Desde o primeiro capítulo “Educar pela comunicação; comunicar pela educação” é explícito a perspectiva da investigação como catalisador da transformação. Esse poder de transformação encontra convergência na comunicação e educação. A mistura da comunicação e educação cria o neologismo “educomunicar”, como a arte de comunicar ao mesmo tempo em que ensina. O ponto em comum dessa mistura é a formação de pessoas que saibam selecionar, transformar e gerar partilha.
No capítulo dois “Curadoria do conhecimento”, os autores apontam que o curador não é um detentor ou proprietário do conhecimento, mas sim um disseminador, alguém que cuida para repartir. Cortella explica que curar, em português lusitano, é pensar. Pensar é ser capaz de cuidar. A curadoria está no pensar e, consequentemente, no valorizar o que importa. A curadoria é o ensinar e o saber selecionar. O curador é um ser ativo, cético e seletivo, que pensa e busca assiduamente por alternativas.
Nos capítulos três “Cidadania, comunicação e educação: eixo indissociável” e quatro “Credibilidade e crítica” fica ainda mais evidente a importância da curadoria na educação. Os autores discutem a necessidade de ressignificação do papel do professor, aluno e escola no novo contexto educacional de inserção das tecnologias digitais. Sendo a tecnologia vista ao mesmo tempo como promotora da cidadania e limitadora da credibilidade.
Dimenstein aponta que “[...] não existe cidadania completa se não houver educação” (p. 42). A educação tem a função de desenvolver habilidades, como a leitura crítica. Cortella ainda destaca que criticar é selecionar, e para selecionar é necessário ter critérios. A ideia de criticidade não é a de suspeita pela ofensa ou mera descrença, é a suspeita crítica que conduz a credibilidade pelo cruzamento das informações.
O quinto capítulo “Aprender em tempo real e pelo resto da vida” apresenta a junção da educação e comunicação como um dos motores da cidadania. Com a multiplicidade de canais, além da facilidade e rapidez no acesso à informação, o cidadão adquiriu a oportunidade de interpretação e produção de conteúdos. A conexão do presencial com o virtual também é um ponto complexo, no que diz respeito à evanescência na informação, com mudanças ultrarrápidas, mas manutenção da linha evolutiva da humanidade com a comunicação.
No sexto capítulo “Nova era? E o que já era? De Gutenberg ao virtual de nossos dias” os autores identificam o conhecimento tomando formas cada vez mais interativas e interessantes. Um desses caminhos de inovação educacional pela tecnologia é o adaptative learning, em português ensino adaptativo, em que as tecnologias digitais contribuem com o processo de aprendizagem do estudante pela orientação do professor. Com as novas metodologias proporcionadas pelo mundo digital, o papel do professor é ressignificado, o que não significa que ele seja dispensável, mas sim ainda mais importante na atuação como mediador.
O conhecimento virou mercadoria, e o diamante é a curadoria. A facilidade de acesso faz a curadoria do conhecimento tão importante. O curador é um compartilhador, que possui a tarefa de colocar o conhecimento à disposição da comunidade, pela relevância da partilha, existindo um elemento cidadão na curadoria. Assim, os autores destacam o empoderamento como um eixo de cidadania dos indivíduos, pelo alcance de mais poder. Basicamente, a função da “educomunicação” é empoderar às pessoas a não se limitar, baseando-se no protagonismo para o enriquecimento coletivo.
No capítulo sete “Simultaneidade, instantaneidade e conectividade”, é apontado por Cortella que a digitalização do mundo é absolutamente favorável. Entretanto, impede os momentos de reflexão do indivíduo. A velocidade informacional obsessiva tem como encargo o impedimento à criação. De modo geral, o tédio é o combustível da criatividade. A ausência de tédio pela navegação digital é distrativa e reduz o repouso para reflexão. Cortella ressalta ainda a importância de ter o acesso sem ser servo dessa condição, ou seja, a vida com o digital é guiada com GPS, o que pode dificultar a tomada de decisões exatamente pela falta de senso crítico.
Ainda no capítulo sete os autores fazem um link entre emoção e conhecimento. Dimenstein evidencia que só fazemos coisas que nos emocionam e Cortella completa afirmando que a escola que consegue emocionar é aquela na qual o conhecimento faz sentido para o aluno. Essa interligação entre interesse e oferta é a customização. Com as tecnologias digitais o mundo todo é customizado e a educação também está sendo. A customização da educação está no entender que os alunos aprendem de formas diferentes.
Ao final dessa conversa, no último capítulo intitulado “O que importa é saber o que importa” é retomada a questão da cidadania e do empoderamento pela comunicação. O comunicar é empoderar, o conhecimento é autonomia. As interfaces na comunicação produz diversidade, que constitui o prognóstico da hipertextualidade, em que uma coisa leva a outra. E é em meio ao excesso que a resposta do que é importante está na curadoria, em saber o que importa e compartilhar o que importa. O que move essa busca, esse encontro, é a comunicação, seja pela contemporaneidade da proximidade física ou on-line.
Considero que o livro mesmo publicado em 2015 é atual e necessário. A curadoria não é novidade, mas a aplicação em campos para além das artes sim. A importância da curadoria está na seleção. Com o excesso de informação, redes sociais diversas e fake news, ocorreu uma queda da intermediação da informação dificultando o processo de constatação da credibilidade. No mundo digital, todos são ao mesmo tempo consumidores e produtores de conteúdo, criando o que Dimenstein conceitua como a figura do “cidadão comunicante” que tem o poder de publicar.
A temática da customização do ensino no texto deve ser destacada. Ao final do sétimo capítulo, Cortella declara que nos anos 90 ajudou a inserir o ciclo em larga escola nas escolas brasileiras, mas ao longo do bate-papo, ele concorda que um dos aspectos necessários é a alteração da estrutura organizacional por faixa etária. A customização ou personalização do ensino é uma série de estratégias pedagógicas, contrária à padronização, que se baseia na ideia de que os alunos aprendem de formas e ritmos diversos. Na personalização do ensino o aluno é visto como indivíduo de diferentes interesses e necessidades e não como uma massa.
Outra forte tendência da educação que é abordada implicitamente no livro é o ensino híbrido, ou blended learning. O ensino híbrido é uma combinação metodológica entre o ensino presencial e on-line que mistura possibilidades. Ao longo do diálogo as palavras; mistura, diversidade e proximidade são constantes e usadas como sinônimo de inovação. O ensino híbrido adota essa perspectiva na proximidade do professor com o aluno no processo de ensino e aprendizagem, onde o papel do educador mesmo com inserção da tecnologia é indispensável. Dimenstein caracteriza essa proximidade como o olhar humano capaz de perceber coisas que o computador não consegue.