 identificaram em Blumenau que 9,0% dos indivíduos possuíam HP. Em uma amostra de estudantes de medicina, Westphal et al.10 notificaram que 5,5% eram portadores da doença. Lima et al.17 mostraram que a HP foi relatada em 14,76% também em discentes de medicina. Há evidências de que a incidência da HP se alterar conforme as características culturais e climáticas e até mesmo por causa das diferenças de metodologias utilizadas25 . No presente estudo, a frequência de HP encontrada em acadêmicos de medicina foi de 18%, semelhante entre homens e mulheres, o que corrobora os estudos mais recentes em que observa uma prevalência de até 16,8%, sem diferença entre os sexos10 , 11 , 13 , 17 , 26 - 31 . Ressalta-se, portanto, uma alta prevalência nesses acadêmicos que necessitam ter contato com outras pessoas durante o exame clínico em momentos de estresse devido à supervisão do seu tutor.
A prevalência de HP foi maior na cor branca, seguida das cores parda e negra, o que corrobora outras pesquisas32 , 33 . A faixa etária média foi de 21,57 anos nos portadores de HP, acometendo indivíduos mais jovens, resultado similar ao estudo de Lima et al.17 com média de 23 anos. Em Park, Han, Choi, Kim e Kim34 , a idade média foi de 28,5 anos; 25,4 anos em Fiorelli et al.3 e 17,6 anos Tu et al.27 . A HP é uma doença crônica, de início em idades precoces, que causa prejuízos nas atividades diárias, sendo importante o seu diagnóstico por ter tratamento curativo.
Nesta pesquisa, obtiveram-se com frequência relatos de acadêmicos portadores HP que referiram história familiar positiva, resultado similar aos estudos de outros autores10 , 13 . O período de início dos sintomas de hiperidrose predominou na adolescência, seguido da infância e da fase adulta, como observado por Moraites, Vaughn e Hill30 , em que as manifestações clínicas começavam entre 14 e 25 anos de idade, e Tu et al.27 , entre 4 e 22 anos. Apesar de os primeiros sintomas surgirem na infância ou adolescência, a maioria dos portadores de HP só procura ajuda na fase adulta, isto é, eles convivem boa parte da sua vida com essa comorbidade e seus transtornos até terem autonomia e conhecimento para buscar tratamento4 , 5 . Uma maior compreensão científica dos acadêmicos de medicina sobre as características clínicas de doenças crônicas deveria favorecer o diagnóstico e tratamento precoces da HP, porém essa afecção é pouco discutida na grade médica curricular.
O perfil clínico dos acadêmicos de medicina portadores de HP segue os critérios descritos por Hornberger et al.21 , Felini, Demarchi, Fistarol, Matiello e Delorenze13 e Lima et al.17 . Dados mostram que o diagnóstico da HP é fácil e eminentemente clínico.
A região palmar foi a área mais referida pelos alunos. Os resultados discordam do estudo de Lear, Kessler, Solish e Glaser35 , em que a região axilar era em 73% o sítio mais afetado, seguido da palmar (45,9%) e plantar (41,1%). Esse resultado corrobora os achados de Westphal et al.10 e Lima et al.17 , que consideraram, respectivamente, a região palmar o local mais frequentemente acometido em 36% e 39,62% dos indivíduos. A incapacidade de realizar atividades simples como apertar a mão de outras pessoas ou executar o manuseio prático exigido para a formação médica, por causa sobretudo da hiperidrose palmar, pode causar situações constrangedoras e estressantes.
A descrição de gravidade da HP pelos estudantes de medicina mostrou o predomínio da hiperidrose leve a moderada. A presença de HP nos graus 3 e 4, embora significativamente menor, apresentou maior gravidade, dificultando consideravelmente os afazeres dos acadêmicos. De acordo com Weber et al.36 , a maioria dos pacientes com HP não se consideram tímidos ou o são pelos que estão à sua volta. A ansiedade e hiperidrose têm uma relação complicada: apesar de esta manifestar-se espontaneamente, ela é exacerbada por aquela37 , 38 . O estresse em estudantes de medicina é constante pelo fato de eles enfrentarem situações desgastantes físicas e emocionais durante as atividades acadêmicas39 . A sudorese excessiva, portanto, pode ser interpretada pelos pacientes e preceptores como ansiedade e falta de autoconfiança, o que pode rotular os acadêmicos portadores de HP como ansiosos e inseguros.
A maioria significativa dos acadêmicos portadores de HP classificou a própria QdV como excelente, muito boa ou boa. Embora, 18,52% e 1,85%, respectivamente, tenham classificado a própria QdV como ruim e muito ruim, verificou-se que as piores descrições de QdV são inversamente proporcionais aos escores da HDSS. A HP é considerada por alguns pesquisadores como doença de baixo risco, porém acarreta aos seus portadores profundo constrangimento social, psíquico, profissional e emocional21 , 40 , com impactos na QdV41 e nas atividades diárias desses indivíduos42 , 43 . Embora a HP seja considerada uma doença crônica benigna, um percentual importante dos acadêmicos de medicina classificou a própria QdV relacionada à HP como ruim e muito ruim, o que mostra que, a depender do grau de intensidade, a doença interfere negativamente na QdV. Os portadores dessa afecção em graus leve e moderado declararam não ter interferência no seu desempenho diário, o que mostra a importância de se avaliar o grau de comprometimento da HP nos estudos populacionais, assim como relacioná-la com a própria QdV para melhor direcionar a terapêutica.
Nas atividades que retratam a QdV, constam, no domínio funcional descrito pelos acadêmicos, os piores preditores (ruim e muito ruim) para dançar socialmente e apertar mãos. No domínio pessoal e emocional, as maiores dificuldades encontradas eram segurar as mãos do parceiro(a) e justificar o suor excessivo. No domínio de condições especiais, as piores respostas enquadram-se nos seguintes contextos: estar em ambientes fechados ou quentes, vivenciar situações de preocupação ou tensão e momentos que precedem uma prova e falar em grupo. Os dados encontrados nessa população específica foram semelhantes aos de outros estudos, que também avaliaram a QdV em portadores de HP, independentemente do seu labor, e confirmaram que a doença provoca desconforto intenso e baixa autoestima, além de impacto negativo na QdV nos ambientes social e profissional44 - 46 .
Pode-se afirmar que o impacto na QdV é diretamente proporcional ao grau da HP, uma vez que, em graus moderados e graves (3 e 4), notou-se um comprometimento importante na QdV dos pacientes. Deve-se considerar ainda que, por conta da segregação social advinda da própria doença, os indivíduos portadores de HP silenciam quanto ao acometimento dos seus efeitos nocivos, causando impacto significante no desempenho de suas vidas pessoal e profissional, sendo considerados indicadores de saúde10 , 47 . Alguns portadores de HP omitem a doença e não procuram tratamento porque querem evitar qualquer constrangimento relacionado a uma afecção que ainda é pouco conhecida.
Embora seja uma doença crônica, com prevalência significativa, de início nas primeiras décadas de vida, com interferência negativa biopsicossocial, os próprios doentes e, às vezes, os profissionais da área de saúde desconhecem a existência desse agravo como doença. Esses fatos demostram a necessidade de uma maior divulgação da HP mediante pesquisas cientificas para um melhor conhecimento da sua prevalência e das consequências tanto no meio acadêmico quanto na população em geral.
CONCLUSÃO
A prevalência de HP foi de 18% nos acadêmicos de medicina de uma universidade privada de Aracaju/SE, sem diferença entre os sexos e com predomínio das cores branca e parda. A doença ocorreu principalmente em sítios combinados, como palmoplantar, sendo a região palmar a mais acometida. Os sintomas iniciaram-se, principalmente, durante a infância e adolescência, com prejuízo importante nas atividades diárias pessoais e laborativas, e exacerbação do suor com situações de estresse. A gravidade da HP mais comum foi a moderada. Sobre o impacto negativo na QdV, apontam-se principalmente os graus mais avançados da doença que dificultam as atividades acadêmicas. É importante a inclusão do conhecimento da HP no currículo médico para maior divulgação da doença, de modo a permitir o diagnóstico precoce e relacionado à intensidade da sudorese na sua abordagem terapêutica.
LIMITAÇÕES
O estudo realizado apresentou como limitação uma amostragem restrita a uma universidade, por ser a única com o curso de Medicina de Aracaju/SE. Embora o cálculo amostral de 300 estudantes, tenha sido superior ao valor previsto pela fórmula de Barbetta, estudos posteriores devem ser realizados para melhor confirmar os resultados do presente trabalho, analisando o perfil dos portadores e não portadores de HP.