A partir de 2013, a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) passou a incentivar o uso do Teste de Progresso (TP) de maneira mais ampliada em diferentes regiões do Brasil, com o propósito de estimular a criação de núcleos regionais que o aplicam anualmente de modo regionalizado. Hoje se encontram constituídos 18 núcleos, dos quais participam mais de 220 escolas médicas brasileiras.
Em 2015, a Abem propôs um projeto com o objetivo de incentivar as escolas brasileiras a adotar o TP como uma estratégia de avaliação do domínio cognitivo da competência esperada para o exercício da medicina1. Como resultado, nesse ano, foi realizada a primeira prova nacional que contou com a participação de 58 escolas e 23.065 estudantes2.
O TP situa o estudante em seu processo evolutivo e promove oportunidades de reflexão para a aprendizagem (função formativa). Exames de progresso padronizados podem promover a melhoria do desempenho acadêmico com base na capacidade de autorregulação e metacognição, para além do pensamento crítico do educando3. O TP pode ser utilizado também como avaliação externa às disciplinas e aos estágios do curso, tendo como finalidade a tomada de decisão (função somativa) e permite à instituição realizar o diagnóstico de fortalezas e lacunas na estrutura curricular (função informativa ou diagnóstica)4. Participar da elaboração da prova constitui uma oportunidade única para o desenvolvimento docente nas boas práticas para a elaboração de testes de múltipla escolha com apenas uma alternativa correta.
A partir de 2019, a Abem retomou o processo de consolidação do TP nacional na perspectiva de institucionalizar um processo dirigido e organizado por ela e pelos consórcios regionais, com periodicidade anual, sem caráter classificatório. Em 2021, aconteceu o segundo TP nacional, em inédito formato on-line, que foi realizado por cerca de 50 mil estudantes oriundos de 130 escolas médicas5.
A Abem tem direcionado esforços para fortalecer essa iniciativa a fim de buscar o aperfeiçoamento, a expansão e a consolidação do TP. A construção do TP nacional tem permitido a construção de redes colaborativas de trabalho e pesquisa por meio da aproximação de sujeitos com interesses comuns, e ou da criação de verdadeiras comunidades de práticas.
Com base nesses dois momentos, a Abem realizou, em julho de 2022, a primeira oficina nacional sobre o TP na cidade de São Paulo. Entre os objetivos desse evento, merecem destaque o reconhecimento das diferentes iniciativas de aplicação do TP no Brasil e no mundo. Os principais resultados do segundo TP nacional, aplicado no ano anterior, foram apresentados e discutidos, com consequente avaliação das fortalezas e fragilidades do processo. Apresentou-se a plataforma do TP Abem. Em grupos de discussão e plenárias, fez-se uma série de propostas, e, ao final, alinharam-se e pactuaram-se perspectivas e expectativas para as próximas etapas do projeto. Na ocasião, estiveram presentes os conselhos diretor e de administração da Abem, e representantes da maioria dos núcleos de TP: Sul I - Gaúcho; Sul II - Núcleo de Apoio Pedagógico Interinstitucional Sul II (Napisul II) e Novo Sul; RJ/ES - RJ/ES; SP - Núcleo Interinstitucional de Estudos e Práticas de Avaliação em Educação Médica (Niepaem), Caipira, Paulista I, II e III; MG - Comissão do Consórcio Mineiro do Teste de Progresso (TEP Minas I e TEP Minas III); NE I - Alagoas e Baiano; NE II - Consórcio Interinstitucional Nordeste I (CIN I) e Consórcio Interinstitucional Nordeste II (CIN II); CO 1 - Centro-Oeste.
Eis alguns dos encaminhamentos da oficina: o fortalecimento do projeto por meio do apoio da Abem e de suas regionais, a valorização dos núcleos regionalizados, a inclusão e qualificação equânime dos atores que contribuíram para a prova nacional, o amplo envolvimento discente, o aperfeiçoamento da análise da prova e dos relatórios produzidos para as escolas e para os estudantes (nesse caso, de forma individual), a garantia da sustentabilidade financeira e o incentivo à pesquisa e difusão dos saberes e do conhecimento produzidos a partir dessa experiência.
A partir da oficina, a Abem decidiu abrir uma chamada pública para este suplemento da Revista Brasileira de Educação Médica (RBEM) que tem como tema: “Teste de Progresso: avanços e perspectivas na educação médica”. O objetivo desta publicação é divulgar as iniciativas exitosas que envolvem a realização do TP, de modo a reconhecer e valorizar as experiências realizadas especialmente no cenário nacional. Espera-se, dessa forma, subsidiar o desenvolvimento de novas iniciativas considerando os desafios, as potencialidades e os impactos do TP na formação na graduação e também na residência médica. As linhas temáticas foram: TP na graduação, TP na residência médica, impacto do TP na gestão dos cursos de graduação e residência médica, avaliação formativa mediada pelo TP e desenvolvimento docente para realização do TP. Os modelos de artigo possíveis foram de estudos originais quantitativos e qualitativos, e relatos de experiência.
Houve a submissão de 15 trabalhos para este número especial, os quais foram enviados aos revisores. De acordo com o processo editorial habitual da revista (double blind review), aceitaram-se onze artigos: seis relatos de experiência e cinco estudos originais. A temática abordada incluiu: impacto do TP no curso de Medicina analisado a partir do desempenho dos estudantes e da análise de seus desdobramentos na escola (dois artigos originais e um relato de experiência); percepção dos estudantes em relação ao TP (um artigo original); qualidade dos itens da prova como estratégia que suporta o desenvolvimento docente e a busca pela excelência (um artigo original); um relato de experiência de um consórcio na Região Nordeste do Brasil; o TP como ferramenta preditiva de desempenho na seleção da residência médica e como ferramenta da certificação do título de especialistas em ginecologia e obstetrícia (um artigo original e um relato de experiência); e finalmente o uso do TP como ferramenta de gestão e avaliação de programas educacionais (mudança curricular) na graduação em Medicina e na residência de GO (um artigo original e dois relatos de experiência).
Esperamos que o material publicado neste número temático inspire e incentive o desenvolvimento de novas iniciativas relacionadas ao TP e fortaleça as já existentes nos diferentes contextos, graduação e residência médica, no âmbito nacional.
Desejamos a todas e todos uma boa leitura.